segunda-feira, 30 de abril de 2018

nº 1749 Artigo - “Ressurreição das realidades terrestres”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2035. Deus viu que tudo era bom
              Deus compôs a mais bela ladainha no eterno louvor da Sabedoria. Quando fez o mundo, como nos narra o livro dos Provérbios (Pr 8,24-31,) proclama: “Eu estava junto Dele como mestre de obra, eu era o seu encanto todos os dias, todo o tempo brincava em sua presença: brincava na superfície da terra, encontrava minhas delícias entre os filhos dos homens. Essa Sabedoria, que acompanhou a criação, repetia após cada ato criador, clamando de alegria: “E Deus viu que isso era bom”. Ao fim da criação, “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom” (Gn 1,10.31). Assim podemos compreender a beleza e a bondade de todo universo. Nesse universo estão o homem e a mulher aos quais o paraíso foram dadas a belezas do paraíso para ser cultivado (Gn 2,15). Cultivar pode significar a missão de promover a natureza, protegendo-a dos desvios criados pelo homem incapaz de preservá-la para seu próprio bem. Esse é o sentido do texto do primeiro capítulo da criação: “Deus os abençoou e disse: ‘sede fecundos e multiplicai-vos enchei a terra e submetei-a’” (Gn 1,28). Submeter significa, em hebraico, esmagar com o pé. O sentido é descartar a idolatria. A bondade da natureza reside no seu ser natureza, sejam plantas, animais, minerais etc... Tudo tem sua riqueza de ser dom. Está a serviço da vida. A convivência pacifica não será um domínio. Dignificá-la não é dominá-la modificando sua condição de natureza. Domesticar, pode significar destruir e não usar a natureza como obra do Criador.
2036. Libertando a natureza
              Refletindo sobre a Ressurreição do Senhor e o universo criado, seguimos o texto de S. Paulo na carta aos Romanos, que diz: “Deus enviou seu Filho numa carne semelhante à do pecado” (Rm 8,2). Depois nos traz um texto que explica que a natureza, por causa do pecado do homem, foi submetida à vaidade, não por culpa dela. Ela não pecou. Foi vítima. Ela espera ser libertada da corrupção para entrar na liberdade dos filhos de Deus. “Sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente” (Rm 8,18-22). O mal do pecado invadiu o universo, desequilibrando-o. O profeta Isaias diz que quando o Messias vier haverá a harmonia que foi rompida pelo pecado e a terra se tornou maldita (Gn 3,17-19). Vemos atualmente, tanto na sociedade como na Igreja, grande empenho pela natureza. Já é efeito da Ressurreição. Há uma recuperação da natureza em Cristo, em seus sacramentos, pois quando oferecemos pão e vinho, a natureza enxuga suas lágrimas e oferece a Deus o Corpo e Sangue de Cristo, frutos da terra e do trabalho do homem (ofertório). A Eucaristia é a ressurreição do Universo.
2037. Unidos à natureza no louvor
              A natureza participa intensamente do louvor a Deus. Quando lemos o salmo 64, depois de descrever a preparação da terra e seus frutos, diz: Tudo canta e grita de alegria (Sl 64,14). A natureza está intimamente unida ao louvor de Deus. Essa é sua permanente ressurreição. Os autores sagrados tem muita facilidade em mostrar essa visão completa do relacionamento com Deus. O elemento natural, do céu e da terra, está presente em sua relação com Deus. Ele convida céus e terra a louvarem a Deus. No cântico de Daniel temos uma chamada a todos os elementos da natureza ao louvor do Senhor juntamente com Anjos e Santos. Nossa oração diverge muito da oração que está na Bíblia. É a pessoa humana completa com a natureza que a cerca que entra no louvor. A transformação dessa natureza pela ressurreição a colocará em sua devida condição de obra do Senhor.

domingo, 29 de abril de 2018

nº 1748 Homilia do 5º Domingo a Páscoa (29.04.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
Permanecer em Cristo como o ramo ao tronco

