quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

nº 1835 Artigo - “Santidade e comunidade”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
2164. Construindo em comunidade 
Seguindo os ensinamentos do Papa Francisco em sua exortação apostólica Gaudete et Exultate (GE), refletimos hoje sobre santidade e comunidade. É claro em seu ensinamento, que a vida espiritual é uma opção pessoal que deve ser vivida na comunidade. O fundamento dessa verdade está nas palavras de Paulo: “Vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua parte” (1Cor 12,27). Juntos somos fortes na batalha contra o mal que está em nós e no mundo: “É muito difícil lutar contra a própria concupiscência e contra as ciladas e tentações do demônio e do mundo egoísta, se estivermos isolados... Se estivermos sozinhos, facilmente perdemos o sentido da realidade, a clareza interior, e sucumbimos” (GE 140). A seguir o Papa Francisco dá diversos exemplos de santos que viveram em comunidade e deram a vida em comunidade. E afirma que a santificação é um caminho comunitário. Mesmo se o grupo for difícil, já é caminho, pois exige muito e desenvolve muitas virtudes. Sozinhos podemos nos tornar egoístas. Vejamos que tipo de espiritualidade nos foi passada no correr da história. Os outros eram empecilhos. Havia uma frase que dizia: “Quanto mais fui para o meio dos homens, menos homem me tornei”. Por que não dizer: “Quanto mais fui para o meio das pessoas, mais perto de Deus elas chegaram”. Somos realmente fracos e tudo nos atinge? Nosso bem faz bem aos outros. Temos uma contribuição a dar a partir dos dons que recebemos do Espírito Santo. 
2165. Comunidade e Eucaristia 
O Papa Francisco retoma ensinamentos de São João Paulo II sobre a relação da comunidade cristã e a Eucaristia: “A comunidade é chamada a criar aquele “espaço teologal no qual se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado”. Quem nos faz corpo de Cristo é a Eucaristia. Não é possível crescer na vida cristã sem a Eucaristia. “Partilhar a Palavra e celebrar juntos nos torna mais irmãos e nos transforma pouco a pouco em comunidade santa e missionária (GE 142). A espiritualidade está em acolher o Espírito que Deus nos dá e corresponder aos dons que recebemos. Eles são dons, mas também uma obrigação. É na Eucaristia que podemos crescer Naquele que é a razão de nossa fé. Jesus viveu sua missão de Redentor em comunidade. Tinha seus momentos de oração com o Pai, mas estava sempre com os discípulos, participando de sua vida e sua simplicidade, nos pequenos gestos da vida. Assim O vemos em Nazaré com a família e depois em sua missão. Não vivia de gestos bombásticos, mas do dia a dia, nos detalhes da vida. Ser humano é um requisito para santidade. Os santos que vemos viveram como vivemos. O que faz a diferença é que uniam sua vida à busca de Deus e do amor fraterno. 
2166. Detalhes do amor 
A comunidade na qual vivemos nossa opção cristã, seja nossa família, paróquia e outros, é o lugar onde podemos realizar o projeto de santificação. A tendência é fugir do povo. Mas o povo é a terra fértil da santificação. Santidade não é ideologia espiritual. O que fazemos de espiritualidade, quando não serve para o povo de Deus, também pode não ser útil para nós. Santidade não é fachada. Diz o Papa Francisco: “A comunidade, que guarda os pequenos detalhes do amor e na qual os membros cuidam uns dos outros e formam um espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença do Ressuscitado que a vai santificando segundo o projeto do Pai” (GE 145). Nosso caminho de santificação não pode deixar de nos identificar com aquele desejo de Jesus: ‘Que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti”’ (Jo 17,21).

sábado, 16 de fevereiro de 2019

nº 1834 - Homilia do 7º Domingo Comum (24.02.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“As muitas faces do amor” 
Como podemos amar? 
