segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

nº 1819 Artigo - “Celebração de Maria, Mãe de Deus”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2139. Cheia do Espírito Santo
É fácil rezar: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores”. Quem começou a dizer assim, o fez com naturalidade. São palavras que trazem em si uma grande doutrina sobre como Deus nos salva em Cristo. O evangelista Lucas coloca na boca de Isabel a saudação: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem que a Mãe do meu Senhor me visite” (Lc 1,42-43). Usa a palavra Senhor (Kýrios), que é o mesmo termo usado para designar Deus no Antigo. É a afirmação da Divindade daquele Menino que Maria trazia no seio. Isabel, “cheia do Espírito Santo” (Lc 1,41), a chama de “Mãe do meu Senhor”. Quando diz “cheia do Espírito Santo” está dizendo que esse momento é de grande revelação da Divindade presente na Humanidade de Cristo. Dizer que Maria não pode ser chamada Mãe de Deus, é negar que seu Filho seja Deus, pois sua Humanidade subsiste na união total à Divindade que lhe é própria como Filho de Deus. Maria, fazendo parte da humanidade e trazendo em si a Divindade, participa da intercessão que o Filho faz continuamente diante de Deus (1Jo 2,1). Ela também o faz, pois está unida a Ele pela união de todos no Corpo de Cristo (1Cor 12,27), na missão de ser sua Mãe e de todos seus irmãos renascidos pelo batismo. Lucas, que escreveu pelos anos 80, recolheu seus ensinamentos das testemunhas oculares (Lc 1,2). Colheu um uso já tradicional entre as testemunhas. Quando escreve, já há um modo de ser cristão também em referência à Mãe.
2140. Rogai por nós
         Foi encontrado no Egito em 1927 um papiro dos anos 270, onde está escrita aquela oração tão querida: “À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!...”. Já era uso comum da comunidade chamar Maria de Mãe de Deus. O Concílio de Éfeso ensina que Jesus é Deus. Por isso, Maria pode e deve ser chamada Mãe de Deus porque seu Filho era Deus. Continuaremos rezar com toda a Igreja: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”. Amém. A oração de intercessão é um direito e um dever de todos os fiéis, como escreve Paulo a Timóteo: “Recomendo que se façam pedidos, orações e súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm autoridade...Eis o que é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,1-4). Rezamos uns pelos outros; os santos rezam por nós; nós rezamos pelos vivos e pelos mortos. Somos um único corpo e fazemos muito bem em interceder, pois é a melhor oração. É caridade para com todos.
                                             2141. No cofre do coração
Nessa celebração de início de Ano encontramos Maria e José e o “Menino deitado na manjedoura” (Lc 3,16). É um belo momento de diálogo das coisas de Deus. Maria e José ouvem dos pastores o que os Anjos lhes disseram. Quanto a “Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19). Belo modelo de cristã que leva ao laboratório do coração as coisas de Deus e as transforma em vida. Iniciando um novo ano podemos fazer um projeto de vida tomando o modelo da Mãe de Deus e nossa. Ela nos trouxe a bênção que é Jesus. Ela o fez por geração. Nós podemos ser uma bênção para os outros acolhendo e facilitando sua vida com a amizade, o serviço fraterno, o respeito, o carinho e a dedicação para com todos. Somos um evangelho vivo que transmite as verdades com as atitudes. Com a Mãe de Deus tenhamos um ano abençoado, todo de Deus.

domingo, 23 de dezembro de 2018

nº 1818 - Homilia da Festa da Sagrada Família (30.12.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Jesus, Maria e José” 
Deus os fez um
           Está entranhado em cada coração o desejo de salvar-se, como se dependesse só da pessoa. Mas Deus não pensou assim quando criou o ser humano, como lemos no primeiro capítulo da Bíblia: “Deus criou o homem a sua imagem; à imagem de Deus, Ele o criou, homem e mulher Ele os criou”  (Gn 1,27). A tradução melhor fica assim: Deus fez o homem (a humanidade). Macho e fêmea os criou. O capítulo 2º descreve a criação do homem e da mulher de um modo diferente, enriquecendo o primeiro capítulo. São textos de época diferente. O que se nota é a unidade fundamental do ser humano feita na complementaridade. Completam-se em todos os aspectos: físicos, psicológicos, espirituais afetivos e tantos mais. Por isso, celebrando a festa da Sagrada Família, lembramos que Deus, para enviar seu Filho ao mundo, quis que o mistério da salvação se realizasse a partir da família. Embora Jesus não seja filho de José segundo a carne, o é segundo o projeto de Deus. Ser família não é um ato social de acordo com as culturas. Também, mas em primeiro lugar é um momento espiritual fundamental para o ser humano no caminho para Deus. Por isso, as virtudes familiares são decorrência dessa unidade primeira. Não diz que para ser família temos que ser bons, mas porque sendo família, temos necessariamente que deixar que elas, as virtudes, floresçam em nós. A família também foi invadida pelo mal do pecado original e tem que procurar, com a fé em Jesus, recuperar sua grandeza.
Família que acolhe
           Como tudo em Deus é misericórdia e amor, as virtudes familiares tendem sempre ao acolhimento. São virtudes que nascem do amor muito concreto na frágil condição humana. Paulo tem certeza que seus fiéis, praticando-as, realizam o evangelho que é a vida da comunidade. Se a família vai bem, a comunidade se sustenta melhor. O amor não é algo poético ou só espiritual. É concreto e toca a carne. Em primeiro lugar o quarto mandamento lembra a obrigação de honrar pai e mãe. Esse mandamento tem a garantia de que sua oração será atendida e garante o perdão dos pecados. Às vezes dizemos que Deus não escuta nossas orações. Mas olhe primeiro como você trata seus pais. Depois faça suas orações com certeza que será escutado. O cuidado com os idosos deve ir até seu momento mais difícil. “A caridade com teu pai não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados, na justiça, será para tua edificação” (Eclo 3,15-17). Há todo um modo bonito e frutuoso no relacionamento entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre filhos e pais. Não existe casamento que não dê certo. Basta vivê-lo na maturidade da fé cheia de humanidade.
Quatro estacas
           Paulo, na carta aos Colossenses, nos dá quatro estacas para firmar nossa família: misericórdia, perdão, amor e paz. Com esses pilares e estacas, poderemos firmar nossas famílias. Da misericórdia nascem os demais sentimentos pois ela envolve o ser humano completo no relacionamento. Daí temos a capacidade de perdoar, pois não vamos aos outros de mãos fechadas. Assim podemos amar e viveremos na paz. É muito bom celebrar a festa da Sagrada Família, Jesus, Maria e José. Como nós, eles viveram essas qualidades. Puderam levar adiante a missão que Deus lhes dera preparar o Filho para sua missão.
Leituras: Eclesiástico 3,3-7.14-17;Salmo 127; Colossenses 3,12-21; Lucas 2,41-52.
Ficha nº 1818 - Homilia da festa da Sagrada Família (30.12.18)

