quarta-feira, 28 de julho de 2021

nº 2091 Artigo - São José nos Evangelhos (3)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Relatos bíblicos 
Em seu ensinamento sobre S. José, o Papa Francisco faz uma retomada de todos os textos que falam de José. É a única fonte que temos. Lemos: Profissão: Era um humilde carpinteiro (Mt 13,55). Estado civil: Desposado com Maria (Mt 1,18; Lc 1,27). Conceito: Um «homem justo» (Mt 1,19), sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei (Lc 2,22.27.39). Comunicação com Deus: Através de quatro sonhos (Mt 1, 20; 2, 13.19.22). Fatos: Depois duma viagem longa e cansativa de Nazaré a Belém, viu o Messias nascer num estábulo, «por não haver lugar para eles» (Lc 2,7) dentro de casa. Foi testemunha da adoração dos pastores (Lc 2,8-20) e dos Magos (Mt 2,1-12), que representavam o povo de Israel e os povos pagãos. Atitudes: Teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome revelado pelo anjo: dar-Lhe-ás «o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1,21). Dar o nome a uma pessoa ou a uma coisa significava conseguir pertença, como fez Adão na narração do Gênesis (2,19-20). Fatos: No Templo, quarenta dias depois do nascimento, José, juntamente com Maria, – ofereceu o Menino ao Senhor e ouviu a profecia que Simeão fez a respeito de Jesus e Maria (Lc 2,22-35). Situações difíceis: Para defender Jesus de Herodes, residiu no Egito (Mt 2,13-18). Regressado, viveu na pequena Nazaré, na Galiléia – de onde «não saia nenhum profeta» (Jo 7, 52); durante uma peregrinação a Jerusalém perderam Jesus e, angustiados, andaram à sua procura, encontrando-O após três dias no Templo discutindo com os doutores da Lei (Lc 2,41-50). 
Com o coração do Papa 
Percebe-se como o Papa Francisco leu com carinho todas essas passagens da Escritura sobre S. José. Esse Papa não tem medo de ser gente e deixar falar o coração e não a biblioteca. Lembrando que está comemorando um gesto do Papa Beato Pio IX, recorda que “nenhum santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como S. José”. Pio IX o declara “Padroeiro da Igreja Católica”. Pio XII apresentou-o como “Padroeiro dos Operários”. São João Paulo II, declara-o como “Guardião do Redentor”. O povo, mais prático, o chama de “padroeiro da boa morte”. No Brasil, no censo de 2010, havia 5,7 milhões de pessoas com o nome de José. Ele é o banco para onde acorrem os responsáveis das finanças na Igreja, quando se rapa o fundo do cofre. Com o coração cheio de simplicidade, comemorando os 150 anos da declaração de São José como Padroeiro da Igreja Católica, assim escreve: “Para partilhar convosco algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós”. 
Presente no meio do povo 
O Papa Francisco escreve, como bom devoto, “que todos podem encontrar nele –que passa despercebido, o homem da presença quotidiana, discreta e escondida - um intercessor e um guia nos momentos de dificuldade”. Dá a impressão que São José está do nosso lado, é um dos nossos e não um santo distante, num altar. Faz também um paralelo com os que, na pandemia, dedicaram-se silenciosamente, pela maré de infectados e no meio de tantos mortos. Seus nomes não são lembrados. Mas eles foram decisivos para a salvação de tanta gente. Diz também: “São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles, dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão”.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

