sexta-feira, 31 de março de 2023

DOMINGO DE RAMOS

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
“Bendito o que vem em nome do Senhor”
 
 A liturgia deste domingo tem duas manifestações diferentes: a primeira é a alegria da procissão de Ramos e a segunda é a séria missa de Quaresma. Abrem-se para nós a comemoração dos dias em que o Senhor se entregou à morte. A densidade de ensinamentos destes dias é muito grande. Jerusalém estava cheia de gente que veio para a festa da Páscoa, festa da libertação da escravidão do Egito e festa de toda a salvação que Deus oferecera ao povo. Jesus vem à festa e faz o ingresso triunfal, como o rei prometido, como diz o Profeta Zacarias: “Exulta! Solta gritos de alegria Jerusalém, eis que o teu rei vem a ti, ele é justo e vitorioso, humilde montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho da jumenta" (Za 9,9). Ele é o grande rei, descendente de Davi, o Messias esperado. E o povo entendeu. O povo o acolheu. Depois os chefes o recusarão e matarão. Esta é a primeira parte da celebração. Na segunda parte ouvimos a narrativa de Isaías sobre o servo sofredor. Ele sofre, mas não perde sua confiança em Deus e está pronto a aprender Dele através do sofrimento que passa. Continuando a conhecer Jesus, S.Paulo mostra-nos o caminho de nossa salvação que percorre Jesus: faz-se humilde, servo, toma a forma humana e em tudo se faz como um de nós. Faz-se obediente, como se diz em Isaías. Obediente quer dizer aquele que tem os ouvidos abertos para saber o que Deus quer e seguir seus caminhos. Pelo seu sofrimento é ouvido por Deus e glorificado. Mas Jesus já não está glorificado ao lado do Pai? Sim, mas agora é glorificada nossa humanidade assumida por Ele na condição de fragilidade para restaurá-la e glorificá-la com Ele. Nesta missa temos a leitura da Paixão de Jesus. Ler a Paixão significa aprender, recordar e viver melhor. Não podemos perder de vista a história e os acontecimentos de Nossa Redenção. Proclamar o acontecimento é fazê-lo vivo entre nós e fazer-nos participantes dos frutos deste mistério. É importante contar os fatos acontecidos. Vivemos num mundo que pode ser chamado de ateu, descrente. Os cristãos não ficam atrás. Fazemos um cristianismo a nossa imagem e com a mentalidade do mundo, avessa ao evangelho. A renovação anual da celebração pascal quer trazer à nossa memória o que Deus fez por nós em Cristo. É fundamental que isso se concretize, pois lembrando os fatos, nós podemos retomar a estrada. Sempre as escrituras nos dizem de lembrar as maravilhas que Deus fez. Assim nós nos voltamos para Ele e renovamos nosso coração. Somente uma sugestão: Vamos à procissão de ramos e levamos os ramos para casa. Este gesto simpático significa tomar um atitude de comprometimento com Cristo de ser de seu reino e ser dele. 
Leituras: Mateus 21,1-11; Isaias, 50,4-7; Filipenses 2,6-11; Mateus 27,11-54)

