quarta-feira, 30 de junho de 2021

nº 2079 Artigo - Culto dos Santos

Pe. Luiz Carlos d Oliveira 
Redentorista 
Culto dos Mártires 
Deus é o Santo. Jesus é o Santo de Deus. A santidade é o dom de Deus a seu povo (Êx 19,5-6). Santo é um qualificativo do povo de Deus. Já no século II esse nome era dado aos mártires. Na Igreja já celebrava o aniversário de sua deposição (sepultura) e do seu nascimento para o Céu. Recomendava-se a sua intercessão junto ao Senhor. Assim nascia o culto aos mártires, seguido, depois pelo culto dos santos. Notamos que esse culto está unido ao martírio de Jesus. Esse modo de celebrar os santos tem ligação com o culto dos mortos que já está presente na pré-história. Entre os romanos havia o “refrigerium” que era um banquete fúnebre feito junto ao túmulo. Naquilo que não era contra a fé, foi seguido pelos cristãos que deixaram por escrito nas lápides o pensamento cristão sobre a ressurreição. Os cristãos, junto a esses costumes, passaram a celebrar a Eucaristia junto dos túmulos. Sem destruir a cultura passaram a celebrar a morte e a sepultura cristã. Aos mártires era dado o nome de testemunha da fé. Há uma união com Cristo morto e ressuscitado. Lembramos do martírio de Estevão que morre como Cristo, perdoando os inimigos. O culto aos mártires está unido à morte de Cristo. Chegaram à plenitude da vida e são, assim, intercessores. Cada ano comemoravam seu martírio com júbilo e alegria. A Eucaristia era festiva, como testemunham os antigos formulários. 
Culto aos santos 
Os cristãos que foram renomados, permaneceram na lembrança religiosa do povo. Lembramos os apóstolos, os mártires que marcaram por suas vidas e martírios, como Pedro e Paulo, Cipriano, Policarpo de Esmirna, Inácio de Antioquia. O povo soube distinguir entre adoração e veneração. O santo mártir era estímulo a viver a fé. Suas relíquias foram levadas para as basílicas para sua veneração. Os milagres davam credibilidade ao culto. As igrejas se construíam sobre o túmulo de um mártir. No Apocalipse diz: “Vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos pela Palavra”(Ap. 6,9). Não estaria aqui a razão de se colocar relíquias no altar? Ou o Apocalipse recolhe essa tradição? No culto das imagens podemos entender que, como não temos uma relíquia, podemos representá-la por uma imagem. A lembrança de um santo, junto de Jesus e Maria, se torna ritmo e alimento da oração. Vieram depois os calendários, martirológios que se tornam literatura sobre os santos. Como não se havia documentos, criaram-se lendas que eram um tipo de catequese popular. Eram as vidas dos santos. Com o tempo os calendários das festas eram ampliados e depois purificados de acordo com os estudos mais acurados. Depois do Concílio Vaticano II se fez uma reforma do calendário, tirando o que era lendário. 
Pastoral do culto aos santos 
O processo de canonização dos santos procura a segurança ao culto. João Paulo II estimulou as Igrejas a suscitarem os santos locais. O calendário atual faz memória de santos representativos de todas as Igrejas. Cada país pode ter o seu calendário. Pela veneração dos santos somos conduzidos a ir ao Santo que é Jesus Cristo. O santo o é porque foi um imitador de Cristo. Por isso se procurou vê-los como modelo e intercessores valiosos, imagens de Cristo. Depois do Concílio houve uma diminuição da veneração dos santos para centralizar em Cristo. É preciso evangelizar as devoções para tirar do modelo dos santos, como fazer o nosso caminho de santidade. Mas não se pode ter medo do culto dos santos. Por eles se manifesta o poder de Cristo e neles Deus é louvado. https://padreluizcarlos.wordpress.com/

nº 2078 - Homilia do 13º Domingo Comum (27.06.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Levanta-te”
 Dele saia uma força 
Quando em nós brota a energia da fé, de Jesus sai a força que cura a todos. A força de Jesus parece corresponder ao que nos fala o livro da Sabedoria: “Deus não fez a morte, nem tem prazer na destruição dos vivos” (Sb 1,13). Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza. Por isso Jesus não fazia dificuldades em espalhar milagres a todos que O buscavam. Não era por espetáculo mas porque amava as pessoas e queria que se recuperassem para uma vida mais saudável. Era atento para com todos e não criava caso. Manifestava quem Ele era. Ele sabia o que o homem tinha em seu coração (Jo 2,25). Vemos hoje que faz dois milagres unidos, significando o interesse para que os doentes tivessem o alívio e os mortos a vida. Jesus não ressuscitou todos os mortos, não consolou todas as viúvas, não curou todos os doentes. Os que curou, foi para manifestar seu cuidado. Jairo pede a que Jesus vá socorrer sua filha que estava nas últimas. Jesus não questiona, acede e o segue. Quer ajudar a quem sofre. Ficou com pena do sofrimento do Pai. Nesse meio tempo, a mulher que tinha uma grande hemorragia se aproxima Dele. Sua fé não é pedir um milagre. É como que retirar o milagre somente pelo toque. Ela não pediu, creu: “Se ao menos tocar em sua roupa, ficarei curada” (Mc 5,28). Todos queriam tocá-Lo, pois Dele saia uma força que curava a todos (Lc 6,19). 
