segunda-feira, 25 de junho de 2018

nº 1765 Artigo - “Sangue da Redenção”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2059. Seguindo Jesus
            Ser mártir foi sempre um desejo de quem se entrega de fato a Jesus Cristo. Mas na hora a coisa é diferente. Para dar a vida é preciso uma vida doada. Ninguém fica mártir se não tem grande santidade. É de se lamentar que não prestigiamos nossos santos, perdendo assim, um estímulo de uma vida cristã em santidade. São diversos os mártires redentoristas em processo de canonização e beatificação: Temos os onze beatos mártires: quatro ucranianos, um eslovaco, seis espanhóis de Cuenca. E vinte e dois servos de Deus: três irmãos espanhóis de Valência; doze espanhóis de Madri; dois poloneses; um jovem ucraniano (Fr. Mariano Galan); um irmão vietnamita (Marcel Van). Nós, redentoristas, temos o compromisso de deixar cotejar o sangue da redenção. Há muitos martírios sem sangue que continuam a redenção da humanidade. Lembramos aqui tantos confrades que deram a vida a Cristo na Congregação. E confrades de grande santidade que dão a vida nos mais diversos ministérios da Congregação. Não se vive na Congregação se não se tem uma vida de grande santidade. Senão, não conseguimos ser fiéis nem perseverar. Dia 28 de junho celebramos os mártires ucranianos, Nicolau e companheiros. Estamos diante de um martírio recente. Eles deram a vida por Cristo, por sua Igreja Grego Católica, dissolvida por Stalin e por sua pátria invadida pelos inimigos da humanidade. Em 10 de setembro de 1939 a Igreja católica foi dissolvida e os bispos, os padres, os religiosos e os leigos cristãos foram levados para a prisão e em campos de concentração na Sibéria. Passaram por longos interrogatórios, acusados de espiões do Vaticano. Recusaram-se a se unir aos cristãos ortodoxos e não abriram a boca sobre a Igreja do silêncio.
2060. A Redenção na dor
            No dia 28 de junho celebramos os quatro mártires ucranianos: Nicolau Charneskyj (bispo), Basílio Velychkoviskyj e Bispo Zenão Kovalik Ivã Ziatek. Há ainda o Beato eslovaco Domingos Metódio Trchka, cuja festa é dia 25 de agosto. O primeiro martírio é soletrar seus nomes. Mas é possível. Nicolau (1884-1959) entrou para a Congregação com 34 anos, já sacerdote e doutor. Foi missionário e depois nomeado bispo. Preso em pelos comunistas em 1945, em campos de concentração. Teve seiscentas horas de interrogatórios. Libertado para morrer, se recuperou e guiava os cristãos ocultos no regime comunista. Beato Basílio (1903-1973) também entrou adulto para a Congregação. Preso em 1945, condenado ao fuzilamento, ficou dez anos na prisão. Foi nomeado bispo clandestinamente. Preso por três anos. Depois de solto foi para o Canadá onde morreu em consequência de um veneno que lhe aplicaram. Beato Zenão (1903-1941), grande pregador. Foi preso e morreu crucificado na parede da prisão. Beato Ivã (1899-1952), foi professor de teologia. Entrou na Congregação aos 35 anos. Morreu porque foi surrado na prisão.
2061. Alegria dos santos
              Celebrar os mártires é reconhecer neles o Cristo Redentor que continua completando o que falta à Igreja que é seu corpo. São os filhos da redenção que fazem o caminho do Redentor. É importante ter consciência de sua importância para a compreensão do carisma da Copiosa Redenção que vivenciaram até o sangue. Na prisão, continuaram sua missão fortalecendo os prisioneiros, mantendo a fé e a resistência diante dos sofrimentos. Sejam um estímulo para uma maior coragem nas dificuldades da vida religiosa. Sem sangue não há redenção. Possam eles nos ajudar a viver com mais força nossa entrega a Cristo. Conheçamos suas vidas e os façamos conhecidos dos fiéis. 

domingo, 24 de junho de 2018

nº 1764 Homilia do 12º Domingo Comum (24.06.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
Seu nome será João

