sexta-feira, 23 de abril de 2021

nº 2061 Artigo - “Cristo, nossa Páscoa”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Festa da Páscoa 
O termo mistério pascal já está presente nos autores primitivos da Igreja. Está unido ao sentido de mistério do Senhor. Mistério não é incompreensível, mas pode ser conhecido. Mistério é para ser vivido e não para esconder realidades espirituais. Deus não é fechamento. Deus é simples. Falando de Mistério Pascal, falamos de realidades humanas. A celebração da Páscoa não é só para a Igreja católica, mas “é festividade comum a todos os seres, enviada ao mundo da vontade do Pai, aurora divina de Cristo sobre a terra, solenidade perene dos anjos e dos arcanjos, vida imortal do mundo inteiro, alimento incorruptível para os homens, alma celeste de todas as coisas, iniciação sagrada do céu e da terra, anunciadora de mistérios antigos e novos” (Homilia de Melitão de Sardes – Dic. de Liturgia, Mistério Pascal). O mistério de Cristo está compreendido no conceito “Cristo, nossa Páscoa”. O termo traz em si tudo o que Cristo fez e é para nossa salvação. Participamos do mistério que se revela a nós através dos sacramentos. É o desígnio de Deus participado por nós. O termo “páscoa”, no Antigo Testamento, se refere ao rito da lua cheia da primavera e ao cordeiro imolado naquele momento pelos pastores. É muito anterior ao movimento hebreu. O termo páscoa indica também os saltos de dança dessa festa. Vemos na narrativa da morte dos primogênitos egípcios quando Deus saltou as portas dos hebreus (Ex 12,13.23.27). Por isso, se diz “comer a páscoa”, refeição onde era comido o cordeiro. Essa era a festa. A festa dos pastores se uniu à festa dos agricultores com o pão ázimo, para celebrar as colheitas 
O mistério da Páscoa é Cristo 
Os judeus, celebrando a Páscoa, comemoram a libertação do Egito, a passagem do Mar Vermelho, a promulgação da Lei de Deus e a entrada na terra prometida. É uma celebração memorial, isto é, não só se recorda, mas se torna atual de tal modo que cada um está presente no acontecimento. A Páscoa cristã é um ato redentor que atinge todos os tempos. Assim também vemos o Mistério de Cristo em sua Páscoa. Esse é o sentido de mistério memorial. Páscoa para todos os tempos. Por isso rezamos que “... e desceu à mansão dos mortos”, isto é, os que já morreram também esperavam a redenção que ocorre na Cruz e na Ressurreição. É o mesmo mistério do qual participamos vivendo e celebrando. A Páscoa é central na vida de todo o povo de Deus. O que era profecia torna-se realidade em Jesus em sua morte e ressurreição. Ele tem em Si todo o mistério de salvação que Deus nos ofereceu. Ele é a Páscoa. Realiza a profecia e confia a sua Igreja a contínua memória. Paulo identifica Jesus como o cordeiro imolado. Para ele, “a ação libertadora realizada por Deus em Cristo é o próprio acontecimento pascal”. Quando Jesus manda fazer o que fez, a Eucaristia recebe o sentido pascal. Concluímos que, quando dispomos nossa vida à ação libertadora de Deus, nós fazemos nossa Páscoa. 
Nossa Páscoa 
Temos que chegar à conclusão que o culto que celebramos não fazemos ritos, mas celebramos uma Pessoa. Como celebrar é memória, que mais que atualizar, torna presente um fato que é uma Pessoa, Jesus. É Páscoa sempre antiga e nova. Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. A celebração nos coloca em união vital com a ação redentora de Cristo e também com sua Pessoa. Quando celebramos tomando o corpo e o Sangue de Cristo, não comemos um rito, mas nos alimentamos de uma Pessoa: “Quem comer minha carne e beber o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo 6,56). Assim estamos realizando a Páscoa que é Cristo em seu mistério. Alimentar-se de Cristo é viver. A vida é Páscoa.

