quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

nº 2135 Artigo - Bênção de Mãe

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
Dia de bênção 
A festa da Maternidade Divina dá início ao novo ano. Por ela veio Jesus, nossa vida. Nós participamos dessa vida. Nessa celebração vamos buscar vida para o ano todo. Essa festa foi transferida de 11 de outubro para o primeiro dia do ano. Além de ser um dia de pedir bênçãos à Mãe para o ano, é um pedido de viver no Mistério de Cristo. Às vezes queremos bênçãos preciosas, mas deixamos de lado a bênção maior que é a vida de Cristo em nós. Maria nos dá a grande bênção que é Jesus, salvação eterna para todos. Com um bem tão grande, que poderia nos negar? Podemos contar sempre com sua intercessão, pois ela nos deu o autor da vida. Maria não é uma devoção que temos: é uma participação do mistério da salvação em sua totalidade. Deus manda Aarão e seus filhos sacerdotes a abençoar o povo. “Assim devem abençoar: O Senhor te abençoe e te guarde! Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,23-27). Pede que Deus seja uma presença na vida do fiel, esteja preocupado com cada um e perdoe, dando paz. A grande bênção é: “Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho que clama: ‘Abbá, ó Pai!’. Não és escravo, és filho...tudo por graça de Deus” (Gl 4,6-7). Maria usou todos seus dons e privilégios para nos dar a maior bênção que é Jesus. Com Ele nos dá todas as demais bênçãos que precisamos. A maior bênção é receber o abraço do Pai, dado pelo seu Filho. 
Bênção para o ano 
Nossa Senhora nos ensina como viver bem o ano inteiro: Depois da visita dos pastores, que receberam por primeiro o anúncio do nascimento de Jesus, Maria ensina como viver essa novidade do nascimento do Filho de Deus entre nós: “Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19). Queremos bênçãos. Essas virão na medida em que trazemos ao coração a grande presença de Jesus. Uma bênção não é para nos dar algo especial que nos proteja, mas algo que modifique nosso coração. Os pastores também contam como o nascimento de Jesus deu-lhes um novo rumo de vida: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito’ (id 20). Depois de oito dias do nascimento o Menino Jesus foi circuncidado. Por esse rito, Ele começa a fazer parte do povo da aliança. “Ele veio para os que eram seus” (Jo 1,11). Como parte do povo, é herdeiro das promessas e realizador dos projetos de Deus para todo o povo. O que realiza em Si se torna uma missão. Ele, pequenino, realiza as promessas e as esperanças do povo. Da parte de Deus tudo está feito. 
Ser bênção 
Para ter maiores bênçãos, é preciso ser uma bênção. Toda a bênção por que passamos, retorna para nós plenamente ampliada. Bênção maior é a participação na Divindade do Menino que nasce. Temos que sair do cristianismo egoísta que quer bênção para si, proteção para si, garantias para si, deixando de lado o que é fundamental: Mais teremos quanto mais queremos para outros e fazemos para os outros. Também aqui se dá sentido à frase de Paulo: “Há mais felicidade em dar que em receber” (At 20,35). Por isso, ser uma bênção é dar aos outros condições de vida, de felicidade, de serem amados e estimados. Podemos fazer muito pelos outros. Celebrando a Maternidade de Maria entendemos que sua missão é nos dar Jesus. Ele é a bênção.

domingo, 26 de dezembro de 2021

nº 2134 - Homilia Festa da Sagrada Família (26.12.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Estar na casa do Pai”
Um mandamento maior 
As tábuas da lei nos mostram os mandamentos referentes a Deus e ao próximo. Na primeira, Deus é a fonte de toda a vida e santidade. Na outra estão os sete mandamentos referentes ao ser humano. É a vida de Deus em nós. Note-se que atinge todas suas dimensões do ser humano. Os mandamentos não são leis para cercear a vida humana. São indicações por onde passa o caminho da vida e da felicidade. O quarto mandamento toma o homem e a mulher em sua vida concreta. Temos a Palavra de Deus, temos a Igreja, temos os sacramentos. O que significa o quarto mandamento? É na família que aprendemos vivemos todos os outros mandamentos. Todo mandamento ferido, atinge a família. “Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito” (1Jo,4,12). Não existe amor, a não ser existencial. Onde ele pode acontecer? Na família. A família é o lugar onde Deus habita por seu amor. Na família, está a presença de Deus. É o lugar onde o amor pode ser perfeito: “Quem honra o Pai, alcança o perdão dos pecados; evita cometê-los é será ouvido na oração... no dia em que orar será atendido” (Eclo 3,4). E nós colocamos o perdão dos pecados só na confissão. A força da oração está no amor aos pais. E Deus cuida dos velhinhos: “Ampara o teu pai na velhice... a caridade para com teu pai não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados” (id 14.16). Você pode pensar que Deus não escuta sua oração, você não vence seus pecados. Veja como você está cuidando de seus pais... 
O amor humano é divino 
A família é o lugar onde o amor se realiza. É fácil amar os de fora. Amar os que estão em casa, a família, exige sair de si. Ter amigos é bom. A gente se ama e pode deixar quando quiser. Amar todo dia, mesmo no sofrimento e na dor, mesmo na dificuldade de relacionamentos... é divino. O amor de Deus no evangelho pregado por Jesus encontra na família seu primeiro lar e a fonte para o amor aos outros. Isso não é poesia. É cruz, não da dor, mas da redenção. Na família se realiza o amor, nas condições humanas, como descreve a Palavra de Deus. Paulo descreve aos Colossenses: “Revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, perdoai vós também. Amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição” (Cl 12-14). Tudo o que Deus nos revelou para chegar à vida eterna, o evangelho pregado por Jesus, está na família e da família vai a todas as dimensões da vida. Por isso dizemos que a pessoa tem berço. O berço cristão é embalado pelas mãos de Jesus. 
Menino problema 
São misteriosas essa perda de Jesus por parte dos pais e a atitude de Jesus de decidir a algo complicado, sem se comunicar com os pais. Por isso Maria O questiona: “Por que agiste ASSIM conosco? Não era seu costume. Vemos aí uma “desobediência” de Jesus, contra o quarto mandamento. Maria estranha a mudança de modo de agir. Por outro lado o evangelista está dando um recado aos parentes de Jesus: Ele pertence ao Pai. Não é alguém só da família. Está a serviço de Deus. Em todo caso, é misterioso. Mas a vida continua na família, “e Ele lhes era obediente”. É o modelo acabado de cumprimento do 4º mandamento: “Honrar pai e mãe”. Vemos Maria tomar a atitude de mãe. Tem autoridade sobre Jesus. Por isso Ele crescerá em sabedoria, estatura e graça (Lc 2,52). 
Leituras: Eclesiástico3,3-7.14-17ª;Salmo127; 
Colossenses 3,12-21; Lucas 2,41-52. 
Ficha nº 2134
Homilia Festa da Sagrada Família (26.12.21) 
1. A família é o lugar onde Deus habita por seu amor. 
2. Na família se realiza o amor, nas condições humanas, como descreve a Palavra de Deus. 
3. A família de Nazaré é o modelo acabado de cumprimento do 4º mandamento. 
Casa nova 
Falamos de família. Mas... quando será que realizaremos esse sonho tão bonito de família. Falamos muito da tradicional família mineira. Às vezes pouco de família e nada de mineira. Família existe quando ela é uma opção pessoal de cada um. Sempre haverá problema, pois é sinal de crescimento. Somos chamados a fazer uma casa nova. Esta existirá quando cada um sair de si mesmo para compor com o outro. Sem isso, não existe família. Vemos Jesus, Maria e José. Cada um saiu de si. Jesus sai do seio do Pai. José sai de uma vida estável para assumir o que não era seu. Maria sai de sua Virgindade para assumir uma maternidade miraculosa. Por isso é o modelo da família. Confusão sempre haverá....

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

nº 2133 Artigo - É Natal

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Celebrando o Natal 
Havia um direito de se celebrar três missas no dia de Natal. Direito muito antigo, aprendido dos Papas. O Papa celebrava três missas: A missa da meia-noite na Santa Maria Maior, pois ali há uma relíquia da manjedoura. Voltando para o Vaticano celebrava uma missa para a comunidade grega, de manhazinha. Era a missa de Santa Anastácia, pois os gregos celebravam o Natal no dia 6 de janeiro. Ao meio dia celebrava na sua Igreja, São Pedro. Mudados os tempos, ficou o direito a todos. Agora não há essa questão, mas temos três formulários, além do formulário da vigília. A Igreja se concentra no mistério da Encarnação, que é a Manifestação do Senhor. É o tempo do Natal que vai até o primeiro domingo do Tempo Comum que é o Batismo. No Segundo Domingo Comum temos a manifestação de Jesus aos discípulos. Nesse tempo do Natal estamos ao mistério da Manifestação. Isso fundamental para a fé cristã. Deus Se fez presente no mundo, visível na pessoa do Filho. Deus não enviou alguém em seu Nome. Quem se encarna é o Filho, que é um com o Pai. Jesus diz a Felipe: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Natal é mais que uma criança adormecida num berço. É a presença de Deus entre nós, na pessoa do Filho. Celebrar o Natal é acolher a Manifestação de Deus. Zacarias disse: “Sol nascente que nos veio visitar” (Lc, 1,78). Perdemos a realidade da presença em nossa carne mortal. É mais fácil se comprometer com uma religião aérea. Cremos num Deus encarnado. 
Temas que recorrem 
Temos preocupação em buscar um caminho de espiritualidade. O grande “Santo de Deus” fez o caminho de seu ingresso no mundo. Espiritualidade é seguir esses textos para ter uma espiritualidade pura. O Evangelho é sempre o caminho para tudo na fé. Os textos das missas do Natal nos trazem diversos temas que nos orientam. Na missa do dia 24 temos o cântico de Zacarias: “Deus nos visita... sol nascente que nasce do alto para iluminar os que jazem nas trevas”. O evangelho da noite nos revela a ternura: “Maria deu à luz seu Filho primogênito, O enfaixou e O colocou na manjedoura”. Depois os anjos anunciam aos pastores a grande alegria: nasceu para vós um Salvador. Quando se celebram as três missas, na missa da manhã rezamos a visita dos pastores e na missa da tarde, refletimos com João a verdade da Encarnação. Seguimos com a festa da Mãe de Deus, dos Magos do Oriente e do Batismo de Jesus. Esse é o caminho da vida humana de Jesus e nosso caminho espiritual. Vamos a Belém e, como os pastores, ver o Menino e contar o anúncio dos Anjos. E “Maria conservava todas essas coisas em seu coração” 
Tempo do Natal 
No tempo do Natal o ar se envolve de ternura. Num ambiente frio, com neve há outro caminho. No calor de dezembro, podemos ter uma alegria muito grande do encontro de família, de presentes aos familiares, amigos e pobres. Sair de si é a melhor maneira de se ver e se encontrar. Acontece o Natal quando nascemos para os outros. Já houve, nas comunidades tempos melhores de promoção à caridade. Os redentoristas, Dom Carlinhos, Padre Viana e Padre Daniel (falecido já) criaram a novena de Natal em família. Tornou-se um modo de ser Igreja e de celebrar o Natal. Era um momento de confraternização e celebração em família. A Encarnação nos leva a encarnar nossa vida e nossa fé. Sem ir ao ser humano, não chegamos ao Filho de Deus que Se encarnou.

