segunda-feira, 26 de março de 2018

nº 1739 Artigo - “Amou-os até o extremo do amor”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2020. Por onde passa a Paixão
            Na “Semana das Dores” celebramos o Mistério Pascal de Cristo. É um mistério de dor e de glória. A Paixão sempre marcou o povo de Deus. Compreendemos pouco sobre a Ressurreição, pois não temos a experiência. As dores do Redentor são mais fáceis de compreender, mas difícil de aceitar. Estamos diante de um mistério extremamente chocante que é a Paixão, Morte e sepultura do Senhor Jesus, Deus feito homem. Como compreender que tenha chegado a esse ponto? A meditação da Paixão nos fere. Por que chegar a esse ponto? Jesus mesmo, no Horto das Oliveiras diz a Pedro que poderia pedir ao Pai que mandaria dez legiões de Anjos (60.000 – soldados). Não quis. Por quê? O que poderia convencer as pessoas do amor de Deus, se Deus não fosse ao extremo. Mesquinhos como somos, iríamos dizer que Deus não fez tudo para nos salvar, fez só uma parte. A humilhação, o aniquilamento do Filho de Deus estão presentes desde sua encarnação. O sofrimento da morte foi o ponto doloroso que tocou sua humanidade. Aqui o ser humano pode compreender a que ponto chegar para se fiel ao Pai. Temos muitíssimos mártires que passam também por esses sofrimentos, ainda hoje. Recebem força na sua fidelidade contemplando o sofrimento de Cristo. A dor penetra toda a humanidade. E Jesus, naquele momento, carregava consigo tudo o que há no universo. Ali estávamos nós também nos entregando a Deus e sendo aceitos. Não podemos contemplar a dor e sair sem amor. Contemplando o amor de entrega na cruz, podemos entender como atrair ao mesmo amor.
2021. Vós que estivestes comigo
Em Cristo, nós acolhemos a vontade do Pai e respondemos com uma decisão de vida que continua o amor de Cristo no mundo. Jesus sentiu muito a solidão da cruz, mas viu que os discípulos, mesmo dispersados, não deixaram de segui-lo. Jesus compreendia sua fragilidade, pois estiveram sempre com Ele: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações” (Lc 22,28). Em tudo Jesus estava com eles. No momento da dor e da morte sentiu esse apoio. Vemos como Pedro, mesmo tendo negado, segue-O. Depois da prisão, Pedro e João seguiam Jesus. João entrou no pátio e Pedro ficou fora. João, amigo da família, falou com a porteira e Pedro entrou (Jo 18,15-16). Estar com Jesus no sofrimento que passou, faz de nós também seus companheiros de sofrimento. O sofrimento de Jesus, para nós, não está presente somente nos crucifixos colocados nos ambientes. Bom, mas não são suficiente para nós. Temos que estar permanentemente junto a seus sofrimentos. Ele já ressuscitou, mas diz que continuamos sua Paixão: Agora me alegro nos meus sofrimentos por vós e completo no meu corpo o que falta às aflições de Cristo, em benefício do seu Corpo, que é a Igreja (Cl 1,24).
2022. A Paixão continuada
            Estamos em uma Paixão continuada. Continuar a Paixão não se trata do sofrimento e da dor, mas do mesmo amor com que Cristo caminhou para o Calvário, melhor, o que fez toda sua vida. Sabemos por experiência que a santidade está sempre coroada de espinhos. Na verdade não temos sossego. Há sempre algo a nos espetar. Paulo chamava esses sofrimentos de espinho na carne (2Cor 12,7). E não escolhe lado. Paulo explica que era para mantê-lo humilde. É o maior drama espiritual que vemos nas pessoas que não são capazes de perceber o que estão passando. Estão no mistério da Cruz. Às vezes são incompreensíveis os acontecimentos que levam a isso. Falta a sabedoria da Cruz. Mesmo entre os santos acontecem desajustes. São humanos. Não podemos descer da Cruz.

domingo, 25 de março de 2018

nº 1738 Homilia do Domingo de Ramos (25.3.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“O Rei que virá”