1. O ser humano, na sua criação determina o modo de se viver.
2. O acolhimento é a condição primeira para se viver em família com garantia do céu.
3. Há quatro estacas para viver bem na família: misericórdia, perdão, amor e paz

                   Endereço certo

       É misterioso para nós essa história de Jesus se encarnar e viver numa família. Não foi de mentirinha, um fazer de contas, uma tapeação, o que não condiz com a sinceridade de Jesus. Tudo que o Evangelho nos diz vem da experiência imediata dos primeiros discípulos. Assim notamos a importância da família para a fé cristã, pois foi este o caminho escolhido por Deus. 
       A celebração da Sagrada Família não pretende ensinar a ser família, mas que é o caminho que Deus escolheu para chegar à vida. As virtudes e os compromissos de uma família não são como que um treinamento para ser bom. Eles nascem da família e se desenvolvem para seu bem. 
       Casar é crer que estamos no caminho de Deus.

nº 1817 Artigo - “Natal sempre presente”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2136. Hoje nasceu o Salvador
            “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1). O nascimento de Jesus passa despercebido pelo mundo, mas muito sentido pelo Universo que brilha com todas as suas luzes. Isaias, o profeta, narrando a libertação dos oprimidos, relata a alegria dessa libertação com comparações vividas pelo povo. É como a festa de uma colheita bem sucedida. É a alegria da libertação das mãos dos opressores. Tudo isso é garantido pelo nascimento de um menino cheio das graças de Deus. Ele terá grande e eterno futuro (Is 9,1-6). Os anúncios dos profetas falam de luz. A própria oração da missa assim nos faz rezar: “Ó Deus que fizestes resplandecer esta noite com a claridade da verdadeira luz...”. Certamente temos consciência que a festa iluminada não corresponde às luzes e belezas que possamos fazer. Participamos da alegria e da luz de Deus. Deus não age para conosco com dó, mas com participação de sua vida e sua glória. A liturgia do dia faz o anúncio do nascimento de Jesus: “Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. A alegria é universal: “Cantai ao Senhor, ó terra inteira!”. “O céu se rejubile exulte a terra, aplauda o mar com tudo o que vive em suas águas. Os campos com seus frutos rejubilem e exultem as florestas e as matas” (Sl 95). O movimento desencadeado com nascimento de Jesus é espiritual, mas envolve a todos. Tudo é Dele e para Ele (Rm 11,36). A consciência do mistério nos leva a compreender que o modo de Deus se manifestar usando nossa própria natureza unida à sua, tem consequências para o mundo e o universo de todos os tempos. Deus não é oculto em seu mistério. Ele se manifestou para nos levar a participar de sua vida e alegria.
2137. Glória a Deus
            Os Céus e todos os seres espirituais cantam de alegria quando o Anjo anuncia aos pastores do nascimento de Jesus em Belém. “De repente juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam e louvavam a Deus dizendo: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,13-14). O Universo celeste se manifesta no grande louvor. O nascimento em Belém tem a obscuridade da condição humana, mas tem a beleza de uma festa de Deus. Ele escolheu o caminho da simplicidade pois, para Deus, a palha ou o ouro têm o mesmo valor. As condições de riqueza não lhe interessam. O que manifesta sua glória é a felicidade que o momento contém. Não somos nós a dar critérios para as manifestações de Deus que quer manifestar e mostrar sua benignidade e seu amor. Este será o caminho do Redentor que acaba de nascer. É um profundo mistério dizer que Deus tomou a natureza humana e foi conhecido como homem que dá a todos a condição de chegar a Deus. E Paulo comenta em sua carta: “A graça de Deus se manifestou trazendo a Salvação para todos os homens” (Tt 2,11). 
2138. Nós vimos sua Glória
            Meditar sobre o nascimento de Jesus não é somente admirar a candura e a beleza de uma cena que nos toca o coração. É parar diante do Mistério do Deus que vem fazer parte da nossa humanidade para que ela passe a ter comunhão com Ele. O Verbo Eterno de Deus é sua Palavra Encarnada. Deus vem fazer parte da humanidade. O Menino que nasce em Belém é a expressão Divina da misericórdia do Deus que quer unir todos a si, resgatando da maldade para purificar para Si um povo que lhe pertença. “Nós vimos sua glória, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). Deus se oferece e espera que tenhamos uma vida que nos leve ao eterno convívio.  Conhecer a glória de Deus é manifestá-la em nossas atitudes.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

