terça-feira, 27 de novembro de 2018

nº 1809 Artigo - “Misericórdia sempre”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2124. Força da misericórdia
Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia(Mt 5,7). Deus mesmo se define como “Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade” (Ex 34,6). Isso é uma visão do Antigo Testamento que Jesus renova excluindo a vingança. Ele mesmo mostra essa misericórdia do Pai. Só não suportava o orgulho e a prepotência dos fariseus e mestres da lei. Tudo que Deus fez e faz por nós é obra de sua misericórdia. Essa palavra tem a ver com todos os bons sentimentos do coração. E traz em si a palavra latina miseratio (compaixão) e cordia (corações). A intensidade de amor da palavra misericórdia é uma revelação do próprio ser de Deus do qual Jesus participa com intensidade. Podemos observar que a Igreja e a sociedade não têm muito afeto por essa verdade. Sempre é a lei que decide tudo. A norma, as letras etc... valem mais. Continuando a reflexão sobre a santidade segundo o Papa Francisco, nos debruçamos agora sobre a bem-aventurança da misericórdia: “A misericórdia tem dois rostos: dar, ajudar, servir os outros, mas também perdoar e compreender. Mateus resume-o numa regra de ouro: “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (Mt 7, 12). O Papa se fundamenta para o valor moral: “O Catecismo lembra-nos que esta lei se deve aplicar  “a todos os casos”, especialmente quando alguém “se vê confrontado com situações que tornam o juízo moral menos seguro e a decisão difícil” (GE 80). Misericórdia não é concordar com o mal, mas sair dele, tentando sepultá-lo. Jesus se torna o “remédio”, a lei e o conforto.
2125. Buscai a semelhança com Deus
            O dom de perdoar e dar vida são próprios de Deus. Quando perdoamos, quando geramos vida, temos a participação Dele. Assim afirma o Papa: “Dar e perdoar é tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá e perdoa super-abundantemente” (GE 81). Como a medida da misericórdia é sempre Deus, podemos ter certeza que nunca esgotaremos. Jesus manda: “sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado” (Mt 6,36-38). Nós é que damos a Deus a medida que use para conosco queremos que use conosco para conosco. As graças que nos vem, são as graças que somos. Somos severos com os outros, mas não queremos que sejam severos conosco.. Firmeza contra o mal não significa sermos duros e mal-educados com os outros: “A medida que usardes com os outros será usada convosco” (Mt 6,38). Por outro lado, o bem que fizermos sempre volta para nós. Pode ir devagar, mas volta voando. Tive a experiência quando vivi na Angola (África): Tudo que a gente dava aos necessitados retornava imediatamente em uma generosa oferta para nós. Impressionante.
2126. Misericórdia que promove
            Jesus chama felizes aqueles que perdoam e o fazem “setenta vezes sete” (Mt 18,22). “É necessário pensar que todos nós temos uma multidão de perdoados. Todos nós fomos olhados com compaixão Divina. De vez em quando recebemos a chamada: “Não devias também ter piedade do teu companheiro como Eu tive de ti?”(Mt 18,33) (GE 82). Misericórdia não é somente perdoar, acolher, mas também promover para que a pessoa possa ser mais qualificada, mais feliz consigo mesma, contribuindo com seus dons, ter espaço na sociedade e na Igreja. Isso não pode ser dirigido só aos de minha Igreja, mas a todos, pois todos são filhos de Deus e todos são irmãos. Nesse momento de tanta violência, sabemos que a misericórdia é mais que solução. Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