domingo, 26 de março de 2023

A FÉ

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
AO LADO: PADRE JOSÉ OSCAR BRANDÃO(+)
REDENTORISTAS NA PAZ DO SENHOR
Por que falamos que a fé é um pulo no escuro? 
Esta explicação da fé como um salto no escuro não corresponde ao ensinamento da Sagrada Escritura. Fé é um salto sim, mas um salto no seguro. São Paulo diz: “Sei em quem acreditei”. O seguro não significa absoluta clareza, pois a fé está ligada à esperança, uma vez que a carta aos Hebreus confirma: “fé é o modo de já possuir o que se espera, a convicção acerca de realidade que não se veem” (Heb 1,1). A própria carta aos Hebreus no capítulo 11 diz-nos que esta fé foi a vida e o caminho dos patriarcas e, assim, é o nosso caminho. Ela tem as características de ser estímulo a caminhar, de ser meta a se atingir e meio de viver. “Sem ela é impossível ser agradável a Deus, pois aquele que se aproxima de Deus deve crer que Ele existe e que recompensa os que o procuram. Foi nela que Abel ofereceu os frutos foi morto e nela seu sangue ainda fala. Por ela Abraão partiu para uma terra, sem saber para onde ia. Sara teve um filho na sua velhice. Nesta fé Abraão oferece seu filho Isaac em sacrifício. Nesta fé Moisés foi oculto pelos pais para não ser morto. Por ela Moisés tira o povo do Egito e resiste como se visse o invisível. Foi por ela que os líderes do povo, perseguidos, lutando pela libertação, levaram vida errante vestidos de peles, oprimidos e maltratados. Eles, de quem a terra não era digna, vagavam pelos desertos e pelas montanhas, pelas grutas e cavernas da terra”. A fé, mesmo na maior escuridão a fé é visível e dá a direção e segurança no caminho, mesmo doloroso. Nesta caminhada ela se torna uma obra concreta. São Tiago diz que a fé tem que ser acompanhada das obras. Não basta dizer sou católico ou crente, se minhas obras não mostram isso. Ela empenha a vida. Só a fé salva, diz Paulo. Tiago explica que fé significa agir pelas obras. Foi por isso que certos grupos tiraram a carta de Tiago da Bíblia. Entenderam que isso significaria dizer: fé na igreja e fora por minha conta, como eu quero. Ela interfere diretamente na vida através do Evangelho de Jesus. Vencer as tentações da fé é difícil, pois a tentação é suave e gostosa. E pelo fato de ser boa e suave, muitos caem quando chega o momento da crise.

quarta-feira, 22 de março de 2023

A VIDA CRISTÃ

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Como devemos entender a vida cristã? 
Uns falam da prática do bem, outros de evitar o mal. 
Onde estão os fundamentos?
De fato há muita dificuldade de entender onde se localiza a vida cristã. Já nascemos dentro de uma comunidade cristã, muito definida, com uma tradição que é passada naturalmente. Há vantagens, mas alguns noções essenciais acabam por ser prejudicados ou pelo esquecimento, ou porque nos envolvemos com outros dados e obscurecemos partes importantes da Palavra de Deus. Um destes perigos se referem justamente aos fundamentos da vida cristã. No evangelho do domingo passado (Lucas 12,13-21), Jesus fala do perigo das riquezas. E explica que o perigo é ajuntar tesouros para si e não ser rico diante de Deus. Falamos do perigo e não apresentamos a solução fundamental da vida cristã que é ser rico para Deus. Não queremos com isso criar uma mentalidade consumista da vida cristã: vou fazer coisas boas, amontoar rezas, orações e atividades e assim estou bem. Certo que devemos fazer isso também, mas o fundamento está naquela grande riqueza que diz a segunda leitura: (Col 3,3): “Vossa vida está escondida com Cristo em Deus”. O fundamento da vida cristã é estarmos em Deus. Nisto está a riqueza que devemos fazer crescer em tudo o que fizermos. Assim o bem que fazemos não é amontoar produtos espirituais, mas estar ligado à fonte da vida porque estamos unidos à seiva de vida que é Cristo escondido em Deus. Aqui temos que mudar muito nosso modo de conceber a vida cristã. Há muita leviandade em se compreender a vida cristã: ou nos satisfazemos com três ou quatro quireras, ou compreendemos esta vida a partir do lado negativo, isto é do pecado, do mal e do tentador. A leviandade é não se importar com o profundo da vida espiritual. O negativo é só pensar no pecado, no demônio e em sua ação em nós. Temos que fugir dos dois males. E o modo de superar estes perigos é o conhecimento de quem somos nós: pela encarnação e redenção, estamos “misturados” com Deus. Mesmo que eu esteja fora Dele, Ele está dentro em mim. A vida deve ser a partir dele. Daí surge a necessidade de procurar as coisas boas que Deus realiza em mim. E estas logicamente são um tesouro imenso. À medida em que vou me abrindo à esta vida de Deus em mim minhas ações tomam sentido e o mal que há em mim se dilui automaticamente. Cura-se uma planta murcha com a água viva.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

domingo, 19 de março de 2023

OLHOS NOS OLHOS (Recordando Pe. Luiz Carlos)

PADRE RONOALDO PELACHIN
SACERDOTE REDENTORISTA
“Olhos nos olhos
do ser da gente,
olhos nos olhos
do ser da gente”

O estribilho é seu,
das estrofes não me lembro mais,
só me lembro sua graça,
seu sorriso, seu semblante amigo.