Misericórdia que veio do alto
Diante do nascimento de João Batista podemos contemplar “a misericórdia do alto que nos vem visitar”. A misericórdia de Deus para com seu povo é apresentada pelo nascimento de uma criança de um casal de idosos, sem esperanças, levando o “opróbio” de não ter um filho. Isto significava um fracasso diante da sociedade e até uma maldição. Não ter filhos significava ausência de uma bênção. A criança era símbolo do povo de Israel que estava esgotado e já sem muitas esperanças de um futuro. O Velho Testamento, mesmo esgotado, ainda tinha força para gerar o futuro Messias. Isabel, representando a fertilidade do Antigo Testamento, tem a certeza que a bondade de Deus para com ela foi obra de sua misericórdia. Os vizinhos vieram festejar essa misericórdia na circuncisão do menino (Lc 1,58). Zacarias ao proclamar a bondade de Deus reza: “Graças à misericórdia de nosso Deus, o sol nascente virá nos visitar” (Lc 1,78). João é a expressão da misericórdia de Deus. Isabel foi libertada do opróbrio de não ter filho. A humanidade se liberta do mal que acumulara nos séculos. Para Deus nada é impossível, diz o Anjo a Maria, citando o que Deus fizera a Isabel (Lc 1,37). A insistência sobre o nome está em sua missão: a graça misericórdia de Deus que nos visita. Deus se abaixa para abraçar e acolher a todos. A história se torna fecunda e germina o Salvador. Tem consciência que sua missão é em vista do Messias. João é o maior entre os nascidos de mulher (Lc 7,28). Sua missão ainda ressoa entre nós como os operários que preparam a vinda do Senhor aos corações.
Ele se fortalecia
           “E o menino crescia e se fortalecia no Espírito. Ele vivia nos lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel” (Lc 1,80). Tinha o mesmo ritmo de Jesus que crescia, mas estava no silêncio preparando-se para seu ministério. É a imagem da ação de Deus que aguardou séculos até manifestar o Salvador. É o caminho de cada um que quer um ministério fecundo: primeiramente encher-se de Deus para depois leva-lo a todos com generosa abundância. João vivia nos lugares desertos. O deserto nos educa para Deus. Significa o conhecimento de si, de sua missão e a vitória sobre as forças contrárias ao Reino. É um modelo de formação do líder cristão. Primeiramente acolher o mistério de Deus e depois levá-Lo aos outros. O deserto exerce bem essa função. O homem moderno tem medo do silêncio, pois o coloca diante de si mesmo. Há sempre a procura de preencher o tempo vazio. O chamamento ao silêncio continua sendo uma chamada permanente. Somente assim se pode ter um silêncio permanente no meio do ruído. A areia do deserto esculpe em nós o rosto de Deus. Assim podemos ser seus anunciadores.
                                          Palavra aguçada
           São aplicadas a ele as profecias do Servo de Javé que tem uma missão pelo povo de Deus: “Não basta ser meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: Eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até os confins da terra” (Is 49,6). Sua palavra caiu sobre Israel como uma chuva benéfica e alertou o povo para a chegada do Messias, pois havia tempos que não aparecia um profeta. O povo soube entender os tempos de Deus. Chegaram a ver nele o Messias prometido. Ele sabe de seu lugar e afirma sua missão de preparar os caminhos do Senhor. Ele declara sua condição de humilde servidor que traz o alegre anúncio da vinda do Messias. A liturgia assim reza: “Alegrando-se pelo nascimento de João Batista, reconheça Cristo por ele anunciado”.
Leituras; Isaias 49,1-6; Salmo 138; Atos 13,22---26;Lucas 1,57-66.80
Ficha nº 1764 - Homilia S. S. João Batista (24.06.18)

           1. O nascimento de João manifesta a misericórdia de Deus.
           2. O deserto moldou sua vida para ser anunciador do Messias.
           3. Sua missão é preparar os caminhos do Senhor.

Eita Joãozinho danado

São tantas histórias do Joãozinho. Essa de hoje é mais uma, não da mesma raça. João foi muito danado, desde o seio materno. Tanto que já recebeu o Espírito Santo no seio de sua mãe. Depois nasce já recebendo a missão de manifestar a misericórdia de Deus. Depois tem uma formação forte e profunda, no deserto. Era o lugar de formar os homens de Deus. Não é que Deus more no deserto. Mas ali quase tem só Ele. Então dá para caprichar.