nº 1808 - Homilia da Solenidade de Cristo Rei (25.11.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
Reino da Verdade 
Reino de Deus
           A aclamação “Viva Cristo Rei!”, estourou no século XX como uma resposta à descrença generalizada e a avalanche de ideologias anti-cristãs. É como dizer: “Nós temos nosso Rei. Para dar força ao cristianismo, Pio XI, 11.10.1925, instituiu a festa para o último domingo de outubro. No México, no início do século XX, o Estado moveu grande perseguição aos cristãos. “Viva Cristo Rei!”, era o grito dos cristãos que iam ser mortos. Temos já diversos santos mártires, inclusive jovens. Vemos por tantos lugares o nome Cristo Rei. Nas paróquias haviam grupos de crianças que se vestiam de branco com fita amarela. Eram os cruzadinhos. E se cumprimentavam com a aclamação “Viva Cristo Rei!”. Na reforma litúrgica perdeu o caráter social e assumiu seu novo sentido no último domingo do ano litúrgico. É o Cristo glorioso para o qual caminha o universo (Ef 1,10), como lemos no Apocalipse (Ap 11,5-8). O Reino de Deus não é desse mundo, quer dizer, não se esgota nas dimensões humanas. O termo ‘desse mundo’ significa que não se iguala nem está concorrendo com o império romano, como diz Jesus no julgamento de Pilatos. O perigo dessa festa é, usando nomes mundanos, equiparar-se e ter ares de autoritarismo. Deve assumir o verdadeiro lugar de Jesus Cristo que é o poder de servir como o fez na Cruz. O Reino de Jesus não é desse mundo, mas existe para servir o mundo, transformando-o.
Testemunho da verdade
           Tu o dizes: Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz. Disse-lhe Pilatos: O que é a verdade?” (Jo 18,37-38). Jesus Se identifica com a verdade: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Essa identificação demonstra a missão de Jesus que veio como Palavra do Pai para nos conduzir e viver a Vida. Respondendo a Pilatos diz que “veio ao mundo para dar testemunho da Verdade”. O Pai é verdadeiro. O Pai mostra Jesus que é a Verdade, pois sai do Pai. Sendo Palavra do Pai, manifestou que Deus é verdadeiro. E quem O recebe, vê a glória de Deus: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos sua glória, como glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade” (Jo 1,14). Jesus veio mostrar o Pai. Ele e o Pai são um (Jo 10,30). Quem me viu, viu o Pai (Jo 14,9). Ao dizer “dar testemunho da verdade”, está mostrando quem é o Pai. E o que o Pai quer. “Eu falo o que aprendi de meu Pai” (Jo 8,38). Revela sua identidade com o Pai, como sua Palavra, e como sua ação pois “o Filho, por Si mesmo, nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer; tudo o que fez, o Filho o faz igualmente (Jo 5,19). Jesus é a Verdade do Pai. Ao manifestar-se revela o Pai. Quem aceita, aceita o modo de viver que é viver na verdade (3Jo 12). Há unidade entre Jesus e o fiel: “Todo aquele que é da verdade escuta minha voz” (Jo18,37).
                                                            Ele nos libertou
           Jesus tem dois inimigos: os romanos que não querem libertadores e os judeus que não querem libertadores da própria fé mal compreendida. Por isso é levado e Pilatos. A Verdade liberta do falso caminho que não conduz à Vida. Liberta da política perversa que usa o ser humano em proveito próprio e não para a promoção da vida. Isso existe na sociedade civil e na religiosa. A verdade vos libertará (Jo  8,32). Por que a Igreja tem medo da liberdade? Porque não tem força para ensinar a verdade. A verdade das palavras de Jesus assusta a Pilatos e cobra de nós uma coerência de fé e de vida. Uma vida sem fé é uma mentira instituída, pois nega o ser humano em sua dimensão essencial que é espiritual.
Leituras:Daniel 7,13-14; Salmo 92;Apocalipse 1,5-8;João 18,33b-37.
Ficha nº 1808 - Homilia da Solenidade de Cristo Rei (25.11.18)

              1. O Reino de Deus não se esgota nesse mundo.
           2. Ao dizer “dar testemunho da verdade”, está mostrando quem é o Pai
           3. A Verdade liberta do falso caminho que não conduz à Vida.

                       Um Rei sem coroa

           É estranho falar de rei num mundo tão “democrático” ou “ditatorial”. Na verdade todo mundo tem uma veia real. Já, quando nasce uma criança, se lhe chama de princesinha. A gata borralheira não tem vez. Ainda sobram os reis do baralho, do carnaval e de alguns países. Servem de louça de cristaleira.
           Jesus não gostou que Pilatos perguntasse se Ele era Rei. E já disse que não era do jeito que ele pensava. Veio ao mundo para testemunhar a Verdade. Essa verdade dá pano para a manga, pois envolve tanta verdade, por isso Jesus diz que seu reino não era desse mundo, não era igual ao império romano. Jesus dá testemunho da Verdade que é o centro de sua missão. Nela se faz igual ao Pai e ensina o que aprendeu do Pai para que tudo seja entregue a Ele e Ele entregará ao Pai.

