sexta-feira, 25 de março de 2022

Nº 2160 - Homilia do 4º Domingo da Quaresma (27.03.22)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Páscoa do Coração” 
A alegria da Páscoa 
A liturgia do 4º Domingo da Quaresma é tomada pela alegria: “Concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam, cheio de fervor e exultando de fé” (oração). A alegria da celebração é porque já temos no horizonte as primeiras luzes da festa da Páscoa. É uma imagem linda do amanhecer comparado à Páscoa que se aproxima. A antífona de ingresso assim canta: “Alegra-te Jerusalém... saciai-vos com a abundância de suas consolações”. Nesse quadro vemos a alegria da entrada na terra prometida. A alegria de comer a Páscoa no chão que Deus lhe deu. Não precisa mais do milagre do maná. No clima da alegria lemos a parábola do filho perdido acolhido pelo pai misericordioso. A Páscoa se realiza nos atos da vida. A volta do filho perdido e o acolhimento do Pai misericordioso sintetizam toda a história da salvação. Deus vem ao encontro do homem perdido e lhe dá recuperação da graça total. A volta do filho é um momento de alegria. O acolhimento que faz o pai, diverso do acolhimento do irmão que o recusa, nos faz sentir o humor da salvação. A alegria deve penetrar todos os seguimentos da vida cristã. Por pior que seja a condição do homem “pecador”, a recuperação pela graça da salvação sempre supera o drama da maldade ou suas consequências na vida dos filhos de Deus que têm o direito ao retorno à casa paterna. O Pai do Céu sempre acolhe. 
Reconciliai-vos 
Paulo, na consciência da missão de Cristo de levar todos à salvação, reconhece o quanto de vida nova recebemos pela redenção. Deus nos reconciliou consigo e confiou o ministério da reconciliação. A casa está sempre aberta a todos os filhos. Não há filho perdido. Há filhos que retornam. Somos novas criaturas, reconciliadas. Deus não considerou a humanidade como um caso perdido. Sempre oferece a reconciliação. Ao enviar Jesus, Deus não O envia para condenar, julgar e acusar: “Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando, não acusando os homens de suas faltas e colocando em nós as palavras da reconciliação. Somos embaixadores de Cristo. É Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus” (2ªCor 5,19-20). Não só nos reconcilia consigo, mas também nos dá o ministério da reconciliação. Continuamos a missão de Cristo. O mistério da redenção é um dom de reconciliação. Não há nenhuma justificativa de condenação em recusar os “pecadores”. Quando exercemos a profecia para condenar, somos um anti-evangelho. A Igreja, em sua prática pastoral exerce um ministério de recusa e quer colocar todos no mesmo ritmo. 
O amor que acolhe 
A reconciliação não é um decreto. A parábola do filho perdido (pródigo) se fixa sempre na descrição da situação. No exterior da parábola. Mas outra é a mente de Deus para a reconciliação, o que vai provocar alegria ainda maior: No pecador, Deus vê seu Filho dileto no filho perdido. Lemos: “Aquele que não cometeu pecado, Deus O fez pecado por nós, para que Nele, nós nos tornássemos justiça de Deus” (2Cor 5,21). Vejamos a grandeza da reconciliação. O Filho Jesus assume a condição do pecador. Deus O fez pecado. Fica no lugar da pessoa, como que Ele fosse o pecador. Então, a morte de Jesus, Ele a padece em nosso lugar. Pagou por nós. Mas, temos a vantagem que nós ressuscitamos com Ele. Assim vivemos o Mistério Pascal. O filho perdido recebe o total afeto do Pai. Em Deus nos amou.
Leituras:Josué5,9ª.10-12; Salmo 33; 
2Coríntios,5,17- 21;Lucas13,1-3.1132. 
