quinta-feira, 21 de abril de 2022

nº 2056 - Homilia do 2º Domingo da Páscoa (24.04.22)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Reacendeis a fé”
Meu Senhor e meu Deus 
A celebração do Tempo Pascal é importante para fortalecer nossa fé no Cristo vivo. Aquele que estava morto agora está vivo, é o Vivente. A evangelização dos apóstolos partia sempre desse ponto: da experiência de Cristo Vivo. Mesmo Paulo, que não era dos discípulos de Jesus, afirma essa experiência pessoal: “Em último lugar, apareceu também a mim como a um abortado” (1Cor 15,8), no sentido de não merecer. Acolhemos essa experiência, e de certo modo, a fazemos, porque cremos. Sem isso, pregamos uma religião e não uma fé. Os apóstolos se sentiam fortes e enfrentavam aqueles que tinham matado o Mestre e o faziam com o risco das próprias vidas. Nada os detinham. Tomé se torna um exemplo da fé. Ele duvidou da Ressurreição. Quando fez a experiência do Ressuscitado, foi ao ponto mais alto da fé: “Meu Senhor e meu Deus”! (Jo 20,28). E Jesus acrescenta que crer no testemunho dos apóstolos é maior que a fé de Tomé que precisou tocar. Todos nós temos que chegar ao momento em que Tomé chegou: a fé não só na Ressurreição, pois ele O tocava com as mãos, mas na divindade do Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Fé maior tem quem crê sem ver, sem tocar. Aceitamos o testemunho dos apóstolos sem nos questionar de sua veracidade. A aparição de Jesus dá o Espírito Santo. É o Espírito que desperta em nós a fé. Se é fé verdadeira, a vida se torna verdadeira e testemunha Jesus. 
Nossa vitória 
“Essa é a vitória que vence o mundo: a nossa fé; Quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1Jo 5,4-5). A fé é uma adesão a um dom espiritual. Mas que se realiza e concretiza na vida, pois a Encarnação de Jesus, de certo modo, continua naquele que crê. Fé não é um princípio abstrato. É um dom de Deus para fazer um mundo novo que nos insira totalmente na Vida Divina. É assumir Deus na vida, pois fomos assumidos por Ele. Jesus realizou a redenção espiritual na condição humana. Morreu na condição humana que estava unida à sua Divindade. Assim teve a vitória sobre a morte. Seu ser humano foi morto, mas ressuscitado pelo Ser Divino, na condição do Homem Novo. Crendo, fazemos essa passagem. A adesão humana torna-se Divina pela participação em Deus. Assim temos a vitória de Jesus sobre a morte e sobre o mal. Nós o realizamos em processo. Temos que levar a opção espiritual ao concreto da vida. Essa ação transformadora é realizada pelo Espírito Santo. Recebemos o Espírito Santo como os apóstolos para o perdão, mais ainda para a reconciliação do Universo e de nosso coração. Essa reconciliação é unir a fé à vida, o espiritual ao material. Chamando Cristo de pedra angular (Sl 117), estamos dizendo que não podemos fazer da fé, da Igreja e do mundo sem Cristo. A fé nos une a Ele e com Ele mudamos o mundo. 
Crer sem ver 
Na trilha do anúncio da Ressurreição aparece o anúncio da comunidade como resultado do desígnio salvador de Deus em Cristo. Já no início de seu ministério, como diz Marcos, “Chamou a si o que Ele quis, e eles foram até Ele. E constituiu Doze, para que ficassem com Ele, para enviá-los a pregar” (Mc 3,13-14). No início do ministério já constitui a comunidade e a missão. No início do novo povo, constitui a comunidade para a vida e a missão. “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4,32). Como viviam? “Eles se mostravam assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). Isso é viver a Ressurreição. 
Leituras:Atos 4,32-35; Salmo 117;
1Jo 5,1-6; João 20,19-31 
Ficha nº 2056 
Homilia do 2º Domingo da Páscoa (11.04.21) 1. Acolhemos experiência de Cristo ressuscitado e a fazemos, porque cremos. 2. A fé um dom de Deus para fazer um mundo novo que nos insira na Vida Divina. 3. No anúncio da Ressurreição aparece o anúncio da comunidade como resultado do desígnio salvador de Deus em Cristo 
Ajuntamento sem vírus 
Vivemos um momento de tanto cuidado para não ajuntar as pessoas. Isso passa. Amanhã estaremos todos agarradinhos sem medo de vírus. A Ressurreição fez muita confusão. Foi um tal de gente trombar naquele dia. Afinal era para perder a cabeça mesmo. Façamos uma comparação. Se um familiar desaparece (nem precisa ter morrido) e consegue voltar, É uma alegria muito grande. Agora, depois de morto, aparecer no meio, todo alegre. Deve ter tido algum que tentou fugir. Mas a alegria foi muito grande. Juntos ali continuaram a missão formando comunidades unidas e atuantes. Quem acreditou entrou nesse grupo, nesse corpo de vida. Jesus também aparece sempre. Como estamos acostumados não nos assustamos.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Artigo Nº 70 - “Ressuscitados com Cristo”!