nº 1807 Artigo - “Fome e sede de justiça”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2121. Serão saciados
            Continuando o estudo do texto do Papa Francisco sobre a santidade, “Gaudete et Exultate” (Alegrai-vos e exultai), refletimos sobre as bem-aventuranças.  Lemos: “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6). “‘Fome e sede’ são experiências muito intensas, porque correspondem às necessidades primárias e têm a ver com o instinto de sobrevivência” (GE 77). Se assim é, podemos entender que fome e sede de justiça correspondem também às necessidades primárias da vida espiritual do ser humano. Não podemos pensar só em uma justiça intimista que vê somente o lado espiritual. Isso não passa de um subterfúgio para não se comprometer com as grandes causas do mundo. Não podemos viver só de problemas sociais. Mas uma espiritualidade intimista e egoísta deixa de ser espiritualidade. Maquiar os problemas das pessoas é um farisaísmo que fere o coração amoroso de Deus por seus filhos sofredores. É com todas as forças vitais que queremos buscar as soluções para os sofrimentos do mundo, sobretudo para os enfraquecidos e abandonados. Eles têm em seu favor somente o amor de Deus manifestado através das pessoas que têm fome e sede de justiça. Isso não é política. Diz o Papa Francisco: “Há pessoas que, com essa mesma intensidade, aspiram pela justiça e buscam-na com um desejo muito forte. Jesus diz que serão saciadas porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega e nós podemos colaborar para tornar possível, embora nem sempre vejamos os resultados deste compromisso” (GE 77).
2122. Injustiça de cada dia
A justiça, que é um dos nomes de Deus, é usada como suporte para tanta corrupção. É a política do aproveitar-se para si, o que não se leva nada. Tudo é negociata. “E quantas pessoas sofrem por causa das injustiças e quantos ficam assistindo, impotentes, como outros que se revezam para repartir o bolo da vida. Alguns desistem de lutar pela verdadeira justiça e, optam por subir para o carro do vencedor. Isto não tem nada a ver com a fome e sede de justiça que Jesus louva ”(GE 78). A situação, ao menos nossa, estimula a uma luta constante pela justiça, pois é uma vitória possível a quem queira, desde que se assumam as exigências da humanidade que clama por justiça. Por que um ser humano quer tanto e, para isso, comete tantos erros, quando outros não têm como sair de suas tristes situações? Entre esses opressores estão tantos que confessam que Jesus, o Justo, é o Salvador de todos. Por que uma Igreja que confessa sua missão de ser a guardiã da justiça, é capaz de fechar os olhos a tantos problemas e se volta para uma justiça somente espiritualizada que não significa nada, pois o Deus Justo quer o bem de todos?
2123. Procurar o que é justo
            A verdadeira justiça abre os olhos e vê em volta de si tantas misérias provocadas pelo ser humano. Continua o Papa Francisco: “Esta justiça começa por se tornar realidade na vida de cada um, sendo justo nas próprias decisões, e depois se manifesta na busca da justiça para os pobres e vulneráveis” (GE 79). Nenhum projeto de Jesus é impossível. Tudo é simples e começa com poucos gestos. As pequenas coisas são o caminho para chegar às grandes mudanças. Começa com a busca da vontade de Deus com fidelidade, como Ele é fiel nos mínimos detalhes do amor que nos tem. Assim também estamos envolvidos com uma justiça não de palavras bonitas, mas de gestos concretos: “Procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas” (Is 1,17).Buscar a justiça com fome e sede: isso é santidade”.
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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