João se prepara na fidelidade a Deus em tudo. Por isso vai ter palavra forte de profeta e vai enfrentar até o próprio rei. Soube distinguir o enviado de Deus, Jesus, e preparar seu caminho.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

nº 1763 Artigo - Deus visita seu povo


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2056. As vindas de Deus
              Diante de um fato maravilhoso, o povo de Deus sempre reconheceu que estava recebendo a visita de Deus. Lembramos o nascimento de João Batista. Zacarias reconhece a presença de Deus como uma bênção: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu seu povo” (Lc 1,68). As visitas de Deus são sempre para a redenção, num sentido favorável. Há muitos modos de Deus visitar. Deus Se manifesta em fatos maravilhosos ou simples. Um deles é a pregação da Palavra. Esta também tem diversas modalidades. Pode ser feita também através da pintura, como é o caso do Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – a Senhora da Paixão. As pinturas traduzem diversas palavras das Escrituras que são ensinamento e bênção. O ícone (o quadro) é uma visita de Deus que fala através de muitos símbolos. O Perpétuo Socorro mostra para nós que Jesus é o Redentor de todo homem e essa redenção se faz na comunidade Igreja, representada por Maria. Maravilhados pela visita de Deus, agradecemos em um reverente temor, respeito que acolhe e ama. Para bem ouvir é preciso despojar-se e fazer um espaço para que a Palavra chegue até nós. O Ícone nos leva a entender a ternura de Deus em vir a nós e sua força de nos atrair a Si. Maria se faz a cooperadora na obra da Redenção dando-nos o Filho. Não foge à dor da Paixão na qual participou. Esse Ícone é a representação de Nossa Senhora das Dores na linguagem oriental.
2057. Acolher a mensagem
              A manifestação de Cristo em sua encarnação é a expressão da misericórdia de Deus que saiu de Si e Se inclinou sobre o homem ferido na estrada, como Jesus nos narra na parábola do bom samaritano (Lc 10,29-37). O Cristo apresentado por Maria é o Senhor Glorioso que em seu Mistério Pascal continua sua missão de manifestar o coração de Deus que tanto amou o mundo que enviou seu Filho (Jo 3,16) e continua dando-O para nossa salvação. Sendo uma apresentação da Paixão, na qual Maria exerce sua missão de Co-Redentora e Medianeira, temos mais um passo da espiritualidade que é a capacidade de compreender e acolher esse amor de Deus que se manifesta. Rezar com os ícones é contemplar a pintura compreendendo as muitas palavras que são ditadas ao nosso coração. Não se trata, como fazemos diante das imagens, de fazer rezas, mas acolher o que a pintura nos sugere. Não se trata de falar coisas a Deus, mas acolher o que nos fala. É a contemplação luminosa. Acolhemos a iluminação de Deus em Cristo, apresentado por Maria. O que Deus diz? Sempre novo em suas palavras.
2058. Continuar a mensagem
              O Ícone do Perpétuo Socorro é missionário, pois gira pelo mundo, como foi o desejo do Papa Pio IX quando o entregou aos Redentoristas: “Fazei-a conhecida”.  Cumprindo essa missão, onde há um redentorista, ali brilha um ícone do Perpétuo Socorro. Maria continua apresentando Jesus. Desde o início, sobretudo depois da criação da novena perpétua, essa mensagem de redenção continua viva. A mensagem da redenção realizada em Cristo apresentado por Maria continua a nos abrir os rios da graça divina formando comunidades e abrindo a alegria da oração comunitária. Onde está Jesus com Maria, logo se reúne toda a família. Quando trabalhava na Angola, apresentei um quadro grande de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A seguir as “mamães”, com seus panos coloridos se aproximaram. E fizeram um belo conjunto de suas cores com as cores do manto de Maria. Marcou meu coração. Deus realmente visita seu povo.

domingo, 17 de junho de 2018

nº 1762 Homilia do 11º Domingo Comum (17.06.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“O teu Reino”