nº 2060 - Homilia do 4º Domingo da Páscoa (25.04.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Fortaleza do Pastor” 
 Sou o bom Pastor 
A parábola do bom pastor revela não somente a ternura de Jesus, mas, sobretudo que essa ternura é revelação do Pai. Deus disse a Moisés seu nome: “Eu Sou o que Sou”. Jesus dizendo “Eu Sou”, revela sua condição Divina. E também revelação do Ser bondoso de Deus expresso por Jesus que veio dar a vida, não como um mercenário que foge (Jo 10,11-12). A relação de Jesus com suas ovelhas é através da bondade Divina que conhece com amor total suas ovelhas. Nesse relacionamento de aliança há conhecimento e bondade, pois é o bom Pastor. As alianças de Deus foram feitas no amor que se doa. As ovelhas também conhecem seu parceiro da aliança. É o que Paulo diz: “Sei em quem confiei” (2Tm 1,12). O relacionamento de amor reflete também o conhecimento matrimonial que há entre Deus e seu povo que gera sempre novos filhos. Quem entrou nesse relacionamento de aliança, como relacionamento de conhecimento e amor, se une com Jesus e seu Pai no Espírito Santo. Esse relacionamento se abre a outros que serão buscados pelo Pastor: “A vontade do meu Pai é que eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu” (Jo 6,39). É a razão universal da redenção e fundamento da missão, como lemos no discurso de Pedro aos chefes do povo: “É pelo nome de Jesus... que este homem está curado” (At 4,10). Os verdes campos estão abertos a todos. Ele é a pedra angular que a todos sustenta (Sl 117). O bom Pastor é o modelo de toda ação da Igreja: ter o relacionamento que retoma o amor de Jesus que conhece suas ovelhas. Não é para se fechar num pequeno rebanho, sem ousadia. 
Somos filhos 
São João, em sua primeira epístola, em outra linguagem, reescreve a parábola do bom Pastor. O rebanho são os filhos de Deus. Ser ovelha de Jesus é uma maravilha... Ser filho é um presente de Deus: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1Jo 3,1). De rebanho, passamos à Família de Deus. “Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai” (id 1). O mundo não nos conhece porque não participa do mútuo conhecimento entre o pastor e a ovelha, do Pai com os filhos. Jesus coloca na relação com as ovelhas, o conhecimento que tem do Pai: “Conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai” (id 15). O conhecimento confere a Jesus a segurança de dar a vida pelas ovelhas: “Eu dou minha vida pelas ovelhas” (id). Sua entrega na morte está unida a sua vida com as ovelhas. Jesus é nosso defensor: Em 1Jo 2,1: “Mas, se alguém pecar, temos outro defensor junto do Pai, Jesus Cristo, o Justo”. O bom Pastor dá a vida pelas ovelhas.
Pedra angular 
O bom Pastor se torna o fundamento para os que O seguem. Pedro, diante dos chefes, acusa-os fortemente a falta cometida por desprezarem Jesus e O terem condenado: “É pelo nome de Cristo... Aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos, que esse homem está curado”. Foi em sua pessoa, em seu nome. “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular” (118,7). “Em nenhum outro há salvação. Só por Ele somos salvos” (At 4,11-12). O que vemos nos apóstolos é a firmeza de fé na pessoa de Jesus. Com isso, superam toda a fragilidade que sentiam antes da Ressurreição. O tentador tem muitos modos de nos tirar dessa meta. Apoiamo-nos em tantas coisas espirituais, menos em Jesus. A pregação dos apóstolos insiste em fazer parte do Rebanho – Igreja, conhecer Jesus Cristo e segui-Lo. Assim está firmado nessa pedra angular, 
Leituras: Atos 4,8-12; Salmo 117; 
1 João 3,1-2; João 10,11-18 
Ficha nº 2060
Homilia do 4º Domingo da Páscoa(25.04.21) 
1. O bom Pastor é o modelo de toda ação da Igreja. 
2. O mundo não nos conhece porque não participa do conhecimento entre pastor e ovelha. 
3. Apoiamo-nos em tantas coisas espirituais, menos em Jesus. 
Cheiro de pastor 
Papa Francisco insiste que o pastor tenha o cheiro das ovelhas. Mas as ovelhas também têm que ter em sua memória o cheiro do Pastor. E por isso segue. Lemos na Palavra: seguirei no odor dos teus perfumes. Para quem ama, mau odor é perfume. O pastor conduz as ovelhas também pelo seu perfume pessoal. Perfume é sempre um caminho para entrar em um coração. O perfume de uma coisa, uma situação, uma pessoa amada se impregna em nós e se torna uma memória agradável que atinge o coração. O perfume de Jesus tem cheiro de irmão. Por isso nós o encontramos nas pessoas.

nº 2059 Artigo - “Fonte de água viva”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Liturgia batismal 
Não estamos acostumados com batismos na Vigília Pascal. Assim a Vigília perde parte de sua força catequética. Mas ela foi instituída justamente para os batismos. Mas, na Igreja, há regiões onde há batismos de adultos. A Congregação Redentorista no Vietnam assumiu uma região e estão com 10.000 catecúmenos. Veja a notícia: (Gai Lai, Vietnam) – “A missão católica redentorista na minoria étnica J’Rai na província de Gia Lai recebeu com alegria 300 adultos para serem batizados durante a Vigília Pascal em 3 de abril de 2021”. No inicio do cristianismo batismo era feito por imersão. Em torno desse acontecimento foi idealizada uma liturgia, que chegou ao que temos. Toda celebração de Vigília Pascal deveria ter batismos. Por que? O Batismo realiza em nós a Páscoa de Jesus, através dos símbolos batismais. Mesmo que a água não seja tão abundante, a realidade é a mesma e realiza o mesmo sacramento. Uma gota d’água em Cristo é um mar. A liturgia batismal se iniciava com o catecumenato e a preparação durante os domingos da Quaresma, com leituras próprias como temos no ciclo do ano A. O batismo era feito por etapas. E pode-se fazer assim, acho que deveria. No Sábado Santo eram celebrados os ritos do batismo por imersão. Mergulhar na água é símbolo da morte. O sair da água, sinal de ressurreição. Assim nos unimos a Cristo em sua Páscoa.