Como o ramo ao tronco
            No Tempo Pascal somos instruídos sobre a força transformadora da Ressurreição de Cristo. O Mistério Pascal atua em nós, não somente a partir de atividades renovadas por Cristo, mas em uma comunhão de vida. João Evangelista explica essa verdade pelo símbolo da árvore e os ramos. Mostra como estamos unidos a Cristo. É união de vida, porque circula pelos ramos a mesma vida e vitalidade que estão no tronco. O verbo ‘permanecer’ é forte e claro. Somos estimulados a permanecer em Cristo como o ramo permanece unido a árvore. Há uma mesma vida que nos une. O Mistério Pascal de Cristo é a sua vida atuante em nós como vida e como atividades. Permanecer é o verbo que diz o que acontece em nosso relacionamento com Deus. Temos por exemplo o texto do discurso do Pão da Vida: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e Eu nele” (Jo 6,56). Como o alimento permanece em nós, assim é o Pão da Vida. É uma união de Vida. Jesus ensina que a mesma Vida que mantém a árvore viva, corre pela planta e pelos ramos. Jesus diz que há uma união completa entre o tronco que é Ele e, os ramos que somos nós. Jesus ensina o mandamento do amor que é a seiva vital que percorre a planta. Guardar a fé e o mandamento do amor é permanecer em Deus. E Deus permanece com Ele (1Jo 3,24). Esse é o resultado do nosso encontro com Cristo em seu Mistério Pascal. Celebrar é alimentar esse relacionamento e crescer na vida cristã pela fé.
Permanecer é produzir frutos.
            Jesus diz: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor” (Jo 15,1). O Pai sabe como cuidar da planta e faz as podas no tempo certo. Há duas podas: uma para cortar os ramos que não dão frutos e a outra para cortar os ramos viçosos para que dêem mais frutos ainda. O ramo viçoso é sacrificado pelo bem do fruto. Pena que nós não percebemos quando Deus quer nossos frutos e por isso corta muita coisa que é até boa, para ficar melhor. E se não damos frutos... Estamos condenados ao fogo: “Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos e lançados no fogo e queimados” (Jo 15,6)... Para dar fruto, temos que estar unidos ao tronco que é Cristo. Sem Cristo estamos secos. Afirma: “Sem mim nada podeis fazer!” (Jo 15,5). O ramo não pode produzir frutos por si mesmo, se não permanecer na videira, isto é, em Cristo. Permanecer unido ao tronco, nos dá garantias de sermos ouvidos na oração: “Se permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e tudo vos será dado. Nisto, meu Pai é glorificado”. É louvor e glória de Deus pedir em nome de Jesus. Os frutos são o melhor louvor ao Pai, pois estão unidos ao Fruto Bendito que é Jesus. Ele produz frutos em nós, como vemos produzindo frutos em Paulo (At 9,28-29).
Crer e amar
            A seiva que corre no troco vai aos galhos. Essa seiva é o amor de Deus em Cristo e o amor aos irmãos. O mandamento é crer em Jesus e amar os irmãos. Um único mandamento com duas faces. O amor não só de palavras, mas em ações e em verdade: “Não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! Aí está o critério para saber que somos da verdade e para sossegar diante dele o nosso coração” (1Jo 3,18-19). O amor exige a verdade. A verdade do amor são os atos coerentes. Fala-se de amor em todos os tons. Mas o único que nos amou com totalidade foi Jesus que nos deu sua vida. Se dermos a vida, dedicando-a aos irmãos, como o fez Paulo, estamos amando e produzimos frutos.
Leituras: Atos dos Apóstolos 9,26-31; Salmo 21; 1 João 3,18-24; João 15,1-8
Ficha nº 1748 - Homilia do 5º Domingo a Páscoa (29.04.18)
                                         
1.  A parábola da videira e dos ramos ensina nossa união com Cristo.
2.  Permanecer em Cristo pela fé e o amor é dar frutos e ser atendido na oração.
3.  O amor é a seiva que corre no tronco e nos galhos. É a vida divina.

Quebrando o galho

Há muitas árvores citadas na Palavra de Deus, por exemplo: Zaqueu sobe em uma árvore para ver Jesus. Havia uma árvore que não produzia frutos e Jesus diz para colocar uma terrinha que ela pode se recuperar... Há árvore que dá fruto bom e outra que dá espinho etc... Tem essa de hoje que serve de comparação para mostrar nosso ser em Cristo como galho que participa da vida da árvore.
Jesus explica que, se o galho foi cortado, não dará mais fruto. Ele seca e vai para o fogo. Se não der fruto é podado. Mesmo quando está muito viçoso pode ser podado para que o fruto saia melhor. Muitos de nós vezes levamos podas na vida e não gostamos. Pior ainda quando podam uma coisa boa que haja em nós ou possamos fazer. Não entendemos que é melhor.
A seiva da árvore percorre todos os ramos e dá vida. Assim é nossa vida em Cristo. Essa seiva é o amor. Esse amor nos leva a produzir frutos, como Paulo que se entregou totalmente a anunciar Jesus.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

nº 1747 Artigo - A Vida Nova


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2032. Espiritualidade da Vida
            A espiritualidade pascal é uma dimensão preciosa no seguimento de Jesus. Ele nos deu a Vida. Dissera: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em Mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26). A Vida que Jesus tem após a  a Ressurreição, é a mesma que nos é dada. O milagre da ressurreição de Lázaro que lemos no evangelho de S. João quer mostrar que Cristo tem o poder sobre a morte e dá a Vida. Seu ministério público consistiu sempre em gerar a vida. Curava os doentes e ressuscitava os mortos. Pelas leituras da Palavra, tanto na Quaresma quanto no Tempo Pascal, podemos entender que o Batismo dá a Vida Eterna. Depois de passar pelas águas batismais, somos iluminados e recebemos a Vida Divina. Se Jesus pode ressuscitar um morto já em decomposição, o que supera a condição humana, pode nos dar a Vida Divina, que é Vida eterna: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância!” (Jo 10,10). Fazemos uma comparação com a cura do paralítico que foi descido pelo teto da casa: Jesus, para dizer que tem o poder de Deus para perdoar pecados, cura o paralítico. Se Jesus fez tantos milagres visíveis, quanto mais poderá nos dar a Vida que Ele possui, pois venceu a morte que lhe fora imposta pelos maus, numa tentativa diabólica de acabar com o poder de Deus através dos homens. Deus o ressuscitou.
2033. Cuidar da Vida
A espiritualidade baseada na Vida é um passo consistente no caminho espiritual. Essa Vida nós a recebemos na Ressurreição de Jesus. Como podemos interpretar para nossa vida espiritual? Temos uma vida a levar adiante. Cuidamos bem de nosso corpo e nossas atividades. A parte material está em perfeita ordem e progresso. A verdadeira espiritualidade que faz a pessoa completa e sua dinâmica está em cuidar da vida de Deus em nós. Somos defeituosos quando deixamos o cuidado com a Vida Divina em nós.  Essa fica descuidada. É como se tivéssemos só a metade do corpo. É o que Paulo chama atenção a viver segundo o Espírito e não segundo a carne, pois assim não agradamos a Deus.  Se Cristo está em nós, nosso espírito está cheio de vida. E vamos ressuscitar como Jesus (Rm 8,8-11). Na missa de Páscoa recebemos uma mensagem muito clara sobre a Vida Nova: “Vós que ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto... Aspirai às coisas celestes e não às terrestres. Pois vós morrestes, e vossa vida está escondida em Deus” (Cl 3,1-30). O cuidado com a Vida Divina que temos não obscurece a condição humana nem a perturba, pelo contrário, dignifica-a e desenvolve mais e mais, pois o humano é sempre uma réstia do Divino, pois fomos feitos a sua imagem e semelhança, de modo particular, à imagem do Filho (Rm 8,29), protótipo de toda criatura.
2034. Viver com intensidade
              A espiritualidade pascal nos estimula a viver intensamente a vida cristã. O que vemos em nós é um desencanto com a religião, pois não nos preocupamos em viver com vigor e alegria a Vida Divina que está em nós. Essa deve ser a preocupação primeira com nossa pessoa e com os que nos cercam. Por exemplo: cuidamos o máximo das crianças, mas não zelamos da outra metade, a que dura para sempre, que é a vida Divina. Dando vida ao vida aos mortos, mostrou que nos dá a Vida em sua Ressurreição. Cuidemos dela. Quando temos amor à Vida, ela penetrará nossa vida e seremos testemunhas ardorosas do Mistério Pascal que dá vida ao mundo. Jesus não é personagem da história que comoveu por seus milagres e palavras. É o Vivo que nos conduz e nos atrai.