nº 1816 Homilia do 4º Domingo do Advento (23.12.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Vim fazer vossa vontade” 
Deus visita seu povo
Maria visita a Isabel não somente por uma questão familiar, mas sim pelo reconhecimento da visita de Deus o seu povo. Zacarias proclama em alta voz: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel que visitou o seu povo e o libertou” (Lc 1,68). Isabel reconhece em Maria essa visita: “Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,43). Quando Jesus fazia os milagres o povo reconhecia Nele, por sua ação, uma visita de Deus. Jesus reconhece, na linguagem da Carta aos Hebreus, que sua vinda é a realização da vontade salvífica de Deus. A visita de Deus é para libertação. Isabel diz que Maria é a expressão do acolhimento de Deus: “Bem aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (id. 43). Estando já a caminho do Natal, o salmo nos convida a contemplar as situações difíceis pelas quais passam o mundo e o homem criados por Deus.  Por isso suplica: “Voltai-vos para nós, Deus do universo. Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha; protegei-a e ao rebento que firmastes” (Sl 79). A celebração memorial do Natal nos traz o clamor da terra e da gente sofrida, como também a resposta de Deus dando seu Filho. Ele sempre vem e nasce, não só em uma lembrança, mas através das atitudes dos que creram. Esses continuam a visita de Deus quando “visitam,” as necessidades dos pobres pastores do mundo atual. Que não seja só um gesto natalino. Já é belo. É bom que essas atitudes sejam permanentes para manter vivo o Natal de Jesus.
Formastes-me um corpo
           Cristo nos redimiu assumindo uma carne semelhante à nossa. De Maria nasceu o Salvador. Em tudo foi igual a nós, menos no pecado (Hb 4,15). O corpo do homem e da mulher, feitos pelas mãos do Pai, foi a habitação do Verbo Eterno que se encarnou. Essa tenda frágil foi alargada (Is 52,2) para acolher o “mais belo dos filhos dos homens” (Sl 4,43). Participando de nossa natureza, cumpriu por nós a obediência ao Pai, pois veio para fazer sua vontade... É graças a essa vontade que somos santificados (Hb 10,8). O sacrifício de Cristo é mais profundo que o sofrimento de seus ferimentos. Ele atinge sua vontade e todo seu ser. É nela que obedece e é capaz de nos santificar. O sacrifício da vontade está unido à sua disposição de se encarnar por desígnio de seu Pai. Uma evangelização consistente exige tomar a carne do povo, viver sua situação e partilhar seus sofrimento e esperanças.  Quando falta essa disposição, nossa linguagem não o atinge. Quando carregarmos com ele sua cruz, aí sim, podemos anunciar. Toda a pastoral que se afasta do homem sofrido, desvia-se da vontade de Deus, por mais belas que sejam nossas vestes e nossas palavras.
Cheguemos à gloria da Ressurreição
           O mistério de Cristo é único e se manifesta de muitos modos. Em todas suas manifestações estão presentes todos os mistérios que se resumem em um, como rezamos: “para que, conhecendo pelo Anjo a encarnação de vosso Filho, cheguemos, por sua Paixão e Cruz, à glória da Ressurreição”. É um caminho oracional, mas é também o caminho do seguimento de Cristo. “Onde Eu estiver aí estará meu servo” (Jo 12,26). Participamos do mistério de Cristo quando nos dispomos a fazer a vontade do Pai. Nessa vontade acolhemos a santificação. No Natal não há só a beleza da Encarnação, mas já possui o brilho da Ressurreição. Preparemos a festa. A festa do Natal nos ensina que o Mistério da Encarnação se desabrocha na Ressurreição e Glorificação. Glória a Deus nas alturas.
Leituras: Miquéias 5,14ª; Salmo 79; Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-45
Ficha nº 1816 - Homilia do 4º Domingo do Advento (23.12.18)

1. A visita de Deus é para a libertação.
2. Evangelizar é tomar a carne do povo e partilhar seus sofrimentos e esperanças.
3. Participamos do mistério de Cristo quando nos dispomos a fazer a vontade do Pai.

Conversa de comadres

     Na casa de José está um agito danado: Prepara-se uma viagem urgente. Vão para Hebron. É longe. Haja jumento! E para lá partem, José e Maria. Certamente se unem a alguma caravana. Era perigoso. Maria vai visitar sua prima Isabel que, já idosa e estéril estava grávida e no sexto mês.
Normalmente pensamos que era um assunto delas. Preciso ajudar. Vai dar trabalho. E vão para ficar três meses. Não precisava pressa para voltar. Ao chegar já explode a alegria, não de comadres que há tempo não se viam, mas a alegria da salvação. Uma feliz por ter sido tirada da maldição de ser estéril e não ser mãe e a outra, grávida do Espírito Santo e traz no seio, nada menos o Filho Eterno do Pai. A coisa era fina! As duas proclamam as maravilhas de Deus. Maria e Isabel reconhecem a visita de Deus a seu povo. A visita veio para ficar.

nº 1815 Artigo - “Se perseguiram a mim...”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2133. Contra a corrente
Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu(Mt 5,11) O Papa Francisco toma a promessa dessa bem-aventurança para dar nome a sua Exortação Apostólica: Gaudete et Exultate – Alegrai-vos e exultai, pois grande será a vossa recompensa no Reino dos Céus. Ressalta claramente que viver o Evangelho já é participar da Cruz de Cristo. “O próprio Jesus sublinha que este caminho vai contra a corrente, a ponto de nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com vida, pessoas que incomodam” (GE 90). Notemos que Jesus não fala da morte por Ele, mas da perseguição por causa da justiça. A morte por Cristo é a maior prova de amor, pois é dar até a vida, não só dedicar a vida. Podemos observar que não ser cristão não incomoda ninguém. Ser cristão é um toque na consciência exigindo conversão. Por isso querem varrer esse nome da terra. O Papa continua explicando que “há pessoas que são perseguidas por terem lutado pela justiça. É uma exigência da fé cristã que não admite mediocridade. É preciso entregar a vida pelo Evangelho: “Quem quiser salvar sua vida, vai perdê-la” (Mt 16,25).  Já se diz que não é fácil ser cristão. “Numa tal sociedade alienada, enredada numa trama política, mediática, econômica, cultural e mesmo religiosa, que estorva o autêntico desenvolvimento humano e social, torna-se difícil viver as bem-aventuranças, podendo até a sua vivência ser mal vista, suspeita, ridicularizada (GE 91).
2134. Sofrimento pelo Evangelho
A vida cristã não oferece tranquilidade e sossego. “A cruz, especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, é fonte de amadurecimento e de santificação. Lembremo-nos disto: quando o Novo Testamento fala dos sofrimentos que é preciso suportar pelo Evangelho, refere-se precisamente às perseguições” (GE 92). Viver o Evangelho e fazer o bem, constitui sempre um motivo de atrair sobre si a aversão de muitos. Como diz o salmo, sua vida é uma acusação aos seus procedimentos. Sentem-se acusados pela boa vivência. É estranho que dentro da Igreja, entre os companheiros de vida religiosa, haja pessoas que chamamos de santos, terem procedimentos negativos a respeito de quem faz o bem. O santo é uma pessoa normal. O Papa Francisco afirma: “Um santo não é uma pessoa excêntrica, distante, que se torna insuportável pela sua vaidade, negativismo e ressentimento. Não eram assim os Apóstolos de Cristo. O livro dos Atos atesta com insistência, ‘que eles gozavam da simpatia de todo o povo”’ (At 2,47), enquanto algumas autoridades os assediavam e perseguiam (At 4,1-3; 5,17-18) (GE 93). Será sempre difícil fazer o bem.
2135. Morrendo por Cristo
Constatamos “que as perseguições não são uma realidade do passado, porque hoje também as sofremos, até de forma cruenta, como tantos mártires contemporâneos”. Há muita morte de cristãos pelo mundo, sobretudo onde há fundamentalismo islâmico ou indu. Mas há também a perseguição que quer destruir a doutrina e a moral cristã. Jesus diz que haverá felicidade, quando, ‘mentindo, disserem todo o gênero de calúnias contra vós, por minha causa”’ (Mt 5, 11). Outras vezes, tratam-se de zombarias que tentam desfigurar a nossa fé e fazer-nos passar por pessoas ridículas. Abraçar diariamente o caminho do Evangelho, mesmo que nos acarrete problemas: isto é. santidade (GE 94).

