terça-feira, 28 de abril de 2020

nº 1958 Homilia do 4º Domingo da Páscoa (03.05.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Vida em abundância” 
 Eu sou a porta 
O tempo pascal nos convida a conhecer Jesus. Não basta saber que está no Céu glorioso, mas que continua na terra como Caminho, Verdade e Vida. O próprio Jesus não se define a si mesmo com belas idéias, mas com muitas imagens que, aos poucos, vão dando uma visão de seu ser e missão. É também um meio de compreendê-Lo e perceber como nos relacionar com Ele. O texto de João é rico em simbolismos. Uma dessas boas imagens é a do pastor, como lemos no salmo 22 e na continuação desse evangelho (Jo 10,11), como também, a imagem da porta das ovelhas (Jo 10,7). É através da porta que entramos em um ambiente. É através Dele que se atinge o lugar sagrado como era no templo. Por ela chegamos a Deus. A porta é o pastor das ovelhas. Por Ele se passa e por Ele se chega a Deus. Ser porta é ser o ingresso imediato a Deus. A porta é o único acesso possível ao redil. É um ingresso da casa de Deus. Quem entra pela porta é o pastor. “A esse o porteiro abre, elas escutam e seguem porque conhecem sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora... e caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem porque conhecem sua voz” (Jo 10,3-4). Nota-se o relacionamento de conhecimento existente entre a ovelha e o pastor. Elas o seguem porque conhecem a sua voz. Conhecem e estabelecem com um relacionamento de ovelhas que seguem o pastor, pois conhecem sua voz. Chamar pelo nome significa a permanente convivência de vida, vida de salvação. Estabelece-se um relacionamento que provém do mútuo conhecimento e de convivência. Relação de amor. 
Eu sou o bom pastor 
Chamamos esse domingo do o “Domingo do Bom Pastor”. As diversas orações retomam esse pensamento: “Que o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor” (Oração). O salmo retrata o Bom Pastor que conduz e introduz em belos prados, águas frescas, restaura as forças, guia no caminho seguro, conduz por lugares tenebrosos, prepara uma mesa, unge a cabeça e leva para a casa onde viverá por tempos infinitos. Esse retrato do bom pastor é uma pintura da grande ventura de quem encontrou o Pastor. A pregação dos apóstolos tem vigor que converte. Essa salvação se dá por ouvir um anúncio fundado na experiência pessoal que os apóstolos tiveram em Jesus ressuscitado. O Batismo foi essa água fresca que brotou do lado aberto do Cristo e inundou de fertilidade o campo do mundo. A celebração é o momento de abrir às ovelhas as riquezas conquistadas pela entrega de Cristo por suas ovelhas que “estavam desgarradas, mas que agora voltaram ao Pastor e guarda de suas vidas” (1Pd 2,25). Agora, o povo de Deus, Igreja, pode dizer com o salmo: “Felicidade e todo bem hão de seguir-me, por toda minha vida: na casa do Senhor, habitarei pelos séculos infinitos” (Sl 22). 
Convertei-vos 
O anúncio de Jesus se inicia com uma chamada à conversão: “Convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo” (Mt 4,17). É preciso converter-se para crer em Jesus. No primeiro discurso, no dia de Pentecostes, Pedro diz aos que abriram seu coração e disseram: “Irmãos, o que devemos fazer?” Pedro respondeu: “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2,37-38). A partir dessa conversão e do batismo, reúne-se a primeira comunidade. Jesus completa: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Esse é o fruto da conversão.
Leituras: Atos 2,14ª.36-41;Salmo 22;
1 Pedro 2,20b-25; João 10,1-10 
Ficha nº 1958 - 
Homilia do 4º Domingo da Páscoa (03.05.20) 
1. Chamar pelo nome significa a permanente convivência de vida, vida de salvação. 
2. A celebração é o momento de abrir às ovelhas as riquezas conquistadas por Cristo. 
3. É preciso converter-se para crer em Jesus. 
Bom de música 
Quando dizemos que as ovelhas ouvem sua voz e atendem ao chamado de seu nome, lembra-nos que o pastor sempre tem uma flautinha com uma música particular para se identificar diante do rebanho. Cada ovelha conhece o pastor também pela sua música. Jesus faz essa bela comparação. Para poder segui-lo é preciso ser bom de música. Lemos no Apocalipse que eles cantavam uma música que ninguém podia cantar, a não ser os 144 mil que foram resgatados da terra (Ap 14,3). Esse canto se aprende depois que se passa pela Porta e são conduzidos pelo Pastor.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

