terça-feira, 30 de abril de 2019

nº 1853 Artigo - Corpus Christi

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Repartindo o Pão 
Uma história para contar 
Bela a festa do Santíssimo Sacramento! É a que marca de modo inteiro a vida da Igreja e dos que realmente vivem os sagrados mistérios que nos foram confiados por Jesus. Mas esses mistérios estão marcados pelos tempos. Cada época tem uma perda ou um ganho. Por exemplo: No tempo em que não havia missa vespertina, isto é à tarde, era feita a “reza” com bênção do Santíssimo. No momento da bênção se batia o sino. Onde havia respeito, as pessoas paravam, silenciavam e recebiam a bênção. Depois que o sino silenciava, a vida continuava. Agora mudou. Temos a celebração da missa. O respeito pela Eucaristia, por quem conhecia, era muito grande. Agora se perdeu muito a noção do Sagrado. O reconhecimento da presença do Senhor na Eucaristia é uma fineza de amor que vem em primeiro da parte do Pai em nos dar o Filho que Se nos dá, em forma de pão, sua carne e seu sangue para nossa salvação. Os modos como a Igreja e o povo manifestaram esse ato de fé correspondem a tempos determinados. Há os que querem que seja só de um jeito. As coisas mudam. Não pode mudar o conteúdo. Sobre esse se sente que não há tanta atenção. Conservemos o que é fundamental, a partir do Evangelho e interpretado pelo tempo em que se vive. Lembro, de menino, de uma única pessoa ir à comunhão na grande missa das 10 h no domingo. Agora, a bem dizer, todos comungam. Mais antigamente, não se comungava na missa, mas na Capela do Santíssimo. O culto do Santíssimo era distinto da missa. É preciso conhecer mais para interpretar melhor. 
Ver o mundo na Eucaristia 
Além das condições pessoais para receber a Eucaristia como alimento para nossa “alma”, temos que perceber que é uma missão que recebemos. Comemos o Pão da Vida para que seja vida. Nos milagres da multiplicação Jesus pensou no povo que estava com Ele a três dias sem comer... (Mt 15,32). A multiplicação é a maior riqueza da Eucaristia. Multiplica-se e dá sabor a tudo. Lembremos o Maná: “A teu povo, ao contrário, nutristes com um alimento dos Anjos, proporcionando-lhe, dos céus, graciosamente um pão de mil sabores, a gosto de todos. Este sustento manifestava a teus filhos tua doçura, pois servia ao desejo de quem o tomava e se convertia naquilo que cada qual queria” (Sab 16,20). Recebemos a Eucaristia, Cristo vivo em forma de pão, que podemos chamar de vida para o mundo. Quando iremos reconhecer que estamos unidos a Ele nessa mutua alimentação: Ele nos dá a vida de Deus e nós damos vida de Deus ao mundo. A educação espiritual é fundamental para levarmos a Eucaristia ao mundo. 
Adoremos!!! 
Santo Afonso nos escreveu um livro muito pequeno para a visita ao Santíssimo, em 1745 para um encontro pessoal com Jesus Eucaristia. Um confrade meu disse ter visto o Santo Padre Pio tirar esse livro do bolso para rezar. É um instrumento que instrui e ajuda a rezar. Perdemos o sentido da adoração. Adorar é contemplar amando. Assim, não só nas solenes bênçãos do Santíssimo adoramos, mas nos muitos sacrários do mundo e do coração humano. Quem ama vê. Pena que o cuidado com a Eucaristia não demonstra o amor e a fé que possuímos. Muita solenidade em certos atos e nada no real da vida de nossas comunidades, sacrários abandonados e descuidados. Os modos não precisam exagerar, mas devem corresponder à fé e ao amor. Ele não é amuleto de nossa fé. É o Senhor que amamos e queremos ser seus sacrários vivos no mundo. Um mundo eucaristizado é um mundo de irmãos onde não há nenhum abandonado.