domingo, 2 de dezembro de 2018

nº 1814 Homilia do 3º do Domingo do Advento (16.12.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Alegrai-vos!” 
A alegria renasce na conversão
           A celebração do 3º domingo do Advento reflete uma alegria muito forte. Quando estamos na noite esperando o dia amanhecer sentimos uma profunda alegria quando vemos os primeiros raios do sol. Eles anunciam que o dia está se aproximando. Por isso tem uma característica de alegria. Esperando as alegrias da salvação, a aproximação do Natal é como essa aurora. Paulo escreve na carta aos Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor; Eu repito, alegrai-vos” (Fl 4,4). O salmo continua esse pensamento; “Exultai cantando alegres habitantes de Sião, porque é grande em vosso meio o Deus Santo de Israel” (Ct. Is 12,2). Não se trata de uma alegria só de sentimentos, mas é como uma água abundante: “Com alegria bebereis no manancial da salvação e direis naquele dia: ‘Dai louvores ao Senhor’” (Ct. Is. 12,3.5). É a alegria de viver a liberdade que nos veio da ação de Deus que revogou a sentença de nossa condenação. A alegria nasce da conversão. Todos os que iam ouvir as palavras de João Batista buscavam um caminho de conversão. A pregação da conversão tocava todas as classes. João mostrava que a conversão se faz onde estão as pessoas. Os cobradores continuem cobradores, mas não explorando as pessoas; aos soldados ensina a não ser violentos. A todos ensina a partilha que gera a alegria. A pessoa convertida modifica o seu ambiente. É um bom modelo para a pastoral que tende converter as pessoas mais para um estilo de vida do que para Deus. Nada de nivelar.
Deus está no meio de ti
O Deus que liberta não é um estranho ao nosso mundo, mas está no meio de nós: “O Senhor teu Deus, está no meio de ti, como valente guerreiro que te salva; Ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti entre louvores, como nos dias de festa” (Sf 3,15,17-18). A alegria nasce de Deus e penetra profundamente no coração humano. Ela não passa, pois Deus não passa. Essa alegria dá garantia de sua presença: “O Senhor está no meio de ti, nunca mais temerás o mal” (Id 15).  Percebemos assim quando rezamos o salmo 22: “Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei; Estás comigo. Teu bastão e teu cajado me dão a segurança” (Sl 22,4). João não se põe como Messias, mas como aquele que vive intensamente. João diz que batiza com água. Permanece no nível exterior, mas, o Messias vai batizar com o Espírito Santo e o fogo. Este purifica e o Espírito dá vida. O projeto de Jesus não é social ou só espiritual. É uma ação transformadora partilhando da redenção que Jesus veio trazer. Se minha fé não me leva aos irmãos, errei o caminho. “Quem ama a Deus, ame também seu irmão” (1Jo 4,21). A presença de Deus gera o amor.
Celebrar com júbilo
A oração da missa convida a celebrar a salvação com júbilo na solene liturgia. Infelizmente ficamos no exterior. Até S. Francisco não havia o presépio que tanto nos atrai. A celebração era o Presépio Vivo, isto é, a Encarnação celebrada como Eucaristia. Essa alegria sustentou a comunidade durante tantos séculos. Certamente dizemos que o Natal virou comércio. Podemos recuperar o sentido da Encarnação sem deixar a ternura do Natal e a beleza de suas luzes. O Advento está proposto como preparação para essa celebração na qual vivemos o mistério do Nascimento. É preciso fazer o presépio do coração no qual nos sentimos unidos na carne com o Filho de Deus Encarnado. Estamos distantes de perceber a intensidade desse mistério
Leituras: Sofonias 3,14-18ª; Cântico Isaias 12,2-6; Filipenses 4,4-7; Lucas 3,10-18.  
Ficha: nº 1814 - Homilia do 3º do Domingo do Advento (16.12.18)

1.      O 3º Domingo do Advento é o domingo da alegria pela proximidade da salvação.
2.      O projeto de Jesus é uma ação transformadora partilhando da redenção.
3. É preciso fazer o presépio do coração. Nele estamos unidos com o Filho de Deus.

                        A festa grande está chegando

            A liturgia do terceiro domingo é um convite para uma festa que já está perto. É um domingo com cara de manhã colorida, pois já é um aperitivo do Natal. Dizem que o bom da festa é a preparação. Pois estão aí os meios para a preparação.
            João Batista dá o recado certo: Cada um em sua condição pessoal, em seu trabalho e profissão pode muito bem se converter e continuar a fazer tantas coisas boas com um endereço novo.