nº 1956 - Homilia do 3º Domingo da Páscoa (26.04.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Renovação espiritual” 
 Ressuscitou e apareceu a Simão 
Continuamos no clima do dia da Ressurreição. Os discípulos sentem a tristeza do terrível fim do Mestre. E, de um momento para o outro, a alegria do reencontro. É o que relata Lucas na aparição aos discípulos de Emaús. Depois de abrirem seus olhos, puderam reconhecer Jesus. Com alegria voltam a Jerusalém para dar a notícia. Jesus também ali se manifestara: “Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão” (Lc 24,34). Esse texto de Lucas não é só a descrição de um fato, mas um programa de vida para a comunidade. Dois discípulos estavam em caminho para um povoado chamado Emaus. Conversam sobre os últimos acontecimentos. Jesus os alcança e continua o caminho com eles. Estão tristes. Na conversa com eles ensina a descobrir e entender os acontecimentos a partir da Escritura. Mas, o maior lugar do encontro é momento de partir o pão. A Ressurreição não é somente um fato que interessa aos discípulos, mas ela penetra na vida de todos. Ela continua como processo de vida. Onde vamos encontrar o Ressuscitado? Na fraternidade do caminhar juntos, na abertura aos sinais dos tempos (comentavam sobre os acontecimentos da morte de Jesus), nas palavras da Escritura que nos ensinam a conhecer Jesus e na Eucaristia onde O encontramos. Bela é a expressão dos dois discípulos quando Jesus faz de conta que vai mais adiante: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando” (Lc 24,28). Quando percebemos que a noite chega até nosso coração, Ele está presente. Quando nos aproximamos da Eucaristia, nossos olhos se abrem. 
Nosso coração ardia 
É bela a expressão dos discípulos quando Jesus desaparece do meio deles: “Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32). Podemos ver por aí que a presença de Jesus toca nosso interior. O relacionamento com Deus em Cristo é espiritual, mas não deixa de tocar nossos corações, pois nossa fé e amor habitam nosso corpo e nosso modo de ser. A atração que exerce sobre nós é o sinal “vivo” de sua presença permanente em nosso caminhar. Quanto mais nós O temos, mais poderemos dar o testemunho grandioso que os apóstolos deram no dia de Pentecostes (At 2,14.22-33). Não só pelo fato de ser uma testemunha, mas, sobretudo pela força do Espírito presente neles. Pedro é o primeiro a anunciar a Ressurreição. Ele tinha negado Jesus, mas recebe uma aparição particular. Os apóstolos farão da Ressurreição o conteúdo de seu anúncio. Por que as pessoas acreditaram? Porque o mesmo Espírito que anuncia é o mesmo que leva ao acolhimento da Palavra: Ouvindo a pregação, “sentiram o coração traspassado e perguntaram a Pedro: Irmãos, o que devemos fazer?” Pedro respondeu: ‘Convertei-vos, e seja cada um batizado em nome de Jesus Cristo”’(id 37-38). 
Ensinais o caminho da vida 
Recebemos o mesmo Espírito. Não podemos sentir diferença entre os primeiros discípulos que puderam ver Jesus, e nós. O dom do Espírito e sua ação em nós é a mesma que marcaram os apóstolos. Por isso podemos rezar: “Vós me ensinais vosso caminho para a via; junto de vós, felicidade sem limites” (Sl 15). Esse salmo de certeza da validade da espera é uma leitura dos sentimentos de Jesus em seu momento de paixão e reflete sua sepultura: “Não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção”. E vemos o que nos espera: “Vos me ensinais vosso caminho para a vida, junto a vós felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado” (Sl 15). 
Leituras: Atos 2,14.22-33;Salmo15;1Pd1,17-21;
Lucas 24,13-35. 
Ficha nº1956-Homilia do 3ºDomingo da Páscoa (26.04.20) 
1. Quando nos aproximamos da Eucaristia, nossos olhos se abrem. 
2. Quanto mais nós O temos, mais poderemos dar o testemunho grandioso que os apóstolos deram no dia de Pentecostes. 
3. Recebemos o mesmo Espírito. Não há diferença entre os que viram Jesus, e nós. 
Não era conversa mole 
Dois discípulos iam para Emaús. Conversavam sobre o que acontecera com Jesus naqueles dias de sua Paixão. Comentavam, com muita tristeza. Tudo acabou. Sensação terrível. Conversavam. Era conversa mole, mas triste demais. Aí um estranho chega e entra no assunto. O assunto aumentou. Conversa mole. A conversa pode ser mole, mas é boa. Entrando no assunto, Jesus fortalece o assunto e leva os discípulos a compreenderem o que havia acontecido. É bom a gente ver o bom resultado de uma conversa que parecia ser mole. Agora ela pegou rumo. Quando chegam à hospedaria, Jesus é convidado a permanecer com eles. Ao partir o pão eles O reconheceram. Tantas vezes fizera isso. Estava fixo em seus corações. Ele desaparece. Seus corações se enchem. Que beleza. Voltam a Jerusalém. Na noite... mas com essa lua magnífica, a noite virou dia.

terça-feira, 14 de abril de 2020

nº 1954 - Homilia do 2º Domingo da Páscoa (19.04.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Recebei o Espírito Santo” 
Os pecados serão perdoados 
No dia da Ressurreição, no primeiro dia da semana, Jesus se manifesta aos discípulos pela primeira vez. Temos o primeiro “resultado” dessa grandiosa manifestação de Deus: o Dom do Espírito. Mas não foi em Pentecostes? É tudo um único mistério. João mostra a íntima ligação da missão de Jesus e o Espírito. É o Espírito, dado por Jesus, em seu Mistério de Morte e Ressurreição, que efetuará tudo o que Deus nos ofereceu Nele. É o tempo do Espírito. É bom notar que promoverá a remissão dos pecados. Esse poder que foi dado aos homens. Esse perdão não é somente uma confissão ritual e sem compromissos com a fé, mas é a reconciliação universal. A partir da fé, isto é, da aceitação de Jesus como o Redentor. Aqui temos a narrativa da profissão de fé de Tomé. Estando ausente na primeira aparição de Jesus, não quis acreditar e quer tocar para crer. Na segunda aparição o apóstolo incrédulo é chamado por Jesus para ser fiel. E afirma: “Felizes os que creram sem ter visto”. Pela ação do Espírito, a fé não exige tocar, mas crer, o que age com total realidade. Muito mais que tocar. O toque humano não pode sustentar a fé. Quem sustenta a fé é o Espírito do Ressuscitado. “Esses sinais (milagres) foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,31). A vida do Ressuscitado nos é dada pelo Espírito quando nos abrimos à fé. Crer é aceitar e fazer a vida segundo o ensinamento de Jesus que nos é transmitido interiormente pelo Espírito. 
Guardados para a salvação (1Pd 1,5) 
O Espírito nos é dado em abundância. Dissera Jesus: “Rios de água viva brotarão de seu seio. Ele falava do Espírito Santo que deviam receber os que nele creem” (Jo 7,38). A doação do Espírito age naquele que crê com imensas riquezas: “O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez renascer para uma herança incorruptível... Sem o ter visto, vós o amais. Sem o ver, vós Nele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação” (1Pd 1,3-4.8-9). O Espírito “soprado” sobre os discípulos dá vida ao homem novo, como na criação Deus soprou sobre o barro que se tornou alma vivente (Gn 2,7). Soprando sobre os discípulos no dia da Ressurreição passa o Espírito Santo para a vida nova que recebe do Pai depois de ter passado pela morte. Essa vida nova é o próprio Espírito. Ele nos dá todos os dons. Com Ele nos foram dados todos os dons. Isso nos faz compreender as palavras: “guardados para a salvação”. São dons que salvam. Por isso temos que recusar atitudes mesquinhas usando o Espírito para dons. 
Viviam unidos 
O dom do Espírito constitui a comunidade. Não somos salvos sozinhos, mas em comunhão. Logo a seguir a Pentecostes, com as primeiras conversões, temos a descrição da comunidade. A comunidade é fruto do Espírito que reúne: “Eles se mostram assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). O dom é Divino e espiritual, mas age nas condições humanas. Os apóstolos continuaram como eram, transformados pelo Espírito que receberam. Espírito gera comunhão, pois é nela que encontramos a Palavra Viva, a Eucaristia, o amor fraterno e a comunhão com Deus. Celebrar o segundo domingo somente como uma devoção à misericórdia, pode desvirtuar a riqueza pascal presente nesse domingo.
Leituras: Atos 2,42-47; Salmo 117; 
1 Pedro 1,3-9;Jo 20,19-31.
 Ficha nº 1954 - 
Homilia do 2º Domingo da Páscoa (19.04.20) 
1. Pela ação do Espírito, a fé não exige tocar, mas crer, o que age com total realidade. 2. O Espírito dá vida ao homem novo, como na criação, Deus soprou sobre o barro que se tornou alma vivente. 3. O dom do Espírito constitui a comunidade. 
Cutucar não resolve
A gente quando reza costuma ajuntar as mãos. Tomé é diferente, queria usar só o dedo e uma só mão: “Se eu não puser o dedo na marca dos pregos e a mão no seu lado, não acreditarei”. Jesus quer que ele o toque por inteiro, pela fé. Não sejas incrédulo, mas fiel. Tocar com o dedo é ficar por fora. Crer é tocar por dentro, entrar no buraco dos cravos e dentro do lado onde furou a lança. Somente entrando dentro podemos entender a dimensão completa da fé. Não se crê em pedaços, mas assume-se um corpo, como Ele próprio assumiu ao vir a nós em cada Eucaristia, em cada manifestação do amor fraterno que nos leva até Deus.

