quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

nº 1922 - Homilia da Festa da Sagrada Família (29.12.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista “
Jesus, Maria e José” 
 Honra teu pai 
No período do Natal celebramos a Sagrada Família: Jesus, Maria e José. Não se trata só de uma devoção, mas de um modo de compreender a Redenção que Jesus nos trouxe. Ele se fez homem, mas se fez família também. Tirar os pais de Jesus do anúncio evangélico é desfigurar a Encarnação. Deus quis assim. Não é minha opção religiosa que vai mudar o desígnio de Deus. Quis uma Mãe, que O gerou, e um pai que transmitiu a realeza: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo”... “José, filho de Davi (rei), não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mt 1,20). Sendo assim, a festa não é a comemoração de uma família exemplar, mas a celebração do Mistério da Encarnação, manifestação de Deus, através de seu Filho, em sua condição humana dentro de uma família. A família é o primeiro lugar para a formação dos filhos de Deus, como o foi para Jesus. Há os que querem ver mau relacionamento de Jesus com Maria. O mandamento de honrar os pais estava muito encarnado em Jesus: “Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso” (Lc 2,51). Jesus completa esse relacionamento com sua obediência ao Pai, sem destruir os laços humanos que tinha com seus pais. É justamente isso que os apóstolos e Paulo tomam como modelo para a vida de comunidade. Tudo o que Deus quer para o mundo começa com a família. Vemos isso no Eclesiástico, nas cartas de Paulo e Pedro. É a condição para entrar em oração: “Quem honra seu pai... no dia em que rezar será atendido” (Eclo 3,6).
Revesti-vos de virtudes 
Paulo, na carta aos Colossenses, descreve as virtudes que devem reinar no lar e na comunidade. O que predomina é o amor: “Amai-vos uns aos outros, pois o amor é vínculo de perfeição” (Cl 3,14). Paulo coloca a vida em família a partir de uma mudança interior: “Revesti-vos de sincera misericórdia...”. Passa a seguir à vida comum na base do amor, da paz e da ação de graças. São as virtudes que constroem uma comunidade. A Palavra de Deus é o fundamento do relacionamento: “A Palavra de Cristo, com toda sua riqueza, habite em vós” (Cl 3,16). Não é possível uma vida de família sem que seja modelada pela Palavra. Como faz falta em nossas famílias a orientação a partir da Palavra de Deus! Como há grande fragilidade por falta de conhecimento, Paulo insiste: “Ensinai, admoestai-vos uns aos outros” (16). O que nos falta muito é justamente a formação. Mais que gente que instrua, falta gente que queira aprender. A vida cristã é centrada em Cristo: “Tudo seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo”. O relacionamento espiritual vai ao concreto da vida matrimonial no mútuo amor e respeito. Vai até o cuidado no relacionamento dos filhos. 
Famílias novas? 
A Igreja não desiste de sua compreensão da família, como recebemos do Evangelho e da Tradição. A complementaridade assume todos os campos. É tão rico ver a diferença sendo fonte de crescimento pessoal. O que quero em mim, eu encontro em você. Um é espelho do outro. Crescemos quando somos capazes de acolher o outro como um dom de Deus e um estímulo de vida. Certo que o passado não é o melhor modelo, pois cada época tem suas riquezas e pobrezas. A Igreja é uma família de famílias. Desse modo todo o empenho exigirá a família como um todo. Infelizmente as pastorais não trabalham com a família que deve estar presente em todos os setores. Vivendo os ensinamentos evangélicos e desenvolvendo seus próprios dons, contribuirão para uma evangelização envolvente. 
Leituras: Eclesiástico 3,3-7.14-17; Salmo 127; 
Colossenses 32,12-21; Mateus 2,13-15.19-23. 
Ficha nº 1922 - Homilia da Festa da Sagrada Família (29.12.19) 
1. Tirar os pais de Jesus do anúncio evangélico é desfigurar a Encarnação. 
2. Não é possível uma vida de família sem que seja modelada pela Palavra. 
3. Crescemos quando somos capazes de acolher o outro como um dom de Deus.
Éramos três 
Deus gostou muito do jeito humano de viver que quis que seu Filho dileto vivesse do mesmo modo. Parece que era o melhor jeito para Deus realizar seu plano de salvar a humanidade. Não adiantava passar uma tinta bonita no mundo para ele ficar bom. Precisava consertar por dentro. Por isso quis iniciar a redenção dentro de uma família. As virtudes da família se realizaram todas naquela familiazinha que foi crescendo, ficando forte, aumentando os números dos filhos até chegarmos ao que somos, Igreja, família de Deus.

nº 1921 Natal do Senhor (25.12.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Glória a Deus” 
 Colocou-O numa manjedoura
Depois de um rico Advento no qual a vinda futura de Jesus se funde com a sua vinda na carne, pudemos conhecer o desígnio de Deus sobre nossa salvação. Aquele que nasce entre as palhas, na humildade, virá glorioso, mas humilde, para recolher na seara do Reino, os frutos maduros para a ceifa. Vendo uma criancinha dormindo em paz em um cocho, o universo se abre à maior revelação: O Deus, que era vingador até quarta geração, é o Pai amoroso que acolhe todos os filhos. É a paz que os anjos cantam (Lc 2,14). O Anjo diz a Maria e aos pastores: “Não tenham medo” (Lc 2,10). É de paz que Ele vai falar. A paz de uma criança adormecida é a semente da esperança. Em seu corpo ele realiza a união entre a Humanidade e a Divindade. Há paz entre Deus e o homem. Jesus, em seu corpo, realiza a salvação da humanidade. “Ele é nossa paz: de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro de separação entre judeu e pagão, e suprimindo em sua carne a inimizade. A fim de criar em si mesmo um só Homem Novo, estabelecendo paz e de reconciliando a ambos com Deus em um só Corpo por meio da cruz... assim, Ele veio e anunciou a paz” (Ef 2,14-15). Essa paz não é um momento de suavidade, o que é também, mas é uma ação de Deus realizada por seu Filho nascido numa manjedoura, num mundo dominado pelo poder romano. Os humildes foram para provar essa paz. São os primeiros anunciadores, pois “voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito” (Lc 2,20). A paz une a manjedoura à cruz num único gesto de amor para a paz. 
Manifestou-se a graça 
Paulo a Tito diz: “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação a todos os homens. Ele nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões humanas e viver nesse mundo com equilíbrio, justiça e piedade... (Tt 2,11). O Menino da manjedoura tem uma dimensão maior que uma criança adormecida. Ele vem para restaurar o Universo. Mas quer também restaurar nosso coração de modo que viva intensamente a paz que trouxe. O mundo só se renova quando os corações são renovados e as atitudes são novas. A fé não se coaduna com a maldade. “Ele se entregou por nós, para nos resgatar de toda maldade e purificar para si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem” (Tt 2,14). A graça de Deus manifestada em Jesus. Ele é a graça e a misericórdia. Chama-nos a viver com coerência. Não basta crer e admirar. Deus quer de nós atitudes que reflitam nossa opção pelo Redentor de todo homem. Se queremos ser redimidos, sejamos redentores através do Evangelho vivo que temos em nós por crer em Jesus. Aprender do Natal é ser Natal durante nossa vida, construindo a paz. 
Ele nos ensina 
O Natal é um livro que ensina verdades sempre novas. Não é sem razão que o Apóstolo Evangelista João diz que a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14). É uma Palavra que ensina. É uma Palavra que está na manjedoura, lugar onde os animais se alimentam. Ela sempre alimenta. Nós vimos sua glória (Idem). Deus se fez visível: “Filipe, quem Me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Dizer que entramos na escola de Nazaré é ter a sabedoria de aprender de Jesus, o Filho de Deus que se encarnou, o modo de viver para corresponder ao mistério que celebramos. No Natal não somente lembramos um aniversário, mas celebramos a Manifestação de Deus. Podemos dizer que vimos a Deus com nossos próprios olhos (1Jo 1,1). Vimos e anunciamos para que tenhamos comunhão. 
Leituras: Isaías 9,1-6; Salmo 95; 
Tito 2,11-14;Lucas 2,1-14 
Ficha: nº 1921 - Natal do Senhor (25.12.19) 
1. O Deus, vingador até a quarta geração, é o Pai amoroso que acolhe todos os filhos. 
2. O Menino da manjedoura tem uma dimensão maior que uma criança adormecida. 
3. No Natal não só lembramos um aniversário, mas celebramos a Manifestação de Deus.
Não tenhais medo 
Há dois tipos de medo: medo do feio e medo do bonito demais. O medo que temos de Deus não é de correr para longe, mas de se sentir pequeno demais para algo tão grande e bonito. O Anjo diz aos pastores que não tenham medo. A coisa é muito boa. Nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Ninguém pode se aproximar de Deus sem o sacro temor, isto é, com o respeito devido a Deus que atrai para Ele. Por isso o Anjo diz não temer. Deus é bom. Isso Ele mostrou quando colocou seu Filho num cocho como alimento.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Nº 1920 - Homilia do 4º Domingo do Advento (22.12.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Emanuel, Deus conosco” 
A origem de Jesus 
Estamos sempre diante de um grande mistério da fé: Crer na boa notícia que José recebe: “Não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu Lhe darás o nome de Jesus, pois Ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt, 1,21). Assim se cumpre a profecia do Emanuel, Deus Conosco. “Quando acordou, José fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado e aceitou sua esposa” (Mt 1,23-24 – Is 7,14). Maria deu seu consentimento para realizar a missão de dar luz o Filho de Deus, o Emanuel – Deus Conosco. O Anjo falou a José em sonho. O sonho era um dos caminhos da manifestação de Deus. Mas esse caminho vem acompanhado de uma visão de fé. De um sonho José é capaz de amadurecer em si os propósitos de Deus. O sonho tem valor? Sim, se acolhido na fé madura. Vemos igualmente como o evangelista interpreta o sonho a partir da Palavra de Deus. Jesus que nasce de Maria é Filho de Deus e ao mesmo tempo filho da humanidade. Deus Conosco não é uma distante divindade, mas um Deus que se faz presente como no Paraíso, escolhe Abraão e os patriarcas, tira o povo do Egito, conduz pelo deserto, falou pelos profetas. Sempre se exigiu de seus profetas uma adesão pessoal. É a mesma que acontece em Maria e José. Souberam discernir o que era de Deus e o que podia não ser de Deus. O que o sonho garante? Mesmo hoje, os homens e mulheres que marcam sua presença no mundo são os que caminharam como os antigos, como vendo o invisível. 
Vocação e apostolado 
Acolher Jesus Cristo é anunciá-Lo. Paulo diz de se: “apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho de Deus (Rm 1,1). A Encarnação dá início ao anúncio da maior Verdade: Deus se fez homem e na condição humana realiza nossa redenção e nos associa a si para o ministério. Vemos em Maria, a primeira missão: “Naqueles dias, levantando se Maria, foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá. E Entrou em casa de Zacarias, e saudou Isabel” (Lc 1, 39-40). A Encarnação e o Nascimento são a grande proclamação da Palavra de Deus que se encarnou para que pudéssemos participar da divindade. Deus não veio impor uma religião, mas transmitir a participação de sua Vida Divina. Não é uma participação por união de ideias sentido de grupo, mas comunhão que se estabelece por parte de Deus e com acolhimento. Vemos nos fatos do tempo do Natal o grande acolhimento que acontece com os pastores, Magos, Simeão, Maria e José que não são funcionários do Sagrado, mas intimamente unidos ao Filho, pela fé e pelo amor derramado em seus corações. O anúncio evangelizador penetra todas as condições humanas. Não é possível resistir a tanta entrega de Deus. Deus Conosco – Emanuel - não é um personagem a mais na história, mas a ponto de encontro do Universo e Deus. 
Incomodar a Deus 
Não entrar nos caminhos de Deus é um processo de liberdade fictícia, pois o caminho de Deus é único. O ser humano tende necessariamente para Deus. Pode-se recusar intelectualmente, afetivamente, mas Deus não se molda aos nossos sentimentos, pois ele os precede e nos assume. Vimos o rei Acab que não quer entrar na “jogada de Deus”. Não para ser um incômodo. O silêncio de Maria não era mutismo, mas a espera do momento de Deus se comunicar. Deixou que o mistério da entregada de Deus se fizesse no caminho das pessoas. José acolheu o Divino na condição humana. Ensina que Deus age em nós. 
Leituras: Isaías 7,10-14; Salmo 23;
Romanos 1,1-7; Mateus 1,18-24 
Ficha nº 1920 - Homilia do 4º Domingo do Advento (22.12.19) 
1. José é capaz de um sonho amadurecer em si os propósitos de Deus. 
2. Deus não veio impor uma religião, mas transmitir a participação de sua Vida Divina. 
3. Deus não se molda aos nossos sentimentos, pois ele os precede e nos assume.
Dia do chato
Quem é chato tem o privilégio de sê-lo sempre. Já o rei Acab não quer incomodar a Deus. É chato porque foi capaz de incomodar o povo e a Deus. Não foi capaz de entrar nos tempos de Deus. Quis fazer tudo por si e acabou mal. Deus, ao enviar seu Filho quis precisar dos que sabem ouvir a Deus e acomodar sua vida a seus planos. São capazes de assumir suas funções na vida para que Ele possa realizar seus planos em nós. Deus não quer personalidades. Quer gente que faça. Essa é a personalidade. Todos simples, todos cheios de boa vontade e disposição.