sábado, 1 de dezembro de 2018

nº 1813 Artigo - “Promotores da paz”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2130. Provocando guerras
Em sua Exortação Apostólica o Papa Francisco se dedica, agora, à bem-aventurança da paz. “Felizes os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). “Esta bem-aventurança faz-nos pensar nas numerosas situações de guerra que perduram”, diz ele. Mas as guerras grandes continuam e nós promovemos as guerras pequenas que destroem os ambientes, a convivência e matam tantas esperanças. Somadas essas briguinhas, dá uma guerra mundial. Da nossa parte é muito comum sermos causa de conflitos ou, pelo menos, de incompreensões (GE 87). Como sabemos, o Papa é inimigo da fofoca, da maledicência, da murmuração, sobretudo na Igreja. Quando lemos seus escritos tão simples, mostra que quer vida e não teorias. Sabemos como pessoas têm prazer em causar confusão destruindo a paz. As grandes guerras vão se formando de pequenas coisas, provocações, desentendimentos propositais etc... Os interesses são maiores que os argumentos. É um pequeno fósforo que ateia um grande incêndio. Mas sabemos que o ambiente já era propício. Para um campo seco, basta uma fagulha. Nós temos facilidade de levar aos outros o que nos disseram e, com aumento do assunto e com acréscimo.  Não podemos pensar nas grandes guerras. Essas nascem de pequenos conflitos e choques de interesses. A ganância é exageradamente grande. Por que sacrificar um povo com tantas mortes, sobretudo de inocentes, quando eles não têm a ver com os interesses dos grandes? 
2131. Construtores da paz
Diz o Papa Francisco: “Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Àqueles que cuidam de semear a paz, Jesus faz-lhes uma promessa maravilhosa: ‘serão chamados filhos de Deus’” (Mt 5,9). Percebemos que uma pessoa agitada, descontrola o ambiente. Por isso Jesus disse aos discípulos que, ao chegarem a uma casa, dissessem: “A paz esteja nesta casa!” (Lc 10,5). Quem vive em paz, transmite a paz aonde chega. Todos se sentem bem e à vontade. Um animal feroz nos distancia. Paulo exorta a procurar, juntamente “com todos”, a paz (2Tm 2,22) (GE 88). Se é para tirar a paz das pessoas, não se deve levar adiante o que a destrói (Rm 14,19), porque a unidade é superior ao conflito. E mesmo a verdade pode e deve ser dita com palavras de paz. A verdade não precisa ser grosseira, pois a verdade não tem sentimentos. Não precisamos colocar nela nossos sentimentos. Muitos gostam daa agressividade. Não é bom caminho. Até os animais aceitam ser bem tratados.
2132. Eu vos dou a paz
Já de muito se diz: “Paz não é ausência de guerra”. Há muitos tipos de situações onde não há guerras, mas também não há paz. Paz está dentro de cada um que a semeia por onde passa, não excluindo ninguém. O Papa Francisco lembra: “Não é fácil construir esta paz evangélica que não exclui ninguém; antes, integra mesmo aqueles que são um pouco estranhos. É difícil, requerendo uma grande abertura da mente e do coração...  não pretende ignorar ou dissimular os conflitos, mas «aceitar suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo no elo de um novo processo” (GE 89). Jesus disse aos discípulos: “Eu vos dou a paz, não como mundo a dá” (Jo 14,27). “Trata-se de ser artesão da paz, porque construir a paz é uma arte que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza. Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade” (GE 89).
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

nº 1812 - Homilia do 2º Domingo do Advento (09.12.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“O Senhor fez Maravilhas” 
Preparai os caminhos do Senhor
           O evangelista Lucas, ao narrar um fato importante, localiza-o na história. Com isso deixa claro que as ações de Deus acontecem em um tempo determinado. Tudo em nossa vida está unido ao tempo de Deus. É a história de Deus na história dos homens. E usa a linguagem dos profetas, como é o caso de João que foi ao deserto para o encontro com Deus. Não foi para ser profeta. Em seus caminhos de fidelidade encontrou a fidelidade prometida por Deus (Sl 145). Por isso lhe foi possível identificar a missão que lhe confiava. Quando nos damos a Ele, também identificamos nossa missão e razão de ser. Os tempos de Deus incidem sobre nossas vidas que estão sempre abertas esperando sua vinda. Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Jesus é o caminho. Tanto caminho de Deus para nós quanto o caminho que parte de nós para Deus. Por isso, a chamada de João é muito atual. Deus continua vindo ao seu povo. A oração da missa nos ensina a pedir: “Que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro de vosso Filho”. Por isso vem a ordem de Deus: “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai suas veredas... E todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,4.6). Vemos claramente no salmo 125 a alegria dos que retornavam do exílio. Parecia um sonho. A busca de Deus que João fez no deserto lhe ensinou a preparar os caminhos para a vinda de Cristo. Não se refere somente ao Natal, ou à sua vinda no fim dos tempos, mas a contínua vinda de Deus oferecendo-nos a salvação. Quando culminamos o caminho de Deus com a nossa busca, ele se plenifica em nós.
As maravilhas se repetem
O caminho aplainado, os montes abaixados e os caminhos tortuosos endireitados, texto tirado do profeta Baruc (Br 5,1-9), preparam a volta do povo do exilado. Esse grandioso feito de Deus pelo povo continua a grandeza da libertação do Egito. Agora não mais num deserto mortífero, mas na beleza da restauração. Tudo é obra do amor de Deus: “Deus guiará Israel, com alegria, à luz de sua glória, manifestando a misericórdia e a justiça que Dele procedem” (Br 5,9). A vinda de João Batista convoca à conversão com atitudes. O mal que praticamos se compara ao exílio. O  caminho de volta que aumenta a alegria é a conversão. Na perspectiva de fim dos tempos e também da vinda do Senhor no Natal, exige conversão. Sem isso tudo se torna uma fantasia. Perder o sentido Divino da vinda de Cristo, tanto no Natal como no fim dos tempos, é continuar um exílio, mesmo tendo o que nos agrada provisoriamente. Assim os judeus diziam que eram melhores as panelas de cebola do Egito que a liberdade (Nm 11,5).  A conversão leva à riquezas e a dons maiores. Como cristãos, não podemos nos fixar somente numa piedade intimista. Temos a missão de preparar o mundo para a vinda do Senhor.
Ministério da ternura
           Paulo une a evangelização aos sentimentos de ternura, de saudade e de amor compartilhado. Evangelizamos a pessoa inteira, mas evangelizamos como pessoa completa. O ministério da ternura é o veículo mais forte para a evangelização. Lemos: “Moisés era um homem muito paciente e o mais humilde dos homens de sua época” (Nm 12,3). Jesus disse: “Eu sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). A própria palavra graça de Deus está ligada ao gesto de Deus que se abaixa para abraçar e reerguer. Quanta agressividade e grosseria nós encontramos nas comunidades e, em nome de Deus! O próprio João tem a humildade de dizer: “Que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). Isso vale para nós.
Leituras: Baruc 5,1-9; Salmo 125; Filipenses 1,4-6.8-11; Lucas 3,1-6.
Ficha nº 1812 - Homilia do 2º Domingo do Advento (09.12.18)

     1. Deus continua vindo a seu povo como sempre veio.
     2. Preparamos os caminhos do Senhor através de um processo de conversão integral.
     3. A ternura faz parte da evangelização e da preparação para a vinda do Senhor.

