domingo, 27 de dezembro de 2020

nº 2026 - Homilia da Solenidade da Sagrada Família (27.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Uma família sagrada” 
Todas as famílias são sagradas 
Com família não se faz poesia, se acolhe um dom. É um retrato divino numa revelação humana. Passado o Natal temos diversas festas que continuam a acolher o Mistério da Encarnação do Filho de Deus. Assim temos uma revelação sobre o projeto de Deus, seu desígnio de salvação, feito à altura das pessoas. Deus não está lá no alto incensado por Anjos. Ele não realiza uma salvação espiritual distante da realidade. Ele é o Emanuel, o Deus Conosco. Pelo fato de se encarnar, Jesus não perde sua Divindade, mas age totalmente como humano. Menos no pecado (Hb 4,15). O prefácio do Natal nos faz cantar: “No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se um de nós, nos tornamos eternos”. Entendo que a salvação é individual, mas, sua consistência se estabelece na comunidade, e essa tem como realização na família, pois ali se pode viver o mandamento do amor que se sustenta na reciprocidade. O amor exige um objeto concreto: amar a Deus e o outro com concretização do amor. A família se torna sagrada, pois é, como que a célula mãe da Igreja. Ela é a Igreja viva. Não são os problemas que qualificam a família, mas o dom de Deus. Nela há espaço para um real e permanente espaço para o mandamento do amor. É lugar da presença de Deus. É o primeiro sacrário de sua presença: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). Ela é a realização do projeto de Jesus: amai-vos. 
Enfeites do lar cristão 
As reflexões da liturgia estão centradas na imitação da Sagrada Família, como vemos também no ofício das leituras, no discurso de Paulo VI na casa de Nazaré... Muito bonito. Na oração rezamos: “Concedei-nos imitar em nossos lares suas virtudes, para que, unidos pelos laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias da vossa casa”. Tanto a primeira leitura do Eclesiástico (3,3ss), quanto a carta aos Colossenses nos apresentam as virtudes cristãs da família. O amor é concreto e tem modalidades. No Evangelho lemos o texto da apresentação de Jesus no templo. José e Maria cumprem as determinações sobre os primogênitos. Maria entra realiza a purificação. A família é um dom que deve ser realizado como compromisso. O fato de terem em seus braços o Senhor do Universo, não deixam de viver no universo que os acolheram. Podemos cantar diante da família: “Aqui é Natal! Aqui é Belém”. Certamente muitas vezes as famílias cristãs, que são muito simples, vivem a mesma realidade que José e Maria enfrentaram ao chegar em Belém. Quanta gente está sempre emigrando. Quantas famílias vivem na humildade o amor profundo de Nazaré. As virtudes são como flores que brotam de um ramo saudável. 
Não tenham medo
Podemos até ver que o amor se difunde e se organiza de muitos modos. Mas não podemos ter medo de amar como se amou em Nazaré. É o modelo. A família não se desfaz por mudanças históricas. Permanece com uma missão, como foi a de José e Maria: “E o Menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria e a graça de Deus estava com Ele” (Lc 1,40). Cada filho é educado, como se fosse Jesus. Dentro de cada casa está um ou mais filhos de Deus. A santidade está na atitude de fazer de seu lar, um lar capaz de levar o filho a crescer como Jesus crescia. “E Jesus lhes era submisso” (Lc 2,51). O tempo passa e Jesus quer crescer dentro de uma família. Não são os costumes ou as ideias que fazem o mundo novo. Mas a graça de Deus que é eterna.
Leituras: Eclesiástico 3,3-7.14-17ª; Salmo 127; 
Colossenses 3, 12-21; Lucas 2,22-40. 
Ficha nº 2026 
Homilia da Solenidade da Sagrada Família (27.12.20) 
1. Não são os problemas que qualificam a família, mas o dom de Deus. 
2. O fato de terem em seus braços o Senhor do Universo, não deixam de viver no universo. 
3. Não são as ideias que fazem o mundo novo. Mas a graça de Deus que sempre nova. 
A família vai bem. Obrigado. 
A casa do vizinho pegando fogo e a gente não tem água para apagar. Vivemos momentos pouco familiares. Mas... ai de quem toca na minha família. É a velha moda: casinha de sapé... lá no morro, com dois coqueiros. Família é um sonho gostoso que se tem e que dá dor de cabeça. Quer mais do que Maria e José que viveram? Quanto sobressalto. Parece que eles têm tudo de atrapalhado que passamos. Não tenhamos medo de acabar a família. Quando queremos desfazer, acabamos primeiro. Família não é cultura. É vida.

nº 2025 Artigo - Era uma vez um Menino

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Disse que era berço 
Curiosamente, a homilia do Natal não “cola”. Não se chega ao conteúdo de um texto que seja interessante. A pregação parece que derrapa na quantidade dos temas. Somos como crianças que olham numa vitrine de brinquedos. Quero todos e, às vezes, não leva nenhum. É bonito o Natal, Ele encanta e basta! “Quando o mistério é muito grande não se ousa desobedecer”. Não sabemos detalhes daquela viagem a Belém. A cidade estava lotada. Ouvimos o evangelista escrever: “Não havia lugar para eles na sala”. As casas tinham uma sala maior, mais bonita, onde se reunia a família para quase tudo. Outros ambientes eram só funcionais, como a gruta que, provavelmente era ou algo natural, ou escavado, onde se guardavam coisas como cereais e os poucos animais. Só sobrou ali para eles. Pode ser que houvesse mais gente. Ali... os humildes viajantes se recostaram e chegou a hora do parto. Como foi, não é caso, mas precisava um lugar para por o Menino. Falamos manjedoura, lugar do animal comer. Era cocho mesmo. Em meio a outros lugares, aquele era o bom. Não era uma gruta fria, pois havia animais que transmitiam o calor. O berço podia ser de ouro ou madeira. O que acolhe é o amor. Simples como eram, o simples lhes era o suficiente. Ali...Meu Deus! Como podia ser assim? Séculos de esperança se resolvem naquele coxo. Sem palavras... sem questões. Ali estava Ele. O Esperado das nações. Quem sabe essa seja a melhor maneira de compreender a realização das promessas. Quando um cocho vira berço, o coração pequeno vira trono do Senhor que nasce. 
Como o sol 
Já imaginaram um Natal no escuro? O que vemos é a quantidade de lampadinhas piscando para todo lado. Há muita luz nessa noite. Os pastores dos campos de Belém estão guardando seus rebanhos. “O anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor os envolveu com sua luz... Diz: ‘Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo’” (Lc 2,9-10). O anúncio do nascimento se deu em grande luz. É aquela pequena chama que brilha no interior de uma “gruta”. São Leão Magno, Papa (440-461), escreveu os textos da liturgia da noite de Natal. Ele estava iluminado, pois colocou luz abundante em todo o texto: “Ó Deus que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no céu de sua plenitude” (Oração). O profeta diz: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is. 9,1). Luz unida à alegria. Os anjos dizem: “Eis que vos anuncio uma grande alegria”. O profeta Isaias comenta: “Fizestes crescer a alegria e aumentastes a felicidade” (id 2). O sol que é luz, é símbolo da luz que é sol para o mundo. Aquele presépio abre a felicidade. 
Mordiscavam 
Tanta luz num Pequenino envolto em faixas e deitado num cocho. Certo que tudo era tão normal. Os pastores, acolhendo o anúncio do Anjo, são os primeiros a ver o Menino. Os que não eram vistos, veem por primeiro. S. Afonso, apaixonado pelo amor que ilumina o presépio, diz que os pastores chegam tímidos e vão se aproximando para ver o Menino. E Maria O dá para eles segurarem. Virou festa. Beijam, mordiscam suas gordurinhas e O acariciam. É um Deus que não teme o calor humano. É o Deus que nos faz falta na Igreja, nas comunidades... o calor humano que é o melhor modo de manifestar o amor Divino. Fazemos um protesto: “Tiraram a carne de nosso Deus”. Ele passou por tudo que é nosso. E por isso nos entende e ama de um jeito gostoso.

nº 2024 - Homilia do 4º Domingo Do Advento (20.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Alegra-te, cheia de graça” 
 Eu te farei uma casa 
O anúncio do Anjo não se refere somente a um nascimento. Todo o mistério de Cristo é único em diversas manifestações. Rezamos: “Conhecendo a Encarnação, cheguemos, por sua Paixão e Cruz, à glória da Ressurreição”. É o que contemplamos na promessa ao rei Davi. O homem pensa as coisas do homem. Deus vê mais longe e envolve o homem nas coisas de Dele. Entramos aqui numa grande profecia feita pelo próprio Deus. Davi quer construir uma casa para Deus, isto é, um templo. Desde a saída do Egito, no Sinai, o lugar do encontro com Deus era uma tenda onde estava a arca e onde se realizavam as orações e sacrifícios. Davi se preocupou, sobretudo, porque ele tinha uma casa e Deus não. Então decidiu fazer o templo. A resposta de Deus foi clara: Nunca precisei. E lhe dá em resposta um prêmio inaudito: “O Senhor te anuncia que te fará uma casa”... Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim. E teu trono será firme para sempre” (2 Sm 7,11.16). Casa, na linguagem do Senhor, é a permanência da casa real de Davi...O herdeiro desse trono será o próprio Filho de Deus, que é um rei eterno. O Reino eterno acolhe o novo povo proveniente de todos os povos. É a estabilidade e a abertura a todos os filhos de Deus de todos os tempos. E Jesus, em seu nascimento, é anotado como herdeiro: “...Será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai; Ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1,32-33). A casa de Davi se identifica com o Reino de Deus, inaugurado pelo seu rei, Jesus. 
Casa de todos 
Encontramos um grande fechamento em Israel, considerando-se como o povo de Deus, sempre mais discriminando os outros povos. Jesus usa essa mentalidade quando atende aquela siro-fenícia chamando-a de “cachorrinho”. Ela replica dizendo que os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa dos donos. Jesus diz: “Grande é tua fé, seja-te feito como queres!” (Mt 15,21ss). A grande mensagem de Paulo revela o grande mistério: “Deus quer levar de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé” (Rm 16,26). Jesus, o herdeiro de Davi, não é mais o privilegiado sucessor, mas é o Senhor de todos. É bom notarmos que o Reino é aberto a todos, sem um modelo exclusivo. É a grande riqueza que Deus pôs nos povos. Essa riqueza nos é apresentada no dia de Pentecostes. A lista dos povos ali apresentada não significa um encontro ocasional de estrangeiros. Sua localização indica todos os pontos do mundo. É a universalidade da salvação. No recenseamento de César, que levou Jesus a nascer em Belém, Jesus foi inscrito como um no império que dominava todos os povos. A casa de Davi que dura para sempre, é uma casa para todos. 
Faça-se em mim 
A espiritualidade da encarnação nos conduz a uma atitude de obediência. Maria acolhe o projeto de Deus sobre ela. Soube discernir e, vendo sua pequenez, distinguiu as escolhas de Deus: “Grandes coisas fez em mim o todo poderoso” (Lc 1,49). Assume o projeto de Deus e diz: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Não disse: seja como Deus quer, mas “faça-se segundo a tua palavra”. Acolhe o projeto de Deus através daquele que o anuncia. Ela não disse: ‘Comigo, Deus não disse nada’. Aceitou as mediações que Deus usa. É lindo ver como o caminho da Encarnação penetra todas as realidades da fé. Deus usa o humano para que o Divino se estabeleça entre nós. Quanto mais humano, mais apto está para transmitir o que é divino. A dimensão simbólica se estabelece como doutrina.
Leituras 2 Samuel 7,1-5.8b-12.14ª.16; Salmo 88; 
Romanos 16,25-27; Lucas 1,26-38 
Ficha nº 2024
Homilia do 4º Domingo Comum (20.12.20) 
1. O herdeiro desse trono será o próprio Filho de Deus, que é um rei eterno. 
2. É bom notarmos que o Reino é aberto para todos, sem um modelo exclusivo. 
3. A espiritualidade da encarnação nos conduz a uma atitude de obediência. 
4. Se fores realmente HUMANO, alcançarás a condição Divina 
Minha casinha 
Deus prometeu a Davi uma casa eterna – sua realeza. Jesus comprou tudo. E nós, com nossa pequenez, servimos só para lacaio nesse Reino? Parece complicado. Mas na verdade funciona assim. Minha casinha, pois não tenho um reino, ela tem tudo que esse reino tem, em tamanho pequeno. É como Jesus dizia: em semente. Mas cresce na medida de nosso empenho para que o grande Reino se desenvolva.

