sexta-feira, 19 de junho de 2020

nº 1974 - Homilia da Solenidade de Pedro e Paulo (28.06.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“São Pedro e São Paulo” 
Primícias da fé 
Celebrar São Pedro e São Paulo é um grande momento da Igreja. Para o povo, eles estão mais no aspecto folclórico. O povo sabe comemorar ao seu modo. Mas é como reconhecê-los primeiros mestres da fé. Pedro e Paulo professaram a fé com o dom que receberam de Deus para comunicar “tudo aquilo que Ele ensinou”. Não podemos perder de vista que Jesus continua agindo como aconteceu com Ele no mistério da Encarnação. Jesus veio de um modo tão humano e simples, viveu simplesmente e morreu como um simples. Sua mensagem foi simples. Assim a primeira evangelização é feita por homens simples. Paulo era mais preparado, mas soube acolher daqueles homens o que Jesus lhes transmitira. Era humildade a ponto de ir a Jerusalém para conferir seu ensinamento com os apóstolos para que não estivesse correndo em vão (Gal 2,2). Esses homens continuaram a missão de Jesus e nos transmitiram as primícias da fé. É o pedido que se faz em sua festa: “Concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes apóstolos que nos deram as primícias da fé”(coleta). Quanto mais firmes na fé, mais nos aproximamos de nosso “original”. Foram capazes de entender os sofrimentos de sua vida apostólica, que não foram poucos, a partir da certeza da presença de Cristo que estava sempre ao seu lado. Eles não tinham mais a presença de Jesus, como no tempo de sua vida entre nós, mas O sentiam muito mais presente e Nele confiavam. 
Unidos na coroa do martírio 
Lendo os Atos dos Apóstolos e as cartas de Paulo, percebemos que havia uma diferença entre os dois apóstolos. Chegaram ao ponto de Paulo chamar a atenção de Pedro por uma atitude um tanto falsa que tomara. Isso falta na Igreja. É um gesto de profunda fraternidade. Deixar a coisa rolar não é fraterno, nem evangélico. Apesar das diferenças, cada um reconhece a missão do outro. O Concílio de Jerusalém deu a Paulo a evangelização dos pagãos e a Pedro a evangelização dos judeus. Uma das questões era a conversão dos pagãos. Deviam ou não seguir a lei judaica? Paulo era totalmente contrário, apesar de ter sido judeu consciente, mesmo formado na escola dos fariseus. Pelo bem do Evangelho foram capazes de mudar suas mentalidades. Quem crê no Evangelho se valoriza como pregador do Evangelho. Pedro recebe as chaves não de um poder, mas como dom de servir na ordem espiritual e fazer o bem. Infelizmente só se pensa no poder como no mundo civil. Jesus dissera: “Entre vós não será assim, o que for o maior, seja o que serve” (Mt 20,26). Tiveram um fim igual: “Por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem hoje, igual veneração” (Prefácio). A profissão de fé de toda Igreja está unida à profissão de fé de Pedro. 
Caminho da comunidade 
A reflexão sobre os dois apóstolos remete à reflexão sobre a vida da comunidade, como rezamos na oração final e nos é oferecido nos Atos dos Apóstolos (At 2,42). A comunidade continua sendo o grupo dos discípulos seguidores de Jesus que assumiu a união como vida. E se fortaleciam nos ensinamentos dos apóstolos. Era o evangelho vivo que ensinavam. Não havia Novo Testamento. Mas estavam unidos. A união os formava. Estavam presentes à fração do pão (Eucaristia). Era o alimento vivo. Estavam unidos na oração. É tudo o que nos faz falta. A festa de Pedro e Paulo pode nos animar a buscar mais a comunidade como lugar de formação, de construção da Igreja, da oração e da Eucaristia. 
Leituras Atos 12,1-11;Salmo 33; 2 
Timóteo 4,6-8.17-18;Mateus 16,13-19. 
Ficha nº1974-Homilia da Solenidade de 
Pedro e Paulo (28.06.20) 
1. Esses homens continuaram a missão de Jesus e nos transmitiram as primícias da fé. 
2. Pelo bem do Evangelho Pedro e Paulo foram capazes de mudar suas mentalidades. 
3. A reflexão sobre os dois apóstolos remete à reflexão da vida da comunidade. 
Coisa de velhos 
Como é difícil acreditar numa conversa de velho. Pensamos que velhos não sabem nada. É bonito ver tantos homens e mulheres de mais idade dando demonstrações da sabedoria curtida na experiência da vida. Não é porque é velho que seja inútil ou insuficiente sem sabedoria. Aprendi na África o provérbio e a verdade: “Quando morre um ancião, queimou-se uma biblioteca”. É certo que há velhos baúcos, mas, sabendo ouvir, ouvimos o que nem sempre dizem. A sabedoria curtida na experiência e nos sofrimentos é capaz de gerar ideias mais profundas para a renovação do mundo.

