sexta-feira, 22 de novembro de 2019

nº 1912 - Homilia da Solenidade de Cristo Rei (24.11.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Tu és o Rei de todos” 
Ele nos libertou 
Não sei se devemos conservar a palavra Rei para Jesus, depois de ver tantos reis, durante séculos, distantes da dimensão real de Jesus. Melhor ficarmos com sua opção “aquele que serve”. É o servo como nos relata Isaias em seus cânticos (Is 49.49.50.52). Essa festa é colocada no final do Ano Litúrgico para significar que todo o mistério celebrado se dirige a Cristo, para quem todo Universo se dirige (Ef 1,10). No hino de Colossenses, Paulo dá graças porque o Pai nos tornou capazes de participar da luz que é a herança dos santos. Tudo o que o Pai faz, endereça ao Filho: “Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado, por quem temos a redenção e o perdão dos pecados. Davi é uma profecia que, sendo ungido rei para apascentar o povo, funda sua realeza num Rei que há de vir (2Sm 5,1-3). Deus lhe promete uma casa eterna (1Cr 17,12). Essa profecia se realiza em Jesus, ungido Rei pelo Pai, para dar a liberdade de todos os males, do poder das trevas. Vemos na oração da coleta da missa, o sentido que a Igreja quer dar à celebração de hoje: “Deus que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do Universo, fazei que todas as criaturas libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, Vos glorifiquem eternamente”. A restauração é para a libertação e implantação do Reino de Deus para a vida plena de todos. A unção de Davi foi para a união do povo sob um rei ungido. Cristo Rei, Servo de todos, liberta para uma vida plena em um único corpo. 
Quem é esse Filho? 
A partir da missão, a carta aos Colossenses descreve quem é esse Filho em cujo reino fomos recebidos e por quem temos a redenção e o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). É o primogênito de toda a criação. Nesse Filho nasce a novidade total: “As coisas antigas passaram, eis que tudo se fez novo” (2Cor 5,17). Tudo foi feito por meio Dele (Jo 1,3). Jesus vai além de nossos conceitos. “Ele existe antes de todas as coisas e todas têm Nele sua consistência” (Cl 1,17). Percebemos bem o risco de querermos Jesus como um santo a mais, um que quebra nossos galhos. Deixamos de lado sua consistência divina. Essa dá consistência a todos os seres. Sem Ele não existiríamos. “Ele é a cabeça do Corpo, isto é, a Igreja” (Id. 18). Novamente corremos o risco de não compreender o que seja Corpo de Cristo, do qual fazemos parte. É Nele que tudo se inicia e tem Nele sua finalidade. “Ele é o primogênito dentro os mortos” (Id 18) . É o primeiro ressuscitado e sua ressurreição é a ressurreição de todos. “Em tudo tem a primazia porque Deus fez habitar Nele a sua plenitude...” (Id 1.19). A plenitude de Deus está no Filho. Por isso diz: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). O Pai, em Cristo realiza a reconciliação de todos os seres. Seu sacrifício na cruz realiza a reconciliação de todos os seres (Id 19). 
O Céu se abre hoje. 
A salvação acontece imediatamente quando vem de um profundo sentimento de ter em Jesus a total libertação e redenção: O ladrão que reconhece sua situação volta-se para Jesus, o Rei dos judeus, o Servidor de todos, e tira do fundo sua total desesperança. Crucificado, também ao lado de Jesus, Nele vê a porta do Céu aberta: “Lembra-te de mim quando estiveres no teu reinado” (Jo 23,42). A resposta de Jesus ensina que a redenção se faz completa com toda a intensidade e rapidez: “Ainda hoje estará comigo no Paraíso” (Lc 23,42-43). Quão dura tenha sido sua morte, tão grande é sua certeza da vida. Redenção é vida que não se faz esperar. Jesus é imediato. Não retarda a redenção colocando razões e questões. 
Leituras: 2 Samuel 5,1-3; Salmo 121; 
Colossences 1,12-20;Lucas 23,35-43. 
Ficha nº 1912 - Homilia da Solenidade de Cristo Rei (24.11.19) 
1. “Deus restaura todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do Universo. 
2. A partir da missão, a carta aos Colossenses descreve quem é esse Filho. 
3. Redenção é vida que não se faz esperar. Jesus é imediato. 
Que rei sou eu? 
