domingo, 28 de fevereiro de 2021

nº 2051 Artigo - Celebrando a Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Preparação para o Batismo 
Celebramos a Quaresma como um grande dom de Deus para seu povo. Preparamo-nos com ela para a Páscoa. O Concílio Vaticano II absorveu a recuperação que o Movimento Litúrgico trouxe para a Igreja. Já o Papa Pio XII fizera a reforma colocando as celebrações nas horas que aconteceram para Jesus. Antes era tudo de manhã. A Quaresma retomou seu devido lugar na vida litúrgica da Igreja: “Preparação para a Páscoa”. Não são tradições devocionais, mas o acolhimento do mistério da redenção em nossa vida. Como os judeus podemos dizer: “Éramos escravos e Deus me libertou” (Dt 10,21). Ela responde bem ao convite feito no momento de colocar as cinzas: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Lc 1,15). Esse processo de conversão era realizado durante a Quaresma para o batismo que se realizava na Vigília Pascal. Eram também ungidos, quer dizer, crismados. Para nós, é momento da renovação das promessas do batismo. O batismo é participação do Mistério Pascal de Cristo. O que aconteceu com Cristo acontece conosco. Todos os demais sacramentos bebem nessa fonte inexaurível. A renovação leva-nos a viver mais intensamente esse novo nascimento. Os neófitos, isto é, os que foram batizados naquela noite, saem da celebração do batismo e entram na comunidade para a celebração da Eucaristia com toda a comunidade que os esperara ouvindo a palavra e cantando. Era a festa. Batismo é o sacramento da iniciação cristã. Batismo, Crisma e Eucaristia formam um único sacramento. A Unção da Crisma dá o direito de celebrar a Eucaristia como povo. 
Páscoa em nossa vida 
Também a vida cristã só tem sentido a partir desse momento. O processo de conversão não é só uma superação do pecado, mas também abertura para a vida de fraternidade. O individualismo espiritual não é o melhor caminho para a vida cristã. Certo que cada um deve assumir, mas como parte do Corpo de Cristo. O processo de conversão deve ser assumido também pela comunidade. Não se sentir corpo peca contra o mandamento do amor que é a vida da comunidade. Como o pecado atinge todo o corpo, a graça, muito maior, dá vida a todo o corpo. Nesse tempo temos os muitos meios oferecidos pela Igreja. A conversão será promovida pela escuta da Palavra de Deus, que é abundante e muito educativa. Cada dia nos é dada uma porção de alimento. Por isso, é muito bom estar atento à Palavra proclamada. Junto com a Palavra temos os gestos da caridade. A Campanha da Fraternidade sempre se endereça a um gesto concreto. Não é política, pois é evangelho. O que move é a força do Espírito que sempre acompanha os fiéis. 
