quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Nr.2011 Artigo - Plenitude da Alegria

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
Fiéis no amor 
O culto aos mortos faz parte das religiões. Quanto mais primitivas, mais profundo ele é. Por quê? Tenho por mim que é a crença que a vida continua. Faz parte das religiões primitivas. Nas aldeias do interior de um país, cujo nome não me lembro onde, eles crêem que os mortos vivem nas cumeeiras das casas. Essa crença levou a criar os ritos fúnebres. Nós também, ocidentais desenvolvidos e cultos, não temos problemas de levar flores aos defuntos, fazer belos jazigos, erigir estátuas, conservar seus nomes nos logradouros, cidades etc... Os romanos tinham muito respeito pelos túmulos e faziam os “refrigérios” – refeição junto ao túmulo, como se o morto participasse. A Igreja não admitia para os cristãos, mas Santa Mônica tinha hábito de participar. Nós cremos que a vida continua e é a mesma pessoa que existe na dimensão espiritual. Desfeita essa carne, nos é dado um corpo espiritual. S. Mônica pediu que não se preocupassem quanto onde sepultá-la, mas que se lembrassem dela no altar da celebração: “Só peço que vos lembreis de mim, no altar de Deus onde estiverdes” (Confissões, Lib 9,10-11). Continuamos a força do amor que supera a própria morte. Rezamos: “A vida não é tirada, mas transformada. Desfeita nossa habitação terrena, nos é dada nos céus, uma eterna mansão” (Prefácio). O amor aos que se foram permanece com a certeza da comunicação espiritual em Cristo. Não pensamos o mundo futuro com nossas categorias, como se fosse a vida da terra. Não organizamos a vida dos que se foram. A Igreja tem a doutrina do Evangelho sobre a vida eterna. 
Do fundo do poço 
Cremos na Ressurreição dos Mortos. Mas não temos acesso ao modo como acontece. Vivemos a vida presente na condição de mortalidade com tudo que essa realidade encerra. A vida humana é muito frágil, apesar de toda a riqueza que possui. A sensação de finitude está sempre presente. Fragilidade não quer dizer inutilidade ou falta de condições. Ser frágil é um caminho aberto ao crescimento e fortalecimento. As consequências do pecado nos assustam. Os salmos retratam a condição humana e as possibilidades que Deus nos oferece: “De fundos abismos clamo a Vós, Senhor! Senhor, ouvi minha oração!”. Mas permanece a confiança: “Ponho em vós minha esperança” (Sl 129). Essa morte que vivemos em nossas dificuldades não é nosso fim. Do fundo do poço podemos laçar os olhos para o alto e ali está Aquele que é nossa luz, proteção, amor de Pai e bondade (Sl 26). Ele é o Pai e somos filhos de fato (1Jo 3,1-2). No fundo desse poço podemos lembrar a meta fundamental da missão de Jesus: “Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que Me enviou: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele Me deu, mas os ressuscite no último dia (Jo 6,38-39). Toda angústia que temos diante da morte deve ser curada com as promessas de Jesus. Isso nos tira do fundo do poço. 
Vida que permanece 
Na celebração dos mortos não podemos parar em um túmulo frio com ossos secos. A Vida permanece. Deixamos a casca e vamos ao miolo que é a vida que permanece. Dessa vida, passamos à vida eterna, perpétua, sem retorno. Vencendo todo pecado poderemos criar já o novo céu e a nova terra. A graça de Deus é permanente e não se dissolve com nossos pecados, pois ela é de Deus. Cabe a nós continuar acreditando e fazendo a vida cristã. Passado o momento doloroso da separação, continuemos unidos aos que nos precederam marcados com o sinal da fé. Ela, mais que prêmio, é missão.