Ficha nº 2160
Homilia do 4º Domingo da Quaresma(27.07.22) 
1. A volta do filho perdido e o acolhimento do Pai sintetizam toda a história da salvação. 
2. A casa está sempre aberta a todos os filhos. 
3. No pecador, Deus vê seu Filho dileto no filho perdido.
Bateu na porta certa 
A volta do filho “pródigo” nos comove e estimula a conhecer melhor o Pai. Ele não hesitou em voltar, pois sabia que o pai o aceitaria. Ele só iria reconhecer que errou. Acertou a casa e o coração. O que não aconteceu com o irmão mais velho que viveu tanto com o pai e não conheceu seu coração. Nós, humanidade, sabemos que o Pai acolhe a todos. Curiosamente não se trata de mãe, pois esses sentimentos se referem mais à mãe. Mas Deus é Pai e Mãe. Por isso o jovem sabia onde bater.

Nº 2159 Artigo - A Igreja na Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Fé consciente 
A Quaresma que é um tempo voltado para Cristo, passa a ser um tempo de conscientização da Igreja sobre seu próprio mistério. A Igreja só tem sentido se está completamente aberta ao Mistério de Cristo que lhe dá significado e sentido. Ela nasce do lado de Cristo ferido pela lança, e ao mesmo tempo vive do sangue e da água derramados. Acolhendo o mistério da redenção, faz dele seu alimento. Quanto mais unida a Cristo, mais a Igreja se converte e por isso usa esse tempo para a preparação dos batismos e a renovação de seus compromissos. É um itinerário de conversão. Deus atua naqueles que buscam Cristo e os faz Igreja em renovação. Quanto mais se une a Cristo pelo esforço de conversão, mais se torna consciente de sua fé. Porque é difícil se converter, então se procuram elementos secundários que nos distanciam do fundamental. Paulo nos orienta pela consciência de sua condição ao dizer: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Para isso se repete: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). É um despojar contínuo de sair de si e revestir-se do Evangelho. Somos uma página do Evangelho. Assim, Jesus Se torna vivo na comunidade. 
Escuta da Palavra 
Jesus nos dá o primeiro modelo de vivência da Palavra quando o Tentador O assedia no deserto. Seria melhor dizer a tentação, pois naquele momento nos é revelado tudo o que Jesus viveu em sua vida. O texto do Evangelho plastificou a tentação numa cena terrificante. Ali está concentrada toda a vida de Jesus como homem tentado em tudo o que é possível a um ser humano. Pois Ele viveu em tudo a condição humana de homem tentado. Só não nos seguiu no pecado. Nisso Se torna o modelo. Foi tentado no pão, no poder e no prazer. Aqui estão todas as tentações. Jesus oferece, a par disso, todos os instrumentos de vitória. A Palavra nos conduz entre os descalabros do ter. Palavra traz a vida, pois ela sai da boca de Deus. É alimento. A ganância do orgulho é vencido pela humildade: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Não precisamos de outros poderes espetaculares. A ganância do prazer, purificada pela Palavra, nos conduz ao amor de adoração totalmente aberto a Deus: “Só a Ele adorarás”. Jesus é a Palavra, mas é também o ouvinte maior dessa Palavra. O coração do Pai era o livro que Ele lia permanentemente. Conversão não são palavras, mas a Palavra que nos penetra. Ser o que Cristo era diante do Pai. Por isso são Jerônimo diz: “Desconhecer os Evangelhos, é desconhecer a Cristo”. Ouvir a Palavra é ouvir a Cristo. Meditar a Palavra é saborear Cristo. 
Exercícios quaresmais 
Por que a Quaresma se torna o tempo da esmola, da oração e do jejum? Esses três elementos nos levam a realizar as palavras de Jesus ditas ao Tentador. A esmola nos ensina a tirar o prazer de possuir mais que é necessário. A pobreza espiritual é não apegar-se ao inútil possuir. A Palavra é que sustenta. A oração coloca-nos na dimensão poder por estar unido a Deus. Rezar é como sugar continuamente a fonte da vida. É manter-se conectado com a Luz. O prazer que a vida oferece é dom de Deus. Quanto mais, melhor. Melhor quando nos colocamos a serviço. O jejum, no sentido de passar fome pode desviar, quando não pensamos no outro. Os exercícios quaresmais não são somente atos de um calendário, mas deve penetrar todo ao que segue.