Humildade até o fim
            Por isso Deus O exaltou!” Este é o fim de todo o mistério da humildade e da dor. Estamos celebrando o Domingo de Ramos, que resume em si a glória do Rei que vem a sua cidade e seu templo. Há uma profecia muito bonita do profeta Ageu, sobre a futura glória do templo: “Nesse lugar Eu darei a paz” (Ag 2,50). É o que quer nessa sua entrada em Jerusalém. Por isso faz uma lamentação sobre a cidade: “Ah! Se neste dia tu conhecesses a mensagem da paz” (Lc 19,41). Ele traz a paz na humildade que perpassa por toda sua vida, sobretudo na hora de sua Paixão. Nesse Domingo de Ramos, temos dois sentimentos: a glória que está reservada a Jesus e o sofrimento pelo qual deve passar. O povo O reconhece. Os chefes rejeitam. As crianças aclamam Hosana ao Filho de Davi. Hosana significa “Salva-nos” – é o mesmo que Kyrie, que significa: Senhor, tem piedade de nós. Os dois termos são aclamação. Esse Rei tão aclamado é o humilde que vem em paz. A vida de Jesus, sobretudo em sua morte, manifesta a humildade. A oração da missa nos leva a rezar: “Deus... para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz”. A morte de Jesus e sua ressurreição são um ensinamento para a vida cristã: “Concedei-nos aprender o ensinamento de sua paixão e ressuscitar com Ele em sua glória” (oração). É pela humildade que compreendemos sua vida e sua paixão. Paulo descreve o processo dessa humildade, que vai ao extremo de ser obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2,6-11). Foi assim que os primeiros cristãos conheceram Jesus, tanto que Paulo recolhe esse hino já cantado na comunidade.
Abriu os ouvidos
A humildade de Jesus está descrita no cântico do Servo de Javé, escrito por Isaias na manifestação de sua obediência. Porque soube ouvir, tornou-se obediente e humilde. Mesmo no máximo abandono da cruz, pode elevar seu grito Àquele em quem sempre confiou e tinha certeza que podia ter confiança, mesmo no extremo abandono: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes” (Sl 21). O termo usado pelo profeta, “abrir os ouvidos” que é a palavra obediência, significa estar sempre atento em saber o que o Senhor vai falar. “Não Lhe resisti nem voltei atrás” (Is 50,5). Ouvir é acolher e a força de ir até o fim, como aconteceu com Jesus. Ele tinha condições, pois disse a Pedro, no Horto das Oliveiras, que poderia pedir ao Pai e Ele enviaria doze legiões de Anjos para defendê-lo (60.000 anjos). Mas é obediente e quer que se cumpram as Escrituras: “Como se cumpririam as Escrituras, segundo as quais, isso deveria acontecer?” (Mt 26,54). Confiava que a obediência o levaria até o fim no cumprimento da vontade do Pai.
Exemplo de humildade
            O Sacerdote: “Ó Deus... para dar um exemplo de humildade quisestes que vosso Filho se fizesse homem e morresse na cruz”. Não é um bom conselho. Contudo, estamos iniciando um período fundamental da fé cristã, que é o Mistério Pascal de Cristo em sua Paixão, Morte e Ressurreição. Então é profundo. Humildade está presente na Santíssima Trindade em seu relacionamento interno. Acolher Um ao Outro em sua totalidade de ser é o sentido de humildade. Essa humildade, Deus a revelou em Jesus, para que entrássemos nessa sua comunhão de vida e de ação. Acolhendo Jesus e sua Palavra, poderemos celebrar intensamente sua Paixão e Páscoa. Não se trata de um bom sentimento, mas de um sacramento no qual celebramos. Somos salvos, isto é, participamos da vida de Deus.
Leituras: Marcos 11,1-10; Isaias 11,4-7;Salmo 21;Filipenses 2,6-11;Marcos 15,1-39
Ficha nº 1738 - Homilia  do Domingo de Ramos (25.3.18)
           
1.  A vida de Jesus, sobretudo em sua morte, manifesta a humildade.
2.  Ouvir é acolher  a força de ir até o fim, como aconteceu com Jesus.
3.  Humildade está presente na Santíssima Trindade em seu relacionamento interno.

            Jumento zero quilômetro

            É interessante que Jesus manda buscar um jumentinho, que nem era Dele, para fazer sua entrada em Jerusalém. Será que Jesus conhecia o dono? Parece, pois logo deixaram levar o bichinho. O jumento é também um símbolo da humildade. Burro de carga. E que carga pegou dessa vez. Como era o primeiro que montava, será que ele dava pelo tão facilmente? É bem verdade que o burro foi mais esperto que os chefes do povo que não aceitaram Jesus.
            Outro evangelista, Mateus, fala das crianças que O aclamavam. E cita o salmo: “Da boca dos pequeninos e das criancinhas de peito preparastes um louvor para Ti” (Sl 8,3). Jesus entra na cidade real como rei, como Davi entrara. Mas não veio no cavalo branco, como um dominador. É o Rei humilde, por isso reconhecido pelo povo.
            São Paulo descreve a humildade desse Homem que vai ao último lugar, para que todos cheguem primeiro.