sábado, 24 de outubro de 2020

nº 2010 - Homilia da Festa de Todos os Santos (01.11.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Seremos semelhantes a Ele” 
 O povo é santo 
Diz-se que a festa de Todos os Santos foi criada para que não ficassem esquecidos tantos cidadãos da Cidade do Alto, cheios de méritos e também nossos intercessores. A santidade se manifestou de muitos modos na história. Começamos pelos Apóstolos que são as pedras fundamentais da Igreja. São eles os primeiros santos do Novo Testamento. Eles iniciaram a grande imensidão de mártires que continuam até hoje, seguindo o Cordeiro em seu Calvário. Vieram os monges do deserto e das comunidades que viveram um martírio diferente na solidão, na oração e no desapego. Venceram o Inimigo. Temos, no correr dos séculos, tantos tipos de santos casados, solteiros, jovens, até crianças que viveram para Jesus. É uma festa de família que nos convida a ver, em nosso meio, tantos que vivem o Evangelho com intensidade, na simplicidade e na dureza da vida. Desses, muitos estão em outras religiões, ou são desconhecidos nas comunidades, ou se dedicam aos múltiplos ministérios da sociedade. Ultimamente foi beatificado um garotão, rei na informática, mas apaixonado por um jogo: amar Jesus de todos os modos. É Carlos Acutis, italiano de 15 anos. A santidade não se mede por muitas rezas ou milagres. Sua medida é a capacidade de amar e dedicar-se aos outros. Às vezes fazemos tantas coisas para dar uma desculpa de não querer assumir a santidade que o Evangelho oferece. São Paulo nos ensina que a maior virtude é a caridade (1Cor 13,13). Sem ela só fazemos barulho. 
Caminho suave 
Em que consiste o amor? Amar com totalidade na simplicidade, sem fazer o barulho do orgulho. Todos nós podemos amar. A santidade é uma possibilidade para todos. Essa receita Jesus no-la deu no início de seu ministério, como nos ensina S. Mateus. Ela se resume em oito pedrinhas que sustentam todo o edifício espiritual. Todas se resumem na simplicidade. Que custa ser pobre desapegado? Fica mais fácil para voar para o Céu. Aqueles que se preocupam com os outros vão ser consolados. Ser manso é tão bom. Imaginemos que esses possuirão a terra. A pessoa mansa e educada cabe em qualquer lugar. Os que procuram a justiça para o mundo são queridos pelos sofredores. E vale a pena. Por que é caminho suave? Porque é feito de misericórdia. Todos querem ser amados como são, como podem e como fazem. Só a misericórdia entende. Os brutamontes não cabem nesse mundo. Para viver nele é preciso ter pureza de coração, sem más intenções, acolhedores sem por medidas. Não somos a medida para ninguém. Nossa medida é o amor de Jesus. Mesmo que haja sofrimento, estaremos unidos ao Sofredor maior. Ele não teve medo de sofrer porque estava apoiado no caminho de simplicidade. Rezamos no salmo: “Quem subirá o monte do Senhor? O que tem mãos puras e inocente o coração”(Sl 23). 
Santidade não é sofrimento 
Fuja das pessoas e espiritualidades exigentes. As coisas difíceis a gente pega para si. Para os outros devemos facilitar o mais possível. Por isso Jesus nos coloca a grande verdade que fundamenta a espiritualidade e a santidade: “Somos chamados filhos de Deus e o somos de fato” (1Jo 1,1). Nessa filiação aprendemos a ser como Deus é. Foi isso que Jesus veio mostrar: Fazer a vontade do Pai. Foi esse seu ensinamento. Celebrando todos os santos pedimos: “Vossa graça nos santifique na plenitude do vosso amor, para que, dessa mesa de peregrinos passemos ao banquete de vosso Reino” (Pós Comunhão). Não nos falte o desejo de fazer esse caminho de santidade. Sem isso... Seremos inúteis para o mundo. 
Leituras: Apocalipse 7,2-4.9-14 ;Salmo 23;
 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12ª. 