Continuando a pregação de Jesus entramos em uma questão que é o forte de sua pregação. Demonstra essa atitude no momento de sua morte quando diz: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Nessa parte de seu discurso aos discípulos ensina sobre o amor aos inimigos. Inimigo não é só aquele que me mata, mas aquele que me faz sofrer. Jesus apresenta aqui a cultura do amor que bloqueia todo ódio, toda vingança, toda a maldade. Não se trata de ser bobo, mas mais inteligente que parecemos ser. Podemos sintetizar nas palavras: ir além do que se espera. Se esperam uma resposta correspondente ao mal que recebemos, damos a resposta do amor: Amar os inimigos e fazer bem a quem nos odeia... bendizer a quem nos amaldiçoa... oferecer a face esquerda a quem bate na direita... dar o manto a quem toma a túnica... não cobrar o que te levam. Que vamos fazer de especial se fizermos o que os maus fazem? “O que desejais que os outros vos façam fazei-o também vós a eles” (Lc 6,31). Como o mandamento do amor se refere ao relacionamento com os outros, Jesus mostra como viver esse relacionamento com aqueles que não pensam como nós, nem são como nós. Esse negócio de viver somente no próprio grupo de gente igual a nós, nosso clubinho, não é caminho do evangelho, nem é evangelizador. É o exemplo que recebemos de Davi que teve em suas mãos seu maior inimigo, o rei Saul, e não se vingou dele. Daí podemos ver como somos desejando a morte dos perigosos e inimigos. Concordar com a morte de alguém é ser seu assassino. 
O Pai é o modelo 
O salmo nos leva a rezar a bondade de Deus que Jesus nos apresenta como modo normal de vida cristã, pois é o normal na vida de Deus para conosco. Ele perdoa toda culpa e cura toda enfermidade... O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo, tira da sepultura a tua vida e te cerca de carinho e compaixão... Como um pai se compadece de seus filhos o Senhor tem compaixão dos que o temem (Sl 102). Jesus nos estimula a ter os sentimentos de Deus. Somos estimulados a ter os mesmos sentimentos de Deus: amor, perdão e misericórdia. Não dependo dos outros para assumir o que é de Deus. Não nos medimos pelo mal alheio. Ao cuidar de nós, o Pai vai além de tudo que possamos imaginar. Deus sempre chega primeiro. Por isso, a atitude cristã em relação aos outros, sobretudo aos que nos criam dificuldades deve ser a mesma do Pai. Chegamos primeiro e o que fazemos supera toda expectativa. O mal é inferior ao bem que possamos fazer. O mal passa, o bem frutifica porque está plantado no jardim do coração do Pai. Produz os mesmos frutos. Como o Pai sabe do que precisamos, já bem antes de o dizermos (Mt 6,8), assim podemos dar passos em direção aos outros no amor e não apenas receber.
Imagem do homem celeste 
São Paulo nos explica em Coríntios (1Cor 15,45-49) sobre o homem natural e o homem espiritual. O homem terrestre foi tirado da terra, o homem espiritual vem do Céu. Não se trata de personalidades diferentes, mas daquilo que está em nós por sermos humanos e por sermos feitos à imagem e semelhança de Deus. Em tudo o homem é devedor da terra, mas o é também devedor do Céu. O primeiro homem foi um ser vivo. O segundo Adão é um espírito vivificante. Com Cristo surge entre nós o homem celeste, voltado para as coisas de Deus. Não deixa de viver na terra, mas vive do modo de Deus. Por isso existe essa maravilha do amor de Deus presente em nós produzindo frutos. 
Leituras:1Samuel 26,2.7-9.12-13.22-23; Salmo 102; 1Coríntios 15,45-49; Lucas 6,27-38 
Ficha nº 1834 - Homilia do 7º Domingo Comum (24.02.19) 
1. Em resposta ao ódio se apresenta algo maior, o amor. 
2. Jesus estimula a ter os sentimentos de Deus 
3. O homem terrestre viva a modo de Deus. 
Tapinha nas costas 
Em um exército de inimigos, não resolvem muitas armas. Uma só vale: um tapinha nas costas. Mata mais que muito furor. É o ensinamento de Jesus. Não sabemos como funciona. Mas funciona, pois sua ressurreição foi capaz de dar um rumo novo para o mundo. Jesus nos deu um tapinha nas costas para dizer: vai tudo muito bem. A doutrina do perdão aos inimigos é uma contracorrente que tem força superior, pois a maldade passa, o amor permanece. Quem não se deixa vencer pelo mal, mas vende pelo bem, é capaz de sobreviver em qualquer circunstância.