terça-feira, 7 de abril de 2020

nº 1952 - Homilia de Páscoa (12.04.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Abristes as portas da Eternidade” 
Vencedor da Morte. 
Retomando a celebração da Vigília Pascal, compreendemos como desde a criação, Deus nos amou e nos ofereceu a participação de sua vida. Ele nos criou para nos elevar à condição de filhos. Na Páscoa de Jesus tudo chegou à sua realização plena. Os textos das leituras mostram o caminho da história da salvação realizada. Passamos pela criação, pelo sacrifício de Isaac, pela passagem do Mar Vermelho, pelas profecias, culminando com o canto do Glória que anuncia a Ressurreição. No evangelho da Ressurreição se proclama de modo solene o Aleluia. Numa grande ação de graças podemos ouvir o anúncio dos anjos às mulheres: “Ele não está aqui, ressuscitou como disse” (Mt 28,5-6). Ao anúncio de Madalena, Pedro e João correm ao túmulo. Vêem as faixas no chão. Pedro viu, João viu e acreditou. Ele está vivo. “Não tinham ainda compreendido a Escritura que Ele deveria ressuscitar” (9). As mulheres foram embalsamar um defunto. A fé nos mostra um Vivo, o vencedor da morte. Isso é fundamental para nossa fé. Jesus não é uma saudade. É uma memória viva que transforma. Ele abre para nós as portas da Eternidade. O homem não está mais sob o poder da morte, mas da vida. Não morremos, passamos para a Vida. Os discípulos, depois de Pentecostes puderam compreender totalmente o sentido dessa morte e dessa vida. A fé na Ressurreição leva ao anúncio que Ele foi constituído como Juiz dos vivos e dos mortos. Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados, disse Pedro na casa de Cornélio (At 10,42-43).
Renovados pelo Espírito 
Ao anunciar Jesus na casa de Cornélio houve efusão do Espírito, como no dia de Pentecostes (At 10,44). No dia da Ressurreição, Jesus aparece aos discípulos lhes confere o Espírito. Esse dom do Espírito está unido ao envio: “Como o Pai me enviou, Eu vos envio. Dizendo isso, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,21-23). O envio supõe a renovação total do discípulo feita pelo Espírito. Cada celebração de nossa fé sempre dá o Espírito. A celebração da Páscoa é já uma convocação do Espírito para que juntos, como Igreja, nos abramos a sua ação. Jesus soprou sobre os apóstolos (Jo 20,22) como Deus “soprara nas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2,7). Não é só um compromisso de prestar culto a Deus, mas um permanente compromisso de Deus de nos dar seu Espírito para a permanente renovação. Não podemos separar Ressurreição de Pentecostes, pois foi para nos dar a Vida que morreu e ressuscitou. É o próprio Espírito que realiza essa transformação em nós, para vivermos o mistério celebrado.
Ressuscitamos para uma vida nova 
Celebrar é também levar a fé à vida. Não é possível celebrar a fé sem que ela corresponda na vida. Por isso Paulo escreve aos Colossenses: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às terrestres” (Cl 3.1-2); aspirar às coisas celestes é justamente viver a mesma caridade que Cristo teve ao se entregar à morte por nós. A caridade é o Céu na terra. Um dia nós seremos revestidos de glória (4). Todo empenho quaresmal é a mudança de mentalidade e de atitudes. Não bastam a fé e as orações. A festa começa aqui na alegria do encontro com o Ressuscitado. Mas continua em nossa ressurreição. “Esse é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos” 
Leituras: Atos 10,34ª.37-43;Salmo 117; 
Colossenses 3,1-4;João 20,1-9 
Ficha nº 1952 - Homilia da Páscoa (12.04.20) 
1. Jesus não é uma saudade. É uma presença viva que transforma. 
2. O envio supõe a renovação total do discípulo feita pelo Espírito. 
3. Não é possível celebrar a fé sem que ela tenha uma correspondência na vida. 
Sumiu 
Lendo as narrativas da Ressurreição, percebemos o alvoroço que deve ter sido. Deve ter havido gente se trombando. Era muito para aqueles simples homens e mulheres. Ver Jesus novamente deve ter sido fascinante. A dor de ver seu sofrimento e agora o susto de ver um defunto que sumiu. E não era mais defunto. Estava vivinho. Imagine os olhos deles sorrindo de alegria e susto. Aquelas almas simples devem ter pirado de satisfação. Como seria bom se a gente entendesse o que é a Ressurreição. Acho que nosso Jesus não saiu da cova, ou pior, sumiu. Isso por nossa opção.