Devoções 
Não pode passar despercebida a presença das devoções populares que são um modo de realizar a presença de Cristo Ressuscitado. Devem ser purificadas quando necessário. Mas nasceram do povo que procurava compreender os mistérios de Cristo num aspecto mais visual. O povo não é só intelectual. Mas crê com as mãos e o coração. Usa todos os sentidos para crer. Certos credos cristãos, que negam esse aspecto popular levam a fé a perder também o humano. Quem crê não são ideias, mas pessoas. Somos batizados com água, celebramos com o pão e o vinho, ungidos com óleo, nos casamos com pessoas. Os pecados foram feitos por nós. Por isso as devoções constam do Mistério Pascal vivido. A própria liturgia deve continuar o caminho da inculturação da fé, pois ainda é intelectualizada. A liturgia deve ser orientada, mas deve chegar o último de nosso povo. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

nº 2044 - Homilia do 2º Quaresma (28.02.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Deus é por nós” 
Transfigurou-se 
Na Transfiguração de Jesus manifestou-se a maravilha de Deus em Jesus: Brilhante como o sol e branco como a neve. Ninguém poderia alvejar tanto suas vestes. Os discípulos contemplaram a beleza de Jesus como Deus. Essa visão é para contrapor à visão do homem das dores. Ali estava o que seria o Cristo Ressuscitado. Rezamos no prefácio: “Jesus, na montanha sagrada lhes mostra todo o seu esplendor... Ele nos ensina que, pela Paixão e Cruz chegará à glória da Ressurreição”. Iniciando a Quaresma com o clima da tentação, temos a certeza da glorificação. Já na terra pregustamos a glória futura. Pela pós-comunhão rezamos: “Nós nos empenhamos em render-Vos graças porque nos concedeis, ainda na terra, participar das coisas do céu”. A glorificação de Cristo é sinal de nossa glorificação. Essa luz deve iluminar o sentido de nossa Quaresma e fazer brilhar em nós a luz da Páscoa. Na aliança de Deus com Abraão, diante do mistério da vontade de Deus, o homem escolhido sente o peso do desconhecido, mas confia no Deus que não falha. Quando Isaac pergunta pela vítima do sacrifício, na escuridão de sua dor tem a força de dizer: “Deus providenciará” (Gn 22,8). A fidelidade de Abraão abre caminho para uma promessa de Deus: a descendência eterna. Na obediência são abençoadas todas as nações da terra (Gn 22,18). A maior bênção é a vinda do Filho ao mundo. É o sacrifício do Pai que dá o Filho. Deus não sente a dor de Abraão, mas o Filho é sacrificado em sua obediência.
Guardei a fé 
Cantamos no salmo: “Guardei a fé, mesmo dizendo: é demais o sofrimento em minha vida” (Sl 115). Mesmo no sofrimento o fiel tem a certeza de que “Deus quebra as cadeias da escravidão” (Id). Deus é por nós. Paulo garante esse socorro: “Cristo que morreu, mais ainda, que ressuscitou e está à direita de Deus, intercedendo por nós” (Rm 8,34). Deus está sempre em aliança conosco. Nós podemos nos esquecer, mas Ele não Se esquece. A aliança com Abraão permanece e dela surgirão outras alianças, até chegar a Jesus. Com seu sangue Ele sela a aliança, nova e eterna. Ele é a garantia da fidelidade de Deus e nossa. Nele somos fiéis. Ele dá razão e conteúdo à fé. A fidelidade de Abraão foi a mesma de Jesus. Foram ao extremo. Por Ele temos tudo: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com Ele?” (Rm 8,31-32). Abraão não poupou o Filho. Foi Deus quem o poupou em vista de sua fé. Numa caminhada espiritual, nós também temos que sacrificar nosso Isaac, aquilo que tanto amamos. Isaac seria um fracasso se Abraão negasse a obedecer. Nós temos nosso Isaac que não fará falta se o sacrificarmos. Só falta isso para nós. 
Visão da glória 
Com essa liturgia quaresmal da Transfiguração, somos convocados a nos voltarmos para a Páscoa que é nossa meta. E assim, vencido o pecado, possamos brilhar como novas criaturas renovadas pelo Batismo. Alimentados pela Palavra e pela oração, vivamos esse momento de graça como renovação de nossa aliança que já estava no seio de Abraão. A Eucaristia é sempre o momento de renovar e re-significar nossa vida. Rezamos: “Estas oferendas lavem nossos pecados e nos santifiquem para celebrarmos a Páscoa” (Oferendas). Levados pelo Espírito percorremos o caminho quaresmal como um dom da Graça do Cristo que se entrega por nós em cada Eucaristia. Os dois primeiros domingos não dão a direção. Os domingos que se seguem nos colocam em direção à Páscoa. 
Leituras Gênesis 22,1-2.9ª.10-13.15-18;
Romanos 8,31b-34; Marcos 9,2-10. 