Pe Luiz Carlos de Oliveira, 
Redentorista. 
Chegamos à Páscoa! 
Foi uma longa caminhada de esforços e procura sincera de rever, reorganizar e repropor os objetivos da vida espiritual. Temos certeza que Deus faz também a parte dele. Como nos identificamos com seu Filho dileto, recebemos dele a mesma paga: somos ressuscitados com Ele. “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com Ele viveremos” (Rm 6,8). Nossa ressurreição é um fato consequente de nossa união a Cristo. Como entender nossa ressurreição em relação à ressurreição de Cristo? O que significa ressuscitar? Imaginamos ressurreição no fim dos tempos, quando, depois de mortos voltamos à vida, unindo nossa alma ao nosso corpo (que na realidade terá se dissolvido na sepultura). Este corpo material sofre um processo de transformação espiritual. Temos que levar em conta a questão tempo: Depois da morte não existe mais tempo. Por isso podemos dizer que na eternidade, um milhão de anos e um minuto tem a mesma duração. Já o salmo diz: “Porque mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que passou, e como uma vigília da noite” (Sl 90,4). Essa nossa ressurreição é garantida pela ressurreição de Cristo. Mas o que me incomoda mais é a ressurreição do dia a dia, enquanto estamos vivendo o tempo presente. Para o tempo presente temos duas modalidades de ressurreição, que na realidade é uma só. A primeira é através dos Sacramentos. Dentro da teologia dos mistérios, nós, através dos ritos sacramentais, refazemos o mesmo caminho que Cristo fez em sua Paixão, Morte e Ressurreição. Estes ritos, explicados pela Palavra de Deus fazem o gesto exterior que explica e realiza a realidade divina acontecida em nós. Por exemplo: no batismo somos imersos na graça de Cristo e em sua vida, realizando o gesto da água que é derramada sobre nós. Ela afoga o mal e nos infunde a vida divina. Não é a água, mas o que ela significa. O outro modo de ressuscitar com Cristo é refazer seu caminho de entrega a Deus e morte, com a conseqüente ação do Pai de ressuscitá-lo. Jesus quis explicar seu gesto de entrega a Deus pela morte na cruz através, do lava-pés. O serviço humilde é a expressão mais acabada de todo o projeto de Jesus e o sentido de sua morte: um serviço humilde à humanidade. “Se eu vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Eu dei-vos o exemplo para que, assim como eu fiz, vós façais também” (Jo 13,15). Lavar os pés, significa amar. “Assim como eu fiz, vocês devem fazer. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13,35). Lavar os pés foi símbolo de sua morte e de sua entrega de amor. Assim, na medida em que servimos os outros, estamos lavando seus pés e morrendo com Ele. Deste modo estamos ressuscitados com Ele e ressuscitaremos para a vida eterna.

domingo, 17 de abril de 2022

Artigo Nº 66 - DOMINGO DE PÁSCOA

Pe Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Cristo não está aqui, ressuscitou!” 
Os judeus saíram do Egito às pressas, de noite, não podendo levar nada, a não ser a massa do pão não fermentada. Puderam compreender que acontecia algo muito grande, mas tiveram toda sua história para ir todos os anos tirando deste fato novos conhecimentos e novas riquezas. Assim, no contexto litúrgico e vivencial desta celebração vivemos o mesmo fato. Jesus, de noite passou da morte para a vida, ressuscitando para uma vida totalmente nova. E deu-nos a participar desta vida. Assim, nós também, todos os anos tiramos deste fato novos conhecimentos e uma vida sempre novos. As leituras do domingo de Páscoa trazem-nos de um modo simples, a narração de um fato tão grande. Madalena vai ao sepulcro. Volta toda apavorada dizendo que tinham levado o corpo de seu Senhor. Pedro e João vão correndo e vêem e crêem. Ele não foi tirado, ressuscitou. Ali está o túmulo vazio, estão os panos. São testemunhos, mas a prova é a fé. Ele aparece para eles neste domingo, não como um morto, mas um vivo que se alimenta e entra em diálogo com eles. Justamente isso Pedro dirá no seu primeiro discurso ao povo, no dia de Pentecostes. Pedro faz uma síntese da história de Jesus: “passou entre nós fazendo o bem! Foi morto e agora ressuscitou. Nós o vimos e somos testemunhas destas coisas, nós que comemos e bebemos com Ele depois de sua ressurreição. Isso foi para a remissão dos pecados”. A segunda leitura é muito clara: se vocês acreditam, vivam agora a vida do alto, pois pelo batismo, fostes inseridos em Cristo, mortos com Ele e ressuscitados com Ele. O cristianismo encontra na sua origem uma pedra selada com um defunto perigoso dentro. A força da morte dominara o Senhor da vida. Rompendo a pedra e as portas dos infernos, o Senhor ressuscitado abre o caminho para a vida para todos, pois agora Ele é a vida. Inicialmente não tem explicação para os fatos acontecidos. Pedro e João, as mulheres e os demais apóstolos não conseguem entender o que se passa. Somente o dom da fé, dado pelo Espírito Santo, pode abre suas inteligências à compreensão superior. Assim também é para nós. Não conseguimos entender e nem passar esta verdade para nossa vida. Somente com a fé infundida em nós no Batismo e no cotidiano da vida é que compreendemos esta verdade e a transformamos em vida. Não se trata de saber explicar, mas sim acolher e viver. Nós temos esta fé, pois do contrário não poderíamos de modo nenhum viver a vida cristã nas dificuldades e glórias desta vida. Crendo e celebrando o mistério da Páscoa anualmente e cada dia, nós realizamos em nós este mesmo mistério e podemos receber a Ressurreição que Ele nos oferece. Com a fé no Ressuscitado podemos dizer como Pedro: “somos testemunhas destas coisas”. Desejamos a todos uma boa e santa Páscoa. Que os frutos da Ressurreição permaneçam em sua vida. Cristo está vivo no meio de Nós.