domingo, 28 de abril de 2019

nº 1852 - Homilia do 2º Domingo da Páscoa (28.04.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Meu Senhor e meu Deus” 
A fé que salva 
As aparições de Jesus não são espetáculos reservados a poucos, mas para promoção da certeza de que a Vida venceu a morte e se institui como modo de vida. As aparições de Jesus se davam aos domingos, o dia da comunidade e revelam seu valor. Nele se dá o envio do Espírito e o dom da reconciliação. Essas narrativas nos põem em contato com o caminho que Jesus em sua Ressurreição propõe para a vida cristã: Reunir-se no dia do Senhor (dia da Ressurreição) é tornar presente o Senhor Ressuscitado. É o que dizemos quando fazemos memória. As narrativas das aparições vão além de um fato acontecido, mas são uma realidade que acontece sempre quando estamos “dois ou três reunidos”. Ele está no meio de nós, como rezamos na celebração. Nela professamos nossa fé, mesmo sem ter visto o Senhor. Tomé é o exemplo do processo de fé que se realiza em nós: Ausente do encontro de Jesus com os discípulos exige tocá-Lo. Quer crer com as mãos. A presença do Ressuscitado não é uma volta à carne, ser humano que Jesus era, mas um fato que vem da fé. Os que não veem o Ressuscitado confiam no testemunho dos apóstolos e têm a fé que os torna felizes: “Felizes os que creram sem ter visto” (Jo 20,29). João escreve: “Estes sinais (milagres que levam à fé) foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,31). Crendo temos a vida eterna e celebramos a presença de Cristo na comunidade. 
A força da Ressurreição 
No dia da Ressurreição recebemos, em uma grande síntese, todo o caminho da Igreja. Jesus está sempre presente e sempre dá o Espírito Santo: “Recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados” (Jo 20,22). O perdão é a reconciliação universal. Inaugura o tempo da misericórdia que salva. Esse magnífico gesto de Jesus não se refere a uma confissão de minutos falada em vós baixa, mas à proclamação da Redenção que se estende a todos. Ninguém é dono da redenção ou põe regras além da lei do Evangelho. Temos o costume de submeter o Evangelho às nossas ideologias e modismos espirituais. Poderemos prejudicar o anúncio da Ressurreição e os caminhos que o Senhor nos oferece. Vimos o crescimento da Igreja no decorrer dos séculos. Além de nossas misérias, a força da Ressurreição penetra todos os povos. Lentamente a fé se desenvolve. Infelizmente vemos que o testemunho pouco evangélico tem distanciado tantos, tem desfibrado tantas comunidades. A aparição aos discípulos não quer fazer maravilhas, mas a entrega do grande ministério de reconciliação na força do Espírito. Rei de Misericórdia Falamos de um Senhor glorioso e magnífico, como nos narra o livro do Apocalipse. Esse poder não corresponde à mentalidade do mundo que tem poder para mandar e aproveitar-se do poder. O salmo nos faz repetir: “Dai graças ao Senhor, porque é grande a sua misericórdia” (Sl 117). Esse é o distintivo fundamental de seu Reino. A pessoa de Jesus é o centro de toda vida cristã. Celebrando as alegrias pascais sabemos que o hoje eterno de Deus continua sua eterna misericórdia. Os gestos de misericórdia continuam na vida da comunidade, como lemos nos Atos dos Apóstolos. Tudo vem a nós através do sacramento do batismo, da presença do Espírito que nos foi dado e do sangue de Jesus que nos remiu (oração). Nós que cremos sem ver, somos declarados felizes porque cremos sem ver (Jo 20,29). A misericórdia cantada no salmo não é uma devoção revelada, mas um atributo de Deus. 
Leituras: Atos 5,12-16; Salmo 117; Apocalipse 1,9-11ª.12-13.17-19. 
Ficha nº 1852 - Homilia do 2º Domingo da Páscoa (28.04.19). 
1. Reunir-se no dia do Senhor é tornar presente o Senhor Ressuscitado. 
2. O perdão que Jesus oferece é a proclamação da Redenção que se estende a todos. 
3. As alegrias pascais contam que o hoje eterno de Deus continua em sua misericórdia. 
  A turma do cutuca. 
Tomé é o exemplo dos que querem crer com as mãos, não no sentido de agir, mas de sentir as coisas de Deus como se fossem corporais. É a turma do cutuca. Não querem que a fé os toque para algo mais profundo. Isso exige mudança em nossa vida. Os discípulos viram, mas foram além, continuaram sem buscar milagres, anunciando por sua vida e palavra que Ele está vivo. Onde tiraram forças e condições para anunciarem com tanto vigor trazendo tantos para Jesus. Os cristãos se firmaram na Palavra anunciada e no testemunho. Era mais forte que um toque.

sábado, 20 de abril de 2019

nº 1851 Artigo - “Símbolos pascais”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 2188. 
