sábado, 27 de março de 2021

nº 2052 - Homilia do Domingo de Ramos (28.03.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Bendito o que vem” 
 Domingo de Ramos 
Celebramos o 6º domingo da Quaresma, caminhando para o Tríduo Pascal. Nesse dia celebramos o Domingo de Ramos que é uma memória desse momento da vida de Cristo. Os fatos de sua vida não podem ser conhecidos só como um acontecimento fechado em si, mas se direcionam para a realização do desígnio salvador do Pai na morte e ressurreição de Cristo. A oração Pós-Comunhão da Missa diz: “Como pela morte de vosso Filho nos destes esperar o que cremos, dai-nos, pela sua ressurreição, alcançar o que buscamos”. Estamos envolvidos no Mistério da Redenção. Por ele fazemos nossa Páscoa. A celebração de hoje tem dois momentos: a festiva entrada de Jesus saindo de Betfagé até Jerusalém. É uma celebração na qual refazemos espiritualmente aquele momento. O segundo é a Missa que tem o clima da Paixão. Nela lemos a narrativa de sua Paixão segundo Marcos. Podemos até dizer que começamos alegres, para encontrar, depois da dor da Paixão, a alegria da Páscoa. Retomamos a tensão da semana que Jesus viveu em Jerusalém. É curioso notar que a entrada de Jesus está direcionada à cidade, não só no sentido físico, mas espiritual, quando ele chora sobre ela dizendo: “Ah! Se nesse dia também tu conhecesses a mensagem da paz” (Lc 19,41). O sentido espiritual da procissão que fazemos é fazer com Jesus a caminhada do sofrimento para a ressurreição. Isso é já participar do Mistério Pascal de Jesus. Não colocamos ramos ou mantos sobre o caminho, mas colocamos os nossos corações para que Jesus possa entrar em nossa Jerusalém. 
Humilhou-se até a morte 
A primeira leitura e a carta de Paulo aos Filipenses descobre para nós a figura do Servo sofredor ao qual Jesus é identificado. Isaías descreve-o como um sofredor que não recusa o sofrimento. A figura profética do Servo lembra os sofrimentos de Jesus. Por que Jesus sofre? Esse hino de Filipenses, usado pela comunidade, reflete o sofrimento de Jesus que assume a forma de escravo – servo. A aniquilação de Jesus (kénosis – na linguagem da teologia) descreve sua pessoa no máximo de sua humanidade sofredora. Em Jesus, a virtude que o faz redentor é a humildade. Humano, igual a nós, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz. Morte de cruz não é só a morte dada ao escravo, mas é também um sinal de maldição: “Aquele que é pendurado é um objeto da maldição divina” (Dt 21,23). Quando os chefes dizem: “Crucifica-o” (Mc 15,13), estavam dizendo que nem Deus O quer. Por isso Jesus vai clamar na cruz: “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?” (Mc 15,34). Essa foi a maior humilhação para Jesus, pior que a dor. O salmo 21, que Jesus reza na cruz, descreve os sofrimentos da Paixão. 
Anunciarei vosso nome 
O salmo faz uma bela leitura desse momento doloroso de humilhação pelo qual Jesus passa. Em Jesus, e também em nós, o sofrimento não é o fim de tudo. O Deus que fere, cura as feridas (Jó 5,18). O salmo reza: “Anunciarei o vosso nome a meus irmãos e no meio da assembleia hei de louvar-vos” (Sl 21). O Mistério Pascal de Cristo continua no anúncio como já feito após a Ressurreição como Jesus diz: “Vá dizer a meus irmãos” (Jo 20,17). É um anúncio de Vida. A Ressurreição explica todo o sofrimento que Jesus teve que passar. Torna-se assim a garantia de tudo que passamos por seguir Jesus. O sofrimento jamais é sem sentido. Jesus deu o sentido ao inexplicável: A vida doada. O resultado depende de Deus. “O grão de trigo... se morrer, produz muito fruto” (Jo 12,24). 
  Leituras: Marcos 11,1-10;Isaías 50,4-7;Salmo 21; 
Filipenses 2,6-11;Marcos 15,1-39. 
Ficha nº 2052
Homilia do Domingo de Ramos (28.03.21) 
1. O sentido espiritual da procissão é fazer a caminhada do sofrimento para a ressurreição. 
2. A aniquilação de Jesus descreve sua pessoa no máximo de sua humanidade sofredora. 
3. O sofrimento jamais é sem sentido. Jesus deu o sentido ao inexplicável. A vida doada. 
Uma festa sem convite 
Jesus mandou pegar um jumentinho que ninguém montara ainda. Devia ser novo e pequeno. E o povo faz festa. Não sabia o que estava acontecendo, mas estava bom. Tem até a lenda de que ele pensava que a festa era para ele. Depois, sozinho, ninguém ligou para ele. A festa era do povo que via em Jesus a esperança. Às vezes achamos que somos o centro. Penso que participar da festa de Jesus é estar feliz com Ele na festa dele. Não é dar uma de jumento, mas, que a gente leve Jesus por onde for, mesmo não entendendo o que Ele faz. Já está bom.

