segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

nº 1731 Artigo - “Espiritualidade da Quaresma”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

2008. Tempo de comunidade
            A Quaresma tomou cores diferentes no correr dos séculos. Cada tempo deu sua contribuição. Logicamente podemos dar também a nossa. Por exemplo: A Igreja do Brasil instituiu a Campanha da Fraternidade e com as reflexões em grupos de rua e de setores. É um modo diferente de viver a Quaresma, com uma temática que leva a pensar e a resolver problemas que vivemos. Ela surge a partir da preparação do Batismo que se realizava na noite de Páscoa.  Os catecúmenos que seriam batizados faziam o jejum no Sábado Santo. Esse jejum passou a ser acompanhado pelos fiéis da comunidade. Ele se estendeu para Sexta-Feira Santa, depois para a semana toda e por fim aos 40 dias. A Quaresma nasce a partir da celebração da Vigília Pascal que era o momento da solene celebração do Batismo. Primeiro ela tem  um caráter comunitário. Vive-se a preparação da Páscoa em comunidade. Todos estão voltados para o importante que é o Mistério Pascal de Cristo, que salvou a todos em sua Morte e Ressurreição. O Batismo é o sacramento inicial para vida em Cristo e na comunidade. Por ele recebemos a redenção e a vida nova. Entramos na comunidade dos filhos de Deus, irmãos de Jesus e irmãos uns dos outros. Por isso, a espiritualidade quaresmal deve levar a vivenciar esses aspectos: Vida em Cristo, Filho de Deus e vida com os irmãos. Todas as celebrações se voltam para a temática da Páscoa que acontece em cada um. A renovação das promessas do Batismo é expressão do desejo de aprofundar o dom que recebemos. O que se faz na Quaresma pode ser bom, mas não sem o Batismo.
2009. Tempo de conversão
            A chamada que percorre toda a Quaresma é a conversão. Para haver uma opção por Cristo no Batismo e na vida cotidiana, é preciso ouvir as palavras de Jesus: “O tempo se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Havia muitas tradições que eram vividas na Quaresma, como as penitências, o jejum, as longas orações. Tudo bom. Essas tradições caíram e não se procurou a renovação a partir da conversão. Quando ouvimos o mandamento só a Deus adorarás, nós nos esquecemos da multidão de deuses falsos que nos cercam e aos quais prestamos cultos idolátricos. Só se fala que se adoram imagens. Mas não se busca derrubar os altares dos deuses falsos da ganância do ter, da riqueza e dos bens materiais; não se destrói o altar do deus da vaidade, do orgulho e da prepotência. Desses as igrejas estão cheias; não se queimam os altares dos deuses do prazer que consomem nossas melhores energias. Vejamos que um dos evangelhos lidos nesses tempos é a purificação que Jesus faz no templo de Jerusalém e nos ensina a fazer em nossas vidas e em nossos templos. Não adianta fazer tantas penitências se não fazemos a verdadeira que é a conversão.
2010. Tempo de alegria
            A salvação se aproxima! Deus vem ao nosso encontro. Quando falamos de fim dos tempos, a impressão que é o momento do medo. Pelo contrário. É o momento da alegria, pois Ele vem nos buscar para estar com Ele. A Páscoa é momento da alegria. Na celebração há o momento de se cantar solenemente o Aleluia. É o grito de libertação que Cristo nos mereceu. Certamente que a Quaresma nos chama a puxar os fios da dissipação. É momento de reflexão, não de tristeza. Vamos nos concentrar no essencial que é o Mistério Pascal de Cristo que vivemos. Seriedade não quer dizer cara fechada. É espaço da verdade que nos sustenta e por isso nos deixa livres para acolher o Senhor. A Páscoa nos atrai e nos estimula a uma vida sempre renovada.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

nº 1730 - Homilia do 2º Domingo da Quaresma (25.02.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Transfiguração de Cristo e do cristão”