sábado, 19 de março de 2022

nº 2158 - Homilia do 3º Domingo da Quaresma (20.03.22)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Produzir frutos” 
Se não vos converterdes 
A meta da Quaresma é conduzir para a celebração da Ressurreição do Senhor. Como sacramento memorial, a Páscoa acontece para nós e em nós. A Páscoa é eterna. Quando celebramos, é para mais profundamente acolher esse mistério em nossa vida. A liturgia de hoje quer nos mostrar a ação de Deus por nós manifestando-se a Moisés como primeiro passo do caminho da Páscoa. Jesus acena para algo importante que é necessidade da conversão que acontece quando nos convertemos. Converter-se não é algo puramente interior, mas é “produzir frutos”. A parábola oferece também a misericórdia de Deus que espera contando com nossa fragilidade: “Senhor, deixa a figueira ainda esse ano. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der então tu a cortarás” (Lc 13,8-9). Paulo chama a atenção dos coríntios dizendo que não têm direitos adquiridos e podem fazer o que quiserem. Os judeus receberam tantas maravilhas e milagres em sua libertação, na passagem do Mar Vermelho, o maná, a água da rocha e tantas belezas a mais. No entanto quase todos morreram no deserto. Insiste: “Não murmureis como muitos deles murmuraram e por isso foram mortos pelo anjo exterminador” (1Cor 10,1ss). Paulo chama a viver intensamente e não descuidar nunca da conversão permanente: “Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (Id 12). A Páscoa não se reduz a uma celebração, mas é um colocar em prática a vida cristã. Converter-se é produzir frutos 
Caminho de libertação 
A maravilhosa história do Êxodo, não é só uma narrativa heróica das maravilhas feitas por Deus. É o caminho da Páscoa. Deus começa sempre longe para conduzir a uma realização maior. Vemos como Deus conduziu José ao Egito e o levou ao fundo do calabouço. Dali o tira com os dons que lhe deu. José salva sua família. E reconhece a ação de Deus. Depois de 400 anos, novamente, um menino jogado no rio Nilo e que se torna um refugiado, é escolhido por Deus para receber o grande presente de Deus para o povo: A libertação. Moisés, um simples pastor, trabalhando para o sogro, tem o maravilhoso encontro com Deus e recebe dele a missão de libertar. Que garantia? O nome de Deus é a garantia. Ele é a garantia de toda a libertação: “E Sou Aquele que Sou”. Eu existo e existir é ser para os outros. Deus envia Moisés para libertar. Não sabia nem falar... Moisés era a palavra e Aarão seu profeta. Conhecer o nome de Deus é conhecer os caminhos de libertação. O processo quaresmal se encerra com a libertação no Mistério Pascal de Cristo que chega a nós através das águas do Batismo. A vida do batizado é produzir frutos. 
Assumir pessoalmente 
Jesus é um empresário que quer produção, quer resultados na vida. Vivemos um cristianismo amorfo e morto. Não tem forma nem vida. Jesus foi à figueira. De onde vem o fruto? Da árvore viva. O arbusto onde Deus se manifestou poderia não ter muita vida num lugar deserto, mas a vida de Deus se manifestou. Moisés assumiu a missão e enfrentou a grandeza do faraó e tirou o povo do Egito. Não é preciso preocupar-se de como foi na verdade, mas que foi a verdade: Deus salvou o seu povo. Essa salvação nos chegou através de Jesus que veio em nome do Pai. E praticou uma libertação muito maior. Unidos na força do Batismo em nós podemos levar adiante essa libertação. 
Leituras: Êxodo 3,1-8ª.13-15;Salmo 102; 
1 Coríntios 10,1-6.10.12; Lucas 13,1-9. 
Ficha nº 2158 
Homilia do 3º Domingo da Quaresma (20.03.22) 
1. Quando celebramos, é para mais profundamente acolher esse mistério em nossa vida. 
2. Conhecer o nome de Deus é conhecer os caminhos de libertação. 
3. Jesus é um empresário que quer produção, quer resultados na vida. 
Bananeira sem cacho 
Fui buscar fruta e não encontrei. Árvore sem fruto é corpo sem vida. Que delícia quando encontramos as plantas carregadas de fruto. Quanta riqueza aos olhos e quanto apetite. Como Deus é bom na sua criação. Que abundância. Por isso os evangelhos sempre trazem essas comparações. Tudo que toca o estômago interessa. Deus, quando vem ao nosso jardim, espera sentir esses prazeres. Mas deve ser entristecedor, quando nos vê esturricados. É tempo de produzir frutos.