domingo, 22 de abril de 2018

nº 1746 Homilia do 4º Domingo da Páscoa (22.04.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Tornou-se pedra angular”

Rejeitado pelos homens
Jesus descreve sua missão através de suas comparações e parábolas. Hoje é o pastor; próximo domingo será a videira e no 6º domingo será o amigo. Por elas compreendemos sua missão de contínua entrega: Ele dá a Vida, tanto perdendo-a por suas ovelhas, como sendo fonte de vida. Participamos de sua vida, como os ramos do tronco. Unidos a Ele, temos Vida. A liturgia quer nos ensinar que, a Ressurreição não é somente um fato de Jesus que Deus tirou da morte, mas um grandioso dom de Deus que nos ressuscita do mal e nos garante a vida eterna. Toda obra do Pastor é dar a vida e defender do lobo, porque ama e se dedica às ovelhas. Não é como o mercenário que não se importa com as ovelhas e não as defende do lobo. Pedro, em seu discurso aos chefes do povo disse: “Ficai sabendo... é pelo nome de Jesus que esse está curado... Vós O crucificastes e Deus O ressuscitou dos mortos”. Pedro retoma o salmo 117 e comenta: “Ele é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que se tornou pedra angular” (At 4,8-12). Em nenhum outro há salvação. Não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos (At 4,12). Jesus é necessário para nossa salvação.  Deus garantiu essa realização através da Ressurreição. Cumpre-se a profecia do salmo: a pedra rejeitada tornou-se pela angular, fundamental para todo edifício. Não se trata somente de um fundador de uma religião ,mas fundamento de todo o universo e, tudo que existe nele. Ele mesmo diz: “Tenho ainda outras ovelhas que não são desse redil... Elas escutarão minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor (Jo 10,16).
O Bom Pastor dá a vida
            No contexto litúrgico temos essa parábola sobre o bom pastor que resume o Mistério Pascal de Cristo em sua estrutura fundamental: O pastor ama o rebanho, conhece e dá a vida por ele. Não foge dos lobos que atacam o rebanho. Por isso vai até a morte para salvar as ovelhas. Ele tem poder sobre sua vida, pois a dá livremente. Tem confiança no Pai que lhe dá o poder de retomar a vida. Essa redenção é para todos. Ninguém está excluído. O pastor conhece suas ovelhas no mesmo conhecimento que tem do Pai. Conhecer vai além do ficar sabendo. É a nossa participação de sua vida. Jesus lhe dá a vida. O conhecimento está no mesmo sentido de participação de vida. Não há uma distinção entre ovelha e pastor, por viverem a mesma vida. Cristo, em seu mistério de morte e ressurreição dá a vida e a retoma. Leva-nos sempre consigo para as riquezas da graça. O Tempo Pascal quer nos levar a conhecer o pastor e assumir sua vida. Rezamos: “Conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor”.
 Somos filhos de Deus
             A liturgia nos traz outra dimensão de nossa vida cristã: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: “De sermos chamados filhos de Deus! E de fato o somos!...Ainda não se manifestou o que seremos, pois seremos semelhantes a Ele 1Jo 3,1-2). A filiação divina nos põe em união a Cristo em sua condição de Filho. Por isso podemos nos chamar de filhos de Deus. Não há como não se alegrar com esse dom que é nossa salvação, pois estamos unidos ao Pai através do Cristo que nos garante. Se formos filhos de Deus procedamos como Filhos no amor do Pai. “Aquele que diz que permanece nele, deve também andar como ele andou          (1Jo 2,6). No conhecimento de Cristo conheceremos também todos os que estão em Cristo. Saberemos que a redenção é para todos.
Leituras: Atos 4,8-12;Salmo 117;1João 3,1-2;João 10,11-18
Ficha nº 1746 - Homilia do 4º Domingo da Páscoa (22.04.18)
                                         
1.    A ressurreição de Jesus nos tira do mal e nos garante a vida eterna.
2.    O Tempo Pascal quer nos levar a conhecer o pastor e assumir sua vida.
3.    A filiação divina nos põe em união a Cristo em sua condição de Filho. 