Ficha nº 2044 - Homilia do 2º Quaresma (28.02.21) 
1. Essa luz deve iluminar o sentido da Quaresma e fazer brilhar em nós a luz da Páscoa. 
2. Na caminhada espiritual, nós também temos que sacrificar nosso Isaac.
3. Levados pelo Espírito percorremos o caminho quaresmal como um dom da Graça. 
Férias na montanha 
Pedro e os outros dois discípulos bem que imaginaram um passeio gratificante na bela montanha. Mas andaram se atrapalhando, pois já encontraram duas figuras do Antigo Testamento: Moisés e Elias, a lei e a profecia. E Jesus todo glorioso. Pedro quis logo armar umas tendas para que continuasse a maravilha que viam. Mas a maravilha maior foi a palavra do Pai: “Este é meu Filho amado, escutai o que Ele diz”. E a seguir entram na nuvem, que significa a presença de Deus. Os caminhos de Deus eram outros. De férias na montanha, encontraram uma montanha de mistérios que os deixaram apertados. Dali podem entender o sofrimento de Cristo e sua glorificação na Ressurreição. Pedro vai se lembrar disso por toda a vida, pois o narra na sua segunda carta: “Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando uma voz vinda da sua glória lhe disse: ‘Este é meu Filho amado, em quem me comprazo’. Esta voz, nós a ouvimos quando Lhe foi dirigida do céu, ao estarmos com ele no monte santo” (2Pd 1,17-18).

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

nº 2043 Artigo - Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Reforma litúrgica 
A liturgia sempre passou por renovação. Um princípio da reforma atual foi levar a liturgia ao melhor ponto de sua história, que foi o século VIII. Assim também a Semana Santa. Pio XII fez a primeiras mudanças. O chamado missal de São Pio V, tão venerável e antigo, tem sua base em documentos, mas não tão antigos. Pio V diz que a reforma foi feita na base dos documentos “de nossa biblioteca”. Até o momento do Concílio já haviam sido descobertos documentos muito mais antigos, como são os textos do sacramentário Veronense que tem os primeiros textos litúrgicos para as celebrações. Depois seguem outros. Do ponto de vista histórico, o missal do Vaticano II busca uma tradição muito mais antiga, à qual a reforma de Pio V não tinha acesso. Sobre a Quaresma seu ensinamento é ascético, reduzindo a penitência da Quaresma ao jejum, do qual enumera os frutos. A grande diferença está na dimensão de Mistério Pascal de Cristo que domina o tempo da Quaresma renovada. A penitência, no missal antigo era vista somente em seu aspecto ascético. A reforma eliminou as orações que só insistiam no jejum e na mortificação corporal que reduzia a ascese só à diminuição dos alimentos. Agora salientam os aspectos positivos como a oração e o exercício da caridade. Aliás, não deixar de compreender Precisamos lembrar que tudo era em latim e em voz baixa. O povo fez a sua devoção. 
Características atuais 
Primeiramente os textos são bem mais abundantes. Isso favorece a diversidade das temáticas. Insiste-se na conversão como caminho para a Páscoa, o exercício da caridade, o perdão dos irmãos, a oração e o jejum do pecado. A observância exterior deve ser acompanhada com a renovação do espírito. A celebração penitencial é sinal sacramental de nossa conversão. A penitência quaresmal é vista como um caminho para a Páscoa e participação no Mistério Pascal de Cristo. Essa se exprime nas obras de caridade, no perdão, na oração e no jejum. É tempo de renovação, com um verdadeiro empenho de conversão. O que faz maior diferença é a intensificação da presença da Páscoa que dá sentido e significado a tudo o que é realizado nesse tempo. Certamente estamos vendo que aquele ambiente de seriedade e despojamento não interfere mais na sociedade. Já dizia o profeta: “O jejum que quero é esse: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo... repartir a comida com quem tem fome; dar abrigo aos infelizes sem asilo; vestir os maltrapilhos. Não se desviar do semelhante” (Is 58,6-7). Percebemos que o profeta está muito mais adiantado que nossa época. 
Quaresma, um sacramento! 