Aliança no sangue do Filho
No início da Quaresma entramos em clima de reflexão a partir da triste realidade da tentação e da necessidade de conversão permanente. Quaresma não tem um sentido em si, mas na meta que a justifica: a Páscoa do Senhor! O primeiro e o segundo domingo da Quaresma são uma meditação sobre a vida cristã. O pecado não é o fim. Jesus o venceu. A transfiguração de Jesus é a meta de todos que, resgatados por Ele, são transfigurados pela graça da salvação, como o foi em sua morte e ressurreição.  A meditação sobre o pecado, sobre a tentação e o sobre sofrimento de Jesus deve provocar-nos uma conversão para chegarmos renovados à Ressurreição do Senhor. Deus faz aliança com Abraão depois de exigir uma obediência total: o sacrifício de seu filho Isaac a quem tanto amava. Deus acolheu sua obediência, mesmo sem ter chegado ao extremo da prova. O Filho amado de Deus, contudo, foi ao extremo, sendo sacrificado. Isaac carrega a lenha, Jesus carrega a cruz. Isaac não recusa ser morto; o Filho, mesmo sofrendo faz a vontade do Pai. A aliança do homem com Deus está no acolhimento de sua vontade que é expressa nas palavras do Filho amado. Garantimos nossa aliança com Deus em Cristo quando vivemos seu Evangelho. A ordem do Pai é que ouçamos o que diz o Filho (Mc 9,7). A promessa de Deus a Abraão é a descendência. O Pai dá ao Filho, não uma descendência, mas a Ressurreição que faz todos irmãos. A transfiguração de Jesus nos mostra onde vamos chegar. A graça nos transfigura em nossas atitudes. Transparecemos através de nossas obras.
Ele Se transfigurou
            Antes de subir o monte Calvário, Jesus sobe o monte Tabor. Isaac sobe o monte com a lenha; Jesus sobe o Monte Calvário com a cruz às costas; no Monte do Tabor mostra o brilho da sua Divindade. Essa imagem glorificada explica que a Paixão chega à Ressurreição dos mortos. Ele é a Divindade que se manifestou. De agora em diante a Lei e os Profetas, representados por Moisés e Elias, só se entendem a partir de Jesus. Por isso a nuvem que simboliza a presença de Deus, provoca o santo temor. A sua transfiguração é uma demonstração aos discípulos e a nós que preparamos a Páscoa, que nós também seremos transfigurados pela conversão e pela graça da Ressurreição. Sob esse aspecto temos um caminho muito bonito e claro para a espiritualidade do cristão: Transfigura-se porque está unido a Cristo. Espiritualidade não são obras. Essas são resultado. Espiritualidade é uma transformação interior. Cristo resplandece em nós. Ficamos na parte externa e não vamos ao centro do mistério de Cristo em nós. A imagem do homem novo vai se formando em nós ao ouvirmos suas palavras e assumirmos sua vida. Assim teremos seus sentimentos, sua mentalidade e agiremos guiados pelo seu mandamento transfigura que dnossa vida: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12).
                                  Este é meu Filho amado, ouvi-O
Celebrar uma aliança é sempre assumir um contrato. As palavras de Deus se unem à resposta do homem. Deus promete a Abraão uma descendência. Ao enviar seu Filho para selar a aliança com seu sangue, propõe para nós o compromisso de ouvir sua Palavra, pois Ele é a Palavra viva. A Ele vamos ouvir. Se nos deu o Filho, não nos daria tudo com Ele? Ouvir o Filho é corresponder à aliança e chegar à transfiguração. Ao iniciar seu ministério Jesus insiste: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Crer é acolher a aliança que Deus faz conosco em seu Filho. Assim podemos celebrar a Páscoa com um pão puro. Celebrar a Páscoa não é contar uma história. É tornar presente um mistério que dá Vida.
Leituras: Gênesis 22,1-2.9ª.10-13.15-18;Salmo 115;Romanos 8,31b-34;Marcos 9,2-10.
Ficha nº 1730 - Homilia do 2º Domingo da Quaresma (25.02.18)  

1.  A transfiguração é a meta de todos.
2.  Ela mostra aos discípulos que a morte não é o fim. Há ainda a Ressurreição.
3.  Ouvir o Filho é já iniciar a transfiguração.
       
                Paizão!
           
O evangelho de hoje mostra dois retratos de pai. O Pai do Céu entrega seu Filho ao mundo e o mostra glorificado superando toda dor da Paixão. O pai Abraão, tendo entregado sua vontade a Deus, cumpre-a na terrível cerimônia de sacrificar seu filho Isaac. Deus aceitou sua vontade e poupou Isaac. Mas não poupou o seu Filho Jesus e O entregou como sacrifício. Abraão ganhou um carneiro para substituir o filho. Jesus nos substitui e Se entrega ao Pai para que todos nós tivéssemos nossa vida entregue a Deus.
 A entrega a Deus ouvindo o Filho é nossa transfiguração. Seremos iguais a Ele porque obedecemos ao Pai. Nessa atitude de acolhimento das palavras do Filho poderemos realizar nossa transfiguração. Nossa vida será um retrato vivo de Cristo porque ouvimos sua palavra e fazemos vivo seu mandamento do amor. 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