sábado, 5 de dezembro de 2020

nº 2022 - Homilia do 3º Domingo do Advento (13.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Alegrai-vos!” 
Seu nome era João 
Advento com S. João Batista. João prepara os caminhos do Senhor e mostra presente a ação de Deus em Jesus que vem proclamar o Ano da Graça do Senhor. É o tempo de Deus agir em sua misericórdia. O nome João, Iohanan, é sua missão de misericórdia. Por isso se acentua a misericórdia de Deus; É o sinal da alegria da intervenção de Deus. Seu anúncio é para dar testemunho da luz para que todos cheguem à fé por meio dele. Viver na fé é viver na Luz. Mostra que a Luz que ilumina todo homem que vem a esse mundo é Jesus. Somente por meio Dele é que poderemos ter a luz que nos abre ao conhecimento de Deus. O texto de Isaías mostra esse tempo como o tempo de remissão total e o tempo da libertação dos pobres de todas suas cadeias e feridas. É a boa nova que agora vai dirigir os caminhos do mundo. O júbilo do profeta foi vivido por João que viu e apresentou o Messias prometido. Todo aquele que crê, torna-se uma luz e um anúncio desse tempo novo. Isso é estar “revestido com as vestes da salvação e envolvido com o manto da justiça”. Deus escolhe os pequenos para realizar suas grandes obras. Maria canta: “Ele viu a pequenez de sua serva” (Lc 1,48). João faz parte dos pequeninos, mesmo sendo um profeta de fogo, como Elias. Pequeno porque se põe ao serviço de preparar os caminhos. Ele aplaina os caminhos do Senhor. Para o retorno do povo libertado, o profeta anuncia uma bela estrada no deserto para que o povo faça com facilidade o caminho de retorno à pátria. Agora João se vê preparando o povo para o encontro com o Messias.
Estai sempre alegres 
A temática desse domingo é a alegria. A vinda do Senhor nos atiça ao júbilo de sua presença. Deus mesmo vai nos santificar em tudo: alma, espírito e corpo (1Ts 5,23). É o homem em todas suas dimensões. Não existe, na mentalidade de Paulo, santificação da alma. Mas sim do homem inteiro em tudo o que ele é e lhe pertence. Tudo isso para nos conservamos para a vinda do Senhor. Ele realiza em nós a santidade que é júbilo. A alegria é o resultado da purificação da presença de Jesus no meio de nós. Nele tudo é santificador. Santificar é colocar-se a serviço do bem. Por isso, a temática do domingo clama para a alegria. O cristão é sempre alegre. Diz-se que um santo triste é um triste santo. Vemos aí a passagem da vida comum à vida junto do Senhor que vem. É a temática que envolve o tempo de Natal. João Batista é um santo da vida madura de Jesus. Mas seu nascimento foi de grande alegria para todo o povo, pois indicava que Deus o visitava. Sua missão profética despertou o sentimento de que Deus continua falando. Celebrar o Advento é retomar o vigor da ação de Deus que é sempre rico em seus dons. 
Celebrar com júbilo 
A oração pede a Deus “que o fiel possa chegar às alegrias da Salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia”. A liturgia é o momento de entrar em contato com o mistério ocorrido e agora celebrado. Não há distância entre o celebrado e o vivido. A finalidade da celebração é tornar presente aquilo que cremos pela fé. Não há uma distância entre o fato e a celebração. “Fazei isso em memória de mim”. A memória é atualizadora do acontecimento e traz em si toda a graça reservada a esse mistério. Por isso o Mistério da Vinda futura e a Vinda na carne se tornam presentes. O ano litúrgico não é uma simples memória de acontecimentos, mas memória que torna vivos os acontecimentos. Celebrar é fazer-se presente, como o mistério se faz presente a nós. 
Leituras: Isaias 61,1-2ª.10-11; Cântico Lucas 1.; 
1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28. 
Ficha nº 2022 
Homilia do 3º Domingo do Advento (13.12.20) 
1. Todo aquele que crê, torna-se uma luz e um anúncio desse tempo novo.   
2. A alegria é o resultado da purificação da presença de Jesus no meio de nós. 
3. A finalidade da celebração é tornar presente aquilo que cremos pela fé.
A festa não acaba 
Chegados a esse tempo, temos um sabor de festa. Parece que tudo quer explicar que coisa boa vai acontecer. São poucos dias, mas de muita agitação que mexem com o coração. O Natal não acaba. É sempre vida nova que vai brotando. O Natal vem pra ficar no coração, mesmo que mudem os dias. Quem descobre sua beleza, não perde o jeito. Celebrar é gostar de viver. Viver o Natal é descobrir a fonte que jorra.

nº 2021 Artigo - Imaculada Conceição (08.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Habitação digna 
Que bom que nossa querida Mãe do Céu tenha esta proclamação tão nobre na santa a Igreja. Maria tem tantos privilégios? Que felizes são os pais e os irmãos, quando os filhos recebem uma vitória, uma medalha, um diploma... De Maria não foram inventadas virtudes, graças e dons. Foram reconhecidos. Os dogmas não são invenções, mas reconhecimento. Por isso, a Igreja se alegra com sua filha predileta, pois ela gerou Aquele que nos trouxe a Vida. Cada dogma nasce como explicação daquela verdade que Maria traz em si. Rezamos no prefácio: “A fim de preparar para vosso Filho mãe que fosse digna Dele, preservastes a Virgem Maria da mancha do pecado original, enriquecendo-a com a plenitude de vossa graça”. Temos os dogmas da Imaculada, da Maternidade Divina, de Virgindade Perpétua. Por todos esses dons será elevada ao Céu. E intervém pelo povo. A Imaculada Conceição é a árvore que dá o fruto bendito. É a nova Eva que não se deixou levar pela tentação da serpente. Maria, como Mãe de tão grande Filho, terá passado por aquelas tentações que Eva passou: “Sereis iguais a Deus” (Gn 3,5). Eva disse sim à serpente. Maria disse sim a Deus. Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38). Os privilégios de Maria, como em Jesus, são tocados pela tentação. Ela correspondia e estava sempre meditando em seu coração (Lc 2,19). O Espírito que veio sobre ela na concepção de Jesus permanece como o Mestre que a instrui para que instrua Jesus. 
Em previsão dos méritos de Cristo 
Como podemos entender que Maria vivia na plenitude da graça, antes da missão de Jesus ter se realizado. Como foi redimida, se Jesus não tinha ainda morrido por nós? A resposta está na oração na qual mostra que Deus quis preservá-la de todo pecado em previsão dos méritos de Cristo. A redenção de Cristo, realizada no seu mistério de salvação, é para todos os tempos, não só para o momento. Senão quem veio antes está perdido para sempre. Não rezamos no “Creio”: “Foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia”. Dizíamos “desceu aos infernos”... onde estavam os mortos na espera da salvação, desde Adão. A redenção é para todos os tempos. Maria é a primeira redimida. Jesus não podia entrar na corrente do pecado original, como acontece conosco e somos batizados. Por isso, formou Maria imune de todo o pecado, cheia da graça divina, para poder acolher em seu seio o Germe Divino. Jesus é a semente do mundo que se renovará em sua morte e ressurreição. 
Fomos purificados 
Maria, em sua Imaculada Conceição é modelo da nova humanidade. Modelo de raiz e modelo de vida. Assim nos são curadas as feridas do pecado e nos é estimulada uma vida que lute para tirar o mal de si e do mundo. É uma meta e um desafio. Para isso podemos contar com sua amorosa proteção e guia. Ela foi concebida sem pecado. Por isso pode curar as feridas do pecado que estão em nós. Não é um dom pessoal, mas para todo o povo de Deus. Esse dom não dispensa Maria de continuar na batalha contra o mal, como fez Jesus vencendo as tentações. Ele vencendo, deixando que a Palavra se fizesse carne nela e tomasse forma em sua vida, atenta à compreensão do mistério de seu Filho. Assim, a devoção a Maria, mais que um ato de piedade, é uma atitude de acolher o Evangelho vivido e gerado para o mundo. Seremos imaculados, não por não termos pecado, mas por buscarmos sempre a vida divina implantada em nós pelo batismo.