Aleluia 
A liturgia é um ato no qual Cristo Se faz um no louvor ao Pai, na união com o Espírito Santo. Jesus associou a si esta Igreja, pois, Nele brilhará nossa humanidade. Louvamos ao Pai na pessoa de Cristo. Cristo torna presente o louvor que realizamos na condição humana. Por isso a celebração está repleta de símbolos. É o único modo que possuímos. Estamos iluminados pelo fulgor da luz que emana do Cristo Ressuscitado que dá o Espírito. A celebração um momento de júbilo. Nesse período cantamos diversas vezes a aclamação – Aleluia que, em hebraico, significa cântico de alegria ou de ação de graças. Do judaísmo passou para a liturgia cristã e é usado especialmente ao tempo da Páscoa. Aleluia é uma transliteração do termo hebraico הַלְלוּיָהּ (Halləluyahebraico)... Portanto, a palavra "Aleluia" significa: "Louvem a Jah". Diz também: Louvado seja Deus. Nós usamos a palavra Viva! Analisando a palavra Halel - Viva. Iah – Javé. Essa mesma aclamação, nós a temos na palavra Hosana (Osana – viva; Iah – Javé). Os dois termos são usados sempre na liturgia. Aleluia não se usa na Quaresma. Na Vigília Pascal há um momento em que é usada com grande importância que acolhe a grandeza do Senhor Ressuscitado. Com o Aleluia temos nossa participação no canto de louvor do Cristo. Santo Agostinho conta o louvor: "Reza por nós como nosso sacerdote, reza em nós como nosso chefe, como cabeça do corpo, é rezado por nós como nosso Deus". 
2199. Círio pascal
O fogo é outro símbolo importante na Vigília Pascal. O símbolo é o fogo. Fogo é um elemento que ilumina, purifica, aquece sempre exultante. O círio pascal é uma imagem de Cristo como o Sagrado Coração. O símbolo de Cristo Ressuscitado neste círio é o fogo da vela. Ela é o suporte. O fogo novo que sai do túmulo escavado na rocha. Ele deveria ser tirado das pedras como pederneira. O fogo tirado da rocha simbolizando Cristo que sai ressuscitado. Ele é Luz do mundo. O fogo novo é Jesus vivo. Na preparação do círio o sacerdote traça uma cruz. Cristo nos remiu pela cruz. São colocados os números do ano corrente (2019), colocados nas extremidades da cruz. Diz com isso que a redenção acontece nesse ano em que vivemos. A seguir colocam-se as letras gregas Alfa e Òmega, mostrando que Cristo é o princípio e o fim. Colocam-se também cinco grãos de incenso nas quatro pontas da cruz e um no centro, significando que as chagas de Jesus nos curaram. Luz que passa a todos, num gesto de aumento da luminosidade na medida em que o Círio Pascal vai passando. É símbolo que nos segue em toda a quaresma. 
2190. Águas que dão vida 
Outro símbolo magnífico da Páscoa é a água. A liturgia proclama as muitas obras de Deus através desse elemento vital que é a água. Na Vigília Pascal leem a criação das águas, juntando-as em um só lugar; a passagem dos judeus através das águas do mar e a seguir a morte do exército do faraó. O mar vermelho se abre e os hebreus atravessam as águas e pé enxuto. As águas que salvam os filhos e destroem os inimigos; As águas simbolizam a graça que é dada a todos: “bebereis com alegria das águas da salvação”; A oração de bênção sobre as águas lembra os maiores momentos da história da salvação: Criação, libertação do Egito, o batismo de Jesus, e a instituição do batismo que, pelas águas o banho salutar da salvação, mergulhando-nos Cristo dando-nos a vida nova. No rito da bênção da água batismal, o círio é mergulhado na água para dizer que é Cristo vivo, luz do mundo que nos dá a vida nova. Participamos de sua ressurreição e vida.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

nº 1850 - Homilia Páscoa do Senhor (21.04.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Este é o dia que o Senhor fez para nós” 
Jesus ressuscitou! 