sábado, 16 de abril de 2022

Artigo Nº 65 - SABADO SANTO

Pe Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Cristo Ressuscitou!” 
A Igreja tem o ponto mais alto de sua vida na celebração da Vigília, onde espera a Ressurreição de seu Senhor, celebrando os sacramentos da iniciação. A densidade de ensinamentos é extremamente grande e bela. Todo o caminho quaresmal conflui para esta noite de vigília. Ali se realizam, na memória do povo de Deus, os maiores mistérios de nossa redenção: passando pela Paixão, Morte e sepultura, Cristo chega à Ressurreição. A comunidade lê as profecias e anuncia a ressurreição do Senhor. Anuncia pela palavra e realiza este mistério em cada um através dos sacramentos pascais da iniciação (Batismo, Crisma e Eucaristia). No mistério dos símbolos sacramentais, entramos no mistério do Cristo que é nossa vida. A cerimônia compõe-se de diversos elementos e símbolos cósmicos: fogo, água, óleo etc… mas o símbolo grande é a comunidade, corpo de Cristo que realiza os gestos sacramentais. Quando é bem celebrada pode dar-nos uma participação maior no mistério. Mas a melhor participação é unir-se ao Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo. Esta nos faz entender as cerimônias e perceber o mistério de Deus agindo em nós. A liturgia nos oferece tradicionalmente uma seleção muito grande de leituras do Antigo Testamento que nos fazem entrar em toda a história da salvação desde a criação, patriarcas, tendo como ponto alto a passagem do mar Vermelho, passando pelos profetas para chegar ano Novo Testamento quando nos é anunciado Cristo nossa Páscoa e proclamado vivo e ressuscitado no evangelho da Vigília. A liturgia tem sempre o aspecto memorial, o que já vem da tradição hebraica. Então se conta a história da maravilhas feitas por Deus a seu povo. O fato de contar a história é uma certeza de que Deus fará novamente aquilo que fez. Fazemos memória para que se repitam. E igualmente participamos como os antigos, nas maravilhas operadas no passado e agora para nós. Narrar é colocar-nos dentro dos fatos e dar-nos a salvação. Estamos celebrando um mistério que nos parece muito distante e muito difícil de ser entendido e praticado. Mas isso não deve nos desanimar nem desesperar, pois por enquanto vemos meio confusamente, depois veremos face a face. Deus age neste mistério como nós vemos proclamado. Não ver, não significa não ter. Não entender não significa não receber. Deus nos entende e isso basta E dá-nos seu mistério. Dá-nos a viver seu mistério de amor e ressurreição realizada em seu Filho. Abre-se para nós, nesta celebração da Ressurreição do Senhor, o caminho da vida cristã. Começamos a ser cristãos, filhos de Deus e membros do povo de Deus no momento do batismo que nos inseriu no Cristo vivo e Ressuscitado. O grande convite da Páscoa é viver a vida do Alto, como Cristo, com Cristo, por Cristo na unidade do Espírito Santo, para a glória do Pai.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Artigo Nº64 - SEXTA-FEIRA SANTA

Pe Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”
No Tríduo Pascal temos o primeiro dia que é a Celebração da Paixão e Morte do Senhor. É um dia em que não há missa, pois a missa de hoje é aquela do Calvário. Participamos da missa eterna onde Cristo, vítima, altar e sacerdote, se oferece ao Pai pelo mundo de todos os tempos. Ele é o mediador da nova e eterna aliança concluída no seu sangue. Com este sangue lavou todas nossas culpas e em seu corpo, véu do novo santuário, entramos em aliança com Deus. Pagou pelos nossos pecados. Resgatou-nos da dívida e por nos deu perfeita glória ao Pai e completa salvação a todos nós. Na celebração da Sexta feira Santa temos 4 partes: leituras, oração universal, adoração da Cruz, e comunhão eucarística. A Palavra introduz-nos em todo o mistério da Paixão do Senhor para recordar e viver este dom de salvação realizado em Cristo. O profeta Isaias já nos explica quem é este que morre na cruz: é o servo sofredor, homem das dores, desfigurado, carregou nossos sofrimentos, por suas chagas ele nos cura. Deus se agradou de sua oferta e lhe dá a luz. Por Ele somos justificados. Jesus, em todo seu mistério de morte resume sua intenção nas palavras: Pai, nas vossas mãos entrego meu espírito. Grande e santa vontade de Deus que Ele aceita e obedece ao extremo do amor pelo Pai e pelo mundo. A carta aos Hebreus descreve-o como o sacerdote que viveu em tudo nossa condição humana, menos o pecado, e assim se tornou capaz de compadecer-se de nossas dores. Por isso aproximemo-nos com confiança deste trono de graça onde poderemos receber ajuda no tempo oportuno. São palavras ricas de vida, pois nos trazem o amor total de Deus pela humanidade. Deus está morto! Este grito, no entendimento dos evangelistas, fez cair trevas sobre a terra, fender as rochas, e despertar os mortos. Céus e terra se aterrorizam diante de tamanho espetáculo de dor e de amor. Para salvar o servo, Deus não poupa seu Filho predileto e único. Por isso S.Paulo vai dizer: Gregos querem sabedoria, judeus querem milagres! Mas nós pregamos Cristo sacrificado. O que era loucura para os homens é sabedoria de Deus. Somente nele encontramos salvação. No mundo vemos crescer o ateísmo, a maldade, a morte e descrença. Fazemos religiões a nosso gosto, como os pagãos faziam deuses a sua imagem. Os deuses do poder, do prazer e do dinheiro aumentam seus domínios sob os mais diversos nomes, até falsificando a Deus, em nome de Deus. Mas nós, beijando a Cruz reverentemente. Elevamos nossa oração por todas as necessidades do mundo e por todos os homens para que tenham vida tranquila, se convertam e vivam no amor e fraternidade. Recebendo nesta celebração a Eucaristia, reafirmamos nossa fé na morte de Cristo e na sua ressurreição. Celebramos a morte de Cristo com a presença de Cristo Ressuscitado presente no meio de nós. Nada mais nos resta fazer que abraçar sua cruz e caminhar por sua estrada de entrega ao Pai e aos irmãos, unidos à Mãe das Dores.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Artigo Nº 63 - QUINTA-FEIRA SANTA