nº 2020 - Homilia do 2º Domingo do Advento (06.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“João, o Batista” 
Consolai, meu povo! 
Fomos alertados à vigilância. Estamos nas mãos de Deus que nos modela. Nesse segundo domingo do Advento, recebemos o convite de renovação através das palavras do maior profeta: João Batista. Ele, concretamente, veio preparar o caminho do Senhor. Ele próprio é a mensagem realizada. Ele encarna a mensagem. Sua apresentação é a de um profeta forte, curtido no deserto, capaz de anunciar com segurança a chegada do Senhor. Em si, está pronto para receber o Senhor. Absorveu a Palavra e se tornou o mensageiro. Não um mensageiro de castigos ou ameaças, mas de consolo, como retrata Isaias: “Consolai, consolai, meu povo”! É o momento de preparar os caminhos para facilitar ao máximo a vinda do Consolador, o pastor carinhoso de suas ovelhas. A vinda do Senhor no fim dos tempos é para dar o prêmio a todos: “Quero ouvir o que o Senhor dirá: é a paz que ele vai anunciar... a salvação ,está perto dos que o temem” (Sl 84). A imagem de fim dos tempos que nos é passada se atenua com as promessas de consolação. Pedro nos escreve: “O que nós esperamos, de acordo com sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). O tempo do Advento nos alerta para não nos fixarmos em um Menino Jesus bonitinho, mas no bondoso Senhor que sempre vem ao nosso encontro. Agora vem para a transformação. 
Preparai o caminho! 
O povo de Deus pagou todos seus crimes com o exílio da Babilônia. O profeta vem proclamando que a salvação vem de Deus. Deus mesmo vem libertar. E faz a entrada triunfal de um Deus libertador: “Eis o vosso Deus, eis que o Senhor vem com poder, seu braço tudo domina: eis, com Ele, sua conquista, eis à sua frente a vitória” (Is 40,10). A volta do povo do exílio se tornou uma apoteose da força poderosa de Deus em favor de seu povo. Esse tempo do Advento nos prepara e nos dispõe a participar dessa vitória. Sempre temos visto as notícias sobre o fim com um castigo, uma desgraça. Não pensa assim o nosso Deus. Ele vem nos acolher com o prêmio em sua mão. A grande desgraça é não participar da glória de Deus. Por isso rezamos na coleta: “nós Vos pedimos, que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida”. Vemos que não se fala de Natal, mas da Vinda, da qual participamos. João Batista se torna o modelo também no desapego de todo o secundário para deixar-se penetrar da Palavra de Deus. João chega com uma pregação tão diferente dos profetas anteriores. Já eram mais de 300 anos que não aparecia um profeta. Sua profecia não é ao longe. Ele apresenta o Cordeiro, Servo de Deus, presente. 
Ele virá! 
“Deus vos ilumine com o Advento do seu Filho, em cuja vinda credes e cuja volta esperais, e derrame sobre vós as suas bênçãos”. Celebrar o Natal, a vinda na condição humana é, para nós, um momento de graça para compreendermos aquele que virá no fim dos tempos. Vê-Lo pequenino, tira todo o receio de ir a seu encontro quando vier para julgar. Essa noção nós sempre a cultivamos: Em Cefalú, na Sicilia, encontramos essa confirmação: “Feito homem, o Criador dos homens; feito Redentor, julga os humanos com o coração de Deus”. Deus, nosso Juiz, é nosso mais forte advogado. Ele conhece nosso coração, pois foi Ele quem o fez. Não invocamos nossos méritos, mas venha em nosso auxílio, vossa Misericórdia. 
Leituras: Isaías 40,1-5.9-11; Salmo 84; 
2 Pedro 3,8-14;Marcos 1,11-8. 
Ficha nº 2020 
Homilia do 2º Domingo do Advento (06.12.20) 
1. A imagem de fim dos tempos se atenua com as promessas de consolação. 
2. João Batista é modelo no desapego do secundário para deixar-se penetrar da Palavra. 
3. Vê-Lo pequenino, tira todo o receio de ir a seu encontro quando vier para julgar. 
Departamento de estradas 
As estradas invadiram o mundo. Há caminhos que foram feitos pelos burros, pois para atravessar a montanhas, os animais escolheram os melhores caminhos que são usados até o dia de hoje. Como a água, o animal faz seu caminho. Assim também fizeram os homens. Para aprender os caminhos de Deus buscamos nos mapas das Escrituras. Caminhos sejam planos, retos, fáceis e até sombreados. Os caminhos de Deus são feitos para Ele passar. Esses caminhos servem também a nós. A missão da Igreja, seguindo João Batista, é despojar-se do desnecessário. Assim as estradas não terão baixios, não terão elevações. Será um caminho bom, suave e nos levará logo a sua meta que é o coração de Deus.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

nº 2018 - Homilia do 1º Domingo do Advento (29.11.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Convertei-nos”! 
 Voltai-vos para nós! 
Começamos o tempo do Advento. Nele celebramos a Segunda Vinda de Cristo e sua Vinda no Natal. É um dos mistérios da Redenção. É o fechamento de toda obra de Jesus no que se refere à vida dos homens. Ele veio trazer a salvação. Pensamos nessa Vinda somente como o final dos tempos. Assim perdemos a dimensão de uma Vinda permanente ao nosso encontro. Após a reflexão da gloriosa Vinda, voltamos nosso coração à primeira Vinda como homem. É a criança que nasce em Belém. Temos dois tempos no Advento: Refletimos a Segunda Vinda e contemplamos a primeira em seu nascimento. É o chamado à vigilância. Vigiar é estar vivo e pronto para assumir Cristo como Dom do Pai. Esperançar é esperar agindo com boas obras: Rezamos: “Concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o Reino celeste, para que, acorrendo com as boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos” (Coleta). A segunda Vinda estimula a vida da comunidade na prática das boas obras. As boas obras clamam pela presença do Senhor, mesmo que sejamos marcados pelo pecado. Não as fazemos sem o Senhor. Rezamos no salmo: “Voltai-Vos para nós, Senhor” (Sl 79). O fiel promete: “Nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus! Dai-nos vida e louvaremos vosso nome”. A conversão não é somente um arrependimento, mas é o direcionamento da vida: Estamos sempre voltados para Ele. Israel sempre acolhia as visitas de Deus. Zacarias diz: “O Senhor visitou o seu povo e o libertou” (Lc 1,68). Jesus foi a maior visita de Deus. 
Tu, nosso oleiro 
Esperançar é nos deixar nas mãos de Deus que nos trabalha como o oleiro. Ao nos formar, acolheu nosso barro e nos trabalhou. Somos obra de suas mãos. “Fomos enriquecidos em tudo” (1Cor 1,5). A vigilância nos coloca sempre nas mãos de Deus que nos prepara para ir ao encontro de seu Filho. Quer que sejamos sua imagem e tenhamos sua estatura: “... Até que todos alcancemos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado do Homem Perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef.4,13). Nesse processo de vigilância e expectativa, Deus trabalha sua criatura humana para formar em cada uma, seu Filho. Espiritualidade é deixar-se formar, como o barro nas mãos do oleiro que faz e refaz, modelando ao gosto Dele. Na condição de barro vemos nossa fragilidade: “Todos nos tornamos imundície, e todas as nossas boas obras são como um pano sujo; murchamos todos como folhas, e nossas maldades empurram-nos como o vento” (Is 64,5). O sentimento de fragilidade leva o fiel a sentir o resultado de suas atitudes. Mesmo assim continua nas mãos de Deus: “Senhor, Tu és nosso Pai, nos somos o barro; Tu, nosso oleiro, e nós todos, obras de tuas mãos” (id 7). Vigilância inclui a fragilidade. 
Vigiai 
Pelo fato de Jesus estimular à vigilância, podemos perceber que a atenção deve ser permanente. Não vivemos a fé somente em certos horários. Ela não é uma etapa, é um modo de vida. Não vivemos a fé como um programa para determinados momentos. Ela nos assume como um todo, todo tempo. Dormir não se trata do descansar, mas de dormir em serviço. A atividade da Igreja deve penetrar todos os seguimentos da vida e do mundo, não como uma religião que se impõe, mas como uma orientação para todos os momentos. É simples. “Onde há amor e caridade, Deus aí está”. É como um rosário. O que une os grãos é o fio, fazendo-as uma unidade. Vigiemos pois. 
Leituras Isaías 63,16b-17.19b; 64,2b-7;Salmo 79; 
1Coríntios 1,3-9; Marcos 13,33-37. 
Ficha: nº 2018 
Homilia do 1º Domingo do Advento (29.11.20) 
1. A conversão não é somente um arrependimento, mas é o direcionamento da vida. 
2. No processo de vigilância Deus trabalha a criatura para formar seu Filho em cada uma. 
3. Não vivemos a fé somente em certos horários. Ela não é uma etapa, é um modo de vida. 
Sai de baixo! 
Quando se fala de fim de mundo e das coisas que vem do alto, dá a impressão que a gente tem que se abaixar para não cair alguma coisa na cabeça. O que nos vai cair na cabeça quando o Senhor vier? Mas, o que interessa não é o que vem de cima (o que vem de cima é Deus quem manda), mas o que sai debaixo, o que mandamos para o alto, o que mandamos para Deus, para nossos irmãos Esse é o perigo. Deus espera nossa capacidade de fazer boas obras. São elas que nos manterão vigilantes.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Nr.2016 - Homilia de Cristo Rei (22.11.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Cristo, Rei do Universo” 
Restaurar todas as coisas 
O Papa Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei em 1925 para frear o crescimento das correntes de pensamento laicista, como o comunismo e outros que se opunham aos valores cristãos. A festa era celebrada no último domingo de outubro. Com a reforma litúrgica foi transferida para o último domingo do ano litúrgico, tendo sido reformulada sua finalidade. Antes era um tanto política. Agora tem a finalidade de mostrar Cristo para o qual converge todo o universo. A festa encerra o ano litúrgico. Não sem razão, toda a celebração é “por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós, Deus Pai, todo poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, agora e para sempre”. Só podemos dizer: “Amém!” A oração da festa apresenta a missão de Cristo Rei: “Ó Deus, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do Universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, Vos glorifiquem eternamente”. E dizemos: “Amém!”. A festa lembra a missão de Cristo que é a restauração do Universo. Não só numa dimensão espiritual, mas aquela verdadeira espiritualidade que envolve todas as realidades. Tudo seja entregue a Cristo que submete tudo ao Pai. Cristo não é um líder religioso ao lado de tantos outros. Ele é o Senhor do Universo. Seguindo o Evangelho estamos em seu Reino de justiça, amor e paz. Como Jesus é o Servo, tudo Nele é para o serviço de levar as realidades à plenitude que é servir o homem. 
Servindo vossa majestade 
Esse Rei é o pastor que conduz pelos prados e campinas verdejante, águas repousantes e restaura as forças (Sl 22). Ele instituiu um reino que consiste fundamentalmente em servi-lo no pequeno sofredor. Por isso o julgamento está na fidelidade às constituições básicas que constituem o Reino de Deus: Como cuidamos de Cristo. Esse cuidado se dá no cuidado com os necessitados. Reino é cuidar. Por isso ele é reino da verdade e da vida, de santidade e graça, justiça de amor e de paz. As questões a serem julgadas são as maiores questões que mais atingem a humanidade. São a síntese da vida e da morte do mundo. Elas atingem diretamente todos os habitantes desse Reino. São questões de vida e morte ao mundo: fome, sede, migração, vestes, doença, sistema prisional. São males que atingem toda a humanidade. Pior de tudo é que a pastoral, a teologia, a doutrina e a espiritualidade cuidam de questões, nunca do ser humano. É mais fácil e nos tira a responsabilidade pelo Reino de Deus, na pessoa do Cristo Rei-Pastor. Como Jesus se identifica com seu Reino, tudo o que é feito para cada um dos pequeninos é feito ao Rei, Filho de Deus, Salvador: “Tudo o que fizestes a um desses pequeninos, foi a mim que o fizestes ou não fizestes”. O que passa disso, só tem sentido se está voltado para essa questão fundamental. 
Libertas da escravidão 
Rezamos na oração: “Fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo vossa majestade vos glorifiquem eternamente”. Quando falamos de libertação, não há outra finalidade que a promoção do homem, da mulher e do mundo, mas também o culto a Deus. Moisés, ao libertar o povo, dizia que era para ir para prestar culto a Deus. Só existe fé quando sai dos conceitos e passa à realidade do ser humano. Só existe culto perfeito quando o Celebrado é visto no pequenino, no pobre e no deserdado. E os que possuem bens? Jesus diz sobre o homem que ajuntou muitos bens e morreu de repente; “Assim acontece com o homem que ajunta tesouros para si, mas não é rico para Deus” (Lc 12,21). 
Leituras: Ezequiel 34,11-12.15-17; Salmo 22; 1 
Coríntios 15,20-26.28; Mateus 25,1-36. 
Ficha nº 2016 
Homilia de Cristo Rei (22.11.20) 
1. A missão de Cristo é a restauração do Universo que envolve todas as realidades. 
2. As questões a serem julgadas são as maiores questões que mais atingem a humanidade. 
3. Só existe fé quando sai dos conceitos e passa à realidade do ser humano.
Um rei na rua? 
Esse negócio de ser rei é uma invenção, pois Jesus afirma que é rei, mas não é daqui. Por isso é diferente. A diferença no aqui é que Ele está na calçada batendo palmas a quem passa, o verdadeiro rei. Quando fala de autoridade, diz que é diferente. Está por baixo e não por cima. Ele não tem um sósia. É Ele mesmo que está ali, identificado para ser mais conhecido. Não quer ser conhecido pela coroa, a não ser a de espinhos, a que sobrou. Ele está no corpo ferido pelos espinhos. Quem está na rua é o rei para Jesus. A ele, Ele serve.