nº 2132 - Homilia do 4º Domingo do Advento (19.12.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Advento que ilumina” 
Um único mistério 
A celebração do Natal não se reduz ao dia feliz do nascimento de Jesus, mas tem uma preparação e uma continuação. Então celebramos diversos momentos do mesmo mistério que é a Manifestação do Senhor. O Evangelista João escreve: “Nós vimos a sua glória, como Unigênito do Pai” (Jo 1,14). Temos hoje a visita de Maria a Isabel. Essa visita nos mostra Maria que vai visitar a sua prima. Leva consigo não só o Filho de Deus Encarnado, mas também o Espírito Santo. Na Igreja Oriental Maria é também chamada de “pneumatófora”, isto é, aquela leva o Espírito Santo. Este realiza a unidade dos acontecimentos e nos abre a uma compreensão mais aprofundada de Maria. Ela recebe o Espírito que a fecunda, leva-O a Isabel para a santificação de João Batista que salta de alegria no seio da mãe. Ela proclama a Divindade do Filho, chamando-o de Senhor (Lc 1,43). E garante o direito da Maternidade Divina, dizendo Mãe de seu Senhor. O profeta João não é um profeta a mais, mas cheio do Espírito Santo, prepara o caminho do Senhor. Ele apresenta o Messias(.) (Jo 1,29) A oração da missa nos leva a perceber a unidade dos mistérios de Cristo: Rezamos: “Conhecendo pela mensagem do Anjo a Encarnação do vosso Filho, cheguemos por sua Paixão na cruz à glória da Ressurreição”. A primeira leitura reconhece a origem de Jesus. A segunda reconhece nossa santificação por sua morte. O mistério é único e realiza em todos a mesma missão de santificar. A Encarnação vai além do berço. 
Sacrifício da vontade
A Carta aos Hebreus liberta-nos de ver a Redenção de Cristo somente comum um sacrifício sangrento. A morte na cruz não é o centro da Redenção. É núcleo do mistério do sacrifício de Jesus que culmina no Calvário. Mas ele acontece no profundo de seu ser de entrega ao Pai já antes de sua Encarnação, desde toda eternidade. O sacrifício da cruz é a consequência de sua entrega: “Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”. Esta substitui todos os sacrifícios da lei antiga. “É graças a essa vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (Hb 10,10). A Redenção não é somente um fato histórico, mas está eternamente presente em Deus em seu amor. A redenção não é, em primeiro lugar, a solução de um problema do ser humano, mas está no ser de Deus que quer Se comunicar e atrair a Si. Por isso, o sacrifício de Cristo já está presente na total e eterna união de sua vontade com a vontade do Pai. É aqui que todos nós podemos participar do sacrifício de Cristo. Jesus insiste que quer fazer o que quer o Pai. “Eu desci do Céu, não para fazer minha vontade, mas a vontade Daquele que Me enviou” (Jo 6,38). Mesmo sua morte está colocada na perspectiva da vontade do Pai: No auge de sua angústia tem força para dizer: “Não se faça o que tu queres” (Mc 14,36). 
Celebrar o mistério 
Rezamos na oração Pós-Comunhão: “Fazei que, ao aproximar-se a festa da salvação, nos preparemos para celebrar o mistério de vosso Filho”. Celebramos vivendo no coração e tornando o Mistério presente nos ritos sacramentais. Os sacramentos são continuação e presença do Cristo em seu mistério de salvação. Celebrar o mistério é unir-se ao Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo. É a dimensão missionária de cada celebração. O que vivemos, nós o levamos para que todos possam conhecer a vontade do Pai em Cristo e atualizá-la em nossa vida. Tudo o que fizermos, será pouco e será muito. 
Leituras: Miquéias 5,1-4; Salmo 79;
 Hebreus 10,5-10;Lucas 1,39-45. 
Ficha nº 2132
Homilia do 4º Domingo do Advento (19.12.21) 
1. O Espírito realiza a unidade dos acontecimentos e nos abre a compreender Maria. 
2. A Redenção não é somente um fato histórico, mas eternamente presente em Deus. 
3. Celebrar o mistério é unir-se ao Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo. 
Esses moleques!!!! 
A que serve um menino? Ainda mais na barriga da mãe! Sabemos muito pouco (nós que somos leigos). Mas há algo que ainda não analisamos: sua capacidade de dar o Espírito Santo. No encontro de Maria com Isabel, esta ficou cheia do Espírito Santo, e o menino saltou no seu seio. Há algo a refletir e buscar o sentido. O Espírito enche o universo. É questão de desenvolver a capacidade de ver a ação do Espírito nos fetos. E como podem nos serem úteis? Ainda não pensamos nisso. Como podemos ser úteis a eles, eles podem ser úteis a nós e nos dar o Espírito Santo! João e Jesus só se conhecerão 30 anos depois. E continuaram dando-se o Espírito. E se compreenderam totalmente.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

nº 2131 Artigo - Chovei das alturas

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
Encarnação continuada 
A reforma litúrgica restaurou a necessária lembrança da segunda volta de Cristo. Esta é agora é mais importante que a primeira, pois esta já cumpriu sua parte. Com isso, aquele aspecto de Advento, imitação da Quaresma, ficou bem diluído. O mistério da Encarnação não se reduz ao tempo de Natal, ao nascimento de Jesus e às celebrações que seguem. E depois entra em silêncio até que se comece a sentir a falta desse tempo gostoso cheio de ternura. A Encarnação envolve todo o mistério de Cristo e se manifesta em todos seus aspectos. Deus quis Se comunicar para atrair a Si todo o universo criado e todos os seres, de modo particular o homem e a mulher por Ele criados. Deus está sempre Se comunicando e chamando à participação de sua vida. É próprio do amor se difundir e atrair a si. Não podemos medir Deus pelo nosso planetinha diminuto num universo “infinito”. Mas aconteceu que Se manifestou em seu Filho Encarnado que vai ao extremo de seu ser humano na morte e sepultura. Tudo o que é humano está presente em Cristo. Queremos mistificar para não nos comprometer. Há muitos segmentos da sociedade e da Igreja que temem ser humanos. Isso tira o compromisso com o outro, sobretudo aqueles que têm diminuída sua condição humana. Esses são chamados de pobres e de abandonados. O Filho também se identificou com eles. Ele não recusa os que possuem, mas quer que produzam frutos de misericórdia. Mas sabemos que, quem ajuda os pobres são os outros pobres.
Igreja que se encarna 
A encarnação continua presente na Igreja, tanto que, o maior ensinamento do Concílio é a encarnação da Igreja no mundo atual. A Igreja do século X falava para aqueles homens do século X. Pe. Vitor Coelho dizia que a Igreja não é de bronze, pois esse enferruja. Ela é uma árvore que tem um tronco firme e ramos novos. Sem os ramos novos, ela não cresce. Não crescendo pode morrer. É o que vemos em tantos países desenvolvidos. Por isso, a Encarnação não se esgota no Natal. Continua assumindo as condições humanas para chegar a todo homem. Tem que sair de si. Podemos ver as escleroses espirituais que destroem todo o sentido do Evangelho. O povo tem direito à beleza, mas tem outros direitos também. Direitos à pureza do Evangelho. A evangelização que não vai ao homem concreto, no seu mundo, não é continuação da Encarnação. Os sacramentos, a pastoral, as estruturas eclesiais continuam Jesus Cristo em sua missão e vida. Não se trata só de uma recordação, mas de uma atuação. É Cristo que continua. Uma das primeiras coisas a fazer é ir às comunidades mais carentes. Jesus não nasceu na sala, mas num lugar fora, onde estavam os animais e até outros forasteiros. 
Por um Natal encarnado 
Perdemos o encanto do Natal. Quem sabe foi porque ficamos só no encanto. Era um tempo lindo. Pode ser que a beleza sem conteúdo tenha murchado. O conteúdo do Natal é Jesus que vem comunicar a presença real de Deus entre as pessoas. Minha cunhada e família fazem o Natal de uma creche e dão os presentes e a festa. Meu irmão, tendo ido ajudar na distribuição dos presentes, vendo a felicidades das crianças, disse que era o primeiro Natal de sua vida. Estava mais feliz que as crianças. Ao sairmos de nós mesmos, em direção aos necessitados repetimos o gesto de Deus ao vir a nós, dando-nos como presente a Si mesmo em seu Filho. Aí é Natal.

nº 2130 - Homilia do 3º Domingo do Advento (12-12-21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Alegrai-vos” Exultai 
cantando alegre 
A liturgia do terceiro domingo do Advento e o quarto domingo da Quaresma têm uma característica comum: “Estes sacramentos nos purifiquem dos pecados e nos preparem para as festas que se aproximam” (Pós-Comunhão). É como olhar o horizonte e ver os primeiros raios do amanhecer do dia pleno que chega. Temos hoje uma liturgia alegre, festiva, animada pelos próximos acontecimentos. A alegria vai aumentando, como rezemos: “Dai chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las com intenso júbilo na solene liturgia” (Oração). A profecia de Sofonias convida a cantar e rejubilar porque Deus revogou a sentença de condenação, afastou os inimigos e está presente no meio do povo (Sf 3,14-15). A presença de Deus no meio do povo é sua segurança. O cântico de Isaias nos descreve essa alegria: “Exultai cantando alegres, habitantes de Sião, porque é grande em vosso meio o Deus santo de Israel” (Is 12,6). A alegria do Natal é tão grande que sua preparação já é um tempo de alegria. A liturgia continua na carta de Paulo aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito alegrai-vos” (Fl 4,4). O mistério da Encarnação é um motivo de grande alegria. Uma liturgia deve sempre transbordar de alegria. Os mistérios de Deus não são ensinamentos frios e sem sentimentos. Eles são penetrados pela Encarnação do Filho. Na noite do Natal ouviremos o que dizem os Anjos aos pastores: “Eis que vos anuncio uma grande alegria: ‘Hoje nasceu para vós um salvador, o Cristo Senhor’ ” ( Lc 2,10). Essa alegria deve dominar nossa celebração. Alegres porque ele está conosco. 
Preparar para as festas 
A fonte da alegria encontra sua raiz na ação salvadora de Deus e na colaboração do homem que procura o bom caminho. Vemos como João Batista dá às diversas categorias de pessoas que o procuravam, as indicações como atuar a conversão em suas vidas. Diziam: “Que devemos fazer?” É interessante que sua pregação é concreta: Aos ricos que saibam partilhar; aos cobradores de impostos ensina a retidão nos negócios; às autoridades policiais manda respeitar as pessoas e não explorar extorquindo. Sua pregação dava ares de estarem na presença do Messias. João estava na expectativa do Messias e não sai de sua missão que era preparar sua vida. Este homem sabia o seu lugar. É uma grande lição para a pregação na Igreja: deve atingir todas as categorias de pessoas, não nivelando, mas mostrando com verdade cada situação. Preparar a vinda do Messias, esperando por seu Natal, nos leva a assumir atitudes de conversão de nossas atitudes. Essa conversão vai ser o melhor modo de nos preparar para receber o Senhor em seu Natal. Somente a alegria da conversão pode nos conduzir ao verdadeiro Natal. 
A alegria seja vossa força (Ne 8,10) 
A alegria do Senhor é algo que nasce de seu Ser. Não é algo exterior, mas é o seu viver em união e nos dar a participar em comunhão com seu Ser. Somos uma religião da alegria. Viver a fé é a capacidade de encontrar o sentido da vida. Por isso a alegria interior de estar em nosso lugar, vivendo em consonância com Aquele que nos dá a vida. Não provém do exterior. Aqui percebemos porque Neemias diz que a “alegria do Senhor seja vossa força”. A alegria de Deus estava, naquele momento, na restauração do povo e em sua reconstituição. Ela está numa participação e não somente numa causa exterior. Sentir-se em Deus está na capacidade de gerar condições de vida.
Leituras:Sofonias 3,14-18ª;Cântico Isaías12,2-6; 
Filipenses 4,4-7; Lucas 3,10-18.
Ficha nº 2130
Homilia do 3º Domingo do Advento (12-12-21) 
1. A alegria do Natal é tão grande que sua preparação já é um tempo de alegria. 
2. Preparar a vinda do Messias é assumir atitudes de conversão. 
3. Sentir-se em Deus está na capacidade de gerar condições de vida 
Remédio para tudo 
João Batista, em sua pregação, tocava diferentes corações que buscavam uma via diferente. Que devemos fazer, diziam? Para cada situação, a resposta estava na conversão. Assim o remédio é o mesmo para situações diferentes. Depois que se toca o coração é possível a mudança. O homem saído do deserto, trazia sua experiência de encontrar em Deus a resposta para todas as coisas. Não se trata de um remédio bom para tudo e na verdade para nada, mas de um que tem tudo para todos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