nº 1729 Artigo - “Silêncio do coração”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2005. Quaresma para ver o coração
                        A Quaresma é um tempo importante para ouvir o que o Senhor quer nos falar. Por isso o salmo 94 insiste: “Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!”. Somente fazendo silêncio podemos ouvir o Deus que se comunica. É necessário estar de ouvidos e corações abertos. Samuel só ouviu as palavras de Deus quando deu atenção: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sam 3,10). Esse tempo é propício para ouvir. A liturgia traz uma riqueza de símbolos e palavras. Normalmente ficamos preocupados só com as penitências. São também necessárias, mas não é o mais importante. Esse tempo é bem estruturado para dar oportunidade para nos prepararmos para celebrar o Mistério Pascal de Cristo, atualizado para nós no Batismo. Celebramos a Redenção não como uma ideia, mas como ação de Deus em nós através de seu Filho. A chamada ao silêncio é para dar espaço para um exame da vida e para o acolhimento da ação do Espírito que nos conduz como conduziu Jesus no deserto (Mc 1,12). O silêncio sofre com os ruídos atuais. É um permanente carnaval. Temos medo do silêncio. Os preciosos meios de comunicação nos envolvem de tal modo que não paramos. As próprias celebrações estão sufocadas com os excessivos barulhos. Uma celebração deve ser animada pelo Espírito e não pelos ruídos que fazemos. Temos medo do silêncio porque ele nos leva ao encontro conosco e com Deus que nos oferece sua graça. É hora de cuidar do coração e das atitudes.
2006. Silêncio de Jesus
            A Quaresma quer repetir em nós a atitude de Jesus que se retirou para o deserto para ser tentado pelo diabo (Mt 4,1). Faz parte de sua vida, e da nossa, o confronto com o mal, com o pecado e com o tentador. Foi para nos libertar desse mal que Jesus se encarnou, anunciou o Evangelho da Salvação, sofreu, morreu e ressuscitou. O mal foi vencido. Para chegar a esse momento, passou por todas as tentações. As três que são citadas resumem todas as demais até chegar à última que foi o desespero do abandono de Deus. É o máximo da vida de uma pessoa sentir-se totalmente abandonada por Deus. Esse é o momento em que podemos provar nossa fidelidade, como Jesus: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46). Jesus não chegaria a essa coragem se não a tivesse “treinado”. Assim compreendemos os longos silêncios nos quais Jesus se retirava para rezar, passava a noite em oração, rezava e estava sempre aberto. Nazaré foi para Ele um laboratório onde cultivou a vontade do Pai. Com Ele, devemos cultivar a vontade de Deus onde quer que estejamos. Na hora do desespero da agonia no horto, soube dizer: “Meu Pai, se não é possível que isto passe sem que eu o beba, seja feita a tua vontade” (Mt 26,42). Foi no silêncio que cultivou o diálogo com o Pai. O silêncio, ajudará a viver a Páscoa da Ressurreição.
2007. Silêncio no barulho
            Sabemos que o mundo atual não vai abaixar o volume de seus rumores, sobretudo dos rumores internos. Não é de uma hora para outra que a gente para e fica em silêncio. A correria do mundo continua dentro de nós. Resta-nos descobrir como fazer para estar em silêncio no meio da multidão. É um exercício que podemos fazer. Pensamos, falamos, observamos tantas coisas e engolimos o que é sendo jogado sobre nós. Podemos pensar e nos concentrar no diálogo com Deus e na oração interior onde estivermos. Dentro de casa podemos diminuir o barulho e conversar sobre o que nos leva ao coração. O silêncio é um presente de Deus. Não se trata de não falar, mas de não deixar o barulho entrar em nós.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