domingo, 21 de março de 2021

nº 2050 - Homilia do 5º Domingo da Quaresma (21.03.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“A morte que dá vida” 
Aliança do coração 
A aliança do coração, proclamada por Jeremias, é um passo a mais no caminho para aliança feita no sangue de Jesus que é um “contrato” assinado pelo coração e não pelo sangue de vítimas animais. A lei foi dada no Sinai. Agora é proclamada no coração, montanha mais alta que o Sinai. Não escrita em pranchas de pedra, mas impressa no coração. Estabelece o contrato pelo conhecimento. Por isso o fiel vai pedir que Deus lhe dê um coração puro, um espírito decidido (Sl 50). É nesse coração que se fundamenta o relacionamento de Deus com seus filhos. É ali, no coração de Cristo, que se estabelece o altar do sacrifício dessa aliança, “pela obediência a Deus por aquilo que sofreu” (Hb 5,8). O sangue dessa aliança escorreu primeiro do coração. Depois, desse mesmo coração escorreu para ser vida: “De seu coração escorreu sangue e água” (Jo 19,34) que serão para os cristãos o Batismo e a Eucaristia. Recebendo esses sacramentos e vivendo-os, completamos o caminho longo das alianças de Deus com seu povo. Agora estão abertas a todos os povos. “Vós que outrora não éreis povo, agora sois povo de Deus” (1Pd 2,10). O profeta Jeremias afirma que essa aliança está na linha do sentimento e do conhecimento: “Imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração”. Ela concluirá como mútuo conhecimento de pertença: “Serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jr 30,22). Jesus, autor dessa nova aliança, vive-a na sua entrega ao Pai e transmite-a a todos que o acolheram: “A todos que o acolheram, deu-lhes o poder se tornarem filhos Deus: aqueles que crêem em seu nome”(Jo 1,12). 
Caminhar com o mesmo amor 
Rezamos na oração da coleta : “Dai-nos, por vossa graça, caminhar com alegria na mesma caridade que levou vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo”. É o amor redentor que fundamenta a nova aliança que nos abriu o caminho da redenção. Fomos salvos por amor e, somente no amor, podemos acolher os frutos da redenção. No Sinai, foram dados os dez mandamentos. Na ceia Jesus dá o novo mandamento, o seu mandamento: “Este é o meu preceito: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos” (Jo 15,12-13). Esse mandamento é o código da nova e eterna aliança. Ele é o fundamento do novo povo, como os dez mandamentos foram para o povo no Sinai. Daqui nasce o novo povo. Se fizermos diferentemente, estamos na situação daqueles que recusaram a pessoa de Jesus, sua doutrina e sua missão. O que desfibra a Igreja é a atitude de infidelidade que percorre todas as alianças. A Quaresma acentua a penitência, o jejum, a oração. Mas só têm sentido quando vivemos o amor. A Campanha da Fraternidade sempre buscou o gesto concreto.
Queremos ver Jesus 
Os gregos querem ver Jesus. Ele então prorrompe numa grande proclamação de sua missão: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. A glorificação é o cumprimento de sua missão na cruz. Elevar na cruz era sua glorificação. Entende sua vida entregue à morte, como a semente que só terá sentido, se morrer. Assim produz fruto. É o ensinamento sobre o sentido da vida: “Quem se apega a sua vida, perde-a. Mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Somente assim que se pode se cristão. A Igreja só se realiza na entrega ao mundo. A vida é eucarística quando realiza as palavras: “Isso é meu corpo que é entregue por vós” 
Leituras Jeremias 31.31-34; Salmo 50;
Hebreus 5,7-9;João 12,20-33. 
Ficha nº 2050
Homilia do 5º Domingo da Quaresma(21.03.21) 
1. É no coração de Cristo, que se estabelece o altar do sacrifício da nova aliança. 
2. Fomos salvos por amor e, somente no amor, podemos acolher os frutos da redenção. 
3. A Igreja só se realiza na entrega ao mundo. 
Negócio mal feito 
Deus não é um bom negociante, sobretudo com gente que não cumpre os compromissos. Os outros dão golpes Nele. Diversas vezes fez um acordo no qual se comprometeu totalmente com a outra parte que não cumpriu os acordos. Mas... não desistiu. Queria mesmo vender seu peixe. Vendeu diversas vezes. O que aconteceu foi que a outra parte não cumpriu o trato feito. Tiveram que pagar pesadas multas. Depois, com dó, Ele voltou e continuou favorecendo. Assim foi a história das alianças de Deus com seu povo. Moisés mesmo dizia: esse povo tem cabeça dura. Parece que só aprende apanhando. E apanhou bem. Voltavam atrás, por um tempo... depois se esqueciam. O profeta Jeremias leva a aliança para o centro da decisão que é o coração decidido por Deus. Aí vai funcionar, pois Jesus é essa nova aliança que cumpre o trato com o Pai e nos envolve.