Sinal de libertação 
A temática da água é muito forte: vemos pelas leituras da criação, libertação do Egito pela passagem do Mar Vermelho. Como Cristo que morreu e ressuscitou. Assim também o que é batizado é sepultado na água, como morto e sepultado com Cristo. A identificação ritual com Cristo mostra-nos bem a força ritual do aspecto mistérico. Fazemos por símbolos, o que Cristo viveu em pessoa na realidade. Fazemos com ritos e palavras que explicitam o que Deus realiza em nós. É o que chamamos de Mistério – Sacramento. Mergulhar significa morrer com Cristo. Entrar nas águas significa lavar, purificar, como o povo fez através do Mar Vermelho: Mata o mal e lava as impurezas do pecado, liberta da escravidão de nosso Egito, salva da morte. Lembramos a morte dos primogênitos egípcios. Pelo sinal do sangue nas portas foram salvos os primogênitos hebreus. Assim, livres do pecado entramos no reino da Graça. 
Sinal de Ressurreição 
A Ressurreição de Cristo O tirou da morte, pois venceu a morte, e lhe deu a vida. Cristo não voltou à vida, como foi o caso do Lázaro, mas passou à Vida e não morre mais. Por isso diz que a Vida venceu a morte. Paulo escreve em 1ª Coríntios um tratado sobre a Ressurreição. Notamos o texto final: “A morte foi absorvida na vitória. Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado” (1Cor 15,54-55). Em nós, o pecado causou a morte. Em nós a graça do Batismo, que vem da Ressurreição de Cristo, nos leva à Vida. Na morte de Jesus na cruz há um símbolo: De seu lado ab aberto pela lança saiu sangue e água. Água que purifica e mata a sede de Deus. As vestes brancas do Batismo são símbolo da graça e da vida nova que receberam. A luz lembra a fé que ilumina, aquece e purifica. O fogo da graça está em nós e não pode ser apagado pelo pecado. A água do batismo tem também o caráter matrimonial da Igreja; Cristo se entregou pela Igreja a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra. Havia um ritual do banho da noiva para apresentá-la ao noivo, no caso Cristo.
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quinta-feira, 15 de abril de 2021

nº 2058 - Homilia do 3º Domingo da Páscoa (18.04.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Sou Eu mesmo”!
 Abriu-lhes a inteligência 
No Tempo Pascal temos cinquenta dias para podermos penetrar no conhecimento de Jesus Ressuscitado. Os discípulos tiveram as dificuldades para reconhecerem Jesus depois de sua morte e sepultura. Aqui está a prova que não inventaram a Ressurreição, pois se mostraram apavorados com sua presença nos primeiros momentos. Jesus Se põe no meio deles. Chegaram a pensar que era um fantasma. Jesus Se identifica mostrando suas mãos e seus pés. O Ressuscitado tem o corpo como tivera antes entre eles. A alegria era tanta que não acreditavam... Para provar, Jesus pede alguma coisa para comer. Dão-lhe um pedaço de peixe assado que Ele come diante deles. E diz sou Eu mesmo! (Lc 24,41-42). Jesus continua o mesmo. Comer é prova de um vivo. Assim seremos nós. Não bastava aceitar que estava vivo, mas Ele tinha que tocar suas inteligências para entrarem na nova vida e no novo conhecimento de Jesus: “Abriu-lhes a inteligência” (Id 45). Não basta vê-Lo, é preciso entender a Escritura. A partir desta, compreendem o próprio Jesus. Por esta compreensão deles, compreendemos hoje. É o resultado da missão a eles confiada. Passam então a ser testemunhas audazes de um Vivo. Não temos uma religião de um morto distinto, mas de um grandioso vivo. O grande problema que vivemos é não ter Jesus vivo como fundamento de nossa vida. Crendo num Vivo, somos testemunhas. Eu me pergunto por que não conseguimos convencer. O que falta em nós? O que falta no outro? Por que não O vimos, não O compreendemos? Um caminho seria aceitar e compreender o testemunho que dão desse Vivo. Acreditamos no testemunho dos apóstolos e de seus companheiros.
