terça-feira, 29 de outubro de 2019

nº 1906 - Homilia de Todos os Santos (03.11.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Bem-aventurados” 
Intercessores numerosos 
Alguém comentou que ultimamente só os papas ficam santos. Não é bem verdade, pois, agora é que os papas são santos. Não é verdade, pois temos muitas beatificações e canonizações nos últimos tempos. Esse fato não tira a força da festa de hoje, dia em que comemoramos todos aqueles fiéis e mesmo fora da Igreja, que viveram uma vida de amor à justiça na caridade. A festa atual quer lembrar todos, inclusive nossos parentes e amigos que agradaram a Deus. São poucos declarados santos. E os outros? Não são santos? São tão santos quanto os declarados. Aliás, santidade não tem tamanho. Esses são colocados como exemplo, modelo e estímulo à santidade. Reflete-se no dia de hoje a grande chamada de todos à santidade, como lemos no capítulo V da Lumen Gentium. Todos podem ser santos. S. Afonso diz: Todos podem ser santos na condição em que vivem. Por isso a santidade é aberta a todos. A liturgia de hoje quer “celebrar numa só festa o mérito de todos os santos” (Oração). A santidade do povo de Deus não se faz por gestos grandiosos, como temos em muitos santos, mas pela simplicidade de vida dedicada e carregada como uma cruz seja nos trabalhos, seja nos sofrimentos. Ela se faz de modo particular através das pequenas coisas de cada dia. São os santos do silêncio da vida. Só Deus sabe o que passam e o que sofrem. Quanta gente dedicada aos irmãos no escondimento. São pais e mães que lutam pela sobrevivência da família. São aqueles que se entregam a missões de cuidado dos necessitados. São aqueles do silêncio ou da atividade pela vida do mundo. 
Felizes todos vós 
Jesus já deu a receita desse caminho simples da santidade quando, reunindo em torno de si seus discípulos, fez o discurso das bem-aventuranças. Ali está a síntese de tudo de bom que o ser humano pode fazer. É a felicidade dos filhos na casa do Pai. Jesus é o modelo acabado desse projeto de santidade. São as bem-aventuranças. É caminho de todo aquele que busca Deus. Esse caminho está direcionado a Deus, mas passa pelo irmão. Todo homem e mulher podem realizá-las em sua vida. Compreendemos que Jesus está a dizer: “Façam como eu faço”. É necessário um grande exercício de purificação de nossa vida espiritual, pois está eivada de inutilidades. Para fugir do compromisso com a humildade, foram criados, ao longo da história tantos métodos de espiritualidade, fórmulas religiosas, modelos ricos de reflexão, mas vazios desse ensinamento de Jesus. Nossa fé fica vazia quando a fazemos fora desse natural cristão. Insistem-se nas longas horas de oração, nas penitências até violentas e textos complicados de reflexão espiritual. Santa Teresinha o descobriu como a pequena via, mas cheia de vida. As oito bem aventuranças são outros tantos nomes do amor. O Papa Francisco é um modelo dessa simplicidade.
Somos filhos de Deus 
Justifica-se esse ensinamento de Jesus quando lemos a carta de S. João dizendo que somos filhos de Deus. Se somos filhos, estamos na mesma condição de Jesus que é o Filho amado do Pai. “Quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a Ele porque O veremos tal como Ele é” (1Jo 3,2). Seremos se tivermos sido semelhantes a Ele na prática do Evangelho. Notamos que as palavras do Evangelho não são o caminho do cristão. Buscam-se outras coisas porque não nos comprometem. O amor não é pesado nem difícil, mas empenha a vida em sua totalidade, como foi para Jesus que foi até o extremo do amor. E por isso mesmo Ele foi pregado na cruz. A cruz não é a dor, mas o amor. 
