domingo, 27 de dezembro de 2020

nº 2026 - Homilia da Solenidade da Sagrada Família (27.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Uma família sagrada” 
Todas as famílias são sagradas 
Com família não se faz poesia, se acolhe um dom. É um retrato divino numa revelação humana. Passado o Natal temos diversas festas que continuam a acolher o Mistério da Encarnação do Filho de Deus. Assim temos uma revelação sobre o projeto de Deus, seu desígnio de salvação, feito à altura das pessoas. Deus não está lá no alto incensado por Anjos. Ele não realiza uma salvação espiritual distante da realidade. Ele é o Emanuel, o Deus Conosco. Pelo fato de se encarnar, Jesus não perde sua Divindade, mas age totalmente como humano. Menos no pecado (Hb 4,15). O prefácio do Natal nos faz cantar: “No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se um de nós, nos tornamos eternos”. Entendo que a salvação é individual, mas, sua consistência se estabelece na comunidade, e essa tem como realização na família, pois ali se pode viver o mandamento do amor que se sustenta na reciprocidade. O amor exige um objeto concreto: amar a Deus e o outro com concretização do amor. A família se torna sagrada, pois é, como que a célula mãe da Igreja. Ela é a Igreja viva. Não são os problemas que qualificam a família, mas o dom de Deus. Nela há espaço para um real e permanente espaço para o mandamento do amor. É lugar da presença de Deus. É o primeiro sacrário de sua presença: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). Ela é a realização do projeto de Jesus: amai-vos. 
Enfeites do lar cristão 
As reflexões da liturgia estão centradas na imitação da Sagrada Família, como vemos também no ofício das leituras, no discurso de Paulo VI na casa de Nazaré... Muito bonito. Na oração rezamos: “Concedei-nos imitar em nossos lares suas virtudes, para que, unidos pelos laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias da vossa casa”. Tanto a primeira leitura do Eclesiástico (3,3ss), quanto a carta aos Colossenses nos apresentam as virtudes cristãs da família. O amor é concreto e tem modalidades. No Evangelho lemos o texto da apresentação de Jesus no templo. José e Maria cumprem as determinações sobre os primogênitos. Maria entra realiza a purificação. A família é um dom que deve ser realizado como compromisso. O fato de terem em seus braços o Senhor do Universo, não deixam de viver no universo que os acolheram. Podemos cantar diante da família: “Aqui é Natal! Aqui é Belém”. Certamente muitas vezes as famílias cristãs, que são muito simples, vivem a mesma realidade que José e Maria enfrentaram ao chegar em Belém. Quanta gente está sempre emigrando. Quantas famílias vivem na humildade o amor profundo de Nazaré. As virtudes são como flores que brotam de um ramo saudável. 
Não tenham medo
Podemos até ver que o amor se difunde e se organiza de muitos modos. Mas não podemos ter medo de amar como se amou em Nazaré. É o modelo. A família não se desfaz por mudanças históricas. Permanece com uma missão, como foi a de José e Maria: “E o Menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria e a graça de Deus estava com Ele” (Lc 1,40). Cada filho é educado, como se fosse Jesus. Dentro de cada casa está um ou mais filhos de Deus. A santidade está na atitude de fazer de seu lar, um lar capaz de levar o filho a crescer como Jesus crescia. “E Jesus lhes era submisso” (Lc 2,51). O tempo passa e Jesus quer crescer dentro de uma família. Não são os costumes ou as ideias que fazem o mundo novo. Mas a graça de Deus que é eterna.
Leituras: Eclesiástico 3,3-7.14-17ª; Salmo 127; 
Colossenses 3, 12-21; Lucas 2,22-40. 
Ficha nº 2026 
Homilia da Solenidade da Sagrada Família (27.12.20) 
1. Não são os problemas que qualificam a família, mas o dom de Deus. 
2. O fato de terem em seus braços o Senhor do Universo, não deixam de viver no universo. 
3. Não são as ideias que fazem o mundo novo. Mas a graça de Deus que sempre nova. 
A família vai bem. Obrigado. 