Uma pedrada e uma pedra

            Vemos nos evangelhos como a rejeição de Jesus cresce cada vez mais até chegar ao ponto de sua prisão e morte. Assim se livraram daquele mestre incômodo. Morto foi posto no túmulo e uma pedra fechou a entrada. Essa pedra foi rolada do sepulcro. O morto sumiu, disse Madalena. Sua Ressurreição simbolizada pela pedra rolada do túmulo foi uma pedrada na cabeça de quem festejou sua morte.
           
Um dia pegaram em pedras para jogar em Jesus. Ele teve que fugir. Agora a pedra que é jogada fora do túmulo faz todos correrem em direção ao túmulo para viver da fé, beber da água que de lá brota e da luz que sai de seu interior. Não é a toa que Jesus disse: “Deus pode fazer dessas pedras filhos de Abraão”. Não fez ainda nenhum. Mas Pedro diz que somos pedras vivas na construção do Edifício Espiritual.

   Jesus é o pastor. Nada nos falta. Por que não falta? Porque o pastor dá a vida  pelas ovelhas. Ele as conhece como conhece o Pai.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

nº 1745 Artigo - “Seguindo a Luz”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2029. Luz do Senhor
              O pensamento da Ressurreição domina os cinquenta dias que se seguem à Páscoa. Sto. Atanásio chama o tempo pascal de um grande domingo. É um tempo todo do Senhor. A Luz que vem da gruta, onde Jesus foi sepultado tem força de eternidade. Cristo, vencedor da morte, iluminou o mundo. Não mais se apagara, pois refulge na Glória do Pai. Vencida a morte, construímos a Vida. “Nele estava a Vida e a Vida é a Luz dos homens e a Luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (Jo 1,4). O grande contraste de luz e trevas domina a resposta da humanidade à Luz que ilumina todo homem vindo a esse mundo (Jo 1,9). A Luz vence as trevas com a Ressurreição. No momento da morte de Jesus se fez trevas sobre toda terra. Não há trevas por falta de sol, mas porque a Luz fora aniquilada. Na manhã da Ressurreição o Anjo que removeu a pedra tinha o aspecto de um relâmpago e sua roupa era alva como a neve (Mt 28,1-30). A Vida venceu a morte. Podemos até perguntar porque o mundo anda com tantos problemas. Sempre existiram problemas justamente porque ainda não se acolhe a Luz. A semente tem seu tempo de nascer. Quando Jesus fez o milagre do cego de nascença com barro feito com a saliva, quis nos comunicar a necessidade de sair da fragilidade e acolhê-Lo, pois Ele é a Luz. É um processo lento. Deus tem seu tempo.
2030. Luz de Cristo em nós
              Pelo Batismo recebemos a Luz, simbolizada na vela do batismo. O milagre do cego simboliza essa luz que recebemos. Podemos ver claramente. Depois de conhecer Jesus que o curara, ela professa sua fé: Jesus pergunta: “Crês no Filho do Homem?... Creio, Senhor!” A Luz que é Cristo. Pelo Batismo participamos de sua Vida e de sua Luz. Em nós resplandece Cristo que é Luz. Nossa vida, nossas ações são marcadas pela Luz de Cristo. O que somos em Cristo produzirá frutos para o mundo. Não é possível ser cristão pela metade. Há muitos que dizem: “Sou católico, mas não aceito algumas coisas”. Pode não aceitar o que são invenções humanas, o que é da fé é impossível não aceitar. Ninguém vive pela metade. Se vivermos em Cristo, vivamos integralmente. Não existe uma claridade que seja pela metade, que seja trevas e luz. Recebemos a luz da fé e começamos a ver com os olhos de Deus. Como o cego que lavou os olhos na fonte chamada Siloé, que quer dizer “Enviado”, nós também recebemos a luz de Jesus, principalmente quando O acolhemos em nossa vida. Lavamos os olhos e passamos a ver com a luz da fé. A fé é ver todas as coisas com os olhos de Deus, isto é, em sua luz. Somente quando deixamos que o Enviado de Deus (Jesus) lave nossos olhos, é que passamos a viver da fé e caminhar na luz. 
 2031. A lâmpada é para iluminar
A fé é a abertura dos olhos para ver e crer. Crer é a iluminação. A vida cristã que se move pela fé, tem uma visão completa das realidades humanas e espirituais. Sem ela, corre-se o risco de tapear a si mesmo com uma tintura de piedade, e não ver Deus agindo nas realidades. Viver com os olhos iluminados é construir a vida a partir da fé na opção pelo evangelho. O Batismo realiza em nós esse toque que nos ilumina. Paulo nos ensina: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. O fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade. Discerni o que agrada ao Senhor. Não vos associeis às obras das trevas; antes, desmascarai-as” (Ef 5,8-14). Esperamos que a Igreja possa deixar-se iluminar mais e mais pela Ressurreição e sair dos muitos túmulos em que se encontra por conta dos pecados. É preciso um processo de ressurreição.

domingo, 15 de abril de 2018

nº 1744 Homilia do 3º Domingo da Páscoa (15.04.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
 “Esplendor de vossa face”