Leituras: Apocalipse 7,2-4.9-14;Salmo 23; 
1João 3,1-3; Mateus 5,1-12 
Ficha: nº 1906 - Homilia de Todos os Santos (03.11.19) 
1. Santo Afonso dizia que todos podem ser santos na condição em que vivem. 
2. Nas bem-aventuranças está a síntese de tudo de bom que o ser humano possa fazer. 
3. O amor não é pesado nem difícil, mas empenha a vida 
Receita de Jesus
Hoje em dia tem receita pra tudo. Jesus não ficou para trás. Não só traz uma receita para a vida em Deus, mas o único caminho para chegar ao Céu. A receita é boa porque traz tudo que é preciso para ser completa. Todas as receitas têm algo de bom. Mas, as bem-aventuranças têm tudo para a vida ser plena e sadia. Jesus toca o essencial. Muita gente e mesmo santa propôs muitos caminhos de santidade. Certo que contém muito do essencial. Mas os aprendizes pegam só detalhes. Dá-se a impressão que as Sagradas Escrituras não são a base da vida. Sem isso, não conseguimos. Jesus apresenta a receita completa para a felicidade.

nº 1905 Artigo - “Esperamos Nele”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Celebração dos mortos. 
Santo Agostinho relata em seu livro, “As Confissões”, os últimos diálogos que teve com sua mãe, Santa Mônica. Não era um diálogo filosófico, era a filosofia da vida que cultuavam com simplicidade. Falavam da vida futura, depois de ter conquistado, em vida, a alegria de ver os resultados de suas preces por seu filho sem fé. Agora o tinha na fé e até mais, no ministério. Ela se sentiu mal e, entre outras coisas, disse que não se preocupassem em enterrá-la fora da pátria. Mas pedia que se lembrassem dela no altar de Deus nas celebrações. Ela nasceu em 332 e morreu 387. Viveu 56 anos. Vejamos que estamos no início do Cristianismo. Havia já a liberdade para o culto cristão (a.313). Mas era muito cedo para haver tantas doutrinas estabelecidas. Por que pede que reze por ela no altar de Deus? Já havia uma consciência clara da utilidade da oração pelos mortos, sobretudo durante a Eucaristia. Na verdade, Santa Mônica, conhecia o culto pelos mortos na sociedade romana, chamado refrigerium (descanso). Era uma refeição feita junto ao túmulo do falecido. Não era novidade falar de orações pelos mortos. Dizemos: “Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno”. Que tenham um lugar de descanso (refrigério) e paz. A Ressurreição de Jesus nos dá a segurança que Ele ressuscitará os que morreram. Não foi logo que se começou a fazer uma oração especial. Mas era algo normal rezar pelos mortos. Como a partir do século IV se celebravam todos os santos mártires e, que se estabilizou no dia primeiro de novembro, a partir do ano 1000 e tomou o dois de novembro como dia de fazer memória de todos os falecidos. 
Morte que conduz à vida 
Meditando a celebração podemos encontrar sustento para nossa vida que parece tão frágil. Por que viver? Para morrer? A morte está presente. A Palavra de Deus nos mostra igualmente que a morte tem seu sentido na vida que ela dá. Lemos que Jesus explica que a vida eterna é uma decisão do Pai para todos: “Esta é a vontade do meu Pai: que toda a pessoa que vê o Filho e Nele crê tenha a vida eterna e, Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40). A missão de Jesus é conduzir todos à Vida que dura para sempre. Por isso a morte tem a ver com a vida que segue. Rezar pelos mortos é crer na vida de todos. Rezamos pelos mortos porque cremos no Corpo de Cristo que une a todos. Os membros mais fortes fortalecem os mais fracos. A noção de Corpo Místico de Cristo justifica a intercessão dos Santos e nossa intercessão pelos mortos. É uma coisa de família. Queremos a vida plena para todos. Não sabemos detalhes da vida dos que foram. Se necessitam de nossa oração para seu descanso, nós o fazemos, como toda a história da Igreja traduz. 