Como o Reino cresce?
Temos consciência de nossa missão de anunciar o Reino de Deus, mas não sabemos como ele cresce. Também não sabemos como a semente plantada cresce. Não está sob nosso controle. Achamos que fazemos tantas coisas pelo Reino, mas há sempre o silêncio sobre o como acontece seu desenvolvimento. Por que esse sagrado segredo? Porque é uma ação de Deus que foge ao nosso controle. É maravilhoso ver o crescimento na natureza. Como se gera a vida na natureza? Por mais que conheçamos os resultados e analisemos o processo, nunca poderemos saber o que é vida. Assim é o Reino. Tudo o que fizermos pelo Reino não será perdido, mas o crescimento não depende de nós. Deus é quem o permite. O Reino não acontece em nossos esquemas. Sua maturação e sua produção de frutos escapam ao nosso controle. Vemos na história da Igreja como ela foi crescendo e indo além de nossas expectativas. Pensemos no que eram as pessoas que Jesus deixou para proclamar a presença do Reino. Mas não sabemos como acontece o nascimento do Reino. Está nas mãos de Deus o crescimento desse Reino. Há lugares que não foi a Igreja institucional que levou a mensagem evangélica. Foram leigos que passaram sua experiência (leigos também são Igreja). O anúncio do Reino não depende só de palavras, mas da ação de Deus através também do testemunho dos discípulos de Jesus. Jesus enviou os discípulos e disse que estaria com eles até o fim dos tempos. Ele é a vida do Reino.
A força do Reino
            É bem conhecida a parábola da semente de mostarda. Mostarda é um arbusto. Tem semente pequenina. Podemos nos lembrar de outras árvores, por exemplo, o eucalipto que chega a dezenas de metros. E a semente é um pó. Contém em si toda a vida da árvore e tudo para ela germinar, crescer a tal altura e dar outras sementes. Assim é o Reino como disse Jesus. Tudo que é do Reino, por menor que seja sua manifestação, tem tudo em si para ser ação de Deus no mundo dos mais variados modos. Além do mais, não está sujeito aos nossos esquemas nem se circunscreve e se dirige pelos esquemas humanos. Ele foge ao nosso controle. Vemos os primeiros contatos com os pagãos, feitos pelos judeus convertidos. Foram para Antioquia e ali se dirigiram pela primeira vez aos pagãos. O resultado foi maravilhoso (At 11,21). Assim também o Reino age em nós. Por pouco que façamos por ele, os resultados dependem de Deus e não estão sob nosso controle. Nossos atos não são perdidos por causa de nossa fragilidade e nossos pecados. São plenificados pela força do Reino. Seu resultado é sempre maior que nosso empenho. Quando temos o insucesso, podemos ter certeza que Deus age a seu modo. Não se trata de fracasso, mas dos tempos de Deus. Podemos dizer: fizemos o que devíamos fazer (Lc 17,7).
Deus é quem planta
A leitura de Ezequiel narra como Deus escolhe o símbolo de um galho da copa de um cedro e planta. Crescerá e se tornará majestoso. Dará sombra, isto é, acolherá todos. Refere-se à escolha do povo de Israel e de sua missão de acolher os povos. Apenas um broto serviu para que houvesse o crescimento desse povo. É a comparação com o Reino que tem uma missão vinda de Deus e será para acolher os povos. Deus garante: “Eu, o Senhor, digo e faço” (Ez 17,24). “O justo crescerá como a palmeira, florirá qual cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão” (Sl 91).
Leituras: Ezequiel 17,22-24;Salmo 91;2ª Coríntios 5,6-10; Marcos 4,26-34.
Ficha nº 1762 - Homilia do 11º Domingo Comum (17.06.18)

           1. O Reino cresce misteriosamente.
           2. O Reino tem uma força interior de crescimento que não está sob nosso controle.
           3. O ramo é a muda de uma nova árvore que se torna grandiosa. Assim é o Reino.

 O Jardineiro faz e não sabe.

