sexta-feira, 25 de março de 2022

Nº 2159 Artigo - A Igreja na Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Fé consciente 
A Quaresma que é um tempo voltado para Cristo, passa a ser um tempo de conscientização da Igreja sobre seu próprio mistério. A Igreja só tem sentido se está completamente aberta ao Mistério de Cristo que lhe dá significado e sentido. Ela nasce do lado de Cristo ferido pela lança, e ao mesmo tempo vive do sangue e da água derramados. Acolhendo o mistério da redenção, faz dele seu alimento. Quanto mais unida a Cristo, mais a Igreja se converte e por isso usa esse tempo para a preparação dos batismos e a renovação de seus compromissos. É um itinerário de conversão. Deus atua naqueles que buscam Cristo e os faz Igreja em renovação. Quanto mais se une a Cristo pelo esforço de conversão, mais se torna consciente de sua fé. Porque é difícil se converter, então se procuram elementos secundários que nos distanciam do fundamental. Paulo nos orienta pela consciência de sua condição ao dizer: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Para isso se repete: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). É um despojar contínuo de sair de si e revestir-se do Evangelho. Somos uma página do Evangelho. Assim, Jesus Se torna vivo na comunidade. 
Escuta da Palavra 
Jesus nos dá o primeiro modelo de vivência da Palavra quando o Tentador O assedia no deserto. Seria melhor dizer a tentação, pois naquele momento nos é revelado tudo o que Jesus viveu em sua vida. O texto do Evangelho plastificou a tentação numa cena terrificante. Ali está concentrada toda a vida de Jesus como homem tentado em tudo o que é possível a um ser humano. Pois Ele viveu em tudo a condição humana de homem tentado. Só não nos seguiu no pecado. Nisso Se torna o modelo. Foi tentado no pão, no poder e no prazer. Aqui estão todas as tentações. Jesus oferece, a par disso, todos os instrumentos de vitória. A Palavra nos conduz entre os descalabros do ter. Palavra traz a vida, pois ela sai da boca de Deus. É alimento. A ganância do orgulho é vencido pela humildade: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Não precisamos de outros poderes espetaculares. A ganância do prazer, purificada pela Palavra, nos conduz ao amor de adoração totalmente aberto a Deus: “Só a Ele adorarás”. Jesus é a Palavra, mas é também o ouvinte maior dessa Palavra. O coração do Pai era o livro que Ele lia permanentemente. Conversão não são palavras, mas a Palavra que nos penetra. Ser o que Cristo era diante do Pai. Por isso são Jerônimo diz: “Desconhecer os Evangelhos, é desconhecer a Cristo”. Ouvir a Palavra é ouvir a Cristo. Meditar a Palavra é saborear Cristo. 
Exercícios quaresmais 
Por que a Quaresma se torna o tempo da esmola, da oração e do jejum? Esses três elementos nos levam a realizar as palavras de Jesus ditas ao Tentador. A esmola nos ensina a tirar o prazer de possuir mais que é necessário. A pobreza espiritual é não apegar-se ao inútil possuir. A Palavra é que sustenta. A oração coloca-nos na dimensão poder por estar unido a Deus. Rezar é como sugar continuamente a fonte da vida. É manter-se conectado com a Luz. O prazer que a vida oferece é dom de Deus. Quanto mais, melhor. Melhor quando nos colocamos a serviço. O jejum, no sentido de passar fome pode desviar, quando não pensamos no outro. Os exercícios quaresmais não são somente atos de um calendário, mas deve penetrar todo ao que segue.

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