nº 2090 - Homilia do 17º Domingo Comum (25.07.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Partilhar para viver”
 Dons se multiplicam 
A vida cristã encontra seu foco de atenção e de vivência na Eucaristia. A Encarnação aconteceu quando o Filho assumiu a condição humana. O Filho permanece entre os seus como vida através da Eucaristia. Os mistérios de Deus estão à altura do homem para que possa acolhê-los, por isso João nos oferece no capítulo sexto, o discurso do pão da vida. Antes do discurso, faz o milagre que orienta a reflexão. Concorrem vários elementos: Era Páscoa dos judeus. Nessa ceia está toda a história do povo. João não narra a celebração da última Ceia, mas interpreta-a nesse milagre e em seu discurso; “Havia muita relva no local”. Estamos na primavera. A vinda de Jesus é o começo de todas as estações do novo mundo; naquele momento Jesus faz o milagre da multiplicação dos pães. O milagre dá o sentido profundo da Eucaristia. Da ausência de alimento, surge a abundância. Jesus se preocupa com a necessidade do povo: “Onde vamos comprar pão para tanta gente?”(Jo 6,5). A preocupação com o outro gera a abundância que soluciona. Do pouco, cinco pães e dois peixinhos, que era lanche de uma menino, alimentou a multidão. Está claro que o mundo, com o pouco que tem, pode se alimentar. Mais uma vez a criança tem a solução. Note-se que a crise do mundo não é de alimento, mas de gente que saiba organizá-lo. O estoque do mundo é para ser multiplicado. Jesus mandou os discípulos distribuir. Enchem doze cestos com as sobras. “Saciais a todos com fartura” (Sl 144). 
Páscoa só existe na partilha. 
“Era Páscoa”. Esse milagre nos explicita o sentido da Páscoa de Jesus na Eucaristia e na Cruz. Tudo é para ser repartido. Esse milagre de multiplicar e repartir o pão resume toda a vida cristã. Há tantas coisas a serem partilhadas: A Palavra, os Sacramentos, as graças e a missão. O milagre é um símbolo de todo o sermão sobre o pão da vida. Jesus deu graças pelo pão e o multiplicou. Enquanto a Eucaristia não tiver o dom de partilha não passará de um rito. Não é mágico. Pode não chegar à vida. A Páscoa não é um momento, é o sentido de todo o momento. Tudo é Páscoa. Em tudo passamos da morte para a vida. Páscoa foi receber o dom da criança, cinco pães e dois peixinhos, para que o pouco fosse o sustento de muitos. Até se faz uma comparação do costume de colocar em comum os lanches que cada um trouxe. O pouco de cada um, somado chega a sobrar. Jesus reparte o pão e diz que é o seu Corpo e o vinho é o seu Sangue. É para ser repartido. É Páscoa. Na cruz, o corpo é partido e o sangue derramado. É Páscoa. O corpo do Senhor que nos alimenta, nos transforma Nele para que o levemos aos outros. É partilha. É Páscoa. 
Pão da unidade 
A Comunhão, Eucaristia partilhada gera unidade. Uma fé mal informada tem a característica individualista que vê só a si mesmo em comunhão com o Senhor. Antes de ser pão para o alimento espiritual ela se reparte e se transforma em partilha, concretamente. É o milagre que parte da unidade e gera unidade. Todos comeram e ainda sobraram, doze cestos. A tendência da espiritualidade individualista é ver a Eucaristia como algo pessoal, rito a ser executado. É bom. Mas tira toda a força pascal instituída por Jesus que é para a salvação do mundo. É o banquete da Sabedoria. “A sabedoria preparou o banquete” (Pr 9,1-6). Jesus é o pão descido do Céu para a vida do mundo. O aspecto individual se justifica a partir da pequena contribuição, como o menino que dá o seu pequeno lanche.
Leituras: 2 Reis 4,42-44; Salmo144;
 Efésios 4,1-6; João 6,1-15 
Ficha nº 2090
Homilia do 17º Domingo Comum (25.07.21) 
1. A preocupação com o outro gera a abundância que soluciona. 
2. O milagre de multiplicar e repartir o pão resume toda a vida cristã. 
3. A Comunhão, Eucaristia partilhada gera unidade. 
Cadê meu lanche 
Sempre me incomodou a história “aqui há um menino que tem cinco pães e dois peixinhos. Mas o que é isso para tanta gente?” (Jo 6,9). Coitado do menino! Acho que deve ter ficado angustiado: “E agora, cadê meu lanche”? Certamente Jesus agradeceu e encheu o embornalzinho dele com um punhado de pedaços. E terá dito: “Leva um pouquinho para a mamãe”. Que sorriso lindo terá feito. Ele será o primeiro missionário da Eucaristia. A mãe terá dito: “Meu filho, onde arranjou isso?” Então ele foi contar. Ninguém falou nada dos peixinhos que também foram multiplicados e repartidos. A palavra peixe, em grego (ιχθύς), é monograma de Cristo: Jesus Cristo de Deus Filho Salvador. O peixinho dá o sentido do Pão Eucarístico que é Jesus o Filho de Deus que veio para salvar.