nº 2129 Artigo - Imaculada Conceição

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Digna Habitação 
Onde está Maria, está Jesus. Não separemos a Mãe do Filho. É belo ver o carinho e a devoção do povo cristão por aquela que nos deu o Filho de Deus encarnado. Sem Maria não haveria Encarnação. Deus quis assim. Poderia fazer de tantos modos, mas quis assim. Assim se dá a salvação. A celebração da Imaculada Conceição é uma oportunidade para vermos sua presença no mistério da salvação. Tenho muito receio das devoções, pois podem desviar a fé do verdadeiro sentido. É fácil saber discernir: Isso se dá quando corremos atrás do amor a Maria só para receber “graças” e “milagres”, sem nos comprometer com a verdade de seu mistério. Ela nos apresenta Jesus. O amor a Maria nos converte. Vemos o caminho que o Pai usou para nos dar Jesus: Escolheu para Ele uma “digna habitação”. Rezamos na coleta da missa: “Ó Deus, que preparastes uma digna habitação para o vosso Filho, pela imaculada conceição da Virgem Maria”. Ela foi preparada por Deus. Não tendo o pecado original pode gerar, como humana, o Filho de Deus. Jesus é o homem novo, sem o pecado, vivendo totalmente a condição humana. Teve uma mãe totalmente humana, no projeto de Deus, começando uma nova geração para o mundo. Mas permanece mulher, mãe, frágil, presente no povo de Deus, nas condições humanas de seu tempo. Por isso, ela permanece como a humanidade inteira que acolhe Jesus. E dela Jesus recebe toda a humanidade. Ele foi totalmente homem. O verdadeiro homem, Jesus, não vive sob o pecado. Por isso nasce de uma imaculada, sem pecado. 
Preservando-a do pecado 
Todo ser humano nasce com o pecado original. Jesus, não nasceu com o pecado, pois sua Mãe não teve o pecado original. Por isso não cometeu pecado. Como Maria é redimida antes da Paixão e Ressurreição de Jesus? Como poderia atuar a redenção, sem antes ter acontecido? A redenção é para todos os tempos, por isso pode Maria ser redimida antes de ter sido concebida. Por isso, para que o Filho nascesse sem o pecado, Deus a preservou de todo o pecado em previsão dos méritos de Cristo. Ela foi preservada. Aqui temos também um aspecto importante de nosso amor a Maria: considerá-la em seu dom de nos conceder Jesus e Nele, “a cura das feridas do pecado original, do qual Maria foi preservada de modo admirável ao ser concebida sem pecado” (Pós comunhão). Lemos em Efésios que nós também fomos predestinados a sermos santos e irrepreensíveis. Temos que, não pensar só nos dons a receber, mas viver livre do pecado. Se a mulher no paraíso cometeu o pecado, no Novo Testamento, a Mulher Maria não cometeu pecado, por bondade de Deus. A espiritualidade mariana envolve a vitória sobre o pecado e a construção do Reino.
Intercessão 
Rezamos: “Concedei-nos chegar a Vós purificados também de toda culpa, por sua materna intercessão” (oração). Pedimos ainda: “Ao proclamarmos que a vossa graça a preservou de toda a culpa, livrai-nos, por sua intercessão, de todo o pecado” (Oferendas). A liturgia na festa nos coloca a missão de Maria como intercessora, para que sejamos livres do pecado. Esse é o maior louvor que fazemos a Maria: colocá-la no mistério da redenção como suplicante por seus filhos, para que sejam livres do pecado, que é a maior desgraça. Desse mal procedem todos os outros. Maria pisa na cabeça da serpente quando, juntamente com seu Filho, vence o mal dos filhos. Nesse pedido de Maria estão todos os outros.

nº 2128 - Homilia do 2º Domingo do Advento (05.12.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Preparai o Caminho”
Voz que clama 
No calendário da liturgia temos três esquemas para os tempos maiores do ano litúrgico. Nesse ano somos conduzidos pela magnífica figura de João Batista. Podemos, assim, compreender um pouco mais o que significa “esperar a vinda de Cristo”. Temos sua vinda, nascido como homem no Natal; temos sua vinda no fim dos tempos e, nesse ano, contemplamos João anunciando sua vinda como enviado do Pai. João anuncia “que todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,6) na pessoa de Jesus que inicia seu ministério. Por aqui podemos ver o sentido amplo que tem a Vinda do Senhor. Ele sempre está vindo. Lucas apresenta João como o “maior entre os nascidos de mulher”, o maior profeta. Todos anunciaram o Messias. João O apresentou. Ele é como uma síntese das profecias e a resposta de Deus. A liturgia interpreta o texto do profeta Baruc sobre a maravilhosa restauração de Jerusalém. É uma profecia da restauração do mundo a partir da presença do Messias prometido. Para João, Ele não é mais uma promessa, mas a realização. Retomando o texto de Isaías (40,3-5), aplica essa preparação universal da vinda do Messias para a renovação do mundo. Lucas coloca uma solene abertura, situando a missão do Batista dentro da história do mundo: tempo de Tibério, Pôncio Pilatos, Filipe e os sumos sacerdotes. Jesus não é uma lenda. João não é um pregador alucinado. Manda preparar o caminho do Senhor, como preparamos agora sua segunda vinda e sua vinda na carne. 
Completará a obra 
Normalmente, ficamos inseguros sobre a resposta que damos ao Senhor pelos bens que nos prodigalizou. Paulo conforta seus convertidos dando-lhes segurança: “Tenho a certeza de que aquele que começou em vós uma boa obra, há de levá-la à perfeição até o dia de Cristo Jesus” (Fl 1,6). Isso nos ensina que a vida cristã é uma busca permanente, um crescimento conquistado com paciência e esperança. Temos a ideia de que os inícios foram maravilhosos e os convertidos eram perfeitos. São como nós: precisavam crescer. Por isso diz: “Isso peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência , para discernirdes o que é o melhor”. O resultado é claro: “Assim ficareis puros e sem defeito para o dia de Cristo, cheios do fruto da justiça que vem por Jesus Cristo” (Fl 1,6.9-10). A vida cristã é um crescimento permanente. Preparar os caminhos exige muito trabalho e muita mudança. Não é sofrimento, pois a leitura de Baruc continua dizendo que “as florestas e todas as árvores odoríferas darão sombra a Israel, por ordem de Deus” (Br 5,8). Todo o processo de vida cristã é suave, agradável e maravilhoso. 
O Senhor fez maravilhas 
João Batista anunciou a vinda do Messias como Salvador. E na celebração de hoje nos anima a viver intensamente a graça recebida. A Palavra de Deus faz uma leitura da vida cristã comparando-a à libertação do povo: “Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar. Encheu-se de sorriso nossa boca e nossos lábios de canções”. Falta alegria à nossa fé. Nós também recebemos tanta libertação. Sempre podemos clamar por novas maravilhas: “Mudai a nossa sorte, Senhor, como torrentes no deserto. Os que lançam as sementes entre lágrimas ceifarão com alegria. Refletindo a segunda vinda de Cristo, na expectativa da memória de sua primeira vinda, nós O acolhemos em nossa vida como Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6). 
Leituras: Baruc 5,1-9; Salmo 125; 
Filipenses 1,4-6.8-11; Lucas 3,1-6. 
Ficha nº 2128 
Homilia do 2º Domingo do Advento (05.12.21) 
1. João faz uma profecia da restauração do mundo a partir da presença do Messias 
2. A vida cristã é um crescimento permanente. 
3. Falta alegria a nossa fé. Nós também recebemos tanta libertação. 
Notícia velha 
Falar que Jesus vai chegar, já furou o disco. Mas não veio coisíssima alguma. Que fazer? Ouvir de novo! Ouvir sempre a mesma notícia acaba sendo a declaração de sua verdade. É assim mesmo. Ele veio e a gente não viu? Ou a verdade já se realizou e nós não vimos? Ele sempre vem ao nosso encontro. Às vezes com tantos rumores, ou como o silencio. Ver é o problema. Vemos o que queremos.

nº 2127 Artigo - “Um mistério a celebrar”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Ano litúrgico 
Cada celebração é única e está dentro de um contexto muito definido que se chama Ano Litúrgico. Este dá, à comunidade que celebra, o sentido e o modo de compreender a graça que Deus oferece em cada dom. É importante saber que cada ato litúrgico é igual aos outros de seu gênero, mas profundamente diferente no sentido da celebração do Mistério que é sempre o mesmo e sempre novo. O mesmo acontece com o Ano Litúrgico no qual se desencadeiam os mistérios celebrados. Sempre os mesmos e sempre novos. Novo por quê? Porque a graça de Deus é sempre nova. O sentido da história dos gregos era cíclico. Tudo retorna. Isso é uma etapa de sua filosofia. No sentido hebraico, o tempo é continuo. No sentido cristão é espiral. Sempre o mesmo, mas sempre indo à frente como uma escada em caracol. É sempre a mesma, mas estamos mais à frente contemplando sempre um aspecto novo. Não podemos dizer: “Vai à missa de novo?” Não! Ela é sempre outra. É o mistério: sempre antigo e sempre novo. Deus eterno e imutável, mas não é estático. É vida, sempre gerando vida. O Ano Litúrgico não é um calendário. O calendário dispõe as celebrações. Entramos no mistério do tempo que sempre gera vida. Não se trata de virar uma página, mas de contemplar e viver o mistério do Deus Salvador que Se manifesta em Cristo na comunidade celebrante. “Cada tempo litúrgico tem sua teologia que se estabelece a partir dos textos. Não é um acúmulo de ideias, mas uma graça concreta de comunhão com o mistério que nos é oferecido em determinado tempo litúrgico” (El Ano Litúrgico – J. Castellano, p 53). 
Um pouco da história 
O ano litúrgico não nasceu de um decreto, de uma reunião ou de um estudo. Brotou a partir da experiência viva das comunidades. Muitas celebrações têm sua fonte nas celebrações bíblicas. O que determina são a condições humanas, teológicas e culturais. O ano litúrgico, como a liturgia, está sempre em movimento. Faz parte da vida das pessoas. A história da renovação se inicia com a descoberta dos livros litúrgicos antigos. No século XIX estudou-se o termo sacramento em seu original que era “misterion”, a partir do conceito grego. No culto mistérico, o “devoto” realizava uma cerimônia “imitando” o que estava no mito (história antiga). Não se trata de algo incompreensível. Os ritos levavam a pessoa viver aquilo que se mostrava no mito. Os gestos explicavam. A palavra “sacramento” foi uma tradução de mistério. Nele nós realizamos ritos e acontece conosco o que os ritos explicam. A graça não está sujeita ao rito, mas o rito a torna clara. Nossa participação nos ritos acolhe o que a graça realiza em nós. O rito descreve e a graça realiza. 
A fé sustenta 
As festas do calendário têm origens diferentes: Há festas que celebram os mistérios da vida de Jesus. Celebram fatos que aconteceram como Natal, Páscoa, Ascensão e outros. Há festas que vêm de um dogma, como a Trindade, Eucaristia... Há também aquelas que provêm de tradições da piedade como as Dores de Maria. Há celebrações dos Santos, Anjos, Nossa Senhora, e mesmo devoções particulares. Na história sempre aconteceram ajustes no calendário, como foi feito depois do Vaticano II, na reforma litúrgica. Foram tirados santos cuja existência é duvidosa, ou santos que são desconhecidos atualmente. No calendário privilegiaram-se os santos de maior tradição e mais universalidade, santos novos e países de fé recente, como Coreia, Vietnam... Os ritos orientais trazem tradições diferentes que não são contrárias, mas têm outra maneira de compreender.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