Pe Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista. 
“Isso é o meu corpo que é dado por vós” 
Iniciamos com esta celebração da “Ceia do Senhor”, o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, centro do ano litúrgico. Nele Cristo realizou a obra da redenção humana e a perfeita glorificação de Deus. Este Tríduo começa com a celebração da Quinta Feira Santa que lembra a Instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e o mandamento novo do amor. As leituras proclamam a Páscoa histórica do povo hebreu que é ao mesmo tempo profética. Proclama também a Páscoa celebrada e realizada em e por Jesus e a Páscoa celebrada pela Igreja na missa, Eucaristia que fazemos em sua memória, como Êle mandou. O sangue do cordeiro passado nas portas salvou os primogênitos da morte e abriu caminho de libertação da escravidão. Paulo narra o que recebera já por tradição da comunidade. Da páscoa hebraica Jesus fizera um memorial de sua Páscoa de Cruz e Ressurreição. A comunidade compreendeu a mudança de sentido e de conteúdo. Agora quem salva e abre caminho de libertação é Jesus que com seu sangue é o novo cordeiro libertador. Jesus no evangelho dá o sentido de sua Eucaristia e da Páscoa que fará em si mesmo: ao celebrar a ceia lava os pés dos apóstolos. E diz que devem fazer o mesmo. O que Cristo faz em sua morte é um serviço de amor à humanidade. Quando dá o pão e diz isto é meu corpo, dá o vinho e diz isto é meu sangue, diz também fazei em memória de mim. Com estas palavras e exemplo dá o conteúdo de sua Páscoa: um serviço de amor para a redenção de todos. Ele quer que sua memória permaneça ligada ao seu gesto de entrega total ao Pai pela humanidade que pecara. Não é somente uma redenção de pecado e basta, mas um redenção que transforma tudo em amor de serviço humilde aos irmãos. Eucaristia é Páscoa. Páscoa cristã é presença do amor de Jesus que redime e dá vida. Quinta feira Santa, dia da instituição da Eucaristia. Nós celebramos missa todos os dias. Por que não transformamos nosso mundo, se Jesus com uma única eucaristia realizada em seu corpo trouxe a vida ao mundo? Porque ali havia a entrega total do amor. O mandamento do amor é o fundamento da Eucaristia e do sacerdócio. Jesus parte o pão e reparte. No momento em que no mundo houver a partilha do pão para o corpo, aí poderemos celebrar bem a Eucaristia. Se na Eucaristia aprendemos de fato a repartir o pão, o mundo será salvo. Cristo é também presença que permanece: Cada sacrário que tem a presença real de Jesus seja a fonte de nosso amor e nossa dedicação ao amor dos irmãos na adoração ao Amor que sempre nos ama. Agradeço a Deus ser sacerdote e por ter podido amar tanta gente neste meu ministério. Peço que, para viver a Eucaristia, nos esforcemos muito a fim de que todos sejamos fraternos e nos ajudemos a repartir a vida para que o mundo tenha vida. Cada gesto de amor constrói a Páscoa que dura para sempre.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Nº 177 artigo - “Mistério Pascal de Cristo”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Viver o Mistério Pascal de Cristo!!! 
Que é isso? Já há tanta coisa a se fazer na Semana Santa! Tantas cerimônias, procissões, vias-sacras, reuniões e vigílias, sem falar das penitências. O que mais precisamos fazer? Simplesmente usar todos estes meios para viver o Mistério Pascal de Cristo. É uma linguagem antiga que volta a orientar a vida do povo de Deus. Não dizemos mais assistir a Semana Santa, mas participar do Mistério Pascal de Cristo. Agora o povo de Deus vive a mesma fé em outra linguagem. Agora compreende que sua vida está unida à vida de Cristo que nos une à sua vida O que é viver o Mistério Pascal de Cristo? Jesus, ao partir para o Pai, deixou-nos o Evangelho para ser sua vida em nossa vida. A Igreja, lentamente organizou a vida da comunidade. Quando falamos de Evangelho lembramo-nos também dos ensinamentos dos apóstolos que não foram escritos. É a tradição. Nela, com a leitura do Evangelho, a Igreja foi organizando a celebração da vida de Cristo em nossa vida. É liturgia. Como fazemos a celebração da vida de Cristo? A comunidade se reunia para partir o pão, isto é, celebrar a Eucaristia onde estava presente a morte e ressurreição do Senhor. Surge assim a celebração dominical. Depois surge a celebração da festa da Páscoa como a celebração mais importante do ano. Da celebração da Páscoa nasce a celebração do jejum da Sexta-feira e do sábado. Esta celebração estava direcionada ao Batismo. A comunidade fazia a preparação para os batismos, jejuando e celebrando. As celebrações se organizaram até chegar onde estamos. Assim nasceu a celebração do Mistério Pascal de Cristo. A partir século IV, celebrações da liturgia em Jerusalém têm uma característica importante: eram feitas nos lugares onde aconteceram os fatos da vida de Jesus. Lendo a Palavra de Deus, refaziam de certo modo os passos de Jesus. Assim participavam daquilo que fora a vida Jesus. O ritos exteriores como que refazendo os fatos, explicam a ação de Deus no interior de cada um. Podemos até dizer que o que realizamos em símbolos externos, Deus realiza em graça divina em nós, reproduzindo em nós a imagem e a vida de seu Filho. Pedro diz: “O batismo não consiste na remoção da imundície do corpo, mas em um compromisso solene de uma boa consciência para com deu pela ressurreição de Jesus Cristo” (1 Pd 3,21). É um conhecimento exterior que modela nosso interior. Praticamente funciona assim: a comunidade reunida tem a presença do Espírito Santo que garante a eficácia do sacramento celebrado. A Palavra de Deus proclama a presença da salvação que Cristo nos traz. Os gestos, ritos e símbolos da comunidade expressam exteriormente o que Deus realiza interiormente em cada um. A boa disposição pessoal é a condição para que a graça possa atuar. A abundante generosidade de Deus confere a cada um a participação da vida de Cristo que é viver o Mistério Pascal. O que se vive na Quaresma torna-se uma bela maneira de aprofundar-se na vida de Cristo.