nº 1918 - Homilia do 3º Domingo do Advento (15.12.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Alegrias da salvação” 
Alegrai-vos! 
A temática do terceiro domingo do Advento abre à alegria do Natal mostrando que o Senhor está perto: “Alegrai-vos! O Senhor está perto”. A alegria é resultado da ação de Deus que sempre transforma as realidades humanas. Vemos essa realidade acontecer nas ações redentoras que Jesus realiza para com os muitos necessitados. Esta alegria da vinda do Senhor é descrita pela imagem da renovação da natureza. Deus vem para a recompensa. O povo que volta do exílio vem cheio de alegria pela libertação. A futura missão do Messias já é manifestada pela cura de cegos, de surdos, de aleijados e de mudos. É uma felicidade eterna. O nascimento de Jesus não é um fato da história que passou, mas um novo modo de viver no mundo. O Advento nos prepara para esse momento. Rezamos na oração da missa: “Dai-nos chegar às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia”. O presépio é um símbolo. A celebração litúrgica é a memória atuante que realiza o mistério da Encarnação e Nascimento do Senhor. As celebrações têm como característica a profunda alegria da salvação: “Exulto de alegria no Senhor, e minha alma se regozija em Deus, meu Salvador, porque Ele me revestiu com vestes de salvação” (Is 61,11). Maria, ao cantar seu encantamento por Deus que a magnificara, retoma as palavras de Isaias (Lc 1,46-47): “Minha alma engrandece o Senhor e se alegrou o meu espírito em Deus me salvador” (Lc 1,46-47). Exultar é sempre um ato de culto, pois o júbilo é uma participação da vida celeste. 
Espera que fortalece 
São Tiago nos oferece um traço da espiritualidade desse tempo de espera que caracteriza o Advento. O Senhor virá no fim dos tempos, e vem no Natal de forma sacramental. Esperar exige paciência e firmeza. O apóstolo usa a imagem do lavrador que semeia e espera o fruto. Essa espera tem que se espelhar na paciência dos profetas que passaram por tantos sofrimentos e não chegaram ver cumprida sua profecia: “Muitos profetas quiseram ver o que vedes e não viram, ouvir o que ouvis e não ouviram” (Lc 10,24). A espera se sustenta com o espírito de pobre diante de Deus. Não de miséria, mas de desapego. Essa pobreza espiritual dá forças para colocar suas esperanças nas coisas que permanecem para sempre. Por isso esperamos o Senhor. Pobres diante de Deus se sustentam com as alegrias da salvação. A alegria passageira entristece. Alegria no Senhor fortalece a esperança. A alegria de Deus é força. 
Para ser profeta como João 
O Advento deste ano reflete sobre João Batista. Ele é o maior profeta. É dele que falam Escrituras: “Eis que envio o meu mensageiro à sua frente; Ele preparará o caminho diante de ti” (Mt 11,9-10). João quer saber se Jesus é o Messias prometido “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro? (Mt 1,3). Jesus mostra aos enviados, através dos seus milagres, ação de Deus no Messias: “Os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,4-5). É a síntese da ação de Jesus. João é modelo para os profetas e evangelizadores: centrado no fundamental que é sua vida e mensagem voltadas para a missão. Por isso é desapegado, pois se vestia com peles e comia gafanhotos e mel silvestre. Nós nos perdemos no secundário e deixamos de lado o importante e que dá vida como Jesus. A salvação sempre nos vem após a libertação do desnecessário para a vida. 
Leituras: Isaias 35,1-6a.10; Salmo 145; 
Tiago 5,7-10; Mateus 11,2-11.
Ficha nº 1918 - Homilia do 3º Domingo do Advento (15.12.19) 
1. O nascimento de Jesus não é um fato histórico, mas um novo modo de viver. 
2. O Senhor virá no fim dos tempos, e vem no Natal de forma sacramental. 
3. João é modelo para evangelizadores: sua vida e mensagem voltadas para a missão. 
Olhando pela fresta 
Voltados para o fim dos tempos, como vemos na reflexão do Advento, temos a impressão que vai ocorrer algo em breve. Por isso ficamos esperando, como que olhando por uma fresta para sermos os primeiros a ver. A ansiedade nos tira do rumo. É bom saber buscar o Senhor, mesmo que isso nos custe uma vida. A expectativa da vinda do Senhor, seja no Natal, seja no fim do mundo, seja em cada momento, constrói dentro de nós como que um lugar de permanente acolhimento. Pode chegar quando quiser que o cafezinho vai estar pronto. É uma satisfação poder ser feliz com antecipação.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Nº 1916 - Homilia da Festa da Imaculada Conceição (08.12.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Imaculada Mãe” 
Cheia da Graça 
A celebração da Imaculada Conceição é colocada no início do Advento para nos ajudar a compreender Maria no cumprimento de sua missão na História da Salvação. Há um elemento que não deve faltar na reflexão desse dia: Maria é o ponto de chegada do povo de Deus na preparação para a vinda do Messias. Ele é a flor do Jardim do Éden cuja semente veio no coração de Adão e Eva e brotou no jardim do mundo pecador. Paulo escreve aos Gálatas: “Quando chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a lei...” (Gl 4,4). A flor imaculada nos dá o Fruto Bendito. É o amor de Deus pelo homem pecador. Deus não desiste de nós. Por isso nos apresenta a Mãe de seu Filho como maior dignidade do ser humano e do universo. Pela ação de Deus, do humano nasce o Divino. Em Abraão Deus escolhera uma esposa, o povo. Mesmo em suas infidelidades não perdeu as promessas, pois Ele é fiel. O povo se prostituiu com deuses. Mas Deus a retomou e disse: “Você é bela, minha amiga, em ti não existe mancha” (Ct 4,7). Assim se realiza a profecia: Maria é a toda bela, “cheia da graça de Deus” (Lc 1,28). É a primeira luz que nos faz ver o Paraíso. A leitura do texto de Gênesis ensina a inimizade entre a serpente (o mal) e a mulher (Maria) e seu descendente, o Cristo. O salmo canta a força do braço de Deus que fez prodígios. (Sl 97). Não é uma festa de um dogma, ou de um privilégio de Maria, mas celebração da redenção de todos em Cristo que “preservou Maria de todo pecado, em previsão dos méritos de Cristo” (Oração da coleta) 
Santos e irrepreensíveis 
Maria é a única livre do pecado. A carta aos Efésios nos lembra que “Deus nos escolhe para sermos santos e irrepreensíveis aos seus olhos no amor” (Ef 1,4). O projeto de Deus acontecido em Maria é para todos nós. Ela cooperou com a graça que lhe foi concedida. Modelo de todos nós na execução do projeto de Deus. Rezamos no prefácio: “A fim de preparar para vosso Filho, mãe que fosse digna Dele, preservastes a Virgem Maria da mancha do pecado original, enriquecendo-a com a plenitude da graça”. A graça que Maria recebeu interessa a todo o povo chamado a chegar a Deus, “purificados de toda culpa, por sua materna intercessão” (Oração). Entramos na questão da intercessão de Maria. Ela, recebendo a graça de ser preservada do pecado pelos méritos de Cristo, intercede como Mãe por seus filhos. Sua proteção e intercessão nos estimulam a buscar sempre mais a correspondência com a graça de filhos que recebemos no batismo a partir da purificação pelas águas. Unimo-nos a ela na Eucaristia que nos cura e purifica. Para essa purificação temos os sacramentos que não são só gestos rituais, mas dons de Deus para nossa santificação. Não os recebemos porque somos bons, mas porque precisamos de vida. 
Eis a serva 
Na Encarnação vemos concretizado o projeto de Deus que quis “preparar para seu Filho, uma Mãe que fosse digna Dele, preservou-a de toda a mancha de pecado, enriquecendo-a com a plenitude da Graça. Todo o mistério da Encarnação passa pela cooperação de Maria que dá o seu sim “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,28). Não basta ser purificado do pecado. A vitória só será completa se nos colocarmos a serviço. A pureza não é um dom só a ser louvado, mas é a força de Deus que penetra o mundo, para que se torne sempre mais, morada de Deus, como o seio de Maria. Essa bela festa é a proposta de mundo novo. 
Leituras: Gênesis 3,9-15.20; Salmo 97; 
Efésios 1,3-6.11-12; Lucas 1,26-38 
Ficha nº 1916 - Homilia da Festa da Imaculada Conceição (08.12.19) 
1. A Imaculada é a primeira luz que nos faz ver o Paraíso. 
2. Unimo-nos a ela na Eucaristia que nos cura e purifica. 
3. Todo o mistério da Encarnação passa pela cooperação e total entrega de Maria.
Segredos de Mãe 
Há quem diga que falamos muito de Maria. Mas S. Bernardo diz: “De Maria, nunquam satis”. De Maria, nunca falamos demais. Ela tem um segredo de Mãe. Sempre tem uma receita nova, tirada da manga. É tão bom saber disso. Pelo lado que chegarmos nós a encontramos sempre a mesma tanto na sua grandeza, como na sua humildade. Grandeza da parte de Deus e humildade de sua parte. Há os que não gostam dela. É a marca terrível do desconhecimento dos caminhos de Deus. Para vir ao mundo quis nascer de Maria. Tinha outras? Essa fora agraciada desde sua concepção para dar a seu Filho total independência do mal e a possibilidade de um mundo diferente a partir do coração do Filho amado do Pai.