nº 2126 - Homilia do 1º Domingo do Advento (28.11.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
“Haverá sinais” 
 Sinais de vida 
Iniciamos o tempo do Advento. Na reforma litúrgica houve uma mudança no tempo do Advento. Antes, esse tempo precioso, estava voltado para o nascimento de Cristo, como preparação para o Natal. Agora se recuperou o ensinamento sobre vinda de Cristo no fim dos tempos. Depois se celebra sua vinda na carne, no dia de Natal. No Natal celebramos o mistério da vinda de Cristo entre nós. Nesse tempo inicial de advento, até o dia 16.12, celebramos e preparamos sua vinda gloriosa quando nos virá tomar com Ele para tomarmos posse do Reino que nos está preparado desde o começo do mundo, como diz Jesus no julgamento final (Mt 25,34). Há os que veem os sinais como ameaçadores. Deus é bondoso. Nós é que somos maus e desejamos que Deus faça os outros pagarem. A maldade está em nós. E não em Deus. Dizemos que, quem tem conta no cartório, tem que se assustar. Para nós que sabemos que somos amados e amamos, a vinda de Cristo ressoa como um grande dom: “Quando essas coisas acontecerem, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 25,28). Deus, em para nos levar consigo para seu Reino de glória. Todas essas coisas terríveis nos convidam a nos alegrar. São sinais da vida. Quem viveu Jesus em sua vida, não terá o que temer em sua vinda gloriosa. Jesus nos ensina a ler os sinais dos tempos, e deles, tirar a força para viver alegremente o Reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz” (Prefácio de Cristo Rei). A profecia de Jeremias anuncia que a semente da justiça vai brotar. 
Corações insensíveis 
Como viver esse tempo de expectativa? Que não seja aterrorizante, mas seja produtivo. Jesus recomenda que vivamos livres de todo o pecado e cheios dos dons de Deus. Esperar o fim é viver intensamente o bem. Diz Jesus: “Orai a todo momento a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem”. A oração deve ser acompanhada de atitudes que nos libertem das fontes do pecado: “Tomais cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida e esse dia não caia de repente sobre vós” (Lc 21,34-35). São tentações que tiram o homem de sua realidade e o deixa ao sabor dos instintos. Como são vícios de difícil superação, despreparam totalmente o homem de pensar que a vida deve ser uma permanente espera do Senhor a qualquer momento. Não se trata de pegar de improviso, mas que a vida, assumida em Cristo, é a melhor maneira de esperar. Não se trata de uma vida inútil, mas frutuosa na caridade. Nosso amor vai ao encontro do amor de Cristo. Rezamos: “Verdade e amor são os caminhos do Senhor” (Sl 24). Paulo é modelo: “Aprendestes de nós como deveis viver para agradar o Senhor” (1Ts 4,1). 
Mostrai vossos caminhos 
O salmo nos leva a rezar com intensidade: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, e fazei-me conhecer vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza” (Sl 24). “o(O) Senhor Se torna íntimo aos que o temem e lhes dá a conhecer sua aliança” (Id). Paulo mostra que esse caminho é o amor: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós... numa santidade sem defeito” (1Ts 3,12). Esse é o modo como esperar o Senhor e como manter nossos corações em dia, sem insensibilidade. Assim poderemos orar a todo o momento. Tudo o que pensamos sobre a vida cristã, termina sempre no amor.
Leituras: Jeremias 33,14-16; Salmo 24; 
1Tessalonicenses3,12-4,2;Lucas 21,25-28.34-36. 
 Ficha nº 2126
Homilia do 1º Domingo do Advento (28.11.21)
1. A nós que sabemos que somos amados, a vinda de Cristo ressoa como grande dom. 
2. São tentações que tiram o homem de sua realidade e o deixam ao sabor dos instintos. 
3. Tudo o que pensamos sobre a vida cristã, termina sempre no amor. 
Sai debaixo 
Quando vemos algum voo rasante, temos a sensação de ter que abaixar a cabeça. Ouvindo as palavras dos Evangelhos sobre o fim, temos a sensação que vai ser um pandemônio. Vai voar tudo pelos ares. Não é essa a mentalidade de Jesus. Era uma linguagem do tempo para assustar. Por isso, ter medo da vinda de Jesus é condenar tudo o que fez, pois vem para retribuir, mais ainda, manifestar seu amor maior que quer todos com Ele. Não precisa abaixar, pois vem para nos elevar.....

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

nº 2125 Artigo - Reino de Justiça

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Reino de serviço 
Republicanos que somos, há uns tempos, engolimos mal, certos termos da tradição recente da Igreja que viveu a monarquia. Há uma festa grandiosa chamada “Cristo Rei”. É preciso superar esta linguagem que está encarnada no termo de “princesinha”, porque bonita e bem vestida; príncipe... prêmios de princesa e coroas. Quem não assistiu o casamento do príncipe inglês? No fundo a gente gosta. Ainda temos essa linguagem na Igreja. Isso, sem falar de outros títulos... Jesus disse: “Eu sou rei. Vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, escuta minha voz” (Jo 18, 37). Jesus muda a conversa de Pilatos e indica que todo aquele que é da Verdade, escuta sua voz. A verdade é o testemunho de sua vida e de sua palavra. Caminhemos para a terminologia própria de Jesus: “O maior é aquele que está à mesa. Eu estou entre vós como aquele que serve” (Lc 22-27). Dizemos enfaticamente: “meu nome é serviço”. Jesus pode dizer meu ser é serviço vivido. Tudo o que fez, inclusive sua morte e ressurreição, foi um serviço. Deu a vida como serviço. É curioso como não conseguimos colocar nossa vida no caminho de Jesus. Por isso vemos que a Igreja perde seu sentido e continua mantendo certos costumes pouco cristão e alimentando “almas” que recebem Jesus, mas não assumem amor/serviço, núcleo do Evangelho. 
Terra do acolhimento 
Sempre falamos que devemos servir. Colocamos o serviço como sentido da vida. Mas nos esquecemos que devemos acolher. Amar e ser amado. Falamos que devemos amar. Desenvolvemos a teologia do amor, mas não a teologia do acolhimento do amor. Deixar-se amar. E temos uma explicação formidável. Jesus explica quando lava os pés dos discípulos numa atitude de serviço. No momento em que Jesus chega a Pedro, este diz: “Jamais me lavarás os pés”! Jesus responde: “O que faço não compreendes agora, mas compreenderás mais tarde” (Jo 13,8). Pedro então diz que quer que lave tudo. Jesus diz que ele já está todo puro. Na pureza da salvação, há a necessidade de lavar os pés uns dos outros e, o que não falamos, aceitar o amor que é oferecido, dado. É difícil aceitar ser servido. É quase humilhante para nosso orgulho. Aceitar ser amado exige dose alta de amor. Aceitar ser servido (não para quem usa os outros) é o desenvolvimento do amor. Cria-se, assim, o ambiente fraterno, como queria Jesus. E vemos ao final que Jesus diz que não precisa lavar tudo, pois já estão todos puros. A vivência do amor recíproco acolhe o serviço como dom e desenvolvimento do amor. Por isso, diz: “Deveis lavar-vos os pés uns dos outros” (id 14). 
Prazer da aventura 
Temos prazer nas aventuras da vida. Maior é o prazer nas aventuras do amor que Cristo nos ensinou como “seu mandamento”. O amor que nasce da doação da vida nos une a Cristo e, em certo sentido, nos iguala a Ele. Quando eu amo, é Cristo que ama. Quando sou amado recebo igualmente o amor como Cristo o recebe. O amor leva ao despojamento. Ele nos despe das inutilidades e nos leva ao núcleo do amor: amar como Cristo ama. Sua morte de Cruz, como entrega por amor, foi continuação de sua vida. Por isso disse a Pedro: Compreenderás mais tarde. A Paixão e Morte são a escola do amor maior. Jesus disse que “estais todos puros (limpos)”. É fruto da Paixão. O amor que Jesus teve em sua morte purifica. Acolhendo esse amor e levando-o à vida, continuamos sua Paixão redentora e gloriosa Ressurreição. Onde há amor, há passagem da morte para a vida.