Deus O ressuscitou
            A ressurreição de Jesus domina a vida dos discípulos que, de aterrorizados, passam a corajosos proclamadores do único fato que justifica a história do mundo. Nascemos para chegar a Deus. Os discípulos corajosamente, presididos por Pedro, anunciam a Ressurreição. Depois da cura do aleijado, Pedro diz, denunciando os causadores da morte de Jesus que, tanto os chefes como o povo, agiram por ignorância: “Vós rejeitastes o justo e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da Vida, mas Deus O ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas” (At 3,14-15). Ser testemunha na linguagem dos apóstolos é terem visto o Cristo vivo, não como um fantasma, pois tem carne e ossos presentes. E estavam presentes em bom número. Vejamos a narração: Jesus aparece no meio deles. Pensaram que era um fantasma. Jesus lhes mostra as mãos e os pés para confirmar que Ele era o que fora crucificado. É um humano. Ainda mais: como sua surpresa era muito grande, pede alguma coisa para comer. Eles Lhe dão um pedaço de peixe assado. Ele comeu diante deles (Lc 24,35-48). É um vivo em carne e osso, ressuscitado. Jesus lhes explica que o que aconteceu com Ele, estava nas Escrituras. Este é o anúncio básico para a conversão e o perdão dos pecados. Os apóstolos dão testemunho dessa verdade para a pregação. Para aceitar esse testemunho, o ouvinte tem que se converter. Essa conversão é um toque de Deus na vida da pessoa como Jesus fez com os discípulos.
Renovação espiritual
            A oração da missa pede que a comunidade renovada, tendo recuperado com alegria a condição de filhos de Deus, espere com plena confiança o dia da ressurreição. É a contínua conversão que deve ocorrer quando celebramos os mistérios pascais. Por isso pede a Deus: “Fazei brilhar sobre nós o esplendor de vossa face”(Sl 4). Esse esplendor nós o vemos no cumprimento de seus mandamentos: “Para saber que O conhecemos vejamos se guardamos seus mandamentos... Naquele que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado” (Sl 4). Esse mandamento se estende a todas as circunstâncias através do mandamento do amor ao próximo. O brilho da face de Deus está, não em maravilhas exteriores, mas no rosto misericordioso voltado ao necessitado de todos os socorros. Cada Páscoa bem vivida é um renovar da comunidade. Por isso, a celebração deve ir além dos ritos e, ser uma expressão do interior convertido. Se tivermos um coração convertido, a celebração toma sentido. Do contrário são ritos bonitos, mas vazios.
Arrependei-vos
            Jesus teve uma vida de contínua conversão para realizar a vontade do Pai. Conversão no sentido de uma busca sempre maior. Nós buscamos a conversão saindo de nosso mundo distante de Deus para uma vida marcada pela renovação interior. Toda pregação dos apóstolos anunciava o acontecido com Jesus e, a seguir, fazia o convite à conversão. Conversão era aceitar o caminho de Jesus. Sabemos que os primeiros cristãos tinham ouvido as pregações de Jesus e conheciam seu ensinamento. Aceitando Jesus como Messias, aceitavam o caminho que havia proposto. Por isso se converteram com grande animação, tendo a prova consistente de sua Ressurreição. Viveram movidos pelo Espírito Santo levando a efeito, o que tinham aprendido. No mundo pagão, o Espírito Santo abria o caminho para a pregação e conversão sempre com o testemunho da Ressurreição. Isso é que nos falta no momento.
Leituras: Atos 3,13-15.17-19;Salmo 4; 1 João 2,1-5ª;Lucas 24, 35-48
Ficha  nº 1744 - Homilia do 3º Domingo da Páscoa (15.04.18)
           
1.    O anúncio da Ressurreição é básico para a conversão e o perdão dos pecados.
2.    O mandamento de Jesus se estende a todas as circunstâncias através do amor ao próximo.
3.    Conversão é aceitar Jesus e seu caminho. Essa foi a pregação dos apóstolos.

Susto que valeu a pena

Naquela noite, ainda tomados pelo medo e insegurança, apesar de saberem que Ele estava vivo, os discípulos se assustam com a presença de Jesus. Não entrava. Punha-se no meio deles. O susto era imenso e a felicidade era tão grande que não podiam acreditar. Deus quando entra na vida da gente, é sempre uma grande surpresa. Por não conseguirem ainda, acreditar que fosse um vivo, Jesus come diante deles um pedaço de peixe. Alimentar-se é declarar-se vivo.
Daqui concluímos quão se encontram distantes da vida, quão mortos se encontram tantos pobres que vivem na mais profunda miséria, sem terem o que comer, o que alimentar, sem poderem declarar-se vivos, como Jesus.
O primeiro fruto da Ressurreição foi abrir a inteligência espiritual para poderem entender as Escrituras e, como elas falavam Dele. Aprendemos, assim, que temos que entender Jesus em primeiro lugar a partir das Escrituras. Somente através de Jesus, podemos dar sentido às Sagradas Letras. Do contrário fica fechado seu sentido ou se transforma em uma ideologia.
Essa presença tão viva se torna a garantia para nossa vida e nossa missão.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

