Redentorista
2100. Não basta só querer
Continuamos a refletir, orientados
por Papa Francisco, sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate (GE). Ele nos instrui
sobre a santidade. Vimos nos outros artigos a questão do gnosticismo.
Resumindo, diz que a heresia do gnosticismo que ainda está presente em muitos
setores da vida da Igreja, leva a santidade para o lado do conhecimento
intelectual. Com isso se descarta quem é ignorante, fraco e sofredor. Até Jesus
acaba sendo deixado de lado em seu aspecto humano. Ao contrário dessa heresia
aparece outra, não melhor, colocando a santidade unicamente no esforço pessoal
humano. Esse não pode faltar, mas não é tudo. “Esquecia-se que isto não depende
daquele que quer nem daquele que se esforça por alcançá-lo, mas de Deus que é
misericordioso” (Rm 9, 16) e que Ele «nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19) – Já não era a inteligência que
ocupava o lugar do mistério e da graça, mas a vontade (GE 48). Às vezes é complicado mostrar
diretamente, mas está em plena ação entre nós. O Papa assim explica: “Quem se
conforma a esta mentalidade (pelagiana ou semipelagiana), embora fale da graça
de Deus com discursos bonitos, “no fundo, só confia nas suas próprias forças e
sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser
irredutivelmente fiel a um certo estilo católico” (GE 49).
Os que são fracos e não
conseguem tudo que esses “tais bons” conseguem, sentem-se inferiorizados porque
não conseguem fazer nem saem da dificuldade. E eles dizem que basta querer. Sem
Jesus e sua graça, não se vai longe.
2101. Nada sem a Graça
É
comum as pessoas viverem certas dificuldades e não conseguirem sair delas.
Então, quem se diz estar bem, acaba por dizer que a pessoa não quer, isto é,
não tem vontade de sair dessa vida. Ele ou ela, que tem um nível espiritual se
coloca como o santo que conseguiu chegar naquele ponto. E se dá o direito de
julgar os outros. Nega-se nessa atitude que a graça de Deus não falha, mas os tempos
de Deus são outros que os nossos. As fragilidades humanas não são curadas,
completamente, e de uma vez por todas pela graça. O Papa Francisco cita então: “Em todo o caso, como ensinava Santo
Agostinho, Deus convida-te a fazer o que podes e ‘a pedir o que não podes’” (GE 50). Alguns que se dizem bons de reza,
quando veem alguém que não consegue, têm ousadia de dizer que esse não reza
bem. Por isso não consegue. Rezar não é para ganhar coisas, mas para ganhar
Deus e sua graça. A graça supõe a natureza, por isso não nos faz vitoriosos em
tudo e a todo momento. Não somos super heróis. Fuja deles, pois no fundo é
fachada. Os que vivem dando leis e cobrando dos outros são os novos hereges que
repetem os antigos. Muitos vivem preocupados com o exterior, com os ritos, com
as formas. O bom é reconhecer que somos fracos, necessitados e lutar pelo que
buscamos. Por isso, se recusarmos esta modalidade histórica e
progressiva, de fato podemos chegar a negá-la e bloqueá-la, embora a exaltemos
com as nossas palavras.
2102 . Nele nos movemos
Corremos o risco de viver a
mentalidade de lucro e de estoque dos bens espirituais. Isso nos dá o mérito e
podemos cobrar de Deus as graças, luzes e milagres, pois somos bons. Deus pede
a Abraão que ande na sua presença e seja perfeito (Gn 17,1). “Para poder sermos
perfeitos, como é do seu agrado, precisamos de viver humildemente na presença
d’Ele, envolvidos pela sua glória. Há que perder o medo
desta presença que só nos pode fazer bem. É o Pai que nos deu vida e nos ama
tanto” (GE 51).
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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