Enquanto esperamos a glória que leva à vida 
O salmo 26 nos leva a rezar essa verdade quando coloca em nossos lábios: “Ao Senhor eu peço somente uma coisa e, é só isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida”. A leitura de Isaías nos ensina: “Ele removerá, neste monte, a ponta da cadeia que ligava todos os povos, a teia em que tinha envolvido todas as nações” (Is 25,7). Toda oração pelos mortos está nos colocando em caminhada segura para esse encontro com o Senhor: “Escutai com bondade as nossas preces e aumentai a nossa fé no Cristo ressuscitado, para que seja mais viva a nossa esperança na ressurreição dos vossos filhos e filhas” (Oração). Crendo na Ressurreição manifestamos nossa fé na força da oração pelos mortos que vivem essa passagem terrena para a vida celeste. Não deixemos de rezar pelos mortos. Um dia outros rezarão por nós.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

nº 1904 - Homilia do 30º Domingo Comum (27.10.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“O grito do humilde” 
Subir ao templo
           Continuando sua catequese, depois de explicar que a oração deve ser incessante, Jesus nos faz ver o núcleo da oração: a que nasce do coração. Dois homens sobem ao templo para orar. O templo era a casa de Deus. Ali era o lugar da oração. Jesus, sem desqualificar a função do templo, coloca a oração no templo do coração. Um era fariseu e outro publicano. O fariseu era um observante da lei e cumpria todos os mandamentos com perfeição: Ele toma a posição correta de se rezar: Em pé, rezando no seu íntimo. Agradece por não ser como os outros homens. Seu agradecimento por não cometer o pecado, passa por diversos mandamentos. Agradece sua fidelidade à lei e à aliança. Tem pureza em seus procedimentos, não rouba, faz justiça, não come adultério, cumpre os preceitos do jejum, jejuando duas vezes por semana, paga o dízimo. Mas comete um erro brutal: não sou como os outros homens, por exemplo, como esse publicano. Sua oração ofende os olhos de Deus por julgar o outro. O publicano não vai ao templo para desfilar. Ele é judeu, como o fariseu, mas é cúmplice com o invasor romano. Pelo lucro que recebe, é encarregado de cobrar os pesados impostos para império romano. Por isso eram odiados e desprezados pelo povo. Lembramos que Jesus era amigo dos pecadores e publicanos. Era um crime. O publicano está distante. Toma uma atitude humilde e reza em silêncio sinceramente arrependido. Tem vergonha e bate no peito em sinal de dor e pede do fundo de sua miséria: “Tem piedade de mim que sou pecador” (Sl 50,3).
Quem se exalta será humilhado
           Jesus fala forte: “Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro, não. Pois quem se eleva será humilhado e, quem se humilha será elevado” (Lc 18,14). Ser justificado é ser readmitido à amizade Divina. A humildade é a elevação a Deus. O orgulho, mesmo fazendo boas coisas, como é o caso do fariseu, destrói a amizade Divina. Aqui Jesus revela o que acontece com Ele mesmo em sua humilhação, como lemos na carta aos Filipenses 2,5-11. Foi ao máximo da humilhação para um ser divino que se fez inferior a todos, indo até à morte. Por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome, isto é, o nome Divino. O Homem humilhado é elevado. Na parábola, Jesus não desfaz do fariseu pelo bem que faz, mas por se colocar acima do fraco pecador. Isso acontece muito em nossas comunidades na busca pelo poder. Existem os que se julgam puros, santos e ungidos. E têm a ousadia de dizer que o outro não é ungido. Quem é dono do Espírito? Ele é silencioso, pois age no cerne do amor-humildade, aquele que se põe a serviço. Assim foram nossos santos. Olhem a Ir. Dulce foi puro amor e humildade
Paulo e seu Senhor
           Palavras finais mostrando sua vida cheia do Senhor e por isso repleta de uma entrega total ao seu ministério de evangelizar até ao sangue derramado. Ele se une a seu Senhor no sacrifício. É sua identificação com seu Redentor. Diz: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”(2Tm 4,7). Espera a recompensa que será dada a ele e a quem fizer o caminho de Cristo. Foi abandonado pelos seus. Mas ele tem sempre a presença de Cristo: “O Senhor esteve ao meu lado e me deu forças; e fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações” (Id 17). Paulo fala de sua boa obra na humildade do publicano. Na Eucaristia, o Senhor nos educa a termos a atitude humilde de ficarmos ocultos para que a vida seja dada a todos.