Deus fez maravilha 
A mulher sentiu a cura que ganhou secretamente. Jesus busca quem O tocou, pois sentia a força sair Dele. É um aspecto que não nos tem interessado: o contato misterioso e silencioso com Jesus é até maior. Jesus segue Jairo até sua casa, mesmo tendo já morrido a menina. As pessoas de sua casa não pedem a ressurreição. Jesus chama essa morte de sono. Lá encontra o povo chorando. Passam ao deboche quando diz que ela dorme. Jesus não sai de sua meta: “Basta que tenhas fé”. Há um jogo de posições: Do pai que crê, de Jesus que mantém sua decisão de dar a vida e das pessoas que não O acolhem. Manda que saiam todos... Não vai responder a sua falta de fé, com um espetáculo. Ficam os que podem dar o testemunho da fé para o futuro. É bonito ver Jesus não exclui o gesto de carinho: “Pega a mão da menina e diz: “Talita cum – menina, levanta-te!”. A morte para Jesus não é um fim. Por isso dizia que dormia. A morte é a do coração. A menina levantou-se. E Jesus dá mais uma lição de carinho: “Mandou dar de comer à menina” (Mc 5,43). Cuida das pessoas. A fé não são ideias, são gestos de amor. Ele não repreendeu a mulher, mas a identificou para dar sua palavra de carinho “Filha, tua fé te salvou, vai em paz e fica curada de tua doença” 
Enriquecer os pobres 
A força curativa de Jesus penetra à vida dos discípulos no sentido do cuidado com os mais necessitados. O cristianismo se desenvolveu bem entre os pobres, pois eram socorridos. Paulo fazia campanhas para ajudar a comunidade de Jerusalém que era muito pobre. As comunidades de Paulo ajudavam até mais do que podiam. Ele estimula os coríntios a assumirem a campanha. E dá como exemplo Jesus Cristo que, sendo rico fez-se pobre para que nos tornássemos ricos por sua pobreza. A encarnação de Jesus foi um empobrecimento que nos enriqueceu. E Paulo diz que, ajudando os pobres, seremos enriquecidos por sua fé. O que encontramos em Jesus ao curar os enfermos, é seu empobrecimento. Sai de sua grandeza para aliviar o sofrimento. 
Leituras: Sabedoria 1,13-15;2,23-24;Salmo 29; 
2 Coríntios 8,7.9.13-15;Marcos 5,21-43. 
Ficha nº 2078
Homilia do 13º Domingo Comum (27.06.21) 
1. Quando em nós brota a energia da fé, de Jesus sai a força que cura a todos. 
2. O contato misterioso e silencioso com Jesus é até maior que a palavra.
3. A força curativa de Jesus penetra a vida dos discípulos no sentido do cuidado com os mais necessitados. 
Pronto Socorro
É bonito ver Jesus curando. O povo ficava doido de alegria. Que bom que podiam suavizar suas dores. Eles corriam a Jesus levando seus doentes. Era grande a alegria. Jesus, a Igreja e seus filhos são sempre aqueles aos quais se podem recorrer nos momentos de dor. Jesus tinha uma energia curativa. Ninguém saia de perto dele sem estar melhor. Penso que, quando envia os discípulos a anunciar a proximidade do Reino, manda fazer curas e até ressuscitar mortos. Faz parte anunciar e realizar. Temos uma energia que pode levar os outros a se recuperarem. Como Jesus podemos acolher as necessidades de todos e dar a segurança, se não de cura, mas de vida. Ninguém fica só quando a dor é compartilhada. Somos curadores de tantos males.