Sete são os sacramentos. Nem mais nem menos. Cada sacramento deriva da ação redentora de Cristo. A Igreja se faz sacramento de Cristo ao celebrá-los, unida a seu Redentor que penetra todas as realidades da fé. Por isso, a Quaresma é chamada de sacramento, pois, seus gestos e palavras têm a presença de Cristo que no mistério de sua morte e ressurreição, sua Páscoa, nos libertou do mal e nos introduz no reino de sua graça. Por isso, a Páscoa que preparamos dá sentido à toda a preparação e está presente em seu início e na sua execução. Toda ação litúrgica é ação de Cristo Vivo. O que celebramos proclama essa presença e a torna atuante em nossa vida. A mentalidade pascal é a linguagem dos grandes escritores antigos. Ao retornar ao ensinamento dos antigos mestres, nos tempos do Concílio se retornou à melhor tradição da Igreja.
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

nº 2042 - Homilia do 1º Quaresma (21.02.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Crede no Evangelho”
 Conhecer Jesus Cristo 
A Quaresma é um grande convite para reconhecer nossa condição humana de pecadores e tentados como Jesus o foi. Ela é também o sacramento pelo qual temos empenho de buscar Cristo e recebemos a resposta: “Pelo sinal sacramental da Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”. Viver bem esse tempo litúrgico nos leva a crescer no conhecimento e na resposta de amor. Quem conhece Jesus, sabe amá-lo. Esse primeiro domingo focaliza a tentação de Jesus. Marcos continua o texto com o anúncio de conversão proclamado por Jesus. Quaresma é tempo de conversão. Essa chamada deve nos acompanhar durante toda a Quaresma. Essa conversão é a recusa de tudo o que destrói em nós a Graça Divina da presença de Jesus e nos leva a praticar a fé com maior profundidade. Só conhecendo mais Jesus, podemos crescer no amor por Ele. Pedimos no salmo que o Senhor nos mostre seus caminhos e que sua verdade nos conduza (Sl 24). A oração pós-comunhão nos ensina “a desejar Cristo, pão vivo e verdadeiro, e viver de toda a palavra que sai de sua boca”. Conhecer Cristo e a força de sua ressurreição (Fl 3,10), colocam-nos em união sempre maior com o seu Mistério Pascal que é a meta da Quaresma. Que a Páscoa penetre a(à) Quaresma. 
Aliança da terra 
Essa Quaresma tem uma característica particular que é a temática da aliança. A redenção é o passo final das alianças de Deus com seu povo. Lemos: “Sangue da nova e eterna aliança”. Essa aliança tem suas raízes na criação do homem. Quando vem o Dilúvio, que a tudo destruiu, Deus faz uma aliança com Noé e com todo o mundo: “não haverá mais dilúvio”. E garante: “Este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vós... ponho meu arco nas nuvens, como sinal de aliança entre Mim e a terra” (Gn 9,13). Chamamos aliança da terra porque Deus quer que o mundo cumpra sua missão de dar vida e beleza. Dizemos que os sinais de destruição que estão presentes no mundo são queridos por Deus. São provocados pelo ser humano que não toma conhecimento que Deus quer que esse mundo seja fonte de vida e felicidade. Na Quaresma, temos também como compromisso o cuidado do mundo, redimindo todas as suas dimensões. É certo que nem tudo depende de nós e nem somos culpados. Mas podemos colaborar com a restauração. O Saara, diz Heródoto, historiador grego, era um jardim florido. O que aconteceu? Há um país que plantou aonde(onde) o deserto entraria... não entrou. Podemos tomar atitudes de conversão que melhorem a vida do povo. Conversão não é só oração. É atitude. Assim podemos ressuscitar. 
Meu arco no céu. 