Leituras; Eclesiástico 35,15b-17. 20-22ª; Salmo 33;2
Timóteo 4,6-8.16-18;Lucas 18,9-14.
Ficha: nº 1904 - Homilia do 30º Domingo Comum (27.10.19) 
1. Jesus, sem desqualificar a função do templo, coloca a oração no templo do coração.
2. A humildade é a elevação a Deus.
3. Paulo se une a seu Senhor no sacrifício. É sua identificação com seu Redentor. 
Cheio de si, vazio de Deus          
           Quando se faz uma pintura do fariseu e o publicano, o fariseu é sempre pintado barrigudo. E olha que jejuava duas vezes por semana. O texto da parábola tem um ensinamento claro sobre a necessidade da humildade, não de palavras, mas de vida, como em Jesus.
           O fariseu todo empinado, se mostra orgulhoso do bem que faz. O publicano, grande pecador, se mostra todo humilde pelo reconhecimento de sua situação triste de pecador público. Todo mudo sabia que ele não era bom, pois era opressor do povo em benefício dos romanos. Sendo humilde se coloca numa atitude de conversão pelo pedido de perdão sincero.
           A batalha cristã, como a de Paulo, nos leva até à boca do leão. Mas Deus está sempre de nosso lado. Por isso não há necessidade de empinar o bico.

nº 1902 - Homilia do 29º Domingo Comum (20.10.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Deus não se faz esperar”
Os gritos dos pobres 
“Jesus contou aos discípulos uma parábola para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre e nunca desistir” (Lc 18,1). Há críticas a respeito da oração de pedido, sobretudo se são para coisas materiais ou a situações muito humanas, como no caso da parábola da viúva era desprotegida. Até nisso dependemos de Deus. Jesus explica a oração como uma súplica insistente. A viúva, com sua insistência, convence o juiz a cuidar de sua causa. Deus não se cansa com nossas insistências. Pelo fato de seus escolhidos não terem outra defesa que sua bondade, não vai deixar de lado sua causa e o fará logo, não deixando esperar. As Sagradas Escrituras sempre colocam Deus como protetor dos fracos e pobres. O que venceu o juiz foi a insistência da pobre viúva. As viúvas, com a morte dos maridos, ficavam totalmente desamparadas. O fiel cristão está desprotegido na sociedade, mas tem certeza da pressa de Deus em atendê-lo. Assim deve ser a oração. Não para dobrar Deus, mas para sermos sempre insistentes. A insistência é um modo de oração. Rezar não é falar muitas coisas para Deus, mas muitas vezes a mesma coisa (Beato Charles de Foucauld). E Deus fará justiça bem depressa. A oração insistente é ouvida por Deus que sempre atende e logo. A atitude de Moisés em oração pelo sucesso da batalha é dada como modelo de oração. Assim permanece em oração o tempo todo, com a ajuda de Aarão e Ur que lhe sustentam os braços. A oração participada tem mais valor. Jesus diz uma coisa complicada: “O Filho, quando vier, encontrará fé sobre a terra? (Lc 18,8). Sem a oração a fé desfalece. 
De onde vem nosso socorro? 
A oração permanente é o requisito fundamental para nossas vitórias. É a garantia. O altar é a pedra sobre a qual se firmam os que buscam a Deus em sua oração. O Salmo 120 mostra que o socorro vem de Deus. Essa sempre renovada confiança é a garantia de ter ajuda. Moisés pede a vitória sobre o inimigo. Temos um inimigo muito mais forte porque pode penetrar as decisões de nossa vida. Por isso o salmista diz que levanta os olhos para os montes, para o alto. Lá está Aquele que fez o céu e a terra, por isso pode continuar fazendo tantas coisas. Deus nos guarda constantemente: “Ele não deixa tropeçarem os meus pés e, não dorme quem te guarda e te vigia... O Senhor te guardará de todo o mal, Ele mesmo vai cuidar da tua vida! Deus te guarda na partida e na chegada. Ele te guarda desde agora e para sempre!”(Sl 120). A proposta permanente de Deus para o sustento de nossa fé é estar sempre cuidando de nós. Nossa resposta é a permanente atitude de estar sempre buscando sua proteção e sua ajuda. Somos fracos, mas temos onde nos escorar. 