nº 281 Artigo - “Vivendo a Paixão de Cristo”.

Pe.Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Segredo de um caminho. 
Jesus, quando ensinava seus discípulos, dizia: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mt 16,24). “Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo” (Jo 12,26). Há um caminho, um trilho no seguimento de Jesus. Todos nós queremos, mas nem sempre sabemos como fazer e nem se estamos fazendo. Pensamos que estamos fora da estrada. Mas Jesus tem um trilho secreto: “porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram” (Mt 7.14). Basta saber se o caminho está meio apertado para ter certeza que é a estrada justa. Não que Jesus queira nos criar dificuldades e dar uma salvação impossível. Mas se o caminho oposto é largo é porque nos facilita excessivamente fazendo somente nossos gostos. O aperto do caminho é porque se baseia na vontade do Pai. Esta Ele quis fazer. O aperto está no fato de que é único. Mas se estamos nele, estamos seguros e tranquilos. Desprezou o que o mundo poderia oferecer fora da vontade do Pai, decididamente foi para Jerusalém, como relata Lucas: “Jesus caminhava à frente, subindo para Jerusalém” (Lc 19,28). 
O caminho da Paixão de Jesus. 
Participar da Paixão de Cristo é fazer seu caminho. Participar significar unir-se a Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo. A capacidade de doação de Cristo é o conteúdo de seu sacrifício doloroso que o acompanha desde sua encarnação. Esta doação de serviço, Jesus a manifesta claramente nos dias de sua dolorosa Paixão: na Quinta-Feira Santa concretiza sua doação quando lava os pés dos discípulos. E a entrega ao serviço do próximo como realização da vontade do Pai. Este gesto se transforma na extremada entrega que faz de si mesmo, dando-se como alimento. Ele reparte e partilha o pão que é seu corpo e o vinho que é seu sangue. Este gesto é a explicação de sua entrega total na cruz. Jesus realiza em símbolos na Ceia, o que vai realizar na realidade na cruz. Quando manda fazer em sua memória, não é só repetir o gesto, mas repetir, sobretudo a entrega. Nossas missas não rendem mais para nós, porque não possuem nossa entrega com Cristo. Não fazemos memória de seu gesto redentor. O caminho da Paixão de Cristo é sua entrega como serviço humilde para garantir ao mundo o amor do Pai. Ligamos sempre a Paixão à dor, mas ela deve estar unida primeiro ao amor, pois é uma paixão de Jesus por se entregar por amor ao Pai. 
Amor é nas águas. 
Quando Jesus morre, o soldado enfiou-lhe a lança e saiu sangue e água. Estas águas se transformaram em um rio caudaloso. Ezequiel (47,1ss) explica-nos que a água brotava do limiar do templo em uma pequena fonte e depois se transformava num rio, assim também a água do lado de Cristo, novo templo, mesmo sendo pouca, transforma-se num rio onde podemos nos lavar no batismo e fecundar em nós a vida nova que vem de sua entrega ao Pai. Estas águas nascem de seu coração como uma fonte de amor, ungidas pelo seu sangue redentor. Na Noite da Páscoa, faça a renovação das promessas do Batismo e afunde-se no rio de amor que sai do lado de Cristo e se represa na sua Páscoa, fazendo um lago onde, mergulhados, deixamos nossas fraquezas e levantamos repletos da graça que dá a vida.

nº 179 Artigo - “Dias da Semana Santa”.