Nº 70 - DOMINGO DE PÁSCOA

Pe Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista. 
“Ressuscitados com Cristo”! 
Chegamos à Páscoa! Foi uma longa caminhada de esforços e procura sincera de rever, reorganizar e repropor os objetivos da vida espiritual. Temos certeza que Deus faz também a parte dele. Como nos identificamos com seu Filho dileto, recebemos dele a mesma paga: somos ressuscitados com Ele. “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com Ele viveremos” (Rm 6,8). Nossa ressurreição é um fato conseqüente de nossa união a Cristo. Como entender nossa ressurreição em relação à ressurreição de Cristo? O que significa ressuscitar? Imaginamos ressurreição no fim dos tempos, quando, depois de mortos voltamos à vida, unindo nossa alma ao nosso corpo (que na realidade terá se dissolvido na sepultura). Este corpo material sofre um processo de transformação espiritual. Temos que levar em conta a questão tempo: Depois da morte não existe mais tempo. Por isso podemos dizer que na eternidade, um milhão de anos e um minuto tem a mesma duração. Já o salmo diz: “Porque mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que passou, e como uma vigília da noite” (Sl 90,4). Essa nossa ressurreição é garantida pela ressurreição de Cristo. Mas o que me incomoda mais é a ressurreição do dia a dia, enquanto estamos vivendo o tempo presente. Para o tempo presente temos duas modalidades de ressurreição, que na realidade é uma só. A primeira é através dos Sacramentos. Dentro da teologia dos mistérios, nós, através dos ritos sacramentais, refazemos o mesmo caminho que Cristo fez em sua Paixão, Morte e Ressurreição. Estes ritos, explicados pela Palavra de Deus fazem o gesto exterior que explica e realiza a realidade divina acontecida em nós. Por exemplo: no batismo somos imersos na graça de Cristo e em sua vida, realizando o gesto da água que é derramada sobre nós. Ela afoga o mal e nos infunde a vida divina. Não é a água, mas o que ela significa. O outro modo de ressuscitar com Cristo é refazer seu caminho de entrega a Deus e morte, com a conseqüente ação do Pai de ressuscitá-lo. Jesus quis explicar seu gesto de entrega a Deus pela morte na cruz através, do lava-pés. O serviço humilde é a expressão mais acabada de todo o projeto de Jesus e o sentido de sua morte: um serviço humilde à humanidade. “Se eu vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Eu dei-vos o exemplo para que, assim como eu fiz, vós façais também” (Jo 13,15). Lavar os pés, significa amar. “Assim como eu fiz, vocês devem fazer. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13,35). Lavar os pés foi símbolo de sua morte e de sua entrega de amor. Assim, na medida em que servimos os outros, estamos lavando seus pés e morrendo com Ele. Deste modo estamos ressuscitados com Ele e ressuscitaremos para a vida eterna.

Nº 66 - DOMINGO DE PÁSCOA

Pe Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Cristo não está aqui, ressuscitou!”
Os judeus saíram do Egito às pressas, de noite, não podendo levar nada, a não ser a massa do pão não fermentada. Puderam compreender que acontecia algo muito grande, mas tiveram toda sua história para ir todos os anos tirando deste fato novos conhecimentos e novas riquezas. Assim, no contexto litúrgico e vivencial desta celebração vivemos o mesmo fato. Jesus, de noite passou da morte para a vida, ressuscitando para uma vida totalmente nova. E deu-nos a participar desta vida. Assim, nós também, todos os anos tiramos deste fato novos conhecimentos e uma vida sempre novos. As leituras do domingo de Páscoa trazem-nos de um modo simples, a narração de um fato tão grande. Madalena vai ao sepulcro. Volta toda apavorada dizendo que tinham levado o corpo de seu Senhor. Pedro e João vão correndo e vêem e creem. Ele não foi tirado, ressuscitou. Ali está o túmulo vazio, estão os panos. São testemunhos, mas a prova é a fé. Ele aparece para eles neste domingo, não como um morto, mas um vivo que se alimenta e entra em diálogo com eles. Justamente isso Pedro dirá no seu primeiro discurso ao povo, no dia de Pentecostes. Pedro faz uma síntese da história de Jesus: “passou entre nós fazendo o bem! Foi morto e agora ressuscitou. Nós o vimos e somos testemunhas destas coisas, nós que comemos e bebemos com Ele depois de sua ressurreição. Isso foi para a remissão dos pecados”. A segunda leitura é muito clara: se vocês acreditam, vivam agora a vida do alto, pois pelo batismo, fostes inseridos em Cristo, mortos com Ele e ressuscitados com Ele. O cristianismo encontra na sua origem uma pedra selada com um defunto perigoso dentro. A força da morte dominara o Senhor da vida. Rompendo a pedra e as portas dos infernos, o Senhor ressuscitado abre o caminho para a vida para todos, pois agora Ele é a vida. Inicialmente não tem explicação para os fatos acontecidos. Pedro e João, as mulheres e os demais apóstolos não conseguem entender o que se passa. Somente o dom da fé, dado pelo Espírito Santo, pode abre suas inteligências à compreensão superior. Assim também é para nós. Não conseguimos entender e nem passar esta verdade para nossa vida. Somente com a fé infundida em nós no Batismo e no cotidiano da vida é que compreendemos esta verdade e a transformamos em vida. Não se trata de saber explicar, mas sim acolher e viver. Nós temos esta fé, pois do contrário não poderíamos de modo nenhum viver a vida cristã nas dificuldades e glórias desta vida. Crendo e celebrando o mistério da Páscoa anualmente e cada dia, nós realizamos em nós este mesmo mistério e podemos receber a Ressurreição que Ele nos oferece. Com a fé no Ressuscitado podemos dizer como Pedro: “somos testemunhas destas coisas”. Desejamos a todos uma boa e santa Páscoa. Que os frutos da Ressurreição permaneçam em sua vida. Cristo está vivo no meio de Nós.