nº 1972 Homilia do 12º Domingo Comum (21.06.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Não tenhais medo” 
 A quem temer? 
No discurso sobre a missão, no capítulo 10 de Mateus, Jesus envia dos apóstolos. Alerta sobre a perseguição e os fortalece com sua presença. Ele está com eles. Passando-lhes sua missão, os estimula a terem coragem. Anima-os a não terem medo da oposição dos homens também contra os seguidores Dele. As perseguições se alastram. Os inimigos se unem e põem toda sua recusa em Cristo sobre os fiéis. Isso não é novidade, pois o profeta Jeremias, tantos séculos antes, falava com clareza sobre a perseguição dos justos. O salmo continua o pensamento: “Por vossa causa sofri tantos insultos e meu rosto se cobriu de confusão”(Sl 68). Essa realidade penetra a comunidade e família: “Eu me tornei como um estranho para meus irmãos (Sl 68). Jesus ordena a não ter medo: “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno”(Mt 10,28). A perseguição usa os mais refinados métodos para desfazer o ensinamento dos apóstolos de Jesus, usando o mesmo do nome de Deus. Lembramos que dirão estar fazendo um favor a Deus, eliminando tais apóstolos. É a malicia dos falsos cristãos que usam peles de ovelhas, mas são lobos vorazes (Mt 7,15). Usam a mentira e dizem o mal contra os discípulos, como diz Jesus nas bem-aventuranças (Mt 5,11). Insiste: “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado” (Mt 10,26). Deus cuida dos seus: “Até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não tenhais medo!” (Mt 10,30-310). Temos um defensor: “Aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em seu favor diante do meu Pai que está nos céus”(Id 32). 
O Senhor está a meu lado 
O profeta diz que Deus prova o justo (Jr 20,12). Os perseguidos têm uma certeza da presença de Cristo a seu lado, como o apóstolo prisioneiro (2Tm 4,17 - Jr 20,11): Certeza da vitória. O Senhor não abandona seus justos. Isso se manifesta na fortaleza dos mártires e na fortaleza dos cristãos que vivem sua fé no dia a dia, mesmo na humildade, na luta e nos sofrimentos. Belíssimos são os testemunhos da fortaleza dos mártires. Maravilhosa é a fé do povo que, mesmo nas dificuldades, permanece firme em Deus. O grande segredo da fortaleza dos mártires está em saber que a vida não acaba ali e que, quem sofre neles é o Cristo. Santas Perpétua e Felicidade estavam na prisão. Perpétua estava dando à luz. Nas dores do parto ela gritava. O torturador disse: “Quando você for jogada às vacas bravas, aí que você vai gritar”. Então ela responde: “Aqui sofro eu, lá sofre Cristo em mim”. Vimos e vivemos tempos de perseguição. Como é possível entender que uma pessoa leve a outra ao sofrimento. É o que vemos nas torturas dos campos de concentração. Por quê? Não tenhamos a ilusão que os cristãos vão ter tempo de paz. O Sofrimento está vinculado à fé. 
Dom da Graça 
“Meu zelo e meu amor por vossa casa me devoram como fogo abrasador” (Sl 68). Esse é o grande dom de amor a Deus que se expressa no amor a sua casa. Nós podemos ser Igreja e tudo que a ela se refere a ela. A Igreja pode não ser o que devia, mas é minha mãe. Cada fiel, unido ao corpo da Igreja, como Corpo de Cristo, ao sofrer, tem consigo toda a força desse Corpo. Ele não está só. A redenção é sempre abundante, pois “o dom gratuito concedido através de Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos” (Rm 5,15). Todo o sofrimento que os discípulos passam é participado por todo o Corpo de Cristo. Aí também está a força e o prêmio dado a todos que não O negarem. 