nº 1728 Homilia do 1º Domingo da Quaresma (18.02.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Vou estabelecer minha aliança”
Jesus é salvador
            Celebramos na Páscoa a vitória de Jesus sobre a morte e nossa conversão para que os frutos de seu Mistério Pascal penetrem nossa vida e a mudem. No primeiro domingo da Quaresma sempre temos a passagem que nos conta a tentação de Jesus. Quando dizemos que Jesus veio salvar-nos de nossos pecados, conforme o anúncio do Anjo quando lhe deu o nome (Mt 1,21), entendemos a tônica desse tempo litúrgico. Ao buscar o perdão e proclamar que Jesus veio para salvar dos pecados, estamos vivendo bem a preparação da celebração da Páscoa. Pecados são descritos pelos evangelistas como todos os males do mundo, compreendidos todos na irracional busca dos bens materiais, na ganância do poder e na loucura do prazer pelo prazer. Tudo é bom, desde que buscado no processo de conversão a Jesus. Jesus cura o que é do mal. Nesse domingo temos dois pólos: a aliança de Deus oferecida como paz e a tentação que empurra para o pecado. Jesus vencendo a tentação abriu para nós a porta da vitória sobre o mal. Fomos tentados Nele e Nele vencemos, diz S. Agostinho. Marcos não descreve a tentação de Jesus, como Mateus e Lucas. Os três evangelistas sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) anotam que Jesus estava cheio do Espírito Santo e era por Ele conduzido. Vencer a tentação não é somente uma vitória da força pessoal, mas correspondência ao Espírito de Deus que habita em nós, como em Jesus. Sua vitória torna-O vigoroso no combate contra o mal até à cruz, onde tem a tentação final (Lc 4,11). Por isso Jesus é o Salvador de todos os males.
Aliança do Batismo
            Os cinco domingos da Quaresma nesse ano (que é o Ano B, no esquema litúrgico), traz, na primeira leitura, a narrativa das alianças que Deus fez com seu povo até à aliança selada com o sangue de Jesus em sua Páscoa. Como toda a Quaresma tem um sentido batismal, compreendemos o texto da primeira carta de Pedro que usa a arca de Noé como símbolo do Batismo. Como Deus, pelo dilúvio, purificou a humanidade pela água e salvou pela arca, o Batismo purifica e salva colocando na arca, que é a Igreja, o Reino de Deus. Não é só uma purificação exterior, mas interior para a vida nova dada pela ressurreição de Jesus. A aliança que Deus faz com Noé é a promessa de não destruir o mundo nem as pessoas que forem salvas pelo Batismo das águas. Cada batizado está em aliança com Deus e não verá a destruição. Deus colocou seu arco de guerra no céu (simbolizado pelo arco–íris). Assim começa uma humanidade nova, como a pequena família de Noé começou um mundo novo. Refletindo a temática da aliança, iniciamos pela aliança com a terra depois do Dilúvio, a aliança para uma descendência com Abraão, a aliança para a formação de um povo, a aliança do coração e a nova aliança com Jesus, no seu sangue. Esta é definitiva.                       
Mostrai vossos caminhos
A conversão é uma atividade espiritual que acompanha o crescimento da vida de Cristo em nós. Ela não tem limites e nem se sacia no vazio de ações sem compromisso. Na primeira tentação Jesus coloca o alimento da Palavra que sacia, a humildade que sustenta e a adoração que liberta. O salmo reza: “Vossa verdade me oriente e me conduza”, “o Senhor dirige os humildes na justiça”, pois o “Senhor é ternura e compaixão”. A oração da missa nos convida a viver esse Sacramento da Quaresma com ações concretas de conversão, correspondendo ao amor que nasce do conhecimento de Jesus Cristo. O homem que é pó, com as águas do Batismo, se torna o barro onde Deus faz o homem novo.
Leituras:Genesis 9,8-15; Salmo 24; 1 Pedro 3,18-22;Marcos 1,12-15.
Ficha nº 1728 - Homilia do 1º Domingo da Quaresma (18.02.18)
                                         
1.  Vencer a tentação não é só uma vitória pessoal, mas correspondência ao Espírito.
2.  O Batismo é uma aliança que nos purifica e nos coloca na barca da Igreja
3.  Responder à chamada de conversão é o caminho da purificação.