nº 2124 - Homilia da Sol. de Cristo Rei (21.11.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Jesus Cristo Rei do Universo 
 Testemunha fiel 
A festa de Cristo Rei surgiu para responder às necessidades da Igreja que perdia seu espaço diante das novas ideologias comunistas e outras: “A Primeira Guerra Mundial, em meio ao crescimento do comunismo na Rússia, por ocasião dos 1600 anos do Concílio de Nicéia (325), o Papa Pio XI instituiu a festa em 1925 através da encíclica Quas Primas. Sua primeira celebração aconteceu em 1926”. A festa toma novo sentido ao ser colocada no final do ano litúrgico. Perdeu o caráter político e se abriu à visão do universo que busca Cristo e por Ele é atraído com sua força divina: “Dando-nos a conhecer o mistério de sua vontade, conforme decisão que lhe aprouve tomar para levar o tempo à sua plenitude: a de, em Cristo, recapitular todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra” (Efésios 1,9-10). Para realizar essa missão de recapitular todo o universo. Isto é: levar todas as coisas para sua cabeça, seu princípio. A missão de Jesus não foi fundar uma religião nova. É a manifestação do Mistério de Deus para conduzi-lo a seu destino final que é o Criador. Os textos da liturgia, em Daniel e no Apocalipse, mostram essa figura magnífica do Filho do Homem. O Apocalipse O chama de testemunha fiel. Jesus não nega de ser rei, mas não desse mundo (Jo 18,36). “Ele é soberano dos reis da terra”. A Ele louvamos: “A Jesus, que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos pecados e que fez de nós um reino, sacerdotes a seu Deus e Pai, a Ele a glória e o poder, em eternidade amém” (Ap 1,5-6) . 
Seu reino não dissolverá 
Na “guerra das religiões” esquecemos que o fundamental é a busca de Deus colocada no coração de cada um e sistematizada por grupos diferentes. A Igreja tem a missão de anunciar Jesus e sua Verdade. Podemos dizer que Deus e manifesta no coração humano onde Ele tem seu sacrário. Quando Jesus diz a Pilatos “Meu reino não é desse mundo...” está declarando sua verdade. E diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). A vontade de Deus faz seu caminho e vai a sua última realização que é recapitular tudo em Si. Nós corremos o risco de querer implantar uma vida cristã a nosso modelo e não ao modelo de Cristo. Essa foi a tentação dos séculos. O Evangelho, nem sempre é o guia da vida cristã. É muito fácil buscar vida cristã segundo nosso modelo. Isso não nos compromete. Jesus tem seu jeito: Ele é vida doada. É triste ver as comunidades em total inércia. Só buscam uma missinha para se verem livres. Os santos foram os que se comprometeram com Jesus e com sua missão. Esse Reino de Jesus implantado não se dissolverá por conta de nossas fragilidades. Ele irá em frente no mundo, colocando em todos os corações a semente da fraternidade. Onde há amor, doação ao irmão, aí há o Reino de Deus. 
Testemunha da verdade 
Que é de Deus entende a missão de Jesus e a faz. Por isso responde a Pilatos: “Eu nasci e vim ao mundo para isso: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). Pilatos perguntou: “O que é a verdade?” Mas não esperou a resposta. Ou reconheceu que Ele era a Verdade, pois disse aos judeus: “Não encontro Nele, crime nenhum” (Jo 18, 38). A vida cristã só é verdadeira se vive a Verdade de Jesus que é sua Pessoa e seu Evangelho. “Seus mandamentos não são pesados, pois todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é nossa vitória, a nossa fé” (1Jo 5,3-4). Pela fé, vivida na caridade (Gl 5,6). Assim somos testemunhas fiéis como Jesus. 
Leituras: Daniel 7,13-14; Salmo 92; 
Apocalipse 1,5-8;João 18,33b-37. 
Ficha nº 2124 
Homilia da Sol. de Cristo Rei (21.11.21) 
1. A religião é manifestação do Mistério de Deus para conduzi-lo a seu destino, o Criador. 
2. É muito fácil buscar vida cristã ao nosso modelo. Isso não nos compromete. 
3. A vida cristã é verdadeira se vive a Verdade de Jesus que é sua Pessoa e seu Evangelho. 
Rei do Jogo
No mundo há poucos reis, e penso que muitos inúteis e caros. Temos os quatro do baralho que causam muito barulho. Jesus declarando-Se Rei o faz de um modo em que o jogo se torna uma verdade que permanece. No jogo da vida buscamos o que nos garanta. Então é hora de buscar o rei do jogo, aquele que dá as cartas da vida. Nele, por Ele e com Ele podemos realizar o jogo da Verdade da qual Pilatos foge. Deu uma de filósofos, mas não entrou no jogo de Jesus.

nº 2123 Artigo - Santo é gente

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
O humano e santidade 
Temos a mentalidade de que um santo é tão diferente que concluímos não ser para nós. Santidade é para poucos heróis. Faz-se tanta fantasia sobre a santidade que ela se torna impossível para os “pobres pecadores”. Os santos têm pecados, têm defeitos, têm manias, têm dificuldades e são “piores” que nós. Só depois que vemos sua santidade. Estamos tropeçando em pessoas santas. O santo tem luta como qualquer um. Em vida, só percebemos sua santidade, se tivermos capacidade de perceber sua batalha. O povo de Deus é santo e pecador. Certamente temos pessoas luminares, especiais etc... Mas quanto mais humano, mais pronto está para viver grande santidade. Por isso a santidade pertence ao povo. O modelo é sempre Jesus que era extremamente humano. Leonardo Boff disse há tempo: “Jesus era tão humano que os discípulos entenderam que só podia ser divino”. Ser humano, com todas as riquezas e fragilidades é condição necessária para a santidade. Deus nos fez assim. Quanto se condenou nossa humanidade como empecilho para viver a graça de Deus. O que consideramos frágil, também foi feito por Deus e é caminho de santidade. Temos muita reflexão espiritual, grupos de espiritualidade que anulam o ser humano. Não é santidade. É de se duvidar que exista santidade em certas maneiras de viver a vida cristã.
Condição humana 
A Escritura nos diz que Deus fez o homem de barro, como um oleiro que faz um objeto, remodela, trabalha com suas mãos. Somos o barro nas mãos de Deus. O barro não é desprezível, sua condição sem firmeza é necessária para se formar o objeto. De uma pedra, pouco se pode mudar. Deus é nosso oleiro e nos molda. Somente estaremos firmes quando cozidos pelo fogo do Espírito e apresentados ao Pai. Assim foi Jesus. Cresceu como homem. É até melhor pensá-lo pouco humano, pois facilita a buscarmos fora de nós o caminho para Deus. Onde não está. Ser humano compromete nossa vida com a vida dos irmãos, pois fomos feitos para a fraternidade. É justamente o fato de estarmos juntos que fortalece e nos ensina a sair de nosso eu para o nós, onde somos irmãos comprometidos. A humildade de nossa carne e de nossa condição de sempre crescer é o melhor caminho. Jesus não impõe nada aos discípulos. Ele propõe seu caminho através de parábolas, breves ensinamentos, simplicidade de vida e de relacionamentos. Santidade é um dom para o povo de Deus e não um caminho especial para alguns escolhidos. Todos são santos por dom de Deus e pelo esforço pessoal. Todos podem. Há pouco santo gente do povo. Só bispo, padre e freira. E os casais? O casamento é o caminho normal de santidade feito por Deus. 
Seguir o modo de Jesus 
É muito simples viver a santidade: basta viver como Jesus viveu, fazendo a vontade do Pai. Esta vontade está clara: “O Pai não quer que Eu perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (Jo 6,36). A santidade de Jesus era sua permanente união ao Pai que estava oculta pelo véu da Encarnação. Essa se manifestava através de uma vida dedicada totalmente, até o extremo, àqueles que o Pai lhe confiou, que somos todos nós. Não há homem que esteja fora do amor de Jesus. A santidade está aqui. Preferimos outras que não nos comprometem. Jesus é claro na sua opção; “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Santidade que vemos nos grandes santos realmente se deu em sair de si para viver para os outros, em tudo. Cada um de seu jeito e em suas condições. É um caminho aberto a todos. Fora desse, não há outro. Vida doada, santidade completa.

nº 2122 - Homilia do 33º Domingo Comum (14.11.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Aprendei da figueira”!
Minhas palavras não passarão 
Chegando ao fim do Ano Litúrgico e início do Advento, entramos na temática do fim dos tempos. A segunda vinda de Cristo era uma expectativa forte na comunidade primitiva e se desenvolveu através da história. Atualmente, perdeu-se muito a noção de sua segunda vinda, para um termo mais vago, como Ele está vindo... sempre. O livro do Apocalipse e o Evangelho desenvolvem essa reflexão usando uma linguagem “apocalíptica”. Apocalipse significa revelação, isto é, descobrir o que está encoberto. Temos de distinguir a linguagem da realidade e da Palavra de Deus. O valor das palavras está no simbolismo que elas encerram. Temos que entrar no conhecimento dos símbolos para captar a mensagem. É por isso que Jesus diz: “O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão” (Mc 13,30). Aos que vivem temendo ou anunciando a hora, temos as palavras de Jesus que nos acalmam: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Id 32). Jesus quer ensinar que não é preciso esperar a hora, mas viver o momento presente olhando os sinais dos tempos para entender a ação de Deus. Deus não vem para destruir, mas para dar o prêmio e nos levar consigo (1Ts 4,17). Os textos querem nos afirmar a importância de nossa fé em Jesus. Trata-se de uma fé que modela a vida de acordo com o Reino de Deus que não é um futuro, mas um presente coerente com a Palavra de Jesus. Não é possível uma fé sem Jesus e sua palavra. 
Em Deus me refugio (Sl 15) 
Nossa vida cristã nos traz segurança. A fé é tudo. Mas, na verdade, vivemos sem um apoio e ficamos procurando coisas que nos garantam. Por isso elevamos nossa oração fervorosa: “Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, meu destino está seguro em vossas mãos. Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, pois se O tenho a meu lado não vacilo” (Sl15). A fé nos leva a um exercício permanente de buscar Deus em nossa vida. Para isso fazemos tantas coisas como que para nos garantir. Há gente que faz até “benzimento” de fechar o corpo. Alguns usam o texto de Paulo sobre a armadura do cristão: “Revesti-vos da armadura de Deus”. Lêem como se tivesse garantindo o corpo: “Cingi vossos rins com a verdade e revesti-vos da couraça da justiça. Calçai vossos pés com a preparação do evangelho da paz, empunhando o escudo da fé, ... tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito que é a Palavra de Deus” (Fl 6,14-17). Não fecha o corpo, mas nos dá condições de lutar contra o mal com a verdade, a justiça, a salvação e a Palavra de Deus. Em toda batalha temos o refúgio em Deus: “Vós me ensinais o caminho da vida; junto a vós, felicidades sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado”.
Tornou perfeitos 
A Carta aos Hebreus nos oferece uma garantia em nossa fé. Será que seremos salvos? Onde se fundam nossas certezas e incertezas? Paulo usa a comparação do Cristo Sumo Sacerdote e o sacerdócio do Antigo Testamento. Este oferecia sacrifícios muitas vezes, incapazes de salvar. Cristo ofereceu um sacrifício único para o perdão dos pecados. Já estamos todos perdoados, pois “com esta única oferenda, levou à perfeição definitiva os que santifica. Ora, onde existe o perdão, já não se faz oferenda pelo pecado” (Hb 10,14). Já temos garantido o perdão. Vivemos a perfeição de Cristo, pois fomos redimidos em sua morte e ressurreição. Temos que acolher a graça com alegria. Vivemos pedindo um perdão que já recebemos. Basta aproveitar e viver a graça da vida nova conquistada por Cristo.
Leituras: Daniel 12,1-3; Salmo 15; 
Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32 
Ficha nº 2122 
 Homilia do 33º Domingo Comum(14.11.21) 
1. Deus não vem para destruir, mas para dar o prêmio e nos levar consigo (1Ts 4,17). 
2. A fé nos leva a um exercício permanente de buscar Deus em nossa vida 
3. Vivemos a perfeição de Cristo, pois fomos redimidos em sua morte e ressurreição. 
4. A verdade, a justiça, o desejo de salvação e a Palavra de Deus, é o que nos capacita para lutar contra o mal.
No tempo em que as plantas falavam 
Temos em nossa mente aquela frase: “no tempo em que os bichos falavam”. Jesus nos alerta: “Aprendei, pois, da figueira esta parábola!” (Mc 13,28). Notamos que tudo fala, pois nossos ouvidos estão aprendendo lições permanentes do mundo, nas plantas, nas flores, nas estrela, na terra, nos rios, nas cascatas... Tanta coisa! Sempre aprendendo. Temos olhos para ver, ouvidos para ouvir, tato para tocar e coração para amar. O que a natureza nos fala? Há uma comunicação muito grande da própria natureza. Para nós são sons, são movimentos, são transmissões misteriosas dos seres. Por que não ouvimos o que dizem de Deus? O Evangelho das plantas foi notado pelo próprio Jesus: Olhai os lírios do campo! Olhai a figueira! Contemplai os campos maduros para a ceifa. Sabemos que podemos nos comunicar entre nós com a força e encanto da natureza. Ela mesma sofre por conta do nosso pecado (Rm 8,20ss). Sua redenção está próxima. Ele virá. E conosco todo universo caminhará para o Pai (Ef 1,10).