Nº 65 - SÁBADO SANTO

Pe Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Cristo Ressuscitou!” 
A Igreja tem o ponto mais alto de sua vida na celebração da Vigília, onde espera a Ressurreição de seu Senhor, celebrando os sacramentos da iniciação. A densidade de ensinamentos é extremamente grande e bela. Todo o caminho quaresmal conflui para esta noite de vigília. Ali se realizam, na memória do povo de Deus, os maiores mistérios de nossa redenção: passando pela Paixão, Morte e sepultura, Cristo chega à Ressurreição. A comunidade lê as profecias e anuncia a ressurreição do Senhor. Anuncia pela palavra e realiza este mistério em cada um através dos sacramentos pascais da iniciação (Batismo, Crisma e Eucaristia). No mistério dos símbolos sacramentais, entramos no mistério do Cristo que é nossa vida. A cerimônia compõe-se de diversos elementos e símbolos cósmicos: fogo, água, óleo etc… mas o símbolo grande é a comunidade, corpo de Cristo que realiza os gestos sacramentais. Quando é bem celebrada pode dar-nos uma participação maior no mistério. Mas a melhor participação é unir-se ao Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo. Esta nos faz entender as cerimônias e perceber o mistério de Deus agindo em nós. A liturgia nos oferece tradicionalmente uma seleção muito grande de leituras do Antigo Testamento que nos fazem entrar em toda a história da salvação desde a criação, patriarcas, tendo como ponto alto a passagem do mar Vermelho, passando pelos profetas para chegar ano Novo Testamento quando nos é anunciado Cristo nossa Páscoa e proclamado vivo e ressuscitado no evangelho da Vigília. A liturgia tem sempre o aspecto memorial, o que já vem da tradição hebraica. Então se conta a história da maravilhas feitas por Deus a seu povo. O fato de contar a história é uma certeza de que Deus fará novamente aquilo que fez. Fazemos memória para que se repitam. E igualmente participamos como os antigos, nas maravilhas operadas no passado e agora para nós. Narrar é colocar-nos dentro dos fatos e dar-nos a salvação. Estamos celebrando um mistério que nos parece muito distante e muito difícil de ser entendido e praticado. Mas isso não deve nos desanimar nem desesperar, pois por enquanto vemos meio confusamente, depois veremos face a face. Deus age neste mistério como nós vemos proclamado. Não ver, não significa não ter. Não entender não significa não receber. Deus nos entende e isso basta E dá-nos seu mistério. Dá-nos a viver seu mistério de amor e ressurreição realizada em seu Filho. Abre-se para nós, nesta celebração da Ressurreição do Senhor, o caminho da vida cristã. Começamos a ser cristãos, filhos de Deus e membros do povo de Deus no momento do batismo que nos inseriu no Cristo vivo e Ressuscitado. O grande convite da Páscoa é viver a vida do Alto, como Cristo, com Cristo, por Cristo na unidade do Espírito Santo, para a glória do Pai.

Nº64 - SEXTA-FEIRA SANTA

Pe Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo” 
No Tríduo Pascal temos o primeiro dia que é a Celebração da Paixão e Morte do Senhor. É um dia em que não há missa, pois a missa de hoje é aquela do Calvário. Participamos da missa eterna onde Cristo, vítima, altar e sacerdote, se oferece ao Pai pelo mundo de todos os tempos. Ele é o mediador da nova e eterna aliança concluída no seu sangue. Com este sangue lavou todas nossas culpas e em seu corpo, véu do novo santuário, entramos em aliança com Deus. Pagou pelos nossos pecados. Resgatou-nos da dívida e por nos deu perfeita glória ao Pai e completa salvação a todos nós. Na celebração da Sexta feira Santa temos 4 partes: leituras, oração universal, adoração da Cruz, e comunhão eucarística. A Palavra introduz-nos em todo o mistério da Paixão do Senhor para recordar e viver este dom de salvação realizado em Cristo. O profeta Isaias já nos explica quem é este que morre na cruz: é o servo sofredor, homem das dores, desfigurado, carregou nossos sofrimentos, por suas chagas ele nos cura. Deus se agradou de sua oferta e lhe dá a luz. Por Ele somos justificados. Jesus, em todo seu mistério de morte resume sua intenção nas palavras: Pai, nas vossas mãos entrego meu espírito. Grande e santa vontade de Deus que Ele aceita e obedece ao extremo do amor pelo Pai e pelo mundo. A carta aos Hebreus descreve-o como o sacerdote que viveu em tudo nossa condição humana, menos o pecado, e assim se tornou capaz de compadecer-se de nossas dores. Por isso aproximemo-nos com confiança deste trono de graça onde poderemos receber ajuda no tempo oportuno. São palavras ricas de vida, pois nos trazem o amor total de Deus pela humanidade. Deus está morto! Este grito, no entendimento dos evangelistas, fez cair trevas sobre a terra, fender as rochas, e despertar os mortos. Céus e terra se aterrorizam diante de tamanho espetáculo de dor e de amor. Para salvar o servo, Deus não poupa seu Filho predileto e único. Por isso S.Paulo vai dizer: Gregos querem sabedoria, judeus querem milagres! Mas nós pregamos Cristo sacrificado. O que era loucura para os homens é sabedoria de Deus. Somente nele encontramos salvação. No mundo vemos crescer o ateísmo, a maldade, a morte e descrença. Fazemos religiões a nosso gosto, como os pagãos faziam deuses a sua imagem. Os deuses do poder, do prazer e do dinheiro aumentam seus domínios sob os mais diversos nomes, até falsificando a Deus, em nome de Deus. Mas nós, beijando a Cruz reverentemente. Elevamos nossa oração por todas as necessidades do mundo e por todos os homens para que tenham vida tranquila, se convertam e vivam no amor e fraternidade. Recebendo nesta celebração a Eucaristia, reafirmamos nossa fé na morte de Cristo e na sua ressurreição. Celebramos a morte de Cristo com a presença de Cristo Ressuscitado presente no meio de nós. Nada mais nos resta fazer que abraçar sua cruz e caminhar por sua estrada de entrega ao Pai e aos irmãos, unidos à Mãe das Dores.