Afogando o Satanás

            A Quaresma traz grande riqueza de temas para nosso conhecimento e conversão.  A narrativa do Dilúvio é de extraordinária beleza e nos desperta para a necessidade de purificação para começar um mundo novo. A Igreja é simbolizada pela arca de Noé. As águas que destroem o mundo simbolizam a água do Batismo que destrói o mal e promove a vida nova.
            Jesus, vencendo a tentação nos encoraja para enfrentar o tinhoso e jogá-lo nas águas profundas que o afogam e nos purificam.
            Em todo o processo de preparação para a Páscoa temos a certeza da aliança de Deus conosco, como fez no passado. Temos confiança que toda a conversão não é uma luta pessoal, mas é dom do Espírito que conduziu Jesus ao deserto e O sustentou.
            Tudo isso nos alerta a ouvir o chamado de Jesus a acolher seu reino e converter o coração.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

nº 1727 Artigo - “Quarta-Feira de Cinzas”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2002. Quaresma, tempo de graça
            “No decorrer do ano, a Igreja comemora em dias determinados a obra salvífica de Cristo”... “Nos vários tempos do ano litúrgico, aperfeiçoa a formação dos fiéis por meio dos exercícios espirituais e corporais, pela instrução e oração e pelas obras de penitência e de misericórdia” (HGMR, 1).Todo ano é caminho espiritual e formativo na fé e na prática cristã. Iniciamos a caminhada para a Páscoa que é o centro da vida cristã e das celebrações. “Nela Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus... quando morrendo destruiu a nossa morte, ressuscitando renovou a vida” (Ibd 18). A finalidade da Quaresma, que se formou e tomou formas diversas durante os séculos, é preparar a celebração da Páscoa. Ela se destina a preparar os batismos pelo catecumenato, como também preparar os fiéis para comemoração do batismo e pela penitência. A Igreja precisa renovar e aprofundar espírito quaresmal. Da Quaresma guardou só o carnaval que era a despedida das “carnes” para iniciar o tempo forte do jejum e penitências para esse momento fundamental da nossa fé. Os tempos mudaram, a Quaresma perdeu sua característica tão típica nesse período do ano. Não adianta voltar, mas encontrar novos modos para que o Mistério Pascal de Cristo penetre nossas vidas e seja fonte de perene renovação para a vida das comunidades. Não só uma mudança de cores mas de vida.
2003. Imposição das Cinzas
            A cerimônia de imposição das cinzas sobre a cabeça vem de longa data. Já no Antigo Testamento temos muitos momentos em que a penitência e o arrependimento são demonstrados com as cinzas. Jesus usa esse modo quando fala da impiedade das cidades de Corazim e Cafarnaum. Diz que cidades pagãs, se tivessem visto seus milagres, teriam se arrependido com cilício e cinza (Mt 11,21). O fundamental não é a cinza, mas a conversão e o arrependimento. Quando havia ainda a penitência pública, os penitentes deveriam receber as cinzas para fazer a penitência. Esses pecados públicos eram os que feriam diretamente a comunidade. Na Quarta-Feira era o início da Quaresma (40 dias antes do Tríduo Pascal) e eram reconciliados publicamente na Quinta-Feira Santa num solene ritual. Somente pelo século IX foi dada a todos os fiéis. Por que 40 dias? O número é simbólico, como vemos em outros momentos da história do povo de Deus. Significa um tempo completo. As cinzas também nos lembram a fragilidade de toda criatura. Recordam ao homem que ele é pó, cinza, conforme nos traz o livro do Gênesis 19,3: “Lembra-te que és pó e ao pó retornarás”. A cerimônia atual recorda mais que a fragilidade e o dever de conversão que se fazem através do Evangelho: “Convertei-vos e crede no Evangelho”.
2004. Vivendo a Quaresma
A liturgia traz um programa e apresenta os três modelos eficientes tirados da pregação de Jesus para a vivência cristã. São simples, não tem mistério, não precisa de algo especial para acontecer em nossa vida. O Senhor faz acontecer quando nos abrimos à simplicidade da fé: esmola, oração e jejum. É tempo de rezar mais, de procurar fazer a caridade. Jejum não é passar fome, mas deixar de lado os exageros e despojar-se do supérfluo. Papa Francisco traz uma bela lista de ações que podemos fazer na Quaresma que preenchem esse quadro. Já que não existe mais a Quaresma de antigamente, podemos fazer algo novo que recupere parte de seu sentido de conversão. Nem só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus. Esta verdade precisa ser para nós.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

nº 1726 Homilia do 6º Domingo Comum (11.02.2018)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Se queres podes curar-me”