nº 1743 Artigo - Seguimento de Jesus


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2026. Águas da Vida
              No seguimento de Jesus, que é a proposta do Evangelho, temos todos os auxílios necessários. Um deles é a liturgia, um dos principais alimentos que nos sustentam nessa caminhada. Ela não é somente celebração de ritos, mas atualização do Mistério Pascal para que a salvação chegue a nossa vida em sua totalidade. A Quaresma preparou-nos para celebrar a Páscoa. Vivendo o Tempo Pascal, somos instruídos e fortalecidos na fé. Nessa Páscoa alguns receberam o Batismo e, todos nós renovamos nossas promessas batismais. Nesse sacramento, o fiel participa do Mistério Pascal de Cristo, vivendo a Vida Nova. As águas do Batismo, que fluíram do peito aberto de Cristo, jorraram em abundância em sua Ressurreição. Na gruta do túmulo está a nascente da Vida Nova. Não só somos lavados nas águas abundantes, as águas vivas que nos purificaram. O tempo da Quaresma recolhe os textos nos quais Jesus se mostra como a Água Viva, Luz e Vida. A cena maravilhosa da samaritana ensina que a sede que o coração do homem tem de Deus é saciada por Jesus que é a Água Viva. A mulher foi buscar água e encontrou a Fonte. Aquele que pede de beber, promete dar de beber uma água diferente, viva, não de reservatório. Ela não é um refrigério no seguimento de Cristo, mas uma fonte perene que sacia a sede, mas também deixa ainda com mais sede de Jesus, para caminhar sempre na busca da Água Viva. O Batismo não é um ato do passado, mas uma vida que continua. É um sacramento que nos insere em Cristo para sempre. E é fonte de todos os outros sacramentos.
2027. Busca permanente de Cristo
O caminho espiritual é essa permanente busca de Cristo para saciar nossa sede. O poço é uma bela imagem de Cristo, fonte de água viva. Ele oferece a água que é o Espírito Santo, Dom de Deus. Se por um lado há uma busca da água, por outro há um chamado: “Vinde a Mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso de vossos fardos e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). À medida que aceitamos a oferta de Jesus, mais sentiremos sede e o desejo permanente de ir a esse poço. Quando se descobre uma fonte de água gostosa, quanto não se faz por buscá-la!? Quanto não se faz para buscar Jesus que dá o Espírito!?  O Espírito não é um santo a mais em nosso caminho espiritual, mas é a Água Viva que nos sacia, dada por Jesus no momento de sua Paixão e em seu primeiro encontro com os discípulos. Ele está em sua continuada presença no meio de nós. A missão de Jesus consiste também em nos dar continuamente no Espírito. Ele nos abre as Escrituras e nos assiste continuamente em sua compreensão e na vivência da graça de Deus que é a Vida Divina. Além da sede, sacia a fome dando-nos o Pão da Vida que nos restaura e ressuscita.
2028. O Espírito vem sobre as águas
               O Espírito nos estimula a anunciar e a levar aos outros a água que bebemos e nos saciamos. É a missão. Foi o que fez a samaritana: “Vinde ver o homem que disse tudo o que fiz. Não seria Ele o Cristo?” (Jo 4,28-29). Encontra Cristo, Água Viva e procura levar aos outros a notícia da riqueza descoberta. O Reino de Deus não cresce por pressão, mas por comunicação, como foi a comunicação que o Pai realizou em seu Filho. O Espírito, que é Vida, move as águas, como lemos naquele milagre de Jesus em que a água curava depois de receber um movimento misterioso. Não vivemos de milagre nem alugamos o Espírito para saciar nossos desejos, mas estamos abertos e participamos de seu diálogo com o Pai, pois Ele reza por nós com as palavras que não temos, pois entende nosso coração e o coração do Pai. No seguimento de Jesus o Espírito mantém nossa sede e a sacia.

domingo, 8 de abril de 2018

nº 1742 - Homilia do 2º Domingo da Páscoa (08.04.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Meu Senhor e meu Deus”

Eu creio.
            Rezamos na oração na celebração de hoje que tenhamos uma vida coerente com o Mistério Pascal de Cristo que é sintetizado nos sacramentos da iniciação do Senhor: “Reacendei a fé de vosso povo na renovação da festa pascal e aumentai a graça que nos destes. Fazei que compreendamos melhor o batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova vida e o sangue que nos redimiu”. Cristo ressuscitado se manifesta aos discípulos reunidos no domingo. É na comunidade que a fé nasce e cresce. Tomé faz o mais perfeito ato de fé, em nome de todos nós, dizendo a Jesus: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Jesus quis que Tomé fosse além dos sinais sensíveis. Ele queria tocar a mão nas feridas de Jesus para saber se era Ele mesmo. Tem fé mais pura aquele que crê sem precisar de sinais materiais. Paulo diz que os judeus pedem milagres e os pagãos querem sabedoria e nós, apresentamos Cristo Crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios (1Cor 1,22-23). A presença do Ressuscitado na comunidade vai se manifestar quando acolhemos sua Paixão e sua Ressurreição. Assim podemos receber o dom do Espírito: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem, não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,22-23). Aceitar a redenção que Cristo nos trouxe e ofereceu com abundância, é ter o perdão dos pecados. Do contrário, a recusa de aceitar Cristo em seu Mistério Pascal, não tem a remissão. A misericórdia de Deus é infinita e continua a oferecer seus dons.
Eu amo
            A Ressurreição atinge o coração da pessoa na dimensão do amor a Deus que se manifesta no amor mútuo que forma a comunidade. Esse amor não é vazio, mas deixa o bolso vazio (fazendo um jogo de palavras), isto é, desapegando dos bens materiais e se voltando para a vida do Reino. Por isso Lucas coloca essa experiência dos bens em comum: A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que o possuído, mas tudo entre eles era posto em comum” (At 4,32). Vemos que o povo cristão, nos tempos posteriores, preferiu viver na ganância. Por isso não somos testemunhas verdadeiras da Ressurreição. O testemunho da caridade é a verdadeira manifestação da misericórdia de Deus que cuida de seus filhos em todos os sentidos através dos irmãos. O amor de Deus é usar o sacramento do irmão para o amor se tornar realidade. O amor de doação que o mundo rejeita é a pedra angular do mundo novo. A vitória sobre todos os males está na fé vivida no amor. Crer em Jesus é nascer de Deus. A fé é a vitória sobre o mundo. Mundo no pensamento de João é a oposição a Jesus e não o maravilhoso mundo criado por Deus. Não somos do mundo. A figura do mundo passa.
Eu espero
            A esperança não decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que Ele nos concedeu” (Rm 5,5). O Espírito Santo nos foi dado como dom da Ressurreição. Tem como consequência o amor que foi derramado em nossos corações. Amar a Deus é também amar aos irmãos, “pois sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos” (1Jo 5,2). Podemos afirmar que não haverá esperança nem amor se não nos dedicamos ao amor de Deus. Quem crê, ama e por isso espera, isto é, tem certeza. Na oração final da missa pedimos que conservemos em nossa vida o sacramento pascal que recebemos.
Leituras: Atos do Apóstolos 4,32-35; Salmo 117; João 5,1-6; 20,19,31
Ficha nº 1742 - Homilia do 2º Domingo da Páscoa (08.04.18)