A comparação do Reino com a semente que tem seu ritmo e sua força interior nos desperta para o conhecimento da força do Reino e do mistério de seu crescimento. Como o jardineiro que planta tanta coisas, mas não sabe como funciona toda a beleza que está em suas mãos. Nem por isso lhe parece menos belo.
Desse modo também nós não sabemos como funciona o Reino de Deus. Fazemos tantas coisas de bonito e forte para o Reino de Deus mas, não sabemos como funciona. Sabemos que é quem Deus faz.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

nº 1761 Artigo - A fé que o povo celebra


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2053. Festejos Juninos
              Com muita bandeirinha, pipoca, quentão, quadrilha e fantasia de caipira, celebramos as festas juninas. Saíram de seu mundo e foram para o folclore. Escolas, bairros, associações festejam o que era uma celebração popular. Em lugares mais tradicionais as festas ainda têm o nome dos santos padroeiros: Sto. Antonio, S. João Batista e S. Pedro e S. Paulo. Estas festas exerceram ou podem exercer uma boa missão de evangelização do povo na linguagem cultural. Se olharmos superficialmente a história da fé no Brasil, veremos a carência de sacerdote e de estrutura da Igreja em grande parte do território. A população, seguindo tradições dos colonizadores, manteve sua fé. Soube unir a fé à cultura local. Infelizmente, com o êxodo rural, se modificou a configuração das comunidades do interior. Em volta de cada um dos santos havia um conjunto de ensinamentos que versavam sobre o conhecimento de Jesus, a vida em comunidade e o processo de conversão. Junto desses santos há sempre a necessidade de um milagre. A V Conferência Geral do Episcopado Latino e do Caribe, em documento (Documento de Aparecida), seguindo o ensinamento dos Papas, reconheceu o valor e a força da piedade popular porque se encontra unida à cultura. É uma fusão perfeita de fé, cultura e evangelização. S. João Paulo II nos diz: “A fé só é adequadamente professada, entendida e vivida, quando penetra profundamente no substrato cultural do povo.” (Doc. Aparecida, nº 477). “Ajuda os cristãos a viverem sua fé com alegria e coerência”
2054. Transmissão da fé
              Essas festividades juninas perderam seu aspecto religioso, permanecendo só a parte folclórica. Mas elas constituem um modo de se fazer uma evangelização conveniente do povo. Temos tantos modelos, mas nos esquecemos de perguntar como o povo entende. Nós precisamos aprender do povo como ele aprende. É preciso “saber a cartilha que ele usa”. É um diálogo de vidas. Evangelizar não é levar conteúdos, mas vida em Cristo. Por isso essas comunidades tornam-se modelo de evangelização. Nós vemos como Jesus era prático ao falar ao povo: usava parábolas, tirava ensinamento de seus milagres, usava frases curtas que constituem grandes ensinamentos. Somente depois de 30 anos de experiência com seu povo que se sentiu apto a lhe dirigir uma palavra nova. Ele não era um desconhecido que chegou com uma doutrina nova. Primeiro aprendeu sua linguagem e depois a usou para ensiná-lo. Nós vamos com discursos prontos que passam sobre suas cabeças. Temos muito que aprender de nossas festas populares. Elas têm uma linguagem própria que é acessível a todos. O mundo mudou muito nesses últimos tempos, mas o povo é mais lento em suas mudanças. Podemos dizer que os tempos não mudam o coração.
2055. Recuperar os valores
              Os valores que nossos antepassados nos transmitiram se tornam para nós uma obrigação. Esses valores têm fundamento na tradição. Em todas essas festas juninas temos como suporte primeiro o valor da comunidade. Todos em volta de uma mesma alegria. É o sentido de todos que fazem a festa para todos. A alegria compreende também os santos que são nossos irmãos. Por isso os padroeiros. Recuperam-se os valores da terra em seus produtos simples transformados por mãos simples do povo e delícias que fazem bem ao coração. O valor da abertura a todos. É bom ser gente. Há um anseio de voltar à vida simples de nosso povo, valorizando assim o homem e a mulher do povo como geradores de vida.

domingo, 10 de junho de 2018

nº 1760 Homilia do 10º Domingo Comum (10.06.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Filhos da Verdade”

