quinta-feira, 28 de outubro de 2021

nº 2119 Artigo - “A Vida Ressurge”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Eles vivem 
Por mais que não se creia na vida eterna, os mortos são uma presença permanente. Estão em nossa memória, como se estivessem aqui. Todos os povos tiveram seus ritos funerários como expressão dessa continuidade. A origem da celebração de Finados traduz,cristamente, essa mentalidade. Não se trata de culto aos mortos, mas culto com os mortos que vivem em Deus. Todo culto se refere a Deus que leva consigo tudo o que é criado por Ele. A celebração tem algo muito próprio: No mistério de Cristo, morto e ressuscitado, unimos os que deixaram essa vida e estão vivendo a glória que lhes é reservada. Glória é a manifestação de Deus. Quando falamos com Deus levamos tudo o que se nos refere. Rezar pelos mortos é falar com todos os que estão em Deus. É bom lembrar que, no que se refere à vida eterna, podemos dizer muito pouco. É outra dimensão. Penetramos nos Céus em Deus. Cuidado em querer organizar o “outro lado”. Temos muito que fazer aqui. Nosso Céu, agora, é o amor que dedicamos aos irmãos. Assim o salmo nos inspira: “Ao Senhor eu peço somente uma coisa, e só isso que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida; saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo em seu templo” (Sl 26). A primeira leitura nos descortina a grande mudança que o futuro nos prepara: “O Senhor dará neste monte, para todos os povos um banquete de ricas iguarias... Eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces” (Is 25,6ª.7). Esse momento é de esperança. 
Jesus acolhe 
A liturgia desse dia é pouco “funeral”. Ela que vem nos ensinar o que significa o grande amor de Deus por nós, manifestado em Cristo: “A vontade do Pai que Me enviou é que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas os ressuscite no último dia” (Jo 6,39). E mais ainda: essa vontade de estar conosco, que motivou a Encarnação, se traduz em nos dar aquilo que seremos. João ensina: Deus nos manifestou seu amor chamando-nos de filhos, e de fato o somos. Quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é (1Jo 3,1-2). Notamos quanto Jesus nos comunica de sua vida. Ele nos atrai e nos acolhe. Celebrar os mortos é reformular a vida em sua dimensão maior que é asua continuidade em Deus. João insiste: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos Filhos de Deus! E nós o somos. Se o mundo não nos conhece é porque não conheceu o Pai” (Id 1). Celebrar os mortos não deve ser mais um dia aziago, de algo que não vai bem. Mas é se alegrar de poder ter junto de Deus, como celebramos no dia 1º, a imensidão daqueles que já vivem na glória. Celebrando, lembramos o que seremos. Penso que já é tempo de tirar da celebração de Finados o clima fúnebre. Certo que vem a saudade. Não podemos perder a dimensão de morte que a vida tem. É dor. A saudade dói. 
Por que rezamos pelos mortos 
A Igreja sempre rezou pelos mortos. Como era natural, não precisou explicar. Rezamos para sua purificação. Nós, católicos, cremos na Bíblia que ensina que somos Corpo de Cristo. Cristo é a Cabeça e nós os membros (1Cor 12,27). Se, como Igreja visível, somos um só corpo, quanto mais como Igreja Total, todos em Cristo, na unidade com o Pai. Na caminhada para o Pai, temos os membros mais frágeis que necessitam de nossa oração, nossa vida espiritual com Deus. Assim comunicamos Vida em Cristo. Não deixemos de rezar pelos mortos, porque um dia, nós também precisaremos de oração. Estamos em caminho. Santa Mônica dizia: “Lembre-se de mim no altar de Deus”.

nº 2118 - Homilia do 31º Domingo Comum (31.10.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Amarás”
 De todo coração 
Somente fala de amor quem sabe amar. E quem sabe amar, sabe o quanto tem para amar. Assim aprendemos de Jesus. Os judeus, em seu amor pelas Escrituras, procuravam qual seria o mandamento do qual surgiriam todos os outros. Nada fácil, pois os corações e as mentes não são iguais. Assim um senhor pergunta, depois de outros que tentavam derrubar Jesus: “Qual é o primeiro dos mandamentos” (Mc 12,28b). Qual é a fonte de toda a fé? Onde se apoia toda a Escritura? Onde os mandamentos se justificam? Jesus é claro e rápido. Não há o que discutir. Todos os dias, três vezes, o judeu fiel proclama: “O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força!” (Id 29- 30). Declara a unicidade de Deus. Anuncia que o amor a Deus é total e envolve todas as dimensões do ser humano. Ele é único. Não há um Deus ao lado do outro. Ele não divide com nada e com ninguém. Ele é único. E o amor que exige é total, com todas as dimensões do ser todo humano: com todo coração, toda tua alma, todo o teu entendimento e com toda força. O ser humano é totalmente voltado para Deus. Não há outra nascente da vida nem da fé. Isso é a base, a fonte, o caminho, a direção e o fim de toda vida humana. Sem isso o ser humano jamais será completo. O judeu devia repetir esse mandamento de manhã, ao meio dia e à tarde. 