nº 1951 Artigo - “Quinta-Feira Santa”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Consagra-os na Verdade! 
A celebração memorável da Páscoa do Senhor é o maior momento da vida da comunidade cristã e dela nascem todos os outros momentos os quais se enchem de sentido e significação. Somos agraciados com um sempre maior conhecimento de Cristo e, podemos assim corresponder ao seu amor por uma vida santa (coleta da missa do 1º dom. da Quaresma). Cada cerimônia é memorial e formativa. Jesus continua sua missão através das celebrações. Temos o Tríduo Sacro. É um único Mistério em três momentos: Na Quinta-Feira Santa celebramos a memória da Ceia do Senhor. A seguir a Morte e, depois, a Ressurreição. São muitos os ensinamentos. Realiza em sinais o que vai realizar concretamente. É o momento da participação sacerdotal dos discípulos. É chegada sua hora de passar desse mundo para o Pai. Nesse contexto, o Senhor dá aos discípulos o dom que o Pai lhe dera. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo do amor” (Jo, 13,1). Este amor é manifestado no lava-pés, quando, retiradas as vestes solenes, toma a toalha do escravo. Desvestir-se é um aceno à Paixão (Jo 19,23-24). É uma ruptura com a ceia antiga. Lavar os pés dos discípulos é explicado os termos “ter parte comigo”. Lembramos que Moisés lavou os filhos de Aarão para o sacerdócio (Lv 8,6). Quando Pedro recusa, Jesus lhe diz que, desse modo, não terás parte com Ele. É a fundamentação do “envio ao mundo” (Jo 17,18). Envia porque são consagrados pela Verdade (17). E diz: “Por eles a mim mesmo Me consagro para que sejam consagrados na verdade” (19). Lavar os pés, no serviço humilde, é expressão para ter parte com Ele. 
É Páscoa do Senhor 
A Páscoa “é uma festa memorável em honra do Senhor” (Ex 12,14). Normalmente fazemos a festa para nós. Mas é para o Senhor. Festa é o grande reconhecimento da imensidão de benefícios que recebemos. No caso, o benefício da salvação maravilhosa. Como os judeus e mais ainda nós que cremos, podemos render graças ao Senhor, pois nos libertou com seu sangue, purificando-nos. Dá-nos vida como poupou os primogênitos e protege contra os inimigos que destroem nossa vida cristã. Ela nos coloca em relacionamento com o Deus generoso manifestado em Cristo. Sua vida, morte e ressurreição são transformadas numa festa ao Senhor. É o acolhimento total de sua vontade. Somos agregados a Ele em sua entrega agradecida em sacrifício de agradável odor. Por termos sido adotados como filhos, com a natureza do Filho Jesus, podemos participar de sua Páscoa que é nossa Páscoa. Seu sangue, como o do cordeiro, purifica nossas almas, nossas casas e afasta o inimigo que mente, negando a Verdade que é Cristo. 
Tomai e comei 
A Eucaristia é celebrada desde o início da comunidade cristã (At 2,42). Estava unida a uma refeição. Não era a ceia pascal, pois esta era celebrada uma vez só por ano. Permaneceram no mandato de Jesus de fazer como Ele fez, para proclamar sua morte até que Ele venha. Toda celebração clama pela vinda do Senhor. Quer dizer que não é uma comida especial, mas uma comida que está aberta à vinda do Senhor. Por isso em cada missa dizemos: “Anunciamos, Senhor, sua morte, proclamamos sua vida e buscamos a ceia definitiva no Reino Celeste. Rezamos: “Deus, que hoje nos renovastes pela ceia de vosso Filho, dai-nos ser eternamente saciados na ceia do seu Reino”. Vem Senhor Jesus! Que sua vinda nos ensine a viver o dom que nos destes de ter parte com o Senhor. Cada Eucaristia nos abre ao dom de ter e ser parte com Ele para realizar sua missão.

Nº 63 - QUINTA-FEIRA SANTA

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista. 
“Isso é o meu corpo que é dado por vós” 
Iniciamos com esta celebração da “Ceia do Senhor”, o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, centro do ano litúrgico. Nele Cristo realizou a obra da redenção humana e a perfeita glorificação de Deus. Este Tríduo começa com a celebração da Quinta Feira Santa que lembra a Instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e o mandamento novo do amor. As leituras proclamam a Páscoa histórica do povo hebreu que é ao mesmo tempo profética. Proclama também a Páscoa celebrada e realizada em e por Jesus e a Páscoa celebrada pela Igreja na missa, Eucaristia que fazemos em sua memória, como Êle mandou. O sangue do cordeiro passado nas portas salvou os primogênitos da morte e abriu caminho de libertação da escravidão. Paulo narra o que recebera já por tradição da comunidade. Da páscoa hebraica Jesus fizera um memorial de sua Páscoa de Cruz e Ressurreição. A comunidade compreendeu a mudança de sentido e de conteúdo. Agora quem salva e abre caminho de libertação é Jesus que com seu sangue é o novo cordeiro libertador. Jesus no evangelho dá o sentido de sua Eucaristia e da Páscoa que fará em si mesmo: ao celebrar a ceia lava os pés dos apóstolos. E diz que devem fazer o mesmo. O que Cristo faz em sua morte é um serviço de amor à humanidade. Quando dá o pão e diz isto é meu corpo, dá o vinho e diz isto é meu sangue, diz também fazei em memória de mim. Com estas palavras e exemplo dá o conteúdo de sua Páscoa: um serviço de amor para a redenção de todos. Ele quer que sua memória permaneça ligada ao seu gesto de entrega total ao Pai pela humanidade que pecara. Não é somente uma redenção de pecado e basta, mas um redenção que transforma tudo em amor de serviço humilde aos irmãos. Eucaristia é Páscoa. Páscoa cristã é presença do amor de Jesus que redime e dá vida. Quinta feira Santa, dia da instituição da Eucaristia. Nós celebramos missa todos os dias. Por que não transformamos nosso mundo, se Jesus com uma única eucaristia realizada em seu corpo trouxe a vida ao mundo? Porque ali havia a entrega total do amor. O mandamento do amor é o fundamento da Eucaristia e do sacerdócio. Jesus parte o pão e reparte. No momento em que no mundo houver a partilha do pão para o corpo, aí poderemos celebrar bem a Eucaristia. Se na Eucaristia aprendemos de fato a repartir o pão, o mundo será salvo. Cristo é também presença que permanece: Cada sacrário que tem a presença real de Jesus seja a fonte de nosso amor e nossa dedicação ao amor dos irmãos na adoração ao Amor que sempre nos ama. Agradeço a Deus ser sacerdote e por ter podido amar tanta gente neste meu ministério. Peço que, para viver a Eucaristia, nos esforcemos muito a fim de que todos sejamos fraternos e nos ajudemos a repartir a vida para que o mundo tenha vida. Cada gesto de amor constrói a Páscoa que dura para sempre.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