domingo, 1 de dezembro de 2019

nº 1914 - Homilia do 1º Domingo do Advento (01.12.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Já é hora de despertar” 
Ficai preparados 
No Advento, o Ano Litúrgico continua a chamada para a segunda vinda do Senhor. Esse mistério estimula a Igreja a caminho. Em toda a missa clamamos: “Vinde, Senhor Jesus”. Esperamos sua vinda e clamamos por ela. Jesus, quando vier, nos encontrará reunidos cantando seus louvores. A fraternidade é o campo fértil onde se alimenta a esperança da vinda do Senhor. Não será um terror, mas a expressão mais profunda do amor de Deus que vai glorificar os resgatados por Cristo (Lc 21,28). A preparação não é somente uma espera, mas uma vida cheia de boas obras. Não basta a fé. A fé sem obras é morta (Tg 2,17). É preciso esperar na fé operante pela caridade (Gl 5,6). Estejamos preparados porque a vinda será repentina. Não liguemos a segunda vinda somente a um fato do fim dos tempos, mas ela está presente no dia a dia, nas realidades práticas da vida. Paulo diz: “Procedamos honestamente como em pleno dia” (Rm 13,13). A atitude que Paulo sugere, refere-se às coisas da vida: “Nada de comilança, bebedeira, nem orgias sexuais e imoralidades, nem brigas nem rivalidades” (Id). O altíssimo ensinamento recai sobre as coisas da vida, no ser humano situado. Viver intensamente é a orientação para viver com serenidade no concreto da vida. Existe a grande tentação de ateísmo prático. Deus não tem lugar nas coisas da vida. Por isso Paulo insiste: “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé” (Rm 13,11). 
Revestir-se do Senhor Jesus 
Paulo insiste com dois termos na realidade de revestir-se de Cristo: “Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz... procedamos honestamente como em pleno dia... Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,12,14). Isso se realiza quando “com as boas obras ao encontro do Cristo que vem” (oração da coleta). Por isso temos a insistência sobre a dupla vinda de Cristo: “Revestido de nossa fragilidade, Ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, Ele virá uma segunda vez, para conceder-nos em plenitude, os bens outrora prometidos que hoje, vigilantes esperamos” (Prefácio). A oração pós-comunhão sintetiza o ensinamento: “Fazei que os vossos mistérios nos ajudem a amar agora o que é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam”. É sempre a tenção ao presente e a tensão ao futuro que é repentina. Lembramos que a esperança é a virtude que coloca a fé na prática da caridade. Ela é certeza: “A esperança é qual âncora da alma, segura e firme, penetrando para além do véu onde Jesus entrou por nós, como precursor...” (Hb 6,19). 
Transformação do mundo 
Isaías lembra a atração que Deus exercerá sobre todos os povos. Ele localiza o polo de atração no monte do Senhor (Monte Sião) que estará no ponto mais alto do mundo. Para ele acorrerão todas as nações (Is 2,2-3). Esse monte é Cristo e seu Evangelho. Ele é quem exerce essa atração. Atração não somente espiritual, mas transformadora: “Os povos transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices” (Is 2,4). Paulo conclama: “Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz” (Rm 13,13). Um cristianismo sem conteúdo gera obras mortas. A transformação do mundo vai do coração às atitudes. A fé pode transformar o mundo e preparar a gloriosa vinda do Senhor. O salmo retrata a alma dos peregrinos em caminhada para a Jerusalém terrestre, símbolo da Jerusalém celeste. 
Leituras:Isaías 2,1-5;Salmo 121;
Romanos 13,11-14ª;Mateus 24,37-44 
Ficha nº 1914 - Homilia do 1º Domingo do Advento (01.12.19) 
1. A fraternidade é o campo fértil onde se alimenta a esperança da vinda do Senhor. 
2. A esperança é a virtude que coloca a fé na prática da caridade. 
3. Ele é quem exerce essa atração. Atração não somente espiritual, mas transformadora. 
Esperando o trem 
Numa terra aonde os ônibus e trens, nem sempre chegam na hora, ficamos sempre esperando para qualquer momento. Se sairmos de perto poderemos perder, pois, chegará justo naquele momento. Quanto esperamos e não chegou! Assim vai ser o fim dos tempos. Somos exigidos a estar sempre alerta para que não haja nenhum desgosto. O Senhor virá a qualquer momento. Os primeiros cristãos, inclusive São Paulo, contavam com uma vinda iminente. Assim se organizou a vida da Igreja. A noite foi sempre o momento propício para se ficar em oração de espera, como nos conta a parábola das dez virgens. Ao grito “Eis que chega o esposo”, tudo deve estar pronto. Com a demora, foi se esmorecendo essa expectativa. Agora nem se fala mais. Mas a liturgia sempre clama: Vem, Senhor Jesus! Isso manifesta que estamos prontos e queremos ir a seu encontro.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

nº 1912 - Homilia da Solenidade de Cristo Rei (24.11.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Tu és o Rei de todos” 
Ele nos libertou 
Não sei se devemos conservar a palavra Rei para Jesus, depois de ver tantos reis, durante séculos, distantes da dimensão real de Jesus. Melhor ficarmos com sua opção “aquele que serve”. É o servo como nos relata Isaias em seus cânticos (Is 49.49.50.52). Essa festa é colocada no final do Ano Litúrgico para significar que todo o mistério celebrado se dirige a Cristo, para quem todo Universo se dirige (Ef 1,10). No hino de Colossenses, Paulo dá graças porque o Pai nos tornou capazes de participar da luz que é a herança dos santos. Tudo o que o Pai faz, endereça ao Filho: “Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado, por quem temos a redenção e o perdão dos pecados. Davi é uma profecia que, sendo ungido rei para apascentar o povo, funda sua realeza num Rei que há de vir (2Sm 5,1-3). Deus lhe promete uma casa eterna (1Cr 17,12). Essa profecia se realiza em Jesus, ungido Rei pelo Pai, para dar a liberdade de todos os males, do poder das trevas. Vemos na oração da coleta da missa, o sentido que a Igreja quer dar à celebração de hoje: “Deus que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do Universo, fazei que todas as criaturas libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, Vos glorifiquem eternamente”. A restauração é para a libertação e implantação do Reino de Deus para a vida plena de todos. A unção de Davi foi para a união do povo sob um rei ungido. Cristo Rei, Servo de todos, liberta para uma vida plena em um único corpo. 
Quem é esse Filho? 
A partir da missão, a carta aos Colossenses descreve quem é esse Filho em cujo reino fomos recebidos e por quem temos a redenção e o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). É o primogênito de toda a criação. Nesse Filho nasce a novidade total: “As coisas antigas passaram, eis que tudo se fez novo” (2Cor 5,17). Tudo foi feito por meio Dele (Jo 1,3). Jesus vai além de nossos conceitos. “Ele existe antes de todas as coisas e todas têm Nele sua consistência” (Cl 1,17). Percebemos bem o risco de querermos Jesus como um santo a mais, um que quebra nossos galhos. Deixamos de lado sua consistência divina. Essa dá consistência a todos os seres. Sem Ele não existiríamos. “Ele é a cabeça do Corpo, isto é, a Igreja” (Id. 18). Novamente corremos o risco de não compreender o que seja Corpo de Cristo, do qual fazemos parte. É Nele que tudo se inicia e tem Nele sua finalidade. “Ele é o primogênito dentro os mortos” (Id 18) . É o primeiro ressuscitado e sua ressurreição é a ressurreição de todos. “Em tudo tem a primazia porque Deus fez habitar Nele a sua plenitude...” (Id 1.19). A plenitude de Deus está no Filho. Por isso diz: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). O Pai, em Cristo realiza a reconciliação de todos os seres. Seu sacrifício na cruz realiza a reconciliação de todos os seres (Id 19). 
O Céu se abre hoje. 
A salvação acontece imediatamente quando vem de um profundo sentimento de ter em Jesus a total libertação e redenção: O ladrão que reconhece sua situação volta-se para Jesus, o Rei dos judeus, o Servidor de todos, e tira do fundo sua total desesperança. Crucificado, também ao lado de Jesus, Nele vê a porta do Céu aberta: “Lembra-te de mim quando estiveres no teu reinado” (Jo 23,42). A resposta de Jesus ensina que a redenção se faz completa com toda a intensidade e rapidez: “Ainda hoje estará comigo no Paraíso” (Lc 23,42-43). Quão dura tenha sido sua morte, tão grande é sua certeza da vida. Redenção é vida que não se faz esperar. Jesus é imediato. Não retarda a redenção colocando razões e questões. 
Leituras: 2 Samuel 5,1-3; Salmo 121; 
Colossences 1,12-20;Lucas 23,35-43. 
Ficha nº 1912 - Homilia da Solenidade de Cristo Rei (24.11.19) 
1. “Deus restaura todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do Universo. 
2. A partir da missão, a carta aos Colossenses descreve quem é esse Filho. 
3. Redenção é vida que não se faz esperar. Jesus é imediato. 
Que rei sou eu? 
Celebrando Jesus Cristo Rei do Universo a gente acaba pensando que Ele seja parente do rei do baralho. Ali tem rainha e príncipe. E levam muita gente para o buraco. Passamos da fase de reis e entramos em outras. Mas Jesus se declara: Eu Sou rei. Para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade, escuta minha voz (Jo 18,37). Não entrou na questão do título, mas da verdade. Ele é a verdade. No alto da cruz clama ao Pai: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” (Mc 15,34). Estaria pensando: que rei sou eu? Chegar nesse estado? Ele confirma: “Pai, em vossas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46). Está garantido. Alí está sua unção real: lançar-se no Pai. Jesus ensina que reinar para Ele é servir. Se vai usar coroa de ouro ou de espinho, o importante é servir. Serviu com sua morte e serve com sua Vida.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