quarta-feira, 17 de março de 2021

nº 2049 Artigo - Pastoral da Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Para o bem de todos 
O que não é mais o mesmo, insiste em manter as mesmas coisas. A Igreja tem o início na pessoa de Jesus que envia o Espírito para que os apóstolos pudessem evangelizar todo mundo com sua autoridade. São continuação de Jesus e de seu poder. Assim nos escreve S. Mateus: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordeneis. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,19-20). Dessa palavra a Igreja fez o seu caminho, procurando sempre o que é melhor para o seguimento de Jesus. Cada época deu sua contribuição. Sempre se convertendo, buscando o melhor modo de compreender a fé e vivê-la na comunidade. A pastoral da renovação parte do conhecimento da Palavra de Deus, da tradição da fé e da necessidade dos tempos. A Igreja não pode se identificar com um modelo humano, mas contribuir para que ele corresponda à resposta que podemos dar a Deus no contexto humano. Por isso, a Igreja sempre se renova (Karl Barth 1947). O que fortalece o conteúdo da fé é sempre apresentá-lo com mais clareza. Não podemos ser medida para Deus. Procura-se o bem do povo de Deus, sem perder a clareza da doutrina. Por isso, o que era bom um dia, nem sempre é bom para todos os dias. A Quaresma, que passou por muitas épocas, trouxe consigo bens a serem mantidos e outros a serem deixados. Ela não existe para si, mas tem a finalidade promover a conversão. Renovamos as promessas do Batismo pelo qual somos inseridos em Cristo. O que nosso tempo tem contribuído para a melhor preparação para a Páscoa?
Páscoa da Ressurreição 
O jejum, a oração e a esmola atravessam os tempos como características da Quaresma. Mas evoluiu para uma compreensão mais aprofundada. Quanto ao jejum: passar fome, muita gente passa, mas não é jejum. A esmola não é só distribuir bens, mas promover a vida em seu sentido integral. Oração não só rezar individualmente, mas tem a dimensão comunitária. Jesus nos salvou individualmente, mas também como parte de um corpo. O Brasil fez uma belíssima adaptação através das reuniões de setores para a vivência comunitária da oração e reflexão da Campanha da Fraternidade, que não existe em outras partes da Igreja. Partimos então para o comunitário, não só individual. É justamente o caminho do Concílio Vaticano II. A dimensão de Páscoa é integrante da Quaresma. Não era antes. Podemos lembrar que o povo todo ia à procissão do Senhor Morto. Mas poucos à celebração da Vigília Pascal, que é fundamental. Não descartou a procissão, mas encaminhou para o fundamental que é a Ressurreição do Senhor. Perdemos valores, mas ganhamos outros. Todos os elementos da piedade popular provêm de uma época em que a liturgia era coisa de padre, rezada em latim. Belezas infinitas. Mas o povo não fazia parte. Cada tempo tem o dever de acolher e o direito de criar o melhor para expressar o mistério. 
Dimensão batismal 
A celebração da Quaresma nasceu da celebração dos batismos dos catecúmenos na Vigília Pascal que é a celebração da Ressurreição que acontece em quem é batizado. Para esse momento foi composta, pelos tempos, uma liturgia própria. Foram feitos belíssimos batistérios, já nos tempos das “Domus Ecclesiae” quando não havia ainda igrejas, mas a celebração “na casa da comunidade”. Os fiéis se uniam aos batizandos acompanhando na preparação e na celebração. Nós, que não vivemos essa realidade. Mudamos o sentido para a renovação do batismo e a retomada da vivência da fé.