nº 1833 Artigo - “Ousadia e ardor”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 2161. 
Não tenhais medo 
“Gaudete et exultate”! Assim o Papa Francisco, em sua exortação apostólica, orienta-nos no caminho da santidade. Vamos refletir o que diz sobre a força do apostolado. É preciso ter ousadia. Diz: “A santidade é ousadia, é impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo. Para isso ser possível, o próprio Jesus vem ao nosso encontro, repetindo-nos com serenidade e firmeza: “Não temais!” (Mc 6,50) (GE 129). “Assim temos a liberdade de uma existência aberta, porque está disponível para Deus e para os irmãos (Id). Há muita insistência na bíblia nesta palavra: “Não tenhais medo”. O medo pode ser humano. O temor divino é respeito e ousadia. Tem a garantia de Deus. São Paulo VI, homem que foi frágil, mas muito forte em oferecer à Igreja a renovação, ele é o exemplo. Papa Francisco o cita: “São Paulo VI mencionava, entre os obstáculos da evangelização, precisamente a carência de parresia, isto é, «a falta de ardor, tanto mais grave porque provém de dentro” (EG 130). Quem descobriu sua verdadeira condição de cristão, sabe que pode e deve anunciar de todos os modos possíveis o Evangelho. O medo, a acomodação e a falta de coragem em arriscar nos bloqueiam. O amor de Cristo nos pressiona (2Cor 5,14). Temos a força do Espírito. Ela não poderá ter resultado se não estivermos de olhos fixos em Jesus. Seu modo compassivo O levava ao arrojo da evangelização. Diz o Papa: “Era a compaixão que O impelia fortemente a sair de Si mesmo a fim de anunciar, enviar em missão, curar e libertar. Mantém vivo o ardor, quando tocados pela misericórdia” (EG 1023). 
2162. No fogo do Espírito 
A missão não é nossa, é do Senhor Jesus que passou pela fragilidade, mas soube estar sempre sob a ação do Espírito Santo. Vejamos que belo texto: “Reconheçamos a nossa fragilidade, mas deixemos que Jesus a tome em suas mãos e nos impulsione para a missão. Somos frágeis, mas portadores de um tesouro que nos faz grandes e pode tornar melhores e mais felizes aqueles que o recebem. A ousadia e a coragem apostólica são constitutivas da missão” (GE 131). O ardor e a ousadia é a garantia da presença do Espírito. É uma certeza da missão. É o que realmente “converte”. É a confiança inquebrantável na fidelidade da Testemunha fiel, que nos dá a certeza de que nada «poderá separar-nos do amor de Deus» (Rm 8,39). “Precisamos do impulso do Espírito para não sermos paralisados pelo medo e o calculismo, para não nos habituarmos a caminhar só dentro de confins seguros” (GE 133). O Papa lembra que Deus nos leva para as periferias do mundo, lá onde “se encontra a humanidade mais ferida. A evangelização, se não for para quem precisa e quer, não leva a nada. “Jesus se antecipa. Ele está já no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sombria. Ele já está lá (EG 134). 