Do estribilho eu me lembro
“olhos nos olhos”,
das estrofes não me lembro mais.

Só sei que me fazias
acreditar no amor
no afeto, na amizade,
do Deus meu criador,
quem ama o Redentor,
não tem mau humor,
quem ama o Redentor
não tem mau humor.

“Olhos nos olhos
do ser da gente...

O estribilho é seu,
das estrofes não me lembro mais
só me lembro das histórias,
das piadas que faziam rir.

Do estribilho eu me lembro
“olhos nos olhos”,
das estrofes não me lembro mais
me lembro dos conselhos,
que davas com bondade
com jeito e caridade
por causa do Senhor,
quem ama o Redentor
não tem mau humor,
quem ama o Redentor
não tem mau humor.

“Olhos nos olhos
do ser da gente...

terça-feira, 14 de março de 2023

NOSSA SENHORA DO OLHAR


Virgem Negra,

Pretinha de tempo,

incrustada luzente

no topo dos coqueiros.

Mãe Maria,

Mãe, Senhora preta.

Olhos molhados

Do ver da gente.

São eles olhares cansados

De ver nos olhos,

Olhar distante.

Olhos grandes de esperançosa vida

Vida em corpo quebrado.

(Pe. Luiz Carlos) 23.05.79 

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quarta-feira, 8 de março de 2023

Vida Religiosa CHAMOU OS QUE ELE QUIS

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Vocação ao amor.
 
No Ano Vocacional temos refletido sobre os mais diversos aspectos da vocação. 
Hoje refletimos sobre a VOCAÇÃO RELIGIOSA. 
A partir do Batismo temos sempre diante dos olhos o grande apelo de Deus a uma grandíssima vocação: o amor. No amor nós nos definimos sobre nosso lugar na Igreja. Como cristãos somos vocacionados ao amor. Nosso lugar na Igreja responde à pergunta? Onde posso amar mais e melhor? Sem esta pergunta somos profissionais e não vocacionados. E para responder ao onde vamos amar, temos que olhar para onde olha Jesus. Como Ele, temos diante dos olhos a imensidão dos sofredores. Por isso Ele dizia: “Tenho compaixão deste povo”. A vocação religiosa responder a esta compaixão. Viver como Jesus vivia. Jesus não impõe o modo de segui-lo, mas pede o amor. Os religiosos têm um modo particular de ouvir seu chamado que se caracteriza em segui-lo como Ele viveu. Um casado segue Jesus perfeitamente, mas no casamento. Mas Jesus não foi casado. Alguns recebem o convite de viver como Ele viveu: celibatário, sem bens e na obediência ao Pai. E, para viver este modo tão particular, reúnem-se em comunidade. “Todos tinham um só coração e uma só alma. “”Tinham tudo em comum”. O Papa João II, no documento sobre a Vida Consagrada (n. 22), afirma que a vida religiosa é um vivo memorial do ser e do agir do Cristo vivendo o modo que escolheu para viver. Ela torna presente o amor de Jesus pelos pobres e humilhados. Deus chama os religiosos para amar os que Jesus amava. Quando falamos de vocação religiosa, pensamos nos conventos. Jesus pensava nos sofredores, pobres, humilhados e abandonados. Todos os fundadores procuraram ajudar infelizes. O carisma dado a uma congregação é uma espiritualidade e uma obra pelos necessitados que sustenta esta espiritualidade e dá garantia de fidelidade ao projeto do Espírito Santo. Para realizar este carisma, os religiosos professam a pessoa de Jesus, quer dizer, identificam-se com Ele na sua pessoa e na sua missão. Unidos a Ele, amamos aqueles que ele amava. Seguir Jesus casto, pobre e obediente. O convite que Jesus nos faz de continuá-lo presente no mundo tem um modo: viver do jeito que vivia. Ser celibatário (solteiro) pelo Reino de Deus é dedicar nossa capacidade de amar e ser amado àqueles que nos foram confiados. Ser pobre como Jesus, é não ter nada. Ser pobre, e ter somente o necessário, é estar livre e desimpedido para dedicar-se à missão que nos confiou. Ser obediente como Ele, é colocar nossas energias e vontade a serviço da missão, unindo nossas forças na fraternidade. Unidos numa comunidade, vivemos a presença de Jesus em nosso meio e transformamos nossa vida de fraternidade no primeiro testemunho do evangelho. Neste caminho fazemos nossa trajetória de santidade e damos o testemunho pela vida e pelas obras que realizamos. Claro que nem sempre fazemos o que devíamos. Neste caso perdemos nossa força de evangelização. Pedimos a todos os fiéis que sejam nossos irmãos e nos corrijam quando nos afastamos de nossa missão. Certamente nosso testemunho, às vezes não é entendido, Mas pedimos perdão quando falhamos. Cremos que Jesus nos pode levar a ser sempre mais seus sinais e testemunhas no mundo de hoje.