nº 1910 - Homilia do 32º Domingo Comum (17.11.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Permanecendo firmes vencereis” 
Coisas pavorosas 
Como é costume entre os católicos, a reflexão do final do ano litúrgico é acompanhada dos discursos sobre o fim dos tempos. Usa a linguagem difícil que se chama apocalíptica. Esse tema agrada muito a quem gosta de mistério. Perdemos o sentido da esperança que foi infundido em nossos corações pela fé em Jesus. Para nós não existe o fim, mas o início do tempo definitivo. Além do mais, todos os sinais de fim de mundo, que são relatados, têm acontecido em todos os tempos e não foi o fim. Percebemos que Jesus quer nos relatar a vinda permanente do fim. Mas essas narrativas não perdem seu sentido. Dentro das revelações sobre o fim, há o aviso de Jesus sobre a perseguição dos justos. Antes do fim, os cristãos serão perseguidos. Atualmente as perseguições são muito maiores. Morrem mais mártires que nos tempos romanos. O cristão tem uma palavra tão forte que os perseguidores não têm como rebater: a palavra do Espírito Santo que fala em nós. Podemos assim anunciar a vida que dura para sempre. E para chegar lá, o profeta Malaquias diz: “Para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo a salvação em suas asas” (Ml 3,20ª). Essa certeza torna sereno o temporal previsto para o fim. Podemos encontrar grupos e pessoas religiosas de nossos grupos que querem fazer espetáculo e ficam criando datas para o fim. Nem o Filho de Deus sabe. Por que? Para que saber? O Pai é quem sabe de seus tempos. Mas quer que seus filhos possam viver intensamente o fim, como uma vida nova que se aproxima. 
Falsos profetas 
“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome dizendo ‘Sou eu’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados’” (Lc 21,8-9). Jesus prevê e previne os seus contra os que conturbam as comunidades com pregações apavorantes. Os falsos profetas também são os pregadores ou orientadores que ensinam doutrinas pessoais ou ideologias políticas como se fossem verdades de fé. Assim atraem muitos. Pedro em sua carta alerta: “Haverá entre vós falsos mestres que trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que o resgatou... muitos seguirão suas doutrinas dissolutas e por causas deles o caminho da verdade cairá em descrédito. Por avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios” (2Pd 2,1-2). No correr da história, a Igreja foi vítima desses tipos que desviaram muitos, até nações inteiras. Vemos, ainda hoje, os mesmos exploradores do povo se enriquecendo à custa das falsas doutrinas. O povo é muito tapeado. 
A Redenção está próxima 
Paulo suspirava muito para estar com Cristo (2Cor 5,8), mas sabia igualmente de sua missão de continuar a evangelizar. Ele tem a expectativa de uma volta imediata de Cristo (1 Ts 4,17). Mas sabe organizar a vida da comunidade numa atividade para o próprio sustento. Ele próprio se sustentava e tinha até uma profissão: fabricante de tendas (At 18,3). Esperar a volta do Senhor é viver bem na comunidade, trabalhado. Nada de ociosidade. Para que trabalhar, se o Senhor vai voltar logo? Paulo responde: quem não quer trabalhar também não deve comer (1Ts 3,10). Usa a expressão: “Estão muito ocupados em não fazer nada”. E exorta: “Ordenamos e exortamos a estas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade seu próprio pão” (Id 11.12). O discurso apocalíptico de Jesus se assenta muito bem para uma comunidade que vive intensamente sua vida na serenidade do trabalho. 
Leituras: Malaquias 3,19-20ª; Salmo 97; 
2 Tessalonicenses 3,7-12; Lucas 21,5019. 
Ficha nº 1910 - Homilia do 32º Domingo Comum (17.11.19) 
1.Jesus quer nos relatar a vinda permanente do fim e não descrever como vai ser. 
2.A Igreja foi vítima de falsos profetas que desviaram muitos, até nações inteiras. 
3.Esperar a volta do Senhor é viver bem na comunidade, trabalhando. 
O mundo vai acabar 
Jesus fez um discurso que assustou muita gente. Assustar vai ser quando as coisas começarem a acontecer. Até que não vai assustar muito, pois a situação do mundo sempre foi muito calamitosa. Há gente que gosta desse tipo de sermão. Quantas vezes ouvimos desses que o mundo vai acabar logo. E já faz tempo que estão prometendo. Mas nada acontece. No início da Igreja se esperava o fim do mundo para logo. Mas o logo não chegou. Então esse assunto parece que morreu. Falar do fim não é jogar pedra no futuro, mas ver no presente como construímos nossa vida, como um sempre presente no Senhor. Não vivemos um mundo que se acaba, mas um mundo que se constrói. Paulo nos ensina a comer nosso pão com tranquilidade.

nº 1908 - Homilia do 32º Domingo Comum (10.11.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Deus dos vivos” 
Fé que vale uma vida 
Próximos já do final do ano litúrgico, a Palavra de Deus nos leva a contemplar nosso futuro, não só nosso fim. É como esperar que se acendam as luzes do espetáculo definitivo. Não se trata de um fim que nos anule e provoque em nós uma desilusão e um viver sem esperança. “Nós esperamos novos céus e nova terra” (2 Pd 3,13). A partir desse estímulo podemos entender o ensinamento da Palavra que nos é dirigida. A leitura do segundo livro dos Macabeus e do evangelho de Lucas nos traz dois casos que parecem absurdos. Os dois livros de Macabeus relatam também a necessidade de resistir às novidades que o paganismo quer introduzir na vida do povo. Vemos o exemplo de resistência dos sete irmãos e sua mãe diante da imposição de comer carne de porco. Isso simbolizava que abandonavam a lei de Deus e aceitavam os costumes pagãos. É uma narrativa tremenda, mas admirável pela fortaleza diante do sofrimento para ser fiel a Deus. No evangelho temos uma discussão de Jesus com os saduceus que não acreditavam na ressurreição. Esses apresentam um caso de sete irmãos que, sucessivamente morrem após terem se casado com a mesma viúva, que também morre. Eles cumpriram a lei do levirato na qual, na morte de um irmão, outro deve se casar com ela para suscitar descendência ao falecido. Perguntam: Na vida futura de quem será esposa? Jesus responde: a vida futura não se rege pelos moldes dos mortais. Lá a condição é outra, como os Anjos. Não nega a vida presente. Afirma que lá se vive a vida de ressuscitados. Vivemos para Deus. 
Eterna e feliz esperança
“Ao despertar, me saciará vossa presença e verei a vossa face” (Sl 16). Na caminhada rumo à ressurreição passamos pelo caminho de nossas decisões e opções. Por isso rezamos no salmo: “Inclinai vosso ouvido à minha prece, pois não existe falsidade nos meus lábios! Os meus passos eu firmei na vossa estrada e por isso os meus pés não vacilaram. Eu vos chamo porque me ouvis, inclinai o vosso ouvido e escutai-me” (Sl 16). O conhecimento de Deus e de seu carinho por sua frágil criatura nos garantem um futuro. Paulo diz aos tessalonicenses: “Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo” (2Ts 2,5). A vida cristã não é a execução de preceitos, mas a confiança numa esperança que fundamenta nossas aspirações e nossa fé numa vida que continua. Aqui temos que tirar de nossa mente que nós viveremos nossa vida de novo, voltando para outro tempo em outras condições. Nossa fé não admite esse retorno. Passada nossa vida terrena, entramos na posse de uma vida que dura para sempre. A fé na ressurreição é fundamental. Temos certeza que teremos nosso encontro definitivo com Cristo. Para isso Ele morreu e ressuscitou. Nós viveremos unidos a Ele pela fé. 
Um mundo ressuscitado 
A ressurreição não é somente um fato espiritual, no fim da vida quando tudo estiver acabado. Ela penetra toda existência cristã e todo o universo. Paulo ensina que tudo será recapitulado em Cristo, isto é, todo o universo caminha para se unir a Cristo. Nele tudo tem sentido, Nele tudo se renova. Colocar o Evangelho no mundo é o mesmo que renová-lo à luz de Cristo. É através da vivência cristã, não como ideologia, mas como vida em Cristo. Todas as coisas deverão ser colocadas a serviço do homem e de Deus. Assim se renovam. Por isso não podemos fazer uma religião como uma prática individual e somente espiritualizada, mas que renove todas as coisas e pessoas. 
Leituras: 2º Livro dos Macabeus 7,1-2.9-14;Salmo 16; 
2Tessalonicenses 2,16-3,5; Lucas 20,27-38 
Ficha nº 1908 - Homilia do 32º Domingo Comum (10.11.19) 
1.A Palavra de Deus nos leva a contemplar nosso futuro, não só nosso fim. 
2.Na caminhada rumo à ressurreição passamos pelo caminho de nossas decisões e opções. 
3.Colocar o Evangelho no mundo é o mesmo que renová-lo à luz de Cristo.
Costelinha de Leitão 
Os sete irmãos e sua mãe foram trucidados por que recusavam comer carne de porco. Não se trata de não gostar. Aliás, os judeus e muçulmanos não comem carne de porco. Aqui era uma questão de fé. Comer a costelinha de leitão significava aceitar o culto pagão e deixar toda a lei de Deus. Então eles não fingem, não temem, pois amam a lei de Deus. Foram corajosos. A fé verdadeira nos leva a não necessitar dessas atitudes dolorosas, mas a deixar os pequenos leitões que vamos criando dentro de nós e por eles negamos todo o amor de Deus por nós, seu evangelho, a missão de Jesus, sua Igreja e tudo mais. Pequenas coisas, mas venenosas. Essas são mais difíceis de deixar que as grandes. Cuidemos de nosso chiqueirinho.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