nº 1806 Homilia do 33º Domingo Comum (18.11.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Ensinais o caminho da vida” 
O Senhor está às portas
           A vida cristã está sempre em contínuo movimento: Corremos ao encontro de Cristo e Ele vem ao nosso encontro. Estar à porta quer nos indicar a necessidade de estarmos vigilantes. Vigilantes não é um vigia que fica parado controlando os outros, mas aquele que vigia sobre si mesmo para que suas atitudes não entrem por portas erradas. Na parábola das dez virgens, vemos que o importante é manter sempre a lâmpada da sabedoria acesa. Por isso cuida do óleo. Os porteiros vigiam para que o patrão não dê com a cara na porta. Estar vigilantes, como nos diz Paulo, é ter uma fé que age na caridade (Gl 5,6). Aquele que está para vir, não virá para condenar, mas para levar-nos com Ele. Por que nem os anjos nem Cristo sabem o dia em que o Filho virá? (Mc 13.32). Se vivermos com Ele, não precisamos saber a hora. Basta viver. Saber a hora não estimula a aproveitar frutuosamente a vida, mas simplesmente olhar para o relógio. Sempre encontramos profetas das desgraças anunciando que o fim está próximo porque os sinais são visíveis. Esses sinais estão no mundo desde a criação. Então não são eles. Santo Agostinho dizia que tinha medo de Jesus que passa. Podemos perder esse encontro. Jesus nos dá o Evangelho para ficar esperando. A oração da Missa diz: “Só teremos felicidade completa servindo a Vós, Criador de todas as coisas”. Rezamos no salmo: “Vós nos ensinais o caminho para a vida; junto a vós, felicidade sem limites, delícia e alegria ao vosso lado (Sl 15).
Inimigos sob os pés
          Na carta aos Efésios aprendemos que Deus quer “recapitular todas as coisas em Cristo” (Ef 1,10). “E vai reconciliar por Ele e para Ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue da sua cruz” (Cl 1,20). Nós cremos que temos a verdade que o Evangelho nos ensinou. Por isso sabemos que o mundo tem como meta e como meio de salvação, o próprio Cristo. Tudo se dirige a Ele. É Nele que temos a vida e a salvação (Ef 1,7). Colocar seus inimigos sob seus pés é realizar a transformação do mundo para que tudo caminhe sob sua luz. Não se trata de uma atitude de dominação que não condiz com Jesus que se intitula de o Pastor (Jo 10,11). Vemos tantas realidades que estão em completa desarmonia com o mundo e com o ser humano. Levando aos homens o evangelho da paz e do amor estamos levando Jesus a “dominar com o amor” todas as realidades do mundo. Vivemos unidos no único sacrifício de Cristo, como nos ensina a carta aos Hebreus (Hb 10,12). Tudo o que fizermos está unido a Cristo. Por isso Ele nos transfere a obrigação de mudar as realidades do mundo para que Ele reine. A Igreja deve levar os fiéis a tomarem consciência do mal presente no mundo e a tomar atitudes concretas de mudança. Assim pode superar o que fere a pessoa, sobretudo os pobres.
Os sábios brilharão
           O caminho dos que viveram na sabedoria é brilhar junto com Deus porque ensinaram os caminhos da virtude. Grande mérito é ser evangelizador e educador. Levar para Deus é chegar mais perto Dele. Não se trata de um lugar, mas de um contato de pessoa a pessoa. Falamos em linguagem humana. O salmo ensina a atitude do orante que demonstra essa escolha fundamental que fazemos em nossa vida: “Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, meu destino está seguro em vossas mãos. Tenho sempre o Senhor antes os olhos, pois se o tenho a meu lado, não vacilo... vós me ensinais o caminho para a vida; junto a vós felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado” (Sl 15).
Leituras: Daniel, 12,1-3; Salmo 15; Hebreus 10,11-14,18; Marcos 13,24-32
Ficha nº 1806 - Homilia do 33º Domingo Comum (18.11.18)

1. Jesus nos dá o Evangelho para ficar esperando a vinda do Senhor.
2. Colocar os inimigos sob os pés de Jesus é fazer a transformação do mundo.
3. Levar para Deus é chegar mais perto Dele.

                                  Olha quem está chamando!

           Um toque de campainha é sempre um sobressalto. Quem será? A tentação de saber quem é, gera uma necessidade de abrir. Jesus está sempre batendo à porta de nossa vida. E a gente sempre se preocupa por saber o que Deus quer de nós. Pior quando não nos ligamos que a chamada é Dele.

           Jesus, ao prometer que vai voltar, criou uma expectativa. Mas... Como demora essa segunda vinda, já nem se pensa que Ele pode vir. Perde-se a chance de fazer uma vida que signifique para o mundo. Quando esperamos alguém, sempre damos uma melhorada no ambiente, mudamos a roupa, e escondemos o que desagrada. Assim também podemos melhorar muito quando colocamos nossa vida como espera que produza um mundo melhor,
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domingo, 4 de novembro de 2018