nº 2014 - Homilia do 33º Domingo Comum (15.11.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Tu me deste um tesouro” 
 Dar muito fruto 
A parábola do dinheiro (talentos) a ser aplicado parece ser somente um problema de má administração financeira. No contexto evangélico, esse texto segue o texto sobre as dez virgens que fala sobre a vigilância. Aqui apresenta o modo de vigiar: produzindo o que Deus nos oferece. Logo segue o texto do grande julgamento. O evangelista encerra o tempo da pregação e passa para a Paixão. No tema da vigilância e espera da vinda do Senhor, a liturgia escolhe, como exemplo, o texto de Provérbios sobre a mulher forte e virtuosa. O talento é uma moeda e não um dom. Cada talento corresponde a 40 kg de ouro. O homem entregou todos os seus bens aos seus funcionários, para que os administrassem. Um recebeu 10, outro 5, e o outro um. Os dois primeiros duplicaram o que receberam. O que recebeu um não fez nada. Dá a desculpa da severidade do senhor. Sua condenação é total. Na perspectiva da vigilância e espera da vinda do Senhor, o tempo deve ser dedicado para multiplicar os muitos dons que recebemos, tanto humanos como espirituais. Quem não procura o crescimento espiritual não crescerá diante do Senhor. Sem o crescimento humano de modo completo, também não crescerá espiritualmente. Deus não quer casca, nem fantasia espiritual. Não se pode dar desculpas espirituais para evitar o crescimento humano para o bem do mundo. A riqueza tem sentido se produz felicidade e bem estar aos outros. É a melhor maneira de fazê-la crescer equilibrando o mundo. A miséria do mundo também vem da miséria espiritual dos que têm bens. 
Mulher imagem 
A primeira leitura da celebração nos domingos, no tempo comum, é um desenvolvimento da temática do evangelho. Os dons que nos foram dados para viver do Reino de Deus são concretos e não bons desejos espirituais ou preces vazias. O texto do livro dos Provérbios sobre a “mulher forte” é um exemplo de quem vive, no dia a dia, o Reino de Deus em sua atividade de mãe família. Há uma tendência muito grande de designar o Reino somente para elementos espirituais. O Reino não se identifica como uma dimensão da vida, ao lado de outras que podem parecer mais importantes. Ele é o fundamental. A partir dele que se deve organizar a vida. Onde o Reino penetra, assume sua condição de Reino de Deus. Assim é a mulher forte. Ela vale muito. Unida ao marido lhe dá alegria. É o esteio da casa. É aquela que produz. Mas sabe igualmente cuidar dos pobres. E o escritor sagrado diz: “A mulher que teme ao Senhor, essa sim, merece louvor” (Pr 31,30). Lembramos de nossas mães. Papai dizia: “Sua mãe foi uma grande mulher”. Não podemos nos fixar só na mulher, mas ir à grande mãe que é a Igreja. Ela não é somente um lugar ou um grupinho, mas é a mãe forte de tantos filhos. É mãe ocupada que se dedica a todas as situações de seus filhos. Mas querem que fique sem vigor para mudar o mundo. 
Filhos da Luz 
Paulo nos convida a estar vigilantes, pois o Senhor está para vir a qualquer momento (1 Ts 5,2). Sem ter a intenção, ele fecha o assunto. É preciso estar atento, pois “não somos filhos das trevas, mas filhos da luz e filhos do dia” (1Ts 5,5). Caminhamos de dia não deixando que a trevas nos dominem. As obras das trevas estão presentes em nosso cotidiano. Sempre há trevas nos rodeando. A defesa contra esse mal é “temer o Senhor e trilhar seus caminhos”. A vida cristã é uma batalha. Não contra seres espirituais, mas contra os males que nos cercam. Por isso, espiritualidade aérea é pior que o mundo mau. 
  Leituras: Provérbios 31,10-13.19-20.30-31; 
Salmo 127; Mateus 25,14-30. 
Ficha nº 2014 
 Homilia do 33º Domingo Comum (15.11.20) 
1. Não se pode dar desculpas espirituais para evitar o crescimento humano para o bem do mundo. 
2. Há uma tendência de se designar o Reino somente para elementos espirituais. 
3. As obras das trevas estão presentes em nosso cotidiano. 
Assaltando o banco 
Há muitos modos de assaltar um banco. Não são os bandidos que fazem os maiores males. São os próprios donos que têm o poder nas mãos. Isso nós temos visto. Assaltar o banco de nossa vida é também não aproveitar o que podemos produzir, tanto humana como espiritualmente. Para isso não tem limites. Se não cresço prejudico o Reino. Roubar o banco de Deus não é só não fazer render os bens espirituais, mas também os bens humanos pessoais e os do mundo. Vemos, por exemplo, que muitas das invenções de nossa ciência foram feitas por sacerdotes que deram valor ao ser humano e ser mundo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

nº 2012 - Homilia do 32º Domingo Comum (08.11.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Sede de Deus” 
 Venho contemplar-vos no templo 
A leitura do Evangelho, a partir do desse domingo, inicia ensinamento de Jesus sobre a vigilância. Essa reflexão nos leva ao tema da segunda vinda de Cristo. Essa temática se inicia no final do ano litúrgico e continua no início do Advento. É o chamado a estar pronto, pois Ele pode vir a qualquer momento. Podemos até dizer: Cristo não vai vir um dia, Êle vem continuamente. E para isso, é preciso estar sempre de coração pronto. S. Agostinho dizia: “Tenho medo do Jesus que passa”. Numa visão escatológica, de fim de mundo, Ele virá sem aviso. Como na parábola das dez jovens que esperam a chegada do noivo para a festa, o óleo para as lamparinas não pode faltar. A Igreja viveu longos séculos nessa espera até angustiada. Temos a vida dos monges que passavam grande parte da noite acordados em oração. Não se pode dormir, pois Ele vai chegar. Não se pode deixar o coração adormecer no torpor de uma vida vazia. Isso não é sabedoria. Essa é o óleo que alimenta a lamparina. Quanto mais cuidado com a sabedoria, mais ela se manifesta e se torna vida em nós. É triste quando estamos sem sabedoria. “Ela se antecipa dando-se a conhecer aos que a desejam” (Sb 6,13). A busca de Deus cantada pelo salmo se descreve como a sede insuportável da terra seca. Só buscando a Deus se percebe onde está a fonte que sacia. Essa sede se desaltera quando se O busca. O fundamento de toda vida espiritual está nesse desejo de Deus. Não se trata de um eu gostaria, mas eu quero. Sem Ele, eu não vivo. 
Ficai vigiando 
Temos três aspectos que nos indicam como vigiar esperando o Senhor: a busca da sabedoria no desejo de Deus, a força atrativa da Ressurreição e o cuidado em organizar a vida, como levar o óleo suficiente. Nós nos cansamos de esperar... e começamos a cochilar. O retardamento da volta do Senhor no fim dos tempos levou a comunidade a tirar essa parte importante de nossa fé. Dizemos em cada missa: “Vinde, Senhor Jesus!”. Tornou-se um rito vazio. Quando acontecem coisas graves pelo mundo alguns dizem: “É o fim do mundo”. Vamos viver essa esperança na fé e na caridade, cultivando o íntimo desejo do Senhor. Buscando-O sempre. O desejo é real quando existe a busca. “Buscai o Senhor, já que Ele se deixa encontrar; invocai-o já que está perto” (Is .55,6). Quem busca encontra. Para nós, que cremos, há uma força atrativa que se chama ressurreição. Sem essa, não temos porque acreditar. “Se não há ressurreição dos mortos, Cristo também não ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é nossa fé” (1Cor 15,13). Sendo atraídos, cuidemos que não falte o óleo que alimente a fé; cuidemos que nossa esperança aqueça nossa caridade que é o único modo de mostrar a fé e garantir a esperança.
Inteiramente disponíveis 
As orações da celebração (coleta, oferendas e pós-comunhão), nos indicam a vivência diária: “Afastai todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis nos dediquemos ao vosso serviço” (Coleta). A espera se dá no louvor ao Senhor, estando sempre prontos para o serviço. A Eucaristia não é só um rito, mas um mistério a ser vivido (Oferendas). Dele tiramos as “energias” espirituais e humanas. O mistério é celebrado por pessoas. Por isso clama para que haja “perseverança no amor” (Pós-comunhão). A espera não se faz de palavra, mas de gestos concretos. Eucaristia não é um rito espiritual de devoção, mas é o motor transformador do mundo. Se não chega a isso, não celebramos dignamente. 
Leituras: Sabedoria 6,12-16; Salmo 62;
1 Tessalonicenses 4,13-18; Mateus 25,1-13. 
Ficha nº 2012 - 
Homilia do 32º Domingo Comum (08.11.20) 
1. Quanto mais cuidado com a sabedoria, mais ela se manifesta e toma nossa vida. 
2. O desejo é real quando existe a busca. 
3. A espera se dá no serviço do louvor ao Senhor, estando sempre prontos para o serviço. 
Acorda, gente! 
A celebração do matrimônio era rica em gestos e participação da comunidade. Uma delas era a espera do noivo para a festa. Muitas surpresas. A hora avançou, o sono chegou e a lamparina apagou. Temos então o diálogo das prevenidas e as tontas. Sair do espaço era perder a festa. Temos diálogo. Melhor prevenir e não arriscar. O Senhor desconhece quem não o espera vigilante e prevenido. Jesus quer ensinar que, é preciso, mesmo que dê umas cochiladas, é preciso estar pronto para qualquer momento. Não adianta chorar por chegar depois que o trem partiu. Jesus também nos previne. O Reino não espera.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Nr.2011 Artigo - Plenitude da Alegria