terça-feira, 8 de junho de 2021

nº 2077 Artigo - Celebrações Marianas

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Maria no Ano Litúrgico 
A Igreja celebra o mistério de Maria na liturgia porque ela está indissoluvelmente unida à obra salvífica de seu Filho. Cada tempo litúrgico traz a memória da Mãe de Deus no mistério de Cristo, como Natal, Paixão, Páscoa e Pentecostes. Ela está presente na economia da salvação. Podemos ver que não há o nascimento de Cristo sem sua Mãe. Esteve em Nazaré e em seu ministério. Por que notar a presença de Maria ao pé da Cruz e na vinda do Espírito? Não é uma mera citação. Não sem razão ela está ali. Temos também algumas festas durante o ano previstas pelo calendário e pelas tradições locais. Não somos exagerados. O Rito Etíope tem 38 festas de Nossa Senhora. Não são temas só atuais. Já nos primórdios ela está ali presente, e ali colhemos a viva memória da comunidade cristã. A Palavra de Deus não dispensa o conhecimento do mundo onde ela foi escrita. A memória de Maria está nas muitas referências a sua presença junto de Cristo. Está presente na história da salvação. Temos as celebrações de seus dogmas, como Imaculada Conceição, Virgindade, Mãe de Deus e Assunção. Há celebrações de sua Natividade, Apresentação e Visita a Isabel. Temos diversas festas que têm uma dimensão mundial, como Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora Rainha, N.S. do Rosário, N.S. das Dores. Igualmente celebramos os títulos mais regionais ou devocionais. Cristo é o centro. Mas não sem Maria. Não podemos, contudo, celebrá-la sem o Filho. Há festas devocionais, patrimônios de congregações e espiritualidades. Na realidade, Nossa Senhora está sempre presente. 
Razões desse culto 
No Vaticano II havia um temor de se tirar ou diminuir o culto a Maria na Igreja. Paulo VI desanuviou tudo quando fez a declaração de Maria como Mãe da Igreja no dia 21.11.64, no encerramento da terceira sessão. Houve um prolongadíssimo aplauso. Os alemães e a comissão doutrinal não acharam oportuna. Poderia até ser chamada de Mãe da Igreja dos Pobres. Esses sabem o que é ser mãe. Como Lucas escreve em seu evangelho, temos a certeza da presença de Maria na comunidade como mãe. Já no final do século II, (ano 170 + ou -), Militão de Sardes, bispo, em sua homilia diz: “o cordeiro mudo foi imolado. Ele que nasceu de Maria, a bela ovelhinha”. Alude a sua pureza, como o Cordeiro sem mancha. A oração a Nossa Senhora “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus...” é a mais antiga invocação à Maria. Foi encontrada num papiro no Egito do ano 250. Para chegar a ser uma invocação escrita, deve ter uma longa história. Na catacumba de Priscila, há um afresco (pintura) de Nossa Senhora com o Menino no colo e o profeta Balaão (Nm 23,17). Maria, em seu lugar na Igreja, como Mãe de Deus já é arte. 
Concílio de Êfeso 
O título de Mãe de Deus foi a indicação clara da verdadeira fé em Jesus. O concílio definiu sobre a Divindade de Jesus (Éfeso 431). Se dissesse Mãe de Cristo, estava negando que Jesus fosse Deus. (o jogo de palavras: Theotokos e Cristotokos – Mãe de Deus e Mãe de Cristo). Foi uma glória a proclamação de Maria Mãe de Deus. Esse concílio influenciou no culto à Maria na Igreja, construindo-se logo a belíssima Basílica de Santa Maria Maior (consagrada em 05.08.331). A presença de Maria se faz cada vez maior nas celebrações e na devoção pela Idade Média afora. Paulo VI, em 2 de fevereiro de 1974 dá-nos a belíssima Exortação Apostólica sobre o culto de Maria. Não tenhamos medo de ter uma devoção regulada pelos ensinamentos da Igreja. Mas sempre é a Maria de Nazaré.

nº 2076 - Homilia do 12º Domingo Comum (20.06.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Acima da tempestade”
Por que tendes medo? 