A alegria dos discípulos, por verem o Senhor Ressuscitado, é o anúncio mais vigoroso da Ressurreição. Mortos não aparecem. Somente os vivos podem se comunicar. Pedro, na casa de Cornélio, acentua que essa presença tão certa que pode afirmar: “Nós que bebemos e comemos com Ele depois que ressuscitou dos mortos” (At 10,41). Com isso quer salientar sua presença como uma normalidade e verdade, tanto que os discípulos não precisavam perguntar quem Ele era (Jo 21,12). E até comeu um pedaço de peixe diante deles para acreditarem que Ele estava vivo. Não voltou à vida. Passou à Vida. Esta alegria domina os quarenta dias que Jesus esteve Se manifestando a eles até o dia da Ascensão. Mas continua depois, pois ela foi a força que os moveu à grande obra apostólica. Insistem que viram o Senhor ressuscitado. Com a vinda do Espírito, a Ressurreição que era um fato da vida deles, passa a dar e ser vida a seus passos. De agora em diante e eles vivem um novo mundo. Compreendem as Escrituras, sabem discernir o momento que vivem e sabem criar a partir da Vida Nova. “Eis que faço novas todas as coisas”, escreve o Apocalipse (Ap 21,5). Podemos até interpretar o momento presente a partir da experiência dos apóstolos que tiveram vida nova depois da Ressurreição de Jesus. Agora perdemos a ligação com esse momento e passamos a viver a partir de ideias e não de um fato que para Jesus foi total. Por isso foi pleno para os apóstolos. Também nós podemos ver o rosto de Cristo se retirarmos o véu da incredulidade que nos cobre o rosto. 
Viu e creu 
Diante da Páscoa temos a mesma experiência dos discípulos que foram ao túmulo. Pedro entrou no túmulo e viu. João entrou, viu e creu. Não basta somente saber que Cristo está vivo. Crer significa unir todo o conhecimento a uma vida ressuscitada, vivendo a vida nova. Na mentalidade que vivemos de notícias que duram pouco tempo, os mistérios de Cristo podem ser para nós uma notícia a mais que não tem referência com nossa vida. Ocorre que é preciso ver o símbolo do sudário, o lenço que cobriu o rosto do Senhor. Os panos de linhos estavam colocados por terra (Jo 19,6). O sudário dobrado em um lugar, à parte. Não cobria mais o rosto Divino de Jesus. Vendo-O, podemos ver o Pai. A primeira geração viu Jesus para dar o testemunho. Nós podemos “crer sem ter visto” (Jo 20,29). Por isso somos felizes. Por que Pedro somente vê e João além de ver, crê? Trata-se de ver com o amor. João, o discípulo amado pode ser ele mesmo a fazer a conclusão do Evangelho, tendo ele vivido o fundamental que era ser o discípulo amado. Com o rosto do Cristo descoberto podemos completar o conhecimento pelas Escrituras. Elas, a partir da Ressurreição, chegam a sua plena realização. 
Buscar as coisas do alto 
Como acontece a Ressurreição em nós. Como vivemos como ressuscitados? É a vida nova em Cristo, que é a vida batismal, realizada pelo Espírito Santo que faz morrer e ressurgir na fonte da graça. Trata-se de estarmos sempre ligados às coisas do alto para onde somos destinados a viver. Buscamos assim de onde surge a vida e para onde se dirige. Para ser cristão requer-se uma caminhada de acordo com a Ressurreição de Cristo, na vida nova. Por isso temos um cristianismo desfibrado. Não tem, conscientemente noção, de onde vem, nem para aonde vai. As coisas do alto não nos tiram da terra. Elas fazem com que transformemos as coisas da terra em coisas do alto. 
Leituras: Atos 10,34ª.37-43;Salmo 117;Colossenses 3,1-4; João 20,1-9 
Ficha nº 1850 - Homilia Páscoa do Senhor (21.04.19) 
1. A Ressurreição é um fato e não uma ideia. Ele move os discípulos. 
2. Crer significa unir todo o conhecimento a uma vida ressuscitada. 
3. Buscamos assim de onde surge a vida e para onde se dirige. 
Corrida desigual 
Diante da notícia do túmulo vazio, grande prova da Ressurreição, Pedro e João correm. Pedro é mais velho e João jovem. João chega primeiro e espera Pedro chegar. A desigualdade de idade não tirou o dom que Pedro recebera de ser o primeiro a proclamar a fé em Cristo como Messias, Filho de Deus. Pedro entrou e viu. João entrou, viu e creu. Quem tem o primado da fé? O discípulo amado ensina o primado do amor. Porque amou soube entender melhor a notícia da Ressurreição de seu Amado Senhor. A notícia da doença grave de Lázaro foi dada no telegrama do amor: “Aquele que amas está doente”. Jesus demorou para ir. Ele já tinha morrido. Mas o Amor foi maior. Deu-lhe a vida. O amor também é o primeiro a chegar ao túmulo de Jesus, pela Madalena e por João.