Trator do Pai
          
Quando lemos os textos sobre João Batista, temos a impressão de um tipo espiritualmente violento que era duro e corajoso em sua penitência e em sua pregação. João não era profeta até o momento que Deus o chamou. Era homem justo que procurava os caminhos de Deus. Nesse caminho encontrou o chamado de Deus para a conversão do povo e a preparação da vinda do Senhor. Sua pregação era forte. Era um trator espiritual que limpava, endireitava, construía.
          A conversão exige que saiamos de nosso mundo e encontremos o rico e exuberante Reino de Deus. E Paulo ainda vai mais longe cheio da ternura e da bondade.

nº 1811 Artigo - “Pureza que vê Deus”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2127. Puros e imaculados
Refletimos as palavras do Papa Francisco sobre a santidade em sua exortação apostólica Gaudete et Exultate (Alegrai-vos e exultai). Coincidentemente celebramos a festa da Imaculada Conceição de Maria. Toda pura e imaculada, sem a mancha do pecado orginal, é feliz: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”. Poderíamos dizer que Maria é a padroeira dessa bem-aventurança, pois a viveu e continua a acompanhar aqueles que a buscam. A pureza não é um oposto a pecados da carne, mas é uma condição para ver Deus em nossa carne: “Meus olhos viram a Deus” (Is 6,3). Pureza é olhar o sol sem piscar os olhos (M.Celeste). A pureza de Maria não vem somente de sua imaculada concepção, mas da permanente visão de Deus em seu coração e em Seu Filho Jesus. E seu Filho a via cumprindo a Palavra: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 21,8). Assim descreve o Papa Francisco: “Esta bem-aventurança diz respeito a quem tem um coração simples, puro, sem imundície. Um coração que sabe amar não deixa entrar na sua vida algo que atente contra esse amor, algo que o enfraqueça ou o coloca em risco” (GE 83). Não se trata de uma pureza moral, mas pureza do coração. Há muitos que não têm quedas na sexualidade, mas têm um coração perverso nas intenções. Deus disse ao profeta Samuel: “O homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração” (1Sam 16,7). Somente quem tem o coração puro pode entender a beleza da sexualidade como doação. Sexualidade não diminui a pureza. Nem a pureza diminui a sexualidade. Ela a eleva na transparência do amor. Só é puro quem ama de verdade.
2128. De onde brota a pureza
            O Papa Francisco continua: “É verdade que não há amor sem obras de amor. Essa bem-aventurança lembra-nos que o Senhor espera uma dedicação ao irmão que brote do coração, pois “ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me vale” (1Cor 13,3). “Também vemos, no Evangelho de Mateus, que é ‘o que provém do coração (…) é o que torna o homem impuro’” (Mt 15,18). Nas intenções do coração, têm origem os desejos e as decisões mais profundas que efetivamente nos movem” (GE 85). Como o amor é a fonte e o fim de todas as virtudes, o que qualifica um coração puro é o amor a Deus e ao próximo. Então pode ver a Deus. A visão de Deus na pureza do coração no serviço do amor não cai em certas doenças espirituais que temos visto em muitas realidades. Muitas vezes terminam em verdadeiras aberrações, quando não crimes. Não se cobrem doenças ou maldades com o véu de Deus. Deus quer as boas intenções de nossos corações. “À medida que reinar verdadeiramente o amor, tornar-nos-emos capazes de ver ‘face a face’ (1Cor 13,12). Jesus promete que as pessoas de coração puro ‘verão a Deus’” (GE 86). Celebrando a festa de Nossa Senhora, Imaculada Conceição nós podemos tomar Maria como modelo: Aberta a Deus e às pessoas.
2129. Manter limpo o coração.
            Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor, isso é santidade. Preferimos assumir atitudes espirituais que não nos comprometem nem exijam uma vida interior purificada. Vemos barbaridades entre os cristãos que vão desde o ódio religioso, pessoal ao desconhecimento dos mandamentos. Manter o coração purificado não é um exercício ritualístico de uma confissão sem conversão. É converter o coração para que haja identidade entre nosso interior e vida na comunidade. Tanto a oração pessoal como a oração da Eucaristia nos levam a purificar e limpar nosso coração para que seja puro. A pureza não deve ser uma perda chorada, mas uma meta a ser conquistada no dia a dia na prática do amor. O amor puro modifica o mundo. Temos que acreditar em nossos jovens e dar-lhes ambiente propício a seu crescimento.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

nº 1810 -Homilia do 1º Domingo do Advento (02.12.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“O Cristo que vem”