Os evangelhos não são só um livro de memórias de Jesus, com tantos ensinamentos, mas eles são também uma leitura do coração humano. Afinal, Jesus era muito humano. O Divino resplandecia Nele através de sua humanidade. A narrativa de hoje nos leva a perceber nossa realidade tantas vezes tempestuosa. É duro ser humano. É fácil falar do ser humano. Difícil é descrevê-lo em meio a uma tempestade. A leitura do livro de Jó nos mostra que Deus está acima da tempestade e tem o controle de tudo o que criou. O salmo relata como os que viajavam pelos mares, na tempestade, gritaram a Deus e foram ouvidos. Em toda a situação Deus é o eterno libertador de todos os males. O evangelho mostra o desespero dos discípulos no meio de uma feroz tormenta. E Jesus dormia sobre um travesseiro. Essa narrativa é um retrato de nossa vida. Parece-nos muitas vezes que, no pior momento, Jesus está dormindo e nos sentimos sós. Temos o direito de ter medo e nos desesperar. Mas não perder Jesus de vista. Eles gritaram a Jesus: “Mestre, estamos perecendo e Tu não Te importas?” “Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: ‘Silêncio! Cala-te! E houve calmaria”. Jesus os recrimina: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé”? (Mc 4,38-39). Ele nos mostra que a fé, nas tempestades da vida, pode nos ajudar a buscar Jesus. “Ele não dorme nem cochila aquele que te guarda” (Sl 120,4). A falta de confiança pode nos levar a perder o rumo da vida. Jesus está sempre presente. Mesmo que não tenhamos as tempestades acalmadas, Ele está ali, presente sereno. 
Cristo morreu por todos 
“O amor de Cristo nos estimula quando consideramos que um morreu por todos e logo todos morreram”. O sentido do texto “todos morreram” é explicar que vivemos uma vida nova, vida de ressuscitados, pois estamos unidos a Cristo em sua humanidade. Logicamente, ressuscitados com Ele. Por isso, temos um novo modo de vida: Ser ressuscitado com Ele é viver como viveu. “De fato, Cristo morreu por todos, para que os vivos não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por nós morreu e ressuscitou” (2Cor 5,15). “Não conhecemos ninguém conforme a natureza humana”. Não devemos nada à natureza humana ou até pecaminosa, pois fomos libertados em Cristo. Nossa referência direta e permanente é Cristo, modelando nossa vida para Ele e a partir Dele. Acrescenta que, mesmo tendo-O visto como homem, agora O vemos como ressuscitado. “Se alguém está em Cristo é uma nova criatura. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” (id. 16). A vida cristã não se faz a partir da condição humana, mas se realiza na condição divina. 
Agradeçam ao Senhor 
O salmo, depois de tanta tempestade, nos orienta: “Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia”. Ele é a resposta ao mar revolto. Quando Jesus está no barco, podemos ter confiança que Ele não vai deixar o barco afundar. É preciso a paciência na tentação, na dificuldade, na escuridão durante a tempestade. Libertados, somos sempre chamados a agradecer e louvar: “Mas gritaram ao Senhor na aflição, e Ele os libertou daquela angústia. Transformou a tempestade em bonança, e as ondas do oceano se calaram... Agradeçam ao Senhor por seu amor e por suas maravilhas entre os homens” (Sl 106). Jesus se desagradou dos nove leprosos que não vieram agradecer. Agradecer é a melhor forma de celebrar. Pela Redenção fazemos Eucaristia. Agradecemos. 
Leituras: Jo 38,1.88-11;Salmo 106; 
2ª Coríntios 5,14-17; Marcos 4,35-41. 
Ficha nº 2076 
Homilia do 12º Domingo Comum (20.06.21) 
1. A falta de confiança pode nos levar a perder o rumo da vida. 
2. Ser ressuscitado com Ele é viver como viveu. 
3. Agradecer é a melhor forma de celebrar. 
Cadê a bóia? 
No desespero a gente se agarra a qualquer coisa que nos pareça salvação. No meio de uma tempestade uma bóia pode muito bem salvar. Hoje a liturgia está com tempestade pra todo lado. O salmo narra a situação dos que estão nas tempestades no mar. Os discípulos estão naquele sufoco de tempestade. As tempestades do lago de Genesaret são perigosas até hoje. E Jesus dormindo... Já era demais o sufoco e Jesus dormindo... beleza! Eles O acordam bravos: “Mestre, estamos indo para o fundo e tu não te importas?” A calma de Jesus acalma o mar. E não deixa por menos: “Ainda não tendes fé?”. Ter a presença de Jesus é a segurança total. Mesmo se vamos ao fundo, estamos com Ele.