sábado, 13 de março de 2021

nº 2048 - Homilia do 4º Domingo da Quaresma (14.03.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Alegra-te, Jerusalém”!
Aliança que restaura 
Todos os anos o quarto domingo da Quaresma nos dá uma nota de alegria. São os primeiros raios da Páscoa que iluminam o mundo. No contexto da aliança, resplandece sempre o esplendor da nova aliança realizada em Jesus e por Ele. A nota de alegria é sentida pelo povo quando, depois de um grande exílio, veio a libertação e o retorno à pátria amada. Cantaram com muita dor: “Juntos aos rios da Babilônia nos sentávamos e chorando, com saudades de Sião” (Sl 136). Deus perdoa e esquece. Jesus é a expressão máxima da resposta de Deus à dor humana, fruto do pecado. A infidelidade tem preço. Mas a fidelidade de Deus é maior que o pecado humano. Jesus assume o sofrimento humano, fruto do pecado e liberta a humanidade da condenação. Por isso, se faz homem, assume a carne do pecado e sendo crucificado oferta a Deus adesão ao desígnio de salvação. Nele temos a reconciliação. Nele fazemos nossa adesão ao desígnio de vida nova. O grande convite de Jesus, do alto da cruz, é fazer o julgamento: oferecer a luz, para que, todo aquele que Nele crer tem a vida eterna. Quem não crer já foi julgado e está condenado: “Quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigênito” (Jo 3,18). O julgamento não se faz na justiça humana, mas nas “obras que Deus preparou para que nós as praticássemos” (Ef 2,10). 
Rico em misericórdia 
Todo o relacionamento do Deus da aliança com seu povo, e depois em Cristo, com o universo, se faz na base da misericórdia. Ouve-se dizer que Deus é misericordioso, mas é também justo. Exatamente, sua justiça se funda na misericórdia. Por isso o arrependimento só acontece quando cremos que Deus nos ama com intensidade. Falsos como somos, queremos justiça, mas para os outros. Esquecemos de olhar nossos fardos. Jesus dizia: “Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu?” (Mt 7,3). Por isso, não julgar. Se julgar, seja com a misericórdia. Paulo, em Efésios, salienta que “Deus é rico em misericórdia”. Não fizemos nada por merecer, pois “quando ainda estávamos mortos por causa de nossas faltas, Ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos!” (Ef 2,4-5). Deus não nos condena, pois Cristo, em sua Paixão e Ressurreição abriu para nós as portas do Paraíso. Paulo afirma: “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3,17). À medida que nos aproximamos da verdade desse amor, manifestamos que nossas obras são feitas em Deus (Jo 3,21). Uma pastoral que se preze deve ser feita na base da misericórdia, senão, não é cristã. Jesus salvou o mundo manifestando a riqueza da graça (id 7) 
Agir na verdade 
“O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiam as trevas à luz porque suas obras são más” (Jo 3,18-19). As obras boas são fruto da opção por Jesus Salvador. João insiste: “Quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3,21). Não basta a fé, é preciso que a fé se manifeste através das obras, como diz Tiago (2,18). A caridade para com Deus só acontece quando ela se concretiza na caridade para com o próximo. Paulo também afirma que o que “vale é a fé agindo pela caridade” (Gl 5,6). João em sua carta diz: “Esse é o seu mandamento: crer no nome de Jesus e amar-nos uns aos outros” (1Jo 3,23). A fé cristã não é um conjunto de doutrinas, mas uma vida de amor que se realiza no múltiplo cuidado dos outros. 
Leituras: 1 Crônicas 36,14-16; Salmo 136; 
Efésios 2,4-10; João 3,14-21. 
Ficha nº 2048
Homilia do 4º Domingo da Quaresma (14.03.21) 
1. Jesus é a expressão máxima da resposta de Deus à dor humana, fruto do pecado. 
2. Deus é misericordioso, mas é também justo e sua justiça se funda na misericórdia. 
3. As obras boas são fruto da opção por Jesus Salvador. 
Namoro antigo 
Percorrendo o caminho do povo de Deus, que nem sempre foi de Deus, vemos que foi um namoro difícil. O povo é tido como a esposa nem sempre fiel. O resultado é sempre pesado: o povo curte um grande sofrimento. A gente paga por onde peca. No excesso de sua liberalidade diante da lei, encontra a prisão, o exílio, a deportação. Os profetas admoestaram, mas eles zombaram dos profetas, desprezaram a Palavra de Deus. Até que Deus perdeu a calma. Foram para o exílio, a cidade foi destruída e o povo humilhado. Mas... o namorado volta ao antigo amor. Deus ama muito e não suporta que sua amada sofra mais. Vê as lágrimas e o arrependimento. Então, comovido, restaura a situação. Para encontrar o remédio para todos os males, Jesus morre e ressuscita. Todos os que Nele creem tem a vida eterna. É um amor eterno.