A aliança com a terra onde vivem as pessoas, é já um laço que nos une a Deus. Essa aliança tem um crescendo que vai nos levar à aliança em Jesus. Essa aliança com Noé, salvador da humanidade através da arca, chama-nos a cuidar do mundo como administradores da aliança que Deus fez. Jesus era integrado com a natureza: “olhai os lírios do campos... olhai os campos maduros para a ceifa... Usa a água e o pão para realizar os mistérios da salvação. Esse arco-íris simboliza que Deus não quer guerra conosco. Ele quer que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). Ele é o Mestre que nos ensina a viver de bem com a terra e mais ainda com as pessoas, pois ensina o amor. Ficamos encantados vendo, depois de uma chuva, um belo arco-íris no céu. Deus achou tão bonito que escolheu como símbolo de sua vontade de paz.
Leituras: Genesis 9,8-15; Salmo 24; 
1ª Pedro 3,18-22; Marcos 1,12-15. 
Ficha nº 2042 
Homilia do 1º Quaresma (21.02.21) 
1. Viver bem a Quaresma nos leva a crescer no conhecimento e na resposta de amor. 
2. É aliança da terra porque Deus quer que ela cumpra sua missão de dar vida e beleza. 
3. A aliança com a terra onde vivem as pessoas é já um laço que nos une a Deus. 
Deus não é de briga 
A narrativa do dilúvio nos deixa uma questão: Por que Deus fez isso e de agora em diante não vai fazer de novo? Nós gostamos de chamar os castigos de Deus .... Para o outros. Uma hora vira para nosso lado. Mas não é esse o ensinamento. É pavorosa da destruição do mundo pelas águas. É maravilhosa a salvação da humanidade através da família de Noé, juntamente com os animais. Houve destruição. Mas no final encontramos um Deus bonzinho afirmando que não vai brigar mais, nem matar, nem destruir. Ele entrega sua arma de guerra, seu arco poderoso. Mais ainda: coloca-o no céu para servir de enfeite. Quando compramos um arco de índio, colocamos na parede. Não é para briga. Para Deus, acabou a briga. Temos um Deus bonzinho.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

nº 2040 Homilia do 6º Domingo Comum (14.02.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Sede meus imitadores” 
Quero! Fica curado 
Jesus continua seu caminho de evangelização. Mais que ensinar verdades, manifesta a compaixão do Pai. O leproso chega perto de Jesus e diz: “‘Se queres tens o poder de curar-me’. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: Eu quero, fica curado!” Quando diz que sentiu grande compaixão, usa o verbo que indica o movimento do íntimo, envolvimento do amor interno, vindo das entranhas como uma mãe amorosa sente pelos filhos. Essa cena tem algo que passa despercebido. Jesus tocou o leproso. Por que no final do texto diz que “Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade; ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-Lo” (Mc 1,45). Ao tocar o leproso, assume o seu mal, e Se põe voluntariamente fora da assembleia orante, no templo ou na sinagoga. Pela lei sobre a lepra, ele fica nas mesmas condições de leproso diante da lei. O leproso de acordo com a lei do Levítico (13-14), devia andar de vestes rasgadas, cabeça descoberta, com lábio superior coberto, gritando: “Impuro ! Impuro”!, fica impuro enquanto for leproso, fica separado, fora dos lugares habitados. Só o sacerdote teria autorização de examiná-lo e dar um decreto de cura. Jesus se impôs essa situação ao tocar o leproso. Jesus não somente se entrega na cruz, mas se compromete com a situação de todos os doentes e pecadores. Sempre se misturando, como lemos na parábola da ovelha perdida. Por que criticavam? Porque estava misturado com os pecadores. Fazia-se igual (Lc 15,1-7). Não são os sacerdotes que liberam Jesus de sua exclusão, mas o povo que não tomou conhecimento da lei. 