nº 2075 Artigo - “Espiritualidade do Tempo Comum”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Cristo na vida diária 
Espiritualidade nos estimula a viver como cristãos no dia a dia. No Mistério de Cristo, podemos cristificar nossa vida. Toda espiritualidade, se não partir da liturgia, na qual se celebra o mistério de Cristo, pode levar a espiritualismo, não à espiritualidade. Jesus disse: “Fazei isso em memória de mim” (Lc 22,19). Por essa memória eucarística realiza-se em nós a Redenção. A espiritualidade será sempre afinar nossa vida com a vida e missão de Cristo em sua ação salvadora. Ele não se foi, permanece entre nós através de seu Espírito que nos santifica. Santificar-se é ter a vida de Cristo. Para isso, temos os meios deixados por Jesus: Palavra, Eucaristia, fraternidade e orações (At 4,42). A comunidade logo os compreendeu. Assim, Jesus continua sua missão. Viver como bom cristão não é se fechar numa igreja ou se isolar em um grupo. A Palavra nos orienta, a convivência nos torna fraternos, a oração nos une a Deus e Eucaristia nos alimenta, nos põe em relacionamento com Deus. A leitura da Palavra é formação e comunhão com o Deus que fala. Como falou ao povo de Israel, agora pela Igreja fala conosco. Passamos a viver a história como história do Reino de Deus que se realiza e transforma o mundo. A presença de Deus é normal em nosso cotidiano. O povo de Israel tinha, no deserto, a presença de Deus como uma nuvem de dia e como uma coluna de fogo durante a noite (Ex 13,21). Esse sentimento foi mais forte com a presença de Jesus no Sacrário. Podemos dizer que agora “somos sacrários vivos da Eucaristia”. Por nós se faz presente no mundo. 
Igreja, povo em caminho 
O sentimento de ser Igreja nos torna apóstolos, como foram os doze escolhidos, que escolheram outros. Quando Jesus sobe ao Céu, deu só uma ordem: “Ide por todo mundo e fazei discípulos meus todos os povos, ensinando-os a guardar tudo o que vos ensinei” (Mt 28,19-20). O Espírito Santo firmou os ensinamentos de Jesus em seus corações. Eles os passaram aos outros e a nós. Por isso se diz da fé do povo de Deus, como critério de fé. O Papa quer a participação de todos no Sínodo que parte das bases. Mudança grande que reconhece o valor da fé do povo. De uma igreja clerical, onde só o padre sabe, passamos a uma Igreja onde todos procuram juntos o caminho de Deus, dirigidos por seus bispos e padres. A espiritualidade do tempo comum é estar centrado na Palavra e na Eucaristia que conduz à fraternidade e à oração. Não é difícil nem impossível. É cristão. Há muitas maneiras de viver a fé cristã, não podem fazer um caminho paralelo. Devemos partir para o que diz Paulo: “Grande é o mistério da devoção: Cristo Morto e Ressuscitado” (1Tm 3,16). Sentimento é dom, mas não esgota a devoção. 
A Virgem na minha vida 
Para com Maria não se tem “devoção”, e sim, participação em sua presença. Como gerou o Cristo em seu Natal, gera-O agora na Palavra e no Pão. O pão que se faz carne de Cristo. É o mesmo Cristo que foi gerado em Maria. É a continuada gestação de Cristo em seus fiéis. Não podemos dizer que comungamos Maria, mas que o Cristo Eucaristia, Pão da Vida, é o mesmo que Maria gerou. Realizamos assim uma união espiritual com Maria por estarmos unidos a seu Filho. Ela está presente à nossa comunidade, como esteve presente na comunidade dos discípulos. Por isso a invocamos na celebração. Ela está presente em nossas orações da comunidade. E a Ela rezamos nas orações e nas festas As celebrações podem nos ajudar a manter viva o Tempo Comum nossa vida cristã.

nº 2074 - Homilia do 11º Domingo Comum (13.06.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“O Reino cresce”
 A Semente da Vida! 