Ficha nº 2010
Homilia da Festa de Todos os Santos (01.11.20) 
1. É uma festa de família de tantos que viveram o Evangelho na simplicidade. 
2. A santidade é uma possibilidade para todos. 
3. As coisas difíceis a gente pega para si. Para os outros devemos facilitar.
Santo do pau oco 
Jesus nos propõe um caminho de santidade. Sempre fizemos muita festa para os santos. Mas os espertalhões de sempre usavam a imagem do santo de madeira, com um buraco dentro, para esconder o ouro que contrabandeavam sem pagar “o quinto” de imposto para o rei de Portugal. Será que descobriam? Vivemos em um mundo de muita santidade, pois as pessoas, mesmo sem terem conhecimentos, fazem tantas coisas boas. Jesus não descarta só porque não tem o carimbo Dele. Dele é a riqueza que está dentro de nosso pobre interior. O santo não ganhava nada para levar o ouro. Se levarmos o ouro que é Jesus, nós não pagamos imposto e ganhamos tudo. Na comunidade aparecem pessoas que são pau oco. Não tem nada de espiritual e vivem querendo mandar nos outros. Não dá certo. A Deus não se tapea.

nº 2008 - Homilia do 30º Domingo Comum (25.10.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Dai-nos amar” 
 Capacidade de síntese 
Jesus caminha para a realização da vontade do Pai. O evangelista mostra, através das investidas dos inimigos, o núcleo de seu ensinamento. A questão agora é a fonte síntese de toda a lei. O que dá sentido a todo o ensinamento e prática da vida do povo de Deus? Jesus responde com os dois mandamentos: amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento. É o homem todo. E já emenda: amarás o próximo como a ti mesmo. Toda lei e os profetas dependem desses dois mandamentos (Mt,22,40). Eles se resumem também a vida e missão de Jesus. As palavras sobre o maior mandamento são a síntese de tudo o que Deus quer para o mundo. Para isso enviou o Filho. Por elas podemos entender que Jesus está indicando o que significará sua Paixão. São elas que nos manifestam o Mistério Pascal em seu conteúdo. É bom notar que o amor a Deus só existe quando acontece no relacionamento com o próximo. Quando se buscam outros fundamentos para a fé cristã, como por exemplo, a tradição ou princípios espirituais, é porque queremos escamotear aquilo que nos compromete. Contemplemos os movimentos espirituais, as espiritualidades, os métodos de oração, as manias religiosas! Não se importam com o amor ao próximo. Não se trata de um amor espiritualizado. Tem que ser concreto, com as mãos na massa, sujando nossos pés. Comprometer-se com o próximo como se fosse um outro eu. É o único caminho para o Céu. Jesus dizia que “estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. E poucos são os que o encontram” (Mt 7,14).
O grito do oprimido 
No livro do Êxodo, na secção do Código da Aliança, nos capítulos 21-23, há uma legislação voltada para os necessitados. Deus, como “parente do pobre”, o defende e protege através do próprio povo. Cuida do estrangeiro, do órfão e da viúva, dos endividados, e dos trabalhadores. O cuidado de Deus é como o da mãe que se levanta para ver se o filhinho está coberto. E ai de quem não respeitar o pobre que clamar a Deus. Começa pelo estrangeiro: “Não maltrateis o estrangeiro porque fostes estrangeiros” (Ex 22,20). É preciso compreender sua situação, pois Deus compreendeu a situação do povo oprimido. O órfão e a viúva eram os mais explorados por não terem direitos nem aonde recorrer, a não ser o coração ferido do Pai. Esse tem ouvidos apurados. E defenderá com rigor os pobres endividados: “Não se pode lhes cobrar juros”. O cuidado com aqueles que deram algo em penhor, vai ao ponto de Se preocupar que não passem frio. O que falta ao pobre está na conta de Deus que vai cobrar caro. “Se clamar por Mim, Eu o ouvirei porque sou misericordioso” (Id 21-26). Ele tem ouvidos atentos ao pobre. 