A casa do vizinho pegando fogo e a gente não tem água para apagar. Vivemos momentos pouco familiares. Mas... ai de quem toca na minha família. É a velha moda: casinha de sapé... lá no morro, com dois coqueiros. Família é um sonho gostoso que se tem e que dá dor de cabeça. Quer mais do que Maria e José que viveram? Quanto sobressalto. Parece que eles têm tudo de atrapalhado que passamos. Não tenhamos medo de acabar a família. Quando queremos desfazer, acabamos primeiro. Família não é cultura. É vida.

nº 2025 Artigo - Era uma vez um Menino

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Disse que era berço 
Curiosamente, a homilia do Natal não “cola”. Não se chega ao conteúdo de um texto que seja interessante. A pregação parece que derrapa na quantidade dos temas. Somos como crianças que olham numa vitrine de brinquedos. Quero todos e, às vezes, não leva nenhum. É bonito o Natal, Ele encanta e basta! “Quando o mistério é muito grande não se ousa desobedecer”. Não sabemos detalhes daquela viagem a Belém. A cidade estava lotada. Ouvimos o evangelista escrever: “Não havia lugar para eles na sala”. As casas tinham uma sala maior, mais bonita, onde se reunia a família para quase tudo. Outros ambientes eram só funcionais, como a gruta que, provavelmente era ou algo natural, ou escavado, onde se guardavam coisas como cereais e os poucos animais. Só sobrou ali para eles. Pode ser que houvesse mais gente. Ali... os humildes viajantes se recostaram e chegou a hora do parto. Como foi, não é caso, mas precisava um lugar para por o Menino. Falamos manjedoura, lugar do animal comer. Era cocho mesmo. Em meio a outros lugares, aquele era o bom. Não era uma gruta fria, pois havia animais que transmitiam o calor. O berço podia ser de ouro ou madeira. O que acolhe é o amor. Simples como eram, o simples lhes era o suficiente. Ali...Meu Deus! Como podia ser assim? Séculos de esperança se resolvem naquele coxo. Sem palavras... sem questões. Ali estava Ele. O Esperado das nações. Quem sabe essa seja a melhor maneira de compreender a realização das promessas. Quando um cocho vira berço, o coração pequeno vira trono do Senhor que nasce. 
Como o sol 
Já imaginaram um Natal no escuro? O que vemos é a quantidade de lampadinhas piscando para todo lado. Há muita luz nessa noite. Os pastores dos campos de Belém estão guardando seus rebanhos. “O anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor os envolveu com sua luz... Diz: ‘Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo’” (Lc 2,9-10). O anúncio do nascimento se deu em grande luz. É aquela pequena chama que brilha no interior de uma “gruta”. São Leão Magno, Papa (440-461), escreveu os textos da liturgia da noite de Natal. Ele estava iluminado, pois colocou luz abundante em todo o texto: “Ó Deus que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no céu de sua plenitude” (Oração). O profeta diz: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is. 9,1). Luz unida à alegria. Os anjos dizem: “Eis que vos anuncio uma grande alegria”. O profeta Isaias comenta: “Fizestes crescer a alegria e aumentastes a felicidade” (id 2). O sol que é luz, é símbolo da luz que é sol para o mundo. Aquele presépio abre a felicidade. 
Mordiscavam 
Tanta luz num Pequenino envolto em faixas e deitado num cocho. Certo que tudo era tão normal. Os pastores, acolhendo o anúncio do Anjo, são os primeiros a ver o Menino. Os que não eram vistos, veem por primeiro. S. Afonso, apaixonado pelo amor que ilumina o presépio, diz que os pastores chegam tímidos e vão se aproximando para ver o Menino. E Maria O dá para eles segurarem. Virou festa. Beijam, mordiscam suas gordurinhas e O acariciam. É um Deus que não teme o calor humano. É o Deus que nos faz falta na Igreja, nas comunidades... o calor humano que é o melhor modo de manifestar o amor Divino. Fazemos um protesto: “Tiraram a carne de nosso Deus”. Ele passou por tudo que é nosso. E por isso nos entende e ama de um jeito gostoso.