sexta-feira, 12 de março de 2021

nº 2041 Artigo - Das cinzas à Ressurreição

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
A caminho da Páscoa 
Cada ano a comunidade se reúne para dar início à caminhada para a Páscoa. Não nos cansamos de buscar o Senhor onde Ele se deixa encontrar. É em seu mistério pascal que podemos realizar nosso caminho de salvação. A celebração da Quaresma era muito discreta nos 300 primeiros anos da Igreja. Havia somente um jejum para a comunidade. Depois a Igreja começou a sentir a necessidade de um tempo maior. Pelos fins do século IV temos a instituição dos quarenta dias de jejum. Como não se jejua no domingo, a Quaresma se inicia na Quarta-feira de Cinzas. Note-se que são mais de 40 dias. Temos também a exigência do catecumenato a ser feito nesse tempo, com ritos próprios. Com o desconhecimento da liturgia, perdeu-se muito de seu sentido e se tornou devocional. A riqueza da Quaresma tira sua força e beleza em sua finalidade que é a celebração da Páscoa, na Vigília Pascal. Nela celebramos a Ressurreição no Batismo e na celebração da Eucaristia. A teologia, isto é, seus ensinamentos, devem ser encontrados nos textos das leituras e das orações do período. Temos a Campanha da Fraternidade que escolhe uma temática que tem um aspecto pascal. São orações e a dimensão da fraternidade está bem presente nas três dimensões do evangelho: oração, esmola e jejum. Esses três elementos atingem o ser humano em sua dimensão pessoal, espiritual e comunitária. O homem se prepara para que o Homem Novo, Jesus Cristo, possa renovar todo homem. 
Começando a Quaresma 
Ao iniciar a Quaresma podemos acolher o ensinamento da Igreja referente a esse momento: Diz a liturgia da Igreja: “O tempo da Quaresma visa preparar a celebração da Páscoa; a liturgia quaresmal, com efeito, dispõe para a celebração do mistério pascal tanto os catecúmenos, pelos diversos graus de iniciação cristã, como os fiéis pela comemoração do batismo e pela penitência” (Missal Romano e SC 109). São três finalidades: a preparação dos catecúmenos, a comemoração do próprio batismo e a dimensão penitencial. É tempo de uma conversão maior à vida cristã, e à vida da comunidade eclesial. O rito das cinzas, que tomou um aspecto devocional e, até supersticioso, desviou o sentido da celebração quaresmal. Podemos retomar o sentido oracional: tempo de mais oração, sobretudo na leitura da Palavra de Deus referente a esse tempo. É um tempo rico de leitura da Palavra escolhida para as celebrações. É tempo de jejum. Não somente deixar de comer, mas despojar-se de si mesmo para a abertura ao próximo. O jejum deve se estender às outras dimensões do ser humano. É bom retirar aquilo que impede o Mistério de Cristo penetrar nossa vida. A esmola é o fruto da oração e do jejum: com esse se pode conhecer a necessidade do homem e assumir como missão a redenção em todas as suas dimensões. 
O grito do homem 
É necessário profundo conhecimento do ser humano redimido por Cristo para poder compreender o mistério da Redenção. Cristo o redime em sua carência de Deus devido ao pecado, quer dizer, a separação de Deus. Cristo vem reatar esses laços e nos dar a possibilidade de nos unir com Deus em comunhão de vida com os irmãos. Foi para isso que realizou o Mistério Pascal. Podemos participar desse dom a partir de nossa conversão e mantê-la em contínuo crescimento. Por isso podemos dizer que Deus ouviu o grito do homem na sua miséria e continua a ouvi-lo em seus contínuos desvarios. Até o universo geme em dores de parto, na esperança de entrar na liberdade dos filhos de Deus (Rm 8,22.21).