Anúncio na verdade 
Jesus abriu-lhes a inteligência para compreenderem as Escrituras. É nelas que encontramos a explicação desse momento de Ressurreição. Pedro explica: “Deus cumpriu o que havia anunciado pela boca de todos os profetas que seu Cristo haveria de sofrer”. E convida: “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados” (At 3,18-19). Lendo as narrativas dos Atos dos Apóstolos, pensamos que tudo aconteceu num estalar de dedos. Penso que a boa notícia foi lenta, mas convincente e transformadora. Os apóstolos também tiveram que crescer. Por isso podemos nos dar tempo de lentamente entender. Paulo mesmo passou um tempo com as comunidades nabatéias, no deserto, (Gl 1,17) para aprofundar sua ressurreição espiritual. Examinando nossas condições atuais em nossa fé, temos que procurar compreender e aceitar com mais coragem o testemunho dos Apóstolos. É belo ver que nós, que não vimos, cremos com a mesma fé. A fé nos faz acreditar e ver. Assim se pode fazer mais claro o caminho. 
Jesus defensor 
Obedecendo aos mandamentos, sabemos que conhecemos a Deus. Jesus será sempre o defensor quando pecamos: “Se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo”. “Se guardamos sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado” (1Jo 2,1-5). A fé na Ressurreição de Jesus realiza nossa ressurreição espiritual, que antecederá a nossa ressurreição para Deus. A espiritualidade vivida na fé e na celebração nos renova e nos torna testemunhas da Ressurreição, como um mistério que se realiza no hoje de Deus. Jesus se manifestava no oitavo dia, dia da celebração. Assim continua. Manifesta-se ao partir do pão aos discípulos. É um gesto e uma atitude de vida. A fé na Ressurreição nos leva a assumir a ressurreição do mundo e percebê-la na celebração e no ato de amor.
Leituras:Atos 3,13-15.17-19;Salmo 4;
1João,2,1-5;Lucas 24,35-48 
Ficha nº 2058 
Homilia do 3º Domingo da Páscoa (18.04.21) 
1. Não temos uma religião de um distinto morto, mas de um grandioso vivo. 
2. É belo ver que nós, que não vimos, cremos com a mesma fé. 
3. A fé na Ressurreição realiza em nós uma renovação espiritual. Fantasmas da fé Os discípulos tinham um coração forte. Ali, fechados pelo medo que chegasse alguém, de repente Jesus se põe, do nada, no meio deles. Imaginemos a condição humana desses homens. O susto e a alegria! É magnífico ver Jesus de novo. Isso lhes deu um vigor que atinge até nós hoje. Quem sabe a gente devesse fazer um curso de “pluft, o Fantasminha”, para, sentindo-O em nós, poderíamos comunicar Jesus vivo no meio das pessoas. Como acontecerá que creiam? Quando deixamos Jesus Vivo transparecer em nós.

nº 2057 Artigo - Cristo, Luz do mundo

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Celebração da luz 
A imagem mais viva de Cristo ressuscitado é o Círio Pascal. Não é a grande vela acesa mas um fogo vivo. Infelizmente não é percebido o valor de um símbolo vivo, o fogo. A representação não pode se reduzir a imagem do Ressuscitado à matéria morta. A celebração pascal se iniciou com a bênção do fogo novo. Tradicionalmente, o fogo era aceso a partir da faísca tirada da pedra. Com ela se acendia a fogueira. O fogo tirado da pedra significa Cristo Luz que sai do túmulo de pedra para iluminar o mundo. Ele é a Pedra angular e nossa luz vem Dele próprio. Na oração de bênção do fogo se diz: “Ó Deus, que pelo vosso Filho trouxestes àqueles que crêem os o clarão de vossa luz”. Depois se prepara o Círio Pascal desenhando sobre a cera símbolos que o expliquem: Jesus nos remiu pela cruz. Traça-se uma cruz dizendo: Cristo ontem e hoje. Princípio e fim. Colocam-se as letras gregas: “Alfa e Ômega, o princípio e o fim”. Cristo penetra universo e os tempos. A seguir colocam-se os algarismos do ano corrente dizendo: “A Ele o tempo, e a eternidade, a glória e o poder pelos séculos sem fim”. Jesus está sempre presente na história. Colocam-se cinco grãos de incenso no círio com uma súplica: “Por suas santas chagas, suas chagas gloriosas, o Cristo Senhor, nos proteja e nos guarde”. Então o círio é aceso. É uma imagem viva de Cristo que entra na igreja escura, como no mundo. Ele é o sinal de Cristo glorioso. E por isso é louvado e incensado. 