nº 2024 - Homilia do 4º Domingo Do Advento (20.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Alegra-te, cheia de graça” 
 Eu te farei uma casa 
O anúncio do Anjo não se refere somente a um nascimento. Todo o mistério de Cristo é único em diversas manifestações. Rezamos: “Conhecendo a Encarnação, cheguemos, por sua Paixão e Cruz, à glória da Ressurreição”. É o que contemplamos na promessa ao rei Davi. O homem pensa as coisas do homem. Deus vê mais longe e envolve o homem nas coisas de Dele. Entramos aqui numa grande profecia feita pelo próprio Deus. Davi quer construir uma casa para Deus, isto é, um templo. Desde a saída do Egito, no Sinai, o lugar do encontro com Deus era uma tenda onde estava a arca e onde se realizavam as orações e sacrifícios. Davi se preocupou, sobretudo, porque ele tinha uma casa e Deus não. Então decidiu fazer o templo. A resposta de Deus foi clara: Nunca precisei. E lhe dá em resposta um prêmio inaudito: “O Senhor te anuncia que te fará uma casa”... Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim. E teu trono será firme para sempre” (2 Sm 7,11.16). Casa, na linguagem do Senhor, é a permanência da casa real de Davi...O herdeiro desse trono será o próprio Filho de Deus, que é um rei eterno. O Reino eterno acolhe o novo povo proveniente de todos os povos. É a estabilidade e a abertura a todos os filhos de Deus de todos os tempos. E Jesus, em seu nascimento, é anotado como herdeiro: “...Será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai; Ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1,32-33). A casa de Davi se identifica com o Reino de Deus, inaugurado pelo seu rei, Jesus. 
Casa de todos 
Encontramos um grande fechamento em Israel, considerando-se como o povo de Deus, sempre mais discriminando os outros povos. Jesus usa essa mentalidade quando atende aquela siro-fenícia chamando-a de “cachorrinho”. Ela replica dizendo que os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa dos donos. Jesus diz: “Grande é tua fé, seja-te feito como queres!” (Mt 15,21ss). A grande mensagem de Paulo revela o grande mistério: “Deus quer levar de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé” (Rm 16,26). Jesus, o herdeiro de Davi, não é mais o privilegiado sucessor, mas é o Senhor de todos. É bom notarmos que o Reino é aberto a todos, sem um modelo exclusivo. É a grande riqueza que Deus pôs nos povos. Essa riqueza nos é apresentada no dia de Pentecostes. A lista dos povos ali apresentada não significa um encontro ocasional de estrangeiros. Sua localização indica todos os pontos do mundo. É a universalidade da salvação. No recenseamento de César, que levou Jesus a nascer em Belém, Jesus foi inscrito como um no império que dominava todos os povos. A casa de Davi que dura para sempre, é uma casa para todos. 
Faça-se em mim 
A espiritualidade da encarnação nos conduz a uma atitude de obediência. Maria acolhe o projeto de Deus sobre ela. Soube discernir e, vendo sua pequenez, distinguiu as escolhas de Deus: “Grandes coisas fez em mim o todo poderoso” (Lc 1,49). Assume o projeto de Deus e diz: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Não disse: seja como Deus quer, mas “faça-se segundo a tua palavra”. Acolhe o projeto de Deus através daquele que o anuncia. Ela não disse: ‘Comigo, Deus não disse nada’. Aceitou as mediações que Deus usa. É lindo ver como o caminho da Encarnação penetra todas as realidades da fé. Deus usa o humano para que o Divino se estabeleça entre nós. Quanto mais humano, mais apto está para transmitir o que é divino. A dimensão simbólica se estabelece como doutrina.
Leituras 2 Samuel 7,1-5.8b-12.14ª.16; Salmo 88; 
Romanos 16,25-27; Lucas 1,26-38 
Ficha nº 2024
Homilia do 4º Domingo Comum (20.12.20) 
1. O herdeiro desse trono será o próprio Filho de Deus, que é um rei eterno. 
2. É bom notarmos que o Reino é aberto para todos, sem um modelo exclusivo. 
3. A espiritualidade da encarnação nos conduz a uma atitude de obediência. 
4. Se fores realmente HUMANO, alcançarás a condição Divina 
Minha casinha 
Deus prometeu a Davi uma casa eterna – sua realeza. Jesus comprou tudo. E nós, com nossa pequenez, servimos só para lacaio nesse Reino? Parece complicado. Mas na verdade funciona assim. Minha casinha, pois não tenho um reino, ela tem tudo que esse reino tem, em tamanho pequeno. É como Jesus dizia: em semente. Mas cresce na medida de nosso empenho para que o grande Reino se desenvolva.

sábado, 5 de dezembro de 2020

nº 2022 - Homilia do 3º Domingo do Advento (13.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Alegrai-vos!” 