A Palavra que reza
Paulo escreve a seu querido discípulo, a quem nomeara como supervisor de uma grande área de seu ministério, que insistisse muito na formação das comunidades, sobretudo pela pregação. Timóteo sempre fora fiel aprendiz da Palavra. “As Sagradas Escrituras têm poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus”. Não basta um conhecimento superficial, como uma bíblia de enfeite. Ela é inspirada por Deus. Na Palavra encontramos o caminho da oração. Rezamos pela Palavra e a Palavra nos ensina a rezar. Por isso Paulo diz a Timóteo que proclame a Palavra e insista. Por isso temos que ouvir a Palavra que nos conduz à oração insistente, pois insistente deve ser nossa oração seja insistente. Moisés ensina a não abaixar os braços. Ensina também que devemos ajudar uns aos outros na oração comum. Ela tem força de vencer as batalhas. 
Leituras: Êxodo 17,8-13; Salmo 120;2 
Timóteo 3,14-4,2; Lucas 18,1-8. 
Ficha nº 1902 - Homilia do 29º Domingo Comum (20.10.19). 
1. A oração insistente é ouvida por Deus que sempre atende e logo. 
2. A oração permanente é o requisito fundamental para as vitórias. 
3. Temos que ouvir a Palavra que nos conduz à oração insistente. 
Escolinha de Jesus 
Jesus ensina o be-a-bá da oração a seus discípulos. Tudo em Jesus é fácil de compreensão, pois Ele parte da vida comum. Os fatos do dia a dia podem explicar o que quer ensinar. Hoje ensina que a oração tem algo de chato. Chato, não pelo assunto, mas pela insistência. Jesus rezava muito. Pelo que conhecemos Dele, insistia em repetir as mesmas coisas, como vemos em sua dolorosa agonia no Jardim das Oliveiras. Aprendemos, quando estudávamos que a repetição é a mãe dos estudos. Repetindo fixamos o conhecimento. Assim também, buscando sempre, podemos fixar em nós os ensinamentos de Jesus. Ensina também a rezar sempre, não para convencer Deus de nossas necessidades, mas de nos convencer da necessidade de buscar sempre a Deus.

sábado, 5 de outubro de 2019

nº 1900 - Homilia do 28º Domingo Comum (13.10.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Milagres que curam” 
Deus sem fronteiras 
Jesus manifesta mais uma vez a grande abertura do Reino de Deus a todos. Continuou na linha profética de um povo missionário aberto a todos os povos. Toma esses dois exemplos para mostrar como Deus busca os mais distantes. E Jesus identifica a fé de pagãos, mais consistente que a fé dos judeus, depositários de todas as promessas. A história de Naamã, que com relutância inicial, obedece e faz o simples gesto de mergulhar sete vezes no rio Jordão, muito inferior aos rios da Síria. Os gestos de Deus em favor dos homens são sempre simples e humildes. A grandeza vem da fé. O milagre leva a uma definição por Deus: “Permite que teu servo leve daqui a terra que dois jumentos podem carregar. Pois teu servo já não oferecerá holocaustos ou sacrifício a outros deuses, mas somente ao Senhor” (2Rs 5,17). O milagre conduz a uma adesão a Deus. O profeta (v.16) recusa presentes pelo milagre. Jesus confirma que Deus acolhe a fé dos pagãos. Jesus retoma a questão mostrando que os estrangeiros têm mais fé. Dez leprosos pedem a Jesus a cura: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós” (Lc 17,13). Ele manda que vão aos sacerdotes. Eram esses que declaravam alguém leproso e os isolava da comunidade e depois comprovava sua cura com documento. O milagre aconteceu enquanto iam. A lepra era uma doença que levava à exclusão total. Jesus cura os dez. Um deles volta para agradecer. E era um samaritano. Voltou para agradecer e dar glória a Deus. Compreendeu o sentido do milagre. 