Fé que supera 
Paulo mantém um belo relacionamento com as comunidades que iniciou com sua pregação. Não atraia a si, mas a Cristo: “Vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra com alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações” (1Ts 1,6). Assim se tornaram modelo e missionários; Sua fé levou muitos outros a abandonarem os ídolos e aderiram ao Deus Vivo. Desse modo podemos afirmar que as comunidades vivas são grandes e mais eficientes evangelizadoras. Por isso podemos ver como dizem os evangélicos: “venha à minha igreja”. Todos são responsáveis individualmente e em comunidade pela evangelização. A celebração eucarística é a primeira comunidade evangelizadora. Evangeliza renovando-se e se renova evangelizando. 
Leituras: Êxodo 22,20-26; Salmo 17; 
1 Tessalonicenses 1,5c-10;Mateus 22,34-40. 
Ficha nº 2008 
Homilia do 30º Domingo Comum (25.10.20) 
1. O mandamento do amor é a síntese do que Deus quer. Para isso enviou o Filho. 
2. Deus, como “parente do pobre”, o defende e o protege através do próprio povo. 
3. A celebração eucarística é a primeira comunidade evangelizadora. 
Farra do amor 
Que farra! Ninguém fala isso do trabalho. O amor abre espaço a todo tipo de farra. O amor sustenta a alegria, sara as dores e conserta os estragos do ódio. É o que ensina Jesus sobre o maior mandamento. Resume toda a lei. Há quem ligue o amor a uma farra desordenada. Jesus liga o amor farrista ao cuidado com os muitos descuidos que temos com a pessoa dos necessitados, como lemos nos mandamentos do livro do Êxodo. Essa farra não só dá alegria como a multiplica. E o Pai diz amém.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Nr.2006 - Homilia do 29º Domingo Comum (18.10.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“De quem é a imagem” 
Deus é o Senhor 
Jesus se aproxima do fim de seu ministério. O evangelista resume questões fundamentais que lhe eram propostas: uma é questão de política religiosa, o imposto ao imperador, outra é de moral, o matrimônio, uma espiritual, o maior mandamento e a sua divindade. Os inimigos de tendências diferentes se ajuntam para comprometê-lo a tomar partido contra o imperador, contra o imposto ou contra o povo que não admitia esse imposto. Para fazer o mal os inimigos se combinam. Jesus pede uma moeda e pergunta: “De quem é a imagem e a inscrição?” - “De César”, respondem. E Jesus, sabendo que era uma armadilha, responde: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Essa frase já recebeu muitos sentidos. Até se falou que se refere à separação de Igreja e Estado. Nós nos fixamos na resposta de Jesus. Mas seu sentido é mais amplo. Pode-se partir dos termos imagem e inscrição da moeda. O império aceita a imagem do imperador. E até lhe fazem templos, como um culto a um deus. Todos aceitam sua política, sua ordem econômica e devolvem uma parte do dinheiro recebido de César como tributo exigido. Trata-se de restituir a César o que veio de César (Imperador). Mas a grandeza de um rei é estar a serviço de Deus, como nos apresenta a primeira leitura. É estar a serviço de Deus, como nos apresenta o texto de Isaías. Deus é o Senhor que tudo comanda: “Eu sou o Senhor, não existe outro: fora de mim não há deus”. O imperador não é dono do mundo. 
De quem é a imagem? 