sábado, 6 de novembro de 2021

nº 2121 Artigo - Pensando santidade

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Santidade, coisa de humanos 
A temática da santidade é muito vasta e diversificada. O grande risco é não chegarmos a uma espiritualidade com veias humanas. Espiritualidade é a manifestação da santidade de Deus em nós, nas condições humanas. Os santos, depois de colocados no altar, são magníficos. Não eram assim no cotidiano. Eram humanos. E em condições humanas. Se não é humano, não é santo. Se formos ver os santos que estão em nossos altares, sabemos que foram pessoas extraordinárias. Mas nos esquecemos de seu ser humano. Eram pessoas normais. Tinham defeitos, até mais que nós. O provérbio sobre os santos é interessante: “Viver com um santo no Céu é uma glória. Viver com um santo na terra é outra história”. Todos nós somos humanos. O que têm de especial? Buscam viver a vida cristã, trabalhando para vencer o que é mau, dedicando-se a Deus numa condição concreta. Eles têm pecados, mas tem a conversão e a busca constante de Deus. Com o tempo, depois de suas mortes, esses defeitos vão desaparecendo e fica só a ação de Deus em suas vidas. Esses santos dos quais falamos maravilhas não foram seres fora da realidade. Cada um tem sua maneira de ser. Têm até defeitos e jeitos que atrapalham. Por isso temos que correr de certas espiritualidades que anulam o ser humano. Quanto mais humanos, mais aptos para viver a graça de Deus, que foi feita para humanos. Por isso temos que ter olhos espirituais para ver Deus agindo nessas pessoas. 
O espiritual à altura do coração 
Não é fácil ser santo. Por outro lado, é muito fácil ser santo. Quem é santo? Você! Ela! Ele! Nós! Isso porque vivemos a graça de Deus em nossa condição. Viver a graça é ter a capacidade de amar que provém de Deus. Amar é nosso querer bem. A primeira exigência é ser humano, pois os nossos santos vivem no meio de nós. Gente de nossa gente. Quem é o santo? Olhemos para o povo que vive essa situação dolorosa da vida com simplicidade, lutas e empenho. Imaginemos uma mãe de família na batalha pelo pão de cada dia. Normalmente o marido já sumiu. Ou pai que vê, com o coração apertado, a situação exigente. Sobre o pobre não dá para fazer poesia, é rosário de dores. Mas há no coração uma alegria. Pior é pensar que o santo é o que está protegido num convento, que vive em orações, palavras e vestes bonitas. Certo que também eles. Mas vamos buscar o homem e a mulher que são como Jesus. Jesus não foi aceito porque era humano demais. Temos belas imagens de Jesus. Mas o homem de Nazaré era humano. Por isso, a espiritualidade tem que estar à altura do coração, isto é, coisa de gente. Na história temos santo para todo gosto. O que Jesus apresenta é a espiritualidade que vivia: as bem-aventuranças. Aqueles que parecem extravagantes foram feitos assim pela fantasia popular. 
Espiritualidade das mãos. 
O santo nos compromete a viver o que ele viveu buscando Jesus e os irmãos. Não encontramos santos que tenham sido distantes do povo. Mesmo que fossem de classe alta, eles sabiam buscar os pobres. Sem pobre ninguém fica santo. Santidade buscada com as mãos estendidas aos irmãos. Devemos ter o cuidado com os pobres, mas também ter um coração pobre, aberto às necessidades de todos. Jesus sintetiza essa verdade nas palavras da última Ceia: “Estou entre vós, como aquele que serve” (Lc 22,27). Mais que dar coisas, dar-se como serviço aos que necessitam. Esse serviço envolve toda a vida da sociedade. Se fizer bem às pessoas, é vida espiritual. Não há carimbo nem etiqueta.

nº 2120 - Homilia da Sol. de Todos os Santos (07.11.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Todos são santos”
 Santos no Pai 
Temos a alegria de “celebrar numa só festa méritos de todos os Santos” (Oração). É uma festa quase como repescagem. Não podemos nos fixar no termo: Como não temos esse santo no calendário, damos essa oportunidade de ninguém ficar fora. A festa vai além de calendário e entra no senso próprio da Igreja Santa. Mais que nos lembrar dos santos, lembra a nós nossa condição de processo de santificação. Lemos no prefácio: “Festejamos, hoje, a cidade do Céu, a Jerusalém do alto, nossa Mãe, onde nossos irmãos, os santos, vos cercam e cantam eternamente o vosso louvor”. Santidade consiste em ser no Pai. Fazemos coisas, mas para sermos no Pai. A Igreja sempre privilegiou os santos. Primeiro os mártires que deram a vida, depois os monges que entregaram a vida na oração e trabalho. São Bento dizia: “Ora et Labora”: reza e trabalha. Depois passamos pelos santos e santas que dedicaram suas vidas a Deus em uma atividade concreta. A grande atividade dos fiéis cristãos é a vida na comunidade Igreja a favor do mundo dos necessitados. Todo santo foi caridoso e se envolveu com a libertação de todos os sofrimentos. Mesmo envolvidos em tantas atividades, tinham seu tempo para Deus. Aqui lembramos as profissões e de modo particular a vida de família. Esses compõem o cortejo que canta em torno do Cordeiro. E cada um foi desenhado o coração do Pai. Não há necessidade do conhecimento intelectual, mas a vivência do amor. Assim Deus marca sua imagem em nós. Não há necessidade de uma vida de Igreja, mas Igreja que é vida.
Mãos puras e inocente o coração 
Ninguém tem direito a fechar o Céu a ninguém. João viu 144 mil assinalados... e uma imensa multidão vinda de todas as nações, tribos, povos e língua, e que ninguém podia contar’ (Ap 7,9). Admira-me que nós e outros, temos a mania de criar critérios de quem vai para o Céu. “Todos lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). E os pecados? Deus já os perdoou em Cristo em sua morte. Não podemos fazer uma religião do Inferno, do Pecado, da Desgraça. Lemos em Romanos: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20). Paulo é claro: O dom da graça supera infinitamente o pecado. Vivemos séculos sob o tacão do pecado. Não é assim que a Palavra ensina. Deus não tem mais nada para fazer por nós, pois já nos deu tudo em Jesus Cristo. Que falta nos dar? Paulo insiste: “Onde abundou o pecado, superabundou a Graça (Rm 5,20)”. Notamos que, na vida espiritual, damos mais valor ao pecado que à graça. Somos preocupados em vencer certos pecados e não em deixar crescer em nós a graça. Tiramos as folhas secas, mas não fortalecemos a árvore em suas raízes e em seu tronco. 
Por sua intercessão 
Pedimos na Eucaristia que a graça de Deus nos santifique para que, da mesa de peregrinos, passemos ao banquete do Reino (Pós-comunhão). Rezamos aos santos porque estão junto do Pai. Que podem por nós? Participam do poder de Deus e o que se refere a eles se refere a Deus. Nessa comunhão estamos em união a todos do Corpo de Cristo, os dos Céus, os da terra e os do Purgatório, isto é, o processo de purificação. Nesse ponto temos dificuldades de explicação, pois conhecemos pouco do Mistério do Corpo Místico de Cristo. Todos estamos Nele e nos acolhemos uns aos outros e nos fortificamos. Mais que celebrar os santos desconhecidos e esquecidos, celebramos uma Igreja Santa e frágil. 
Leituras: Apocalipse 7,2-4.9-14; Salmo 23; 
1 João 3,1-3; Mateus 5,1-12ª) 
Ficha nº 2120 
Homilia da Sol. de Todos os Santos (07.11.21) 
1. Todo santo foi caridoso e se envolveu com a libertação de todos os sofrimentos.
2. Deus não tem mais nada para fazer por nós, pois já nos deu tudo em Jesus Cristo. 
3. Mais que celebrar os santos esquecidos, celebramos uma Igreja santa e frágil.
Meu santo sumiu! 
Eu tinha um santinho que estava sempre comigo. Eu não saia de casa sem El(Ele). Era minha segurança. Já estava com sinais de uso. Era meu santo. Sumiu. Onde foi parar? Não há mais santo? Para que serve o santo se não está aí para me garantir? É uma questão importante em nosso relacionamento com os santos. Eles não são imagens, amuleto, garantia de nossos apertos. Eles são nossos irmãos que estão junto de Deus e rezam por nós. Por que rezam? Para que estejamos unidos a Deus.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

nº 2119 Artigo - “A Vida Ressurge”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Eles vivem 
Por mais que não se creia na vida eterna, os mortos são uma presença permanente. Estão em nossa memória, como se estivessem aqui. Todos os povos tiveram seus ritos funerários como expressão dessa continuidade. A origem da celebração de Finados traduz,cristamente, essa mentalidade. Não se trata de culto aos mortos, mas culto com os mortos que vivem em Deus. Todo culto se refere a Deus que leva consigo tudo o que é criado por Ele. A celebração tem algo muito próprio: No mistério de Cristo, morto e ressuscitado, unimos os que deixaram essa vida e estão vivendo a glória que lhes é reservada. Glória é a manifestação de Deus. Quando falamos com Deus levamos tudo o que se nos refere. Rezar pelos mortos é falar com todos os que estão em Deus. É bom lembrar que, no que se refere à vida eterna, podemos dizer muito pouco. É outra dimensão. Penetramos nos Céus em Deus. Cuidado em querer organizar o “outro lado”. Temos muito que fazer aqui. Nosso Céu, agora, é o amor que dedicamos aos irmãos. Assim o salmo nos inspira: “Ao Senhor eu peço somente uma coisa, e só isso que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida; saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo em seu templo” (Sl 26). A primeira leitura nos descortina a grande mudança que o futuro nos prepara: “O Senhor dará neste monte, para todos os povos um banquete de ricas iguarias... Eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces” (Is 25,6ª.7). Esse momento é de esperança. 
Jesus acolhe 
A liturgia desse dia é pouco “funeral”. Ela que vem nos ensinar o que significa o grande amor de Deus por nós, manifestado em Cristo: “A vontade do Pai que Me enviou é que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas os ressuscite no último dia” (Jo 6,39). E mais ainda: essa vontade de estar conosco, que motivou a Encarnação, se traduz em nos dar aquilo que seremos. João ensina: Deus nos manifestou seu amor chamando-nos de filhos, e de fato o somos. Quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é (1Jo 3,1-2). Notamos quanto Jesus nos comunica de sua vida. Ele nos atrai e nos acolhe. Celebrar os mortos é reformular a vida em sua dimensão maior que é asua continuidade em Deus. João insiste: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos Filhos de Deus! E nós o somos. Se o mundo não nos conhece é porque não conheceu o Pai” (Id 1). Celebrar os mortos não deve ser mais um dia aziago, de algo que não vai bem. Mas é se alegrar de poder ter junto de Deus, como celebramos no dia 1º, a imensidão daqueles que já vivem na glória. Celebrando, lembramos o que seremos. Penso que já é tempo de tirar da celebração de Finados o clima fúnebre. Certo que vem a saudade. Não podemos perder a dimensão de morte que a vida tem. É dor. A saudade dói. 
Por que rezamos pelos mortos 
A Igreja sempre rezou pelos mortos. Como era natural, não precisou explicar. Rezamos para sua purificação. Nós, católicos, cremos na Bíblia que ensina que somos Corpo de Cristo. Cristo é a Cabeça e nós os membros (1Cor 12,27). Se, como Igreja visível, somos um só corpo, quanto mais como Igreja Total, todos em Cristo, na unidade com o Pai. Na caminhada para o Pai, temos os membros mais frágeis que necessitam de nossa oração, nossa vida espiritual com Deus. Assim comunicamos Vida em Cristo. Não deixemos de rezar pelos mortos, porque um dia, nós também precisaremos de oração. Estamos em caminho. Santa Mônica dizia: “Lembre-se de mim no altar de Deus”.