Cura pela fé 
Jesus se agasta com a ausência dos outros: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser esse estrangeiro?” (Lc 17,17-19). Temos a mesma situação em Naamã. É o estrangeiro que reconhece a ação de Deus. Nesse milagre entendemos a função do milagre e por outro lado, o que se perde com um milagre. Jesus cura a todos. Mas somente o samaritano se salva: “Levanta-te e vai”! Tua fé te salvou”. Jesus não mandou a lepra de volta aos outros nove, mas afirma que o milagre verdadeiro se realizou no samaritano, pois curou também sua fé. Agora ele crê e está salvo. E os outros se curaram, mas não curaram o coração, a fé. Ouvimos que tantas pessoas recebem milagres, mas não modificam sua atitude de fé para uma fé que se defina como vida a partir do coração. A fé provoca uma mudança de direção de nossa vida, colocando-nos no caminho de Jesus, não como uma opção intelectual, mas de vida. A vida se compromete com o Senhor Jesus num processo de vida que atinge também o culto. O culto a Deus exemplificado por Naamã e pelo samaritano, só vai existir quando tivermos uma opção por Deus que envolva toda nossa vida. De resto permanecerá um culto vazio. 
A palavra não está algemada
“Estejamos atentos ao bem que podemos fazer” (Oração). Isso só nos será possível se estivemos atentos à Palavra. Paulo, mesmo prisioneiro, tem confiança que suas algemas se tornam uma razão para que a salvação chegue a todos: “Por isso suporto tudo pelos eleitos, para que eles também alcancem a salvação que está em Cristo Jesus” (2Tm 2,10). Reafirma que a Palavra não está algemada. A força de Paulo e seu vigor encontram respaldo na força da Palavra. Ela o estimula sempre mais a, mesmo prisioneiro, continuar seu ministério, sua missão. Vê sua vida como uma união ao Cristo em seu sofrimento e sua glória: “Se com Ele morremos, com Ele viveremos... se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar a Si mesmo” (id 11,13). Assim temos a certeza que a fé é anuncio e vida. 
Leituras: 2 Reis 5,14-17; Salmo 97; 
2ª Timóteo 2,8-13;Lucas 17,11-19.
Ficha nº 1900 - Homilia do 28º Domingo Comum (13.10.19) 
1.Os gestos de Deus em favor dos homens são sempre simples e humildes. 
2. A fé leva a uma mudança de direção de nossa vida, colocando-nos no caminho de Jesus. 
3. A força de Paulo e seu vigor encontram respaldo na força da Palavra. 
Um banho faz bem 
A água lava tudo. A história do sírio Naamã faz lembrar que um bom banho limpa muita impureza. Mas a água que lavou o comandante leproso foi mais longe, lavou seu coração. Ele mudou o rumo de sua vida. De agora em diante só conhece o Deus de Israel. Só a ele vai prestar culto. Ele ficou curado, como o leproso samaritano. Os dois foram além e deram o passo que purificou suas vidas: de agora em diante, coração purificado pela fé. Sem deixar de lado o valor do banho de água, o banho da fé lava muito mais e não exige outro.