nº 2157 Artigo - Teologia da Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Quaresma hoje 
 A reforma litúrgica, primeiro fruto do Vaticano II, a concretização do Movimento Litúrgico que vem de longa data, há mais de 200 anos com a descoberta e estudo das fontes litúrgicas. Não é invenção de grupos modernistas exaltados. A reforma litúrgica já estava encaminhada quando foi aprovada pelo Concílio. Assim foi recuperado. Atualmente, a Quaresma não faz parte da vida da comunidade, pois se perdeu o estilo antigo quando a Igreja dominava a vida do povo que tinha medo desse tempo. Passado o medo, levaram junto o sentido. O que recuperar da Quaresma original? Ela tem o caráter batismal e penitencial. É tempo de escuta da Palavra e da insistência na oração. O batismo é um sacramento que deve penetrar a vida cristã, pois está intimamente ligado à Páscoa. Pois, pelos ritos sacramentais passamos pelo Mistério Pascal de Cristo. Aos batizandos realiza-se o rito, e aos já batizados faz-se a renovação das promessas batismais, com o rito da aspersão. Sob o aspecto penitencial, busca-se o sentido social do pecado e a mudança do coração com a conversão do pecado e de suas consequências na sociedade. Preparar a Páscoa é também renovar a comunidade. O jejum deve ser do coração. O que devemos lamentar e que todas estruturas do tempo podem esquecer o povo e o homem do povo. Estamos sempre lidando com uma classe de pessoas instruídas. Ocorreu um dia, que fazendo a procissão de penitência da madrugada, passávamos pelos pontos de ônibus do povo que ia para o trabalho. Quem estava fazendo penitência? 
O mistério de Cristo na Quaresma 
Mais que penitências e clima, é tempo da Palavra e das orações que nos introduzem no Mistério de Cristo. A liturgia não é só oração, mas é também ensinamento. Ensinando reza; rezando, ensina. A Quaresma celebra o mistério de Cristo e da Igreja. Cristo só é compreensível em seu mistério pascal de Paixão, Morte e Ressurreição. Até poucos anos que a redenção nos era dada pela morte de cruz. Isso se comprova pelo desconhecimento da Ressurreição. Cristo é o centro da Quaresma, pois ele é o protagonista, o modelo e o mestre. É Ele quem age. Jesus não foi um malfeitor pego por acaso. Ele, decididamente toma o caminho de Jerusalém (Lc 9,51). Ele é o centro dos acontecimentos. Ele é modelo, pois suas atitudes e palavras explicitam sua missão. Cada dia nós teremos sua palavra viva através das leituras. Ele é o mestre que ensina. 
Devoções e fé 
Fazemos muitos atos de devoção durante a Quaresma como a via-sacra, encontros da fraternidade, procissões penitenciais, alguns fazem jejum, penitências, sacrifícios, como deixar alguma coisa que signifique para nós o seguimento de Jesus. Tudo muito bom. É preciso acompanhar esses gestos com a união ao Cristo que se entrega ao Pai pelo mundo. Seguir o Cristo é caminhar como Ele caminhou (1Jo 2,6). Podemos colher esse modo de vida da palavra anunciada no dia. Por ela recebemos não só ensinamentos, mas a própria pessoa de Jesus.

quinta-feira, 10 de março de 2022

nº 2156 - Homilia do 2º Domingo Comum (13,03.22)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Visão da Glória”.