Celebrando Jesus Cristo Rei do Universo a gente acaba pensando que Ele seja parente do rei do baralho. Ali tem rainha e príncipe. E levam muita gente para o buraco. Passamos da fase de reis e entramos em outras. Mas Jesus se declara: Eu Sou rei. Para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade, escuta minha voz (Jo 18,37). Não entrou na questão do título, mas da verdade. Ele é a verdade. No alto da cruz clama ao Pai: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” (Mc 15,34). Estaria pensando: que rei sou eu? Chegar nesse estado? Ele confirma: “Pai, em vossas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46). Está garantido. Alí está sua unção real: lançar-se no Pai. Jesus ensina que reinar para Ele é servir. Se vai usar coroa de ouro ou de espinho, o importante é servir. Serviu com sua morte e serve com sua Vida.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

nº 1910 - Homilia do 32º Domingo Comum (17.11.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Permanecendo firmes vencereis” 
Coisas pavorosas 
Como é costume entre os católicos, a reflexão do final do ano litúrgico é acompanhada dos discursos sobre o fim dos tempos. Usa a linguagem difícil que se chama apocalíptica. Esse tema agrada muito a quem gosta de mistério. Perdemos o sentido da esperança que foi infundido em nossos corações pela fé em Jesus. Para nós não existe o fim, mas o início do tempo definitivo. Além do mais, todos os sinais de fim de mundo, que são relatados, têm acontecido em todos os tempos e não foi o fim. Percebemos que Jesus quer nos relatar a vinda permanente do fim. Mas essas narrativas não perdem seu sentido. Dentro das revelações sobre o fim, há o aviso de Jesus sobre a perseguição dos justos. Antes do fim, os cristãos serão perseguidos. Atualmente as perseguições são muito maiores. Morrem mais mártires que nos tempos romanos. O cristão tem uma palavra tão forte que os perseguidores não têm como rebater: a palavra do Espírito Santo que fala em nós. Podemos assim anunciar a vida que dura para sempre. E para chegar lá, o profeta Malaquias diz: “Para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo a salvação em suas asas” (Ml 3,20ª). Essa certeza torna sereno o temporal previsto para o fim. Podemos encontrar grupos e pessoas religiosas de nossos grupos que querem fazer espetáculo e ficam criando datas para o fim. Nem o Filho de Deus sabe. Por que? Para que saber? O Pai é quem sabe de seus tempos. Mas quer que seus filhos possam viver intensamente o fim, como uma vida nova que se aproxima. 
Falsos profetas 
“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome dizendo ‘Sou eu’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados’” (Lc 21,8-9). Jesus prevê e previne os seus contra os que conturbam as comunidades com pregações apavorantes. Os falsos profetas também são os pregadores ou orientadores que ensinam doutrinas pessoais ou ideologias políticas como se fossem verdades de fé. Assim atraem muitos. Pedro em sua carta alerta: “Haverá entre vós falsos mestres que trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que o resgatou... muitos seguirão suas doutrinas dissolutas e por causas deles o caminho da verdade cairá em descrédito. Por avareza, procurarão, com discursos fingidos, fazer de vós objeto de negócios” (2Pd 2,1-2). No correr da história, a Igreja foi vítima desses tipos que desviaram muitos, até nações inteiras. Vemos, ainda hoje, os mesmos exploradores do povo se enriquecendo à custa das falsas doutrinas. O povo é muito tapeado. 
A Redenção está próxima 
Paulo suspirava muito para estar com Cristo (2Cor 5,8), mas sabia igualmente de sua missão de continuar a evangelizar. Ele tem a expectativa de uma volta imediata de Cristo (1 Ts 4,17). Mas sabe organizar a vida da comunidade numa atividade para o próprio sustento. Ele próprio se sustentava e tinha até uma profissão: fabricante de tendas (At 18,3). Esperar a volta do Senhor é viver bem na comunidade, trabalhado. Nada de ociosidade. Para que trabalhar, se o Senhor vai voltar logo? Paulo responde: quem não quer trabalhar também não deve comer (1Ts 3,10). Usa a expressão: “Estão muito ocupados em não fazer nada”. E exorta: “Ordenamos e exortamos a estas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade seu próprio pão” (Id 11.12). O discurso apocalíptico de Jesus se assenta muito bem para uma comunidade que vive intensamente sua vida na serenidade do trabalho. 
Leituras: Malaquias 3,19-20ª; Salmo 97; 
2 Tessalonicenses 3,7-12; Lucas 21,5019. 
Ficha nº 1910 - Homilia do 32º Domingo Comum (17.11.19) 
1.Jesus quer nos relatar a vinda permanente do fim e não descrever como vai ser. 
2.A Igreja foi vítima de falsos profetas que desviaram muitos, até nações inteiras. 
3.Esperar a volta do Senhor é viver bem na comunidade, trabalhando. 
O mundo vai acabar 
Jesus fez um discurso que assustou muita gente. Assustar vai ser quando as coisas começarem a acontecer. Até que não vai assustar muito, pois a situação do mundo sempre foi muito calamitosa. Há gente que gosta desse tipo de sermão. Quantas vezes ouvimos desses que o mundo vai acabar logo. E já faz tempo que estão prometendo. Mas nada acontece. No início da Igreja se esperava o fim do mundo para logo. Mas o logo não chegou. Então esse assunto parece que morreu. Falar do fim não é jogar pedra no futuro, mas ver no presente como construímos nossa vida, como um sempre presente no Senhor. Não vivemos um mundo que se acaba, mas um mundo que se constrói. Paulo nos ensina a comer nosso pão com tranquilidade.