nº 2089 Artigo - Com o Coração de Pai - 2

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
José nos Evangelhos 
São José não tem nenhuma fala nos Evangelhos. Não é necessário falar muito. José não é um silencioso ausente. Mas muito presente. Não fala por palavras, mas por atos que falam tudo o que é preciso. Os olhos falam, as mãos falam, as atitudes manifestam o que se quer dizer. É como nosso povo simples. Fala pouco, porque em pouco dizem tudo. Como era a vida em Nazaré? O que conversavam? Como se entendiam? Não é mistério porque os silêncios do homem se revelam nas ações. Nesta reflexão que faremos, procuraremos ler o texto do Papa Francisco e dizer alguma palavra. Assim escreve o Papa Francisco querendo fazer uma síntese: “Com coração de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como «o filho de José»” (Lc 4,22). São dois pontos que resumem tudo: Era o pai porque amava com o coração de pai. Podemos até levar adiante uma afirmação que ele ama com o Coração do Pai do Céu. Quis ser para o Menino como que uma presença permanente e visível do Pai do Céu. Para Jesus, na condição humana, a dimensão do amor do Pai se dava através da presença amorosa de José. Jesus amava o Pai espelhado na pessoa de José. Os evangelistas, tantos anos depois, não temem dizer aos cristãos que José era o pai. Do mesmo modo José se apresentava como o pai desse Menino. O Homem Jesus, em sua condição, aprendeu a se dirigir ao Pai, através de José que era para Ele a imagem do Pai. A Encarnação se dá através de Maria. Mas ela é continuada também através de José, pois ele a tomou como esposa. 
Que pai sou eu?
“Ele fez como o Anjo havia dito e recebeu Maria como sua esposa” (Mt 1,24). Como a Divindade de Jesus ficou no silêncio, Assim o modo da paternidade ficou em silêncio. Homem de seu povo, soube completar a encarnação de Jesus no seu povo. Cumpriu sua missão de pai e esposo dentro do projeto de Deus. Ele era um homem “justo” (Mt 1,19), isto é, sabia viver sua condição diante de Deus. Qual seria o sentido do casamento de José na Encarnação de Jesus? Soube compreender como João evangelista diz: “Os que crêem, não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1,21). O evangelista Mateus (1,19), chamando-o de justo, diz que não quis denunciar Maria, mas repudiá-la sem comprometê-la. Sendo que o Filho era de Deus, resolveu-se a questão da paternidade e satisfez seu respeito por Maria. A dizer “tu lhe darás o nome de Jesus” comunica que o filho é de Deus e José, o pai, lhe dá a paternidade, pois era o pai quem dava o nome ao filho. E assim será dito pelo povo: “Não é Ele o filho de José?”(Lc 4,22). 
Evangelho vivido 
Não sabemos como foi a compreensão dos primeiros cristãos em relação a José. A doutrina foi esclarecida muito tempo depois. Podemos compreender que houve uma memória muito boa desse homem. A maioria não conheceu, pois deve ter partido bem antes de Jesus Se manifestar. Era o carpinteiro de Nazaré. A preocupação depois da Ressurreição era o anúncio. E logo vem a perseguição e até a dispersão dos cristãos de Jerusalém. Não havia muitos que O tenham conhecido. A reflexão que a comunidade conservou foi sua personalidade junto a Jesus. Podemos comparar o interesse por José como temos hoje. Não nos preocupamos com a pessoa, mas com a devoção. No início a questão era a pessoa de Jesus, não tanto a descrição dos fatos. Agora podemos aprofundar.