Leituras:Jeremias 20,10-13;Salmo 68;
Romanos 5,12-15; Mateus 10,26-33 
Ficha nº1972-Homilia do 12º Domingo Comum(21.06.20) 
1. Os inimigos se unem e põem toda sua oposição a Cristo sobre os fiéis. 
2. Maravilhosa é a fé do povo que, mesmo nas dificuldades, permanece firme em Deus. 
3. Cada fiel, unido ao corpo da Igreja, ao sofrer, tem consigo toda a força desse Corpo. 
Pente fino 
Ser discípulo desse Jesus, não tem sido fácil. Por isso, há tão pouca gente interessada no negócio. Ele não impõe, propõe. E já previne que não vai ser fácil. Não adoça nem maquia a situação. Vai ser difícil. Mas... o mal tem um fim e os maus encontram seu prêmio. Os perseguidores acabam perseguidos. Há mesmo uma rede muito poderosa para acabar com o novo caminho. Ele incomoda. Jesus não promete facilidades. Mas está presente. É para anunciar em todas as circunstâncias. Vai haver recusa... Mas, estamos garantidos por Ele, e Nele.

domingo, 14 de junho de 2020

nº 1970 - Homilia do 11º Domingo Comum (14.06.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Somos seu povo” 
 Aliança que compromete 
Deus é sempre fiel às suas alianças. Ele promete e cumpre. E não volta atrás quando o parceiro, chamado homem ou povo, não cumpre sua parte. A oração da missa nos leva a pedir: “Dai-nos o socorro da vossa graça, para que possamos querer e agir conforme vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos”. Os mandamentos são o código da aliança do Sinai. Deus desperta no povo a certeza que encontramos no salmo: “Sabei que o Senhor, só Ele, é Deus. Ele mesmo nos fez e somos seus, nós somos seu povo e seu rebanho”(Sl 99). A consciência de ser povo vem dos cuidados que Deus teve para com ele todo o tempo. Deus, quando fala na montanha, manda que Moisés diga ao povo como Deus tratou os egípcios por causa Dele. E Se compara à águia: “Vistes o que Eu fiz aos egípcios, e como vos levei sobre asas de águia e vos trouxe a Mim”. Então cobra obediência aos mandamentos para que seja seu povo: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre os povos... E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êx19,4-5). Os castigos aconteceram para corrigir a rota do povo. Jesus usou de misericórdia para com o povo dando-lhe continuadores de sua missão de constituir um povo fundado na bondade de Deus que salva e cura. Por isso é importante ver os sentimentos que Jesus nutria pelo povo sofrido: “Vendo as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). Ele tem o coração do Pai que salvou o povo. 
Missão de continuar Jesus 
Moisés narra a bondade com que Deus o constituiu como povo. No evangelho temos o mesmo tema. Os apóstolos são escolhidos e enviados para cuidar do povo da nova aliança. Não será um povo voltado a um cuidado de Deus, mas a um cuidado dos apóstolos em união com Jesus que continua a por em ação a misericórdia e a compaixão pelos sofredores. Isso é fundamental na caminhada do novo povo: “Anunciai que o Reino de Deus está próximo”. Os sinais são claros: “Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”. Tudo é um presente de Deus “De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,7-8). O povo é convocado, não cobrado. A resposta é o reconhecimento da ação de Deus através daqueles que creram em Jesus. Crer não é aceitar uma doutrina, mas um modo de vida. A vida é o primeiro destino do anúncio de Jesus. Preferimos uma doutrina perfeita que não alimenta uma vida para que seja perfeita. O que Deus fez ao seu povo, os discípulos deverão fazer para levar adiante as promessas de Jesus que se cumpre no povo. Ele foi fiel e quer fidelidade. 
Reconciliados 
“Deus nos reconciliou com Ele pela morte de seu Filho. Quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida” (Rm 5,10). Esta é a grande prova do amor de Deus por nós: “A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores” (Id 8). Os egípcios pagaram caro a libertação do povo. Jesus assume sobre Si, o que era para nós. Vemos como se estabelece o amor de Deus: não em palavras, mas em atitudes concretas, primeiro em seu Filho e depois, através de seus seguidores que continuarão cuidando das pessoas, sobretudo dos humildes. Todo o povo de Deus é continuador desse amor gratuito do Pai em Cristo. Não fomos feitos para constituir um povo socialmente, mas para ser um povo que atinge todos pelo amor, uma nação santa. 
Leituras Êxodo 19,2-6ª;Salmo 99; 
Romanos 5,6-11;Mateus 9,36-10,8. 