Homens tocha 
Vimos tudo isso na celebração. É um modelo de catequese. Vive-se o símbolo, depois se conhece seu significado. A luz entra pela igreja escura iluminando lentamente num processo de se acenderem as velas dos fiéis por etapa até chegar ao altar. Então se acendem todas as luzes. É Cristo que ilumina o mundo. É uma luz que cresce até à claridade total. Essas cerimônias e seu sentido vêm da tradição primitiva. Enquanto, no batistério, eram celebrados os batismos, a comunidade, na igreja, acendia suas lâmpadas e surge a luz maior, o círio, para passarem a vigília em leituras e cantos, esperando a chegada dos neófitos (novos iluminados pela graça do batismo) para a terceira parte de seu batismo que é a participação na Eucaristia. É o sacramento do batismo na sua legítima unidade: Batismo-Crisma-Eucaristia. A luz de cada fiel é um símbolo de participação na vida – luz de Cristo. Cada fiel é luz. É uma tocha vida que ilumina e aquece. Liturgia é viver e celebrar. O círio pascal permanece aceso em todas as celebrações da liturgia durante todo o tempo pascal. Depois é usado nos sacramentos do Batismo, da Crisma e dos funerais. Fora disso não é correto seu uso e perde seu sentido simbólico. 
Luz nos olhos 
Não somente nos identificamos com Cristo em sua Ressurreição, mas começamos a ver os sinais de Ressurreição pelo mundo, como Jesus os via. Perguntamos: o que Jesus via do alto da Cruz. Via as dores do mundo. Sua oitava palavra, alto brado, se unia a todas as dores do universo. Mas o que via quando sobre o túmulo passava para a vida de ressuscitado? O mundo é bom e traz os sinais de sua Ressurreição. Temos a mesma luz em nossos olhos depois que nos unimos a Jesus vivo e ressuscitado. Vemos as sementes de Ressurreição presentes no mundo. Não esperemos que levemos ao mundo a novidade do Evangelho Vivo. Nós poderemos despertá-los e acolhê-los lá onde Ele os pôs. Não podemos ficar só em sua cruz e morte.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

nº 2056 - Homilia do 2º Domingo da Páscoa (11.04.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Reacendeis a fé”
Meu Senhor e meu Deus 
A celebração do Tempo Pascal é importante para fortalecer nossa fé no Cristo vivo. Aquele que estava morto agora está vivo, é o Vivente. A evangelização dos apóstolos partia sempre desse ponto: da experiência de Cristo Vivo. Mesmo Paulo, que não era dos discípulos de Jesus, afirma essa experiência pessoal: “Em último lugar, apareceu também a mim como a um abortado” (1Cor 15,8), no sentido de não merecer. Acolhemos essa experiência, e de certo modo, a fazemos, porque cremos. Sem isso, pregamos uma religião e não uma fé. Os apóstolos se sentiam fortes e enfrentavam aqueles que tinham matado o Mestre e o faziam com o risco das próprias vidas. Nada os detinham. Tomé se torna um exemplo da fé. Ele duvidou da Ressurreição. Quando fez a experiência do Ressuscitado, foi ao ponto mais alto da fé: “Meu Senhor e meu Deus”! (Jo 20,28). E Jesus acrescenta que crer no testemunho dos apóstolos é maior que a fé de Tomé que precisou tocar. Todos nós temos que chegar ao momento em que Tomé chegou: a fé não só na Ressurreição, pois ele O tocava com as mãos, mas na divindade do Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Fé maior tem quem crê sem ver, sem tocar. Aceitamos o testemunho dos apóstolos sem nos questionar de sua veracidade. A aparição de Jesus dá o Espírito Santo. É o Espírito que desperta em nós a fé. Se é fé verdadeira, a vida se torna verdadeira e testemunha Jesus.
Nossa vitória
“Essa é a vitória que vence o mundo: a nossa fé; Quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1Jo 5,4-5). A fé é uma adesão a um dom espiritual. Mas que se realiza e concretiza na vida, pois a Encarnação de Jesus, de certo modo, continua naquele que crê. Fé não é um princípio abstrato. É um dom de Deus para fazer um mundo novo que nos insira totalmente na Vida Divina. É assumir Deus na vida, pois fomos assumidos por Ele. Jesus realizou a redenção espiritual na condição humana. Morreu na condição humana que estava unida à sua Divindade. Assim teve a vitória sobre a morte. Seu ser humano foi morto, mas ressuscitado pelo Ser Divino, na condição do Homem Novo. Crendo, fazemos essa passagem. A adesão humana torna-se Divina pela participação em Deus. Assim temos a vitória de Jesus sobre a morte e sobre o mal. Nós o realizamos em processo. Temos que levar a opção espiritual ao concreto da vida. Essa ação transformadora é realizada pelo Espírito Santo. Recebemos o Espírito Santo como os apóstolos para o perdão, mais ainda para a reconciliação do Universo e de nosso coração. Essa reconciliação é unir a fé à vida, o espiritual ao material. Chamando Cristo de pedra angular (Sl 117), estamos dizendo que não podemos fazer da fé, da Igreja e do mundo sem Cristo. A fé nos une a Ele e com Ele mudamos o mundo. 