Jesus inicia sua pregação com o anúncio de algo totalmente novo: “Convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo” (Mt 4,17). Como bom agricultor que era, pois fala da vida das sementes e não das madeiras de sua carpintaria, compara o Reino com a semente delas. Diz: “Mas o agricultor não sabe como isso acontece” (Id 27). Também não sabemos como cresce o Reino de Deus. Por mais que nossas pastorais sejam eficientes, a força interior do Reino de se implantar no mundo, não está em nossas mãos. O crescimento do Reino é muito grande. Mas deve contar com nossa contribuição, “pois o homem lançou a semente à terra” (Id 26). A semente por si mesma tem o crescimento, mas se o homem não a põe na terra, “ela não morre e germina” (Jo 12,24), como diz Jesus, e não produz. No túmulo do faraó Tutancâmon havia trigo que estava ali a 4 mil anos ou mais. Foram semeados e nasceram. Por menor que seja a semente, ela tem toda a vida em si. Uma semente de eucalipto, que é um pozinho, pode chegar a ser uma árvore de grandíssimas alturas. O Reino de Deus pode depender do homem para ser anunciado, como o próprio Jesus o fez. Ele iniciou o anúncio e deixou a nós a missão de ir como fez com seus discípulos naquela experiência de irem dois a dois anunciando: “O Reino de Deus está próximo de vós (Lc 10,1). 
Força interior do Reino 
A história do povo de Israel é compreendida pelo profeta Ezequiel (17,22-24), como uma parábola. Ele usa a imagem da muda tirada de um cedro para ser transplantada para o monte de Israel. Era uma muda tirada do topo, preciosa, bonita e viçosa. E, plantada em Israel, produzirá folhagem e frutos. Ela abrigará os pássaros. Imagem bela para explicar a missão de Israel. Foi escolhido por Deus para ser o “missionário” de Deus para o mundo. Nele nasce o Filho de Deus que vai implantar o Reino definitivo. Reino de beleza e força únicas. Nesse Reino há o “ramo que brota de Jessé... o Espírito do Senhor repousará sobre Ele” (Is 11,1-10). Deus cuidou dessa planta de tal modo que ela foi suficiente para ser o espaço onde nasceu Jesus. E veio para todos os povos. A missão de Israel não foi com finalidade de si mesmo, mas de dar ao mundo o novo ramo que vai ser plantado e produzir frutos para a vida do mundo. Essa missão parece que não foi compreendida. Mas árvore cresceu e abrigou pássaros de todos os povos. Assim cresce o Reino de Deus. O Reino é maior que a Igreja e acolhe filhos de todos os povos. A Igreja promove seu acolhimento por todo o mundo. “Ide por todo mundo, proclamai o evangelho a toda criatura” (Mc 16,5). 
Caminhar na fé 
O salmo 91 nos canta a beleza do justo que cresce como o Reino: “O justo cresce como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano”. E salienta a vitalidade que possuem: “Mesmo no tempo da velhice darão frutos, cheios de seiva e de folhas verdejantes” (Sl 91). O Reino é uma força divina, mas está intimamente ligado aos filhos de Deus que o fazem produzir frutos no mundo. Por isso, por menores que sejam as ações e os gestos em favor do Reino, eles têm grande força divina de crescimento. Tudo o que é feito pelo Reino tem seu efeito muito superior ao que foi produzido. Não podemos ter medo dos pequenos gestos, pois, como a semente, tem em si toda a vida da árvore frondosa do Reino. Cada ação da Igreja em vista do Reino sempre tem o resultado que Deus lhe oferece.
Leituras: Ezequiel 17,22-24; Salmo 91; 
2ª Coríntios 5,6-10;Marcos 4,26-34. 
Ficha nº 2074
Homilia do 11º Domingo Comum(13.06.21) 
1. A semente, por menor que seja, tem toda a vida da árvore em si. 
2. Israel foi escolhido por Deus para ser o porta voz de Deus para o mundo. 
3. Tudo o que é feito pelo Reino tem seu efeito muito superior ao que foi produzido. 
Tamanho não é documento 
Quando vemos algo pequeno e com cara de sem futuro, menosprezamos. Quando vemos uma semente muito pequena, não cremos que dali possa surgir uma árvore frondosa. É o que vemos no Reino de Deus. Sempre é uma “merrequinha” quando se vê. O que valem nossas comunidades. Às vezes um punhadinho de gente. Mas, o que conta não é a casca, mas o grande conteúdo do Reino. Basta ver como a Igreja nasceu em certos países. Um de boa vontade conheceu a Igreja e levou a semente. Hoje são países de muitos cristãos. É o que vemos na evangelização dos apóstolos. Mesmo que tenham feito muito, era um nada no império romano. Onde está o império? E a Igreja cresceu.