Amar como a si 
Jesus, em seu amor ao Pai, compreendia perfeitamente o sentido de amar a Deus. Sabia que o amor a Deus é fonte e direção de tudo o que fazemos. Por isso explica e dá o modo de amar: “E o segundo mandamento é; Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior que estes” (Mc 28b,31). Amar como a si mesmo é dar valor total à pessoa humana e que ela vive dessa fonte Divina para colocar o amor de Deus em ação no mundo. Deus ama o mundo, as pessoas as situações através de nós. Não há mundo sem amor. Pode se pensar mundo, mas não o é. O mundo é o amor e se dirige ao amor de Deus como Deus ama. Por isso Jesus ajunta: “E o segundo mandamento é “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Amar a si é viver. Todo amor que é dedicado a Deus está dentro do amor ao próximo. Não como um objeto que se põe ao lado, mas unido na natureza, unido na ação, unido na direção. É como a união das duas naturezas em Cristo. Homem-Deus, união do diferente, mas união no ser. Assim é o amor. Deus ama com totalidade, só assim pode existir amor humano que nasce da Divindade. Jesus tinha razão e o homem concorda: “Disseste bem”! Assim é bom, assim o faremos! 
Um só amar 
Quando dizemos que o amor a Deus e o amor ao próximo é um só, entendemos o modo de viver dos filhos de Deus. Amar o irmão com o mesmo amor com o qual se ama a Deus. E amar a Deus com o mesmo amor que se ama o próximo é o caminho espiritual da Igreja e de cada um. Importante ver que, para não incomodar não se compromete. Deixa de lado o amor se parte para uma vida espiritual sem o compromisso que Deus tendo para com o povo, sobretudo os necessitados. Os outros já estão resolvidos. Devem viver o mesmo amor. Quanto se rezou, se fez reunião, se dedicou a espiritualidades, mas se deixou de lado o amor concreto e ativo ao próximo, não acontece o amor de Deus, pois os dois mandamentos são um só. Quando Jesus fala igual diz o que ele é. Se amo ao próximo amo a Deus. Quando amo a Deus, eu o faço através do amor ao próximo. 
Leituras: Deuteronômio 6,2-6;Salmo 17;
Hebreus 7,23-28; Marcos 12,28b-34.
Ficha nº 2118 
Homilia do 31º Domingo Comum (31.10.21) 
1. Anuncia que o amor a Deus é total e envolve todas as dimensões do ser humano. 
2. Deus ama o mundo, as pessoas as situações através de nós. 
3. Amar a Deus com o mesmo amor que se ama ao próximo é o caminho espiritual da Igreja e de cada um. 
Comprar o pacote 
Quantas vezes fazemos algum “negócio”, compramos um pacote com muitas coisas dentro. Assim também, quando fazemos o negócio com Deus de crer, estamos comprando o pacote que inclui tudo o que Deus ama, de modo particular o próximo. Quando nos decidimos pelo próximo, estamos nos decidindo por Deus. Faz parte do pacote do amor. Quem fala de espiritualidade, de seguimento de Jesus, de santidade, de vida religiosa, sem comprar o pacote inteiro, está destruindo o projeto de Deus. Por isso podemos ver que tantas coisas vão mal. Façamos um negócio completo.

nº 2117 Artigo - “Tudo com Maria”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Nada sem Maria 
Falar sobre Nossa Senhora é um privilégio. Desde as narrativas evangélicas, a história nos traz uma quantidade imensa de textos retratando a personagem humana mais importante depois de Jesus. Todos os santos souberam colocá-la em suas vidas e em suas obras. Isso, sem dizer dos artistas. Ultimamente, com o Concílio Vaticano II, nós a vemos no coração da Igreja, não como uma devoção, mas como presença no mistério de Cristo. A Lumen Gentium nos descobre essa riqueza. Temos a seguir o Marialis Cultus de Paulo VI. É bonito ver como os Papas, em seus documentos, sempre terminam com uma referência a Maria. Nisso, Papa Francisco manifesta uma devoção muito carinhosa. Não sai de casa sem tomar a bênção da Mãe. Quando volta, vai diretamente até a Basílica S. Maria Maior, para agradecer a viagem. Faz parte da vida da Igreja, ter sempre Maria em tudo o que se diz espiritual. Ela está sempre presente ao lado de Jesus. Não se trata de um exagero. É algo natural. O povo não erra. O Ser humano tem mãe. Viva ou morta é minha mãe. Jesus, que foi humano em tudo (menos no pecado), tem sempre junto de Si sua mãe. E continua sendo. Não sei porque alguns tipos religiosos recusam essa presença tão natural. O modo de prestar o culto deve ser feito de tal modo que Jesus esteja sempre no centro. 
Nada sem Jesus 
Essa questão mariana não perturba a fidelidade a Jesus. E até a estimula. Não se pode perder de vista a centralidade de Jesus. Essa centralidade em que tudo se refere a Ele e por Ele ao Pai, acontece quando procuramos não só ter uma devoção, mas viver a vida cristã a partir do Evangelho. Eu posso ser muito devoto, com sinais exteriores, mesmo fazendo uma longa romaria, mas não ter uma vida cristã como Jesus nos apresenta e manifesta também através da Igreja. Fundamentalmente é o amor ao próximo. É a coerência cristã. Aqui se pode atrapalhar a “verdadeira devoção”. Não basta gostar de Nossa Senhora, mas gostar dela em Jesus. Não se trata essa questão com os métodos humanos, pois Deus é quem costura os corações. A devoção a Maria é uma garantia de estarmos em Jesus. Esclarecendo essa devoção, temos que fazê-la sempre com o olhar a Jesus. Maria nos conduz a Cristo e Cristo nos conduz ao Pai. Viver o Evangelho como Maria viveu é o melhor caminho para que Jesus sempre esteja no centro. Para ela, Jesus era o centro de sua vida. Assim desenvolvia sua vida e suas atividades, na total simplicidade de quem ama. Seguindo Jesus, sigo-O, naturalmente, com Maria. Buscamos a simplicidade de Jesus no relacionamento com sua Mãe. A devoção não é um arroubo interior, mas é ação em Cristo.