nº 1906 - Homilia de Todos os Santos (03.11.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Bem-aventurados” 
Intercessores numerosos 
Alguém comentou que ultimamente só os papas ficam santos. Não é bem verdade, pois, agora é que os papas são santos. Não é verdade, pois temos muitas beatificações e canonizações nos últimos tempos. Esse fato não tira a força da festa de hoje, dia em que comemoramos todos aqueles fiéis e mesmo fora da Igreja, que viveram uma vida de amor à justiça na caridade. A festa atual quer lembrar todos, inclusive nossos parentes e amigos que agradaram a Deus. São poucos declarados santos. E os outros? Não são santos? São tão santos quanto os declarados. Aliás, santidade não tem tamanho. Esses são colocados como exemplo, modelo e estímulo à santidade. Reflete-se no dia de hoje a grande chamada de todos à santidade, como lemos no capítulo V da Lumen Gentium. Todos podem ser santos. S. Afonso diz: Todos podem ser santos na condição em que vivem. Por isso a santidade é aberta a todos. A liturgia de hoje quer “celebrar numa só festa o mérito de todos os santos” (Oração). A santidade do povo de Deus não se faz por gestos grandiosos, como temos em muitos santos, mas pela simplicidade de vida dedicada e carregada como uma cruz seja nos trabalhos, seja nos sofrimentos. Ela se faz de modo particular através das pequenas coisas de cada dia. São os santos do silêncio da vida. Só Deus sabe o que passam e o que sofrem. Quanta gente dedicada aos irmãos no escondimento. São pais e mães que lutam pela sobrevivência da família. São aqueles que se entregam a missões de cuidado dos necessitados. São aqueles do silêncio ou da atividade pela vida do mundo. 
Felizes todos vós 
Jesus já deu a receita desse caminho simples da santidade quando, reunindo em torno de si seus discípulos, fez o discurso das bem-aventuranças. Ali está a síntese de tudo de bom que o ser humano pode fazer. É a felicidade dos filhos na casa do Pai. Jesus é o modelo acabado desse projeto de santidade. São as bem-aventuranças. É caminho de todo aquele que busca Deus. Esse caminho está direcionado a Deus, mas passa pelo irmão. Todo homem e mulher podem realizá-las em sua vida. Compreendemos que Jesus está a dizer: “Façam como eu faço”. É necessário um grande exercício de purificação de nossa vida espiritual, pois está eivada de inutilidades. Para fugir do compromisso com a humildade, foram criados, ao longo da história tantos métodos de espiritualidade, fórmulas religiosas, modelos ricos de reflexão, mas vazios desse ensinamento de Jesus. Nossa fé fica vazia quando a fazemos fora desse natural cristão. Insistem-se nas longas horas de oração, nas penitências até violentas e textos complicados de reflexão espiritual. Santa Teresinha o descobriu como a pequena via, mas cheia de vida. As oito bem aventuranças são outros tantos nomes do amor. O Papa Francisco é um modelo dessa simplicidade.
Somos filhos de Deus 
Justifica-se esse ensinamento de Jesus quando lemos a carta de S. João dizendo que somos filhos de Deus. Se somos filhos, estamos na mesma condição de Jesus que é o Filho amado do Pai. “Quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a Ele porque O veremos tal como Ele é” (1Jo 3,2). Seremos se tivermos sido semelhantes a Ele na prática do Evangelho. Notamos que as palavras do Evangelho não são o caminho do cristão. Buscam-se outras coisas porque não nos comprometem. O amor não é pesado nem difícil, mas empenha a vida em sua totalidade, como foi para Jesus que foi até o extremo do amor. E por isso mesmo Ele foi pregado na cruz. A cruz não é a dor, mas o amor. 
Leituras: Apocalipse 7,2-4.9-14;Salmo 23; 
1João 3,1-3; Mateus 5,1-12 
Ficha: nº 1906 - Homilia de Todos os Santos (03.11.19) 
1. Santo Afonso dizia que todos podem ser santos na condição em que vivem. 
2. Nas bem-aventuranças está a síntese de tudo de bom que o ser humano possa fazer. 
3. O amor não é pesado nem difícil, mas empenha a vida 
Receita de Jesus
Hoje em dia tem receita pra tudo. Jesus não ficou para trás. Não só traz uma receita para a vida em Deus, mas o único caminho para chegar ao Céu. A receita é boa porque traz tudo que é preciso para ser completa. Todas as receitas têm algo de bom. Mas, as bem-aventuranças têm tudo para a vida ser plena e sadia. Jesus toca o essencial. Muita gente e mesmo santa propôs muitos caminhos de santidade. Certo que contém muito do essencial. Mas os aprendizes pegam só detalhes. Dá-se a impressão que as Sagradas Escrituras não são a base da vida. Sem isso, não conseguimos. Jesus apresenta a receita completa para a felicidade.

nº 1905 Artigo - “Esperamos Nele”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Celebração dos mortos. 
Santo Agostinho relata em seu livro, “As Confissões”, os últimos diálogos que teve com sua mãe, Santa Mônica. Não era um diálogo filosófico, era a filosofia da vida que cultuavam com simplicidade. Falavam da vida futura, depois de ter conquistado, em vida, a alegria de ver os resultados de suas preces por seu filho sem fé. Agora o tinha na fé e até mais, no ministério. Ela se sentiu mal e, entre outras coisas, disse que não se preocupassem em enterrá-la fora da pátria. Mas pedia que se lembrassem dela no altar de Deus nas celebrações. Ela nasceu em 332 e morreu 387. Viveu 56 anos. Vejamos que estamos no início do Cristianismo. Havia já a liberdade para o culto cristão (a.313). Mas era muito cedo para haver tantas doutrinas estabelecidas. Por que pede que reze por ela no altar de Deus? Já havia uma consciência clara da utilidade da oração pelos mortos, sobretudo durante a Eucaristia. Na verdade, Santa Mônica, conhecia o culto pelos mortos na sociedade romana, chamado refrigerium (descanso). Era uma refeição feita junto ao túmulo do falecido. Não era novidade falar de orações pelos mortos. Dizemos: “Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno”. Que tenham um lugar de descanso (refrigério) e paz. A Ressurreição de Jesus nos dá a segurança que Ele ressuscitará os que morreram. Não foi logo que se começou a fazer uma oração especial. Mas era algo normal rezar pelos mortos. Como a partir do século IV se celebravam todos os santos mártires e, que se estabilizou no dia primeiro de novembro, a partir do ano 1000 e tomou o dois de novembro como dia de fazer memória de todos os falecidos. 
Morte que conduz à vida 
Meditando a celebração podemos encontrar sustento para nossa vida que parece tão frágil. Por que viver? Para morrer? A morte está presente. A Palavra de Deus nos mostra igualmente que a morte tem seu sentido na vida que ela dá. Lemos que Jesus explica que a vida eterna é uma decisão do Pai para todos: “Esta é a vontade do meu Pai: que toda a pessoa que vê o Filho e Nele crê tenha a vida eterna e, Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40). A missão de Jesus é conduzir todos à Vida que dura para sempre. Por isso a morte tem a ver com a vida que segue. Rezar pelos mortos é crer na vida de todos. Rezamos pelos mortos porque cremos no Corpo de Cristo que une a todos. Os membros mais fortes fortalecem os mais fracos. A noção de Corpo Místico de Cristo justifica a intercessão dos Santos e nossa intercessão pelos mortos. É uma coisa de família. Queremos a vida plena para todos. Não sabemos detalhes da vida dos que foram. Se necessitam de nossa oração para seu descanso, nós o fazemos, como toda a história da Igreja traduz. 
Enquanto esperamos a glória que leva à vida 
O salmo 26 nos leva a rezar essa verdade quando coloca em nossos lábios: “Ao Senhor eu peço somente uma coisa e, é só isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida”. A leitura de Isaías nos ensina: “Ele removerá, neste monte, a ponta da cadeia que ligava todos os povos, a teia em que tinha envolvido todas as nações” (Is 25,7). Toda oração pelos mortos está nos colocando em caminhada segura para esse encontro com o Senhor: “Escutai com bondade as nossas preces e aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos vossos filhos e filhas” (Oração). Crendo na Ressurreição manifestamos nossa fé na força da oração pelos mortos que vivem essa passagem terrena para a vida celeste. Não deixemos de rezar pelos mortos. Um dia outros rezarão por nós.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