A libertação está próxima
           Natal é sempre um tempo do futuro. O modo como celebramos o Natal destrói muito de sua totalidade. Fixamo-nos numa cena terna de um presépio numa gruta. Passa o Natal, tudo vai para o esquecimento. O designo do Pai em Jesus é um projeto que se inicia na Encarnação e vai até a consumação dos tempos. Quando for o Senhor de todas as coisas Ele as entregará ao Pai (1Cor 15,24). O aspecto humano do Natal é maravilhoso, mas não se esgota na ternura. Ele invade o Universo e permanece para sempre manifestando que a vitória de Deus se faz na Humanidade do Filho Jesus. A celebração especificamente do Natal se inicia no dia 17.12. Contemplamos a segunda vinda não como um mistério de destruição, de desgraças, como muitos preferem, mas como um encontro com o Senhor que vem para a nossa libertação (Lc 21,28). É tempo do Espírito, pois foi o Espírito veio sobre ela e o poder do Altíssimo a cobriu com sua sombra e ela concebeu um Filho de Deus (Lc 1,35). Achamos difícil essa ligação da segunda vinda do Natal. É justamente para dizer que a vinda do Filho de Deus no Natal vai além de Belém e lhe dá sentido. Vivemos o tempo do Espírito que nos coloca nessa dimensão de amplitude do mistério de Deus em nossa vida e de nossa vida no mistério de Cristo. Lembramos que Deus não vem para o castigo. Sua vida é a vitória do amor que foi implantado no mundo através do Filho. Como gostamos de desgraça por isso gostamos de mandar Deus se vingar. Mas pode ser que comece por nós.
Vosso amor aumente
           O texto de Jeremias 33,14-16, nos faz boas promessas para o futuro, culminando com a riqueza da futura Jerusalém fundada na justiça, pois assim será seu nome: “O Senhor é nossa Justiça” (16). Paulo ensina como se deve viver nesse tempo de espera do fim glorioso: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais... numa santidade sem defeito” (1Ts 3,12-13). O cristão não vive de medo ou insegurança diante do futuro, mas na serenidade de quem tem seu futuro garantido. Para isso deve estar sempre atento, como continua Paulo, a não ter o coração insensível por causa da gula, da embriaguês e outras preocupações da vida. A oração deve ser uma constante para dar força diante das situações difíceis que o mundo passa. Mesmo vivendo bem com Deus, não perdemos nossas condições humanas de fragilidade. Isso não é um mal, mas condições de crescimento. A Igreja também passa por situações difíceis que exigem mudanças. Essas mudanças nos corrigem e nos transformam. Para viver de acordo com o Evangelho não podemos deixar que a insensibilidade não deixe que a Palavra nos toque nem a graça nos atinja o coração. É preciso ir ao importante de nossa vida de fé e de Igreja. Há gente que se prende ao exterior. Torna-se insensível e prejudica o crescimento em Cristo tanto de si mesmo como do povo. Essas atitudes revelam mentes doentias.
Amar o que é do Céu          
           A oração pós-comunhão, como que sintetizando todo o pensamento dessa liturgia do primeiro domingo do Advento, convida a “amar desde agora o que é do Céu e caminhando entre as coisas que passam abraçar as que não passam”. A Palavra e o Pão que nos sustentaram nos acompanham com sua força nos momentos de fragilidade de nossa natureza humana. A celebração tem finalidade de nos levar a viver mais intensamente a fé nos acontecimentos da vida para que, vivendo melhor, possamos celebrar sempre melhor.  Somos convidados e acolher a ternura de Deus e para a ternura para com Deus.
Leituras: Jeremias 33,14-16; Salmo 24;1 Tessalonicenses 3,12-4,2; Lucas 21,25-28.34-36
Ficha nº 1810 - Homilia do 1º Domingo do Advento (02.12.18)

           1. A segunda vinda não é para a destruição, mas para a libertação.
           2. Viver o Evangelho nos livra da insensibilidade diante dos bens espirituais.
           3. A Palavra e o Pão nos sustentam em nossa fragilidade.

Sai da frente!

           A descrição do fim do mundo é terrificante em certos textos e, mais ainda na boca de certos indivíduos que gostam de passar medo nos outros. É como em nosso tempo de criança, quando de noite se falava de assombração. Eta medo. Todo mundo tinha medo, mas ninguém nunca viu.
           Quando lemos esses textos, vemos que são realmente assustadores. Mas só lemos as letras em vermelho. No azul está bem claro que a vinda do Senhor é para premiar, para libertar e levar com Ele. Há muita gente que vive dizendo que o mundo está acabando. As desgraças já estão se mostrando. Isso que acontece hoje já aconteceu e até pior. Vivemos um paraíso. Imaginemos o que o povo já passou pelo mundo afora. E passa ainda. Somos pregoeiros da desgraça. Mas ela não chega.
           A Palavra, o alimento do alto, nos convida a viver com intensidade a vida cristã, onde está tudo garantido.         
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

terça-feira, 27 de novembro de 2018

nº 1809 Artigo - “Misericórdia sempre”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2124. Força da misericórdia
Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia(Mt 5,7). Deus mesmo se define como “Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade” (Ex 34,6). Isso é uma visão do Antigo Testamento que Jesus renova excluindo a vingança. Ele mesmo mostra essa misericórdia do Pai. Só não suportava o orgulho e a prepotência dos fariseus e mestres da lei. Tudo que Deus fez e faz por nós é obra de sua misericórdia. Essa palavra tem a ver com todos os bons sentimentos do coração. E traz em si a palavra latina miseratio (compaixão) e cordia (corações). A intensidade de amor da palavra misericórdia é uma revelação do próprio ser de Deus do qual Jesus participa com intensidade. Podemos observar que a Igreja e a sociedade não têm muito afeto por essa verdade. Sempre é a lei que decide tudo. A norma, as letras etc... valem mais. Continuando a reflexão sobre a santidade segundo o Papa Francisco, nos debruçamos agora sobre a bem-aventurança da misericórdia: “A misericórdia tem dois rostos: dar, ajudar, servir os outros, mas também perdoar e compreender. Mateus resume-o numa regra de ouro: “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (Mt 7, 12). O Papa se fundamenta para o valor moral: “O Catecismo lembra-nos que esta lei se deve aplicar  “a todos os casos”, especialmente quando alguém “se vê confrontado com situações que tornam o juízo moral menos seguro e a decisão difícil” (GE 80). Misericórdia não é concordar com o mal, mas sair dele, tentando sepultá-lo. Jesus se torna o “remédio”, a lei e o conforto.
2125. Buscai a semelhança com Deus
            O dom de perdoar e dar vida são próprios de Deus. Quando perdoamos, quando geramos vida, temos a participação Dele. Assim afirma o Papa: “Dar e perdoar é tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá e perdoa super-abundantemente” (GE 81). Como a medida da misericórdia é sempre Deus, podemos ter certeza que nunca esgotaremos. Jesus manda: “sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado” (Mt 6,36-38). Nós é que damos a Deus a medida que use para conosco queremos que use conosco para conosco. As graças que nos vem, são as graças que somos. Somos severos com os outros, mas não queremos que sejam severos conosco.. Firmeza contra o mal não significa sermos duros e mal-educados com os outros: “A medida que usardes com os outros será usada convosco” (Mt 6,38). Por outro lado, o bem que fizermos sempre volta para nós. Pode ir devagar, mas volta voando. Tive a experiência quando vivi na Angola (África): Tudo que a gente dava aos necessitados retornava imediatamente em uma generosa oferta para nós. Impressionante.
2126. Misericórdia que promove
            Jesus chama felizes aqueles que perdoam e o fazem “setenta vezes sete” (Mt 18,22). “É necessário pensar que todos nós temos uma multidão de perdoados. Todos nós fomos olhados com compaixão Divina. De vez em quando recebemos a chamada: “Não devias também ter piedade do teu companheiro como Eu tive de ti?”(Mt 18,33) (GE 82). Misericórdia não é somente perdoar, acolher, mas também promover para que a pessoa possa ser mais qualificada, mais feliz consigo mesma, contribuindo com seus dons, ter espaço na sociedade e na Igreja. Isso não pode ser dirigido só aos de minha Igreja, mas a todos, pois todos são filhos de Deus e todos são irmãos. Nesse momento de tanta violência, sabemos que a misericórdia é mais que solução. Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