Ensinando a amar 
Tenho a impressão que a devoção está sempre voltada para o que eu preciso: bênçãos, graças, milagres, resolução de problemas etc... tudo se ajusta bem, pois para Deus não é o esquema que funciona, mas o amor. Por isso, é bom e necessário buscar Maria e, com ela, encontrarmos Jesus. Mesmo que não saibamos explicar, o amor que temos nos ajuda a entender. Amor são gestos e não palavras. Quanto mais somos capazes de levar o amor de Jesus a todos, compreenderemos melhor o que significa amar Nossa Senhora e ser um devoto. Nós vemos que cristãos pouco se dedicam ao amor concreto pelas pessoas necessitadas. É fácil fazer um culto bonito, mas vazio de conteúdo espiritual que só é real no amor. Isso podemos ver na Palavra de Deus. Como Deus não quer um culto sem Justiça, Maria também segue Jesus. Mas...mesmo que não entendamos tudo, façamos esse culto com muito amor.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Nº 2116 - Homilia do 30º Domingo Comum (24.10.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Que eu veja”
 O homem que clama 
 A Palavra de Deus apresenta o milagre de um cego que implora a cura e, curado, segue Jesus. Cego e mendigo! Muita miséria em um homem só. Ele é a expressão de um mundo necessitado e perdido em suas desgraças. Podemos dizer que representa a escuridão do mundo e a dor da miséria. O mundo padece. E não tem saída. Bartimeu pergunta quem está passando. Quando disseram que era Jesus, ele pede misericórdia. Mandam que se cale e ele grita mais forte. Jesus o chama. Sua misericórdia se estende a todos, mas é atento a cada um. Não trata o povo como massa. Há um diálogo bonito: “Que queres que Eu te faça? – Mestre, que eu veja!” “Vai, tua fé te curou!” (Mc 10,51-52). Recuperou a vista e seguiu Jesus. O milagre nos leva a entender o caminho do seguimento de Jesus: Gritar do fundo da miséria. Ele é o Redentor de todos. Buscar Jesus é já começar a ver. O resultado da fé é segui-Lo. Esse processo é o modelo de salvação do mundo: Sentir a própria situação, ouvir Jesus que passa e gritar por Ele. Só em Jesus temos a salvação. Há duas atitudes nas pessoas: abafar o grito dos sofredores e fazer-se surdo diante de todos os sofrimentos. Por outro lado, ajudar a ir ao encontro de Jesus. E animar: “Coragem! Levanta-te! Jesus te chama”! (Id 49). A comunidade tem uma missão muito grande de animar a encontrá-Lo. A libertação sempre acontece vinda da parte de Deus. Lemos em Jeremias 31,7-9 a beleza da a(tirar este”a”) libertação do povo. E o salmo 125 narra a maravilha da libertação. É uma alegria. 
Libertações 
A Palavra de Deus é animadora. Mesmo nos piores momentos há um raio de luz que dá a esperança. Nos desalentos do povo, os profetas animaram a buscar o Senhor, pois está sempre pronto a libertar. Lemos no salmo 106 (107) que retrata muito bem que o povo, em seus pecados, vai ao fundo do poço: “Gritaram ao Senhor na aflição e Ele os libertou da angústia” (Sl 106,6). A primeira leitura narra a libertação do povo escravizado durante 70 anos de exílio. E maravilhosamente Deus o libertou. As misericórdias de Deus são sempre sumamente superiores às fragilidades humanas. Basta ver que, para libertar o mundo do mal, não enviou um anjo, o que já seria bom, mas enviou seu Filho. Deus paga com justeza e ainda deixa uma grande gorjeta. Magnífico Deus. “Entre os gentios se dizia: maravilha fez com eles o Senhor” (Sl 125). Gera a alegria. O cego jogou o manto, deu salto e foi até Jesus. A fé tem uma dimensão profunda de alegria e não de sentimento de culpa pelos males praticados. Na missa antiga rezávamos o salmo que dizia: “Subirei ao altar de Deus, o Deus da minha alegria” (Sl 43,4). Tudo é festa. Lembramos a parábola do Pai bondoso e o filho perdido. “Convinha que fizéssemos festas, pois este meu filho estava perdido e foi encontrado” (Lc 15,32). A verdade por mais séria que seja, é razão de alegria. 
Cristo intercessor 
A Carta aos Hebreus captou o mistério da encarnação que penetra toda a vida de Cristo. Ela descreve o sacerdócio de Cristo voltado para as pessoas: “O sumo sacerdote é tirado do meio do povo e instituído em favor dos homens” (Hb 5,1). Reconhece que Cristo vive a fragilidade. Não é pecador, mas acolhe o pecador. “Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza” (Hb 5,2). A tentação não foi um momento de sua vida. Esteve sempre presente: “Meu Deus, por que me abandonastes”? (Sl 21,3). A fé que nos salvou (evangelho) nasce de sua força em Deus. 