domingo, 14 de abril de 2019

nº 1849 Artigo - “Tríduo Pascal”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
2185. Em memória de mim 
Com a “Ceia do Senhor”, iniciamos os três dias (tríduo) da Páscoa do Senhor. Na Páscoa se realiza para nós a salvação. Aconteceu em um momento da vida de Jesus e nós, pela memória sacramental, o celebramos nos três momentos: Ceia, Morte e Sepultura, e Ressurreição. Esses momentos são um só e único Mistério Pascal. Mistério não por ser incompreensível, mas porque, no sentido original do termo grego, podemos participar dele através de determinados ritos e, nós, como cristãos, através também da fé. Celebrando, fazemos memória e atualizamos o acontecimento e dele participamos como momento de salvação. Jesus o realiza quando, celebrando a ceia com seus discípulos, mandou que fizéssemos a mesma coisa em sua memória. Mas Ele não havia morrido ainda. Por isso podemos fazer após a sua morte, o que Ele próprio realizou antes dela. Fazer memória não é lembrar com fé, mas tornar presente o mesmo acontecimento com o mesmo dom de graça. Por isso podemos celebrar a Eucaristia e dizer: Isto é meu Corpo, isto é meu Sangue. Fazer memória é suplicar a Deus que renove as maravilhas que fez por nossa salvação. Pedimos, é porque temos a certeza que vamos receber, pois o Espírito nos foi dado para nos “ensinar tudo e recordar tudo o que vos disse” (Jo 14,26). 
2186. Tudo está consumado 
Ao contemplar os acontecimentos da Paixão ouvimos diversas palavras de Jesus que, mais que expressões de morte, são caminhos de vida. Posso até dizer que é uma síntese de sua espiritualidade. É seu caminho espiritual. Perdoa os inimigos e diz que não sabem o que fazem. É preciso estar de bem com o mundo e com todos. Inclusive o ladrão é chamado de bom porque está aberto ao Reino e, é acolhido. Todo o ser humano é possível. Está bem com os seus, dando-nos Maria, símbolo da humanidade. O caminho espiritual é sempre estimulado por um desejo. Por isso tem sede. É o anseio louco de Deus, mesmo sentindo o total abandono. Quanto mais temos Deus, mais Ele se faz ausente, para que o crescimento o chegue ao máximo de tudo que poderia ser feito por Deus e para Deus. É o grito da correspondência ao desígnio de Deus. Sentido o total abandono põe-se nas mãos de Deus: “Em vossas mãos entrego o meu Espírito”. Não só Se entrega ao Pai, mas dá o Espírito que O animava e conduzia para que reproduzíssemos em nossa vida o mesmo que fez.
  2187. Ele vive 
A pedra rolada sobre a abertura do túmulo, foi a resposta clara dos que queriam o fim daquela aventura. Mas, ao terceiro dia, na madrugada do domingo, Ele Ressuscitou. E está vivo. Com esse fato comprova todo seu ensinamento. O Pai o ressuscitou. Um anjo removeu a pedra da entrada do túmulo. Durante séculos houve sempre mais interesse em sua morte. A Ressurreição foi deixada de lado na mentalidade do povo. Contudo, aí está o ponto de chegada de todo o desígnio de redenção de Deus. Agora Cristo conduz seu povo, pois venceu a morte. Rezamos na profissão de fé que Ele “desceu à mansão dos mortos (diziam-se infernos), ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus” (profissão de fé). Infernos não é o Inferno, mas o “lugar onde estavam as almas dos mortos. Descer aos infernos significa que Cristo abre a vida eterna a todos. A redenção se destina a todos os povos de todos os tempos. A Vigília Pascal celebra esse momento e nos põe em comunicação espiritual com Ele vivo e ressuscitado. É o que celebramos cada dia.