Agir por Satanás
            Estamos em pé de guerra. Jesus anuncia uma verdade e os inimigos deturpam sua verdade e a colocam como obra do Mal: “... pelo príncipe dos demônios, Ele expulsava os demônios” (Mc 3,22). A reação revelava um coração fechado a Deus na busca de seus próprios interesses e princípios. E Jesus é muito claro dizendo que os que atribuem a Ele a obra do mal, não têm perdão: “Quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno” (Mc 3,29). Na verdade, ninguém comete uma falta contra o Espírito Santo. Sua atitude é assumir o próprio Mal como opção de vida. Vive o pecado. Vemos que a própria família está no mesmo caminho interpretando as atitudes de Jesus como loucura. “E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si” (Mc 3,21). Essa atitude é bem orquestrada no mundo atual que desqualifica o Evangelho e a Igreja como perniciosos para o mundo. Se não o dizem expressamente, fazem pior, agindo como se não existisse. A título de liberdade de consciência e liberdade civil, fazem o que querem mesmo que façam mal aos outros. Às vezes queremos tirar o demônio que tomou posse de uma pessoa. Esse e fácil tirar. Mas, o que está dentro de nós provocando a fazer  mal, esse não nos preocupamos em tirar. Vimos na primeira leitura, na narração do pecado, que foi feita uma opção muito clara pelo mal, mesmo tendo sido orientados por Deus. O mal, simbolizado na fruta, tomou conta do ser humano. Foi tão profundo que atingiu todo o universo. Agora ficou a batalha para vencer.
Das profundezas clamo a Vós
            O salmo penitencial 129 nos mostra o coração do homem que busca a Deus, mesmo nas profundezas da maldade. Tocado pela graça abundante de Jesus Cristo, pode clamar a sair do abismo: “Das profundezas clamo a voz, Senhor, escutai a minha voz! Estejam vossos ouvidos atentos ao clamor de minha prece”! (Sl 129,1-2). O salmista reconhece que em qualquer circunstância podemos invocar o Senhor e sair. Reconhece também que a situação é muito difícil, mas a esperança. Esta não morre. Ela é nossa garantia. O mal não é um beco sem saída. E confirma que só em Deus temos o perdão: “Pois no Senhor se encontra toda a graça e copiosa redenção” (Id 7). Tudo isso em consequência da ressurreição do Senhor. Paulo afirma que a fragilidade do homem exterior vai aumentando, mas o homem interior vai se renovando dia a dia até chegar a uma glória incomensurável. Para vencer a onda do mal existente no mundo temos que ter os olhos voltados para o que é eterno. Se não tivermos a visão da eternidade, não teremos como justificar as opções que fazemos cada dia. Fazer o mal é opor-se a Jesus cometendo o pecado contra o Espírito Santo. A vida não acaba aqui, pois sabemos que “se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dará outra moradia no Céu” (2Cor 5,1).
Fazer a vontade de Deus
            No meio da discussão de Jesus com os mestres da sabedoria da lei, chega a mãe de Jesus e seus irmãos (parentes próximos). Vejamos que difere do grupo que queria agarrá-lo por terem-No por louco. Queriam falar com Jesus. Ele responde que “sua mãe e seus irmãos eram quem faziam a vontade de Deus”. Jesus assume todos como sua família. Mas diz também que sua família fazia a vontade de Deus (Mc 3,33-35). Ser família de Jesus é fazer essa opção fundamental por Jesus como nos ensina o Evangelho.
Leituras: Genesis 3,9-15; Salmo 129; 25;2ª Coríntios 4,13-185,1; Marcos 3,20-35.
Ficha nº 1760 - Homilia do 10º Domingo Comum (10.06.18)
                                         
1.  Atribuir o mal a Jesus é pecar contra o Espírito Santo. Não há como perdoar.
2.  Mesmo no maior mal, temos a saída pela redenção abundante de Jesus.
3.  Família de Jesus é quem faz a vontade de Deus.

            A tampa do Capeta

            O Diabo é tão ruim que cria um pecado que não tem perdão. Por que não tem perdão? Por que não quer o perdão e se fecha a ele. É a recusa total atribuindo a Deus o que é do mal. Ruim isso. Errar todo mundo erra e pode se arrepender e pedir perdão.
            Rezamos no salmo que entramos no mais profundo, mas ainda temos esperança de sermos ouvidos, pois no Senhor a redenção é abundante. Deus sempre vem em nosso auxílio. O pecado não faz mal para Deus. Faz mal para nós.
            A raiz do mal não está em Deus. Foi opção do homem e da mulher. Não quiseram obedecer. O mal foi buscado com vontade pessoal. Deus não jogou o homem nos braços do diabo. Mais ainda: Tinha guardado uma frutinha melhor ainda, a tal da “maçã” que não era maçã, que acabou por prejudicar o homem.
            A fruta da árvore do Paraíso era o conhecimento de Deus que nos foi dado por Jesus. Ele é o fruto da árvore da Vida, da árvore da verdade, da árvore do verdadeira cominho que nos conduz ao Deus perdão.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