nº 2088 - Homilia do 16º Domingo Comum (18.07.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Bom Pastor”
 Teve compaixão 
O salmo que canta o Senhor como o pastor que sustenta, guia e prepara a mesa, retrata o coração de Deus, pastor de seu povo. Jesus traduz esse coração do Pai na realização de sua missão. Para resumir a vida de Jesus em poucas palavras, basta dizer: misericórdia e compaixão. Envolve todo sentimento de Jesus. Não se trata de ter dó, mas de assumir atitudes que resolvam. Por isso Jesus fazia milagres. Essas palavras são o conteúdo de seu ensinamento. Ao assumir sua encarnação, Jesus assume nossa condição humana. Sua atividade se resumia em deixar-se penetrar na vida do povo. A Igreja que continua sua missão, se não se impregnar desse sentimento como vida, não a realiza. Preferimos as idéias que as ações. É comum ouvir dizer de certas mentalidades que não podemos deixar de lado a justiça. Pedimos justiça para os outros. Peçamos que ela nos julgue também. A nossa justiça não tem sentimento. A de Jesus, aprendida de seu Pai, ela significa amor e santidade. Misericórdia não é um sentimento. É uma atitude que chama Jesus de o Bom Pastor. Está totalmente voltado para o bem das ovelhas. O descanso de Jesus se transformou em outro trabalho. O povo não perdoa nem pensa que Jesus precisa descansar e vai em busca do consolo, da cura do conforto. Esse é o descanso de Jesus, pois o povo não o cansava. O povo não é cansativo. 
Ai dos pastores 
Jesus é o bom pastor. O que lemos no profeta Jeremias, 23,1-6, tem o paralelo em Ezequiel 34,1-31: ambos profetizam contra os maus pastores do povo. Os reis eram considerados como os pastores do povo, no lugar de Deus. “A imagem do rei-pastor é antiga no patrimônio literário do Oriente. Jeremias aplicou aos reis de Israel, para lhes reprovar o mau cumprimento de suas funções e anunciar que Deus dará ao seu povo novos pastores, que o apascentarão na justiça” (Biblia de Jerusalém, comentário, pg 11,62). O mau pastor é aquele que, pode ter muita devoção, mas não tem o coração do Bom Pastor. É o que aprendemos da devoção ao Sagrado Coração. Sem isso, o culto se torna vazio. Os maus pastores, tanto da Igreja como da sociedade, pensam em si. Jeremias diz: “Ai dos mais pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem... Vós dispersastes o meu rebanho e o afugentastes e não cuidastes de... Vou verificar e castigar as malícias de suas ações” (Jr 23,1-2). Santo Agostinho, no sermão 46, sobre os pastores, chama-os de “pastores que apascentam a si, não as ovelhas”... Os bons pastores “com liberalidade maior cumprem seu ofício de misericórdia. Podem e, o que podem, fazem”. As ovelhas são os pobres, os sofredores, os doentes e os sofridos... São os de Jesus. 
Novos pastores 
O profeta anuncia os novos pastores que seguem o modelo de Jesus. O pastor que ama seu povo tem criatividade. São pobres porque não exploram as ovelhas. Os outros se enriquecem e o povo permanece sofrido. Como Paulo ensina, leva todos à unidade. O bom pastor conhece as ovelhas e são conhecidos por elas. O Bom Pastor deu a vida por suas ovelhas. O bom pastor compromete sua vida para o bem das ovelhas. Só o será aquele que faz um caminho de santidade com Jesus. Quanto mais seu coração se une ao Coração de Jesus, mais terá as ovelhas em seu coração. Se não busca as ovelhas, não encontra o caminho que Jesus fazia. É na misericórdia que Ele nos salvou. 
Leituras: Jeremias 23,1-6;Salmo 22; 
Efésios 2,13-18;Marcos 6,30-34
Ficha nº 2088
Homilia do 16º Domingo Comum (18.07.21) 
1. Misericórdia não é um sentimento. É a atitude que se chama, em Jesus, o Bom Pastor. 
2. O mau pastor é aquele que não tem o coração do Bom Pastor. 
3. O bom pastor compromete sua vida para o bem das ovelhas.
Aprendendo um ofício 
Como é belo esse ensinamento sobre Jesus, o bom Pastor. As ovelhas encantam, os prados verdes são relaxantes, o pastor transfere para o coração a bondade e o acolhimento. Dever ser bonito. Mas na verdade, um rebanho é uma peleja permanente. Tem de tudo, até os ataques de bichos e de gente. Como Jesus compreendeu seu ministério e tem a ousadia de se chamar de Bom Pastor. É um aprendizado muito exigente. A vida doada ao rebanho, fazendo disso o prazer a alegria, é o resultado desse aprendizado. Vemos em nossas comunidades, no nível religioso e nas estruturas da sociedade, como os “pastores políticos – administrativos” vêem as ovelhas só como boas de voto ou de número. Não é bom. É preciso aprender o ofício no Coração compassivo de Jesus.