segunda-feira, 19 de março de 2018

nº 1737 Artigo - “Os profetas falavam de Mim”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
Cumprem-se as profecias
            Quando lembramos as histórias da vida de Jesus, as acolhemos com carinho. Outros podem duvidar ou não acreditar. Até podem dizer: coisa inventada. Além do aspecto da verdade de fé de quem acolheu e acreditou, temos também estes aspectos históricos. Não temos documentos imediatos, como temos hoje. Mas temos a vida de uma comunidade que não trabalhava com instrumentos, mas com uma memória fabulosa. Esses conhecimentos foram passados por tradição, até que se chegou aos evangelhos. Mesmo que tenham um esquema teológico para a narração, foram escritos no tempo em que havia ainda pessoas que presenciaram os fatos. Vemos S. Lucas dizer no início de seu evangelho “que muitos tentaram compor a narração dos fatos que se cumpriram entre nós – conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da Palavra... a mim pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado”... (Lc 1,1-4). A vinda de Jesus não se reduz só a um acontecimento histórico, mas foi anunciada pelas profecias. Vemos no evangelho de Mateus, como o autor procura narrar os fatos da vida de Jesus, como realização das profecias. Ele não é um caso, mas o ponto de chegada de uma profecia. Seu ensinamento foi confiado a homens simples que não teriam capacidade de inventar tamanha riqueza. Jesus mesmo disse, no dia da Ressurreição, quando se encontra com os discípulos no caminho de Emaús: “Começando por Moisés e por todos os profetas, interpretou-lhes em todas as escrituras o que a Ele dizia respeito” (Lc 24,27)... “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24,44), diz Jesus antes de subir ao Céu.
A comunidade forma a liturgia
Temos uma bela liturgia no Domingo de Tríduo Pascal. Temos que separar a liturgia dos momentos da piedade popular com suas procissões, teatros e belas orações. A origem das celebrações da Semana Santa está na Igreja de Jerusalém, que é chamada de mãe e mestra de liturgia. Ela tem uma especialidade que não temos. As celebrações se faziam nos lugares dos acontecimentos. Aí foram construídas as basílicas, como a da Ressurreição que passou a se chamar Santo Sepulcro. É uma liturgia geográfica. Mas sempre voltada para o lugar da sepultura e ressurreição de Jesus. Há uma autora de um diário de viagem que participou das celebrações de Jerusalém, pelo ano de 380 (Etéria) que narra justamente esse aspecto. Os costumes dessa santa Igr eja fundada sobre a tradição passaram para outras comunidades, como, por exemplo, a procissão de Ramos. Para os cristãos da atual Jerusalém, essa procissão é como a nossa procissão do Senhor Morto. É imensa e faz o mesmo trajeto feito por Jesus, de Betfagé a Jerusalém. Com o correr dos séculos, a Igreja de Roma organizou essas celebrações que chegaram ao que temos hoje.
Nossa contribuição
Todos os séculos deram sua contribuição, para que a celebração fosse sempre mais condizente, como mistério celebrado e o povo que celebra. Recebemos tanta herança do passado que, quando começaram, eram atuais para o tempo. Com isso não precisamos depender somente do passado, mas oferecer nossa humilde e consistente colaboração. Do contrário, a liturgia vira museu. Nada precisa ser eliminado, mas renovado e promovido. Não precisamos destruir. Fazendo bem, nos ajuda a descobrir o que mais podemos fazer. Há tantos elementos que podemos colocar que não danificam o que é celebrado. Uma coisa que podemos fazer e ajudar, é proporcionar a participação mais ativa das pessoas.

domingo, 18 de março de 2018

nº 1736 Homilia 5º Domingo da Quaresma (18.03.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Aliança do coração”