nº 2118 - Homilia do 31º Domingo Comum (31.10.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Amarás”
 De todo coração 
Somente fala de amor quem sabe amar. E quem sabe amar, sabe o quanto tem para amar. Assim aprendemos de Jesus. Os judeus, em seu amor pelas Escrituras, procuravam qual seria o mandamento do qual surgiriam todos os outros. Nada fácil, pois os corações e as mentes não são iguais. Assim um senhor pergunta, depois de outros que tentavam derrubar Jesus: “Qual é o primeiro dos mandamentos” (Mc 12,28b). Qual é a fonte de toda a fé? Onde se apoia toda a Escritura? Onde os mandamentos se justificam? Jesus é claro e rápido. Não há o que discutir. Todos os dias, três vezes, o judeu fiel proclama: “O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força!” (Id 29- 30). Declara a unicidade de Deus. Anuncia que o amor a Deus é total e envolve todas as dimensões do ser humano. Ele é único. Não há um Deus ao lado do outro. Ele não divide com nada e com ninguém. Ele é único. E o amor que exige é total, com todas as dimensões do ser todo humano: com todo coração, toda tua alma, todo o teu entendimento e com toda força. O ser humano é totalmente voltado para Deus. Não há outra nascente da vida nem da fé. Isso é a base, a fonte, o caminho, a direção e o fim de toda vida humana. Sem isso o ser humano jamais será completo. O judeu devia repetir esse mandamento de manhã, ao meio dia e à tarde. 
Amar como a si 
Jesus, em seu amor ao Pai, compreendia perfeitamente o sentido de amar a Deus. Sabia que o amor a Deus é fonte e direção de tudo o que fazemos. Por isso explica e dá o modo de amar: “E o segundo mandamento é; Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior que estes” (Mc 28b,31). Amar como a si mesmo é dar valor total à pessoa humana e que ela vive dessa fonte Divina para colocar o amor de Deus em ação no mundo. Deus ama o mundo, as pessoas as situações através de nós. Não há mundo sem amor. Pode se pensar mundo, mas não o é. O mundo é o amor e se dirige ao amor de Deus como Deus ama. Por isso Jesus ajunta: “E o segundo mandamento é “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Amar a si é viver. Todo amor que é dedicado a Deus está dentro do amor ao próximo. Não como um objeto que se põe ao lado, mas unido na natureza, unido na ação, unido na direção. É como a união das duas naturezas em Cristo. Homem-Deus, união do diferente, mas união no ser. Assim é o amor. Deus ama com totalidade, só assim pode existir amor humano que nasce da Divindade. Jesus tinha razão e o homem concorda: “Disseste bem”! Assim é bom, assim o faremos! 
Um só amar 
Quando dizemos que o amor a Deus e o amor ao próximo é um só, entendemos o modo de viver dos filhos de Deus. Amar o irmão com o mesmo amor com o qual se ama a Deus. E amar a Deus com o mesmo amor que se ama o próximo é o caminho espiritual da Igreja e de cada um. Importante ver que, para não incomodar não se compromete. Deixa de lado o amor se parte para uma vida espiritual sem o compromisso que Deus tendo para com o povo, sobretudo os necessitados. Os outros já estão resolvidos. Devem viver o mesmo amor. Quanto se rezou, se fez reunião, se dedicou a espiritualidades, mas se deixou de lado o amor concreto e ativo ao próximo, não acontece o amor de Deus, pois os dois mandamentos são um só. Quando Jesus fala igual diz o que ele é. Se amo ao próximo amo a Deus. Quando amo a Deus, eu o faço através do amor ao próximo. 
Leituras: Deuteronômio 6,2-6;Salmo 17;
Hebreus 7,23-28; Marcos 12,28b-34.
Ficha nº 2118 
Homilia do 31º Domingo Comum (31.10.21) 
1. Anuncia que o amor a Deus é total e envolve todas as dimensões do ser humano. 
2. Deus ama o mundo, as pessoas as situações através de nós. 
3. Amar a Deus com o mesmo amor que se ama ao próximo é o caminho espiritual da Igreja e de cada um. 
Comprar o pacote 
Quantas vezes fazemos algum “negócio”, compramos um pacote com muitas coisas dentro. Assim também, quando fazemos o negócio com Deus de crer, estamos comprando o pacote que inclui tudo o que Deus ama, de modo particular o próximo. Quando nos decidimos pelo próximo, estamos nos decidindo por Deus. Faz parte do pacote do amor. Quem fala de espiritualidade, de seguimento de Jesus, de santidade, de vida religiosa, sem comprar o pacote inteiro, está destruindo o projeto de Deus. Por isso podemos ver que tantas coisas vão mal. Façamos um negócio completo.

nº 2117 Artigo - “Tudo com Maria”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Nada sem Maria 
Falar sobre Nossa Senhora é um privilégio. Desde as narrativas evangélicas, a história nos traz uma quantidade imensa de textos retratando a personagem humana mais importante depois de Jesus. Todos os santos souberam colocá-la em suas vidas e em suas obras. Isso, sem dizer dos artistas. Ultimamente, com o Concílio Vaticano II, nós a vemos no coração da Igreja, não como uma devoção, mas como presença no mistério de Cristo. A Lumen Gentium nos descobre essa riqueza. Temos a seguir o Marialis Cultus de Paulo VI. É bonito ver como os Papas, em seus documentos, sempre terminam com uma referência a Maria. Nisso, Papa Francisco manifesta uma devoção muito carinhosa. Não sai de casa sem tomar a bênção da Mãe. Quando volta, vai diretamente até a Basílica S. Maria Maior, para agradecer a viagem. Faz parte da vida da Igreja, ter sempre Maria em tudo o que se diz espiritual. Ela está sempre presente ao lado de Jesus. Não se trata de um exagero. É algo natural. O povo não erra. O Ser humano tem mãe. Viva ou morta é minha mãe. Jesus, que foi humano em tudo (menos no pecado), tem sempre junto de Si sua mãe. E continua sendo. Não sei porque alguns tipos religiosos recusam essa presença tão natural. O modo de prestar o culto deve ser feito de tal modo que Jesus esteja sempre no centro. 
Nada sem Jesus 
Essa questão mariana não perturba a fidelidade a Jesus. E até a estimula. Não se pode perder de vista a centralidade de Jesus. Essa centralidade em que tudo se refere a Ele e por Ele ao Pai, acontece quando procuramos não só ter uma devoção, mas viver a vida cristã a partir do Evangelho. Eu posso ser muito devoto, com sinais exteriores, mesmo fazendo uma longa romaria, mas não ter uma vida cristã como Jesus nos apresenta e manifesta também através da Igreja. Fundamentalmente é o amor ao próximo. É a coerência cristã. Aqui se pode atrapalhar a “verdadeira devoção”. Não basta gostar de Nossa Senhora, mas gostar dela em Jesus. Não se trata essa questão com os métodos humanos, pois Deus é quem costura os corações. A devoção a Maria é uma garantia de estarmos em Jesus. Esclarecendo essa devoção, temos que fazê-la sempre com o olhar a Jesus. Maria nos conduz a Cristo e Cristo nos conduz ao Pai. Viver o Evangelho como Maria viveu é o melhor caminho para que Jesus sempre esteja no centro. Para ela, Jesus era o centro de sua vida. Assim desenvolvia sua vida e suas atividades, na total simplicidade de quem ama. Seguindo Jesus, sigo-O, naturalmente, com Maria. Buscamos a simplicidade de Jesus no relacionamento com sua Mãe. A devoção não é um arroubo interior, mas é ação em Cristo.
Ensinando a amar 
Tenho a impressão que a devoção está sempre voltada para o que eu preciso: bênçãos, graças, milagres, resolução de problemas etc... tudo se ajusta bem, pois para Deus não é o esquema que funciona, mas o amor. Por isso, é bom e necessário buscar Maria e, com ela, encontrarmos Jesus. Mesmo que não saibamos explicar, o amor que temos nos ajuda a entender. Amor são gestos e não palavras. Quanto mais somos capazes de levar o amor de Jesus a todos, compreenderemos melhor o que significa amar Nossa Senhora e ser um devoto. Nós vemos que cristãos pouco se dedicam ao amor concreto pelas pessoas necessitadas. É fácil fazer um culto bonito, mas vazio de conteúdo espiritual que só é real no amor. Isso podemos ver na Palavra de Deus. Como Deus não quer um culto sem Justiça, Maria também segue Jesus. Mas...mesmo que não entendamos tudo, façamos esse culto com muito amor.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Nº 2116 - Homilia do 30º Domingo Comum (24.10.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Que eu veja”
 O homem que clama 
 A Palavra de Deus apresenta o milagre de um cego que implora a cura e, curado, segue Jesus. Cego e mendigo! Muita miséria em um homem só. Ele é a expressão de um mundo necessitado e perdido em suas desgraças. Podemos dizer que representa a escuridão do mundo e a dor da miséria. O mundo padece. E não tem saída. Bartimeu pergunta quem está passando. Quando disseram que era Jesus, ele pede misericórdia. Mandam que se cale e ele grita mais forte. Jesus o chama. Sua misericórdia se estende a todos, mas é atento a cada um. Não trata o povo como massa. Há um diálogo bonito: “Que queres que Eu te faça? – Mestre, que eu veja!” “Vai, tua fé te curou!” (Mc 10,51-52). Recuperou a vista e seguiu Jesus. O milagre nos leva a entender o caminho do seguimento de Jesus: Gritar do fundo da miséria. Ele é o Redentor de todos. Buscar Jesus é já começar a ver. O resultado da fé é segui-Lo. Esse processo é o modelo de salvação do mundo: Sentir a própria situação, ouvir Jesus que passa e gritar por Ele. Só em Jesus temos a salvação. Há duas atitudes nas pessoas: abafar o grito dos sofredores e fazer-se surdo diante de todos os sofrimentos. Por outro lado, ajudar a ir ao encontro de Jesus. E animar: “Coragem! Levanta-te! Jesus te chama”! (Id 49). A comunidade tem uma missão muito grande de animar a encontrá-Lo. A libertação sempre acontece vinda da parte de Deus. Lemos em Jeremias 31,7-9 a beleza da a(tirar este”a”) libertação do povo. E o salmo 125 narra a maravilha da libertação. É uma alegria. 
Libertações 
A Palavra de Deus é animadora. Mesmo nos piores momentos há um raio de luz que dá a esperança. Nos desalentos do povo, os profetas animaram a buscar o Senhor, pois está sempre pronto a libertar. Lemos no salmo 106 (107) que retrata muito bem que o povo, em seus pecados, vai ao fundo do poço: “Gritaram ao Senhor na aflição e Ele os libertou da angústia” (Sl 106,6). A primeira leitura narra a libertação do povo escravizado durante 70 anos de exílio. E maravilhosamente Deus o libertou. As misericórdias de Deus são sempre sumamente superiores às fragilidades humanas. Basta ver que, para libertar o mundo do mal, não enviou um anjo, o que já seria bom, mas enviou seu Filho. Deus paga com justeza e ainda deixa uma grande gorjeta. Magnífico Deus. “Entre os gentios se dizia: maravilha fez com eles o Senhor” (Sl 125). Gera a alegria. O cego jogou o manto, deu salto e foi até Jesus. A fé tem uma dimensão profunda de alegria e não de sentimento de culpa pelos males praticados. Na missa antiga rezávamos o salmo que dizia: “Subirei ao altar de Deus, o Deus da minha alegria” (Sl 43,4). Tudo é festa. Lembramos a parábola do Pai bondoso e o filho perdido. “Convinha que fizéssemos festas, pois este meu filho estava perdido e foi encontrado” (Lc 15,32). A verdade por mais séria que seja, é razão de alegria. 
Cristo intercessor 
A Carta aos Hebreus captou o mistério da encarnação que penetra toda a vida de Cristo. Ela descreve o sacerdócio de Cristo voltado para as pessoas: “O sumo sacerdote é tirado do meio do povo e instituído em favor dos homens” (Hb 5,1). Reconhece que Cristo vive a fragilidade. Não é pecador, mas acolhe o pecador. “Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza” (Hb 5,2). A tentação não foi um momento de sua vida. Esteve sempre presente: “Meu Deus, por que me abandonastes”? (Sl 21,3). A fé que nos salvou (evangelho) nasce de sua força em Deus. 
Leituras: Jeremias 31,7-9; Salmo 125; 
Hebreus 5,1-6; Marcos 10,46-52 
Ficha nº 2116
Homilia do 30º Domingo Comum (24.10.21) 
1. A misericórdia de Deus se estende a todos, mas é atenta a cada um. 
2. As misericórdias de Deus são sempre sumamente superiores às fragilidades humanas. 
3. A tentação não foi um momento de sua vida. Ela esteve presente até o último momento. 
Escapei 
Eu estava num aperto danado e achei que dessa vez não tinha jeito de escapar. Mas, por um nada, como acender uma luz, tudo mudou, tudo ficou claro. Parecia que não tinha saída. Mas essa veio justamente do lugar menos esperado. Lembrei: “Quem libertou os judeus”? Um rei pagão que politicamente se realizou uma obra programada por Deus. Assim também nós recebemos dons de Deus, justamente de onde não se podia esperar. Para abrir uma porta grande e pesada, basta um giro da chave. Assim Deus faz... que bom... exultamos de alegria. Aí fazemos aquela festa.