Leituras: Jeremias 31,7-9; Salmo 125; 
Hebreus 5,1-6; Marcos 10,46-52 
Ficha nº 2116
Homilia do 30º Domingo Comum (24.10.21) 
1. A misericórdia de Deus se estende a todos, mas é atenta a cada um. 
2. As misericórdias de Deus são sempre sumamente superiores às fragilidades humanas. 
3. A tentação não foi um momento de sua vida. Ela esteve presente até o último momento. 
Escapei 
Eu estava num aperto danado e achei que dessa vez não tinha jeito de escapar. Mas, por um nada, como acender uma luz, tudo mudou, tudo ficou claro. Parecia que não tinha saída. Mas essa veio justamente do lugar menos esperado. Lembrei: “Quem libertou os judeus”? Um rei pagão que politicamente se realizou uma obra programada por Deus. Assim também nós recebemos dons de Deus, justamente de onde não se podia esperar. Para abrir uma porta grande e pesada, basta um giro da chave. Assim Deus faz... que bom... exultamos de alegria. Aí fazemos aquela festa.

sábado, 16 de outubro de 2021

nº 2115 Artigo - Mãe do povo

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Mãe conhece os filhos 
A Igreja ensina que o povo, no seu conjunto, não erra. Há diversas regras para a garantia da fé: a Escritura, a Sagrada Tradição; os Pais da Igreja (santos mestres antigos), os ensinamentos dos Papas, a Sagrada Liturgia e a Fé do Povo. Esses elementos estão unidos entre si. O que um ensina, está em consonância com os outros. Quando ouvimos que o povo em seu conjunto não erra. Podemos perceber a profundidade do ensinamento, mesmo que as palavras sejam simples. É muito triste ver determinadas seitas tirando a fé do povo. Como o protestantismo trouxe a Europa ao ateísmo, temo que, a invasão das seitas, leve o querido povo ao ateísmo popular. Os santuários preservam esse aspecto da fé popular. Ele se expressa naturalmente. Os símbolos preenchem muito a formulação das verdades. O homem é simbólico. Os símbolos falam mais claro. O povo sempre diz: a casa da Mãe, da Mãezinha. É o sentido da Igreja que Maria representa: é a casa de Deus para todos. A Mãe é acolhedora. Ela sabe como acolher os filhos. Eles vêm com muita alegria. A Igreja é casa de todos. Não tem partidos, nem discriminação de pessoas, evita-se destacar os importantes. Há o respeito às autoridades, mas não é partidário. O conceito da mãe que acolhe é muito claro quando vemos as imensas filas para passar diante da Imagem. Na realidade, por experiência, o símbolo tem algo mais que um símbolo frio. O calor humano expressa o calor da Mãe que acolhe. Se a imagem é um símbolo. Mas, para Jesus e sua Mãe, nós somos uma realidade. O símbolo explica a realidade. 
Gestos humanos da fé 
Como dizemos que gostamos de ver com as mãos, a fé do povo também se expressa em gestos. Vemos as muitas promessas. Criticamos, mas nos esquecemos que elas partem do coração e do modo como esse coração entende. Ouvi um pastor, “importante”, dizer que esse povo que vem a Aparecida troca uma vela de dez centímetros pela bíblia. Conforme uso a bíblia é idolatria. É usar do sagrado, a Palavra de Deus, como instrumento e não como caminho de vida. Eu creio e expresso a fé através de meios humanos. Até o pão e o vinho se tornam o corpo do Senhor. Uma vela acesa é expressão da fé. Não precisa de palavras. Fazer uma promessa é mostrar o agradecimento. É uma atitude penitencial que perdoa. Fazer uma oferta é como se entregar pessoalmente. Não é um dízimo que arranca o pão da boca do pobre. Não se mede pelo valor, mas pelo coração. Jesus falou da oferta da viúva que deu tudo o que tinha para comer. Muito maior atitude que dos ricaços que deram do resto. Uma romaria a pé, a cavalo, ou seja, como for, é uma atitude de caminhada para Deus. Seu valor se mede pelo que está no coração da pessoa. Não despreze o humilde. 
Carinho de Deus 
O povo feliz no santuário tem a certeza de que está na presença de Deus e na presença de sua Mãe querida. Tenho visto sua alegria por estar aqui. É um povo feliz. Fizeram longas viagens, desde o Rio Grande do Sul, como Nordeste. Veio agradecer. Sinal que já sentiram a presença de Deus. Perguntamos tantas vezes: “Quem veio agradecer?” É muito mais do que quem veio para pedir uma graça especial. Sabem reconhecer. Já ouvi crentes evangélicos que receberam milagres. Deus quer cuidar de seus filhos. Nossa Senhora cumpre essa missão. Não tenhamos medo de fazer promessa. São Paulo cortou os cabelos, pois fizeram uma promessa de cortar os cabelos (At 18,18). Nesse tempo era consagrado a Deus (nazireu). O povo de Deus não erra na sua fé e a expressa em gestos.