nº 1904 - Homilia do 30º Domingo Comum (27.10.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“O grito do humilde” 
Subir ao templo
           Continuando sua catequese, depois de explicar que a oração deve ser incessante, Jesus nos faz ver o núcleo da oração: a que nasce do coração. Dois homens sobem ao templo para orar. O templo era a casa de Deus. Ali era o lugar da oração. Jesus, sem desqualificar a função do templo, coloca a oração no templo do coração. Um era fariseu e outro publicano. O fariseu era um observante da lei e cumpria todos os mandamentos com perfeição: Ele toma a posição correta de se rezar: Em pé, rezando no seu íntimo. Agradece por não ser como os outros homens. Seu agradecimento por não cometer o pecado, passa por diversos mandamentos. Agradece sua fidelidade à lei e à aliança. Tem pureza em seus procedimentos, não rouba, faz justiça, não come adultério, cumpre os preceitos do jejum, jejuando duas vezes por semana, paga o dízimo. Mas comete um erro brutal: não sou como os outros homens, por exemplo, como esse publicano. Sua oração ofende os olhos de Deus por julgar o outro. O publicano não vai ao templo para desfilar. Ele é judeu, como o fariseu, mas é cúmplice com o invasor romano. Pelo lucro que recebe, é encarregado de cobrar os pesados impostos para império romano. Por isso eram odiados e desprezados pelo povo. Lembramos que Jesus era amigo dos pecadores e publicanos. Era um crime. O publicano está distante. Toma uma atitude humilde e reza em silêncio sinceramente arrependido. Tem vergonha e bate no peito em sinal de dor e pede do fundo de sua miséria: “Tem piedade de mim que sou pecador” (Sl 50,3).
Quem se exalta será humilhado
           Jesus fala forte: “Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro, não. Pois quem se eleva será humilhado e, quem se humilha será elevado” (Lc 18,14). Ser justificado é ser readmitido à amizade Divina. A humildade é a elevação a Deus. O orgulho, mesmo fazendo boas coisas, como é o caso do fariseu, destrói a amizade Divina. Aqui Jesus revela o que acontece com Ele mesmo em sua humilhação, como lemos na carta aos Filipenses 2,5-11. Foi ao máximo da humilhação para um ser divino que se fez inferior a todos, indo até à morte. Por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome, isto é, o nome Divino. O Homem humilhado é elevado. Na parábola, Jesus não desfaz do fariseu pelo bem que faz, mas por se colocar acima do fraco pecador. Isso acontece muito em nossas comunidades na busca pelo poder. Existem os que se julgam puros, santos e ungidos. E têm a ousadia de dizer que o outro não é ungido. Quem é dono do Espírito? Ele é silencioso, pois age no cerne do amor-humildade, aquele que se põe a serviço. Assim foram nossos santos. Olhem a Ir. Dulce foi puro amor e humildade
Paulo e seu Senhor
           Palavras finais mostrando sua vida cheia do Senhor e por isso repleta de uma entrega total ao seu ministério de evangelizar até ao sangue derramado. Ele se une a seu Senhor no sacrifício. É sua identificação com seu Redentor. Diz: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”(2Tm 4,7). Espera a recompensa que será dada a ele e a quem fizer o caminho de Cristo. Foi abandonado pelos seus. Mas ele tem sempre a presença de Cristo: “O Senhor esteve ao meu lado e me deu forças; e fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações” (Id 17). Paulo fala de sua boa obra na humildade do publicano. Na Eucaristia, o Senhor nos educa a termos a atitude humilde de ficarmos ocultos para que a vida seja dada a todos.
Leituras; Eclesiástico 35,15b-17. 20-22ª; Salmo 33;2
Timóteo 4,6-8.16-18;Lucas 18,9-14.
Ficha: nº 1904 - Homilia do 30º Domingo Comum (27.10.19) 
1. Jesus, sem desqualificar a função do templo, coloca a oração no templo do coração.
2. A humildade é a elevação a Deus.
3. Paulo se une a seu Senhor no sacrifício. É sua identificação com seu Redentor. 
Cheio de si, vazio de Deus          
           Quando se faz uma pintura do fariseu e o publicano, o fariseu é sempre pintado barrigudo. E olha que jejuava duas vezes por semana. O texto da parábola tem um ensinamento claro sobre a necessidade da humildade, não de palavras, mas de vida, como em Jesus.
           O fariseu todo empinado, se mostra orgulhoso do bem que faz. O publicano, grande pecador, se mostra todo humilde pelo reconhecimento de sua situação triste de pecador público. Todo mudo sabia que ele não era bom, pois era opressor do povo em benefício dos romanos. Sendo humilde se coloca numa atitude de conversão pelo pedido de perdão sincero.
           A batalha cristã, como a de Paulo, nos leva até à boca do leão. Mas Deus está sempre de nosso lado. Por isso não há necessidade de empinar o bico.

nº 1902 - Homilia do 29º Domingo Comum (20.10.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Deus não se faz esperar”
Os gritos dos pobres 
“Jesus contou aos discípulos uma parábola para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre e nunca desistir” (Lc 18,1). Há críticas a respeito da oração de pedido, sobretudo se são para coisas materiais ou a situações muito humanas, como no caso da parábola da viúva era desprotegida. Até nisso dependemos de Deus. Jesus explica a oração como uma súplica insistente. A viúva, com sua insistência, convence o juiz a cuidar de sua causa. Deus não se cansa com nossas insistências. Pelo fato de seus escolhidos não terem outra defesa que sua bondade, não vai deixar de lado sua causa e o fará logo, não deixando esperar. As Sagradas Escrituras sempre colocam Deus como protetor dos fracos e pobres. O que venceu o juiz foi a insistência da pobre viúva. As viúvas, com a morte dos maridos, ficavam totalmente desamparadas. O fiel cristão está desprotegido na sociedade, mas tem certeza da pressa de Deus em atendê-lo. Assim deve ser a oração. Não para dobrar Deus, mas para sermos sempre insistentes. A insistência é um modo de oração. Rezar não é falar muitas coisas para Deus, mas muitas vezes a mesma coisa (Beato Charles de Foucauld). E Deus fará justiça bem depressa. A oração insistente é ouvida por Deus que sempre atende e logo. A atitude de Moisés em oração pelo sucesso da batalha é dada como modelo de oração. Assim permanece em oração o tempo todo, com a ajuda de Aarão e Ur que lhe sustentam os braços. A oração participada tem mais valor. Jesus diz uma coisa complicada: “O Filho, quando vier, encontrará fé sobre a terra? (Lc 18,8). Sem a oração a fé desfalece. 
De onde vem nosso socorro? 
A oração permanente é o requisito fundamental para nossas vitórias. É a garantia. O altar é a pedra sobre a qual se firmam os que buscam a Deus em sua oração. O Salmo 120 mostra que o socorro vem de Deus. Essa sempre renovada confiança é a garantia de ter ajuda. Moisés pede a vitória sobre o inimigo. Temos um inimigo muito mais forte porque pode penetrar as decisões de nossa vida. Por isso o salmista diz que levanta os olhos para os montes, para o alto. Lá está Aquele que fez o céu e a terra, por isso pode continuar fazendo tantas coisas. Deus nos guarda constantemente: “Ele não deixa tropeçarem os meus pés e, não dorme quem te guarda e te vigia... O Senhor te guardará de todo o mal, Ele mesmo vai cuidar da tua vida! Deus te guarda na partida e na chegada. Ele te guarda desde agora e para sempre!”(Sl 120). A proposta permanente de Deus para o sustento de nossa fé é estar sempre cuidando de nós. Nossa resposta é a permanente atitude de estar sempre buscando sua proteção e sua ajuda. Somos fracos, mas temos onde nos escorar. 
A Palavra que reza
Paulo escreve a seu querido discípulo, a quem nomeara como supervisor de uma grande área de seu ministério, que insistisse muito na formação das comunidades, sobretudo pela pregação. Timóteo sempre fora fiel aprendiz da Palavra. “As Sagradas Escrituras têm poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus”. Não basta um conhecimento superficial, como uma bíblia de enfeite. Ela é inspirada por Deus. Na Palavra encontramos o caminho da oração. Rezamos pela Palavra e a Palavra nos ensina a rezar. Por isso Paulo diz a Timóteo que proclame a Palavra e insista. Por isso temos que ouvir a Palavra que nos conduz à oração insistente, pois insistente deve ser nossa oração seja insistente. Moisés ensina a não abaixar os braços. Ensina também que devemos ajudar uns aos outros na oração comum. Ela tem força de vencer as batalhas. 
Leituras: Êxodo 17,8-13; Salmo 120;2 
Timóteo 3,14-4,2; Lucas 18,1-8. 
Ficha nº 1902 - Homilia do 29º Domingo Comum (20.10.19). 
1. A oração insistente é ouvida por Deus que sempre atende e logo. 
2. A oração permanente é o requisito fundamental para as vitórias. 
3. Temos que ouvir a Palavra que nos conduz à oração insistente. 
Escolinha de Jesus 
Jesus ensina o be-a-bá da oração a seus discípulos. Tudo em Jesus é fácil de compreensão, pois Ele parte da vida comum. Os fatos do dia a dia podem explicar o que quer ensinar. Hoje ensina que a oração tem algo de chato. Chato, não pelo assunto, mas pela insistência. Jesus rezava muito. Pelo que conhecemos Dele, insistia em repetir as mesmas coisas, como vemos em sua dolorosa agonia no Jardim das Oliveiras. Aprendemos, quando estudávamos que a repetição é a mãe dos estudos. Repetindo fixamos o conhecimento. Assim também, buscando sempre, podemos fixar em nós os ensinamentos de Jesus. Ensina também a rezar sempre, não para convencer Deus de nossas necessidades, mas de nos convencer da necessidade de buscar sempre a Deus.