Crer sem ver 
Na trilha do anúncio da Ressurreição aparece o anúncio da comunidade como resultado do desígnio salvador de Deus em Cristo. Já no início de seu ministério, como diz Marcos, “Chamou a si o que Ele quis, e eles foram até Ele. E constituiu Doze, para que ficassem com Ele, para enviá-los a pregar” (Mc 3,13-14). No início do ministério já constitui a comunidade e a missão. No início do novo povo, constitui a comunidade para a vida e a missão. “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4,32). Como viviam? “Eles se mostravam assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). Isso é viver a Ressurreição. 
Leituras:Atos 4,32-35; Salmo 117;
1Jo 5,1-6; João 20,19-31 
Ficha nº 2056 
Homilia do 2º Domingo da Páscoa (11.04.21) 
1. Acolhemos experiência de Cristo ressuscitado e a fazemos, porque cremos. 
2. A fé um dom de Deus para fazer um mundo novo que nos insira na Vida Divina. 
3. No anúncio da Ressurreição aparece o anúncio da comunidade como resultado do desígnio salvador de Deus em Cristo 
Ajuntamento sem vírus 
Vivemos um momento de tanto cuidado para não ajuntar as pessoas. Isso passa. Amanhã estaremos todos agarradinhos sem medo de vírus. A Ressurreição fez muita confusão. Foi um tal de gente trombar naquele dia. Afinal era para perder a cabeça mesmo. Façamos uma comparação. Se um familiar desaparece (nem precisa ter morrido) e consegue voltar, É uma alegria muito grande. Agora, depois de morto, aparecer no meio, todo alegre. Deve ter tido algum que tentou fugir. Mas a alegria foi muito grande. Juntos ali continuaram a missão formando comunidades unidas e atuantes. Quem acreditou entrou nesse grupo, nesse corpo de vida. Jesus também aparece sempre. Como estamos acostumados não nos assustamos.

domingo, 4 de abril de 2021

nº 2055 Artigo - É Páscoa do Senhor

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Vigília para o Senhor 
Celebrada a Vigília Pascal entramos na alegria de 50 dias da Páscoa, como num grande domingo, no dizer de S. Atanásio. A Páscoa penetra a vida da Igreja em todos os seus segmentos. Podemos dizer que a Páscoa é uma festa permanente. A libertação se faz presente. Cada celebração é Páscoa. Cada ato de amor é Páscoa, pois passamos da morte para a vida. A ponta humana da Páscoa é o sair de si. Infelizmente não temos nem a prática, nem o conhecimento do sentido de vigília. Já pensamos logo no sono que vamos sentir. Mas passamos noitadas em tantas festas, sem problema de sono. É vigília, não é velório. Basta ver como realizar. Vamos tentar descobrir o sentido de Vigília para o Senhor. Naquela noite, o povo teve que sair às pressas para a libertação, tanto que a massa do pão ainda não estava ainda fermentada (Ex 12,39). Páscoa é passagem do Senhor. Deus mandou conservar o rito: “É o sacrifício da Páscoa para o Senhor, que passando, poupou as casas dos Israelitas, atacou o Egito e salvou nossas casas” (Ex 12,25-27). “Está expresso aí o valor do rito pascal: uma memória eficaz dos acontecimentos da salvação celebrada durante uma vigília”. Assim ensina o I Targum (livro hebraico): “A vinda do Messias se dará numa noite de Páscoa”. Olhando para o futuro, em uma noite como essa, o mundo chegará a seu fim. Na Páscoa cristã temos a mesma dimensão: “A memória-presença do mistério de Cristo que vence a morte. Estamos clamando pelo retorno do Senhor, como a volta do patrão da noite de núpcias, para abrir a porta, assim que ele bater” (Lc 12,35-36).
As quatro noites 
Na reflexão sobre a noite de Páscoa, temos o ensinamento sobre as “quatro noites”. Esse tema não é muito comentado, mas pode ampliar nossa reflexão. A primeira noite é aquela na qual Deus Se manifestou para criar o mundo. A Palavra de Deus a iluminou (Gn 1,2). A segunda noite é a aliança de Deus com Abraão com a promessa da terra aos descendentes (Gn 15,18). A terceira é a noite em que Deus se manifestou contra os egípcios protegendo os primogênitos hebreus. A quarta noite será quando o mundo, chegado a seu fim, será dissolvido. A memória pascal é criadora de um mundo novo. Com Jesus se supera a noite do mundo e se abre a luz de uma manhã para todo o universo. “E ouve tarde e manhã, primeiro dia” (Gn 1,3-5). É primeira característica. A segunda característica é a criação de um povo através do Filho Unigênito de Deus, Jesus, Primogênito do novo povo de Deus. Nele são renovadas todas as coisas. No Apocalipse João proclama: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). A terceira característica é a ação libertadora. A saída do Egito é uma profecia da libertação do mal. A quarta é a que fazemos em cada celebração: “Vinde, Senhor Jesus!”. É tempo da espera. Podemos estar seguros que Ele fará nossa Páscoa definitiva. A Vigília é uma memória e uma espera.