nº 2114 - Homilia do 29º Domingo Comum (17.10.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Com Cristo Jesus”
 Poder do serviço 
Jesus dá a resposta definitiva à sede de poder dos discípulos que discutiam qual seria o maior. Os dois irmãos Tiago e João usaram até a própria mãe para chegarem primeiro à posse dos cargos. Ensina: o Filho do Homem... Veio servir e dar sua vida pelo resgate de muitos (Mc 10,45). Por isso entendemos que o sentido da morte de Jesus é o grande serviço que presta à humanidade. Vai ao último do ser humano para mostrar o amor de Deus. É um serviço prestado a nós. O grande serviço de Deus é cuidar dos sofredores. Ele Se sente responsável por eles. Ele Se faz redentor (goel), isto é, o parente mais próximo (Pr 23,11). O pobre que não tem ninguém por ele. Por isso temos a frase: “Quem humilha um pobre, ofende seu Criador” (Pr 7,5). Rezamos no salmo: “O Senhor pousa o olhar sobre os que O temem, e que confiam esperando em seu amor, para da morte libertar suas vidas e alimentá-los em tempo de penúria” (Sl 32). Quem ama a Deus, ama aqueles que Deus ama... Deus escolhe cada um de nós para estar em seu lugar e servir aos necessitados. Será essa a pauta do julgamento final (Mt 25,31). Essa palavra incide diretamente sobre os problemas atuais do mundo dos quais os pobres são a maiores vítimas: fome, sede, doença, prisão, migração, vestuário. O que mais incomoda é que lemos a Palavra, professamos a fé, temos uma Igreja com muito poder e poderosos. E essa palavra permanece inócua. Ide malditos! Na formação de nossas comunidades essa dimensão fique esquecida, aliás, abafada.
Função do sofrimento 
“Meu servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si as suas dores” (Is 53,10-11). Jesus, em sua Paixão prestava um grande serviço à humanidade, tirando-a da condenação. Jesus se identifica com o servo sofredor. “Por esta vida de sofrimento alcançará a luz e uma ciência perfeita. ‘Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”’ (Is 53,11). A morte de Jesus com todo o sofrimento que Ele suportou, nos trouxe a vida. O significado da vida cristã está em aliviar o sofrimento de muitos e conduzi-los à vida plena. Essa será plena se a colocarmos a serviço. Não é esse o que vemos na Igreja. Por isso temos aí os escândalos de todo o tipo. Façamos um exame de nossa vida eclesial, nossa estrutura da Igreja, suas atitudes. Por isso ela perde sua capacidade de influir no mundo “pagão” e transformar sua situação. Perde a credibilidade. Pela história vemos que os santos foram sempre pessoas dedicadas aos necessitados. A Igreja, desde o início, como lemos em Atos dos Apóstolos, se preocupou com os fragilizados. Foi ela a primeira. E assim continuou. Sempre somos convocados para ter atitudes concretas. Somos preocupados com o que não salva. Se procuramos os necessitados, torna-se “política”...etc... Assim dizem os que não admitem esse evangelho. 
Capaz de nos ouvir 
Nossa oração está sempre clamando para que Deus nos ouça: “Ouvi, Senhor, a minha oração! Estejam atentos os vossos ouvidos ao clamor da minha prece”. Deus sempre nos ouve. Essa é a qualidade de quem está sempre pronto para atender às necessidades de todos. Uma das características do ser humilde e pobre de Jesus é estar atento porque passou pelos mesmos sofrimentos: “Temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15). Saber ouvir é compartilhar da vida, e ouvir com o coração. O amor faz o coração pobre.  
Leituras: Isaias 53,1-11; Salmo 32; 
Hebreus 4,14-16; Mc 10,35-45 
Ficha nº 2114 
 Homilia do 29º Domingo Comum (17.10.21) 
1. Deus escolhe cada um de nós para estar em seu lugar e servir aos necessitados. 
2. O significado da vida cristã está em aliviar o sofrimento de muitos e conduzi-los à vida. 
3. Saber ouvir é compartilhar da vida, e ouvir com o coração. 
Patrão virou empregado 
Quando um patrão ou dirigente fica muito ligado aos empregados perde a autoridade e é desobedecido. Colocar medo é um jeito fácil de governar. Mas Jesus não quis assim: quis se abaixar mesmo, ao último, sem medo de perder a autoridade. Tanto que os maus acabaram com Ele. Ele sabia que a força do amor jamais será vencida. Ele, esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição humana e se fez escravo e foi obediente até à morte e morte de Cruz. Por isso Deus o exaltou. A resposta à humildade é a ressurreição.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

nº 2113 Artigo - Mãe, Mulher e Rainha

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
Nossa Senhora 
A grande festa a Nossa Senhora Aparecida não é só em uma comemoração com muitas atividades. Temos que buscar mais a fundo o sentido dessa celebração. Nossa Senhora Aparecida é uma imagem que tem uma mensagem. Temos consciência que Maria é Evangelho vivo no cenário da Igreja. Ele está na Igreja como todo fiel. E tem seu lugar, sua missão e seu compromisso com o povo de Deus. Não se pode ver Maria, a não ser onde Deus a colocou: no meio do seu povo. Sendo uma discípula, continua sua missão de Mãe sempre dando Jesus e transmitindo sua Palavra. “A Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Essa Palavra se manifestou também em palavras de vida, revestidas das condições humanas. Maria, a Mãe de Jesus, escolhida por Deus é uma mulher, pois a Palavra gera vida. É a Mãe do Filho de Deus. É a Nossa Senhora. Sua missão de ser Mulher-Mãe, como Palavra, é um ensinamento e uma presença. Temos necessidade de símbolos para compreender melhor o ensinamento. Ela é símbolo do acolhimento de todos os que a procuram a Deus. Ele nos acolhe através da Mãe de seu Filho e ensina que todo o filho tem uma ligação de vida com Mãe e uma união de afeto. O fiel sabe que a imagem é uma imagem, mas se relaciona com ela na verdade do ensinamento. Com ela estabelece um relacionamento de afeto. Como em Belém, acolhe os pastores: “Encontraram Maria, José e o Recém-Nascido numa manjedoura” (Lc 2,16). Assim acolhe seu povo. 