Seu nome era João 
Advento com S. João Batista. João prepara os caminhos do Senhor e mostra presente a ação de Deus em Jesus que vem proclamar o Ano da Graça do Senhor. É o tempo de Deus agir em sua misericórdia. O nome João, Iohanan, é sua missão de misericórdia. Por isso se acentua a misericórdia de Deus; É o sinal da alegria da intervenção de Deus. Seu anúncio é para dar testemunho da luz para que todos cheguem à fé por meio dele. Viver na fé é viver na Luz. Mostra que a Luz que ilumina todo homem que vem a esse mundo é Jesus. Somente por meio Dele é que poderemos ter a luz que nos abre ao conhecimento de Deus. O texto de Isaías mostra esse tempo como o tempo de remissão total e o tempo da libertação dos pobres de todas suas cadeias e feridas. É a boa nova que agora vai dirigir os caminhos do mundo. O júbilo do profeta foi vivido por João que viu e apresentou o Messias prometido. Todo aquele que crê, torna-se uma luz e um anúncio desse tempo novo. Isso é estar “revestido com as vestes da salvação e envolvido com o manto da justiça”. Deus escolhe os pequenos para realizar suas grandes obras. Maria canta: “Ele viu a pequenez de sua serva” (Lc 1,48). João faz parte dos pequeninos, mesmo sendo um profeta de fogo, como Elias. Pequeno porque se põe ao serviço de preparar os caminhos. Ele aplaina os caminhos do Senhor. Para o retorno do povo libertado, o profeta anuncia uma bela estrada no deserto para que o povo faça com facilidade o caminho de retorno à pátria. Agora João se vê preparando o povo para o encontro com o Messias.
Estai sempre alegres 
A temática desse domingo é a alegria. A vinda do Senhor nos atiça ao júbilo de sua presença. Deus mesmo vai nos santificar em tudo: alma, espírito e corpo (1Ts 5,23). É o homem em todas suas dimensões. Não existe, na mentalidade de Paulo, santificação da alma. Mas sim do homem inteiro em tudo o que ele é e lhe pertence. Tudo isso para nos conservamos para a vinda do Senhor. Ele realiza em nós a santidade que é júbilo. A alegria é o resultado da purificação da presença de Jesus no meio de nós. Nele tudo é santificador. Santificar é colocar-se a serviço do bem. Por isso, a temática do domingo clama para a alegria. O cristão é sempre alegre. Diz-se que um santo triste é um triste santo. Vemos aí a passagem da vida comum à vida junto do Senhor que vem. É a temática que envolve o tempo de Natal. João Batista é um santo da vida madura de Jesus. Mas seu nascimento foi de grande alegria para todo o povo, pois indicava que Deus o visitava. Sua missão profética despertou o sentimento de que Deus continua falando. Celebrar o Advento é retomar o vigor da ação de Deus que é sempre rico em seus dons. 
Celebrar com júbilo 
A oração pede a Deus “que o fiel possa chegar às alegrias da Salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia”. A liturgia é o momento de entrar em contato com o mistério ocorrido e agora celebrado. Não há distância entre o celebrado e o vivido. A finalidade da celebração é tornar presente aquilo que cremos pela fé. Não há uma distância entre o fato e a celebração. “Fazei isso em memória de mim”. A memória é atualizadora do acontecimento e traz em si toda a graça reservada a esse mistério. Por isso o Mistério da Vinda futura e a Vinda na carne se tornam presentes. O ano litúrgico não é uma simples memória de acontecimentos, mas memória que torna vivos os acontecimentos. Celebrar é fazer-se presente, como o mistério se faz presente a nós. 
Leituras: Isaias 61,1-2ª.10-11; Cântico Lucas 1.; 
1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28. 
Ficha nº 2022 
Homilia do 3º Domingo do Advento (13.12.20) 
1. Todo aquele que crê, torna-se uma luz e um anúncio desse tempo novo.   
2. A alegria é o resultado da purificação da presença de Jesus no meio de nós. 
3. A finalidade da celebração é tornar presente aquilo que cremos pela fé.
A festa não acaba 
Chegados a esse tempo, temos um sabor de festa. Parece que tudo quer explicar que coisa boa vai acontecer. São poucos dias, mas de muita agitação que mexem com o coração. O Natal não acaba. É sempre vida nova que vai brotando. O Natal vem pra ficar no coração, mesmo que mudem os dias. Quem descobre sua beleza, não perde o jeito. Celebrar é gostar de viver. Viver o Natal é descobrir a fonte que jorra.