Na moeda estava cunhada a imagem (ícone) do imperador. Jesus pergunta: “De quem é a imagem?” Jesus escapa da armação que lhe fazem e conduz o assunto a declarar-Se Senhor e todos como imagem de Deus. Essa temática é muito rica. Deus fez o homem a sua imagem e semelhança. Com o sopro lhe deu a existência (Gn 2,7) destinada à vida imortal. O imperador, através de sua imagem, não é o dono do mundo. Deus criou tudo e a terra é sua. Também Cesar, seu dinheiro, sua imagem, sua inscrição e seu tributo pertencem a Deus. O selo de Deus está marcado na testa dos homens. Nele pôs o selo de seu Filho (Jo 6,27). Tudo deve ser restituído a Deus. Com isso não está descartada a autoridade humana constituída para o bem do povo e que tem sua origem em Deus. Não dispensa a restituição do tributo à autoridade. Estando sujeito à autoridade deve saber que César não é autônomo. Ele também tem que prestar contas a Deus. Esse complexo de autoridade, como poder, está presente também nas autoridades eclesiásticas e naqueles que os cercam. Jesus nos mostra muito bem o que é o serviço do poder. Este deve estar a serviço da glória de Deus. O salmo convida a todas as nações que dêem ao Senhor poder e glória (Sl 95). 
Fraternidade apostólica 
Paulo em suas cartas chega aos cumes da sabedoria cristã. Mas não sai da realidade humana. Fala de coisas humanas como lemos hoje: “Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações... recordamos a atuação de vossa fé, o esforço de vossa caridade e a firmeza da vossa esperança” (1Ts 1,2-3). É uma comunidade cheia do Espírito Santo que, no dizer de Paulo, foi seu evangelizador: “O evangelho chegou até vós, não somente por meio de palavras, mas também mediante a força que é o Espírito Santo; e isso com abundância” (Id 5b). Mesmo sabendo do poder do Espírito Santo, Paulo não deixa de se comprometer afetivamente com essa comunidade (1Ts 2,17). O afeto deve permear todos os aspectos da evangelização. A fé atinge a pessoa toda em todas as suas dimensões. 
Leituras: Isaias 45,1.4-6; Salmo 95;1 
Tessalonicenses 1,1-5b; Mateus 22,15-21. 
Ficha nº 2006 - 
Homilia do 29º Domingo Comum (18.10.20)
1. A grandeza de um rei é estar a serviço de Deus. 
2. A autoridade humana que é constituída para o bem do povo, tem sua origem em Deus. 
3. O afeto deve permear todos os aspectos da evangelização e as dimensões do homem. 
Rei da cocada 
Temos muitos tipos de reis desde a Inglaterra até ao rei do carnaval, o Momo. Jesus não Se gloria de ser rei, a não ser para declarar a verdade. Ele responde a Pilatos que pergunta se Ele é rei. Responde “tu o dizes”, isto é: você que está falando. E diz que seu reino não é desse mundo. Pior é que gostamos de ser rei na Igreja. O Papa usava uma tríplice coroa. Outros, se não usam coroa, fazem o que os reis faziam e querem essas glórias. Ele foi rei coroado na cruz. Ali sim, estão as insígnias reais. Todo o poder que Jesus concede é o de servir. Para esse, não tem partido político. Nem a concorrência é grande. Os que têm vida, são os que se doam.

Nr.2005 - Artigo - “Nossa Senhora Aparecida”

Padre Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Sob o olhar de Maria 
A liturgia da festa de Nossa Senhora Aparecida procura resumir todo sentido dessa preciosa imagem que se tornou centro de devoção à Mãe de Deus. Ela, cheia de beleza, como lemos no salmo, é a mãe que intercede em Caná e se arrisca pelo povo, como Ester. Mesmo sendo a Mulher gloriosa do Apocalipse, não deixa de ser a mãe do povo que acolhe os pequeninos, os humildes que correm o risco de serem engolidos pelo dragão. Por isso, podemos rezar na oração pós-comunhão, colocando toda a nação sob o olhar de Maria: “Nós vos suplicamos, ó Deus: Dai ao nosso povo, sob o olhar de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, irmanar-se nas tarefas de cada dia para a construção do vosso Reino”. Essa oração resume bem todo caminho da Igreja do Brasil. Ela é a Mãe querida de tantos necessitados. É uma devoção que quer todos os irmãos na construção de um Reino que penetre as estruturas sociais. Vemos no santuário gente de todos os cantos do país e de tantos níveis de vida social. Todos felizes na casa da Mãe. Certamente todos são tratados com igualdade, como irmãos. Tantas crianças, jovens, idosos, doentes. Tantos que fazem imensos sacrifícios ao virem a pé, a cavalo, de moto, bicicleta. Os testemunhos são sempre maravilhosos. As promessas mostram partes do corpo onde foram curados. Como não posso me entregar essa parte de meu corpo curado, entrego uma recordação que leva junto o coração. Ali não está uma vela que queima, mas um coração que arde. 