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Três dias de tensão. 
Hoje vamos dar uma visão de conjunto dos dias da Semana Santa, quando celebramos o Mistério Pascal de Cristo. Passado o Domingo de Ramos vivemos um clima de caminho com Cristo. Acompanhamos sua tensão interior e choques com os chefes do povo e da religião. Na 2ª,3ª e 4ª feiras, lemos textos do profeta Isaias que falam do servo sofredor. Jesus é este servidor de Deus que se entrega por nós. Nos evangelhos acompanhamos o esboçar-se da traição de Judas e a decisão dos “homens” de matar Jesus. Na quinta-feira de manhã temos a missa da bênção dos Santos Óleos (catecúmenos, crisma e enfermos) que entram na confecção dos sacramentos. Os sacramentos nascem do Mistério da morte e ressurreição de Jesus, e são eles a nos dar os frutos da redenção conquistada por Jesus. 
Uma bacia e uma toalha. 
Ao cair da tarde de 5ª feira iniciam-se as grandes celebrações. A missa da Ceia do Senhor, relembra 4 pontos fundamentais: a Eucaristia, pão e vinho que tornam presente o sacrifício redentor de Cristo; a instituição do sacerdócio quando Jesus diz: fazei isso em memória de mim; o mandamento do amor que é o caminho da vida e salvação, síntese de tudo o que Jesus foi e ensinou; a humildade, maior virtude, para viver como Jesus viveu. Mais bonito ainda é ver Jesus sintetizar tudo isso na cerimônia do Lava-pés. Ali está o sacerdócio como serviço, a maneira de amar com humildade e a explicação da Eucaristia e da morte-ressurreição de Jesus, modo de Deus amar e servir o mundo, vivido e ensinado pelos cristãos: partir e repartir. Após a missa temos a adoração silenciosa junto à agonia de Jesus no Horto das Oliveiras. Simples: ma bacia e uma toalha, resume muito.
Uma cruz e uma lágrima. 
Não temos missa na Sexta-Feira Santa, pois o sacrifício celebrado na missa se realiza em Jesus Crucificado. Ali, o Deus-Homem chega ao absurdo do amor: entregar-se pelos que ama. “Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos”. Ele era nosso amigo quando não éramos ainda seus amigos. Última gota de sangue, última prova de amor. Na liturgia das 15 horas celebramos a morte de Jesus. Ela se torna presente. Ouvimos a Palavra de Deus que proclama a presença desta morte, rezamos por todas as necessidades do mundo e adoramos Jesus morto sobre o madeiro. Quanta dor e sofrimento no Filho, na Mãe e nos amigos! “Uma espada traspassará tua alma”. Mãe das Dores, rogai por nós. Ao final temos a Comunhão. Celebramos Cristo morto, mas Ele está vivo. Por isso podemos participar totalmente de seu mistério pela comunhão de seu Corpo e Sangue redentores. 
Um túmulo vazio. 
Passamos o Sábado no silêncio ao lado do túmulo silencioso. Não há celebração, há somente a dor silenciosa pela morte de um Deus. Nosso Deus não mata, morre por nós. À hora noturna iniciamos a celebração da Vigília Pascal. É o dia que escolhi para ir para o Céu. Lindíssimo. Celebro este mistério com uma alegria incalculável. É o fogo novo, a proclamação da Páscoa, as leituras, a renovação das promessas do batismo, a celebração Eucarística. Ressuscitamos com Ele. Passemos estes dias ouvindo a Palavra e abrindo o coração.