Ficha nº 1970 - Homilia do 11º Domingo Comum (14.06.20) 
1. A consciência de ser povo vem dos cuidados que Deus teve para com ele todo o tempo.
2. Crer não é aceitar uma doutrina, mas um modo de vida.
3. Todo o povo de Deus é continuador desse amor gratuito do Pai em Cristo.
No fritar dos ovos 
É na vida concreta que vamos entender o que significa todo ensinamento de Jesus. É no fritar dos ovos que vemos o que está acontecendo. Tudo o que Deus fez pelo povo escolhido foi continuado por Jesus que assume as atitudes do Pai e passa aos discípulos. Os benefícios de Deus ao povo foram grandiosos. Mas os egípcios pagaram caro com tantas pragas e com a perda de um exército. Os benefícios para nós, os que acreditam, foram pagos na conta de Jesus. Paulo diz: “quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios em tempo marcado... A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,6.8). Pensamos que, assumindo a vida de Cristo em nós, levaremos sobre nós também muitos sofrimentos para que os fracos sejam recuperados.

terça-feira, 9 de junho de 2020

nº 1969 Artigo - “O Santíssimo Sacramento”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Graças e Louvores 
Entre nuvens de incenso, tilintar das campainhas, o brilho das vestes, os tapetes das ruas, o perfume das flores e o encanto de um ostensório, há uma Presença; louvamos e agradecemos um Deus que se faz presente em uma pequena hóstia. Mesmo se fosse do tamanho do universo, ela ainda seria pequena. Ali está o Senhor. O livro dos Cânticos dos Cânticos” canta: “Meu amado está do outro lado da parede” (Ct 2,9). Há sempre uma parede que esconde a Divindade. É a parede de nossa humanidade. Mas nada pode esconder a presença Daquele que, por amor, se dignou assumir nossa humanidade. Ele saltou o muro de nossa fragilidade e Se fez um de nós. Querendo deixar uma lembrança de sua presença, deixou-Se como alimento e presença misteriosa nos sinais sacramentais do pão e do vinho consagradas pela ação do Espírito Santo. Não quis vir ao mundo sem assumir nossa natureza. Não quer continuar entre nós, sem nossa natureza. Assim o Espírito que O gerou no seio de Maria, gera-O agora no pão partido. Diante dessa realidade nós louvamos e agradecemos e adoramos. Ele não precisa de nossos arranjos. Ele quer estar ali. “O Mestre está aí e te chama” (Jo 11,28). O povo de Deus, passando pelas diversas fases da história, chegou a um ponto de não compreender a Eucaristia e não participar o suficiente. Então se desenvolveu o culto eucarístico. Tem suas riquezas. Foi um desenvolvimento. Mas... também aqui é necessário uma permanente reflexão para a melhor expressão da fé e da piedade. 
Presença ressuscitada 
Com o tempo, o mistério da Ressurreição passou a ser um milagre que comprovava que era a Paixão de Jesus que salva. Com isso se levou a ver o Ressuscitado vivo presente na Eucaristia. Ali está o Cristo vivo. Como a liturgia se distanciou do povo, sendo feita em uma língua que não conhecia, a devoção ao Santíssimo se enriqueceu de beleza e piedade. Um mistério não anula o outro. A Eucaristia é o Cristo Vivo e Ressuscitado. É o alimento que sustenta a comunidade e une a comunidade num só corpo, unida ao Corpo de Cristo Ressuscitado na Glória e presente na Eucaristia. É triste ver como se desconhece essa presença. Quando é uma celebração solene, sentimos uma presença que atrai e anima. Mas... Ele é o mesmo que está no sacrário humilde, na capelinha esquecida, com risco de se danificar a sagrada Hóstia. Não há necessidade de sinos, incenso, roupas magníficas etc... Ali está o mesmo Senhor da Glória, “chamando, acolhendo todos os que O vêm visitar”. O amor presente na Eucaristia é muito louco. Sto. Afonso diz que somente um Deus louco de amor poderia inventar essa maneira de nos atrair. Ele está ali para nos mostrar o amor e nos atrair ao mesmo amor. 
Amor que atrai 
Os santos cultivam profundo amor e respeito à Eucaristia. Por isso, além da presença em nós e nos outros, temos a presença no sacrário, mesmo humilde. Se não sou capaz de perceber ali Aquele que meu coração ama, e ter os mesmos sentimentos de fé, ainda não tenho fé na Eucaristia. É a fumaça ou o ouro do ostensório que me dão fé? O apreço à “Presença” deve nos levar a buscar sempre mais um relacionamento de fé e amizade. Poderemos aprofundar sempre mais a participação na Eucaristia e à evangelização, a partir deste sacramento. É próprio do amor difundir-se. Agradecemos a Deus a grande missão das comunidades de fazer Jesus sempre mais amado e adorado.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

nº 1968 - Homilia na S. Santíssima Trindade (07.06.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
“Deus é o Amor” 
 Acolhei-nos! 