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
Fiéis no amor 
O culto aos mortos faz parte das religiões. Quanto mais primitivas, mais profundo ele é. Por quê? Tenho por mim que é a crença que a vida continua. Faz parte das religiões primitivas. Nas aldeias do interior de um país, cujo nome não me lembro onde, eles crêem que os mortos vivem nas cumeeiras das casas. Essa crença levou a criar os ritos fúnebres. Nós também, ocidentais desenvolvidos e cultos, não temos problemas de levar flores aos defuntos, fazer belos jazigos, erigir estátuas, conservar seus nomes nos logradouros, cidades etc... Os romanos tinham muito respeito pelos túmulos e faziam os “refrigérios” – refeição junto ao túmulo, como se o morto participasse. A Igreja não admitia para os cristãos, mas Santa Mônica tinha hábito de participar. Nós cremos que a vida continua e é a mesma pessoa que existe na dimensão espiritual. Desfeita essa carne, nos é dado um corpo espiritual. S. Mônica pediu que não se preocupassem quanto onde sepultá-la, mas que se lembrassem dela no altar da celebração: “Só peço que vos lembreis de mim, no altar de Deus onde estiverdes” (Confissões, Lib 9,10-11). Continuamos a força do amor que supera a própria morte. Rezamos: “A vida não é tirada, mas transformada. Desfeita nossa habitação terrena, nos é dada nos céus, uma eterna mansão” (Prefácio). O amor aos que se foram permanece com a certeza da comunicação espiritual em Cristo. Não pensamos o mundo futuro com nossas categorias, como se fosse a vida da terra. Não organizamos a vida dos que se foram. A Igreja tem a doutrina do Evangelho sobre a vida eterna. 
Do fundo do poço 
Cremos na Ressurreição dos Mortos. Mas não temos acesso ao modo como acontece. Vivemos a vida presente na condição de mortalidade com tudo que essa realidade encerra. A vida humana é muito frágil, apesar de toda a riqueza que possui. A sensação de finitude está sempre presente. Fragilidade não quer dizer inutilidade ou falta de condições. Ser frágil é um caminho aberto ao crescimento e fortalecimento. As consequências do pecado nos assustam. Os salmos retratam a condição humana e as possibilidades que Deus nos oferece: “De fundos abismos clamo a Vós, Senhor! Senhor, ouvi minha oração!”. Mas permanece a confiança: “Ponho em vós minha esperança” (Sl 129). Essa morte que vivemos em nossas dificuldades não é nosso fim. Do fundo do poço podemos laçar os olhos para o alto e ali está Aquele que é nossa luz, proteção, amor de Pai e bondade (Sl 26). Ele é o Pai e somos filhos de fato (1Jo 3,1-2). No fundo desse poço podemos lembrar a meta fundamental da missão de Jesus: “Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que Me enviou: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele Me deu, mas os ressuscite no último dia (Jo 6,38-39). Toda angústia que temos diante da morte deve ser curada com as promessas de Jesus. Isso nos tira do fundo do poço. 
Vida que permanece 
Na celebração dos mortos não podemos parar em um túmulo frio com ossos secos. A Vida permanece. Deixamos a casca e vamos ao miolo que é a vida que permanece. Dessa vida, passamos à vida eterna, perpétua, sem retorno. Vencendo todo pecado poderemos criar já o novo céu e a nova terra. A graça de Deus é permanente e não se dissolve com nossos pecados, pois ela é de Deus. Cabe a nós continuar acreditando e fazendo a vida cristã. Passado o momento doloroso da separação, continuemos unidos aos que nos precederam marcados com o sinal da fé. Ela, mais que prêmio, é missão.

sábado, 24 de outubro de 2020

nº 2010 - Homilia da Festa de Todos os Santos (01.11.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Seremos semelhantes a Ele” 
 O povo é santo 
Diz-se que a festa de Todos os Santos foi criada para que não ficassem esquecidos tantos cidadãos da Cidade do Alto, cheios de méritos e também nossos intercessores. A santidade se manifestou de muitos modos na história. Começamos pelos Apóstolos que são as pedras fundamentais da Igreja. São eles os primeiros santos do Novo Testamento. Eles iniciaram a grande imensidão de mártires que continuam até hoje, seguindo o Cordeiro em seu Calvário. Vieram os monges do deserto e das comunidades que viveram um martírio diferente na solidão, na oração e no desapego. Venceram o Inimigo. Temos, no correr dos séculos, tantos tipos de santos casados, solteiros, jovens, até crianças que viveram para Jesus. É uma festa de família que nos convida a ver, em nosso meio, tantos que vivem o Evangelho com intensidade, na simplicidade e na dureza da vida. Desses, muitos estão em outras religiões, ou são desconhecidos nas comunidades, ou se dedicam aos múltiplos ministérios da sociedade. Ultimamente foi beatificado um garotão, rei na informática, mas apaixonado por um jogo: amar Jesus de todos os modos. É Carlos Acutis, italiano de 15 anos. A santidade não se mede por muitas rezas ou milagres. Sua medida é a capacidade de amar e dedicar-se aos outros. Às vezes fazemos tantas coisas para dar uma desculpa de não querer assumir a santidade que o Evangelho oferece. São Paulo nos ensina que a maior virtude é a caridade (1Cor 13,13). Sem ela só fazemos barulho. 
Caminho suave 
Em que consiste o amor? Amar com totalidade na simplicidade, sem fazer o barulho do orgulho. Todos nós podemos amar. A santidade é uma possibilidade para todos. Essa receita Jesus no-la deu no início de seu ministério, como nos ensina S. Mateus. Ela se resume em oito pedrinhas que sustentam todo o edifício espiritual. Todas se resumem na simplicidade. Que custa ser pobre desapegado? Fica mais fácil para voar para o Céu. Aqueles que se preocupam com os outros vão ser consolados. Ser manso é tão bom. Imaginemos que esses possuirão a terra. A pessoa mansa e educada cabe em qualquer lugar. Os que procuram a justiça para o mundo são queridos pelos sofredores. E vale a pena. Por que é caminho suave? Porque é feito de misericórdia. Todos querem ser amados como são, como podem e como fazem. Só a misericórdia entende. Os brutamontes não cabem nesse mundo. Para viver nele é preciso ter pureza de coração, sem más intenções, acolhedores sem por medidas. Não somos a medida para ninguém. Nossa medida é o amor de Jesus. Mesmo que haja sofrimento, estaremos unidos ao Sofredor maior. Ele não teve medo de sofrer porque estava apoiado no caminho de simplicidade. Rezamos no salmo: “Quem subirá o monte do Senhor? O que tem mãos puras e inocente o coração”(Sl 23). 
Santidade não é sofrimento 
Fuja das pessoas e espiritualidades exigentes. As coisas difíceis a gente pega para si. Para os outros devemos facilitar o mais possível. Por isso Jesus nos coloca a grande verdade que fundamenta a espiritualidade e a santidade: “Somos chamados filhos de Deus e o somos de fato” (1Jo 1,1). Nessa filiação aprendemos a ser como Deus é. Foi isso que Jesus veio mostrar: Fazer a vontade do Pai. Foi esse seu ensinamento. Celebrando todos os santos pedimos: “Vossa graça nos santifique na plenitude do vosso amor, para que, dessa mesa de peregrinos passemos ao banquete de vosso Reino” (Pós Comunhão). Não nos falte o desejo de fazer esse caminho de santidade. Sem isso... Seremos inúteis para o mundo. 
Leituras: Apocalipse 7,2-4.9-14 ;Salmo 23;
 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12ª. 
Ficha nº 2010
Homilia da Festa de Todos os Santos (01.11.20) 
1. É uma festa de família de tantos que viveram o Evangelho na simplicidade. 
2. A santidade é uma possibilidade para todos. 
3. As coisas difíceis a gente pega para si. Para os outros devemos facilitar.
Santo do pau oco 
Jesus nos propõe um caminho de santidade. Sempre fizemos muita festa para os santos. Mas os espertalhões de sempre usavam a imagem do santo de madeira, com um buraco dentro, para esconder o ouro que contrabandeavam sem pagar “o quinto” de imposto para o rei de Portugal. Será que descobriam? Vivemos em um mundo de muita santidade, pois as pessoas, mesmo sem terem conhecimentos, fazem tantas coisas boas. Jesus não descarta só porque não tem o carimbo Dele. Dele é a riqueza que está dentro de nosso pobre interior. O santo não ganhava nada para levar o ouro. Se levarmos o ouro que é Jesus, nós não pagamos imposto e ganhamos tudo. Na comunidade aparecem pessoas que são pau oco. Não tem nada de espiritual e vivem querendo mandar nos outros. Não dá certo. A Deus não se tapea.