nº 1908 - Homilia do 32º Domingo Comum (10.11.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Deus dos vivos” 
Fé que vale uma vida 
Próximos já do final do ano litúrgico, a Palavra de Deus nos leva a contemplar nosso futuro, não só nosso fim. É como esperar que se acendam as luzes do espetáculo definitivo. Não se trata de um fim que nos anule e provoque em nós uma desilusão e um viver sem esperança. “Nós esperamos novos céus e nova terra” (2 Pd 3,13). A partir desse estímulo podemos entender o ensinamento da Palavra que nos é dirigida. A leitura do segundo livro dos Macabeus e do evangelho de Lucas nos traz dois casos que parecem absurdos. Os dois livros de Macabeus relatam também a necessidade de resistir às novidades que o paganismo quer introduzir na vida do povo. Vemos o exemplo de resistência dos sete irmãos e sua mãe diante da imposição de comer carne de porco. Isso simbolizava que abandonavam a lei de Deus e aceitavam os costumes pagãos. É uma narrativa tremenda, mas admirável pela fortaleza diante do sofrimento para ser fiel a Deus. No evangelho temos uma discussão de Jesus com os saduceus que não acreditavam na ressurreição. Esses apresentam um caso de sete irmãos que, sucessivamente morrem após terem se casado com a mesma viúva, que também morre. Eles cumpriram a lei do levirato na qual, na morte de um irmão, outro deve se casar com ela para suscitar descendência ao falecido. Perguntam: Na vida futura de quem será esposa? Jesus responde: a vida futura não se rege pelos moldes dos mortais. Lá a condição é outra, como os Anjos. Não nega a vida presente. Afirma que lá se vive a vida de ressuscitados. Vivemos para Deus. 
Eterna e feliz esperança
“Ao despertar, me saciará vossa presença e verei a vossa face” (Sl 16). Na caminhada rumo à ressurreição passamos pelo caminho de nossas decisões e opções. Por isso rezamos no salmo: “Inclinai vosso ouvido à minha prece, pois não existe falsidade nos meus lábios! Os meus passos eu firmei na vossa estrada e por isso os meus pés não vacilaram. Eu vos chamo porque me ouvis, inclinai o vosso ouvido e escutai-me” (Sl 16). O conhecimento de Deus e de seu carinho por sua frágil criatura nos garantem um futuro. Paulo diz aos tessalonicenses: “Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo” (2Ts 2,5). A vida cristã não é a execução de preceitos, mas a confiança numa esperança que fundamenta nossas aspirações e nossa fé numa vida que continua. Aqui temos que tirar de nossa mente que nós viveremos nossa vida de novo, voltando para outro tempo em outras condições. Nossa fé não admite esse retorno. Passada nossa vida terrena, entramos na posse de uma vida que dura para sempre. A fé na ressurreição é fundamental. Temos certeza que teremos nosso encontro definitivo com Cristo. Para isso Ele morreu e ressuscitou. Nós viveremos unidos a Ele pela fé. 
Um mundo ressuscitado 
A ressurreição não é somente um fato espiritual, no fim da vida quando tudo estiver acabado. Ela penetra toda existência cristã e todo o universo. Paulo ensina que tudo será recapitulado em Cristo, isto é, todo o universo caminha para se unir a Cristo. Nele tudo tem sentido, Nele tudo se renova. Colocar o Evangelho no mundo é o mesmo que renová-lo à luz de Cristo. É através da vivência cristã, não como ideologia, mas como vida em Cristo. Todas as coisas deverão ser colocadas a serviço do homem e de Deus. Assim se renovam. Por isso não podemos fazer uma religião como uma prática individual e somente espiritualizada, mas que renove todas as coisas e pessoas. 
Leituras: 2º Livro dos Macabeus 7,1-2.9-14;Salmo 16; 
2Tessalonicenses 2,16-3,5; Lucas 20,27-38 
Ficha nº 1908 - Homilia do 32º Domingo Comum (10.11.19) 
1.A Palavra de Deus nos leva a contemplar nosso futuro, não só nosso fim. 
2.Na caminhada rumo à ressurreição passamos pelo caminho de nossas decisões e opções. 
3.Colocar o Evangelho no mundo é o mesmo que renová-lo à luz de Cristo.
Costelinha de Leitão 
Os sete irmãos e sua mãe foram trucidados por que recusavam comer carne de porco. Não se trata de não gostar. Aliás, os judeus e muçulmanos não comem carne de porco. Aqui era uma questão de fé. Comer a costelinha de leitão significava aceitar o culto pagão e deixar toda a lei de Deus. Então eles não fingem, não temem, pois amam a lei de Deus. Foram corajosos. A fé verdadeira nos leva a não necessitar dessas atitudes dolorosas, mas a deixar os pequenos leitões que vamos criando dentro de nós e por eles negamos todo o amor de Deus por nós, seu evangelho, a missão de Jesus, sua Igreja e tudo mais. Pequenas coisas, mas venenosas. Essas são mais difíceis de deixar que as grandes. Cuidemos de nosso chiqueirinho.