Mulher com doze estrelas 
O Apocalipse nos traz a visão da mulher e o dragão: “Um sinal grandioso apareceu no céu: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Sabemos que essa mulher é, no pensar de João, a Igreja gloriosa, presença de Cristo no mundo, fundada nos apóstolos. Ela é perseguida porque dá à luz a seus filhos no meio da perseguição. O dragão quer devorar os filhos. Assim há também nessa visão, Maria que gera Jesus é perseguida por Satanás que quer devorar o Filho e os filhos. É notório que a Igreja é perseguida de todos os modos porque gera o Salvador para o mundo. Maria, a Mãe de Jesus, é simbolizada. Por mais que seja amada, sabemos que é perseguida pelos dragões do mal que querem tirá-la da Palavra de Deus. Símbolo de devorar o Filho. Se não formos capazes de ver em Nossa Senhora Aparecida a Mulher que tem em torno de si os apóstolos do Filho que foram perseguidos, podemos não conhecer a riqueza dessa Mãe Aparecida. Ela não apareceu no céu, mas nas águas turvas. Foi “salva” pelas mãos dos simples discípulos de seu Filho que buscavam a vida em sua fraqueza. 
Rainha de um povo 
O termo rainha está desgastado pelo uso e pela falta de sentido. Mas podemos dizer que Maria é Senhora do povo. Senhora, não como dona, mas como serva. É o papel que ela assume no encontro com o “Anjo”: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A palavra serva está em consonância com o mesmo termo aplicado a Jesus: O Servo (Is 42,1) que nos narra Isaías. E o próprio Jesus diz de Si: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mt 20,28). Filho e Mãe são o modelo. A missão de Jesus foi socorrer os necessitados. Por isso o povo de Deus vê em Nossa Senhora Aparecida aquela que serve os sofredores. Pedem com fé e são atendidos com generosidade. Notamos aí a força da figura da Rainha Ester ao interceder pelo povo. Maria continua essa missão de interceder, pois somos parte de seu corpo.
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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

nº 2112 - Homilia do 28º Domingo Comum (10.10.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Preferi a sabedoria” 
 A Deus tudo é possível 
A prece da oração da Missa, chamada coleta, dá-nos uma direção para compreendermos a liturgia do dia de hoje: “Sempre nos preceda e acompanhe a graça, para que estejamos sempre atentos ao bem que devemos fazer”. Para fazer esse bem, precisamos da sabedoria. Assim contamos bem nossos dias. Quem nos orienta é a Palavra de Deus que nos conduz a seguir Jesus na busca da perfeição. O homem vai a Jesus e pergunta o que deve fazer para ser perfeito. “Jesus olhou para ele com amor”. Ele amava as pessoas e demonstrava que amava. Então vê possibilidade de lançar a rede: “Uma só coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (Mc 10,21). Ele se foi triste. Faltou o que? Sabedoria de arriscar tudo por Jesus. Tudo ou nada. Jesus se entristece, não porque não quis segui-Lo, mas por não ter sabedoria e ficar preso em tão pouco. Jesus comenta dolorosamente: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus” (Id 23). A sabedoria pode nos levar a entender o valor dos bens materiais que não valem mais que o Reino. Como compreender isso? Deus dá essa capacidade. Quem deixou tudo, recebe 100 vezes mais (com perseguições) e depois, a vida eterna. O Salmo canta com beleza: “Ensinai-nos a contar bem os nossos dias, e dai ao nosso coração a sabedoria” (Sl 89). Recebemos tudo de Deus. Por que nos apegamos a ponto de perder tudo que Deus pode nos dar? Arriscar tudo não é insano. É garantido. Jesus acrescenta que temos tudo com perseguições, como Ele foi perseguido por ter tudo. 
A Palavra é viva 
A Palavra vai além do que é dito e chega ao cerne do que deve ser. A Palavra saída da boca de Deus se identifica com o Filho enviado ao mundo como lemos em João capítulo I,1: “No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus”. Por isso, essa Palavra é eficaz, pois é ação de Deus. A Palavra cria e salva. Jesus disse: “As palavras que Eu vos disse, são Espírito e Vida (Jo 6,63). A Palavra revela e se faz Vida. Jesus disse que Ele não julga. Quem julga é a Palavra: “A palavra que proferi é que o julgará no último dia” (Jo 12,48). A Palavra discerne e vai fundo dentro de nós. Não dá para escapar de sua luz. Prestar contas é ver o mal que fazemos a nós mesmos quando não seguimos a Palavra. “A ela devemos prestar contas” (Hb 4,13). Temos um longo caminho a fazer para compreender a Palavra de Deus como vida. Não é um livro de leitura a ser decorado ou uma lei a ser cumprida. É um encontro de duas pessoas no qual um pronuncia palavras, como Pedro diz: “A quem iremos, tu tens palavras de Vida Eterna” (Jo 6,68) e outro se doa: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e Eu nele” (Jo 6,56). A Palavra e o pão são um só e dão a Vida. 