Sede de purificação
            Jesus vence todos os males. É por isso que as pessoas se jogavam sobre Ele para obterem a cura (Mc 3,10). Marcos, em seu evangelho, mostra essa dimensão de purificação total que Jesus veio fazer. Essa purificação é o sinal do perdão dos pecados que eram comparados à lepra. A liturgia da Palavra desse domingo reflete a ação redentora de todo homem e do homem todo. Temos o milagre da cura do leproso que dá um exemplo muito rico da oração de súplica: “Um leproso chegou perto de Jesus e, de joelhos, pediu: ‘Se queres, tens o poder de curar-me’. Jesus, cheio de compaixão, tocou nele e disse: ‘Eu quero, fica curado’. No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado” (Mc 1,40-42). Vemos a humildade, o reconhecimento do poder de Jesus e a compaixão de Jesus que cura. Ele, movido pela compaixão socorre os que a Ele se dirigem. O salmo, refletindo sobre a primeira leitura que nos fala da lei sobre a lepra no livro do Levítico (13-14), refere-se ao pecado que faz mal ao homem. Com o reconhecimento e confissão da culpa torna-se perdoado, isto é, purificado. A lepra isolava o doente da comunidade, afastava-o do culto. Era imundo, quase dizendo, estava no pecado, no poder do demônio. Quem tocava um leproso também ficava impuro. Por isso Jesus não podia entrar na cidade, pois tocara o leproso, Compreendemos que no Senhor Jesus temos a remissão e o perdão da lepra do pecado. Por isso, o salmo convida a alegrar-se: “Regozijai-vos, ó justo, e no Senhor exultai de alegria!” (Sl 31). E a alegria do leproso que anuncia a cura que recebera de Jesus.
Comprometer-se
            Marcos, quando fala da escolha dos discípulos, diz que Jesus os chamou para estarem com Ele e depois para saírem para anunciar (Mc 3,13-14). Seguir Jesus é um caminho de comunidade, de comprometimento mútuo. Comprometer-se era uma das práticas de Jesus. Ele “sujava” a mão pelos outros, comprometia-se com as pessoas. Vemos os diversos casos, como do leproso do evangelho de hoje, da pecadora que O toca, das crianças que O cercam e abraçam, do povo que quer tocá-Lo. Não vemos Nele um desagrado por estar cercado de gente. Dois aspectos se podem ver no comprometimento de Jesus para conosco: comprometimento com Deus, pois faz sua vontade, e comprometimento com as pessoas, pois ensina a amar como Ele amou. Analisando nossa fé e ação apostólica, podemos ver o quanto nos falta de compromisso com o povo, sobretudo o mais necessitado. O discurso é bonito, mas a realidade está distante. Nós, da “classe” religiosa e clerical vivemos para nós e para as estruturas sem um lastro popular. Depois perguntamos por que nossa fé não atrai.
Tudo para a glória de Deus
            Paulo, na primeira carta aos Coríntios dá-nos inclusive o conselho de imitá-lo. Primeiro: viver para a glória de Deus: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer coisa fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31). Em segundo lugar: “Procuro agradar a todos, em tudo, não procurando o que é vantajoso para mim, mas o que é vantajoso para todos, para que sejam salvos” (id 32). Com isso se diz imitador de Jesus Cristo (Id 11,1). Quando colocamos Jesus e sua missão em primeiro lugar, superamos esses problemas tão humanos que carregamos em nós e na comunidade. É inacreditável que, por mais formados ou mais “santificados” tenhamos sido, não descobrimos essa dimensão necessária para a salvação. Por isso nos batemos pelo desnecessário.
Leituras: Levítico 13,1-2.44-46;Salmo 31;1 Coríntios 10,31-11,1; Marcos ,1.40-45.
Ficha nº 1726 - Homilia do 6º Domingo Comum (11.02.2018)

1.  O leproso busca Jesus porque encontra Nele a possibilidade de purificação.
2.  Seguir o caminho de Jesus é comprometer-se com os “impuros”.
3.  Paulo ensina a viver para a glória de Deus agradando a todos em tudo.

                        Sujando-se para limpar

Há muitos tratamentos de beleza em que se usam  banhos de lama. É preciso aceitar a lama se quer ficar limpo e bonito. A força de saúde da lama é uma coisa boa.
Refletimos na liturgia de hoje a partir do tema da lepra. Ainda é uma doença que desafia os países para seu controle. Na Bíblia, no livro do Levítico, há muitas orientações severas sobre os leprosos que eram excluídos da comunidade.
O pecado foi comparado à lepra e à sujeira. É pior. No templo havia um serviço de identificação dos leprosos. Quem era declarado leproso era mandado para fora da sociedade e excluído do culto, como se fosse um pecador. Quem tocasse um leproso ficava também excluído. Por isso Jesus, depois de tocar o leproso, ficava fora da cidade. Ele assumiu a condição do leproso. É símbolo de ter assumido também as lepras de nossos pecados.
Para vencer todos esses males é preciso seguir Paulo que diz: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31).