1.  Tomé faz o ato de fé perfeito: Meu Senhor e meu Deus.
2.  A Ressurreição atinge o coração na dimensão do amor a Deus que se manifesta no amor mútuo que forma a comunidade.
3.  Podemos afirmar que não haverá esperança nem amor se não nos dedicarmos ao amor de Deus.

                        Na ponta do dedo.

            É bonita essa colocação sobre o ato de fé Tomé. Ele achava que o dedo dele resolvia tudo. Se eu não tocar o dedo nas marcas dos pregos e não colocar a mão na ferida do lado, não acreditarei. Jesus chega e chama para tocar para crer. E depois diz: felizes os que creram sem ter visto. Somos nós esses felizardos.
            Quem crê ama. Por isso tocamos as feridas de Jesus, não no corpo Dele, mas no corpo dos irmãos, pois o amor é concreto, não somente um sentimento. Amar a Deus é amar o outro. Se não tocarmos os sofredores em todas suas chagas não saberemos fazer nosso ato de Fé: Meu Senhor e meu Deus. Não adianta repetir isso na consagração da missa, com todo afeto, se o afeto não tem outro destino que nossa incompreensão do Cristo que ainda está crucificado em tantos calvários, vistos a todo instante nas vidas sofridas, crucificadas, abandonadas pelo poder pública e por todos nós que, tendo a condição de ajudar, mediando novas oportunidades, não o fazemos.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

nº 1741 Artigo - “Vida do Alto”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2023. Um dom
            Poderíamos ter alegria maior nesse Tempo Pascal que saber que o amor de Deus é de sempre e para sempre? Não existem, na bondade de Deus, alguns momentos bons para nós. Ele é bom sempre e em totalidade. Sempre o mesmo. Quando criou o ser humano, colocou nesse ato, todo o amor e dedicação. E não diminuiu. Ele, dando-nos tantas coisas, dava a si mesmo como Vida. Deus mais que dar dons, é o Dom. Nele, temos todos os outros dons que não são mais que pontos de vistas diferentes do único dom, que é a Vida. Deus não nos dá coisas. Dá-se como Vida. Ele é o dom. Ao enviar seu Filho ao mundo, elevou ao máximo esse amor de dedicação à criatura amada. Por isso Jesus se chama de Vida: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Jesus é o Dom que é Vida. Por isso lemos em diversos lugares: “Quem come desse pão tem a Vida Eterna”; “Quem vê o Filho e Nele crê, tem a Vida Eterna e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40). Como deixar de lado a carta de João? Jesus ensina o mandamento do amor (Jo 15,12) e João ensina que o amor é Vida: “Nós sabemos que passamos da morte para a Vida porque amamos os irmãos” (1Jo 3,14). Porque muito nos amou nos deu a Vida, dando a Si mesmo. O Pai que Se deu a nós como Dom e com isso dá a Vida. Jesus, dando-Se a nós durante a vida e na morte, dá-Se como Vida. Por isso, recebendo a Vida do Pai na Ressurreição, continua sua missão fazendo-nos participantes de sua Vida, Morte e Ressurreição. Como fomos crucificados com Cristo, somos também ressuscitados com Cristo, para sermos glorificados com Ele (2Tm 2,11).
2024. Um compromisso
Como em Cristo a Vida se fez entrega e doação pela participação de sua Vida e  de sua missão que é o amor. As demais ações são fruto do amor. Quem recebe a Vida dá a Vida aos outros que são os irmãos, como di,z ainda João: “Nisto conhecemos o amor: Ele deu a vida por nós. E nós também devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3,16). Como é próprio da vida se multiplicar e do amor se difundir, a ação do Espírito será promover sua Vida em nós, na promoção do amor em tudo. O Espírito é o Evangelho de Jesus como Vida. “As palavras que vos disse, são Espírito e Vida” (Jo 6,63). A Vida que recebemos é também compromisso, pois a Palavra é viva e eficaz (Hb 4,12). A Palavra se identifica com aquele que a pronuncia. Por isso são palavras de vida eterna. Vivendo a Palavra, aquele que crê, transmite não somente palavras, mas Vida e Verdade, pois o amor se fez carne. O amor vivido forma o Corpo de Cristo. O relacionamento entre as pessoas não deve ser somente de laços humanos, mas também Divinos, pois o Espírito habita em nós.
2025. Uma missão
            A missão de Jesus foi dar vida, como vemos em seus milagres e em seu relacionamento com as pessoas. No primeiro encontro com os discípulos depois da Ressurreição, sopra sobre eles e diz: “Como o Pai Me enviou, também eu vos envio. Recebei o Espírito. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,21-23). O perdão restitui a Vida. Serão assim homens novos, como escreve Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo...Aspirai as coisas do alto e não às coisas terrestres” (Cl 3,1-3). Viver a Vida Nova é comunicar essa Vida. É um Universo que é recriado com o sopro do Espírito. A missão cristã é permanente, pois compete à comunidade cristã comunicar esse Reino instaurado. Por isso Jesus diz: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Vida é Missão.