nº 1759 Artigo - Um Coração para amar


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2050. Festa do amor maior
              Quando o mundo sofre pressões que sufocam o ser humano, Deus nos oferece um alívio e mostra seu amor misericordioso. Nas trevas da doutrina jansenista, que queria uma religião dura, rigorosa, fechando o caminho do Céu, Jesus abre seu peito e mostra seu  coração para acolher seus amados, por quem deu a vida e por quem teve o coração aberto pela lança. Dele correu sangue e água. Águas do Batismo e sangue da Eucaristia. Somos lavados e alimentados. Temos até a imagem do pelicano que, na falta de comida, bica o próprio peito para que os filhotes se alimentem de seu próprio sangue. Só o amor de Deus é capaz de se entregar como um rio para saciar a sede e a fome do mundo.  Misericórdia não é amolecer a religião, mas endurecer as forças do mal e abrir as comportas do amor de Deus. Não sei como podemos ser exigentes com os outros, quando lemos na Palavra de Deus tantas maravilhas da bondade e carinho de Deus para com seu povo e para com cada um de nós, mesmo corrigindo nossos maus caminhos e maldades. Deus nos corrige. Mas sua mão não nos fere. Ela sempre está a nos consolar e acolher, como uma mãe que abraça o filhinho. Lembramos o salmo: “Fiz calar e sossegar a minha lama; ela está em grande paz dentro de mim, como a criança bem tranqüila, amamentada no regaço acolhedor de sua mãe” (Sl 130,2). Temos que nos desligar do órgão coração e nos fixarmos no amor que ele simboliza. Em 1856, Pio IX instituiu a festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus. Temos que ir ao Amor de Deus para entender e viver essa devoção.
2051. Amar como Ele amou
              Há um grande clima de espiritualidade nos tempos atuais. Podemos dizer que nosso tempo será o século da espiritualidade? Ou será o tempo do amor que se doa? Há um risco de ser uma espiritualidade como uma academia espiritual para o proveito próprio. Seria a anulação do Evangelho de Jesus. Não podemos pegar Jesus e usar suas palavras somente em proveito próprio. É interessante ver que continuamos a não ter Jesus e seu Evangelho como modelo. Ficamos nas citações que confirmam nossos pensamentos e não nossas idéias e ideais que se apoiam na vida e nas palavras de Jesus. Não uma visão antiga de salvar tua alma e o resto que se ajeite. As sagradas promessas não podem ficar só no proveito próprio e garantia da própria salvação. Jesus não foi assim. Por isso cantamos: “Amar como Jesus amou”. Os homens e mulheres que realmente seguiram Jesus foram pessoas tremendamente corresponsáveis com as pessoas e com os sofrimentos do mundo, de modo particular os pobres. Isso é o autêntico social, o cuidado com o ser humano.
2052. O amor não morre.
              A grande certeza que temos sobre o amor é que ele não morre. Está sempre a nascendo nos corações e sua semente tem vigor eterno. Jesus não foi um personagem da história, como tantos outros. Ele permanece para sempre abrindo os rios da misericórdia que brotam de seu coração. Seu amor é de sempre e para sempre. Nisso podemos concluir que está sempre a nos tocar e chamar a continuar seu amor manifestado em todos os momentos de sua vida, principalmente em sua entrega. É desse amor que fazemos memória. Não é só um sentimento, mas um modo de vida e uma vida que se multiplica. Na festa do Sagrado Coração, devemos superar o egoísmo espiritual de receber graças e sermos nós continuadores de suas graças através de nosso coração que sabe amar. No fim de nossa vida, em nosso encontro com Deus, vamos ser interrogados sobre o amor.

domingo, 3 de junho de 2018

nº 1758 - Homilia 9º Domingo Comum (03.06.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Em vasos de barro”