sábado, 10 de julho de 2021

nº 2087 Artigo - Com o Coração do Pai

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
150 anos de proteção 
Vamos iniciar a reflexão sobre um documento que Papa Francisco escreveu comemorando os 150 anos da declaração do Papa Pio IX declarando São José como Padroeiro da Igreja dia 08 de dezembro de 1870, cujo título é: (Com o Coração do Pai – Patris Corde). O Papa Francisco diz que quer “deixar a boca falar da abundância do coração”. Não é um tratado, mas uma reflexão de filho. Pio IX escrevera: “Agora, nesses tempos tristíssimos em que a Igreja, atacada de todos os lados pelos inimigos... os Veneráveis Bispos de todo o mundo católico dirigiram ao Sumo Pontífice as suas súplicas e as dos fiéis por eles guiados, solicitando que se dignasse constituir São José como Patrono da Igreja Católica. Tendo depois, no Sacro Concílio Ecumênico do Vaticano I, insistentemente renovado as suas solicitações e desejos, o Santíssimo Senhor Nosso Papa Pio IX, ... para confiar a si mesmo e os fiéis ao patrocínio do Santo Patriarca José, quis satisfazer os desejos dos Excelentíssimos Bispos e solenemente declarou-o Patrono da Igreja Católica, ordenando que a sua festa, marcada em 19 de março, seja de agora em diante celebrada com rito solene”. Celebrando os 150 anos dessa declaração, o Papa Francisco escreveu: “Para partilhar convosco algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós”. Declarar São José Patrono é reconhecer seu permanente lugar e sua missão em nossa vida cristã. 
Patrono da Igreja Universal 
Papa Francisco afirma: “Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo. Os meus antecessores aprofundaram a mensagem contida nos poucos dados transmitidos pelos Evangelhos para realçar ainda mais o seu papel central na história da salvação: o Beato Pio IX declarou-o «Padroeiro da Igreja Católica», o Venerável Pio XII apresentou-o como «Padroeiro dos Operários»; e São João Paulo II, como «Guardião do Redentor». O povo invoca-o como «padroeiro da boa morte». São José já é tudo isso e muito mais, por ser aquele que foi tido como o pai de Jesus. Mas é bom para os cristãos reconhecerem a presença desse homem em sua vida. Temos que ver que o Papa não quis arranjar mais um serviço para S. José, mas lembrar aos cristãos o que Deus fez a esse homem simples, mas vigoroso em prol da Igreja e dos fiéis. Ele foi o primeiro acreditar nessa missão. Acolhendo e cuidando do filho que era Filho de Deus e de sua Mãe, está acolhendo todos os irmãos. É um cristão especial. Ele está na linha dos patriarcas. O evangelho fala pouco dele, pois já se sabia quem era. 
O povo devoto
Podemos perguntar qual a razão que S. José aparecer tão pouco na bíblia? O Evangelho anuncia a missão de Jesus, passa seus ensinamentos para a Salvação. Como Maria, ele cumpriu sua missão e viveu o Evangelho Vivo. Os textos do Evangelho não falam do que é obvio e já conhecido e vivido pela comunidade primitiva. Está unido à infância de Jesus. Este é reconhecido como seu filho. Dá a impressão que ele é o primeiro fiel a viver os ensinamentos de Jesus. Com Maria, formou o coração e a mente humana desse Menino. Ensinaram como Jesus deveria ser em sua missão. Vemos aí seu lugar privilegiado no Mistério de Jesus. Não é só uma devoção, mas um conhecimento e reconhecimento de sua missão. Ele se liga ao Pai em seu ministério como pai de Jesus.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

nº 2086 - Homilia do 15º Domingo Comum (11.07.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Deus chamou-me”
Ele os enviou 
Jesus iniciou sua missão na sinagoga de Nazaré dando um ensinamento novo. E foi tão novo que todos se admiraram. Como pode, diziam, que “esse” nosso conhecido, conterrâneo, gente como nós, tenha tal sabedoria!? Conhecemos seus familiares. E se escandalizavam. A atitude negativa bloqueou até sua generosidade em fazer curas: “Ali não pode realizar nenhum milagre” (Mc 6,1-6). Ali nasce o profeta. Isso é comum. Os próximos e iguais, não aceitam alguém que se destaque. Depois Jesus manda os apóstolos a evangelizar: “Jesus chamou os doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros”. A implantação do Reino pela Palavra é uma batalha contra as forças do mal. Começa também a batalha contra os que O seguirão como vemos no desfecho da missão de Jesus. Ele os mandou expulsar os demônios. São igualmente curados os doentes. Há tantos males que desaparecem com uma boa evangelização. Ela vai além dos preceitos e conceitos, penetra as situações de sofrimento. Evangelização que não muda as condições de vida é obra do falso profeta. Esses não penetram nem modificam as condições de vida. Os milagres de Jesus não eram espetáculo, mas mudança de situação que atendia, sobretudo os mais necessitados. Por isso, uma das orientações de Jesus é curar os doentes. Nossa evangelização não cura enfermos nem transforma vidas. Deveríamos nos sentir envergonhados por falar e agir desse modo em nome de Cristo.
Vigor da Palavra 
Amós é um testemunho da força da Palavra e da oposição contra o profeta. Sua palavra incomoda e provoca “perseguição”. É impressionante que o esquema é o mesmo até hoje. Os profetas do rei, no santuário de Betel estavam a serviço da situação. Amós atinge justamente os ricos de vida imoral e “que não se compadeciam na ruína do povo. Amasias, profeta a serviço da corte, procura expulsar Amós alegando que ele conspirava contra o rei (Am 7,10-15). A Palavra terá vigor se atingir as nervuras do pecado instituído como modo de vida. Isso é o mesmo que acontece hoje. Os falsos profetas servem à corte e defendem as ignomínias do templo. Quando falseamos o Evangelho, nós nos tornamos falsos profetas culpados do exílio do povo nos desvios em sua fé e na prática. A Igreja perdeu o vigor de evangelização. Papa Francisco busca a autenticidade. O salmo ensina: “A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade e a justiça olhará dos altos céus” . A boa evangelização atinge até a natureza: “O Senhor nos dará tudo o que é bom, e a nossa terra nos dará suas colheitas” (Sl 84).
Ele nos abençoou 
O núcleo da Evangelização é o mistério de Cristo que Paulo proclama em Efésios (Ef 1,3-14). Anunciamos que Deus nos abençoou com seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo. Nele nos escolheu, nos predestinou a sermos filhos adotivos. Por seu sangue somos libertados e nossas faltas perdoadas segundo a riqueza de sua graça. A Palavra nos faz conhecer o mistério de sua vontade que será sempre recapitular em Cristo o universo inteiro. A evangelização tem como meta o universo. Todo universo e se encaminha para Cristo, conduzindo-se e atraindo para Cristo todas as realidades. O vigor na Palavra está em seu conteúdo que é a expressão de Deus, como foi o Cristo. A evangelização é extremamente revolucionária. Como os judeus recusaram, será recusada agora também.
Leituras:Amós 7,12-15;Salmo 84;
Efésios 1,3-10; Marcos 6,7-13. 
Ficha nº 2086
Homilia do 15º Domingo Comum (11.07.21) 
1. Evangelização que não muda as condições de vida é ação do falso profeta. 
2. A Palavra terá vigor se atinge as nervuras do pecado instituído como modo de vida. 
3. O núcleo da Evangelização é o mistério de Cristo que Paulo proclama.
Trombeta furada 
Quando temos um instrumento danificado, não podemos tirar uma música que agrade. Aliás, desagrada muito. Imaginemos uma banda com instrumentos estragados. Que música se pode tocar? É assim também quando a evangelização. Se for danificada pela falsidade do profeta, não poderá “tocar” nada! O falso profeta não consegue mudar a situação para que o mundo seja o Reino de Deus. O reino do mal se desenvolve e chega atingir o cerne da Igreja. Danifica as instituições e destrói o vigor do povo de Deus. Certamente essa situação destruirá os profetas da verdade e chega a criar verdades falsas na comunidade. Para renovar o anúncio libertador é preciso cortar os compromissos com a situação de anti-evangelho. 