Fiel à sua vocação 
Notamos na oração um grande estímulo à vida nacional. Certamente que a devoção à querida Imagem não tem a ver com programas políticos. Ela foi encontrada providencialmente num momento doloroso de exploração dos trabalhadores das minas. Era a opressão da “coroa” na recolha dos quintos do ouro. É a leitura que fazemos após o fato. Naquele momento foram os humildes pescadores numa pesca difícil, pescando aquela que será a alegria de um povo. Os peixes se foram e ela ficou. Ela se torna mestra no caminho da construção de um povo aberto a uma maior vitalidade humana e espiritual. Nosso povo, miscigenado de diversas raças, tem nela seu modelo: negra de cor, cabelo de índia e tipo branco. É um povo feliz que sorri acima de seus padecimentos. Por isso ela também é sorridente. Crê num futuro sempre mais justo para todos. A vocação do povo é rezada na oração: “Fiel à sua vocação e vivendo na paz e na justiça”. O povo é pacífico, ama a participação, gosta da festa, chora com os que sofrem, sabe viver todas as gamas do sentimento. Esquece a maldade e sobrevive com o pouco que recebe. Sabe multiplicar. Não pode perder essa capacidade. Unidos aos pés de Maria, na casa da Mãe, se faz irmão. Infelizmente essa vocação não chegou ao coração dos que não sabem pescar, mas somente continuar a mentalidade da “Coroa” que arranca dos suores do povo o seu melhor ouro. 
Pátria definitiva 
“No Céu, com minha Mãe estarei”. Todo esforço de transformar a terra num paraíso, não tem outro fim, que chegarmos todos à “Pátria definitiva”. “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou" (Ap 21,4). Mesmo que o ateísmo continue campeando nosso povo, resta no fundo essa barca de salvação que é o amor a Nossa Senhora Aparecida. O dragão continua perseguindo a mulher, Mãe de Jesus, Igreja de Deus (Ap 12,13). E de muitos modos persegue os descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus (Ap 12,17). Povo fiel herdará como recompensa a paz e a alegria.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

nº 2004 - Homilia do 28º Domingo Comum (11.10.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Traje da festa” 
 O banquete do Reino 
A imagem do banquete é usada nas Sagradas Escrituras como símbolo da comunhão com Deus e comunhão com as pessoas. O profeta Isaias ensina que Deus ... preparou o banquete aberto a todos. No Sinai Deus faz um banquete com os 70 anciãos (Ex 24,9-11). O banquete é sagrado porque Deus é sempre aquele que reúne. E se faz presente. Comer juntos é partilhar da mesma vida. Por isso Jesus institui a Eucaristia durante banquete pascal. E manda fazer em memória. O amor de Deus é permanente e nós participamos dele na Eucaristia. Ouvimos "Felizes os convidados para a Ceia do Senhor!” Na parábola, Deus, esposo de seu povo oferece a todos um grande banquete. Jesus é o Filho que, com sua missão, abre a casa do Pai para um banquete. O Reino é representado também por um banquete. Todos são chamados. Os servos (profetas) fazem o convite. Mas os primeiros convidados se recusam. O motivo da recusa se reduz às tendências básicas do ser humano: pão, poder e prazer: Comprei um campo, tenho cinco juntas de boi para experimentar, casei-me e não posso ir. Nossos interesses pessoais valem mais que o Reino. Então são convidados todos os que não contam na estrutura social religiosa, pobres e pagãos. Símbolo da missão. Todos recebem a veste da festa. Ao entrar para ver os convidados, o rei vê um homem que não está com a veste nupcial. É uma ofensa. Aceitar o convite do Reino é assumir com totalidade. Significa a perda da vida. Mas há uma profunda transformação de todos os males quando o Reino é implantado. 