nº 2073 Artigo - “Tempo mais que comum”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Todo o Mistério 
Encerramos as festas pascais. Entramos no Tempo Comum. São 34 semanas. Pequena parte delas vem depois do Tempo do Natal e antes da Quaresma. Nesse tempo não temos celebração de um mistério particular de Cristo, mas é celebrado o mistério de Cristo como um todo. É o tempo em que celebramos, sobretudo, a Páscoa Dominical. Cada domingo é dia do Senhor. Primeiro temos o Domingo, a Páscoa Semanal e, só depois, a Páscoa anual. Os pagãos eram excessivamente festivos. A vida cristã, como festa em Cristo, vive-se como um todo, o tempo todo. A sabedoria da Igreja em suas celebrações está em meditar as muitas faces do Evangelho que nos são oferecidas. Nesse tempo celebramos as festas de Nossa Senhora e dos santos. Elas são frutos de Cristo na vida do povo. Maria e os santos são frutos benditos da Redenção. Nesse tempo também nos é dada a possibilidade de um contato maior com a Palavra de Deus no seu todo. Na liturgia se lê 90% da Bíblia, o que não tivemos nas liturgias anteriores. Há um elemento importante que é a santificação das horas do dia, como a manhã e o entardecer. Os mistérios de Cristo são vividos no dia a dia, tendo sempre o cume no Domingo, dia do Senhor. É uma catequese permanente. Santo Agostinho diz que é a Páscoa diária dos cristãos. Cresceu assim o culto dos mártires e as devoções de aplicar à sexta-feira, a Paixão, o sábado à Nossa Senhora e também o memorial da natureza, como eram as Rogações, com a bênção dos campos e das colheitas, elementos que perdemos na liturgia renovada. O mundo mudou.
Formação do povo de Deus 
O Tempo Comum é oportuno para a formação do povo de Deus. Um primeiro elemento é o valor do tempo cristão. Esse tem uma referência ao mistério de Cristo e à história da Salvação. É a grande questão: A celebração está desligada da vida. Por isso, a celebração não chega à vida, nem a vida vai à celebração. O tempo físico, como temos na Liturgia das Horas, encontra sempre seu sentido redentor. Por exemplo: o amanhecer nos traz a memória da Ressurreição, como o entardecer, a Paixão e a instituição da Eucaristia. É notável que a espiritualidade que estamos vivendo busca sua fonte em elementos até suspeitos, ou pouco evangélicos. Na liturgia temos a leitura permanente das Escrituras. A missa diária tem grande força de espiritualidade, não só pelos mistérios de Cristo, mas pela formação permanente que nos é dada. Ao menos, se não for presencial, que seja pessoal. Os santos eram fiéis à sua missa diária, como podemos ver no jovem Beato Carlo Acutis, recentemente beatificado. Ela não é um dever, é um dom. Temos nossas velhinhas de missa diária, tantos anos seguidos. Quanta graça recebida. 
Momento de graça 
A Eucaristia é a Páscoa cotidiana. Tudo o que Cristo fez para nossa redenção e santificação está presente em cada Eucaristia. A Páscoa é eterna não só porque para sempre, uma vez acontecida, mas que está sempre presente, pois é vida de Cristo em nós. O dia do cristão é Páscoa cotidiana. Ela é o alimento que dá vitalidade à monotonia de nossos dias. Não só porque aconteceu uma celebração, mas porque Cristo continua conosco a “concelebrar a vida” como “concelebramos” sua Páscoa em nossa vida. Ainda não fomos capazes de trazer a celebração para a vida, por isso temos dificuldade de levar a vida para a celebração. Podemos resumir dizendo que cada ato cristão é Páscoa. O amor é a Páscoa que fica. Vamos além da celebração.