domingo, 4 de julho de 2021

nº 2085 Artigo - Evangelização popular

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Missão de todos 
Sempre me impressiona a capacidade do povo ao conduzir sua vida cristã e evangelizar com suas condições. A Igreja pode até não conseguir fazer uma evangelização conveniente. Deus não o abandona. O Espírito Santo suscita sempre meios maravilhosos. Ele está presente. As comunidades populares realizam algo impressionante que é colocar a Palavra de Deus em seus corações. Por isso sabem educar os filhos, têm coerência de vida, são capazes de construir uma família e viver comunidade praticando a fraternidade. O amor os anima. Por isso encontramos tanta gente santa em seu meio. É preciso acolher essa ação do Espírito entre eles. Estejamos atentos, pois quem despreza os pobres ofende seu Criador (Prov 17,5). O Espírito os evangeliza. E eles podem realizar o mesmo que fez a comunidade primitiva de Atos 2,42: “Eles eram assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações”. O povo fiel e simples, puro de coração, vive a Palavra de Deus em sua vida e, com sua “tradução de coração”, ensina o bom caminho aos filhos e conduz a vida da comunidade. O Espírito Santo ensina-os diretamente. É impressionante que sabem coisas que não aprenderam. São solidários e estão sempre presentes uns à vida dos outros. Lembramos os mutirões que eram feitos para se ajudarem. Sabem partilhar. Reúnem-se para os acontecimentos familiares. Participam das alegrias e gostam de rezar juntos. Vivi pouco essas realidades, mas pude ver. 
É uma Igreja viva 
Temos a experiência dos antigos que recebiam a visita dos padres uma vez por ano para as desobrigas. Vi na África, Angola, a resistência das comunidades durante os longos anos de guerra. As aldeias tinham seus líderes, os catequistas. Eram homens de grandíssima dignidade, às vezes, vestidos de farrapos. Eles conduziam a comunidade e faziam as celebrações. Nós podemos ver como nosso povo simples sabe, é adulto na fé, seguro na vivência do Evangelho e criativo no modo de colocar em ação sua fé. As belas tradições sustentaram sua união à Igreja de Cristo. O método era muito claro. Por exemplo: a festa de Reis, do Divino e outras: uma família acolhia a festa, organizava a Folia de Reis que ia de casa em casa cantando. Anunciavam a festa e, em sua cantoria, davam a catequese sobre o que se iria celebrar, por exemplo, o Natal. Levavam a Palavra de Deus por todas casas. Lembro-me de minha avó, ajoelhada na soleira da porta, acolhendo a bandeira de Reis da mão dos foliões. Depois se celebrava a festa com a reza de um terço e viviam a fraternidade na qual todos ajudavam. Marcou-me uma palavra de minha tia: “Eu chego à festa e já pego o avental”. Era tudo comum na alegria do serviço. 
Escola para a Igreja 
Certamente estamos seguros dos ensinamentos da Igreja, da renovação da liturgia e das reformas das devoções. Como realizar tudo isso? É preciso conhecer a alma do povo que é a mestra de toda a renovação e purificar o que possa ser danoso. Mas não se pode impor um rito, como se fez por séculos. Só se vai ao povo se partirmos dele. Há comunidades que perderam tudo que era popular e não receberam a formação para o novo. Destruir é fácil. Recompor é impossível. Pior ainda é jogar sobre o povo esquemas que não educam. Se formos estranhos aos lugares, maior cuidado devemos ter. É preciso renovar nosso modo de formar o povo em seu caminho.