 Este é meu Filho, o Amado 
O segundo domingo da Quaresma nos revela o resultado da vitória sobre a tentação e a meta de toda a vida cristã: a transfiguração que nos conduz à futura visão da glória de Cristo: “Purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão de vossa glória”. No prefácio rezamos: “Com o testemunho da Lei e dos profetas, simbolizados em Moisés e Elias, nos ensina que, pela Paixão e Cruz, chegará à glória da Ressurreição”. Assim compreendemos que o tempo quaresmal nos insere na caminhada de Cristo que está voltada para a Glória. O mal não pode deixar o homem sem direção. Temos um destino: o Céu. Por que Jesus passa por esse momento de glória “antecipada”? Para os três discípulos escolhidos como testemunhas qualificadas, aquele momento vai apagar e dar sentido ao trauma que vai ser sua morte na cruz. Os discípulos puderam entrar na “nuvem”, isto é, na presença do Pai. Moisés a Elias significavam a compreensão que doravante deverão dar à Lei e aos profetas. Jesus diz: “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24,44). Acontece naquela Teofania a voz do Pai: Este é meu Filho, o Escolhido. Escutai o que Ele diz (Lc 9,35).
Experiência de Abraão 
No texto sobre a aliança de Deus com Abrão, (que se chamará Abraão a partir do capítulo 17,4-6: que significa pai de multidão de nações), lemos sobre a promessa da terra. Daí por diante se desenvolvem os encontros de Deus com o patriarca. Por que esse é colocado junto com o evangelho da Transfiguração? Lendo os textos da primeira leitura do domingo da Quaresma, vemos diversos momentos da caminhada do povo de Deus. Deus dirige seu povo através dos patriarcas e profetas. No segundo domingo temos o ponto de partida com a aliança de Deus com Abraão na qual promete uma terra. No terceiro domingo, temos a maravilhosa manifestação de Deus a Moisés, primeiro passo da libertação do Egito. No quarto domingo lemos a entrada do povo na terra, celebrando a Páscoa. Cumpriu-se a promessa. No quinto domingo, Isaias profetiza o êxodo da Babilônia. Não mais um deserto sofrido, mas “rios na terra seca para dar de beber ao povo” (Is 43, 20). Moisés e Elias, com Jesus transfigurado, revelam a transfiguração do povo de Deus a partir dos patriarcas. A fé vai purificando nosso olhar para visão da glória. Abraão, na terrificante experiência de Deus, recebe uma terra. Nessa terra Moisés e Elias contemplam o Descendente Maior. Os três apóstolos querem uma presença física: “Faremos três tendas” (Lc 9,33). Mas Jesus, com sua Ressurreição traz uma presença maior: “Uma nuvem os cobriu e da nuvem saiu uma voz: “Este é meu Filho, o Dileto, escutai o que Ele diz!” (Id 35). 
Cidadãos dos céus 
“Nós comungamos, Senhor Deus, no mistério da vossa glória, e nos empenhamos em render-Vos graças porque nos concedeis, ainda na terra, participar as coisas do Céu” (Pós- Comunhão). A cena da Transfiguração é para os cristãos que passam pela nuvem do pecado, com tantos temporais, um estímulo e um alívio. O pecado não é um fim. Não é um beco sem saída. Se para Cristo houve a transfiguração com sua Ressurreição, também para os pobres pecadores, haverá uma transfiguração, pelas graças dos sacramentos pascais que respondem à conversão quaresmal. A celebração desse domingo nos estimula a seguir o caminho palmilhado por Cristo, para chegar à glória. 
Leituras: Genesis 15,5-12.17-18; Salmo 26; 
Filipenses 3,20-4,1; Lucas 28b-36 9 
Ficha nº 2156 
Homilia do 2º Domingo Comum (13.03.22) 
1. Purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão de vossa glória. 
2. Moisés e Elias, com Jesus transfigurado, revelam a transfiguração do povo de Deus a partir dos patriarcas. 
3. A cena da Transfiguração é para os cristãos um estímulo e um alívio. 
Trocando de roupa 
Coisa difícil é escolher a roupa certa para a hora certa. E é certo que se erra. Jesus teve essa experiência na alta montanha quando se transfigurou. Era tudo muito chic . Tinha visitas importantes. Ele escolheu o branco brilhante. Assim mostrava, por sua roupa, sua mensagem. Explicava quem Ele era. Filho Dileto do Pai tinha que mostrar que sua união ao Pai deixava ver que o Pai é Luz. Assim mostra aos discípulos que eles serão luzes reflexas de sua união com o Pai.