sábado, 4 de março de 2023

IRMÃO MÁXIMO (RAFAEL) PEREA PINEDO

QUERIA SER PADRE. FICOU IRMÃO COADJUTOR 
Eis aqui outra história de vocação sacerdotal frustrada, embora não tão dolorosa quanto a do irmão Aniceto. Irmão Máximo – nome de religioso, pois na pia batismal recebeu o nome de Rafael – nasceu aos 24 de outubro de 1903, num lugarejo que nem escola tinha, chamado Múrita, na província de Burgos. Seus pais, Sandallo e Saturnina, cristãos fervorosos, deram-lhe piedosa formação religiosa. Desde cedo, Rafael ajudava à missa. Dos nove aos doze anos, morou com seus tios em outro povoado para poder ir à escola. Como no seu povoado, também ali era sempre ele o coroinha, a ninguém cedia o posto. Tempos depois de retornar a Múrita, dois missionários Redentoristas pregaram missão em um povoado vizinho. Padre Aniceto, bom caçador de vocações, convidou-o a ir com eles. Jogou como isca o fato de Rafael já ter no seminário um irmão, Eduardo, e um primo, Daniel. Desde então isso não lhe saiu da cabeça, até que lhe escreveram do El Espino para que se apresentasse. E no dia 13 de setembro de 1915, não cabendo em si de alegria, ingressou no Colégio Nossa Senhora del Espino. Começou os estudos com entusiasmo, mas também com muitas dificuldades. Talento escasso e, além disso, curteza de vista. A alegria e o entusiasmo deram lugar à tristeza quando três anos depois teve de voltar à casa paterna porque não conseguia levar avante os estudos. Novamente em Múrita, já não seria coroinha; subiu ao posto de sacristão, que desempenhou com competência durante um ano. Deixou Múrita e seguiu para Valladolid, com os Irmãos Lasallistas, para terminar o colegial. Estes encantaram-se com o menino e tentaram atraí-lo para ser um deles. Inseguro, Rafael respondeu com evasivas e disse que mais tarde pensaria no assunto. Chegou então o dia da grande alegria da família: a ordenação sacerdotal de Eduardo. Rafael recebeu o convite para a ordenação e para a primeira missa. E no encontro dos dois irmãos, entre eles ficou acordado um novo passo, que ia ser definitivo na vida de Rafael: ele entraria na Congregação Redentorista como irmão coadjutor, já que não podia ser padre. Voltou ao colégio Lasalle, em Valladolid, e logo em seguida chegou-lhe carta de Eduardo comunicando que já estava tudo acertado para sua ida a Nava del Rey. No dia 15 de abril de 1921 deu início a seu Noviciado. Menos de um ano depois, em 26 de fevereiro de 1922, vestiu o hábito redentorista, com o firme propósito de não deixá-lo nunca e de ser fiel a sua vocação até a morte.