terça-feira, 1 de junho de 2021

nº 2072 - Homilia do 10ºDomingo do Tempo Comum (06.06.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“No Senhor, toda Graça” 
 Fonte do mal 
Encerramos o Tempo Pascal e retomamos o Tempo Comum. Agora não celebramos um acontecimento da vida de Cristo. E sim, o Cristo em seu mistério e o ser humano no mistério de Cristo. O salmo mostra nossa realidade: “De fundos abismos clamo a Vós, Senhor... No Senhor ponho minha esperança” (Sl 129). Parece que hoje somos colocados diante do problema do Mal. Lemos no texto da queda como o mal penetra no coração das pessoas e leva à rejeição do bem que é Jesus. O que é mais sagrado é pervertido até chegar à impossibilidade do perdão. Somos convocados a refletir sobre o mal. Qual é sua origem? Ele não é um concorrente de Deus, como um deus que destrói o homem. Deus não é o criador do Mal. Como é que surgiu? Parece até que é anterior ao homem. Vem simbolizado na serpente. É claro que isso tudo é uma linguagem para explicar um sentido aos que viviam no tempo do autor sagrado. A narrativa tem o significado no seu conteúdo e não na história. Não se trata de um fato de um tempo, mas de uma realidade que nos persegue. O mal não é senhor do homem. Mas nos cerca. Estamos entre o bem e o mal. Satanás, a serpente atrai. Qual a tentação? Ser igual a Deus. Sendo o homem livre, esse mal está presente ao homem. Deus disse a Caim: “O pecado está à sua porta. Compete a você, dominá-lo” (Gn 4,7). O mal existe, atrai e envolve, levando-nos à cegueira, como os doutores da lei. Dizer que Deus provoca o mal é um pecado que não procura o perdão. 
Olhar o invisível 
Se por um lado há o mistério do mal, por outro, temos o mistério da graça que é Jesus Cristo. Paulo nos ensina que a fragilidade humana não é o fim: “Por isso não desanimemos. Mesmo se nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai se renovando, dia a dia” (2Cor 4,16). O mal não é senhor do homem e da mulher. Podemos escolher o mal. Mas podemos escolher o bem. “Estamos com nossos olhares voltados para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno” (2Cor,4,18-). A dimensão frágil do ser humano, com grande tendência para o mal, tem na graça sua maior força. Nela podemos recompor a vida e nos organizar para viver intensamente o projeto de Deus. O que ocorreu com os doutores da lei, fariseus e outros foi se colocarem iguais a Deus no julgamento das pessoas com a luz do mal. Todos esperavam um Messias, mas que fosse de acordo com seus modelos. Jesus se manifesta com o projeto de tirar todo o poder de satanás que dominava os corações a ponto das pessoas julgarem a Deus atribuindo os poderes de Jesus a poderes do mal. Esse é o pecado contra o Espírito Santo (Mc 3,22). Deus só faz o bem 
Tua mãe e teus irmãos 
No Evangelho de hoje aparece duas vezes a família de Jesus. Jesus apresenta sua família e a família ampliada como lugar de se viver bem no meio da imensidão de males. A família que Deus criou deixou-se invadir pelo mal. Jesus propõe novamente o projeto de Deus para vencer o vivendo a Palavra. Nele podemos criar a nova família que vive o bem. Não exclui seu ser humano. Propõe o novo modo de ser: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3,35). A família é uma proposta de se viver intensamente a vida nova. Ela se forma a partir da escolha que fazemos de rejeitar o mal e procurar o bem que é Jesus, bondade de Deus. 
Leituras: Gênesis 3,9-15; Salmo 129; 
2ª Cor 4,13-18.5,1; Marcos 3,20-35.
Ficha nº 2072
Homilia do 10º Domingo do Tempo Comum(06.06.21) 
1. O mal não é um fato de um tempo, mas uma realidade que nos persegue 
2. A fragilidade do ser humano, com a tendência para o mal, tem na graça sua maior força. 
3. Jesus propõe novamente o projeto de Deus: Viver a Palavra.
Minhoquinha do mal 
Vemos que o mal vai penetrando a realidade. Essa minhoquinha do mal não aduba a terra, mas a torna infrutífera. O mal penetra tudo e tem muita força, exigindo que se lute com muita garra para exterminá-lo. Temos essa esperança de acolher o bem e fazer tudo frutificar. No paraíso terrestre, Eva deixou-se enganar. Dentro dela já havia desejos ambiciosos de meter o nariz aonde não tinha sido convidada. Pior é que, além de fazer o mal, complica a vida dos outros. Aí começa o jogo do empurra. O castigo não é algo de mal que Deus joga em nós, mas escolhas que fazemos e não dão certo. Das coisas ruins podemos tirar coisas boas. Dos males que sofremos, podemos dar um sentido novo à vida e a tudo que nos cerca.