Se o grão de trigo não morre
            Na Santa Ceia, Jesus instituiu a Eucaristia para ser Memória de sua Morte e Ressurreição. (Memória não é lembrança. É atualização do mesmo fato). Naquele momento, tomando o cálice, disse: “Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos para a remissão dos pecados” (Mt 26,27). Uma aliança tem um ritual de sacrifício, como podemos ver nas alianças do Antigo Testamento. O sangue do sacrifício selava o contrato – aliança de Deus com o homem. Deus sela a aliança conosco no sangue de Jesus. O profeta Jeremias anuncia uma aliança de mútua fidelidade, pois está escrita no coração, porque se conhece o Senhor. “Não será necessário ensinar mais seu próximo ou seu irmão dizendo: Conhece o Senhor” (Jr 31,34). Com essa aliança no sangue de Jesus, acontece o perdão. Ele, explicando que por sua morte dá a vida, faz a comparação com a semente que tem que morrer para dar fruto. Essa parábola ensina que é preciso entregar a vida: “Quem se apega a sua vida perde-a; mas quem pouca conta faz de sua vida nesse mundo, conservá-la-á para a vida eterna” (Jo 12,25). Por sua obediência ao Pai, se tornou causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem (Hb 5,8-9). Ao ser elevado da terra, na crucifixão, vai atrair todos a Si. A morte não encerra a vida de Jesus. O efeito dessa aliança é eterno. Não há que temer em seguí-Lo: “Se alguém Me quer seguir, siga-Me, e onde Eu estou estará também o meu servo” (Jo 12,26). Não temos que temer as muitas mortes que temos que ter na vida. Elas são motivo de vida e mantêm a aliança.
Caridade da cruz
            A oração da missa nos ajuda a rezar uma realidade muito importante para nossa vida cotidiana: “Senhor nosso Deus, dai-nos, por vossa graça, caminhar com alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-Se à morte no seu amor pelo mundo”. A obra da Redenção não é somente o resultado de uma recusa por parte dos chefes do povo, mas é também uma escolha de como entendia ser Redentor. Para Ele redimir, era amar.  A caridade que o Pai usou ao enviar seu Filho ao mundo, é o modo como escolheu para realizar esta obra. O modo de redimir amando vem de seu amor ao Se encarnar. A obra da encarnação e da redenção é realizada no amor. Sto. Afonso, ao falar da Eucaristia, diz que ela é memória do amor que Cristo manifestou em sua morte na Cruz. Seu ensinamento é perder para ganhar. O seguimento de Jesus só vai acontecer quando realizarmos em nós o seu projeto de vida: “Se alguém Me quer seguir, siga-Me, e onde Eu estou, estará também meu servo” (Jo 12,26). Seguindo Jesus refletimos sua imagem.
Oração sempre é ouvida
            O sofrimento é uma questão muito séria e mal compreendida na vida cristã. Dizemos que estamos sofrendo e Deus não escuta nossa oração. Alguns ainda têm a ousadia de dizer que não rezamos bem, por isso Deus não nos escuta. É Jesus mesmo que nos dá a resposta a essa questão, pois Ele, vivendo a condição humana passou por muitos sofrimentos, sobretudo no final de sua vida. Vimos na dolorosa cena do Horto das Oliveiras na qual Jesus implora ao Pai em “preces e súplicas com forte clamor e lágrimas à que era capaz de salvá-Lo da morte”. Sofrimento terrível. “E foi atendido”.  Na cruz lamentou o abandono. Foi atendido na Ressurreição. “O Pai sabe o que precisais, antes que vos o peçais”(Mt 6,8). Nem sempre esperamos as respostas ou só queremos as respostas como pensamos e não como Deus pensa o melhor para nós. Sua oração é sempre boa.
Leituras: Jeremias 31,31-34;Salmo 50; Hebreus 5,7-9;João 12,20-30
Ficha nº 1736 - Homilia 5º Domingo da Quaresma (18.03.18)
           
1.  Deus sela aliança conosco com o sangue de Jesus. Assim nos salva.
2.  A redenção é uma obra do amor de Jesus.
3.  Deus sempre atende nossas orações no sofrimento. Como Ele quer. 

Cartilha do Amor

            Há muitos modelos. Mas só uma cartilha ensina tudo: viver e morrer. Essa cartilha é a vida de Jesus. Vimos como soube explicar bem que a vida tem que perder muito para viver muito. Perder é deixar fora o que não resolve e ficar com o essencial que é o amor.
            A gente fala de amor, como uma mania. Jesus não tinha mania de dizer, mas o jeito de fazer.  Faz até uma comparação com a semente que produz vida e planta só depois que deixa de ser semente.
            Quem quiser acertar o passo com Ele tem que fazer como fez: onde estou estará também meu servo. Deus quis seu Jesus assim. Assim nos quer também.