domingo, 7 de abril de 2019

nº 1848 - Homilia do Domingo de Ramos (14.04.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Exemplo de humildade” 
Abriu-me os ouvidos 
A liturgia do Domingo de Ramos é festiva na primeira parte, celebrando a Entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado como o Messias que vem em nome do Senhor. A seguir há o ritmo quaresmal voltado para a Paixão do Senhor. É o mistério pascal em uma síntese. O Messias sofredor é o Senhor ressuscitado. Isso nos leva a não vermos a Semana Santa só sob o signo da dor, mas também da glória. Compreendemos esse momento ao ouvir a leitura de Isaias com o poema do Servo de Deus que tem os ouvidos abertos para prestar atenção como discípulo. Obediência não é, em primeiro lugar, cumprir ordens. É ter a capacidade de ouvir e realizar o projeto de Deus para nossa vida, como o fez Jesus. É nessa obediência que encontra resistência para passar pelo sofrimento: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba”. Por isso “não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como a pedra, porque sei que não serei humilhado” (Is 50,6-7). O salmo reflete o profundo sofrimento e abandono que Jesus sente na cruz: “Por que me abandonastes?” Mesmo assim se ergue e diz: “Anunciarei o vosso nome aos meus irmãos” (Sl 21). Ele assumiu a condição de escravo... Humilhou-se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou” (Fl 2,6-11). Em Jesus o Pai quis dar exemplo de humildade (oração). Deus quis dar aos homens um exemplo de humildade... por isso quis que nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Assim aprendamos para ressuscitar com Ele. É o único caminho válido para a fé cristã. 
Palavras que são caminho 
Estamos acostumados a ouvir e a nos comover com a narrativa da Paixão de Jesus. Não basta a comoção que logo passa. Ela é um caminho de reflexão e um projeto de vida. As palavras pronunciadas por Jesus são um catecismo espiritual. O primeiro passo é o perdão aos inimigos. Esse é o projeto de paz e purificação. Ganha quem perdoa. É um passo grande na vivência do mistério de Cristo. Isso se concretiza no perdão ao ladrão que lhe diz: “Lembra-te de mim quando entrares no teu reinado” – “Em verdade te digo: ainda hoje estará comigo no Paraíso (Lc 23,42). A redenção é um ato total e completo. Não deixa para depois. Sofrer com Cristo é ter essa chave do paraíso. Com voz forte, em um grito diz: “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito”. O caminho espiritual de Jesus, que é seu Evangelho, está todo e sempre direcionado ao Pai. Sua morte é a escola de como servir e amar o Pai. É com todo vigor que Se entrega a Deus. Não há meias palavras. Jesus não vê sua morte como derrota. Ele a vê como a vitória que vence a morte, porque Ele a sofre já vivo no coração do Pai. Eis a tua Mãe, é o caminho da ternura implantado em sua Mãe. 
Por isso Deus O exaltou 
A morte não é o fim, mas o caminho para a vida. Sabemos que Jesus ansiava por esse momento. Disse: “Devo receber um batismo (morte) e como me angustio até que esteja consumado” (Lc 12,50). O desejo de Cristo de realizar a vontade do Pai O leva a buscá-la ansiosamente realizar esse projeto. Por que chegar ao extremo do amor? O Pai não queria o sofrimento do Filho. Mas o Filho sabe o que vai lhe acontecer porque há a grande recusa dos chefes. Isso Jesus descreve em suas parábolas e durante seu ministério está sempre em choque com esses homens que não entenderam o projeto de Aliança que lhes fora concedido. De beneficiários das promessas passaram a donos do projeto em proveito próprio. A morte de Jesus é sua vitória. Por isso Deus O exaltou (Fl 2,9). 
Leituras: Lucas 19,28-40; Isaias 50,4-7;Salmo 121; Filipenses 2,6-11; Lucas 23,6-11 
Ficha: nº 1848 - Homilia do Domingos De Ramos (14.04.19) 
1. A obediência de Jesus o põe em atitude de total entrega ao Pai. 
2. As palavras de Jesus na Cruz são um caminho espiritual. 
3. Jesus realiza o desígnio do Pai porque sabe que Nele está seguro. 
A saga do jumento 
Jesus entrou em Jerusalém montado num jumentinho. Há parábolas que o põem em atitudes ridículas. Mas ele tem seu lugar no mistério de Jesus, pois o levou na gloriosa entrada na Cidade Santa. A inocência do animal o deixa animal. Mas cumpriu o que lhe cabia. Isso se torna para nós uma parábola. Podemos, mesmo não sabendo tanto o que está acontecendo em nossa vida, em nossas atitudes, mas fazemos o que devia ter sido feito. O que não ficará sem o reconhecimento. Certo que temos consciência, o que nos compromete mais. Em nossa fragilidade podemos não perceber tudo o que fazemos, mas nem por isso deixa de ser realizado o mistério de Deus em nossa vida. A obra não se concluirá só porque temos perfeição do que sabemos, mas sim perfeição com que a realizamos, mesmo sem entender tudo. Não existe ninguém sabido que entenda tudo e não há alguém tão frágil que não realize nada porque não entende nem sabe.