sábado, 16 de outubro de 2021

nº 2115 Artigo - Mãe do povo

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Mãe conhece os filhos 
A Igreja ensina que o povo, no seu conjunto, não erra. Há diversas regras para a garantia da fé: a Escritura, a Sagrada Tradição; os Pais da Igreja (santos mestres antigos), os ensinamentos dos Papas, a Sagrada Liturgia e a Fé do Povo. Esses elementos estão unidos entre si. O que um ensina, está em consonância com os outros. Quando ouvimos que o povo em seu conjunto não erra. Podemos perceber a profundidade do ensinamento, mesmo que as palavras sejam simples. É muito triste ver determinadas seitas tirando a fé do povo. Como o protestantismo trouxe a Europa ao ateísmo, temo que, a invasão das seitas, leve o querido povo ao ateísmo popular. Os santuários preservam esse aspecto da fé popular. Ele se expressa naturalmente. Os símbolos preenchem muito a formulação das verdades. O homem é simbólico. Os símbolos falam mais claro. O povo sempre diz: a casa da Mãe, da Mãezinha. É o sentido da Igreja que Maria representa: é a casa de Deus para todos. A Mãe é acolhedora. Ela sabe como acolher os filhos. Eles vêm com muita alegria. A Igreja é casa de todos. Não tem partidos, nem discriminação de pessoas, evita-se destacar os importantes. Há o respeito às autoridades, mas não é partidário. O conceito da mãe que acolhe é muito claro quando vemos as imensas filas para passar diante da Imagem. Na realidade, por experiência, o símbolo tem algo mais que um símbolo frio. O calor humano expressa o calor da Mãe que acolhe. Se a imagem é um símbolo. Mas, para Jesus e sua Mãe, nós somos uma realidade. O símbolo explica a realidade. 
Gestos humanos da fé 
Como dizemos que gostamos de ver com as mãos, a fé do povo também se expressa em gestos. Vemos as muitas promessas. Criticamos, mas nos esquecemos que elas partem do coração e do modo como esse coração entende. Ouvi um pastor, “importante”, dizer que esse povo que vem a Aparecida troca uma vela de dez centímetros pela bíblia. Conforme uso a bíblia é idolatria. É usar do sagrado, a Palavra de Deus, como instrumento e não como caminho de vida. Eu creio e expresso a fé através de meios humanos. Até o pão e o vinho se tornam o corpo do Senhor. Uma vela acesa é expressão da fé. Não precisa de palavras. Fazer uma promessa é mostrar o agradecimento. É uma atitude penitencial que perdoa. Fazer uma oferta é como se entregar pessoalmente. Não é um dízimo que arranca o pão da boca do pobre. Não se mede pelo valor, mas pelo coração. Jesus falou da oferta da viúva que deu tudo o que tinha para comer. Muito maior atitude que dos ricaços que deram do resto. Uma romaria a pé, a cavalo, ou seja, como for, é uma atitude de caminhada para Deus. Seu valor se mede pelo que está no coração da pessoa. Não despreze o humilde. 
Carinho de Deus 
O povo feliz no santuário tem a certeza de que está na presença de Deus e na presença de sua Mãe querida. Tenho visto sua alegria por estar aqui. É um povo feliz. Fizeram longas viagens, desde o Rio Grande do Sul, como Nordeste. Veio agradecer. Sinal que já sentiram a presença de Deus. Perguntamos tantas vezes: “Quem veio agradecer?” É muito mais do que quem veio para pedir uma graça especial. Sabem reconhecer. Já ouvi crentes evangélicos que receberam milagres. Deus quer cuidar de seus filhos. Nossa Senhora cumpre essa missão. Não tenhamos medo de fazer promessa. São Paulo cortou os cabelos, pois fizeram uma promessa de cortar os cabelos (At 18,18). Nesse tempo era consagrado a Deus (nazireu). O povo de Deus não erra na sua fé e a expressa em gestos.

nº 2114 - Homilia do 29º Domingo Comum (17.10.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Com Cristo Jesus”
 Poder do serviço 
Jesus dá a resposta definitiva à sede de poder dos discípulos que discutiam qual seria o maior. Os dois irmãos Tiago e João usaram até a própria mãe para chegarem primeiro à posse dos cargos. Ensina: o Filho do Homem... Veio servir e dar sua vida pelo resgate de muitos (Mc 10,45). Por isso entendemos que o sentido da morte de Jesus é o grande serviço que presta à humanidade. Vai ao último do ser humano para mostrar o amor de Deus. É um serviço prestado a nós. O grande serviço de Deus é cuidar dos sofredores. Ele Se sente responsável por eles. Ele Se faz redentor (goel), isto é, o parente mais próximo (Pr 23,11). O pobre que não tem ninguém por ele. Por isso temos a frase: “Quem humilha um pobre, ofende seu Criador” (Pr 7,5). Rezamos no salmo: “O Senhor pousa o olhar sobre os que O temem, e que confiam esperando em seu amor, para da morte libertar suas vidas e alimentá-los em tempo de penúria” (Sl 32). Quem ama a Deus, ama aqueles que Deus ama... Deus escolhe cada um de nós para estar em seu lugar e servir aos necessitados. Será essa a pauta do julgamento final (Mt 25,31). Essa palavra incide diretamente sobre os problemas atuais do mundo dos quais os pobres são a maiores vítimas: fome, sede, doença, prisão, migração, vestuário. O que mais incomoda é que lemos a Palavra, professamos a fé, temos uma Igreja com muito poder e poderosos. E essa palavra permanece inócua. Ide malditos! Na formação de nossas comunidades essa dimensão fique esquecida, aliás, abafada.
Função do sofrimento 
“Meu servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si as suas dores” (Is 53,10-11). Jesus, em sua Paixão prestava um grande serviço à humanidade, tirando-a da condenação. Jesus se identifica com o servo sofredor. “Por esta vida de sofrimento alcançará a luz e uma ciência perfeita. ‘Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”’ (Is 53,11). A morte de Jesus com todo o sofrimento que Ele suportou, nos trouxe a vida. O significado da vida cristã está em aliviar o sofrimento de muitos e conduzi-los à vida plena. Essa será plena se a colocarmos a serviço. Não é esse o que vemos na Igreja. Por isso temos aí os escândalos de todo o tipo. Façamos um exame de nossa vida eclesial, nossa estrutura da Igreja, suas atitudes. Por isso ela perde sua capacidade de influir no mundo “pagão” e transformar sua situação. Perde a credibilidade. Pela história vemos que os santos foram sempre pessoas dedicadas aos necessitados. A Igreja, desde o início, como lemos em Atos dos Apóstolos, se preocupou com os fragilizados. Foi ela a primeira. E assim continuou. Sempre somos convocados para ter atitudes concretas. Somos preocupados com o que não salva. Se procuramos os necessitados, torna-se “política”...etc... Assim dizem os que não admitem esse evangelho. 
Capaz de nos ouvir 
Nossa oração está sempre clamando para que Deus nos ouça: “Ouvi, Senhor, a minha oração! Estejam atentos os vossos ouvidos ao clamor da minha prece”. Deus sempre nos ouve. Essa é a qualidade de quem está sempre pronto para atender às necessidades de todos. Uma das características do ser humilde e pobre de Jesus é estar atento porque passou pelos mesmos sofrimentos: “Temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15). Saber ouvir é compartilhar da vida, e ouvir com o coração. O amor faz o coração pobre.  
Leituras: Isaias 53,1-11; Salmo 32; 
Hebreus 4,14-16; Mc 10,35-45 
Ficha nº 2114 
 Homilia do 29º Domingo Comum (17.10.21) 
1. Deus escolhe cada um de nós para estar em seu lugar e servir aos necessitados. 
2. O significado da vida cristã está em aliviar o sofrimento de muitos e conduzi-los à vida. 
3. Saber ouvir é compartilhar da vida, e ouvir com o coração. 
Patrão virou empregado 
Quando um patrão ou dirigente fica muito ligado aos empregados perde a autoridade e é desobedecido. Colocar medo é um jeito fácil de governar. Mas Jesus não quis assim: quis se abaixar mesmo, ao último, sem medo de perder a autoridade. Tanto que os maus acabaram com Ele. Ele sabia que a força do amor jamais será vencida. Ele, esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição humana e se fez escravo e foi obediente até à morte e morte de Cruz. Por isso Deus o exaltou. A resposta à humildade é a ressurreição.