nº 2155 Artigo - Origens da Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Uma história a contar 
Pode-se conhecer a reforma da Quaresma decidida pelo Vaticano II, se conhecemos a história desse tempo litúrgico. Do contrário se pode continuar a desviar seu sentido litúrgico e espiritual. De acordo com os autores a celebração da Páscoa nos três primeiros séculos da vida da Igreja não tinha um período de preparação. Só havia o jejum nos dois dias precedentes. É bom notar que a organização da vida da Igreja e sua liturgia foram muito lentas. Não se tratava de renovar a graça do Batismo, pois viviam o tempo do testemunho pelo martírio. Era mais um prolongamento da alegria pascal por 50 dias. Depois do edito de Constantino em 313, começaram a sentir a necessidade de chamar os fiéis a uma maior coerência com o Batismo. Nascem as primeiras prescrições referentes à preparação para a Páscoa. No Oriente, encontramos acenos nos princípios do sec. IV, nas cartas pascais de S. Atanásio. Vale lembrar que Alexandria tinha a competência de estudar e comunicar às Igrejas a data da Páscoa. Ele escrevia às Igrejas dizendo que o simples fato de anunciar a data da Páscoa, já provocava uma grande alegria (330-347). Tempos bons! S. Cirilo de Jerusalém, em suas Catequeses mistagógicas, já se refere a esse período. Eusébio de Cesaréia escreve “a solenidade da Páscoa”. No Ocidente temos, no fim do século IV, o testemunho Etéria, na Espanha, em seu Itinerárium (ano 385), Santo Agostinho, para a África e Santo Ambrósio para Milão. Não se sabe como se formou em Roma. 
Formou-se progressivamente 
Em Roma há uma tradição bonita das “estações”. No século VI e VII, Papa Gregório Magno deu à Quaresma uma grande importância. Celebravam-se as estações. São dias de jejum e celebrações nas principais igrejas romanas. Perdeu-se o uso com o tempo. João XXIII deu impulso e atualmente se realizam as celebrações. O Papa abre a Quaresma na Igreja de Santa Sabina, muito antiga, que era a primeira estação. É curioso que o atual esquema de leituras segue, em parte, a tradição das leituras desse período. Os textos escolhidos tinham uma ligação com a igreja local. Por exemplo: Numa Igreja de S. João, que tinha um poço na entrada, usou o texto da samaritana. É muito interessante como se procurou conservar a tradição litúrgica. Os missais pré-conciliares trazem a indicação da “estação”. Agora se retomou essa tradição. É um modelo muito bom para as paróquias grandes e dioceses. A Quaresma pode se tornar uma grande missão. Pensando na descristianização, pode ajudar. É bom uma boa teologia da Quaresma para fugir de termas que são estranhos a seu conteúdo. Mesmo agora se trabalha mal sua finalidade. 
Temas a recuperar 
 A orientação fundamental para o tempo da Quaresma está na definição litúrgica que recupera o sentido original: “O tempo da Quaresma visa a preparação da Páscoa”. Precisamos purificar inclusive nossas boas idéias. A Campanha da Fraternidade, as penitências quaresmais, as tradições lindas, as devoções devem trazer essa mentalidade, do contrario não ajudam. Perdendo o sentido pascal, acaba por perder o valor desse tempo. As tradições sem essa direção perderam a razão por essa causa. As adaptações devem convergir para a compreensão da Ressurreição. A Paixão toca mais nossos sentimentos. Mas, sem a Ressurreição são vãos nosso sentimento, nossa pregação e nossa fé (1Cor 15,14-19).