2163. Estacionados 
Vemos muito em nossos meios eclesiásticos a questão: “Para que mudar se funcionou até agora?” Ou podemos pensar que não podemos enfrentar tal situação que está acima de nossas condições. Então dizemos que é responsabilidade de outras pessoas como o bispo, o padre ou os leigos. “Deixemos então que o Senhor venha despertar-nos, dar-nos um tranco em nossa sonolência e libertar-nos da inércia. Desafiemos essa moleza, abramos bem os olhos, os ouvidos e, sobretudo o coração, para nos deixarmos mover pelo que acontece ao nosso redor e pelo clamor da Palavra viva e eficaz do Ressuscitado, diz o Papa Francisco (GE 137). Assim a Igreja, em vez de cair cansada, poderá continuar em frente acolhendo as surpresas do Senhor.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

nº 1832 - Homilia do 6º Domingo Comum (17.02.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Bem aventurados vós” 
Descer da montanha 
Conforme o evangelista Lucas, Jesus passou a noite em oração na montanha, escolheu os doze apóstolos e desceu para a planície. Ali encontrou os discípulos e a multidão que vieram de toda a região para ouvi-Lo e serem curadas. A multidão procurava tocá-lo, pois Dele saía uma força que a todos curava (Lc 6,12-19). Começou então a dizer: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus”... Bem-aventurados os que tendes fome, ... que agora chorais... que sereis odiados... Alegrai-vos e exultai, porque no Céu será grande a vossa recompensa (Id 20-23). Depois me diz qual o mal que acontece aos que não são assim. Parece que Jesus está fazendo a apresentação da realidade que o apóstolo vai encontrar em sua missão. A intimidade com Deus na montanha, o silêncio, a solidão e a paz são maravilhosos. Mas o apóstolo desce para a planície onde está o campo de Deus. Ali se vive a realidade e o Reino de Deus cresce. Jesus está sempre indo em direção ao povo sofrido. Ele o faz agora através de seus discípulos. Lucas não segue o mesmo esquema de oito bem-aventuranças de Mateus. E acrescenta como péssimo o resultado de quem vive diferentemente. Lucas apresenta situações fundamentais do ser humano: pobreza, fome, sofrimento e perseguição. A abundância de riqueza, a fartura, a vida folgada e o elogio do mundo não têm consistência. Não que sejam coisas ruins, mas... é bom pensar que quando há muita riqueza de um lado e pobreza do outro, pode ocorrer a exploração dos humildes e o egoísmo na percepção da realidade. 
Confia no Senhor! 
O salmo primeiro descreve a situação de quem confia no Senhor. Não está desfazendo da confiança nas pessoas. É um modo hebraico de se expressar para salientar o oposto. Não nega que devemos ter confiança nas pessoas, pois há muita gente boa e de muita confiança. O profeta Jeremias diz: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor” (Jr 17,5). Quer chamar a atenção para a importância de colocarmos nossa confiança em Deus. Quem assim faz dará fruto abundante e sempre terá vigor. É como a árvore plantada à beira d’água. A descrição do salmo qualifica feliz o que “não anda conforme os conselhos dos perversos e que não entra no caminho dos malvados... mas encontra seu prazer na lei de Deus e a medita noite e dia, sem cessar” (Sl 1). A condenação não se faz por um ato de Deus, mas por uma opção pessoal que busca o mal. A confiança em Deus também nossas responsabilidades pessoais não podem ser jogada nas “costas” de Deus. Por mais que tenhamos que nos entregar totalmente, continuamos na responsabilidade de escolher e enfrentar nossos caminhos. Deus acredita que podemos fazer sem precisar de escoras. 
Se Cristo não ressuscitou... 
O Pai enviou seu Filho ao mundo para abrir o caminho da salvação. Por sua Ressurreição garantiu nossa ressurreição. Paulo nos diz que, “se é para essa vida que pusemos nossa esperança em Cristo... somos dignos de compaixão’ (1Cor 15,19). É a ressurreição de Cristo que nos dá a Vida Nova na qual plantamos nossa vida, tiramos força, crescimento e produzimos fruto. Ela é o rio de água viva que vindo de Deus nos leva para Deus. A oração final da missa nos convida a “desejar sempre o alimento que nos traz a verdadeira vida”. Nosso relacionamento vital com Jesus se dá na pela Eucaristia que nos dá todos os frutos da salvação.
Leituras: Jeremias 17,5-8; Salmo 1; 1 Coríntios 15,12.16-20; Lucas 6,17.20-26 
Ficha nº 1832 - Homilia do 6º Domingo Comum (17.02.19) 
1. Jesus confia aos apóstolos sua missão que enfrenta as situações duras da vida. 
2. Dizendo que não se pode confiar no homem, salienta nossa confiança total em Deus. 
3. Deus nos abre o caminho da vida com a ressurreição de Jesus. 
Plantando árvores 
Deus plantou o jardim do Éden para que o homem cuidasse. Mas deixou também a responsabilidade de criarmos um jardim para podermos, como plantas novas, crescer. Deus pôs quatro grandes rios no paraíso terrestre. Quer igualmente que busquemos as águas do Rio da Vida para crescermos e darmos frutos em abundância. Assim o Reino de Deus se estabelece em nosso paraíso. Viver significa não andar fora de Jesus o caminho da vida. Por isso temos as palavras pesadas: maldito o homem que confia no homem e não põe sua confiança em Deus.