segunda-feira, 12 de março de 2018

nº 1735 Artigo - “Um só Redentor”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
Deus entregou o Filho
            Fé é um dom e um desafio. Quem não recebe o dom, não tem fé. E como receber a fé? Pedro e João, quando curam o aleijado no templo, fazem um discurso e dizem que aquele homem foi curado pela invocação de Jesus: Pedro disse ao homem: “Em nome de Jesus Cristo Nazareno, anda!” (At 3,6). Em nome significa a pessoa. Quando se aceita Jesus como Salvador, recebe-se o dom da fé. É Deus quem toca o coração. Muitos ouviram a Palavra, nem todos a acolheram. Muitos ouviram Jesus pessoalmente e não creram. O fundamento da fé é Deus que se volta para sua criatura e lhe oferece a participação de sua Vida. Num processo longo de preparação, entregou seu Filho amado para que nos desse essa Vida. Para isso, assumiu nossa condição humana em tudo, menos no pecado (Hb 4,15). Os grandes desafios da fé é acolher e aceitar a maneira como Deus age para se comunicar conosco. Abaixou-se totalmente, ao último, para assumir em tudo o ser humano, sem perder sua Divindade. Paulo nos diz na carta aos Filipenses: “Esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana... humilhou-se e foi obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2,7-8). Por que chegar ao extremo? Porque não será nunca amor se não for completo. Deus O entrega como totalidade de sua doação. O Filho assume o projeto do Pai e vai até o fim. Para uma fé que não é total, não é possível entender o modo de ser de Deus. Assumir Jesus nessa condição exige um total esvaziamento de si mesmo, para poder entender esse gesto amoroso de Deus. O resultado dessa entrega até a morte é a Ressurreição, que coroa toda obra da redenção. Se participarmos com Ele na morte, participamos na Vida.
Veio para todos
            A resposta de fé tem uma exigência de totalidade. Não se crê em uma parte. Há gente que diz: “Sou católico, mas não aceito isso ou aquilo”. Não está sendo verdadeiro, pois negar uma verdade é negar todas. Digo verdade e não tradições ou teorias. Desse modo, podemos ver as grandes conversões. Converteram-se totalmente. Por outro lado vemos como a vida cristã se torna frágil pela falta de uma fé madura. Madura é quando assumimos Jesus em nossa vida do jeito que Ele é. Homem como nós, e Deus como o Pai. Como homem sofreu a paixão. Como Deus, permanece vivo. Jesus assumiu a vida da humanidade, não de um grupo selecionado. Jesus veio para todos. Há muitas religiões que nem falam de Jesus. Isso não bloqueia o dom de Deus. Se alguma religião cultiva os ensinamentos de Jesus, ali se encontra o aspecto da verdade que salva e liberta. Podemos até afirmar que, onde há o amor, aí Deus está, e esta é a religião fundamental. Temos que ter firme que Deus veio para todos. Há um caminho que chamamos Igreja, que tem a missão de levar a todos essa mensagem.
Tudo converge para Ele
O dom da fé não é uma devoção. Há pessoas que dizem ter muita fé. Na verdade têm muita devoção. A devoção é boa. Mas se não nos leva à fé em Jesus como Redentor, não ajuda. “Fé é um modo de já possuir o que se espera e um meio de conhecer as realidades que não se vêem” (Hb 11.1). Como Jesus veio do Pai, Ele nos leva de volta ao Pai em sua comunicação. Paulo nos ensina que tudo caminha para Cristo (Ef 1,10). Podemos dizer que o mundo se afasta de Deus, da religião, do bem. Perguntamos se a culpa não é nossa que não anunciamos Jesus com clareza ou ensinamos devoções e manias pessoais. Sem Cristo, nós nos afastamos do projeto do Pai.

domingo, 11 de março de 2018

nº 1734 - Homilia do 4º Domingo da Quaresma (11.03.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Deus é rico em Misericórdia”