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

nº 1725 Artigo - “Alegria é vida”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
1999. Deus é alegre
            Estamos no tempo das alegrias do reinado do Momo. A alegria não precisa de rei, pois ela não tem território. Ela é parte de nós mesmos. Não tem modelos nem expressões próprias. Ela é o homem e a mulher que vivem. Não só vivem sentimentos, mas é a vida que assume sua identidade. Não tem peias e dá a força de transbordar seu interior feliz. Alegria não é oposto de seriedade ou tristeza. A alegria é um bem-estar tão precioso que invade o universo. É a realidade do ser humano completo. Não é uma soma de coisas boas. Não está no acúmulo de coisas boas e bons resultados. É um modo de se viver todos os momentos da vida. Nos momentos de tristeza ou problemas, a alegria está sempre ao alcance do coração. A alegria é a presença de Deus no Universo. O salmo reza diante da beleza e riqueza da natureza: “Tudo canta e grita de alegria” (Sl 64,14). “Os céus cantam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sl 19,1). A alegria não se conjuga com o tempo, pois está presente em todas as idades. Rezava-se ao início de cada missa o salmo 42,4: “Subirei ao altar do Senhor, Deus da minha alegria”. Salmo sem idade. Todos o rezam. Não que a velhice não traga alegria, mas a alegria traduz a eterna juventude que não perde o seu viço, pois participamos da alegria de Deus. Deus é a fonte da alegria. Deus gera a alegria a todos e a tudo. Ela veste de encanto o universo. Até os animais se alegram e se divertem. Depois de uma seca, quando vem uma boa chuva, vemos a natureza explodir em alegria. As flores traduzem essas maravilhas.
2000. Provocando alegria
            Como é bom viver com gente alegre. Alegria vai além de hilaridade.  Somos fonte de alegria se estivermos em Deus. Aonde chegarmos, chegue a alegria. Como é difícil viver com pessoas irritadiças. Provocar alegria é provocar o bem-estar, a serenidade. É interessante perceber quando alguém que coordena está irritado, o mal-estar atinge todo ambiente. Se estivermos serenos, com alegria interior, essa acalma o ambiente. Pensamos que verdade e seriedade excluem a alegria. A verdade não tem sentimentos. Nós os colocamos nela. A alegria é curativa. Já ensinam que gastamos mais para ficar fechados do que para sorrir. Dizem que sorriso preserva a pele do rosto e evita rugas... Não custa tentar. Minha mamãe só tinha uma lembrança de sua mãe que ela perdeu ainda nova: “Mamãe era alegrinha”. Mamãe faleceu sem rugas com 95 anos. Um belo sorriso no meio das rugas não perde o encanto. Já recebi sorrisos de iluminada beleza de senhorinhas. Deus quando me fala, o faz através do sorriso de crianças e idosos. São as respostas que me Deus me dá, aprovando o que faço e dizendo que está feliz comigo. Por isso peço que faça de mim um instrumento de sua alegria.
2001. Alegria onde há dor
            Dor não se identifica com tristeza. A dor é um mistério profundo de nosso ser. Participamos da fragilidade e limitação do mundo e da natureza humana. Somos frágeis. A dor nos toma por tantos lados. Se a dor das pessoas e do mundo sofredor, em dores de parto (Rm 8,22), não nos fere, não temos mais o direito de viver. A alegria que vai curar essa dor, pois manifestam a ressurreição interior e aliviam o sofrimento. Em lugar de lamentar, a alegria ensina a sentirmo-nos bem, sofrendo na serenidade que é espaço da alegria que cura. Jesus diz: “Quando jejuares, não tomeis um ar sombrio... Tu quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto...” Já se ensina: “Um santo triste é um triste santo”. Alguém afirmava que Jesus nunca riu. Só sorriu. Será? A alegria na Ressurreição nos convida ao Aleluia!

domingo, 4 de fevereiro de 2018

nº 1724 - Homilia do 5º Domingo Comum (04.02.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Jesus em Missão”