nº 2164 - Homilia do Domingo de Ramos (10.04.210)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Domingo de Ramos” 
Bendito o que vem 
Quando lemos os textos da Palavra de Deus desse tempo da Paixão e Páscoa, ficamos atordoados de tanta riqueza da Palavra para descrever a obra do Amor de Deus pela nossa salvação. É de perguntar se estamos interessados em nossa salvação. Certo que sim. Mas como se manifesta? Começamos o caminho da Paixão e Glória. Tudo feito por Deus na linguagem humana. Todos queriam um Messias. Jesus queria que o caminho do Pai fosse realizado e todos pudessem fazê-lo para ir ao seu encontro. Vemos toda a trajetória da encarnação que culmina com a glorificação. O momento da entrada de Jesus em Jerusalém é o prenúncio de sua glória. O profeta Ageu, diante da inferioridade do novo templo, conforta o povo dizendo que a glória do novo templo será maior que a passada: “Nesse lugar Eu darei a paz” (Ag 2,9). Quando Jesus chora sobre Jerusalém, mostra sua decepção da recusa e se declara como realizador da profecia: “Ah se nesse dia, também tu conhecesses a mensagem da paz” (Lc 19,42). Ele é a Paz. Acentua-se assim a recusa. A entrada de Jesus em Jerusalém é um marco na missão de Jesus. Ele não se perde pela recusa dos chefes povo. Mas quem O recebe é o povo; é aclamado pelos pequeninos. O Reino dos Céus é dos pequeninos. Os mestres da lei querem abafar a voz dos inocentes que Nele creem. Nada abafa. Jesus responde: “Se as crianças se calarem as pedras gritarão” (Lc 19,40). Nada impede a entrada do Reino de Deus. Hoje acolhemos com o coração aberto. 
Ele se esvaziou 
Esse glorioso Messias é o “Servo Sofredor”. A liturgia de Ramos tem a gloriosa entrada do real Messias em sua cidade. Depois, em clima de dor, encontramos a misteriosa figura do “servo sofredor”. Não se tem esclarecimento de quem seja. Por isso ficou fácil ligá-la a Cristo sofredor que suporta os sofrimentos: “Ofereci as costas para me baterem, e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor é meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50,6-7). São quatro cânticos maravilhosos. Esse servo sofredor põe sua vida como resgate. E não será vencido. Sabe em quem põe sua confiança. O salmo 21 relata o sofrimento e o desamparo que sofre Jesus em sua Paixão. Ele assumiu nossas dores e carregou nossos sofrimentos. O castigo que caberia a nós recaiu sobre Ele. Por suas chagas fomos curados (Is 53,5). Certamente que não podemos ver a Paixão como dor, mas um amor que sofre pelo amado, silenciosamente. No auge da dor, sempre surge a glória. Rezamos: “Para dar um exemplo de humildade, Deus quis que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz”. Essa é a lição da Paixão. 
Esse homem era justo 
A carta aos Filipenses analisa a condição de humilhação do Filho para demonstrar o o sentido de sua entrega: “Esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com o aspecto humano, humilhou-se a si mesmo fazendo-se obediente até a morte...Por isso Deus o exaltou...assim todo joelho se dobre e toda língua proclame: Jesus é o Senhor para a glória de Deus Pai” (Fl 2,6-11). A liturgia de Ramos nos leva a compreender a passagem da glória à dor e da dor à glória. É o caminho do fiel. Sem isso, não podemos compreender, nem percorrer o caminho de Jesus. A Semana Santa percorre todos os aspectos da vida cristã e pelo sacramento a realiza.
Leituras:Lucas 1928-40; Isaias 50,5-7; 
Salmo 21; 
Filipenses 2,6-11; Lucas 23,1-49; 
Ficha nº 2164
Homilia do Domingo de Ramos(10.04.210) 
1. Jesus queria que o caminho do Pai fosse realizado e todos pudessem fazê-lo para ir ao seu encontro. 
2. Não podemos ver a Paixão como dor, mas um amor que sofre pelo amado. 
3. A carta aos Filipenses analisa a condição de humilhação do Filho para demonstrar o sentido de sua entrega. 
Não deixa de ser jumento. 
Há muitas historietas sobre o jumento que levou Jesus. Bobagens. Mas ele levou Jesus e foi escolhido. Não deixou de ser jumento. Jesus terá montado outros jumentos. Não deixam de ser jumentos. Nós levamos Jesus em nós. E nem sempre sabemos ser jumentos...fazer nossa parte.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

nº 2162 - Homilia do 5º Domingo Comum (03.04.22)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Eu não te condeno” 
Quem não tiver pecado 
O acusador, além das pedras, tem todas as armas contra o pecador, no caso da mulher colhida em adultério. Já andavam de olho nela. Queriam condenar, não a mulher, mas a misericórdia de Jesus. Essa os incomodava muito mais que os erros da mulher. Jesus estava ensinando agora dá uma aula prática sobre sua doutrina da misericórdia. Queriam ver o que dizia sobre o que a lei ensinava: “Moisés na lei mandou apedrejar tais mulheres... Que dizes tu? Diziam isso para experimentar Jesus e terem motivo de acusá-Lo” (Jo 8,1,ss). Era a lei. Jesus começou a escrever no chão. O que escrevia? Podemos nos pensar acusadores dos acusadores dizendo que Jesus escrevia os pecados deles. Mas penso que Jesus rabiscasse como a dizer: esse assunto não se me refere. Quando se diz que as coisas boas se escrevem nas pedras para a memória. As coisas más, se escrevem na areia porque não precisam ser lembradas. “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra. Jesus se sente frágil e também assume a condição da mulher, pecadora, que precisa de vida e não de condenação. “Eu vim para que tenham vida” é sua lei. “E foram saindo um a um a começar dos mais velhos” (Jo 8,9). É muito triste o pecado envelhecido. Pior é que ele leva a outros piores. O medo da mulher receber uma condenação do Mestre se transforma em um alívio;(:) “Eu também não te condeno. Podes ir, e de ora em diante não peques mais” (id 11). Voltados para a Páscoa notamos que(,) o perdão que nos é dado pelo Mistério Pascal, é total e maravilhoso. 
Força de Cristo 
No modo de Cristo agir encontra-se um novo modo de força. Quem assume Cristo em sua vida experimenta a força de sua Ressurreição. Paulo coloca o conhecimento de Jesus acima de tudo. É uma batalha contínua. A força da Ressurreição é profetizada pelas grandes maravilhas de Deus por Seu povo no Egito que se tornam pequenas na libertação do povo do exílio: “Eis que faço novas todas as coisas”. Fez uma estrada no mar, agora uma estrada no deserto onde faz correr rios de água no deserto. Mais que tudo isso é a Ressurreição de Jesus. Todas as coisas se tornam perda “diante da vantagem suprema de conhecer Jesus Cristo”. A expressão é magnífica: “Por causa Dele perdi tudo”. Considero tudo como lixo, para ganhar Jesus Cristo e ser encontrado unido a Ele. A história do povo de Deus se resume nos diversos acontecimentos da história de cada um. Uma vez que nos decidimos por Cristo, o que fazemos por Ele, e Ele faz por nós, é sempre um retrato do Êxodo e das profecias. Nós lemos as Escrituras como uma narrativa bonita, e não como um espelho de nossa vida. Como é bom se sentir escolhido no seio de Abraão, ser libertado por Moisés no Egito, consagrado na lei do Sinai e purificado no deserto. 
Maravilhas fez conosco 
Tendo o pé firme na Ressurreição, temos força e coragem de dizer como Paulo: “Esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está à frente”. Rezamos: “Dai-nos, por vossa graça, caminhar com alegria na mesma caridade que levou vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo” (Oração). Esta é a dinâmica do Mistério Pascal de Cristo: O amor é sempre uma entrega pelo mundo. “Não tem maior amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13). O amor que Paulo manifesta por Cristo é a maior pregação que possa fazer aos seus Filipenses.
Leituras:Isaías 43,16-21; Salmo 125; 
Filipenses3,8-14; Jo 8, 1-11 
Ficha nº 2162
Homilia do 5º Domingo Comum(03.04.22) 
1. O perdão que nos é dado pelo Mistério Pascal, é total e maravilhoso. 
2. Nós lemos as Escrituras como uma narrativa, e não como um espelho de nossa vida. 
3. Esta é a dinâmica do Mistério Pascal de Cristo: O amor é sempre uma entrega pelo mundo. 
Eu tenho pecado 
Esse texto da adúltera bagunça a cabeça da gente. Uma mulher que iria ser apedrejada é levada diante de Jesus. Aqueles que cumpriam a lei e a iriam apedrejar queriam mesmo era pegar Jesus. E usam essa isca da pecadora. O que passou pela cabeça dessa infeliz? Ela não se diz pecadora. Somente diz que não foi condenada. Escapou por um triz. Vamos nos colocar no lugar dela e dizer: Eu tenho pecado. E Jesus nos diz: “Ninguém te condenou?” – “Ninguém, Senhor”. Olha que conversa gostosa! Mas eu tenho pecado e reconheço. Mas ninguém me condenou. É uma escola. Deus não condena ninguém. Chama para ser acolhido. Como continuaria a história dessa mulher: “Vai e não peques mais”. São as muitas chances que Deus nos oferece.