sábado, 5 de outubro de 2019

nº 1900 - Homilia do 28º Domingo Comum (13.10.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Milagres que curam” 
Deus sem fronteiras 
Jesus manifesta mais uma vez a grande abertura do Reino de Deus a todos. Continuou na linha profética de um povo missionário aberto a todos os povos. Toma esses dois exemplos para mostrar como Deus busca os mais distantes. E Jesus identifica a fé de pagãos, mais consistente que a fé dos judeus, depositários de todas as promessas. A história de Naamã, que com relutância inicial, obedece e faz o simples gesto de mergulhar sete vezes no rio Jordão, muito inferior aos rios da Síria. Os gestos de Deus em favor dos homens são sempre simples e humildes. A grandeza vem da fé. O milagre leva a uma definição por Deus: “Permite que teu servo leve daqui a terra que dois jumentos podem carregar. Pois teu servo já não oferecerá holocaustos ou sacrifício a outros deuses, mas somente ao Senhor” (2Rs 5,17). O milagre conduz a uma adesão a Deus. O profeta (v.16) recusa presentes pelo milagre. Jesus confirma que Deus acolhe a fé dos pagãos. Jesus retoma a questão mostrando que os estrangeiros têm mais fé. Dez leprosos pedem a Jesus a cura: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós” (Lc 17,13). Ele manda que vão aos sacerdotes. Eram esses que declaravam alguém leproso e os isolava da comunidade e depois comprovava sua cura com documento. O milagre aconteceu enquanto iam. A lepra era uma doença que levava à exclusão total. Jesus cura os dez. Um deles volta para agradecer. E era um samaritano. Voltou para agradecer e dar glória a Deus. Compreendeu o sentido do milagre. 
Cura pela fé 
Jesus se agasta com a ausência dos outros: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser esse estrangeiro?” (Lc 17,17-19). Temos a mesma situação em Naamã. É o estrangeiro que reconhece a ação de Deus. Nesse milagre entendemos a função do milagre e por outro lado, o que se perde com um milagre. Jesus cura a todos. Mas somente o samaritano se salva: “Levanta-te e vai”! Tua fé te salvou”. Jesus não mandou a lepra de volta aos outros nove, mas afirma que o milagre verdadeiro se realizou no samaritano, pois curou também sua fé. Agora ele crê e está salvo. E os outros se curaram, mas não curaram o coração, a fé. Ouvimos que tantas pessoas recebem milagres, mas não modificam sua atitude de fé para uma fé que se defina como vida a partir do coração. A fé provoca uma mudança de direção de nossa vida, colocando-nos no caminho de Jesus, não como uma opção intelectual, mas de vida. A vida se compromete com o Senhor Jesus num processo de vida que atinge também o culto. O culto a Deus exemplificado por Naamã e pelo samaritano, só vai existir quando tivermos uma opção por Deus que envolva toda nossa vida. De resto permanecerá um culto vazio. 
A palavra não está algemada
“Estejamos atentos ao bem que podemos fazer” (Oração). Isso só nos será possível se estivemos atentos à Palavra. Paulo, mesmo prisioneiro, tem confiança que suas algemas se tornam uma razão para que a salvação chegue a todos: “Por isso suporto tudo pelos eleitos, para que eles também alcancem a salvação que está em Cristo Jesus” (2Tm 2,10). Reafirma que a Palavra não está algemada. A força de Paulo e seu vigor encontram respaldo na força da Palavra. Ela o estimula sempre mais a, mesmo prisioneiro, continuar seu ministério, sua missão. Vê sua vida como uma união ao Cristo em seu sofrimento e sua glória: “Se com Ele morremos, com Ele viveremos... se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar a Si mesmo” (id 11,13). Assim temos a certeza que a fé é anuncio e vida. 
Leituras: 2 Reis 5,14-17; Salmo 97; 
2ª Timóteo 2,8-13;Lucas 17,11-19.
Ficha nº 1900 - Homilia do 28º Domingo Comum (13.10.19) 
1.Os gestos de Deus em favor dos homens são sempre simples e humildes. 
2. A fé leva a uma mudança de direção de nossa vida, colocando-nos no caminho de Jesus. 
3. A força de Paulo e seu vigor encontram respaldo na força da Palavra. 
Um banho faz bem 
A água lava tudo. A história do sírio Naamã faz lembrar que um bom banho limpa muita impureza. Mas a água que lavou o comandante leproso foi mais longe, lavou seu coração. Ele mudou o rumo de sua vida. De agora em diante só conhece o Deus de Israel. Só a ele vai prestar culto. Ele ficou curado, como o leproso samaritano. Os dois foram além e deram o passo que purificou suas vidas: de agora em diante, coração purificado pela fé. Sem deixar de lado o valor do banho de água, o banho da fé lava muito mais e não exige outro.

nº 1899 Artigo - “A Senhora Aparecida”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Mãe conhecida 
Há muitos modos de ver e conhecer uma realidade. Quando nos aproximamos de Nossa Senhora Aparecida, podemos conhecê-la sempre de um modo novo. Penso que além do que já sabemos, vamos ver também o aspecto simbólico. Esse não esvazia o conhecimento e a realidade, mas nos abre sempre a maior compreensão e veneração. A imagem é como uma fonte que sempre jorra água nova. Assim vamos conhecendo mais e amando melhor. O simbolismo da imagem começa em seu encontro nas águas. Ela parte do desconhecido. Não sabemos sua origem. Depois de feita a imagem, deve ter havido um caminho bonito entre as pessoas. O porquê se encontra ali, já nos abre o caminho da Providência. É a Mãe que se adianta aos filhos. Ali ela os esperava. Tirar das águas turvas torna-se um ensinamento. “Nada é impossível àquele que crê” (Mc 9,23). No momento difícil de um trabalho infrutuoso ela se manifesta. “Deus vem em socorro de nossa fraqueza (Rm 8,26). Ao retirar das águas o corpo quebrado de uma imagem sem cabeça e, a seguir o encontro da cabeça, pequenina, que não foi levada pelas águas, viram a presença da Mãe que conheciam, “enviada por Deus”. A seguir, a pesca milagrosa. Como em Caná, a Mãe disse: “Eles não tem mais vinho”. Aqui diz: “Eles não têm peixe”. Esse acontecimento simboliza a contínua atenção de Deus para com seus filhos em necessidade e o faz também pela intercessão da Mãe de seu Filho que veio para que “todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Os pescadores reconhecem a Mãe que os ajuda. 
Milagres que falam 
Conhecemos a série de milagres que ocorrem nos inícios do culto à Mãe de Deus e Mãe de seus filhos pobres. O socorro milagroso que Nossa Senhora Aparecida, não sei quando começou a ter esse belo nome, se dirige aos pobres necessitados. Sejam as velas que se apagam e acendem, seja o escravo libertado das correntes, seja a menina cega, seja menino afogando-se no rio, o homem e a onça. Os milagres sempre trazem uma resposta a uma situação de grave emergência. Essa emergência se multiplica pela vida com tantos outros nomes. Os milagres significam libertar de situações sem solução. A luz das velas lembra a fé que, às vezes se apagam e acendem. É preciso crer com consistência. As correntes que caem significam para nós a libertação dos males, sobretudo espirituais que o encontro com Nossa Senhora nos ajuda a viver livres e servir a Deus como o fez o escravo. Ela nos abre os olhos, como à menina cega, para vermos o caminho de Deus na Igreja. Como a Igreja é bonita em seus caminhos de libertação da cegueira que nos impede de ver o Reino de Deus acontecendo no mundo. A Igreja, que tem em seu seio a Virgem Mãe, é uma luz nova para nossos olhos. A Mãe socorre nos momentos em que pedimos socorro, como o menino que se afogava e o homem salvo da onça. Grita que a Mãe corre para socorrer imediatamente. Tão celestial e tão humana. Nada de Deus é estranho ao amor. 
O cavalo não reza 
Chegamos ao fato do incrédulo que queria entrar a cavalo dentro da igreja de Nossa Senhora Aparecida, basílica antiga. Queria mostrar seu desprezo. Ao forçar o cavalo a subir os poucos degraus, teve a surpresa de ver seu cavalo imóvel preso à pedra do degrau. Assim o homem entra com respeito e veneração, vendo a ação de Deus através do animal. É um chamado muito claro a percebermos que a criação participa da bondade de Deus que através de Maria estende sua bênção a toda a criação. Lembramos que há tantas romarias a cavalo. É a participação da natureza no amor a Nossa Senhora Aparecida.

nº 1898 - Homilia do 27º Domingo Comum (06.10.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
“Aumenta nossa fé” 
Tamanho da fé 
O profeta Habacuc lamenta a violência, as iniquidades, a maldade, a destruição, a prepotência, a discórdia que só aumentam. Deus manda o profeta dizer: “A visão se refere a um prazo definido, mas tende para um desfecho, e não falhará. Se demorar, espera, pois ela virá com certeza e não tardará. Quem não é correto, vai morrer” (Hab 2,2-4).O profeta mostra que o mal está dominando e tem seus seguidores. Mas isso vai ter um fim. Podemos ver a história da humanidade. Essas situações são frequentes e estamos vivendo essa realidade. A pregação do profeta Habacuc é feita no tempo do profeta Jeremias que vê a mesma situação e diz claramente que deve haver uma conversão para que Deus poupe a cidade e o povo de serem destruídos. Do contrário, o castigo virá por conta da maldade e da desobediência à lei de Deus. Os idólatras da maldade e da corrupção foram todos para o exílio. Quem vai se salvar? O profeta responde: Vai sobreviver o justo que tem sua fé como riqueza e rumo da vida. Jesus avisa que a fé pequenina como uma semente, tem a força de vida que não vai ser destruída, pois o “justo viverá de sua fé” (Hab 2,4 e Lc 17,6). “Fé é dom de Deus e é Vida divina. Fé não é só uma atitude intelectual a uma verdade atraente. É adesão de amor, é amor. É uma confiança inabalável que leva a esperar na paciência que as realidades divinas se manifestem e se realizem nas situações limites da vida humana. Sem fé, pois, tudo é morte. Dizendo aumenta nossa fé. Os discípulos viam que sua fé era pouca. Jesus indica que a fé deve ser como a fé dos patriarcas. Ela deu rumos e base para o futuro.
Reaviva o dom 
O dom da fé, dado e acolhido com alegria, necessita estar sempre ativado para que possa penetrar todas as nossas atitudes e decisões para que sejam realmente o depósito da fé e do amor (2Tm 1,13-14). Para superar as grandíssimas dificuldades que Habacuc enumera, o que não é mais do que um retrato do que acontece sempre por toda parte, temos nossa fé. Ela pode ser fraca e insuficiente aos nossos olhos. Jesus usa a comparação com a semente muito pequena. Lembramos a semente do eucalipto que é um pozinho ela contém em si a vida de uma grandiosa árvore. Ela tem a força de transportar para longe essa árvore. Não se trata de fazer esse “milagre”, mas perceber a força de Deus que age em nós. Ela pode nos sustentar até a entrega da própria vida, com vimos em tantos santos. Não só perdendo a vida, mas colocando-a a serviço. “Fé é responder e aderir com amor a Deus que chama a Si e a serviço dos irmãos. Ela é dom gratuito dado a todos. Trata-se de corresponder totalmente. A vida se torna então um prodígio” (Frederici). 
Servos inúteis 
O salmo 94 nos convida a “não fechar o coração e ouvir a voz do Senhor”. O grande chamado de Deus nos chama a não fechar o coração. Viver a fé é prestar um culto puro a Deus e nos colocar totalmente a um serviço gratuito como resposta à gratuidade de Deus. Não se trata de inutilidade, mas de totalidade da entrega no serviço. A graça que nos foi dada pela fé e anima toda nossa vida, foi totalmente gratuita. E a ela correspondemos, isso é, trabalhamos no campo de Deus, com toda a gratuidade. Jesus dizia: “De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8). A missão do apóstolo, como Jesus ensinava aos seus discípulos, é estar unido a Ele que em tudo Se doou. Trabalhamos em seu campo e Ele é nossa recompensa. A graça sempre nos acompanha em nosso operar as maravilhas que Deus nos concede. Não é pelo lucro que trabalhamos, mas pela graça.
Leituras Habacuc 1,2-3;2,2-4; Salmo 94;2
Timóteo 1,6-8.13-14; Lucas 17 5-10. 
Ficha nº 1898 - Homilia do 27º Domingo Comum (06.10.19
1. “Fé é dom de Deus, e é Vida divina. Não é só uma atitude intelectual a uma verdade. 
2. Não se trata de fazer esse “milagre”, mas perceber a força de Deus que age em nós. 
3. “De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8). 
Conversa de semente 
Às vezes ouvimos historinhas de árvores que conversam sobre seu futuro e outras. Hoje vamos ouvir uma sementinha falando com a grande árvore. Imaginemos o eucalipto. Pode chegar a 100 m de altura. Sua semente é minúscula e parece um pozinho. Então ela diz à poderosa árvore: Você é imensa. Mas saiba, sua grandona, que eu sou tudo que você é. A vida que sou, quando me abro é que dá todo seu tamanho. Assim, a fé, por menor que seja, sempre tem em si a totalidade do dom que Deus nos deu. Não há fé pequena, pois é participação da vida de Deus.
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sábado, 28 de setembro de 2019