Amei a sabedoria 
Que a Palavra de Deus nos conduza. Seguir essa Palavra é sabedoria, pois nos abre à Sabedoria. O Sábio “preferiu a sabedoria...” Pois, “todos os bens me vieram com ela, pois uma riqueza incalculável está em suas mãos” (Sb 7,11). Por isso o salmo clama: “Ensinai-nos a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria”... e assim se torna fecundo o nosso trabalho” (Sl 89). Jesus, ao convidar o homem a ser prefeito, exige que se deixe tudo para ter tudo. Essa é a sabedoria. “É difícil entender essas palavras, mas para Deus não. “Para Deus tudo é possível” (Mc 10,27). Falta sabedoria à sociedade. Seguir Jesus é deixar todos os bens. Deixar é tirá-los de dentro de si e ali colocar a sabedoria que os multiplicará. 
Leituras: Sabedoria 7,7-11; Salmo 89; 
Hebreus 4,12-13;Marcos 10,17-30 
Ficha nº 2112
Homilia do 28º Domingo Comum (10.10.21) 
1. Jesus se entristece, porque o homem não tem sabedoria e fica preso em tão pouco. 
2. Temos um longo caminho a fazer para compreender a Palavra de Deus como vida. 
3. Seguir essa Palavra é sabedoria, pois nos abre à Sabedoria. 
Contando Moedas 
Quebrei o porquinho e tinha pouca moeda. Era tudo o que eu tinha. Era minha riqueza. Pouco, mas meu. O porquinho não engordou. Precisava colocar sempre outras moedas para ter muito. Aí aprendo a sabedoria de colocar coisas de valor na vida para poder ser e ter mais. Cada moeda da vida é um dom e uma escolha. Quando deixo o porquinho e arrisco a vida por algo que sustenta muito mais, posso contar moedas de grande valor. Não precisa mais de porquinho para guardar. Seguir Jesus quebrando o porquinho, acaba por nos dar tudo o que não compro com minhas moedas.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

nº 2111 Artigo - Nascida das águas

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Lendo uma história 
Vendo a longa fila de romeiros passando diante da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, podemos nos perguntar o porquê dessa devoção. Diante da dificuldade de evangelização e formação do povo, estamos diante de uma Palavra de Deus. Temos consciência que a Palavra está no Livro Santo, mas se manifesta de tantos modos, pois “ela é viva e eficaz” (Hb 4,12). Como viva pode se manifestar de tantos modos. Ela não é a letra. A letra a manifesta. Contemplando essa imagem de terra cota, tirada do fundo de um rio, quebrada, separada da cabeça, podemos ouvir o que Deus quer nos dizer. É certo que a devoção deve ser sempre regida pela Palavra. O encontro da imagem já é milagroso pelos acontecimentos que ocorreram. Deus quer algo de nós quando faz um milagre. Corpo quebrado nos lembra o homem e a mulher, que marcados pelo pecado que os destroem e os leva ao fundo. Nada mais profundo que o mal! Por mais profundo que seja a desgraça, sempre há salvação. Quanto mais triste seja a destruição do ser humano, ele pode ser recomposto. Assim foram os fatos que acompanharam a imagem de N.S.Aparecida. Podemos dizer que a desgraça de um povo pode ser recuperada pelas mãos de simples homens. Sempre tende à recuperação. Deus não tem pressa, mas as necessidades têm. Os homens precisavam de peixe. Deus os conduz a um trabalho sofrido e vem em seu socorro com uma pesca milagrosa. Com persistência luta pela solução de seus problemas. 
Imagem mensagem 
Houve alguém ou um fato que quebrou a imagem. Ela é muito frágil. Foi colocada nas águas por não ter uma solução no momento. As águas recolhem nossas fragilidades e podem recuperar-nos pelas mãos dos fracos. Como imagem retrata alguém, ela passa pela restauração. É um estímulo a nossa permanente recuperação. Mesmo passando pela pesada destruição, foi recuperada. Quando damos a Deus nossos cacos, temos quem nos recupere, se lhe dermos todos os pedaços. Ela é um retrato da beleza de Deus. O belo nos estimula a nos transformarmos na mesma beleza. Contemplando a Mãe de Jesus, saída das mãos de Deus, podemos entender que o barro cozido traz uma sombra da beleza divina. A beleza é relativa a quem ama. Ela é a expressão do Deus que ama. Por isso, desde o início, houve esse carinho do povo pela imagem, no que ela representa. A beleza de Deus nos cura. Recuperamos nossa imagem, sempre mais ao original. O que justifica os milhões que por aqui passam, senão a beleza de Deus estampada em Nossa Senhora, em sua imagem? Podemos recolher a mensagem como um estímulo a sermos nós também, sempre mais, reflexos da beleza de Deus, mesmo em nosso corpo quebrado. 