nº 1950 Homilia do Domingo de Ramos (05.04.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Ramos e cruz” 
 Teu Rei vem a ti 
A grande viagem da vida de Jesus começou em Belém, passou por Nazaré, Galiléia e agora, passando por Betfagé, indo ao Monte das Oliveiras. Pelos profetas sabemos que o Senhor virá por aí no seu terrível dia (Zc 14,4). Ali acontece sua subida aos Céus. A entrada de Jesus na cidade lembra os projetos de Deus sobre o mundo: “Dizei à filha de Sião (Jerusalém): Eis que o teu rei vem a ti, manso e montando num jumento” (Mt 21,5). Rei manso que vai destruir as armas e reunir o povo na paz. A expressão filha de Sião indica a esposa, a futura mãe de muitos filhos, esposa do rei, esposa gloriosa, esposa bendita e feliz. O rei vem pessoalmente. Ele será seu numa aliança nupcial fiel e divina. É o Grande Rei (Sl 47,3) que vem de seu trono celeste para tomar posse de sua cidade (Tomás Frederici). “Não é um rei terrível com armas, mas o maravilho rei pacífico que destrói todos os projetos de guerra”. A jumenta é mansa e está amamentando um jumentinho que acompanha a mãe na entrada solene. É um rei manso e humilde de coração. Os discípulos estendem suas vestes e os ramos para que ele passe. É aclamado como Rei Messiânico. A aclamação tem a conotação de Divindade – Aquele que vem. É nome Divino. Encontra-se presente nesse momento a aclamação do salmo 23,7 “Levantai, portas, vossos frontões, elevai-vos antigos portais, para que entre o Rei da Glória”. A entrada de Jesus em Jerusalém não pode ficar só num fato festoso, mas penetrar todo o mistério do Deus que vem tomar posse de sua cidade para constituir um novo Reino. 
Fez-se escravo 
Após a festa da entrada, a liturgia assume o caráter de séria tristeza. É uma compenetração do mistério sob o prisma da dor da qual participamos pelos nossos sentimentos e atitudes durante a celebração. A leitura da “Paixão” nos leva a buscar os porquês de um momento tão doloroso. Mas é preciso reter firme que o Crucificado é o mesmo Ressuscitado. A Paixão e Morte fazem parte da vida do Messias de Deus. “Ele esvaziou-se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,7-8). A condição de escravo é a condição de todo homem que se deixa escravizar pelo mal. O sofrimento de Jesus não é somente dor física, mas dor espiritual. Sente-se tão unido ao homem que se coloca na condição de separação do Pai que “O abandona”. A primeira morte de Jesus vem em sua condição espiritual que será completada pela sua condição sofredora de homem frágil que assumiu o pecado da humanidade. “Aquele que não conhecera pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por Ele, nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21). Tornar-se pecado pode ser entendido como ser solidário com o gênero humano. O termo pecado significa também ser sacrifício e vítima pelo pecado (Biblia de Jerusalém). Temos que ir além da dor física. 
Não sairei humilhado 
O profeta Isaías, no canto do servo sofredor, proclama a certeza que Jesus carrega todo seu sofrimento: “Conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não serei humilhado” (Is 50,7). Mesmo clamando “Meu Deus, por que me abandonastes” (Sl 21 –Mt 27,46), Jesus mantém a certeza na presença do Pai que O acolhe sempre, arranca um grande brado e entrega sua alma a Deus. Somente o Filho de Deus pode chegar inteiro a esse momento. Ele leva consigo a humanidade que não perde sua esperança. É a semente da Páscoa que germina no Filho e em todos. O mundo não pode apagar essa chama. 
Leituras Mateus 21,1-12;Isaias 50,4-7; Salmo 21; 
Filipenses 2,6-11; Mateus, 27,11-54 
Ficha nº 1950 
- Homilia do Domingo de Ramos (05.04.20) 
1. A entrada de Jesus em Jerusalém não é só festa, mas vem tomar posse de sua cidade. 
2. A leitura da “Paixão” nos leva a buscar os porquês de um momento tão doloroso. 
3. Jesus mantém a certeza na presença do Pai que O acolhe sempre. 
Era mesmo? 
O final do Evangelho de Mateus traz a declaração de fé do oficial que comandara a crucifixão de Jesus: “Ele era mesmo Filho de Deus”. A fé se abre a partir do mal que fizera. Ele cumpria ordens, mas Jesus realizava sua missão. Quem não tinha a fé poderia dizer: “Ele era filho de Deus?”... Tanto que diziam: “Se tu és o Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27,40). É a conversa que o demônio usara nas tentações de Jesus no deserto. Nós podemos ficar com essa dúvida quando vemos as muitas situações que passamos: Se é tão Divino, porque não interfere em nossa vida. Ele pode responder: fui tão Divino que tive a ousadia de ser humano e passar pelo que passei. Podemos, com Jesus,assim passar por nossos problemas sem perder a direção de Deus.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

nº 178 - Homilia do Domingo de Ramos

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Lição de humildade do Filho” 
Introdução 
Domingo de Ramos! O povo, com grande alegria, recebe Jesus que entra na cidade santa, Jerusalém! Ele vem montado em jumentinho. Ele é recebido como o rei prometido por Deus. A Igreja revive esta bela cerimônia neste 6º domingo da Quaresma que se chama Domingo de Ramos. É a introdução à grande semana onde celebramos o Tríduo Pascal: entardecer de Quinta-Feira Santa, Sexta-feira Santa, Sábado Santo e Domingo de Páscoa. O centro é a Vigília Pascal onde são celebrados os sacramentos da iniciação cristã, que realizam em nós tudo aquilo que Cristo nos trouxe com sua morte e ressurreição.
A glória e a Cruz 
O Domingo de Ramos tem duas características: a glória da entrada de Jesus em Jerusalém preanunciando a glória de sua ressurreição e a missa em um clima diferente de seriedade com leitura da Paixão de Jesus. É-nos apresentado Jesus no seu mistério de aniquilação e total despojamento para realizar nossa redenção. Desta celebração levamos para casa um ramo bento que serve, como diz a tradição para espantar temporal. Mas o temporal que ele espanta é o temporal da infidelidade, pois o ramo lembra-nos o compromisso que fizemos de ser fiéis a Cristo. 
Uma palavra diferente: A humildade! 
A oração da missa deste domingo dá-nos uma compreensão do sentido de todas as celebrações desta semana: “Oh Deus, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento de sua paixão e ressuscitar com Ele em sua glória”. A morte de Jesus é uma humilhação a ser aprendida para se chegar à ressurreição. Em que consiste esta humildade do Cristo? É Kénosis, o abaixamento, humilhação de Cristo que se fez servo até à morte e morte de cruz, por isso Deus o exaltou (Fil 2,6-11). A missão de Cristo é a humildade do Pai que se abaixa para estreitar a si o filho ferido pelo pecado. Cristo assume esta carne do pecado e se abaixa até nós na humildade que acolhe. A encarnação de Cristo vai até a sua morte e sepultura numa humildade sempre crescente. Esta humildade é o sentido de sua missão e a atitude constante em seu ministério redentor. Basta ver que para explicar a Eucaristia, faz o lava-pés e diz: “dei-vos o exemplo para que, como eu fiz, também vós o façais” - vocês devem fazer uns aos outros (Jo 13,15). 
Humildade na sua Paixão. 
Para entender a Paixão de Cristo, devemos entender a humildade. Não devemos nos fixar nos sofrimentos ou no sentimental, mas no mistério do Deus que se abaixa para nos elevar. Seu sacrifício não se mede pela dor, mas pela sua humildade que o aniquila totalmente, para que haja uma ressurreição total. Somente quando nos humilhamos para aprender de Deus o caminho da vida é que teremos condições ir ao irmão e de chegar ao máximo que é a ressurreição. O caminho do cristão é romper todo orgulho, acolher o outro e abaixar-se para socorrer os necessitados de comida, saúde e afeto. Dar valor a um humilde é já nossa ressurreição, pois Jesus se humilhou, por isso Deus o ressuscitou. (leituras: M.11,1-10; Isaias 50,4-7; Filipenses 2,6-11; Marcos 15,1-39)