nº 2084 - Homilia da S. de Pedro e Paulo (04.07.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Pedras de alicerce”
 Homens para Jesus 
Encarnação une toda ação de Deus para nossa salvação. Esta é a participação na Vida Divina. Ela não é só o nascimento de uma linda criança. Encarnação foi a maior manifestação que Deus fez à humanidade. Veio pessoalmente na pessoa de seu Filho Jesus, Homem-Deus. Essa é a base de toda a vida cristã. Aqui está a diferença entre crença e fé. A única explicação acessível é a afirmação: No seu imenso amor, fez-se homem para nos levar a participar de sua Divindade. Dizem os grandes mestres da fé que, o que era visível em Jesus enquanto homem, está presente nos sacramentos. Esse foi modo como Deus escolheu para dar continuidade a Jesus entre nós. Pedro, pela sua fé, recebe as “chaves” do Reino dos Céus (Mt 16,19). Paulo recebe a missão: “Esse homem é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel” (At 9,15). Tem o poder – missão – serviço que Jesus lhes transmite. Então podemos entender que esses homens, Pedro e Paulo, continuam a missão de Jesus na condição humana. Temos que acolher que o humano é o meio que Deus assumiu para nos comunicar o Divino. Assim, Pedro e Paulo, e todos que estão na linha de seu ministério realizam a continuada Encarnação. Como expressão do ser de Jesus, tem também sua missão. Sobre essas pedras Jesus edificou sua Igreja. Não podemos dizer que Jesus deu a fé e nós fizemos a Igreja. A fé passa pelo mesmo caminho de Jesus. Caminho da humanidade. Não existe uma fé por aí. 
Fé que edifica 
Celebramos Pedro e Paulo, unidos na mesma fé e na mesma entrega a Cristo em sua morte, fundaram a Igreja. Cantamos no prefácio: “Hoje festejamos Pedro e Paulo. Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o Evangelho da Salvação”. A memória conjunta desses dois apóstolos quer quebrar qualquer divisão da Igreja como uma sendo judaica e outra dos gentios. No Concílio de Jerusalém pudemos ver como se criaram dois modos de ser Igreja. E não era problema: Os judeus cristãos viveriam como judeus crentes em Cristo. Os pagãos viveriam sua fé no mundo pagão. Certo que se edificaram também sobre a Palavra de Deus, mas não nas tradições judaicas. E viveram muito bem, inclusive numa extremada caridade de ajuda. Os pagãos que se fizeram cristãos, amavam ajudar os pobres de Jerusalém. É um ensinamento muito grande para nós que queremos uma camisa de força e uma estreita obediência a detalhes secundários. Estamos no regime judaico? A oração final da Eucaristia nos alerta sobre como viver na Igreja: “Viver de tal modo na vossa Igreja que, perseverando na fração do pão e na doutrina dos apóstolos, e enraizados no vosso amor, sejamos um só coração e uma só alma” (Pós-Comunhão). 
O Senhor ao meu lado 
Podemos aprender dos dois apóstolos como sobreviveram nas grandes tempestades que tiveram que enfrentar. Sua paixão por Cristo levava-os sempre a superar: Paulo diz: “O Senhor esteve ao meu lado e meu deu força” (2Tm 4,17). Pedro, saindo milagrosamente da prisão diz: “Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo para me liberar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava” (At 12,11). Os verdadeiros apóstolos são perseguidos até pelos próprios cristãos. Mas ficam firmes. Por isso rezamos na oração: “concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes Apóstolos que nos deram as primícias da fé”.Continuamos a Encarnação, seguindo sua missão. Maravilhosos Santos! 
Leituras: Atos 12,1-11;Salmo 33;
2 Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19 
Ficha: nº 2084
Homilia da S. de Pedro e Paulo (04.07.21) 
1. Pedro e Paulo, continuam a missão de Jesus na condição humana. 
2. A memória conjunta desses dois apóstolos quer quebrar qualquer divisão da Igreja. 
3. Podemos aprender dos dois apóstolos como sobreviveram nas grandes tempestades. 
Pedra sem pedrada 
Jesus chamou Simão de Cefas, que quer dizer pedra. Certamente estava pensando em alicerce, força de sustentação, garantia de equilíbrio e outras coisas mais. Usa também a expressão: “Deus pode fazer dessas pedras, filhos de Abraão” (Mt 3,9). Mas não fez. As pedras estão lá. Não deu problema de cabeça dura. Temos diversos textos nos quais aparece o apedrejamento dos fiéis em Cristo. Estevão assim morreu. Paulo foi apedrejado diversas vezes. Era um tipo de castigo. Jesus não foi por aí. Pedro não reclama a si o direito de apedrejar e de ser duro com os outros. Temos muita gente que acha que ser duro resolve tudo. Não foi isso que Jesus fez. Pedro, apesar de ser pedra, foi muito bom, amável. Quem sabe possamos dar firmeza à fragilidade dos outros sem precisar dar pedradas. https://padreluizcarlos.wordpress.com/