Instrumentos de Deus
            Deus é fiel à sua aliança, mesmo tendo feito o povo pagar caro por sua desobediência. Mesmo castigando, Deus é “rico em misericórdia” e não traz a libertação. E mais ainda, escolhe estrangeiros pagãos para cumprirem seus desígnios de libertação. É o caso do Ciro, rei da Pérsia. O povo havia pecado. Os profetas chamaram à conversão. Não adiantou. Veio o rei Nabucodonosor destruiu o templo, a cidade e levou o povo para o exílio. E foi duro. O sofrimento amoleceu, educou o coração do povo, como pudemos ver no maravilhoso salmo 136, no qual cultivam sentimentos que não deviam ter perdido quando pecavam. O mesmo ocorre quando o povo pecou no deserto e, como foi castigo, foram atacados por serpentes venenosas que mataram a muitos. Moisés mostrou a misericórdia de Deus. Fez uma serpente de bronze e a colocou num poste. Ela é o instrumento da misericórdia. Todo aquele que olhasse para ela seria curado. Era algo estranho: olhar para a serpente e ser curado. Não era idolatria, era o coração arrependido. Essa serpente será destruída no tempo do rei Ezequias porque começaram a adorá-la (2Rs 18,4). Jesus na cruz é o instrumento que acolhe nossa fé. Podemos perguntar se não somos também instrumentos de Deus para a salvação dos outros. Seremos instrumentos escolhidos para a salvação dos outros. A salvação se dá pela graça, mediante a fé. Isso é dado pela graça que salva, mediante a fé. Não vem de nós, mas é dom de Deus. Tanta riqueza nos traz alegria que é o pré-anúncio da festa da Páscoa, libertação de todo mal.

Deus age por meio do Filho
            Jesus é levantado, quer dizer crucificado. Deus age por meio Dele para que tenhamos vida: Como a serpente no poste, “o Filho do Homem será levantado para que todos os que Nele crerem tenham a vida eterna” (Jo 3,15). Em seu amor, Deus não quer que ninguém morra, mas tenha a vida eterna. A recusa é já condenação. Deus não força ninguém a crer. Cada um deve fazer sua escolha. A salvação é dom de Deus, que dá abundantemente a todos que se abrem à fé. Não são as obras que salvam. As obras são a consequência da fé. As obras manifestam a fé que temos, como nos ensina S. Tiago: “Mostra-me tua fé sem as obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras” (Tg 2,18). Não são as obras que salvam, mas a fé que se manifesta através delas. O tempo quaresmal nos facilita viver a fé em Cristo Salvador e, pelas obras da oração, da penitência e da caridade, mostrar os efeitos da fé. Dentro do quadro da fé, não podemos deixar de refletir sobre a tentação que quer nos persuadir. Essa tentação se torna forte quando nos vem o sofrimento. Nossos sofrimentos não são resultado de nossos pecados. Ao contrário, já teríamos morrido. Mas temos que saber vivê-los na fé. O povo sofreu longamente. Jesus não perdeu seu amor ao Pai por sofrer.
Riqueza da graça
            “É por graça que sois salvos, mediante a fé” (Ef 2,8). A palavra graça nos recorda o gesto de Deus de se abaixar e nos acolher. Fomos redimidos por puro amor de Deus. Por que temos fé? Por que fazemos as obras da caridade? Porque fomos tocados pela misericórdia e fomos ajudados a corresponder. Como se explica a vida cristã que temos, se não porque sabemos que fomos amados? Não são as obras que nos dão direitos diante de Deus, mas sua bondade que nos acolhe porque nos escolheu. “Fomos criados em Jesus Cristo para as boas obras, que Deus preparou de antemão para que as praticássemos”.
Leituras: 2 Crônicas 36,14-16.19-23;Salmo 136; Efésios 2,4-10;João 3,14-21.
Ficha nº 1734 - Homilia do 4º Domingo da Quaresma (11.03.18)
                                         
1.  A misericórdia de Deus supera o pecado.
2.  A fé manifestada nas obras salva e fortalece quando sofremos.
3.  Não merecemos a graça, pois nossas obras nascem da fé que professamos.

            Remédio de cobra

            Essa história de Moisés fazer uma serpente de bronze para o povo se curar das picadas das cobras venenosas olhando para ela, é meio complicada. Já não havia dado BO com o bezerro de ouro? Vemos aqui a diferença entre adorar e servir-se das imagens.
 Por que usar a serpente como meio para livrar-se de seu veneno? Posso imaginar que o pecado era um mal. Olhar para a serpente de bronze significa ver o mal que fez e curar-se dele pelo arrependimento.
Jesus elevado na cruz, não é uma serpente, mas é a fonte da graça que cura quando nos ferimos com o mal. Crer em Jesus e na sua palavra é salvação.
Há muitos meios de se encontrar com Deus. Não é só o que tem o selo de religioso, pois Deus escolheu o pagão para dar a liberdade ao exilados.