quarta-feira, 10 de março de 2021

nº 2047 Artigo - “Tempo favorável”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Cristo Modelo 
A liturgia da Quarta-feira de Cinzas, na carta de Paulo aos Coríntios, nos exorta: “No momento favorável, Eu te ouvi e, no dia da salvação Eu te socorri. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2). Deus nos dá muitas oportunidades. A Igreja se organizou para que houvesse condições de viver cada Páscoa sempre com maior preparação. Cristo nos mostra com sua vida, como viver com intensidade esse Mistério. Ele é sempre o modelo. O Mistério Pascal de Cristo não é somente o momento de sua Paixão e Ressurreição, mas é toda sua existência entre nós. Falando de Quaresma, parece que nos satisfazemos com o pouco que temos que fazer, sem procurar aprofundar o conhecimento de Cristo. Jesus é modelo a tomar. É certo que a Quaresma quer seguir Jesus em seus 40 dias de deserto. “Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1). É também o Espírito que nos conduz no caminho de Cristo na Quaresma. É o tempo em que o Espírito nos abre à escuta da Palavra e ao esvaziamento. “Por quarenta dias esteve jejuando. Depois teve fome” (2). O jejum é descrito nas tentações. Não jejuamos de alimento, mas nos esvaziamos. A solidão e o silêncio são características de Jesus: Mesmo no meio da multidão Ele tinha seu interior voltado para o essencial que era seu Pai. O esvaziamento é um seguimento de Jesus. 
O único necessário 
Nesses quarenta dias Jesus jejuou. E sentiu fome. Agora que Jesus deve assumir o anúncio do Reino e chegar à sua total entrega ao Pai pelos irmãos, Ele jejuou. Estava no deserto que não oferecia nada. A solidão e a fome nos tocam profundamente. Estar só nos faz vítimas de tantos “demônios”. As três tentações que o inimigo lhe faz atingem sua Pessoa toda e em todas as circunstâncias. É o desejo do ter, do prazer e do orgulho. Temos fome de tudo. Queremos todos os prazeres. Fazemo-nos donos de tudo, no orgulho e na vaidade. É o eu profundamente egoísta. Despojar-se de todas as coisas é o que nos enriquece, nos completa e nos faz plenos. O exercício de desapego, jejum total, nos torna abertos para Deus, pois Ele assume seu lugar em nós. Ele é o sustento, o gozo e o amor. Jesus sai tão despojado e tão pleno de Deus que todos vão dizer: “Ninguém jamais falou como esse homem” (Jo 7,46). Jesus dirá ao jovem: “uma só coisa te basta: “Vai vende tudo o que tens, dá aos pobres... vem e segue-me”(Mt 19,21). Normalmente damos coisas a Deus e não nos damos. O Pai não aceita concorrentes e cobra sempre de seu Filho a obediência: “Tudo o que O Pai fez, o Filho o faz igualmente” (Jo 5,19). 
Os Anjos O serviram 
Jesus sentiu fome. Não foi só de comida, mas de desejo de realizar sua missão. Aquele Jesus que todos conheciam como o carpinteiro, o Filho de José, sai totalmente outro, homem-missão. Suas palavras e atividades, seus milagres espantam quem o conhecia. Do Homem de Nazaré surge o Homem Filho de Deus que veio a este mundo para dar a vida em resgate de todos. Podemos também entender que Jesus é acolhido pela comunidade dos que creem. Ele disse aos discípulos que lhe ofereciam alimento: “Tenho para comer um alimento que vós não conheceis... o meu alimento é fazer a vontade Daquele que me enviou e realizar sua obra” (Jo 4,31-34). Viver a Quaresma é entrar na obra de Jesus. Assim podemos valorizar nossa Quaresma não como quarenta dias de calendário, mas tempo de viver nossa união ao Cristo que se entrega ao Pai pelo mundo.