nº 1831 Artigo - “Alegria e o sentido de humor”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
2158. Um estado de Espírito 
Nosso Pontífice, em seu ministério de apascentar as ovelhas de Jesus, deu-nos uma bela orientação sobre a santidade em uma “Exortação apostólica” com o nome de “Gaudete et Exultate” (GE). Continuando nossa reflexão sobre esse documento encontramos o tema da alegria. Já existe o provérbio eclesiástico: “Um santo triste é um triste santo”. O Papa Francisco é uma expressão viva da alegria de servir o Senhor. É um homem do riso espontâneo. Ele diz que o tema anterior sobre a humilhação e humildade implicou certa tristeza. Mas “o santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é “alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17), (GE 122). Os profetas anunciavam o tempo de Jesus, que estamos vivendo, como uma revelação da alegria: “exultai de alegria” (Is 12,6). “Sobe a um alto monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém” (Is 40,9). Todas as ações de libertação que Deus fez com o seu povo sempre resultaram em exultante alegria. O povo reconhece que Deus se compadece e se manifesta de muitos modos. Lembramos o que diz o profeta Zacarias sobre a entrada do futuro Messias: “Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu Rei vem a ti” (Zac 9,9). Mais ainda:E diz Neemias: “não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é que é a vossa força” (8,10) (GE 123). A alegria é acompanhada de humor. O mau humor não é sinal de santidade. (GE126). 
2159. Meu espírito se alegra 
Maria sempre é aquela que levou à perfeição o evangelho de Jesus e se tornou o modelo de seguimento. Entre Jesus e Maria havia não somente uma união de sentimentos, mas uma identidade de temperamento. Nele dominava a tranqüilidade e a alegria. Diz o Papa Francisco: “Maria, que soube descobrir a novidade trazida por Jesus, cantava: ‘o meu espírito se alegra”’ (Lc 1,47) e o próprio Jesus “estremeceu de alegria sob a ação do Espírito Santo” (Lc 10,21) (GE 124). Maria, em seu cântico, transpira a alegria que a ação de Deus provou nela, pois a ação de Deus é de plena alegria. Não é uma alegria de um prazer puramente humano, mas plenamente Divino. Os prazeres espirituais, como ocorreu com Maria, são de outra categoria, mas não deixam de dar à alegria humana a capacidade de ser duradoura e consistente. Uma das experiências fabulosas de Deus é sentir a alegria de ser amado. O amor de Deus que gerou Jesus em Maria, gera em nós a vida de Jesus. Essa alegria está presente no sofrimento e na dor humana, tornando-a resistente e serena. Jesus afirmou: “Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11). Existem tempos de cruz, mas nada pode destruir a alegria sobrenatural, que “se adapta e transforma, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de sermos infinitamente amados” (GE 125) 
2160. Feliz em toda situação 
Assim nos convida o seu amor paterno: “Meu filho, se tens com quê viver, trata-te bem (...). Não te prives da felicidade presente” (Sir 14,11.14). Quer-nos positivos, agradecidos e não demasiado complicados: “No dia da felicidade, sê alegre (Ecl 7,14.29). Em cada situação, devemos manter um espírito flexível, fazendo como São Paulo: aprendi a adaptar-me ‘às situações em que me encontre’” (Fl 4,11) (GE 127). No amor fraterno podemos crescer nessa alegria em estar com o outro, em ser para o outro, em fazer bem a quem precisa, em viver em comunhão com as pessoas e com a natureza. A alegria espiritual nasce e se torna fonte.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

nº 1830 - Homilia do 5º Domingo Comum (10.02.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Lançando as redes” 
Avança para as águas mais profundas