nº 2008 - Homilia do 30º Domingo Comum (25.10.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Dai-nos amar” 
 Capacidade de síntese 
Jesus caminha para a realização da vontade do Pai. O evangelista mostra, através das investidas dos inimigos, o núcleo de seu ensinamento. A questão agora é a fonte síntese de toda a lei. O que dá sentido a todo o ensinamento e prática da vida do povo de Deus? Jesus responde com os dois mandamentos: amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento. É o homem todo. E já emenda: amarás o próximo como a ti mesmo. Toda lei e os profetas dependem desses dois mandamentos (Mt,22,40). Eles se resumem também a vida e missão de Jesus. As palavras sobre o maior mandamento são a síntese de tudo o que Deus quer para o mundo. Para isso enviou o Filho. Por elas podemos entender que Jesus está indicando o que significará sua Paixão. São elas que nos manifestam o Mistério Pascal em seu conteúdo. É bom notar que o amor a Deus só existe quando acontece no relacionamento com o próximo. Quando se buscam outros fundamentos para a fé cristã, como por exemplo, a tradição ou princípios espirituais, é porque queremos escamotear aquilo que nos compromete. Contemplemos os movimentos espirituais, as espiritualidades, os métodos de oração, as manias religiosas! Não se importam com o amor ao próximo. Não se trata de um amor espiritualizado. Tem que ser concreto, com as mãos na massa, sujando nossos pés. Comprometer-se com o próximo como se fosse um outro eu. É o único caminho para o Céu. Jesus dizia que “estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. E poucos são os que o encontram” (Mt 7,14).
O grito do oprimido 
No livro do Êxodo, na secção do Código da Aliança, nos capítulos 21-23, há uma legislação voltada para os necessitados. Deus, como “parente do pobre”, o defende e protege através do próprio povo. Cuida do estrangeiro, do órfão e da viúva, dos endividados, e dos trabalhadores. O cuidado de Deus é como o da mãe que se levanta para ver se o filhinho está coberto. E ai de quem não respeitar o pobre que clamar a Deus. Começa pelo estrangeiro: “Não maltrateis o estrangeiro porque fostes estrangeiros” (Ex 22,20). É preciso compreender sua situação, pois Deus compreendeu a situação do povo oprimido. O órfão e a viúva eram os mais explorados por não terem direitos nem aonde recorrer, a não ser o coração ferido do Pai. Esse tem ouvidos apurados. E defenderá com rigor os pobres endividados: “Não se pode lhes cobrar juros”. O cuidado com aqueles que deram algo em penhor, vai ao ponto de Se preocupar que não passem frio. O que falta ao pobre está na conta de Deus que vai cobrar caro. “Se clamar por Mim, Eu o ouvirei porque sou misericordioso” (Id 21-26). Ele tem ouvidos atentos ao pobre. 
Fé que supera 
Paulo mantém um belo relacionamento com as comunidades que iniciou com sua pregação. Não atraia a si, mas a Cristo: “Vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra com alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações” (1Ts 1,6). Assim se tornaram modelo e missionários; Sua fé levou muitos outros a abandonarem os ídolos e aderiram ao Deus Vivo. Desse modo podemos afirmar que as comunidades vivas são grandes e mais eficientes evangelizadoras. Por isso podemos ver como dizem os evangélicos: “venha à minha igreja”. Todos são responsáveis individualmente e em comunidade pela evangelização. A celebração eucarística é a primeira comunidade evangelizadora. Evangeliza renovando-se e se renova evangelizando. 
Leituras: Êxodo 22,20-26; Salmo 17; 
1 Tessalonicenses 1,5c-10;Mateus 22,34-40. 
Ficha nº 2008 
Homilia do 30º Domingo Comum (25.10.20) 
1. O mandamento do amor é a síntese do que Deus quer. Para isso enviou o Filho. 
2. Deus, como “parente do pobre”, o defende e o protege através do próprio povo. 
3. A celebração eucarística é a primeira comunidade evangelizadora. 
Farra do amor 
Que farra! Ninguém fala isso do trabalho. O amor abre espaço a todo tipo de farra. O amor sustenta a alegria, sara as dores e conserta os estragos do ódio. É o que ensina Jesus sobre o maior mandamento. Resume toda a lei. Há quem ligue o amor a uma farra desordenada. Jesus liga o amor farrista ao cuidado com os muitos descuidos que temos com a pessoa dos necessitados, como lemos nos mandamentos do livro do Êxodo. Essa farra não só dá alegria como a multiplica. E o Pai diz amém.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Nr.2006 - Homilia do 29º Domingo Comum (18.10.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“De quem é a imagem” 
Deus é o Senhor 
Jesus se aproxima do fim de seu ministério. O evangelista resume questões fundamentais que lhe eram propostas: uma é questão de política religiosa, o imposto ao imperador, outra é de moral, o matrimônio, uma espiritual, o maior mandamento e a sua divindade. Os inimigos de tendências diferentes se ajuntam para comprometê-lo a tomar partido contra o imperador, contra o imposto ou contra o povo que não admitia esse imposto. Para fazer o mal os inimigos se combinam. Jesus pede uma moeda e pergunta: “De quem é a imagem e a inscrição?” - “De César”, respondem. E Jesus, sabendo que era uma armadilha, responde: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Essa frase já recebeu muitos sentidos. Até se falou que se refere à separação de Igreja e Estado. Nós nos fixamos na resposta de Jesus. Mas seu sentido é mais amplo. Pode-se partir dos termos imagem e inscrição da moeda. O império aceita a imagem do imperador. E até lhe fazem templos, como um culto a um deus. Todos aceitam sua política, sua ordem econômica e devolvem uma parte do dinheiro recebido de César como tributo exigido. Trata-se de restituir a César o que veio de César (Imperador). Mas a grandeza de um rei é estar a serviço de Deus, como nos apresenta a primeira leitura. É estar a serviço de Deus, como nos apresenta o texto de Isaías. Deus é o Senhor que tudo comanda: “Eu sou o Senhor, não existe outro: fora de mim não há deus”. O imperador não é dono do mundo. 
De quem é a imagem? 
Na moeda estava cunhada a imagem (ícone) do imperador. Jesus pergunta: “De quem é a imagem?” Jesus escapa da armação que lhe fazem e conduz o assunto a declarar-Se Senhor e todos como imagem de Deus. Essa temática é muito rica. Deus fez o homem a sua imagem e semelhança. Com o sopro lhe deu a existência (Gn 2,7) destinada à vida imortal. O imperador, através de sua imagem, não é o dono do mundo. Deus criou tudo e a terra é sua. Também Cesar, seu dinheiro, sua imagem, sua inscrição e seu tributo pertencem a Deus. O selo de Deus está marcado na testa dos homens. Nele pôs o selo de seu Filho (Jo 6,27). Tudo deve ser restituído a Deus. Com isso não está descartada a autoridade humana constituída para o bem do povo e que tem sua origem em Deus. Não dispensa a restituição do tributo à autoridade. Estando sujeito à autoridade deve saber que César não é autônomo. Ele também tem que prestar contas a Deus. Esse complexo de autoridade, como poder, está presente também nas autoridades eclesiásticas e naqueles que os cercam. Jesus nos mostra muito bem o que é o serviço do poder. Este deve estar a serviço da glória de Deus. O salmo convida a todas as nações que dêem ao Senhor poder e glória (Sl 95). 
Fraternidade apostólica 
Paulo em suas cartas chega aos cumes da sabedoria cristã. Mas não sai da realidade humana. Fala de coisas humanas como lemos hoje: “Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações... recordamos a atuação de vossa fé, o esforço de vossa caridade e a firmeza da vossa esperança” (1Ts 1,2-3). É uma comunidade cheia do Espírito Santo que, no dizer de Paulo, foi seu evangelizador: “O evangelho chegou até vós, não somente por meio de palavras, mas também mediante a força que é o Espírito Santo; e isso com abundância” (Id 5b). Mesmo sabendo do poder do Espírito Santo, Paulo não deixa de se comprometer afetivamente com essa comunidade (1Ts 2,17). O afeto deve permear todos os aspectos da evangelização. A fé atinge a pessoa toda em todas as suas dimensões. 
Leituras: Isaias 45,1.4-6; Salmo 95;1 
Tessalonicenses 1,1-5b; Mateus 22,15-21. 
Ficha nº 2006 - 
Homilia do 29º Domingo Comum (18.10.20)
1. A grandeza de um rei é estar a serviço de Deus. 
2. A autoridade humana que é constituída para o bem do povo, tem sua origem em Deus. 
3. O afeto deve permear todos os aspectos da evangelização e as dimensões do homem. 
Rei da cocada 
Temos muitos tipos de reis desde a Inglaterra até ao rei do carnaval, o Momo. Jesus não Se gloria de ser rei, a não ser para declarar a verdade. Ele responde a Pilatos que pergunta se Ele é rei. Responde “tu o dizes”, isto é: você que está falando. E diz que seu reino não é desse mundo. Pior é que gostamos de ser rei na Igreja. O Papa usava uma tríplice coroa. Outros, se não usam coroa, fazem o que os reis faziam e querem essas glórias. Ele foi rei coroado na cruz. Ali sim, estão as insígnias reais. Todo o poder que Jesus concede é o de servir. Para esse, não tem partido político. Nem a concorrência é grande. Os que têm vida, são os que se doam.

Nr.2005 - Artigo - “Nossa Senhora Aparecida”

Padre Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Sob o olhar de Maria 
A liturgia da festa de Nossa Senhora Aparecida procura resumir todo sentido dessa preciosa imagem que se tornou centro de devoção à Mãe de Deus. Ela, cheia de beleza, como lemos no salmo, é a mãe que intercede em Caná e se arrisca pelo povo, como Ester. Mesmo sendo a Mulher gloriosa do Apocalipse, não deixa de ser a mãe do povo que acolhe os pequeninos, os humildes que correm o risco de serem engolidos pelo dragão. Por isso, podemos rezar na oração pós-comunhão, colocando toda a nação sob o olhar de Maria: “Nós vos suplicamos, ó Deus: Dai ao nosso povo, sob o olhar de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, irmanar-se nas tarefas de cada dia para a construção do vosso Reino”. Essa oração resume bem todo caminho da Igreja do Brasil. Ela é a Mãe querida de tantos necessitados. É uma devoção que quer todos os irmãos na construção de um Reino que penetre as estruturas sociais. Vemos no santuário gente de todos os cantos do país e de tantos níveis de vida social. Todos felizes na casa da Mãe. Certamente todos são tratados com igualdade, como irmãos. Tantas crianças, jovens, idosos, doentes. Tantos que fazem imensos sacrifícios ao virem a pé, a cavalo, de moto, bicicleta. Os testemunhos são sempre maravilhosos. As promessas mostram partes do corpo onde foram curados. Como não posso me entregar essa parte de meu corpo curado, entrego uma recordação que leva junto o coração. Ali não está uma vela que queima, mas um coração que arde. 
Fiel à sua vocação 
Notamos na oração um grande estímulo à vida nacional. Certamente que a devoção à querida Imagem não tem a ver com programas políticos. Ela foi encontrada providencialmente num momento doloroso de exploração dos trabalhadores das minas. Era a opressão da “coroa” na recolha dos quintos do ouro. É a leitura que fazemos após o fato. Naquele momento foram os humildes pescadores numa pesca difícil, pescando aquela que será a alegria de um povo. Os peixes se foram e ela ficou. Ela se torna mestra no caminho da construção de um povo aberto a uma maior vitalidade humana e espiritual. Nosso povo, miscigenado de diversas raças, tem nela seu modelo: negra de cor, cabelo de índia e tipo branco. É um povo feliz que sorri acima de seus padecimentos. Por isso ela também é sorridente. Crê num futuro sempre mais justo para todos. A vocação do povo é rezada na oração: “Fiel à sua vocação e vivendo na paz e na justiça”. O povo é pacífico, ama a participação, gosta da festa, chora com os que sofrem, sabe viver todas as gamas do sentimento. Esquece a maldade e sobrevive com o pouco que recebe. Sabe multiplicar. Não pode perder essa capacidade. Unidos aos pés de Maria, na casa da Mãe, se faz irmão. Infelizmente essa vocação não chegou ao coração dos que não sabem pescar, mas somente continuar a mentalidade da “Coroa” que arranca dos suores do povo o seu melhor ouro. 
Pátria definitiva 
“No Céu, com minha Mãe estarei”. Todo esforço de transformar a terra num paraíso, não tem outro fim, que chegarmos todos à “Pátria definitiva”. “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou" (Ap 21,4). Mesmo que o ateísmo continue campeando nosso povo, resta no fundo essa barca de salvação que é o amor a Nossa Senhora Aparecida. O dragão continua perseguindo a mulher, Mãe de Jesus, Igreja de Deus (Ap 12,13). E de muitos modos persegue os descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus (Ap 12,17). Povo fiel herdará como recompensa a paz e a alegria.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