sábado, 6 de março de 2021

nº 2046 - Homilia do 3º da Quaresma (07.03.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Deus amou o mundo” 
A lei é perfeita 
No caminho da Páscoa, fazemos memória das alianças com as quais Deus se comprometeu com o homem que criara. Mas o homem rompeu seu compromisso pelo pecado. Deus não desiste de oferecer a participação de sua vida, chegando ao ponto de entregar o próprio Filho para uma nova e eterna aliança. No Sinai Se comprometeu: “Eu vos tomarei por meu povo e Eu serei vosso Deus” (Ex 6,7). Para viver esse relacionamento, Deus promulga a lei que é a base de toda a convivência humana. Os dez mandamentos são o conteúdo da aliança da parte do povo. A pertença a Deus corresponde a uma vida voltada para Ele como o único Senhor e para a convivência humana como extensão do amor a Deus. Nela estão os princípios de uma vida humana realizada e um relacionamento com Deus feito na maturidade da fé. Os dez mandamentos não são bloqueios ao ser humano, mas setas indicativas do melhor caminho. Envolve o homem todo em todas as suas atividades. Mais que imposição, é um dom. A lei é uma fonte de bênçãos. Os mandamentos referentes ao relacionamento humano são decorrência dos mandamentos referentes a Deus. Jesus diz não veio destruir a lei, mas cumprir, até mesmo o último pingo do i (Mt 5,17-18). A aliança do Sinai foi a constituição do povo. Deus prometeu uma descendência. Essa se realiza no povo eleito que tem por missão guardar a aliança. Jesus sintetiza essa lei no amor (Mt 22,39-40). Ele próprio é a maior manifestação da aliança com Deus e, em nosso lugar, a resposta perfeita do compromisso do povo.
Templo do Corpo 
Quando Jesus entrou no templo, expressão máxima da presença de Deus e resposta do povo através do culto, encontrou-o cheio de desordem. Como fiel cumpridor da promessa, limpou o templo. Foi tão repentino que não deixou tempo para pensar. Esparramou tudo. Os discípulos entenderam depois: “O zelo por tua casa me devorará” (Sl 69,10 – Jo 2,17). A nova aliança não será realizada através de sacrifícios de animais como lemos em Gênesis na aliança com Noé 8, 20-22, com Abraão 15,1-18 e o povo Êxodo 24,4-8, mas no sangue no próprio sangue de Cristo (1Cr 11,25. Ele é a vítima imolada. Por isso diz: “Destruí esse templo e Eu o reedificarei em três dias... Ele falava do templo de seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos se lembraram do que Ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra Dele” (Jo 2,21-22). Ser aliança para os povos, era para Jesus seu sacrifício de entrega por todos e em nosso lugar. Ressuscitamos com Ele para que se realize em nós a aliança de acolhimento do desígnio de Deus de unir todos a Si. Vivendo o mandamento de Jesus, realizamos com Ele a redenção do mundo. 
Cristo Crucificado 
O centro de todo o mistério da vida de Deus em nós é Cristo Jesus. Paulo é claro nesse ensinamento: “Os judeus pedem sinais milagrosos, os gregos procuram sabedoria; nós porém pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos... para os que são chamados, é poder e sabedoria de Deus...” (1Cor 1,22-24). Cristo não pode ser enquadrado em nossa mentalidade e nem em nossa ideologia. Não podemos nos servir de Cristo, mas servir a Cristo. Para que seja verdadeiro e completo o anúncio, tem que ser fundado em Cristo. Por aí podemos ver o sucesso de Paulo. Pregou Cristo. Somente participamos de sua vida quando participamos de sua missão de aliança para os povos.
Leituras: Êxodo 20,1-17; Salmo 18; 
1 Coríntios 1,22-25; João 2,13-25.
Ficha nº 2046
Homilia do 3º da Quaresma (2703.21) 
1. Os dez mandamentos não são bloqueios ao ser humano, mas setas que indicam o caminho. 
2. Ser aliança era para Jesus seu sacrifício de entrega por todos e em nosso lugar. 
3. Para que seja verdadeiro e completo o anúncio, tem que ser fundado em Cristo.
Faxina Total. 
Quando se resolve fazer uma faxina total é um carnaval sem música. Tudo é revirado. É uma batalha. E, apesar da confusão, deixa uma sensação de alegria. E de canseira. Foi o que Jesus fez no templo. Essa faxina, que não deu tempo de defesa, é um sinal do modo como se deve evangelizar: não dar tempo de meias medidas, de conversas inúteis, mas de uma mudança repentina e total. Não dá para ter meia fé...meio cristianismo. Os convertidos são radicais. Paulo vai para o chão direto. Ali dá seu golpe: “Quem és Tu, Senhor? Eu sou Jesus a quem tu persegues”, responde Jesus. Eu sei o Jesus que escolhi. Consertar a Igreja é dar uma faxina total, limpar de Pedro ao último fiel. Espanar o templo vivo que é Jesus, aquele que fazemos a nossa imagem.