Força de um símbolo 
A imagem de Nossa Senhora Aparecida é um símbolo. Sua realidade material é terra trabalhada pela arte de um homem e cozida ao forno. O coração humano que busca Deus, foi capaz de fazer dela um símbolo que nos une com a realidade espiritual, sem que ela deixe de ser matéria. O símbolo é um meio de encontrar Deus, a Virgem Maria e os Santos. A linguagem humana vai além das palavras. Deus, quando quis vir ao encontro do homem, se fez condição humana. Essa condição de Encarnação nos leva a perceber na imagem de Nossa Senhora Aparecida, um caminho para Deus. Ela também tinha em seus braços o Deus feito homem. Assim podemos nos aproximar dela e nos encontrar com Deus. Veneramos a Virgem Maria que intercede por nós e adoramos o Senhor.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

nº 2110 - Homilia do 27º Domingo Comum (03.10.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Deus os fez assim” 
 Um paraíso a dois 
“O coração humano é o paraíso de Deus”, diz Santo Afonso de Liguori. Se, para Deus ser feliz, basta um coração humano, podemos pensar que o ser humano, nascido do coração de Deus, possa encontrar toda a felicidade em si, e no outro do qual é parte. Os ossos mantêm a pessoa de pé. E o coração torna-a capaz de fazer a vida caminhar. A vida matrimonial, o casal, está em íntima união com o coração de Deus, isto é, em seu amor. Ela oferece a melhor condição para que o projeto de comunhão do ser humano com Deus possa se realizar: amor que se entrega e amor que acolhe e gera comunhão. A vida espiritual individual tem muito de maravilhoso. Mas é o matrimônio que oferece o que há de melhor. É o melhor caminho: realiza o amor. Deus não erra em seus projetos. Deus viu o homem no Paraíso dando nome aos animais, mas não encontrando quem o completasse, disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18). E o homem diz ao ver a mulher: “É osso dos meus ossos, carne de minha carne” (Gn 2, 23). Por que aquele sono de Adão? Um será para o outro, sempre, uma fonte de eterna descoberta. Nenhum sabe como Deus fez o outro. Por isso se trata de acolhimento e não de poder. O texto tem muita sabedoria a ser descoberta. Sto. Agostinho diz que Deus não tirou o osso do pé para que o homem não a pisasse; não tirou da cabeça para que se sentisse dono ou dona, mas tirou o osso da costela, que tem também o significado de amor para que correspondesse ao coração. Quanta sabedoria. Quem define o ser do casamento é Deus que o fez. Não são as ideologias do mundo. 
Dureza do coração 
É necessário ser um casamento na fé e no amor. Aí sim, ele se torna um lugar da manifestação do projeto de Deus. Não basta ajuntar. Por isso Jesus proclama: “Não separe o homem o que Deus uniu” (Mc 10,9). Por isso o divórcio não tem lugar nem desculpa no ensinamento de Jesus. Moisés, como diz Jesus, quanto a esse mandamento: “foi por causa da dureza de vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento” (Mc 10,5). Temos experiências felizes de casamento e também muita dor e desencanto. Casamento é uma vocação natural; há uma atração natural. Mas há também a opção espiritual, isto é, sacramento. Outra questão é a situação dos que se casam na Igreja só por uma festa. Não foi casamento. O que acontece que faz um casamento infeliz? Penso que o maior erro é casar para ser feliz, completar-se etc... O que dá certo é casar para fazer o outro feliz. Aí se realiza. O mandamento do amor constitui o cerne do casamento. Ele é participa no mistério da Redenção de Jesus. É sacramento. Nele está presente o amor com que Jesus se entregou. O prazer da alegria se dá também no espiritual. 
Os pequeninos 
A colocação do texto sobre as crianças ao lado da questão do divórcio, parece ser uma intenção mais profunda do evangelista. Não porque o casamento vá gerar crianças, mas que o carinho de Jesus pelas crianças pode nos ensinar algo sobre o casamento. Somente com o coração de crianças e seu amor espontâneo que se pode levar avante a missão de um casal. A criança é aberta ao dar e ao receber. Existe egoísmo que pode ser vencido. A Carta aos Hebreus diz que Jesus não se envergonha de chamá-los irmãos, pois tanto Jesus como nós descendemos do mesmo ancestral, o Pai (Hb 2,11). A abertura um ao outro, não é um dom pessoal, mas uma opção que se funda em Cristo. 
Leituras: Gênesis 2,18-24; Salmo 27; 
Hebreus 2,9-11; Marcos 10,2-12. 
Ficha nº 2110
Homilia do 27º Domingo Comum(03.10.21) 
1. A vida matrimonial está em íntima união com o coração de Deus, isto é, em seu amor. 
2. O casamento na fé e no amor. Só assim é lugar da manifestação do projeto de Deus. 
3. Com o coração de crianças e seu amor, pode-se levar avante a missão de um casal. 
Casamento de Boneca 
Nas brincadeiras de crianças existem batizados de boneca, casamentos etc... É um meio de pensarem já em sua futura sina. Só que as bonecas são ocas, de plástico, sem cérebro. Pior de tudo, não diferem muito de alguns casamentos que são feitos em nossas Igrejas. É bonito, correm lágrimas... Mas muitos não resistem nem à lua de mel. Certamente que não podemos duvidar da boa vontade de nossos jovens. Mas falta chegar ao conhecimento do dom que recebem. Deus não recusa sua bênção. Deus é maior que nosso coração. Quem sabe, um assim, se assumem, podem chegar a um belo futuro. Há necessidade de buscar uma fórmula melhor para que os casais possam compreender o sentido maravilhoso dessa condição humana tão rica. Mas como?