domingo, 1 de abril de 2018

nº 1740 Homilia do Domingo de Páscoa (01.04.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“O Senhor ressuscitou verdadeiramente”

Vencedor da morte
Os discípulos, alegremente comunicavam a notícia inesperada: “O Senhor ressurgiu e apareceu a Simão” (Lc 24,34). Por mais que interpretemos, grande foi a alegria dos discípulos. Naquela madrugada a noite gestou a vida. Entre o medo e a alegria, começou o tempo novo. O Senhor venceu a morte, como rezamos na oração da Missa: “Vosso Filho é vencedor da morte”. O tempo agora é da Vida. Com a vitória de Jesus sobre a morte podemos ter certeza que todos vencemos Nele. Nele morremos; Nele, ressurgimos. Está garantida para nós a vitória final. Maria Madalena, apóstola dos apóstolos, como a chama Papa Francisco, vai ao túmulo, encontra-o vazio, corre a dar a notícia. Pedro e João correm e veem. “Ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual, Ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9). Todo o movimento ocorrido naquele dia não foi ainda suficiente para compreenderem a ressurreição do Senhor. Jesus pessoalmente vem e Se mostra na noite daquele domingo. Depois de receberem o dom do Espírito os apóstolos creem. Foram escolhidos para verem o Ressuscitado e darem a notícia segura que agora é a vida parda que tenham a vitória. A morte foi superada. Com o dom da vida eterna podem viver plenamente. Essa vida está em cada um, de modo especial através dos sacramentos pascais. A Páscoa resume em si todos os sacramentos que dão a Vida Eterna. O túmulo vazio permanece como testemunha da Vida que vence a morte e os muitos males.
Abristes as portas do Paraíso
            Toda obra da redenção é a expressão da misericórdia do Pai, “pois eterna é a sua misericórdia”. Essa misericórdia continua presente e nos conduz para o Paraíso. A oração continua proclamando: “Abristes para nós as portas da eternidade”. Desde a Encarnação esse processo de abertura é salientado por Jesus que promete a vida eterna, o pão vindo do céu, a água que purifica, a luz que ilumina e vida que é comunicada. Assim Jesus manifesta o Evangelho e foi tão bem acolhido pelos discípulos. No momento de sua morte é rasgado o véu do templo. Todos podem entrar no lugar sagrado que é o coração do Pai. O coração de Jesus é rasgado pela lança. Dali, sai sangue e água. Pelos sacramentos do Batismo e da Eucaristia, podemos entrar no coração de Deus. O que é de Deus está aberto para nós. Nós, na Igreja, fechamos muitas portas, sobretudo a porta da misericórdia. Não sabemos ainda o que seja vencer a morte e abrir as portas do Paraíso. Pedro foi à casa de Cornélio onde proclamou a Ressurreição do Senhor e acolheu os pagãos para fé. Se Deus lhes deu o Espírito Santo, como aos apóstolos, por que negar o Batismo?
Ressuscitemos para a Vida
            A oração da missa continua: “Concedei que, celebrando a Ressurreição do Senhor, renovados por seu Espírito, ressuscitamos na luz da Vida Nova” (Oração).                               A celebração tem a finalidade de fazer-nos participar da Morte, Ressurreição e do dom do Espírito. É um único sacramento. Por ele morremos, ressuscitamos e somos santificados. A segunda leitura nos chama ao compromisso pessoal: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus. Aspirai às coisas celestes e não às terrestres... Vós morrestes e vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus” (Cl 3,1-2). Como batizados, ungidos e alimentados pelos sacramentos, estamos em total união a Cristo. Mas ainda não sabemos o que seja ser libertado por Cristo e viver a Vida Eterna. Jesus passou entre nós fazendo o bem. A vida nova é fazer o bem, pois já vivemos com Cristo em Deus.
Leituras:Atos 10,34ª.37-43;Salmo 117; Colossenses 3,1-4;João 20,1-9)  
Ficha nº 1740 - Homilia do Domingo de Páscoa (01.04.18)
                                         
1.  Jesus venceu a morte. O tempo agora é de vida
2.  Com a Ressurreição, acabou o domínio do mal. As portas do Céu estão abertas.
3.  Ressuscitados com Cristo, vivemos a vida do alto. Correspondamos.

Você ouviu?

Houve um estrondo de madrugada. Que foi isso? Voltaram a dormir. A vida acordou. Despertou de vez. Dali para a frente, a noite só serve para dormir. Não há mais noite sem fim, nem morte sem remédio.
Os discípulos se trombaram ao correrem de um lado para o outro, procurando o sentido. Eles O encontram e tudo toma sentido. Tinham medo e agora assustam pela vida que têm. A felicidade toma conta. Imagina! Passado o susto da presença do que fora morto, agora têm a presença do que está vivo.
Essa é a alegria quando encontramos o Senhor em nossa vida.