segunda-feira, 5 de março de 2018

nº 1733 Artigo - “Em Memória de Mim”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
Isso será um memorial
            Na cultura religiosa judaica nós temos esse conceito de memorial. Os cristãos católicos e orientais também têm esse conceito em sua fé e nas celebrações. O termo memória (anámnesis) não se refere à memória que é uma de nossas qualidades humanas. Nela está armazenado tudo o que aconteceu conosco e em nossa volta. Essa memória é um termo hebraico (zikaron). O termo memória tem um sentimento de presença atuante do fato lembrado e celebrado com ritos. A celebração torna presente e atuante o fato de que se faz memória. No livro do Êxodo, lemos a lei sobre a Páscoa: “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações” (Gn 12,14). E Acrescenta: “Quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que significa esse rito’ (A Páscoa), respondereis: “É o Sacrifício da Páscoa do Senhor, quando ele passou adiante das casas dos Filhos de Israel no Egito, ferindo os egípcios e livrando as nossas casas” (Ex 12,26-27). Cada judeu se sente libertado pessoalmente do Egito. Sempre há um sentido de presença pessoal ao fato do qual se faz memória. Segue-se também que a ação de Deus se torna presente, como no acontecimento histórico em que ocorreu o fato libertador de Deus. É uma liberdade para sempre. Não celebramos fatos passados, mas o Deus que se faz presente com o mesmo vigor libertador. Há outros fatos com a colocação de um marco memorial, como na passagem do Jordão, quando Josué fez um altar de pedras, para ser um memorial dessa passagem (Js 5,20-24). Assim podemos compreender o sentido de memória.
Memória sacramental
             Jesus, com seus discípulos, celebra a Ceia Pascal como um Memorial, como o fazem os judeus todos os anos, desde a origem dessa tradição judaica. Essa ceia, em seus diversos ritos, torna presente à libertação do Egito. Jesus faz o mesmo. Mas no momento de fazer a memória dessa libertação, muda-lhe o sentido. Não destrói a aliança antiga, mas a leva à sua maior realização que é a nova e eterna aliança. Diz: “E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles dizendo “Isto é o meu corpo que é dado por vós. “Fazei isto em minha memória”. “Depois, tomando o cálice: ‘Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue que é derramado por vós’” (Lc 22,19-20). Faz o mesmo rito, mas muda o sentido. Paulo, já conheceu uma tradição estabelecida da Ceia do Senhor. Diz como Lucas e acrescenta: “Pois todas as vezes que comeis deste pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26), utilizando o mesmo termo: “Isto é meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Na missa, dizemos o mesmo: “Celebrando a memória da Paixão de vosso Filho, sua Ressurreição dentre os mortos e sua gloriosa Ascensão aos Céus...” (Prece nº 1), realizamos o mesmo mistério. Todo sacramento, presença de Cristo, nos faz participantes de seu Mistério Pascal (SC, 7).
Memórias de Cristo
            A memória tem também um sentido pessoal. Nós também podemos ser memórias vivas de Jesus Cristo na sua Redenção. Continuamos seu mistério de salvação. Quanto mais vivo o Evangelho e me uno a Jesus Cristo, mais posso ser uma viva memória de sua vida e de seu mistério de Redenção. Nós o realizamos, sobretudo quando vivemos intensamente seu mandamento de amor mútuo. Por que o amor? Porque toda obra da Redenção se fez no amor do Pai que entrega o Filho, que responde ao Pai no amor e nos salva por amor. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo do amor” (Jo 13,1). O amor de entrega de Cristo está presente em todos os sacramentos.

domingo, 4 de março de 2018

nº 1732 Homilia do 3º Domingo da Quaresma (04.03.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Pregamos um Crucificado”