nº 2021 Artigo - Imaculada Conceição (08.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Habitação digna 
Que bom que nossa querida Mãe do Céu tenha esta proclamação tão nobre na santa a Igreja. Maria tem tantos privilégios? Que felizes são os pais e os irmãos, quando os filhos recebem uma vitória, uma medalha, um diploma... De Maria não foram inventadas virtudes, graças e dons. Foram reconhecidos. Os dogmas não são invenções, mas reconhecimento. Por isso, a Igreja se alegra com sua filha predileta, pois ela gerou Aquele que nos trouxe a Vida. Cada dogma nasce como explicação daquela verdade que Maria traz em si. Rezamos no prefácio: “A fim de preparar para vosso Filho mãe que fosse digna Dele, preservastes a Virgem Maria da mancha do pecado original, enriquecendo-a com a plenitude de vossa graça”. Temos os dogmas da Imaculada, da Maternidade Divina, de Virgindade Perpétua. Por todos esses dons será elevada ao Céu. E intervém pelo povo. A Imaculada Conceição é a árvore que dá o fruto bendito. É a nova Eva que não se deixou levar pela tentação da serpente. Maria, como Mãe de tão grande Filho, terá passado por aquelas tentações que Eva passou: “Sereis iguais a Deus” (Gn 3,5). Eva disse sim à serpente. Maria disse sim a Deus. Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38). Os privilégios de Maria, como em Jesus, são tocados pela tentação. Ela correspondia e estava sempre meditando em seu coração (Lc 2,19). O Espírito que veio sobre ela na concepção de Jesus permanece como o Mestre que a instrui para que instrua Jesus. 
Em previsão dos méritos de Cristo 
Como podemos entender que Maria vivia na plenitude da graça, antes da missão de Jesus ter se realizado. Como foi redimida, se Jesus não tinha ainda morrido por nós? A resposta está na oração na qual mostra que Deus quis preservá-la de todo pecado em previsão dos méritos de Cristo. A redenção de Cristo, realizada no seu mistério de salvação, é para todos os tempos, não só para o momento. Senão quem veio antes está perdido para sempre. Não rezamos no “Creio”: “Foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia”. Dizíamos “desceu aos infernos”... onde estavam os mortos na espera da salvação, desde Adão. A redenção é para todos os tempos. Maria é a primeira redimida. Jesus não podia entrar na corrente do pecado original, como acontece conosco e somos batizados. Por isso, formou Maria imune de todo o pecado, cheia da graça divina, para poder acolher em seu seio o Germe Divino. Jesus é a semente do mundo que se renovará em sua morte e ressurreição. 
Fomos purificados 
Maria, em sua Imaculada Conceição é modelo da nova humanidade. Modelo de raiz e modelo de vida. Assim nos são curadas as feridas do pecado e nos é estimulada uma vida que lute para tirar o mal de si e do mundo. É uma meta e um desafio. Para isso podemos contar com sua amorosa proteção e guia. Ela foi concebida sem pecado. Por isso pode curar as feridas do pecado que estão em nós. Não é um dom pessoal, mas para todo o povo de Deus. Esse dom não dispensa Maria de continuar na batalha contra o mal, como fez Jesus vencendo as tentações. Ele vencendo, deixando que a Palavra se fizesse carne nela e tomasse forma em sua vida, atenta à compreensão do mistério de seu Filho. Assim, a devoção a Maria, mais que um ato de piedade, é uma atitude de acolher o Evangelho vivido e gerado para o mundo. Seremos imaculados, não por não termos pecado, mas por buscarmos sempre a vida divina implantada em nós pelo batismo.

nº 2020 - Homilia do 2º Domingo do Advento (06.12.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“João, o Batista” 
Consolai, meu povo! 