nº 1847 Artigo - “O dom e a cruz”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
2182. A lógica do dom e da cruz 
Chegamos, com este texto, à última reflexão do Papa Francisco na Exortação Apostólica “Gaudete et Exultate”= (Alegrai-vos e Exultai), sobre a Chamado à Santidade no Mundo Atual. Ele nos oferece um vasto panorama sobre essa realidade. Encerramos com o ensinamento sobre a “lógica do dom e da cruz”. Discernir exige a paciência e a cruz. Diz: “A condição essencial para avançar no discernimento é educar-se para a paciência de Deus e os seus tempos, que nunca são os nossos” (GE174). Insiste na lógica da cruz: “Além disso, requer-se generosidade, porque ‘a felicidade não é deste mundo, ‘é a nossa lógica’, como dizia São Boaventura, referindo-se à cruz. Quando uma pessoa assume esta dinâmica, não deixa anestesiar sua consciência e abre-se generosamente ao discernimento” (Id). Discernir não para tirar proveito para própria vida, mas para reconhecer como podemos cumprir melhor a missão que nos foi confiada no Batismo e, isto implica estar disposto a fazer renúncias até dar tudo, comenta o Papa. O discernimento nos coloca na lógica da cruz que sintetiza a aceitação completa do plano divino de Salvação. Entramos em outro mundo com outras dinâmicas que nos colocam numa vida que atingem o homem em todo seu ser. Discernir é também abrir-se ao mistério da cruz que não se resume na dor, mas na capacidade de ir até o fim na opção pelo bem, por Deus, e pelos outros. 
2183. Decisão e força 
Escolher os caminhos da vida na presença de Deus nos leva a penetrar todos os espaços de nossa vida, diz o Papa. Com isso temos a certeza que nossa decisão nos levará a crescer muito e dar mais a Deus, mesmo quando estamos em dificuldades. É nelas que nos fortalecemos. É um treinamento que nos dá força espiritual. Quem lutar, se fortalece e consegue maiores forças para enfrentar as cruzes. Notamos a importância de um contato com Deus que se faz na oração e, sobretudo, na prática do Evangelho que é o meio de exercitar-se na luta. Mas não somos heróis invencíveis. Somos frágeis e temos medos. Temos receio de que a força da graça penetre nos recônditos de nossa vida. O orgulho nos impede de deixar Deus agir. É necessário o discernimento para tirarmos esses empecilhos do orgulho e da vaidade. Ter medo de ser fraco não nos torna fortes. Assim escreve o Papa Francisco: “Mas é necessário pedir ao Espírito Santo que nos liberte e expulse aquele medo que nos leva a negar-Lhe a entrada em alguns aspetos da nossa vida... Ele não quer entrar em nós para mutilar ou enfraquecer, mas para levar-nos à perfeição. Isto mostra-nos que o discernimento não é uma auto-análise presunçosa, uma introspecção egoísta, mas uma verdadeira saída de nós mesmos para o mistério de Deus, que nos ajuda a viver a missão para a qual nos chamou a bem dos irmãos” (GE 175). 
  2184. Ave Maria 
O Papa Francisco encerra suas reflexões com Maria porque Ela viveu como ninguém as bem-aventuranças de Jesus. “É aquela que nos mostra o caminho da santidade e nos acompanha. E, quando caímos, não aceita deixar-nos por terra e, às vezes, leva-nos nos seus braços sem nos julgar. Conversar com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas palavras... É suficiente sussurrar uma vez e outra: Ave Maria...” (GE 176). E completa: “Espero que estas páginas sejam úteis para que toda a Igreja se dedique a promover o desejo e a busca da santidade. Peçamos ao Espírito Santo que infunda em nós um desejo intenso de sermos santos para a maior glória de Deus; e animemo-nos uns aos outros neste propósito. Assim, compartilharemos uma felicidade que o mundo não poderá tirar-nos

quarta-feira, 3 de abril de 2019

nº 1846 - Homilia do 5º Domingo da Quaresma (07.04.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Eu não te condeno” 
Farei novas todas as coisas. 