nº 1899 Artigo - “A Senhora Aparecida”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Mãe conhecida 
Há muitos modos de ver e conhecer uma realidade. Quando nos aproximamos de Nossa Senhora Aparecida, podemos conhecê-la sempre de um modo novo. Penso que além do que já sabemos, vamos ver também o aspecto simbólico. Esse não esvazia o conhecimento e a realidade, mas nos abre sempre a maior compreensão e veneração. A imagem é como uma fonte que sempre jorra água nova. Assim vamos conhecendo mais e amando melhor. O simbolismo da imagem começa em seu encontro nas águas. Ela parte do desconhecido. Não sabemos sua origem. Depois de feita a imagem, deve ter havido um caminho bonito entre as pessoas. O porquê se encontra ali, já nos abre o caminho da Providência. É a Mãe que se adianta aos filhos. Ali ela os esperava. Tirar das águas turvas torna-se um ensinamento. “Nada é impossível àquele que crê” (Mc 9,23). No momento difícil de um trabalho infrutuoso ela se manifesta. “Deus vem em socorro de nossa fraqueza (Rm 8,26). Ao retirar das águas o corpo quebrado de uma imagem sem cabeça e, a seguir o encontro da cabeça, pequenina, que não foi levada pelas águas, viram a presença da Mãe que conheciam, “enviada por Deus”. A seguir, a pesca milagrosa. Como em Caná, a Mãe disse: “Eles não tem mais vinho”. Aqui diz: “Eles não têm peixe”. Esse acontecimento simboliza a contínua atenção de Deus para com seus filhos em necessidade e o faz também pela intercessão da Mãe de seu Filho que veio para que “todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Os pescadores reconhecem a Mãe que os ajuda. 
Milagres que falam 
Conhecemos a série de milagres que ocorrem nos inícios do culto à Mãe de Deus e Mãe de seus filhos pobres. O socorro milagroso que Nossa Senhora Aparecida, não sei quando começou a ter esse belo nome, se dirige aos pobres necessitados. Sejam as velas que se apagam e acendem, seja o escravo libertado das correntes, seja a menina cega, seja menino afogando-se no rio, o homem e a onça. Os milagres sempre trazem uma resposta a uma situação de grave emergência. Essa emergência se multiplica pela vida com tantos outros nomes. Os milagres significam libertar de situações sem solução. A luz das velas lembra a fé que, às vezes se apagam e acendem. É preciso crer com consistência. As correntes que caem significam para nós a libertação dos males, sobretudo espirituais que o encontro com Nossa Senhora nos ajuda a viver livres e servir a Deus como o fez o escravo. Ela nos abre os olhos, como à menina cega, para vermos o caminho de Deus na Igreja. Como a Igreja é bonita em seus caminhos de libertação da cegueira que nos impede de ver o Reino de Deus acontecendo no mundo. A Igreja, que tem em seu seio a Virgem Mãe, é uma luz nova para nossos olhos. A Mãe socorre nos momentos em que pedimos socorro, como o menino que se afogava e o homem salvo da onça. Grita que a Mãe corre para socorrer imediatamente. Tão celestial e tão humana. Nada de Deus é estranho ao amor. 
O cavalo não reza 
Chegamos ao fato do incrédulo que queria entrar a cavalo dentro da igreja de Nossa Senhora Aparecida, basílica antiga. Queria mostrar seu desprezo. Ao forçar o cavalo a subir os poucos degraus, teve a surpresa de ver seu cavalo imóvel preso à pedra do degrau. Assim o homem entra com respeito e veneração, vendo a ação de Deus através do animal. É um chamado muito claro a percebermos que a criação participa da bondade de Deus que através de Maria estende sua bênção a toda a criação. Lembramos que há tantas romarias a cavalo. É a participação da natureza no amor a Nossa Senhora Aparecida.

nº 1898 - Homilia do 27º Domingo Comum (06.10.19)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
“Aumenta nossa fé” 
Tamanho da fé 
O profeta Habacuc lamenta a violência, as iniquidades, a maldade, a destruição, a prepotência, a discórdia que só aumentam. Deus manda o profeta dizer: “A visão se refere a um prazo definido, mas tende para um desfecho, e não falhará. Se demorar, espera, pois ela virá com certeza e não tardará. Quem não é correto, vai morrer” (Hab 2,2-4).O profeta mostra que o mal está dominando e tem seus seguidores. Mas isso vai ter um fim. Podemos ver a história da humanidade. Essas situações são frequentes e estamos vivendo essa realidade. A pregação do profeta Habacuc é feita no tempo do profeta Jeremias que vê a mesma situação e diz claramente que deve haver uma conversão para que Deus poupe a cidade e o povo de serem destruídos. Do contrário, o castigo virá por conta da maldade e da desobediência à lei de Deus. Os idólatras da maldade e da corrupção foram todos para o exílio. Quem vai se salvar? O profeta responde: Vai sobreviver o justo que tem sua fé como riqueza e rumo da vida. Jesus avisa que a fé pequenina como uma semente, tem a força de vida que não vai ser destruída, pois o “justo viverá de sua fé” (Hab 2,4 e Lc 17,6). “Fé é dom de Deus e é Vida divina. Fé não é só uma atitude intelectual a uma verdade atraente. É adesão de amor, é amor. É uma confiança inabalável que leva a esperar na paciência que as realidades divinas se manifestem e se realizem nas situações limites da vida humana. Sem fé, pois, tudo é morte. Dizendo aumenta nossa fé. Os discípulos viam que sua fé era pouca. Jesus indica que a fé deve ser como a fé dos patriarcas. Ela deu rumos e base para o futuro.