nº 2004 - Homilia do 28º Domingo Comum (11.10.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Traje da festa” 
 O banquete do Reino 
A imagem do banquete é usada nas Sagradas Escrituras como símbolo da comunhão com Deus e comunhão com as pessoas. O profeta Isaias ensina que Deus ... preparou o banquete aberto a todos. No Sinai Deus faz um banquete com os 70 anciãos (Ex 24,9-11). O banquete é sagrado porque Deus é sempre aquele que reúne. E se faz presente. Comer juntos é partilhar da mesma vida. Por isso Jesus institui a Eucaristia durante banquete pascal. E manda fazer em memória. O amor de Deus é permanente e nós participamos dele na Eucaristia. Ouvimos "Felizes os convidados para a Ceia do Senhor!” Na parábola, Deus, esposo de seu povo oferece a todos um grande banquete. Jesus é o Filho que, com sua missão, abre a casa do Pai para um banquete. O Reino é representado também por um banquete. Todos são chamados. Os servos (profetas) fazem o convite. Mas os primeiros convidados se recusam. O motivo da recusa se reduz às tendências básicas do ser humano: pão, poder e prazer: Comprei um campo, tenho cinco juntas de boi para experimentar, casei-me e não posso ir. Nossos interesses pessoais valem mais que o Reino. Então são convidados todos os que não contam na estrutura social religiosa, pobres e pagãos. Símbolo da missão. Todos recebem a veste da festa. Ao entrar para ver os convidados, o rei vê um homem que não está com a veste nupcial. É uma ofensa. Aceitar o convite do Reino é assumir com totalidade. Significa a perda da vida. Mas há uma profunda transformação de todos os males quando o Reino é implantado. 
O Senhor me conduz 
O salmo 22 coloca como ponto de chegada, os campos verdejantes e as águas repousantes. Um banquete de ovelha. Mas também confirma: “Preparais à minha frente uma mesa, bem à face do inimigo” (Sl 22). O salmo reconhece a presença do Pastor que conduziu o povo no deserto, no êxodo, não deixando faltar coisa alguma. Por isso pode ter confiança. Lembramos o discurso de Jesus como o bom Pastor (Jo 10). O relacionamento parte do mútuo conhecimento da ovelha e do pastor. Ela o segue porque sabe aonde Ele a conduz. Age no conhecimento e no afeto: “Meu cálice transborda” (Sl 22). O banquete maior é a convivência na casa do Senhor. Jesus Pastor não é o Rei que condena os que não aceitaram o convite, mas dá a vida pelas ovelhas e Se abre a todos. Vai atrás da ovelha perdida, cura as doentes e fortalece as sadias. Não usa do rebanho para seus interesses, mas para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo, 10,10). A parábola tem a dimensão missionária: ir longe, sobretudo atrás dos pobres para abrir-lhes as riquezas do Reino que não é privilégio de ninguém como era entendido pelo ,povo da Antiga Aliança. 
Deus proverá 
Paulo, a partir de sua escolha do Reino na pessoa de Jesus, tudo faz por Ele e nada o impede de ser total em sua resposta: “Sei viver na miséria e na abundância”. E diz: “Tudo posso Naquele que me conforta” (Fl4,12). A fragilidade da evangelização e de nossa resposta, é porque é dada pela metade. Deus não precisa de resto. É o que vemos: Se der tempo eu participo, ajudo, assumo... mas não assume nunca. Falta conhecer a palavra de Jesus por completo: “Buscai o Reino de Deus e sua justiça e o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33). E se não der nada: “Somos servos inúteis, fizemos o que devia ser feito” (Lc 7,10). Não se trata de inutilidade, mas de valores. Servir o Reino preenche todas nossas necessidades. Paulo disse: “Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as necessidades” (Fl 4,18). 
Leituras: Isaias 25, 6-10ª;Salmo23(22) 
Filipenses 4,12-14.19-20;Mateus 22,1-14 
Ficha nº 2004 - 
Homilia do 28º Domingo Comum (11.10.20) 
1. O motivo da recusa se reduz às tendências básicas do ser humano: pão, poder e prazer. 
2. Jesus é o Filho que, com sua missão, abre a casa do Pai para um banquete. 
3. Servir o Reino preenche todas nossas necessidades. 
Roupa errada 
Imaginou você aparecer de vermelho num velório? Até o defunto vai rir. Coisa triste é sair com a roupa errada. O texto final da parábola nos alerta que, para participar do Reino, é preciso estar com a roupa de festa. Quem ia a uma festa, recebia do dono uma roupa própria. Chic! A gente costuma dizer vestir a camisa do time quando se chama para assumir. Assumir o Reino como vida, vai exigir que seja na totalidade. Por isso a gente começa a escamotear quando chega a hora do “vamos ver”. É só ver nas comunidades: quando aparece um serviço, aparecem junto as desculpas... não posso...tenho um compromisso.... As desculpas dos personagens da parábola respondem aos nossos problemas. A displicência da resposta mostra a falta de definição. Jesus quer total adesão.
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terça-feira, 29 de setembro de 2020

nº 2002 - Homilia do 27º Domingo Comum (04.10.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“O Reino vos será tirado” 
O Senhor plantou uma vinha 
Como vamos viver nessa situação, até angustiante, diante dessa parábola? Achamos que o Evangelho serve bem para os outros. Nós mesmos tomamos as atitudes dos chefes do povo, dizendo que isso não é para nós. Essa parábola resume a história do povo de Deus, a vinha predileta do Senhor. Durante toda a história de Israel, a vinha foi um sinônimo de povo de Deus que produz frutos. Rezamos no salmo: “A vinha do Senhor é a casa de Israel”. Povos foram desalojados para dar lugar a seu povo. Quando o povo sofria perseguição e destruição, o povo reclamava: “Por que lhe destruístes a cerca?...Voltai-vos para nós...visitai a vossa vinha e protegei-a” (Sl 79) . Entra também a súplica pela conversão para que Deus retome sua vinha: “Nunca mais vos deixaremos... Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome... Se voltardes para nós seremos salvos!” (Sl 79). Isaías proclama a beleza dessa vinha e o desencanto dos resultados. O profeta narra o carinho com que Deus cuidou desse povo, como o homem que cuidou de sua vinha. A parábola de Jesus foi perfeitamente compreendida pelos chefes do povo. Deus, mandou através da história, muitos servos para buscar o fruto do povo. Eram os profetas. Todos foram mortos. Por fim, mandou o Filho que teve a mesma sorte. Os chefes do povo se fizeram donos da vinha e queriam os frutos para si. Matam até o Filho para que tudo seja só deles. Essa atitude se repete de tantas maneiras no povo de Deus, chamado Igreja. Parece um mal que não tem cura. E tantos são os “servos” que são perseguidos dentro da própria Igreja. 
Jesus, pedra angular 
Jesus é a vítima, mas também o Senhor. Completando a série de seus crimes contra os profetas enviados por Deus, os Sumos Sacerdotes e os anciãos do povo, rejeitam Jesus e O lançam fora da vinha. Jesus foi morto fora das muralhas. O Reino que Deus lhes confiou pela aliança só é realizado por Ele. Pela sua Ressurreição é agora a pedra angular que dá sustentação ao novo povo, à nova vinha. Jesus, tendo assumido sua condição de Senhor e Mestre, vai dar ao Pai o fruto que Lhe pertence. Como Filho, entrega ao Pai o que produziu sua plantação. Igualmente podemos pensar e nos perguntar, se a Igreja do momento, não faz a mesma obra dos vinhateiros sufocando o crescimento das pessoas, e não as conduzindo ao Pai. Vemos igualmente aqui, o risco de uma religião sem frutos. Parece muito a vinha que bem cuidada só produziu uvas selvagens. Estamos levando o povo da herança que Deus nos confiou a nós ou ao Pai? É necessário um grandíssimo despojamento dos que têm a responsabilidade do povo: Sair de si, de seu mundo, de suas pretensões de poder e de suas figuras deixando de lado os preferidos de Deus. Aquele que tem Cristo como sua pedra angular será a base do mundo novo querido por Jesus.
Ocupai-vos com o verdadeiro 
Paulo nos oferece uma possibilidade e um modo de viver produzindo frutos para Deus. É na simplicidade que está o vigor da vinha. A primeira orientação é não preocupar-se com nada, confiando-se à vontade Divina. Recomenda-se uma vida de oração. Nesse relacionamento cresce a paz de Deus que ultrapassa todo o entendimento. Ela guardará os corações e os pensamentos em Jesus (Fl 4,6-7). Vejamos como Paulo vê a comunidade Igreja: “Ocupai-vos com tudo que é verdadeiro, respeitável, justo, puro amável, honroso, tudo que e virtude” (id 8). O vigor e o fruto da vinha estão na vida simples do cristão que vive sua fé. Assim os frutos amadurecerão na vida de cada um e serão entregues a Deus Pai. 
Leituras Isaias 5,1-7; Salmo 79; 
Filipenses 4,6-9; Mateus 21,33-43 
Ficha nº 2002 - 
Homilia do 27º Domingo Comum (04.10.20) 
1. Nós mesmos tomamos as atitudes dos chefes do povo dizendo que isso não é para nós. 
2. Pela Ressurreição é agora a pedra angular que dá sustentação à nova vinha. 
3. O vigor e o fruto da vinha estão na vida simples do cristão que vive sua fé. 
Perdemos a roça 
 Nós somos práticos em aplicar a bíblia aos outros e esquecemos que podemos estar incluídos nessa acusação de Jesus: “O Reino vos será tirado e entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21,43). Dizemos que os crentes crescem por todos os lados e que em cada garagem há uma igreja. Há outras razões. Mas o que fazemos por nossa fé. Países inteiros que eram católicos ficaram ateus. Pergunto: como eram os bispos, os cardeais, os padres, os leigos dessas comunidades? Quem é que vai às periferias e se gasta pelos necessitados? Como os padres, as paróquias recebem os pobres? As donas e donos do pedaço não abrem espaço. Pensamos só em nós, em nossos esquemas, em nossas tradições e não somos capazes de reformar. Ai de quem muda uma cadeira do lugar. O Brasil está entrando por esse caminho de ateísmo. As classes populares, depois dessa onda crente vai ficar atéia...Que fazemos?