A lepra do mal 
O lindo salmo 31 é uma bela expressão da situação do homem pecador, sua decisão de mudar de vida e louvar a Deus pelo perdão recebido. E estimula a não ser como o jumento que tem que ser freado com a rédea. O pecador diz: “Enquanto fiquei calado mirraram-se-me os ossos, entre contínuos gemidos”. O mal faz sofrer. Corrói o coração. “Então eu disse: Confessarei o meu pecado”. Reconhecer o próprio pecado já é sinal de vitória contra o mal. Reconhece o quanto Deus faz bem para nós ao perdoar-nos. É como o leproso, que feliz da vida, conta para todo mundo o bem que lhe fez sair do seu pecado. Por isso: “Ó justos, alegrai-vos no Senhor! Exultai-vos, retos de coração” (Sl.31). Esse salmo, no contexto da cura do leproso, nos convida a manifestar a Jesus nossa situação dolorosa do mal. A pior doença é aquela que a gente silencia e não cura. Ela mata. A luta contra o mal e o pecado parece ter se cansado. Não adianta mais. Chegamos ao ponto de dizer que o mal é o certo, o certo é o errado. Em todos os meios o erro é aplaudido e imposto aos inocentes.
Tudo para a glória 
A vida da graça leva tudo em sua força redentora. Nada no mundo é mau por princípio. Os cristãos eram rodeados de ataques pelo que comiam... Havia muito alimento proibido por leis criadas pelo homem. Paulo diz que tudo é bom, e “quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. Paulo se põe como exemplo nessa situação de proibições inúteis: “Não escandalizar ninguém”. O que fizermos pode contribuir para a salvação ou até prejudicar o irmão. Assim aprendera de Cristo que ficou fora da cidade, para não escandalizar. Jesus condena essa legislação, mas insiste sobre o dever de não escandalizar os fracos. 
Leituras: Levítico 13,1-2.44-46;Salmo 31; 
1Coríntios 10.31-11,1; Marcos 1,40-45. 
Ficha nº 2040
Homilia do 6º Domingo Comum (14.02.21) 
1. Jesus não somente se entrega na cruz, mas se compromete com os doentes e pecadores. 
2. Reconhece o quanto Deus faz bem para nós ao perdoar-nos. 
3. A vida da graça leva tudo em sua força redentora. 
Ver com as mãos 
Jesus fazia os milagres dos mais diversos jeitos. Um deles era tocando as pessoas. Parece que aí lembra o sentimento que temos de ver com as mãos. Se eu não puser a mão, não vi direito. Os cegos veem os objetos tocando. Jesus curou o leproso tocando-o. Ele ficou curado. Agora temos que cuidar de nossos toques, pois podem transmitir vírus. Jesus convida, depois da pandemia, a tocar as pessoas para que sintam sua presença. É mais que simplesmente dizer, ver, olhar. Tocar é comprometer-se. O comprometimento de Jesus com o leproso foi tal que o leproso se curou e Jesus ficou cumprindo uma lei que havia: quem toca um leproso é tido também como leproso. Jesus não teve medo. Ficava fora das cidades porque essa era a lei para o leproso e quem o tocava. Ele se comprometeu.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

nº 2038 Homilia do 5º Domingo Comum (07.02.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Ele conforta os corações”
Jesus curou muitos 
O salmo traz a resposta a todas as angústias que nos cercam em nossos sofrimentos: “Ele conforta os corações despedaçados; Ele enfaixa nossas feridas e as cura” (Sl 146). A Palavra de hoje está carregada de dores, de sofrimentos e de sofredores. Desde o sofredor Jó, a sogra de Pedro, os doentes que acorrem e os necessitados do Evangelho, percorremos o grande rosário de misérias da humanidade. Deus fez o homem do barro, cheio de fragilidades. A vida se arrasta em dores e males. Então o Pai do Céu manda seu Filho para libertar-nos de todos os males e de desgraças espirituais e corporais. Deus quer o homem vivo. O projeto de Deus não é a dor e o mal, mas a alegria e a graça. Jesus mesmo, passando por tudo o que passou não deixou de se apoiar totalmente no Pai. Por isso ressuscitou. Ele venceu o mal e a morte. S. Paulo clama: “Morte, onde está tua vitória? Morte onde “está o teu aguilhão. O aguilhão da morte é o pecado. Mas, Deus dá a vitória por meio de Jesus Cristo” (1Cor 15,55-57). A dor de toda pessoa reflete o quanto o mal faz mal. Vemos o mundo que se arrasta em sofrimento, sobretudo no meio dos mais empobrecidos. Mas o mal maior é o pecado que destrói o homem e o leva a ser uma fonte de mal. Jó descreve com a própria vida e pessoa a experiência do mal. A resistência da fé espera os tempos de Deus. O mal não é o fim do homem. Jesus dá o remédio para os males: a fé. 