O Senhor me conduz 
O salmo 22 coloca como ponto de chegada, os campos verdejantes e as águas repousantes. Um banquete de ovelha. Mas também confirma: “Preparais à minha frente uma mesa, bem à face do inimigo” (Sl 22). O salmo reconhece a presença do Pastor que conduziu o povo no deserto, no êxodo, não deixando faltar coisa alguma. Por isso pode ter confiança. Lembramos o discurso de Jesus como o bom Pastor (Jo 10). O relacionamento parte do mútuo conhecimento da ovelha e do pastor. Ela o segue porque sabe aonde Ele a conduz. Age no conhecimento e no afeto: “Meu cálice transborda” (Sl 22). O banquete maior é a convivência na casa do Senhor. Jesus Pastor não é o Rei que condena os que não aceitaram o convite, mas dá a vida pelas ovelhas e Se abre a todos. Vai atrás da ovelha perdida, cura as doentes e fortalece as sadias. Não usa do rebanho para seus interesses, mas para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo, 10,10). A parábola tem a dimensão missionária: ir longe, sobretudo atrás dos pobres para abrir-lhes as riquezas do Reino que não é privilégio de ninguém como era entendido pelo ,povo da Antiga Aliança. 
Deus proverá 
Paulo, a partir de sua escolha do Reino na pessoa de Jesus, tudo faz por Ele e nada o impede de ser total em sua resposta: “Sei viver na miséria e na abundância”. E diz: “Tudo posso Naquele que me conforta” (Fl4,12). A fragilidade da evangelização e de nossa resposta, é porque é dada pela metade. Deus não precisa de resto. É o que vemos: Se der tempo eu participo, ajudo, assumo... mas não assume nunca. Falta conhecer a palavra de Jesus por completo: “Buscai o Reino de Deus e sua justiça e o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33). E se não der nada: “Somos servos inúteis, fizemos o que devia ser feito” (Lc 7,10). Não se trata de inutilidade, mas de valores. Servir o Reino preenche todas nossas necessidades. Paulo disse: “Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as necessidades” (Fl 4,18). 
Leituras: Isaias 25, 6-10ª;Salmo23(22) 
Filipenses 4,12-14.19-20;Mateus 22,1-14 
Ficha nº 2004 - 
Homilia do 28º Domingo Comum (11.10.20) 
1. O motivo da recusa se reduz às tendências básicas do ser humano: pão, poder e prazer. 
2. Jesus é o Filho que, com sua missão, abre a casa do Pai para um banquete. 
3. Servir o Reino preenche todas nossas necessidades. 
Roupa errada 
Imaginou você aparecer de vermelho num velório? Até o defunto vai rir. Coisa triste é sair com a roupa errada. O texto final da parábola nos alerta que, para participar do Reino, é preciso estar com a roupa de festa. Quem ia a uma festa, recebia do dono uma roupa própria. Chic! A gente costuma dizer vestir a camisa do time quando se chama para assumir. Assumir o Reino como vida, vai exigir que seja na totalidade. Por isso a gente começa a escamotear quando chega a hora do “vamos ver”. É só ver nas comunidades: quando aparece um serviço, aparecem junto as desculpas... não posso...tenho um compromisso.... As desculpas dos personagens da parábola respondem aos nossos problemas. A displicência da resposta mostra a falta de definição. Jesus quer total adesão.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/