quinta-feira, 3 de março de 2022

Nr.2154 - Homilia do 1º Domingo da Quaresma (06.03.22)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Se tu és o Filho de Deus”
Crescer no conhecimento de Cristo 
Iniciamos a Quaresma com dois domingos que descrevem ao cristão sua realidade, já vivida em Cristo: a tentação do pecado e a glória transfiguração. A tentação faz parte da vida cristã. Ser tentado não é um mal, não deixar-se vencer pela tentação é a vitória o cristão, em Cristo que foi “tentado em tudo, menos no pecado “(Hb 4,15)”. Fruto da vitória é a transfiguração de Cristo, como vemos no 2º domingo da Quaresma. Vemos assim o destino desse tempo. Essa vitória é nossa fé (1 Jo 5,4). Por isso a oração nos ensina que a vivência da palavra desse tempo nos leva ao conhecimento mais aprofundado de Cristo e uma correspondência. O judeu fiel foi ensinado a entregar os primeiros frutos da terra como reconhecimento da ação de Deus em sua vida. É a profissão de fé desse povo libertado da escravidão e tão beneficiado na terra nova “onde corre leite e mel”. Jesus, ao ser tentado e vencendo a tentação, está em nosso lugar. Santo Agostinho diz: “Nele fomos tentados e Nele vencemos o demônio”. A tentação de Jesus não se refere tanto a um fato, mas a uma realidade. As três tentações atingem o ser humano em sua realidade total. A resposta à tentação pela Palavra, pela humildade e pela adoração, levam o homem a vencer Satanás, como Jesus o fez. O demônio diz a Jesus: “Se tu és o Filho de Deus”. Jesus não usa sua condição de Filho de Deus para Si. E nos oferece este instrumento de vitória que Ele usou: Palavra de Deus, humildade de não tentar a Deus e a adoração: “Só a Deus servirás” 
Corresponder a seu amor 
Jesus vence a tentação do pão, do poder e do prazer com a Palavra de Deus, com a humildade e com a adoração. É a síntese da vitória sobre o mal. Essas foram as tentações de Jesus durante toda sua vida. Os sofrimentos que passava colocavam-Lhe a pergunta: que Filho de Deus sou Eu? A Divindade estava oculta sob o véu da humanidade. O demônio se afastou de Jesus para voltar no tempo oportuno. Isso foi toda sua vida. Sobretudo na hora da morte. Os inimigos (outros demônios), diziam-lhe quando estava na cruz: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27,40). Na medida em que conhecemos Cristo podemos deixar que Ele viva e cresça em nós. Como Cristo cresce em nós? Quando fazemos o que Ele fez. Esse é o chamado aos seus discípulos: “Vinde!” Nossa compreensão de santidade está mais em atos a fazer, do que atitudes a cultivar. As atitudes serão sempre moldadas a partir de sua entrega ao Pai através dos humildes. O tempo da Quaresma nos abre uma reflexão pascal. A Quaresma perdeu essa dimensão e ficou no estilo de seriedade, penitência sem buscar o que é ressuscitar com Cristo. Paulo diz: “Se confessares Jesus como Senhor e no teu coração, creres que Deus o Ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10,9). 
Desarmar as ciladas 
Nesse caminho de tentação podemos estar seguros da presença e proteção de Deus. Sempre pensamos que tudo depende de nós. E nos esquecemos da proteção e amparo de Deus. O povo de Deus se sentia agraciado por tanta libertação e proteção através de admiráveis prodígios. São os mesmos que recebemos em modos diferentes. Deus sempre é para todos. Nesse sentido o salmo reflete o quanto é bom habitar ao abrigo e sombra do altíssimo. Está protegido contra o mal e toda a desgraça. O salmista compara essa proteção com anjos que nos levam pelas mãos para guardar, não tropeçar e passar sobre as feras. Diz Deus: “Ao invocar-me hei de ouvi-lo, e atendê-lo, e a seu lado eu estarei em suas dores”.
Leituras: Deuteronômio26,4-10; Salmo 90;
Romanos 10,8-13; Lucas 4,1-13. 
Ficha nº 2154
Homilia do 1º Domingo da Quaresma (06.03.22) 
1. As três tentações atingem o ser humano em sua realidade total 
2. Nossa compreensão de santidade está mais em atos a fazer, do que atitudes a cultivar. 
3. O salmo reflete o quanto é bom habitar ao abrigo e sombra do altíssimo. 
Diabo sem imaginação 
Só porque é diabo, pensa que pode atacar qualquer um. E justamente quem: Jesus. Além do mais Jesus dá o esquema de colocar o “dito” no seu lugar. Vemos nos Evangelhos quanto aparece a figura do diabo sendo desalojado por Jesus. E ele reconhece: “Tu és o Filho de Deus”. As tentações de Jesus refletem a sábia ignorância do diabo, tentando justamente onde Jesus era o mais fiel: na Palavra, na Adoração ao Pai e na humildade.