Sopro da vida 
Jesus fazia as curas, mas ao mesmo tempo dava o sopro de vida. Percorria a Galiléia, pregando em suas sinagogas. A pregação de Jesus é o anúncio do sopro de Vida que vem sobre o mundo, sobretudo, dos mais sofredores. Tirava sua energia espiritual do encontro com o Pai em suas orações: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). Ali retirava a energia transformadora. Sua oração como que o recarregava para dar o remédio forte que é a evangelização. Ele pregava por todos os lugares. É o mesmo caminho que Paulo faz: “Pregar para mim, não é um motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16). A evangelização é o respiro para quem evangeliza e por quem é evangelizado. Infelizmente nossa evangelização perdeu seu vigor e só vemos o corpo da Igreja debilitar-se. Perdemos o sentido? Não estamos evangelizados? Só evangeliza quem tem em Jesus Cristo sua verdade. Se não, as palavras se perdem no vazio. 
Pregar é um motivo de glória 
No meio da dor e da dificuldade da vida, o Evangelho liberta das muitas dores que atingem o coração e a vida de todas as pessoas. Jesus curava para que o Evangelho penetrasse os corações e todos passassem a servir, como a sogra de Pedro: “Jesus a segurou pela mão, ela levantou-se e começou a servi-los”. O maior serviço que podemos prestar é anunciar o evangelho que renova todas as coisas. Isso é uma glória. Esse é o salário. O pagamento é a alegria de anunciar. Quando se diz “somos servos inúteis. Fizemos o que devia ser feito” (Lc 17,7), não se trata de uma inutilidade de trabalho ou pessoa, mas da união do servo e o serviço. O pagamento é o prazer de evangelizar. Paulo diz a missão não é uma iniciativa própria, mas um encargo que lhe foi confiado (1Cor 9,17). Trata-se de um identificar-se com a missão evangelizadora. Esse é o serviço fundamental que Jesus nos confia: “Ide por todo mundo anunciai o evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15). 
Leituras Jo 7,1-4.6-7; Salmo 146; 
1 Coríntios 9,16-19.22-23. 
Marcos 1,16-19.22-23 
Ficha nº 2038 
Homilia do 5º Domingo Comum (07.02.21) 
1. O projeto de Deus não é a dor e o mal, mas a alegria e a graça. 
2. A evangelização é o respiro para quem evangeliza e para quem é evangelizado. 
3. O maior serviço que prestamos é anunciar o evangelho que renova todas as coisas. 
Mundo podre 
Temos nojo da sujeira e das feridas. Temos horror dos males. Mas é o que vemos todo dia. O mundo está apodrecendo. Por maiores que sejam os recursos, vemos males por todos os lados. A informação é rápida. Não somente os males físicos, mas, sobretudo os males morais emporcalham o mundo. Esse mundo que foi feito como jardim do paraíso para o homem, tornou-se uma esterqueira. O homem é um animal porco... sem querer ofender o mal citado. É notório que o Evangelho veio para curar todos os males, retirar todos os demônios e dar toda a saúde. Somente ele pode dar uma solução geral para o mundo sair dessa porcaria em que se meteu. Nosso pagamento será sempre o mesmo de Paulo: a alegria de ver o homem renascer.