A celebração da festa da Santíssima Trindade é diferente das outras do Ano Litúrgico. No Mistério Pascal celebramos os fatos da vida de Jesus. São acontecimentos. Hoje celebramos o maior mistério de nossa fé. Celebramos o Deus Trindade “professando a verdadeira fé, reconhecendo a glória da Trindade e adorando a Unidade onipotente” (coleta). Quem é Deus? O evangelista João escreve: “Deus ninguém jamais viu. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este no-Lo deu a conhecer (Jo 1,18). Ver Jesus é ver o Pai (Jo 14,8-9). Então, só podemos conhecer a Deus através de suas obras. No correr da história Deus se manifestou como está escrito na carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora a nossos pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho” (Hb 1,1-2). Podemos conhecer Deus, não tanto por uma revelação, mas por suas ações de libertação. No plano da salvação sempre teve ações de misericórdia pelos necessitados. Deus nos criou para nos amar e nos acolheu para nos socorrer. O conhecimento de Deus se faz inverso. Começa por sentir que desceu para libertar. Daí se percebe que escolheu o povo e foi o Criador do mundo. Caminhou com o povo, atendendo assim ao pedido de Moisés no Sinai: “Se é verdade que gozo de teu favor, peço-te, caminha conosco” (Ex 34,9). A proclamação fundamental resume todo o mistério da salvação: “Deus Amou tanto o mundo que deu seu Filho unigênito para que não morra todo aquele que Nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). 
Amor que se comunica 
Há quem diga que se fala muito do Deus misericordioso, mas se deixa de lado sua justiça. Certamente essa justiça é para ser feita aos outros. E para nós... só a bondade? Temos contas a pagar. Até de nós Ele tem toda misericórdia. Olhemos para a misericórdia que tem para conosco para aprendermos a sermos misericordiosos. É próprio do amor se difundir em atos de misericórdia. Misericórdia não é ter dó. Essa não resolve. São necessários atos concretos. O amor verdadeiro gera atitudes concretas em gestos de comunhão. Paulo exorta: “cultivai a concórdia, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2Cor 13,11). Onde há amor, aí Deus está. Aqui devemos compreender que Jesus não veio fundar uma religião, mas implantar o amor que se tornasse uma onda que transformasse toda a realidade do mundo. Temos muito cuidado com as verdades da fé. Mas não há o mesmo empenho com as verdades do amor. Tiago é muito claro ao dizer que “Assim a fé, se não tiver obras, será morta em seu isolamento” (Tg 2,17). “A religião pura diante de Deus e nosso Pai, consiste em assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livres da corrupção do mundo” (Tg 1,27). O amor se comunica em atos. 
Comunhão no Espírito 
A liturgia estimula “a professar a verdadeira fé, reconhecendo a glória da Trindade, adorando a Unidade onipotente” (Oração). O prefácio é um hino: “Proclamando que sois o Deus eterno e verdadeiro, adoramos cada uma das pessoas, na mesma natureza e igual majestade”. Nossa união ao Deus Amor é acolher esse amor transmitido por Jesus. Essa união não é um simples bem querer, mas o grande bem querer de Deus que vivemos no Espírito. Esse amor nos dá a certeza e a garantia de estar em Deus e poder chegar a Ele. Vivemos na terra, mas como vimos na Ascensão de Jesus, estamos já no Céu com Jesus, participando da comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito. Essa comunhão é salvação.
Leituras: Êxodo 34,4b-6.8-9; Cântico de Daniel, 3,52-56; 
2 Coríntios 13,11-13; João 3,16-18 
Ficha nº 1968 - Homilia na S.Trindade(07.06.20) 
1. Podemos conhecer Deus, não só por revelação, mas por suas ações de libertação. 
2. O amor verdadeiro gera atitudes concretas em gestos de comunhão. 
3. Nossa união ao Deus Amor é acolher esse amor transmitido por Jesus. 
Assim dá certo 
Quando nos vemos enrolados e em confusão com os outros, pedimos a Deus que nos livre desses males. A resposta milagrosa imediatamente se faz presente. Deus não faz o milagre. Deixa que nós o façamos. Muito simples. Ser como Deus é: bondoso, de uma bondade que não tem limites nem confins. O milagre é fazer como Deus faz: ser misericordioso e gerar comunhão. Aí a gente não quer. Então... Para realizar uma renovação do mundo é necessário ser como é, Aquele que o fez. João nos ensina: andar como Ele andou, referindo-se a Jesus. Ser como Deus é, não é ser Deus com Ele, mas ter em nós aquelas mesmas qualidades que colocou em Jesus. Aí podemos adorar, louvar, bendizer, ficarmos felizes como Jesus fazia com seu Pai.