sábado, 3 de julho de 2021

nº 2083 Artigo - Devoções Populares

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Caminho do povo 
Vivemos um momento de descristianização da sociedade. Não se quer uma sociedade dominada por uma religião. Isso é muito bom. Mas a fé vivida pelas comunidades contribuiu para o bem do povo. Vamos tentar aprofundar a fé popular que traduz os dogmas em palavras simples. Os cristãos cultos sempre tiveram certa recusa a esse modo de viver a fé. Grupos religiosos, de veia evangélica, recusam essa manifestação popular. Só a bíblia. E se esquecem que a Bíblia nasceu da experiência do povo. O cristianismo não é uma religião só da mente, mas ela chega ao povo e deixa que ele se expresse. Um dos motivos foi o fato de a religião ter se tornado propriedade do clero. O povo, não entendendo aquele “latinório”, criou seu modo de viver a fé. Depois do Concílio Vaticano II, muitas expressões populares caíram em desuso, a título de renovação. Como não foram capazes de dar formação suficiente ao povo houve perda maior. Há muitas razões para a religião popular. O povo, com tradições já portuguesas ou nativas, se sustentou. Devemos dizer que a religião oficial não chega ao povo e é bloqueada toda expressão popular. Vive-se de regras. Não é esse o estilo de Jesus que vivia no meio do povo e o compreendia. Muitas Igrejas se esvaziam e isso não é problema. É necessário conhecer a alma do povo para poder dar o alimento que ela necessita. 
Benefícios dessa tradição 
O Documento de Aparecida, capítulo IV, nº 258-265, ensina “a piedade popular como lugar de encontro com Jesus Cristo”. É um desenvolvimento de documentos anteriores, mais reticentes. Papa Bento XVI destacou “a rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos”. Ela “reflete a sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer” (EN 48). É o catolicismo inculturado. É o que vemos nos santuários. São tantas as manifestações. O que mais caracteriza é o fato de não ser uma religião só intelectual, mas é vivida como um todo: inteligência, sentimento, corpo, na totalidade do ser humano. Pude ver isso na experiência dos africanos na Angola. É outro tipo, mas o corpo reza. Religiosidade popular é viver o cotidiano com Deus e também criar modos comunitários de viver a fé. O povo tem muitos jeitos de falar com Deus e com muito jeito. A sabedoria do momento é sabermos acolher a liturgia em sua alma e deixá-la se expressar também na alma do povo. Sem isso, o culto é vazio. A piedade popular não é suplência do que falta no rito. É uma escola onde podemos aprender a dar vida aos ritos. Mas, esse tempo ainda não chegou. O estímulo dado à inculturação, perdeu todo seu impulso nos pontificados recentes. É o caminho.
Discernimento 
As muitas manifestações de fé têm muita sabedoria. A missão da Igreja, além de dar o incremento, será sempre fornecer o cuidado para que não se ensine o que é contrário ao Evangelho, por exemplo, orações para fazer mal aos outros. Ou ritos de culto aos santos de modo que se desvie da veneração ou de coisas que possam ser contrárias à doutrina. Deve-se ter o cuidado de separar o que é supersticioso, que seria dar forças espirituais a elementos materiais. Isso podemos ver até no culto às imagens, fixando-se não no que ela lembra, mas nela própria como sendo algo vivo. O culto popular dos santos deve ser sempre animado com uma boa catequese e uma sadia narrativa histórica.