Fomos alertados à vigilância. Estamos nas mãos de Deus que nos modela. Nesse segundo domingo do Advento, recebemos o convite de renovação através das palavras do maior profeta: João Batista. Ele, concretamente, veio preparar o caminho do Senhor. Ele próprio é a mensagem realizada. Ele encarna a mensagem. Sua apresentação é a de um profeta forte, curtido no deserto, capaz de anunciar com segurança a chegada do Senhor. Em si, está pronto para receber o Senhor. Absorveu a Palavra e se tornou o mensageiro. Não um mensageiro de castigos ou ameaças, mas de consolo, como retrata Isaias: “Consolai, consolai, meu povo”! É o momento de preparar os caminhos para facilitar ao máximo a vinda do Consolador, o pastor carinhoso de suas ovelhas. A vinda do Senhor no fim dos tempos é para dar o prêmio a todos: “Quero ouvir o que o Senhor dirá: é a paz que ele vai anunciar... a salvação ,está perto dos que o temem” (Sl 84). A imagem de fim dos tempos que nos é passada se atenua com as promessas de consolação. Pedro nos escreve: “O que nós esperamos, de acordo com sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). O tempo do Advento nos alerta para não nos fixarmos em um Menino Jesus bonitinho, mas no bondoso Senhor que sempre vem ao nosso encontro. Agora vem para a transformação. 
Preparai o caminho! 
O povo de Deus pagou todos seus crimes com o exílio da Babilônia. O profeta vem proclamando que a salvação vem de Deus. Deus mesmo vem libertar. E faz a entrada triunfal de um Deus libertador: “Eis o vosso Deus, eis que o Senhor vem com poder, seu braço tudo domina: eis, com Ele, sua conquista, eis à sua frente a vitória” (Is 40,10). A volta do povo do exílio se tornou uma apoteose da força poderosa de Deus em favor de seu povo. Esse tempo do Advento nos prepara e nos dispõe a participar dessa vitória. Sempre temos visto as notícias sobre o fim com um castigo, uma desgraça. Não pensa assim o nosso Deus. Ele vem nos acolher com o prêmio em sua mão. A grande desgraça é não participar da glória de Deus. Por isso rezamos na coleta: “nós Vos pedimos, que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida”. Vemos que não se fala de Natal, mas da Vinda, da qual participamos. João Batista se torna o modelo também no desapego de todo o secundário para deixar-se penetrar da Palavra de Deus. João chega com uma pregação tão diferente dos profetas anteriores. Já eram mais de 300 anos que não aparecia um profeta. Sua profecia não é ao longe. Ele apresenta o Cordeiro, Servo de Deus, presente. 
Ele virá! 
“Deus vos ilumine com o Advento do seu Filho, em cuja vinda credes e cuja volta esperais, e derrame sobre vós as suas bênçãos”. Celebrar o Natal, a vinda na condição humana é, para nós, um momento de graça para compreendermos aquele que virá no fim dos tempos. Vê-Lo pequenino, tira todo o receio de ir a seu encontro quando vier para julgar. Essa noção nós sempre a cultivamos: Em Cefalú, na Sicilia, encontramos essa confirmação: “Feito homem, o Criador dos homens; feito Redentor, julga os humanos com o coração de Deus”. Deus, nosso Juiz, é nosso mais forte advogado. Ele conhece nosso coração, pois foi Ele quem o fez. Não invocamos nossos méritos, mas venha em nosso auxílio, vossa Misericórdia. 
Leituras: Isaías 40,1-5.9-11; Salmo 84; 
2 Pedro 3,8-14;Marcos 1,11-8. 
Ficha nº 2020 
Homilia do 2º Domingo do Advento (06.12.20) 
1. A imagem de fim dos tempos se atenua com as promessas de consolação. 
2. João Batista é modelo no desapego do secundário para deixar-se penetrar da Palavra. 
3. Vê-Lo pequenino, tira todo o receio de ir a seu encontro quando vier para julgar. 
Departamento de estradas 
As estradas invadiram o mundo. Há caminhos que foram feitos pelos burros, pois para atravessar a montanhas, os animais escolheram os melhores caminhos que são usados até o dia de hoje. Como a água, o animal faz seu caminho. Assim também fizeram os homens. Para aprender os caminhos de Deus buscamos nos mapas das Escrituras. Caminhos sejam planos, retos, fáceis e até sombreados. Os caminhos de Deus são feitos para Ele passar. Esses caminhos servem também a nós. A missão da Igreja, seguindo João Batista, é despojar-se do desnecessário. Assim as estradas não terão baixios, não terão elevações. Será um caminho bom, suave e nos levará logo a sua meta que é o coração de Deus.