Aliança dos mandamentos
            Deus cuida de seus filhos com carinho. As alianças feitas com seu povo sempre foram para seu benefício. Deus não faz uma aliança para colocar um peso. Mesmo os momentos em que cobra fidelidade e dá os castigos, nunca deixa de manifestar sua misericórdia. Quando estabeleceu a aliança com o povo no Sinai, faz uma lei de defesa para que pudesse viver em paz e segurança. A aliança é também um compromisso para o bem viver. Deus é bom e quer que seus parceiros na aliança sejam bons e estabeleçam um mundo bom. A lei da aliança do Sinai se refere ao relacionamento com Deus e com os amados Dele. “A lei do Senhor é perfeita” (Sl 18). Ela sustenta a vida do povo. São três os mandamentos referentes a Deus e a seu culto. Os outros sete são indicações do bem viver e se referem às necessidades fundamentais: Coloca em primeiro lugar o relacionamento com os pais, na família, onde se vive a aliança. A partir desse mandamento, coloca o respeito à vida, ao matrimônio, aos bens dos outros, à fama das pessoas. Esse respeito deve ser interior, de pensamento. A aliança se faz para o bem de todos. A nova aliança se faz em Jesus que é o novo templo da presença de Deus. A fé, como a aliança, se faz no coração. Ele conhecia o homem por dentro (Jo 2,25). No desenvolvimento das alianças, vamos encontrar em Jeremias a aliança feita no coração. A nova aliança será feita em Jesus, em seu corpo oferecido para selar a aliança. Não é um milagre nem um escândalo. Cristo crucificado é poder e sabedoria de Deus, mais forte que os homens. É esse que pregamos.
O sim de Deus em Cristo
            A Quaresma prepara-nos para a celebração desse momento em que acolhemos a presença do mistério da Aliança em Cristo que nos uniu a Deus por meio de um sacrifício perfeito. Perfeito porque feito pelo Filho de Deus que Se entregou totalmente. O Pai entrega o Filho para a vida do mundo e o Filho amado acolhe a vontade do Pai e se oferece, pois veio para fazer sua vontade (Jo 6,38). Nessa aliança temos o sim de Deus que dá seu Filho para nossa redenção, é o sim de Cristo que Se entrega ao Pai. Seu sim responde é o sim de toda humanidade que está unida ao seu Redentor e Nele dá a resposta ao Pai. Corremos o risco de celebrar a Quaresma e a Páscoa somente nos ritos exteriores e devocionais. São bons e necessários, mas não é só isso. Talvez seja isso que afasta as pessoas, mesmo religiosas, das celebrações. O que nos encanta é a ação de Deus que é conteúdo a tudo o que fazemos. A devoção, em suas muitas forças, não preenche a necessidade que temos de um encontro mais profundo. Isso pode decorrer da falta de compreensão do que seja celebrar. É tornar presente, de forma sacramental – simbólica o mistério que celebramos. Estamos envolvidos e assim damos nosso sim.
Purificando o templo
            Na ressurreição de Jesus, rasgou-se o véu do templo de alto a baixo (Mt 27,51). Esse véu fechava o lugar santo. Ali só entrava o Sumo Sacerdote uma vez por ano. Com a morte e ressurreição de Jesus, o lugar santo está totalmente aberto. Quando Jesus profetiza: “Destruí esse templo e Eu o levantarei em três dias”... estava falando do Templo de seu corpo (Jo 2,19.21), estava abrindo o total relacionamento com Deus, aberto para todos. Quando o soldado, com o golpe de lança, abriu seu coração, esse templo está aberto para todos. Desse coração corre a fonte de água e sangue, Batismo e Eucaristia. Essa declaração vem depois da purificação que Jesus fez do templo, expulsando o comércio aí realizado. Essa passagem leva-nos também a purificar o uso que fazemos desse templo de Deus, que está dentro de nós. Igualmente a Igreja necessita de contínua purificação. Hoje mais ainda
Leituras: Êxodo 20,1-3.7-8.12-17; Salmo 18;2 Coríntios 1,22-25;João, 2,13-25
Ficha nº 1732 - Homilia do 3º Domingo da Quaresma (04.03.18)
                                         
1.  Os mandamentos são o código da aliança para a proteção da pessoa e do relacionamento com Deus.
2.  Na aliança temos o sim de Deus ao homem e o sim de Cristo pelo homem.
3.  Com a morte e ressurreição de Jesus, todos podem se aproximar de Deus.

Não diga não

Nesse domingo temos a reflexão sobre a aliança de Deus com seu povo no Sinai. Ali o constituiu como povo e lhe deu uma lei perfeita. Ela tem sete “nãos”. Tudo proibido? Tudo garantido para o bem da pessoa. Essa lei sustenta o relacionamento com Deus e protege a pessoa humana em seu relacionamento com os outros. Protege o ser humano em todas as suas dimensões, desde a família até os pensamentos e sentimentos. Seguindo os dez mandamentos, não precisamos dessas constituições que não têm fim.

Jesus cumpriu esses mandamentos e os realizou através de seu desejo de fazer a vontade do Pai e a fez até o fim, garantido com seu sangue e vida entregues pela salvação.

            Com sua morte, abriu-se definitiva e amplamente a porta do relacionamento dos filhos com Deus. Não somente um sacerdote pode entrar no lugar sagrado, mas todos podem entrar no novo templo que é o coração ferido de Jesus e ter o contato com o Pai. Nele formamos um novo povo.