nº 1808 - Homilia da Solenidade de Cristo Rei (25.11.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
Reino da Verdade 
Reino de Deus
           A aclamação “Viva Cristo Rei!”, estourou no século XX como uma resposta à descrença generalizada e a avalanche de ideologias anti-cristãs. É como dizer: “Nós temos nosso Rei. Para dar força ao cristianismo, Pio XI, 11.10.1925, instituiu a festa para o último domingo de outubro. No México, no início do século XX, o Estado moveu grande perseguição aos cristãos. “Viva Cristo Rei!”, era o grito dos cristãos que iam ser mortos. Temos já diversos santos mártires, inclusive jovens. Vemos por tantos lugares o nome Cristo Rei. Nas paróquias haviam grupos de crianças que se vestiam de branco com fita amarela. Eram os cruzadinhos. E se cumprimentavam com a aclamação “Viva Cristo Rei!”. Na reforma litúrgica perdeu o caráter social e assumiu seu novo sentido no último domingo do ano litúrgico. É o Cristo glorioso para o qual caminha o universo (Ef 1,10), como lemos no Apocalipse (Ap 11,5-8). O Reino de Deus não é desse mundo, quer dizer, não se esgota nas dimensões humanas. O termo ‘desse mundo’ significa que não se iguala nem está concorrendo com o império romano, como diz Jesus no julgamento de Pilatos. O perigo dessa festa é, usando nomes mundanos, equiparar-se e ter ares de autoritarismo. Deve assumir o verdadeiro lugar de Jesus Cristo que é o poder de servir como o fez na Cruz. O Reino de Jesus não é desse mundo, mas existe para servir o mundo, transformando-o.
Testemunho da verdade
           Tu o dizes: Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz. Disse-lhe Pilatos: O que é a verdade?” (Jo 18,37-38). Jesus Se identifica com a verdade: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Essa identificação demonstra a missão de Jesus que veio como Palavra do Pai para nos conduzir e viver a Vida. Respondendo a Pilatos diz que “veio ao mundo para dar testemunho da Verdade”. O Pai é verdadeiro. O Pai mostra Jesus que é a Verdade, pois sai do Pai. Sendo Palavra do Pai, manifestou que Deus é verdadeiro. E quem O recebe, vê a glória de Deus: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos sua glória, como glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade” (Jo 1,14). Jesus veio mostrar o Pai. Ele e o Pai são um (Jo 10,30). Quem me viu, viu o Pai (Jo 14,9). Ao dizer “dar testemunho da verdade”, está mostrando quem é o Pai. E o que o Pai quer. “Eu falo o que aprendi de meu Pai” (Jo 8,38). Revela sua identidade com o Pai, como sua Palavra, e como sua ação pois “o Filho, por Si mesmo, nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer; tudo o que fez, o Filho o faz igualmente (Jo 5,19). Jesus é a Verdade do Pai. Ao manifestar-se revela o Pai. Quem aceita, aceita o modo de viver que é viver na verdade (3Jo 12). Há unidade entre Jesus e o fiel: “Todo aquele que é da verdade escuta minha voz” (Jo18,37).
                                                            Ele nos libertou
           Jesus tem dois inimigos: os romanos que não querem libertadores e os judeus que não querem libertadores da própria fé mal compreendida. Por isso é levado e Pilatos. A Verdade liberta do falso caminho que não conduz à Vida. Liberta da política perversa que usa o ser humano em proveito próprio e não para a promoção da vida. Isso existe na sociedade civil e na religiosa. A verdade vos libertará (Jo  8,32). Por que a Igreja tem medo da liberdade? Porque não tem força para ensinar a verdade. A verdade das palavras de Jesus assusta a Pilatos e cobra de nós uma coerência de fé e de vida. Uma vida sem fé é uma mentira instituída, pois nega o ser humano em sua dimensão essencial que é espiritual.
Leituras:Daniel 7,13-14; Salmo 92;Apocalipse 1,5-8;João 18,33b-37.
Ficha nº 1808 - Homilia da Solenidade de Cristo Rei (25.11.18)

              1. O Reino de Deus não se esgota nesse mundo.
           2. Ao dizer “dar testemunho da verdade”, está mostrando quem é o Pai
           3. A Verdade liberta do falso caminho que não conduz à Vida.

                       Um Rei sem coroa

           É estranho falar de rei num mundo tão “democrático” ou “ditatorial”. Na verdade todo mundo tem uma veia real. Já, quando nasce uma criança, se lhe chama de princesinha. A gata borralheira não tem vez. Ainda sobram os reis do baralho, do carnaval e de alguns países. Servem de louça de cristaleira.
           Jesus não gostou que Pilatos perguntasse se Ele era Rei. E já disse que não era do jeito que ele pensava. Veio ao mundo para testemunhar a Verdade. Essa verdade dá pano para a manga, pois envolve tanta verdade, por isso Jesus diz que seu reino não era desse mundo, não era igual ao império romano. Jesus dá testemunho da Verdade que é o centro de sua missão. Nela se faz igual ao Pai e ensina o que aprendeu do Pai para que tudo seja entregue a Ele e Ele entregará ao Pai.