                       Depois de sua manifestação na sinagoga de Nazaré como enviado de Deus, Jesus começa a chamar os discípulos para participarem de sua missão. O Hoje de Deus será realizado também por homens que Jesus escolheu pessoalmente. O chamamento se dá no local simbólico da pescaria no mar profundo. Não mais em uma sinagoga cheia de tradições e embaraços, mas no mar profundo. Como o profeta Isaias que tem uma experiência magnífica no templo (Is 6,1-8), os discípulos experimentam a força de seu Senhor, cuja palavra conduz a uma pesca abundante. Esse paralelo é importante, pois é o mesmo Senhor que dá vigor ao anúncio dos discípulos. Isaias se dispõe e os discípulos deixam tudo e seguem Jesus. É na força de sua palavra que vão novamente à pesca. É na força da palavra de Jesus que vão anunciar. É preciso arriscar tudo para ter tudo. Vemos que foi depois que falou ao povo da barca que os discípulos Lhe prepararam, que Jesus escolhe e chama os apóstolos. A barca é símbolo da Igreja que anuncia através da palavra simbolizada nas redes. O mar profundo é o mundo que recebe a pregação. Os peixes são os que acolhem a pregação. A força da palavra é tão forte que eles vêm em grande quantidade. Os pescadores são os anunciadores da palavra. A ajuda dos outros barcos é o símbolo da comunidade que trabalha unida, todos no mesmo sentido. A palavra de Jesus é a força de Deus que sustenta a pregação. Sem uma experiência significativa de Deus não poderemos frutificar em nosso ministério. Pregar o vazio nos leva ao vazio.
Trabalhamos a noite toda
          Há um paralelo entre a visão de Isaias e a pescaria dos discípulos: A grandiosidade de Deus assusta a ponto de Isaias clamar: “Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos exércitos” (Is 6,5). Para o judeu, ver Deus significava morrer. Pedro tem o mesmo sentimento diante da pesca maravilhosa: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um homem pecador” (Lc 5,9). Há uma ponta de desânimo nos discípulos que voltam de uma noite sem resultados. O reconhecimento de sua própria fraqueza por ser pecador é condição para a abertura ao novo que é o ministério com Jesus. O anúncio da Palavra se torna para eles a nova maneira de pescar: “Diz Jesus: ‘Não tenhas medo! De hoje em diante serás pescador de homens’” (Id 10). Vivemos um processo doloroso de evangelização, pois estamos sem forças e num mar muito revolto e profundo. Parece que perdemos a força evangelizadora. E isto se deve ao vazio de nossa experiência com Deus e nossa busca seja muito rasa. O que falta? Ouvir a palavra de Jesus? Ficamos confiando só nos lambaris que caem na rede? Não está nos faltando aquela experiência de Jesus como pecadores? Ou precisamos de algo mais profundo e forte? Falta Jesus e a experiência da força de sua palavra.
O que recebi, transmiti a vós
           A fé que temos foi-nos transmitida pelo anúncio evangélico. Paulo nos dá esse testemunho. A Sagrada Tradição vem junto com a Sagrada Escritura. A Tradição nos passou o conhecimento da Ressurreição de Jesus. Assim acolhemos o Vivo e deixamos de lado o que é morto, o que não aceita a Vida. Essa é a experiência fundamental que temos para construir nossa vida de fé. As aparições de Jesus aos discípulos continuam para nós que o acolhemos em sua Palavra. Ela é tão sublime quanto a visão de Isaias. A grandeza está no acolhimento que estimula a dizer como o profeta: “Aqui estou, envia-me”  (Is 6,8).
              Leituras: Isaias 6,1-2ª.3-8; Salmo 137; I Coríntios 15,3-8.11; Lucas 5,1-11.
Fixa nº 1830 - Homilia do 5º Domingo Comum (10.02.19)

           1. A missão é continuação da obra de Jesus. Acontece na força da palavra de Jesus.
           2. O paralelo entre Isaias e os discípulos nessa pesca explicita para nós a missão.
           3. É fundamental a experiência de Deus em Jesus para a pesca da Missão.

Hoje tem lambari 
           Diante da experiência dos apóstolos na pesca maravilhosa, fruto das palavras de Jesus, nós devemos examinar nossos processos de evangelização. Há momentos em que falta tudo. A evangelização a partir da experiência de Jesus é garantida. Sem essa, quando muito pegamos uns lambarizinhos.