Evangelizar é uma glória
            Paulo explica em sua primeira carta aos Coríntios, o que significa evangelizar. Por esse texto podemos compreender aquela parábola de Jesus sobre o servo que se chama de inútil: “Somo servos inúteis” (Lc 17,10) que já refletimos. Não somos funcionários. Trabalhar pelo anúncio do Evangelho é um privilégio que vem de uma imposição que damos a nós mesmos: “Pregar o Evangelho... é uma necessidade para mim...”. “Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” em que consiste meu salário? Pregar o Evangelho, oferecendo-o de graça... tornei-me escravo de todos” (1Cor 9,16-18). Podemos dizer que pregar o evangelho é um privilégio. A atitude evangelizadora de Jesus é anunciar e curar todos os males, expulsando os muitos demônios que maltratam o povo com os males e as doenças. Eles identificavam todo o mal como uma possessão diabólica. Seus milagres tomavam forma de expulsão dos demônios, pois curava as pessoas. Aqui temos o exemplo da cura da sogra de Pedro (Mc 1,21-28). Não precisamos de demônios especiais para fazermos o mal. Esse mal nós o escolhemos. Por isso podemos chamar de possessão, pois só faz o mal quem opta pelo mal, isto é, pelo demônio. Essas são as verdadeiras possessões diabólicas. As outras que vemos por aí são problema de saúde que médico pode resolver. Mas os demônios que alimetamos em nós, esses, ninguém quer tirar. Assumir a atitude evangelizadora de Jesus é tirar o demônio do coração.
Por-se a servir
            As ações de Deus em nós não são benefícios exclusivamente pessoais, mas nos colocam em atitude de  missão. Vemos no milagre da cura da sogra de Pedro que o milagre não é somente um dom pessoal, mas um benefício à comunidade. Apenas curada, a senhora levanta-se e começa a servi-los. Por-se a serviço foi a verdadeira cura. Curou não somente uma febre para que ficasse sadia, mas para que, sadia se fizesse serva. O egoísmo dos beneficiados por curas e milagres não tem o milagre completo que é por-se a serviço do Reino. Deus faz a sua parte, mas nós podemos negar nosso compromisso. Jesus tem mais um elemento que O torna forte em sua missão: Seu diálogo com o Pai. Jesus rezava e muito. No texto de hoje vemos que se levantou de madrugada e foi rezar num lugar deserto. O que rezava Jesus? Vemos nos evangelhos que rezava as orações do povo, sabia dar graças, como vemos no retorno dos apóstolos de sua missão e rezou no horto. Os discípulos estavam distantes, sem ouvir o que dizia, pois dormiam, mas sabiam o que diria naquela situação. Sua vida de oração era o suporte da evangelização.  Paulo mostra como evangelizar: “com os fracos eu me fiz fraco para ganhar os fracos... Por causa do Evangelho eu faço tudo, para ter parte nele” (1Cor 9,22-23).
A vida é um sopro
Jesus se mantinha na oração para se fortalecer, pois como Jó, sentia a fragilidade da vida. Para Jesus a vida também era uma luta como diz Jó: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra?” (Jó 7,1). Como assumiu em tudo a condição humana, assumiu também essa fragilidade, mas também sabia que o Senhor “conforta os corações despedaçados, Ele enfaixa as feridas e as cura... o Senhor é o amparo dos humildes...” (Sl 146). A liturgia desse domingo nos anima a evangelizar, mesmo sendo frágeis. Cada um tem um dom e um sentido precioso na comunidade.
Leituras: Jó 7,1-4.6-7;Salmo146;1 Coríntios 9,16-19.22-23;Marcos 1,29-39. 

Ficha nº 1724 - Homilia do 5º Domingo Comum (04.02.18)
                                         
1.  Evangelizar como Jesus é tirar os demônios do coração .
2.  O sinal da cura total de uma pessoa é sua capacidade de servir depois de curada.
3.  Jesus sentia a fragilidade por isso sabe confortar.

Vai mexer com sogra.

Pedro gostava de sua sogra, pois, no movimento de cura que realiza, eles falam a Jesus dela no sentido de pedir uma cura. Assim aconteceu. Não se pode dizer que Pedro negou Jesus porque curou a sogra dele. Aqui temos uma prova da bondade da senhora. Era uma mulher que sabia servir e ajudar os outros.
Serve muito bem para exemplificar a missão de Jesus que fazia milagres e expulsava demônios. Ela foi curada da febre... o que teria? E logo começa a servi-los. Que maravilha! Mais que curada, ouviu a mensagem de Jesus sobre o evangelho do amor. Põe-se a servir. A evangelização está intimamente unida a uma atitude para com os outros. Não porque era Jesus. Serviu porque era seu costume.
Jesus quer curar nossos corações e atitudes.