nº 1896 - Homilia do 26º Domingo Comum (29.09.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“A justiça do Reino” 
Deus ouve 
A Palavra de Deus nos faz uma descrição muito clara e sempre atual da justiça de Deus e da justiça humana. Essas estão sempre presente na sociedade. Ela nos questiona sobre nossas atitudes. Não podemos dizer: “Isso não vale para mim”. Somos questionados não pelo que possuímos, mas pelo olhar míope diante das realidades. É muito triste ver só a si mesmo. É impossível dar um passo adiante no projeto humano de ser fraterno. Não basta ser social. O texto do profeta Amós, homem experiente de humanidade, relata a atitude dos ricos de seu tempo, de modo particular em Samaria. Jesus tem diante dos olhos a situação dos ricos e dos pobres. O rico “se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias” (Lc 16,19). O profeta relata a vida folgada dos ricos de Samaria. Eram nababos. Só o prazer e a vida fácil. A riqueza lhes proporciona a vida folgada. A primeira leitura descreve como viviam esses ricos. O problema não se trata de terem riqueza, mas de não se preocuparem com a ruína do povo. O povo estava destruído. Não era problema dos “gozadores” (Am 6,6). Deus ouve o clamor dos fracos que os leva ao louvor: “O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos oprimidos, dá alimento aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos. Ampara o órfão e a viúva” (Sl 145). É o Senhor que acolhe Lázaro. Na língua hebraica, esse nome significa: aquele que Deus ouve. Os olhos de Deus buscam os que sofrem. Deus é o responsável “jurídico” porque, amorosamente os toma sob seu cuidado (145,7). Lázaro morre e é levado pelos anjos ao seio de Abraão, o Céu.
Inversão de valores 
Lázaro vai para o Céu e, o rico foi enterrado... no meio dos tormentos, viu Abraão e Lázaro ao seu lado (23). Abraão mostra a mudança de lado: “Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez os males. Agora ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. A seguir o texto tem um diálogo no qual o rico, vendo a impossibilidade de ser aliviado, pede a Abraão que mande Lázaro para avisar os familiares para preveni-los. O texto mostra que não há essa possibilidade de refazer a vida depois da morte, pois é definitivo. Também mostra que não há esse trânsito entre Céu e terra e inferno. Mas a palavra que se torna solução para o rumo certo da vida, como diz o rico condenado ao inferno: se um morto for a eles, se converterão. Abraão dá a resposta clara: “Se não escutam Moisés e os profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” (Lc 16,23-31). A conversão verdadeira não se dá pelo medo, mas pela Palavra de Deus. Só ela pode tocar os corações e provocar a mudança. Os pobres não foram levados para o exílio. E continuam a esperança do Messias. 
O caminho do justo 
Todos nós passamos as lutas por meio da fé viva. Paulo formara seus colaboradores na firmeza da fé, não deixa de insistir com Timóteo para viver bem: “Tu, que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza a mansidão... guarda teu mandato íntegro e sem mancha até a manifestação gloriosa de Cristo (1 Tm 6, 11.14). Todos vivemos as mesmas situações dos profetas. Jesus toma esse tema em sua parábola. O grande problema é não ver a situação do povo. O rico dos banquetes nem deve ter visto Lázaro na porta. O desconhecimento da realidade do povo é um assassinato programado e apoiado pelos donos do mundo. É um mal que não se cura. A insensibilidade do homem para com o sofrimento do pobre é um dele aos olhos de Deus.
Leituras: 6,1,1ª.4-7;Salmo 145;1 
Timóteo 6,11-16;Lucas 16,19-31.
Ficha nº 1896 - Homilia do 26º Domingo Comum (29.09.19)
1. O problema não é ter riqueza, mas de não se preocupar com a ruína do povo na pobreza. 
2. Só a Palavra de Deus pode tocar os corações e provocar a mudança. 
3. O desconhecimento da realidade do povo é um assassinato programado e apoiado pelos donos do mundo. 
Miopia espiritual 
Como é triste ser cego. Pior é ser cego de olhos abertos. Não se ver, nem se julgar, é sinal de um triste fim. “Lembra-te de teu fim e viverás, e jamais pecarás” (Eclo 7,36). A festa dos ricos impressionava por sua fartura. Os cães conheciam Lázaro. Pobre sempre tem cachorro. Lambiam suas feridas para sua cura. Era seu único remédio. O que os folgados não faziam, faziam os cães. A parábola de Jesus é um ensinamento sobre a coerência de vida e o fim último do homem e sua situação. Não acreditamos mais nessa linguagem de inferno. Mas é bom prevenir, pois, pode ser que, chegando lá ele exista. Melhor prevenir e se educar pela palavra de Deus.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

nº 1894 - Homilia do 25º Domingo Comum (22.09.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“A riqueza que permanece” 
Bom administrador 
Lucas nos apresenta os ensinamentos de Jesus sobre as questões de dinheiro, mostrando a maneira nova e segura de gerir os bens. Conta, para isso, a parábola do administrador espertalhão. O homem administrara mal os bens do patrão. Este pede uma séria prestação de contas. Vendo-se em dívida e apertado, apela para o costume de então, de tirar lucro com os negócios que fazia pelo patrão. É louvado por sua esperteza em se safar da situação. Jesus diz uma frase dura: “Os filhos desse mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”... “Fazei amigos como dinheiro da iniquidade, a fim que, no dia em que faltar, vos recebem nos tabernáculos eternos” (Lc 16,8-9). Por que são mais lerdos que os filhos das trevas? Porque não aproveitam o que possuem para fazer o bem na caridade. Assim disse Jesus: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas!”... Por isso, se vós não sois fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? ... Se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso?” (Lc 16,9.11-12). Os bens materiais são bons quando são destinados a “comprar o Céu”, isto é, quando usados para produzir o bem. É a economia espiritual que atinge o homem no seu todo. Jesus disse na casa de Lázaro que “pobres sempre tereis entre vós” (Mt, 26,11). Sempre haverá necessidades que nos empobreçam. Esse processo realizou Jesus que, sendo rico se fez pobre. Não se trata de tirar os bens do outro, mas que haja um saber partilhar. Nem pobre, nem rico, mas irmãos. 
Dois senhores 
Temos a continuação da parábola com a afirmação: “Ninguém pode servir a dois senhores. Cristianismo sem a caridade é ideologia. Jesus sempre nos toca o coração para termos seu misericordioso. Vemos, pela leitura do livro de Amós, a que ponto se chega quando se vive na ganância. A maldade parece eterna. O homem, sem Deus é um animal pouco racional. É o que estamos vendo na sociedade. A ganância faz de seres inteligentes e muito competentes, verdadeiros monstros devoradores de tudo. Monstro é o que destrói o humano. Jesus ensina que o verdadeiramente humano é divino, como Ele foi. O mundo cresce em sabedoria, mas perde em humanidade. O verdadeiramente humano é terreno fértil para o divino. Basta ser como Deus: “Levanta da poeira o indigente e do lixo ele retira o pobrezinho, para fazê-lo assentar-se com nobres, assentar-se com os nobres de seu povo” (Sl 112). Os pobres podem ser nossos mestres em solidariedade. Sabem partilhar. O conhecimento pode inchar, mas a sabedoria nos faz crescer. Mesmo a Igreja e seus muitos departamentos podem viver a mentalidade consumista e exploradora, pior, do sagrado. 
Deus quer todos salvos 
Encontramos essas situações difíceis na sociedade, fruto da falta de fé ou da ganância, às vezes institucionalizadas. Paulo, na carta a Timóteo tem um remédio salutar: “Recomendo que se façam preces, e orações, súplica e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos... Isso é bom e agradável a Deus” (1Tm 2,1-2). A oração é excelente remédio para todos. E estimula a rezar pelas autoridades, “para que possamos levar uma vida tranqüila e serena, com toda piedade e dignidade” (1Tm 2,2). Nós não fazemos a ligação de um noticiário que nos mostra tantos problemas e situações calamitosas, com a oração da comunidade. A prece dos fiéis na litúrgica pede que se apresentem as intenções locais. A liturgia é vida. 
Leituras: Amós 8,4-7; Salmo 112; 
1 Timóteo 1,1-8; Lucas 16,1-13. 
Ficha nº 1894 - Homilia do 25º Domingo Comum (22.09.19) 
1. Os bens materiais são bons quando são destinados a “comprar o Céu”, fazer o bem. 
2. O mundo cresce em sabedoria, mas perde em humanidade. 
3. Estimula a rezar pelas autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila. 
Sujeito ruim de negócio 
Hoje o ensinamento parece um final de mês quando só se fala naquilo que falta para completar o orçamento. Todo mundo é vítima de uma exploração, da situação, da falta de gestão. Vemos, no antigamente, o quanto já havia de reclamação sobre a maldade dos exploradores. Jesus passa para uma necessidade contrária: não se trata de explorar, mas de fazer render para o bem. Aqui está o nó da economia cristã. Nossos negócios vão alem de nosso território, vão até às colinas do Céu. Na medida em que aplicamos na terra para o bem dos outros, abrimos uma conta no Céu e adquirimos um bom território.