           O profeta teve a ousadia de se reconhecer pecador e ao mesmo tempo de se oferecer para a missão depois que o Serafim tocou seus lábios com uma brasa do altar. Os apóstolos foram tocados pela palavra de Jesus. A missão foi forte e frutuosa. O vigor dos apóstolos depois de Pentecostes nos mostra quanto é possível fazer quando se crê de fato na ressurreição de Jesus.

nº 1829 Artigo - “Santidade hoje”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2155. Barrar a onda de violência
            A violência cresce e assume sempre novas formas e meios de ser provocada. Esse é o campo onde o Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, anota como sendo ocasião de crescer na santidade. Num mundo violento, quem vence é o pacificador. A pior violência é aquela que temos dentro de nós. Esta gera violência. O caminho de santidade é vencer a violência. Diz ele: “A firmeza interior, que é obra da graça, impede de nos deixarmos arrastar pela violência que invade a vida humana e social, porque a graça aplaca a vaidade e torna possível a mansidão do coração” (GE 116). No momento, salienta o Papa Francisco, pode acontecer que cristãos participem das redes sociais e entrem no jogo da violência verbal através da internet fazendo julgamento das pessoas. Dão-se o direito de julgar e destruir. Está uma onda forte de “juízes da piedade dos outros, de atitudes que querem mostrar que somos os certos e os outros os errados. É a fofoca levada ao seu máximo usando os meios mais sofisticados. Destroem pessoas e princípios sadios. É uma forma sutil de violência (GE 117). Jesus condenava isso com clareza em Mateus (18,15-18) quando explica como corrigir um irmão. Primeiro só entre os dois, depois, se não ouve, chame duas testemunhas, depois leva à comunidade e por fim, expulse-o da comunidade. Agora fazemos o contrário: primeiro colocamos no trombone. Daí a pessoa que se arrume. São João da Cruz propunha outra coisa: “mostra-te sempre mais propenso a ser ensinado por todos do que a querer ensinar quem é inferior a todos(GE 117). Assim se estanca a violência.
2156. Em nossas humilhações
            A palavra humildade não faz parte do vocabulário usual e é uma virtude pouco estimada num mundo onde tudo é concorrência. Ela, a humildade toca fundo o ser humano. Temos que entender a humildade a partir das humilhações de Cristo. Como lemos na carta aos Filipenses (2,6-11). A encarnação de Jesus foi o ato extremo de humildade. Ele abaixou-se até o ínfimo que foi “a morte e, morte de Cruz” (Id 8). Somente aí que foi glorificado. A humildade não é destruir-se, mas ser capaz em estar para o outro. Estamos na questão da humilhação. Essa, nós vemos no povo sofrido. Quanta humilhação pela discriminação por causa da pobreza de outros. Jesus assumiu essa pobreza. A santidade não está em se destruir, mas perceber a ação de Deus que está do nosso lado, do lado do humilhado. Diz o Papa Francisco: “A humildade só se pode enraizar no coração através das humilhações. Sem elas, não há humildade nem santidade...” A santidade que Deus dá à sua Igreja, vem através da humilhação do Filho: esse é o caminho. A humilhação faz-nos semelhantes a Jesus: “Cristo padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos” (1Ped 2,21) –(GE 118). Por isso, os Apóstolos, depois da humilhação, estavam “cheios de alegria, por terem sido considerados dignos de sofrer vexames por causa do Nome de Jesus” (At 5,41).
2157. Coração pacificado.
            “Às vezes, uma pessoa, precisamente porque está liberta do egocentrismo, pode ter a coragem de discutir amavelmente, reclamar justiça ou defender os fracos diante dos poderosos, mesmo que isso traga consequências negativas para a sua imagem”. E continua o Papa: “Essa atitude pressupõe um coração pacificado por Cristo, liberto daquela agressividade que brota dum «ego» demasiado grande” (GE 121). Quando atingimos a simplicidade da humildade e a serenidade na humilhação, estamos nos identificando a Cristo e podemos nos tornar defensores do povo sofrido e também viver bem nossas dificuldades e situações difíceis. “Por isso Deus O exaltou grandemente” (Fl l 2,9).