Reaviva o dom 
O dom da fé, dado e acolhido com alegria, necessita estar sempre ativado para que possa penetrar todas as nossas atitudes e decisões para que sejam realmente o depósito da fé e do amor (2Tm 1,13-14). Para superar as grandíssimas dificuldades que Habacuc enumera, o que não é mais do que um retrato do que acontece sempre por toda parte, temos nossa fé. Ela pode ser fraca e insuficiente aos nossos olhos. Jesus usa a comparação com a semente muito pequena. Lembramos a semente do eucalipto que é um pozinho ela contém em si a vida de uma grandiosa árvore. Ela tem a força de transportar para longe essa árvore. Não se trata de fazer esse “milagre”, mas perceber a força de Deus que age em nós. Ela pode nos sustentar até a entrega da própria vida, com vimos em tantos santos. Não só perdendo a vida, mas colocando-a a serviço. “Fé é responder e aderir com amor a Deus que chama a Si e a serviço dos irmãos. Ela é dom gratuito dado a todos. Trata-se de corresponder totalmente. A vida se torna então um prodígio” (Frederici). 
Servos inúteis 
O salmo 94 nos convida a “não fechar o coração e ouvir a voz do Senhor”. O grande chamado de Deus nos chama a não fechar o coração. Viver a fé é prestar um culto puro a Deus e nos colocar totalmente a um serviço gratuito como resposta à gratuidade de Deus. Não se trata de inutilidade, mas de totalidade da entrega no serviço. A graça que nos foi dada pela fé e anima toda nossa vida, foi totalmente gratuita. E a ela correspondemos, isso é, trabalhamos no campo de Deus, com toda a gratuidade. Jesus dizia: “De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8). A missão do apóstolo, como Jesus ensinava aos seus discípulos, é estar unido a Ele que em tudo Se doou. Trabalhamos em seu campo e Ele é nossa recompensa. A graça sempre nos acompanha em nosso operar as maravilhas que Deus nos concede. Não é pelo lucro que trabalhamos, mas pela graça.
Leituras Habacuc 1,2-3;2,2-4; Salmo 94;2
Timóteo 1,6-8.13-14; Lucas 17 5-10. 
Ficha nº 1898 - Homilia do 27º Domingo Comum (06.10.19
1. “Fé é dom de Deus, e é Vida divina. Não é só uma atitude intelectual a uma verdade. 
2. Não se trata de fazer esse “milagre”, mas perceber a força de Deus que age em nós. 
3. “De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8). 
Conversa de semente 
Às vezes ouvimos historinhas de árvores que conversam sobre seu futuro e outras. Hoje vamos ouvir uma sementinha falando com a grande árvore. Imaginemos o eucalipto. Pode chegar a 100 m de altura. Sua semente é minúscula e parece um pozinho. Então ela diz à poderosa árvore: Você é imensa. Mas saiba, sua grandona, que eu sou tudo que você é. A vida que sou, quando me abro é que dá todo seu tamanho. Assim, a fé, por menor que seja, sempre tem em si a totalidade do dom que Deus nos deu. Não há fé pequena, pois é participação da vida de Deus.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/