quarta-feira, 3 de março de 2021

nº 2045 Artigo - Dimensões da Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Batismo e Penitência 
A Santa Quaresma tomou um ar sombrio, um pouco tétrico com muitas proibições: Os santos cobertos de roxo, sem música na celebração, nem flores. Era criado um clima próprio. Ajunte-se a isso o folclore que se formou, sobretudo na Sexta-Feira Santa. No Sábado Santo, cedo, já se fazia a Vigília Pascal. E já se queimava o Judas. O povo ficava na parte das procissões. A mentalidade agora deve chegar a fazer desse tempo uma renovação batismal. É tempo dos batismos de adultos. A comunidade vai viver a experiência do batismo: de livres do pecado, passamos a viver para Deus (Rm 6,4-10). O mistério de morte e da ressurreição de Jesus, ao qual nos unimos pelo batismo, atravessa todo esse tempo. Essa é a contribuição renovada. Se há adultos a serem batizados, devem fazer as celebrações do batismo em comunidade. Por outro lado temos a dimensão penitencial: São dois aspectos: despojar-se e abrir o coração e a vida para os outros. A Campanha da Fraternidade estimula o fiel a voltar-se a uma questão social onde os pobres são as vítimas. Para ir aos pobres é preciso sair de si. Essa é a pior penitência. É preciso desmontar a estrutura de pecado existente em nós e no mundo. Mudar o coração é a palavra da conversão. Trata-se da contínua conversão. Assim é feita a preparação para a renovação do batismo na noite da Vigília Pascal. Desse modo vivemos a Páscoa num processo de ressurreição dos nossos males. Há um longo caminho de catequese a ser feito a todo o povo de Deus. Só o faremos se nos deixamos catequizar pelo povo 
Dimensão eclesial 
A Santa Quaresma é também um tempo propício para a Igreja, povo de Deus que somos todos nós. A vida espiritual perdeu muito do sentido comunitário: Cada um salve sua alma; O pecado e a salvação são individuais. Criou-se uma cultura que influiu até nos ensinamentos fundamentais como é a identidade da Igreja. A Igreja é a união de todos em Cristo. Somos Corpo de Cristo e estamos uns unidos aos outros. A Vida de Cristo percorre todo esse organismo espiritual. Por outro lado, esse corpo de união de todos, é também um corpo sujeito ao pecado. A Igreja é santa e pecadora. Por isso, a Quaresma é tempo para a conversão individual e conversão de todo o corpo. O Vaticano II, na Sacrosanctum Concilium 110, ensina que “a penitência quaresmal não deve ser somente interna e individual, mas também externa e social”. Os pecados são públicos e assumidos por muita gente. A conversão deve penetrar as estruturas. Foi o que Jesus fez. Não negou o passado, mas iniciou um novo povo. Quando e sse povo peca...deve se converter e fazer ações coerentes de renovação. A Igreja deve promover essa renovação, como fazemos nas celebrações e na Campanha da Fraternidade.
Estações 
Havia um costume muito interessante na Quaresma da Roma antiga, na era cristã. Eram as estações. Cada dia da Quaresma era celebrada a Eucaristia numa das Igrejas. No livro de missa já anotava, por exemplo: Estação São João em Porta Latina. (não tem nada a ver com trem). Os textos da missa tinham referência ao local. Depois desapareceu. São João XXIII, Papa, começou a retornar a esse sistema. Atualmente se faz novamente. O Papa celebra a Quarta feira de Cinzas na Igreja de Santa Sabina. É algo que se poderia fazer nas comunidades da paróquia. Podemos dizer que as reuniões dos grupos de setores que se reúnem na Quaresma, podem corresponder a essas celebrações.
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