Carregamos os sofrimentos de Cristo
            A oração da missa nos afirma que “a providência de Deus jamais falha” e suplicamos: “Afastai de nós o que é nocivo, e concedei-nos tudo o que for útil” (Oração). Se tivermos que pedir a ajuda, na ousadia de pedir tudo o que nos for útil, é porque Deus nos respeita e nos trata com carinho. Somos sempre marcados pela fragilidade. Paulo “que levamos os tesouros do conhecimento de Deus em vasos de barro”. E explica que tudo vem de Deus e não de nós: “Deus fez brilhar sua luz em nossos corações, para tornar claro o conhecimento da sua glória na face de Cristo”... Trazemos esse tesouro em vasos de barro frágil, “Para que reconheçam que esse poder extraordinário vem de Deus e não de nós” (2Cor 4,6-7). O vaso de barro se manifesta nos sofrimentos que passamos. Paulo descreve com cores fortes tudo o que passou por Jesus, justamente para que Deus Se manifestasse. E resume nessas palavras: “Levamos em nós os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos”. Nós nos tornamos um evangelho vivo através de nossos corpos. Ele se manifesta através de nossas fragilidades.
Se por um lado há o cuidado de Deus por nós, por outro, temos o cuidado de estar junto com Jesus, continuando seus sofrimentos. Sofrer não é um mal. É evangélico. Vejamos como conclui: “De fato, nós, os vivos, somos continuamente entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal” (Id 4,11). É uma noção bonita e raça da sacramentalidade do discípulo de Jesus, o fiel cristão. É uma imagem viva de Cristo Crucificado que manifesta sua glória.
Cuidando do homem
            O tema do evangelho está voltado ao respeito do homem dando mais valor à pessoa que às regras inventadas (Mc 2,23-3,6). Os discípulos foram criticados por apanharem grãos de trigo, limparem com a mão e comerem. Certamente a fome apertara ou o costume os levou a isso. Jesus responde com fatos da Escritura lembrando que Davi comera pães sagrados que pertenciam unicamente aos sacerdotes. E diz que o “sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”. No sábado não se podia fazer nenhum tipo de serviço. Vemos o absurdo de um gesto espontâneo significar uma transgressão de uma lei que passou a oprimir o homem. Religião que tolhe a liberdade e oprime o ser humano não condiz com o ensinamento de Jesus que sublinha bondade da pessoa humana. Deus fez tudo para gerar felicidade. Temos na Igreja a tendência a repetir esse gesto do farisaísmo. O mesmo se deu no milagre de Jesus na sinagoga. Ali Jesus dá uma clara visão do valor do ser humano, sobretudo o mais frágil. Era um homem da mão seca. Quem sabe que tenha tido um AVC. Jesus pergunta se o sábado é para fazer o bem ou o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer (Mc 2,4). Tudo em Deus e em sua lei converge para a vida. Curou o homem.
Dia do descanso
                   O cuidado de Deus com seus filhos vai mais longe e não olha só casos específicos. Colocou na criação um modo garantido de um bom tratamento de todos através do descanso do Sábado. Para os cristãos o dia do descanso passou para o domingo porque a nova criação se inicia com a Ressurreição de Jesus. Esse dia do descanso é para todos, até para os animais. Deus tirou o povo do Egito para viver um descanso permanente. Guardar o ritmo do descanso é um excelente remédio para a vida e para a estrutura social. Infelizmente agora o domingo tem se transformado em dia de trabalho para tantos.
Leituras: Deuteronômio 5,12-15; Salmo 80;2ª Coríntios 4,6-11; Marcos 2,23-3,6
Ficha nº 1758 - Homilia 9º Domingo Comum (03.06.18)
                                         
1.  Participamos dos sofrimentos de Cristo para ser um Evangelho vivo.
2.  A pessoa humana deve ter o primeiro lugar acima das leis humanas.
3.  O descanso dominical é um dom do cuidado de Deus para com todos.

            Dividindo o peso

            O Evangelho traz um pensamento complicado: estamos sempre em aperto porque levamos o conhecimento que temos de Deus não como uma glória. Passamos dificuldades e sofrimentos para que não tenhamos a ousadia de termos poderes por conhecermos a Deus. Esse conhecimento vem de Deus. Por isso trazemos esse tesouro em vaso de barro.
            O barro é a fragilidade advinda também dos sofrimentos que passamos por Cristo. O sofrimento não é um acaso, ele nos conforma a Cristo, pois passamos os mesmos sofrimentos.
            Assim a vida de Cristo se manifesta em nós. Somos um evangelho vivo.