Estamos próximos das festas pascais, passando pela Paixão do Senhor. Somos convocados a identificar nossa vida com a vida do Redentor. Rezamos na oração da missa: “Dai-nos caminhar com alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo”. Devemos fazer o mesmo caminho de amor na entrega ao Pai. Essa entrega visa o chamado à conversão e perdão dos pecados. Jesus perdoa o pecado, mas quer que saiamos dele com coragem e serenidade. Temos no evangelho a maravilhosa cena da pecadora que está diante de Jesus, na espera de uma condenação, mas ganha um perdão. É o que diz o profeta Isaias: “Eis que farei novas todas as coisas e, que já estão surgindo” (Is 43,19). A Redenção de Jesus é maravilhosa em sua dimensão de perdão e vida nova, como “rios que brotam na terra seca” (Id 20). Esse perdão é total transformação do mundo. Por mais que tenhamos problemas, já temos as soluções em Cristo: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria” (Sl. 125). A Paixão de Jesus deixa-nos estupefatos diante da crueldade dos homens. Pior é que os homens não se renovam e repetem as mesmas crueldades com o povo, sem se darem conta que continuam assassinando o Filho de Deus no corpo dos sofredores. Jesus continua a escrever no chão a lista de nossos pecados. Escreve no pó da areia. Deus não grava nossos pecados, pois não escreveu em pedra. Os ventos os levam. A Redenção é a maravilha de Deus em Cristo. O sofrimento que Lhe custou a vida não são mais que traços desse amor. 
Considero tudo lixo 
O mistério da Redenção atinge nossa vida no momento em que damos a Cristo valor total. Paulo é o modelo acabado de escolher Jesus com totalidade de sua vida: “Por causa dele perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado por Ele... com a justiça por meio da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus na base da fé” (Fl 3,8-9). Nossa fé sofre de um defeito que é a falta de entrega. Sem isso, não passa de uma ideologia religiosa que sustenta algumas frágeis opções. Na maioria das vezes damos valor ao secundário, ao inútil, ao cultural, ao vazio, ao que não compromete. Religião não é ideologia. Vivemos uma busca de princípios sociais religiosos. Por isso a fé perde a vitalidade que levou homens e mulheres a darem a vida por Cristo. Quando deixarmos tudo por Ele, saberemos o que significa ter fé. Podemos considerar lixo aquilo que não gera vida, isto é, não seja fruto do amor, “o mesmo amor que levou Jesus a entregar-se à morte no seu amor ao mundo”. Celebrando seu Mistério Pascal, mistério da Paixão, Morte e Ressurreição, temos a certeza de realizar em nós o que celebramos na comunidade. Temos tanta certeza dessa verdade que dizemos: “Vem, Senhor Jesus”! 
Atire a primeira pedra 
Poderiam condenar a mulher como adúltera (O adúltero não aparece). Não pecou também? Os que queriam que Jesus condenasse a mulher para acusá-Lo de não cumprir a lei, acabaram por acusarem a si mesmo de pecadores. Jesus, inocente, não atira a primeira pedra, pois a sua inocência conhece o perdão e crê na conversão, pois diz à mulher: “Ninguém te condenou? - Ninguém Senhor! – Eu também não te condeno. Daqui em diante não peques mais” (Jo 8,11). Jesus dissera: “Eu não condeno ninguém” (Jo, 8,15). Quando muito podemos dizer: esse caminho não é bom, pois não sabemos o que há no coração do homem para acusá-lo. Há muitos acusadores. São os fariseus de sempre. 
Leituras: Isaias 43,16-21; Salmo 125; Filipenses 3,8-14;João 8,1-11. 
Ficha nº 1846 - Homilia do 5º Domingo da Quaresma (07.04.19) 
1. O perdão da Redenção é a total transformação do mundo. 
2. Podemos considerar lixo aquilo que não gera vida, isto é, não seja fruto do amor. 
3. Jesus não atira a primeira pedra, pois a sua inocência conhece o perdão. 
Jesus escrevia no chão 
Essa cena de Jesus escrever no chão é muito intrigante. Podemos pensar que escrevesse os pecados dos acusadores, pois, depois saíram de fininho, quando Jesus disse que, quem não tivesse pecado jogasse a primeira pedra. A acusação era grave e a situação de Jesus era desagradável, pois se negasse, seria acusado de não cumprir a lei. Jesus não toma nenhuma atitude. Fica rabiscando o chão com um ramo, quem sabe. Está dizendo que aquilo não lhe interessava. Não nega a lei. Mas dá o desprezo à atitude deles. E vão saindo um após outro, a começar dos mais velhos. Envelhecer no pecado é muito ruim.