Mãe de todas as vigílias 
Os mestres da Igreja dos primeiros séculos, que chamamos de Santos Padres, tinham uma consciência profunda, vivencial e celebrativa da Vigília Pascal. S. Agostinho a chama de “Mãe de todas as vigílias”. A fé na Ressurreição era uma cultura. Pelos textos e ritos realizamos, na fé, o mistério da Ressurreição que se torna presente. Não absorvemos essa realidade. Não fazemos vigílias, mas podemos pensar em estar mais ligados ao pensamento da Ressurreição e vivê-la nas celebrações. Só compreenderemos quando assumimos o Mistério Pascal de Cristo, como vida de nossa vida. Senão, tudo é rito vazio.

nº 2054 - Homilia do Domingo de Páscoa (04.04.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Aleluia! Ressuscitou!” 
 Viu e acreditou 
Páscoa de Jesus! O acontecimento único na história se torna para nós o maior momento. Falar de Ressurreição de Jesus é um desafio porque não a colocamos em nossa vida. É bonito ver como os apóstolos viveram intensamente esse momento. Viveram, pois viram o Vivo. Não dá para imaginar o que passou no coração de cada apóstolo e cada discípulo que viveu com Jesus. Depois do terror daquela morte vem esplendor da vida. Ver o túmulo vazio para João era a certeza da ressurreição. Por que as mulheres foram as primeiras? A Igreja é a testemunha fundamental da Ressurreição. Crer é mais que ver. Os soldados viram o momento e contaram aos chefes do povo que os subornaram para que mentissem dizendo que o corpo fora roubado. Se mentiram é porque sabiam da verdade. Sabiam, mas não tiveram fé. A fé transformou os discípulos. Celebrando os mistérios da Ressurreição vivemos o mesmo drama entre o ver e o crer. Crer supõe a certeza que leva à adequação da vida ao que acreditamos. Enquanto não passamos a Ressurreição para a vida não acreditamos ainda. A Ressurreição chega à vida pela celebração da comunidade. Ela é uma continuada encarnação e se torna sacramento da Ressurreição. O texto proclamado discerne a verdade e a t
orna presente pela ação do Espírito que age naquele que crê. Jesus Se manifestava sempre no 8º dia. O domingo era o dia da comunidade. É nela que conhecemos e acolhemos a presença Daquele que foi tragado pela morte e a tragou. As celebrações não são meros ritos, mas sacramentos da Vida, Morte e Ressurreição de Jesus. 
Nós comemos com Ele 
A certeza da Ressurreição fez parte da vida normal dos discípulos. Ele não foi visto por todo povo, mas somente por nós, que somos as testemunhas que Deus já havia escolhido “nós que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (At 10,4041). O comer e beber juntos, vai além de uma simples refeição. Está a dizer vivemos o cotidiano com Ele, normalmente. Essa é a fonte que nos transmite a verdade da Ressurreição. Deus escolheu algumas testemunhas para comunicar o fato. É belo, na fé, acolher o testemunho de homens humildes e sem conhecimentos raros, mas nascidos de uma fé autêntica daqueles que conviveram com Ele. O que toca a pessoa que ouve o testemunho, não são as palavras, mas a fé que é implantada no coração. Não entenderíamos como a fé se difundiu e se estabilizou em tantos povos. Quem sabe a fragilidade de nossas comunidades, nossas instituições e vida estejam justamente na falta de acolher o testemunho. Vivemos, não a partir da fé, mas de nossos interesses. Só através do acolhimento do testemunho dos apóstolos que poderemos renovar nossas comunidades. A Ressurreição não se reduz a um ato litúrgico, mas na fé que o faz. 
Vida do alto 
A aceitação do anúncio não fica no intelecto espiritual, mas vai às mãos: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto... aspirai às coisas celestes e não às terrestres ”(Cl 3,1-2). A vida do cristão tem os pés no céu, mas tem as mãos na terra onde continua a vida de Jesus como nos escreve Pedro: “Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com Ele” (At 10,38). Embora não possamos explicar a Ressurreição por uma visão pessoal, mas podemos demonstrar sua realidade pelo que somos capazes de mudar no mundo e na realidade em que vivemos. 
  Leituras:Atos 10,34ª.37-43;Salmo 117;
 Colossenses 3,1-4; Jo 20,1-9 
Ficha nº 2044
Homilia do Domingo de Páscoa (04.04.21)
1. Enquanto não passamos da Ressurreição para a vida não acreditamos ainda. 
2. O que toca a pessoa não são as palavras, mas a fé que é implantada no coração. 
3. A aceitação do anúncio não fica no intelecto espiritual, mas vai às mãos.
Brincadeira! 