nº 2161 Artigo - Espiritualidade da Quaresma.

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Liturgia é vida 
O Ano Litúrgico tem diversas etapas. Temos o hábito de fechar um tempo e esperar que ele volte no ano que vem. Não é uma atitude correta. Ele é vida. E como vida, permanece. Não é uma organização prática da vida oracional da Igreja. É a vivência da manifestação do Senhor que nos envolve e alimenta espiritualmente e encaminha a prática da vida cristã. Não é um texto a ser lido, mas um mistério a ser acolhido. É participação da Vida de Cristo. Como é Vida acompanha nossa vida. Não são textos lidos, gestos feitos, mas encontros com Ele nas diversas etapas de sua vida, celebrados na comunidade. Esse encontro é vida, educação e celebração. Por ele aprendemos a conhecer a Cristo em seu mistério. Recebemos o modo de viver esse tempo de salvação que nos é concedido. E nos alimentamos da graça redentora. O tempo quaresmal é uma etapa do Ano Litúrgico. Encerra-se um tempo, mas continua presente aquilo que foi vivido. Não repetimos a Quaresma, mas ela faz parte da vida e continua a nos alimentar. É Cristo em eterno mistério de redenção. Normalmente, acabado um tempo litúrgico fecham-se os livros e se guardam os adereços. Vivemos o Mistério Pascal de Cristo que nos é sempre apresentado em todas as suas dimensões. Em determinadas épocas salientamos aspectos que nos enriquecem e promovem aprofundamentos sempre maiores que nos levam a viver melhor para melhor celebrar. 
Uma Quaresma como lição 
Como viver o espírito da Quaresma durante o ano? Ela não é triste pela dor de Cristo, mas concentrada no aspecto de permanente conversão. A conversão indica o caminho de melhor conhecer Cristo e vivê-Lo melhor. Assim a conversão é permanente. Mais convertidos podemos celebrar melhor no próximo ano. É a conversão permanente e a valorização da morte do Senhor. Se contemplarmos o aspecto batismal (que não é bem notado no tempo quaresmal, mas é fundamental), poderemos valorizar nosso batismo que não foi um rito que passou, mas é a porta para todos os outros sacramentos. Valorizamos nosso batismo. Damos valores às penitências e cerimônias, mas é tempo batismal. Ela nos reforça no cotidiano de nossa vida cristã que surge do batismo. As penitências podem ser outras, mas não se deve esquecer que todo tempo é tempo de conversão. Mudam os gestos, mas o coração tem que sempre ser cuidado. A Quaresma nos leva a maior concentração. É uma escola para nossas perdas de tempo, nossos devaneios. Conversão penetra nossa vida. O ano litúrgico continua, mas com outros enriquecimentos. 
Tempo de Deus 
Como um dia difere do outro, assim o tempo de Deus é sempre novo. Sempre nos envolve e atrai. Como tempo de Deus, sempre está a nos trazer a novidade de seu Reino e de sua Pessoa. As muitas manifestações são, para nós, permanente chamado a entrar em união a sua Pessoa. Jesus não é um calendário. Ele é a manifestação de Deus que nos atrai para o convívio amoroso. “Como é bom e agradável nosso Deus! Feliz de quem encontra Nele seu refúgio”. Deus está sempre presente. Essa presença nos atrai e nos convida a levarmos adiante seu caminho de redenção a todos. Os tempos litúrgicos oferecem sempre novos conhecimentos e maneiras novas de encontrá-Lo. Assim podemos crescer Naquele que nos amou primeiro.