nº 280 - Homilia do Domingo de Ramos

Pe.Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Domingo de Ramos”. 
Se as pedras falassem! 
Era uma festa sem igual: Ele se deixou festejar como rei. Quando fazia milagres mandava que se calassem, não comentassem o fato. Fugiu na multiplicação dos pães para não ser proclamado rei. E agora, Ele mesmo manda que busquem o jumentinho. Os discípulos colocam seus mantos e, Ele, solenemente se encaminha e vai à cidade. É a típica entrada triunfal de um rei que é ungido e assume o poder. O povo grita: “Bendito o que vem em nome do Senhor, glória a Deus no mais alto dos céus”. Ele é aclamado como rei. Dentro do quadro político era um fato extremamente forte. Os fariseus dizem: “Mestre, repreende teus discípulos!”. Ele responde: “Se eles se calarem, as pedras gritarão”. A realeza de Jesus não é de um fato político sujeito às mudanças da história. É um Senhor que domina todos os séculos. Mesmo que todo o mundo se esquecesse dele, as pedras gritariam sua soberania e a necessidade que todos temos dele. “Os céus narram a gloria de Deus e o firmamento a obra de suas mãos”. 
Um rei diferente
A entrada gloriosa de Jesus em Jerusalém contrasta com os fatos que poucos dias depois culminarão com sua paixão e morte. Podemos dizer que aqueles mesmo que o aplaudiram, o condenariam. Mas isso não pode ser verdade, pois não foi o povinho cheio de esperanças que gritou condenando. Podemos encontrar este povo, sim, no dia de Pentecostes acolhendo a vinda do Espírito. O Rei é glorioso não pelas glórias que os chefes se dão, como vemos em nossas autoridades maiores. Sua glória é a cruz, como lemos no evangelho de São João: “Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”(Jo 12,32). Ela é o trono do rei. Tem até coroa, mas de espinhos. Paulo recolhe o hino que encontramos na carta aos Filipenses (Fl 2,6-11). Nele se lê que Jesus, sendo Deus, humilhou-se assumindo a condição de escravo, fazendo-se obediente até à monte e morte de Cruz. Por este serviço, Deus o exaltou e lhe deu a soberania. A diferença está na fundamental atitude de Jesus de abaixar-se e fazer-se servo e sofrer como nos narra Isaias. Podemos contemplar este Servo na sua Paixão. A liturgia do Domingos de Ramos une dois elementos: primeiro apresenta a glória de Cristo e depois a Paixão. A finalidade desta união é apresentar o sentido de sua morte. Humilhar-se ao extremo para que conheçam o serviço que Deus presta à humanidade na pessoa de seu Filho, o Servo Sofredor. Por esta sua humilhação, que assume em nosso lugar, dá-nos o dom de participar da sua glória. 
E aquele ramo bento? 
Na procissão de ramos, costumamos levar para casa um ramo bento. Ali fica espetado em algum crucifixo, ou em cima de guarda-roupas. No primeiro temporal, alguns o jogam ao fogo. É uma piedosa tradição. Que sentido podemos tomar deste gesto? Gostamos das lembranças daquilo que nos é caro. Esta lembrança é o comprometimento com Jesus na sua cruz e na sua soberania. No Apocalipse, seremos marcados por uma cruz (tau = letra t em hebraico) como pertencentes ao reino de Cristo. Somos da sua turma. Temos o compromisso de continuar aquela bela missão de Jesus através de nosso entusiasmo por sua pessoa anunciando a todos quanto é bom conhecer o Senhor, mesmo que tenhamos que passar pela cruz como Ele passou. 
(Leitura: Evangelho da procissão: 
Lucas 19,28-40; Isaias 50,4-7; 
Filipenses 2,6-11; Lc 23,1-40) 
Ficha 
1. A celebração de hoje tem duas partes: a procissão festiva da entrada de Jesus em Jerusalém acolhido pelo povo e criticado pelos fariseus. A outra parte já é mais séria onde entramos em clima mais voltado para a Paixão de Cristo que o conduzirá à glória de sua realeza: rei do amor e da entrega ao extremo pelos seus. Sua realeza, aclamada pelo povo e criticada pelos chefes do povo, não acabará ali, não será sufocada, mas explodirá pelo mundo. 
2. Jesus é rei. Ele é Senhor. A cruz é o trono do rei. Ele é rei diferente. É rei do amor que se faz escravo e obediente até à morte de cruz para manifestar o amor e atrair ao amor. Pelo dom da humildade que o leva à humilhação total, assume nosso lugar e dá-nos o dom de participar de sua glória e de sua vitória. 
3. Levamos o ramo bento para casa para lembrar de nosso compromisso. Somos de sua turma, vestimos sua camisa. Somos marcados com seu sinal, a cruz (o tau, como mostra o Apocalipse). Estamos assim assumindo o compromisso de continuar levando pelo mundo sua presença e seu reino de amor, justiça e paz.