Depois Jesus apareceu a Madalena que foi anunciar aos discípulos que estavam chorosos. Não acreditaram (Mc 16,10). Pedro e João correm ao túmulo. O defunto sumiu. A outra o confunde com o jardineiro. As mulheres encontrando o túmulo vazio voltam e o encontram no caminho. Vão contar e não acreditam. Os dois que iam para Emaús não o reconhecem. De repente Jesus se põe no meio do grupo reunido. A alegria era tanta que parecia brincadeira. Não acreditavam. Jesus pede um pedaço algo para comer para mostrar que não era fantasma! Diz: Fantasma não tem carne e ossos como tenho. Assa peixe na margem do lago. Deve ter sido linda a alegria deles. Depois de terem esse encontro com Ele, não poderiam fazer mais nada que contar para todos os que foram chamados à fé. Bonito que acreditaram. A fé tem algo humano. Quem sabe a fé seja tão pouca no mundo porque não temos essa fé na Ressurreição. Ninguém vai ficar sabendo que Jesus existe, se não contarmos.

nº 2053 Artigo - “Mistério Pascal”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Um mistério a descobrir 
A palavra mistério não tem nada a ver com desconhecido ou inacessível. Dizemos mistério da Trindade, não para dizer que é impossível conhecer, mas infinito no seu conhecimento. O termo usado para a compreensão da celebração litúrgica. É um retorno a um conceito importante termo do passado que foi esquecido. O mistério são as realidades salvíficas que nos foram dadas por Cristo. Foi a partir dos meados de 1800 que o termo retornou à teologia. O termo, com toda a densidade que possui, é usado para entender a Páscoa de Jesus em relação a nós. O Abade Dom Odon Casel, grande pensador cristão, nos passou esse ensinamento. A palavra mistérion foi traduzida por sacramentum. Mudou a compreensão. Passou a ser entendido como algo que recebemos. Mistério “é uma ação simbólica que, sob sinais exteriores, torna presente a ação salvífica”. O documento sobre a Sagrada Liturgia no Vaticano II usa o termo mistério pascal. A liturgia é a obra da redenção e da glorificação de Deus realizada em Cristo, foi anunciada e realizada pelos apóstolos através do sacrifício e dos sacramentos. Para a realização da obra da redenção, Cristo está sempre presente de diversos modos, de modo particular na liturgia (SC 7). Quando usamos o termo Mistério Pascal de Cristo, nós estamos nos referindo à Morte e Ressurreição de Cristo como uma ação da qual participamos. Para compreendermos temos que nos referir à Páscoa da libertação do Egito, profecia da Páscoa de Jesus. 
Mistério a viver 
Celebrar a Semana Santa, não é morrer na Sexta-Feira Santa com Cristo, mas Ressuscitar com Ele na Páscoa. Ressurreição não faz parte da espiritualidade e da linguagem de nosso povo. Entendemos bem a Paixão e a Sepultura, mas, não chegamos à Páscoa da Ressurreição. O Mistério Pascal de Cristo é um fato do qual participamos não somente assistimos. Precisamos mudar a linguagem e também o modo de viver. Temos o anúncio dos acontecimentos pela palavra proclamada e sua realização na ação litúrgica celebrada. Somente vamos nos sentir libertos, se nos sentirmos prisioneiros. Por isso a Quaresma quer nos colocar em clima de conhecimento da realidade do Mistério de Cristo e nossa adesão a Ele pela Palavra anunciada. Assim podemos realizar os atos litúrgicos, participando da Eucaristia no Corpo e Sangue do Senhor. O momento central não é a morte dolorosa, mas sua passagem pela Morte e Ressurreição. Cristo faz sua passagem, como primeiro. Celebrando os mistérios da Páscoa, acontecidos em Cristo, fazemos a passagem com Ele. Por isso vivemos a Páscoa. A Palavra anuncia e o rito simbólico realiza. A Quaresma que era aquele movimento de nos conduzir à Páscoa tornou-se um momento independente no qual se faz penitência ou se aprofunda no tema da Campanha. Tudo isso é bom, mas sem deixar a meta que é a Páscoa do Senhor e nossa Páscoa. 
Mistério a anunciar 
Precisamos trazer o Mistério Pascal de Cristo para nossa existência e para nosso ministério de evangelização ao qual estamos comprometidos. Primeiramente temos que entender a Semana Santa não só como atos de piedade e penitência, para a celebração do Mistério Pascal de Cristo. Mas vivê-las em vista da participação da Paixão e Ressurreição de Jesus. Nesse sentido as leituras bíblicas nos ajudam. Elas anunciam e proclamam esse mistério. A participação nas celebrações acolher o mistério. Deus age, mesmo se nossa consciência é pequena. É preciso levar uma vida de ressuscitado. Buscai a vida do alto, como lemos no dia de Páscoa (Cl 3,1). Feliz Páscoa celebrada e vivida.