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

nº 2000 Homilia do 26º Domingo Comum (27.09.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“A escolha que salva” 
 Eles nos precederão 
Um pai que confia nos filhos e abre possibilidades de participar de sua vida. E como resposta tem o desconhecimento. Jesus conta uma parábola dos dois filhos que recebem ordem do pai para irem trabalhar em sua vinha. Um diz sim e não vai, o outro diz não, mas, refletindo melhor, vai. Está comparando com a resposta que os chefes do povo dão a Deus. Deus o escolheu e lhe deu uma missão. Por sua vida e procedimento deram uma resposta negativa. Os pecadores, cobradores de impostos e prostitutas, por sua vida, davam uma resposta negativa, mas acolheram Jesus e creram Nele. Por isso precederão aos escolhidos de Deus que não responderam crendo em Jesus. Os pecadores creram e se arrependeram. Os sumos sacerdotes e os chefes não creram e nem mudaram de vida. Vemos na Igreja uma religiosidade que não penetra o coração e causa um fechamento à proposta do Reino que tocaria profundamente suas vidas. Não houve conversão. Para nós, que pensamos que vivemos o Reino de Deus, essa parábola nos leva a refletir sobre as permanentes propostas de Deus para nossa vida cristã na comunidade e, mesmo não negando abertamente, tomamos atitudes de quem desconhece. Como se diz: “O assunto não é comigo”. O que dá vigor ao Evangelho é a resposta dada com radicalidade. A primeira leitura mostra que Deus perdoa quando há conversão. E, se vivermos mal, passamos para a desobediência e perdemos a graça e a salvação. 
Ter os sentimentos de Cristo 
Paulo, nessa carta aos Filipenses, se debruça sobre o mistério de Cristo numa grande meditação de sua condição Divina que se encarna e vai ao extremo, a morte. O texto não é da teologia de Paulo. É um hino que o encantou. É a grande reflexão sobre a aniquilação (kénosis) que Cristo faz para salvar a humanidade e comunicar sua vida e sua graça. Vemos aí a força de reflexão dessa comunidade. Compreendeu que a Encarnação não é a bela festa de Natal, mas é o tremendo abaixamento do mistério de Deus que se abre ao mistério do homem perdido pelo pecado. É o mistério da obediência que ouve a vontade do Pai e vai ao extremo em sua realização. “Por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome” (Fl 2,9). Paulo descreve que essa é a atitude que nos faz ter os mesmos sentimentos de Cristo que é o modelo da vida da comunidade. Somente assim vamos construir uma Igreja que pode ter força de mudar o mundo. Não é essa a mentalidade do mundo. As pessoas que melhor serviram o mundo foram as que pensaram mais nos outros. Somos assim conhecidos por nosso Pastor, como cantamos na aclamação ao Evangelho: “Minhas ovelhas escutam minha voz e eu as conheço. Então elas me seguem”. 
Que Deus se lembre 
Nesse contexto um pouco tenso, contemplamos Aquele que será nosso “terrível” juiz. Provocamos Deus para que se lembre e faça memória de sua bondade: “Recordai, Senhor e vossa compaixão que são eternas... lembrai-vos porque sois misericórdia e bondade sem limites” (Sl 24). Estamos em contínua reflexão sobre nossa condição de fragilidade e risco de nos perder no caminho de Deus. Por isso clamamos com força que cuide de nós e “não nos deixe cair em tentação e nos livre do mal”. Que tenhamos sempre os sentimentos de Jesus. Assim não corremos o risco de nos perder. Ele é a salvação. Saindo de nós, encontramos os irmãos aos quais vamos, como fez Jesus ao dar a vida. 
Leituras: Ezequiel 18,255-28; Salmo 24; 
Filipenses 2,1-1; Mateus 21,28-32. 
Ficha nº 2000 
Homilia do 27º Domingo Comum(27.09.20) 
1. Uma religiosidade que não penetra o coração se fecha à proposta do Reino. 
2. Os sentimentos de Cristo são o modelo da vida da comunidade. 
3. Provocamos Deus para que se lembre, faça memória de sua bondade.
Afundou sem afogar 
É bonito ver quem sabe se virar dentro d’água. Parece peixe dentro d’água. Deve ser triste se afogar. Estamos diante de Deus que nos dá o exemplo maior de viver na pessoa de seu Filho. A carta aos Filipenses faz uma apresentação de Jesus que mostra como se afundar sem se afogar e se perder. Em sua entrada no mundo para nossa, Ele se afundou totalmente na condição humana. Para Ele não era problema nenhum se humilhar até o extremo: se fez homem, se fez escravo, se fez obediente até à morte e morte de cruz. Afundou mesmo. Por isso Deus O exaltou. Não vai haver subida, se não houve essa descida, como fez Jesus. Hoje cheguei ao número 2000. Que faça bem a muitos. Agradeço a atenção e colaboração. Foi um esforço conjunto. Deus seja louvado pelo bem que fizemos.
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nº 1998 - Homilia do 25ª Domingo Comum (20.09.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Pensar como Deus” 
 Direito de ser bom 
O profeta Isaías nos traz o pensamento de Deus “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos”. São tão distantes como a terra do céu (Is 55,8). Esse texto de Isaías nos ajuda a fazer uma leitura do texto do evangelho de Mateus sobre os trabalhadores da última hora. O modo de agir de Deus não parte de uma justiça de contrato, mas da justiça do amor e da benevolência. Esse texto sobre o modo de Deus distribuir seus dons, responde a uma necessidade da comunidade primitiva. Havia judeus que se tornaram cristãos e traziam toda a herança milenar de Israel. Como nos diz Paulo: “Aos israelitas pertence a adoção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas, aos quais também pertencem os patriarcas e dos quais, descendente, o Cristo, segundo a carne...” (Rm 9,4-5). Para Paulo, era dor ter de ser separado do povo. Os convertidos judeus, com esse passado, se sentiam invadidos pelos pagãos convertidos que eram colocados em pé de igualdade. Estes são os “operários da última hora”, das cinco da tarde. Na Igreja são todos iguais. Está afirmando que Deus trata a todos de modo igual. Deus retribui com justiça, mas sua justiça supera a justiça humana. Não desprezou os judeus, mas trouxe outros. Abre a todos, sua bondade. Podemos notar que havia grandes cristãos, vindos do paganismo, como muito entusiasmo por Cristo. Essa realidade nós a encontramos nas comunidades quando chegam novos membros. Deus é diferente: abre as riquezas de seu amor para todos. É preciso ser generoso como Deus. 
Viver à altura do Evangelho 
Para pensar como o Pai, é preciso passar a viver como Paulo. Somente na união, cada vez mais íntima com Jesus que podemos entender e viver como o Pai, como vimos na parábola. Assim vamos aproximar de Deus nossos pensamentos como também nossos caminhos (Is 55.8-9). Paulo, em sua trajetória passou de perseguidor a ser proclamador da fé em Jesus. Ele une de tal modo sua vida a Cristo que afirma: “Para mim viver é Cristo e o morrer é lucro”. Dá a entender que morrer na terra e viver no Céu com Cristo, são a mesma coisa. Desejaria muito estar com Cristo, mas, se continuar em seu trabalho é frutuoso para os cristãos, não sabe o que escolher. Mas já tem sua escolha feita: “Uma só coisa importa: que vivam à altura do Evangelho de Cristo” (Fl 1,27ª). Continua para que os cristãos vivam sempre melhor sua fé. Na recitação do salmo temos a explicitação desse Senhor ao qual dedicamos nossa vida “Misericórdia e piedade é o Senhor, Ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos. Sua ternura abraça toda criatura... está perto da pessoa que o invoca” (Sl 144). Um Deus assim atrai mesmo. Mas para Paulo, o segredo da espera é fazer o que Deus faz e como faz. 
Os últimos serão os primeiros 
“Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (Mt 20,16ª). É uma afirmação complicada. Somente quem compreende a lógica do amor pode entender essa frase. Ninguém pode reclamar. Os primeiros não podem reclamar do patrão. Os que são últimos se tornam primeiros sem reclamar. O pagamento foi um “denário”. Nele há a imagem de César e a inscrição. Todos os batizados recebem a imagem de Cristo no batismo e devem devolvê-la a Deus. Todos recebem a imagem e a semelhança de Deus e de sua bondade participada por todos. E a Palavra divina que consagra no batismo (T.Frederici). Todos estão em igualdade diante de Deus que convida a trabalhar. 
Leituras Isaias 55,6-9 Sl 144 
Filipenses 20c-24.27ª; Mateus 20,1-16ª. 
Ficha nº 1998 
Homilia do 25ª Domingo Comum(20.09.20) 
1. Deus retribui com justiça, mas sua justiça supera a justiça humana. 
2. Somente na união mais íntima com Jesus que podemos entender e viver como o Pai. 
3. Somente quem compreende a lógica do amor pode entender a parábola dos operários. 
“De trás prá frente” 
É mais fácil explicar complicado. Jesus, de vez em quando, dava um nó cérebro dos discípulos. É simples, mas a gente entende complicado. Jesus contou uma parábola do homem que foi contratar gente para trabalhar na roça dele. E prometeu a diária. Havia um sistema de trabalho de bóia fria em que os que estavam sem trabalho se juntavam num lugar e, quem precisava de gente para trabalhar ia lá. Ali se combinava. Ainda existe isso naquelas regiões. Então, como o serviço era muito, ele foi em diversos horários chamando outros e dizendo que acertava depois. Já não era mais a diária. No fim do dia, no acerto, Ele começou de trás prá frente, pagando aos de uma hora de serviço, o que era para uma diária. Os primeiros disseram: tamos feitos. E nada. Então azedaram. Qual o combinado? Então entendemos que Deus nos dá sempre muito mais que merecemos. Ele é generoso com todos.