nº 1805 Artigo - “Serão consolados”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2118. Prazer acima de tudo
           O país das lágrimas tem muitos habitantes. O Papa Francisco, continuando sua reflexão sobre as bem-aventuranças como caminho de santidade, retoma mais um tema da santidade: “Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4). O mundo procura esconder os sofrimentos e as lágrimas. Querem o riso e a alegria do ter, do poder e do prazer. Não percebem que ter, prazer e poder provoca muito sofrimento e muita lágrima. São os pecados dos três poderes: o ter, o prazer e o poder. A busca do gozo, da alegria e do prazer usa o poder e as riquezas. As pessoas têm medo da dor e da desgraça. O caminho da cruz não é reconhecido. O sofrimento não faz parte da vida espiritual das pessoas, principalmente de certos movimentos religiosos. Confundem ter problemas com falta de vida espiritual. Pensam que ser cristão é não ter problemas. Não percebem que vida cristã é felicidade com problema e dores. Jesus dizia: “Devo receber um batismo (sua morte) e, como me angustio até que seja consumado!” (Lc 12,50). Diz o Papa Francisco: “Quem é do mundo ignora quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor. O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las. Gastam-se muitas energias para escapar das situações onde está presente o sofrimento, julgando que é possível dissimular a realidade, onde nunca, nunca, pode faltar a cruz” (GE 75). O sofrimento não é entendido pelos cristãos que o veem como castigo. Até dizem: “Por que acontece isso comigo que fiz tanta coisa boa”? “Que adiantou rezar se não consegui o milagre”. Outros se colocam como juízes e dizem: “Você não rezou bem”. 
2119. A dor que não fere o coração
            A dor, assumida como Jesus o fez em sua paixão, não fere o coração. A alma que vive a fé conhece os males do mundo e chora por eles. Tem capacidade de chorar com as pessoas (GE 75). “Esta pessoa sente que o outro é carne da sua carne, não teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até sentir que as distâncias são superadas. Assim é possível acolher aquela exortação de São Paulo: ‘Chorai com os que choram’ (Rm 12,15). A pessoa consolada com a consolação de Jesus é capaz de descobrir que a vida tem sentido socorrendo o outro na sua aflição, compreendendo a angústia alheia, aliviando os outros” (GE 75). Chorar é deixar que não somente nossa razão conheça as realidades dolorosas, mas deixar que o coração possa sentir junto, participando da mesma dor. Não sentindo a mesma dor, mas ter o coração capaz de captar a dor do semelhante e assumi-la como sua, não para tê-la, mas para libertá-lo de não sofrer sem que o Consolador esteja junto. Jesus se encarnou porque agiu assim. “Ele assumiu nossas dores” (Mt 8,17 – Is 53,4). Cristo sofreu e, como consolador, assumiu o que somos para nos indicar o caminho da superação: “Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice, contudo não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26, 39). A consolação de Jesus é a certeza que o Pai assim o quer. Esse é o sentido do Anjo que O consola (Lc 22,43). Chora com os que choram.
2120. Consolação espiritual
                Quem, vendo os sofrimentos e, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz. Esse é consolado, mas com a consolação de Jesus e não com a do mundo. Assim pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio, e deixar de fugir das situações dolorosas”. Assim conclui o Papa Francisco. Saber chorar com os outros: isto é santidade. (GE 76). Diversamente é a consolação espiritual de um gozo místico, no prazer de estar com Deus. É preciso ser como Jesus que também vivia essa dimensão, mas para Ele, era fundamental unir sua vida ao sofrimento de cada filho de Deus. Sem isso, pode ser uma ilusão.
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sábado, 3 de novembro de 2018

nº 1804 - Homilia do 32º Domingo Comum (11.11.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
Deus que vê os pequenos
 A falsa religião
No evangelho de Marcos 12,38-40, Jesus alerta contra os doutores da lei. Eram eles que ensinavam e interpretavam a lei de Deus. Seu ensinamento era acompanhado da vaidade pessoal e da falta completa de coerência: “Eles gostam de andar com roupas vistosas, de serem cumprimentados nas praças públicas. Gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes” (Mc 12, 38). Atualmente há uma tendência muito forte na Igreja para a exterioridade e, pior ainda, dão a isso valor como o mais importante. Com isso se sentem superiores aos demais. Por outro lado, depois de ensinarem a Palavra, tornam-se ladrões explorando as pobres viúvas, “fingindo fazer longas orações”. Temos também o problema de pessoas religiosas que levam vida dupla. E querem dar normas aos demais. O Papa Francisco fustiga esse tipo de religião. As grandes crises que a Igreja vive no momento provêm da falsa religião. Não podemos usar os símbolos religiosos, como batinas e ritualismo, para cobrir nossa falta de personalidade. Nada contra os símbolos. Mas não podem ser instrumento de poder nem de falsa religião.
A riqueza da pobreza
           Junto a esse texto, o evangelista faz o ensinamento sobre a verdadeira religião: a força da fé dos pobres. Creem com totalidade de vida, pois a entregam Deus na segurança da fé. A cena é curiosa: Jesus está sentado no templo diante do cofre. Ali ricos depositavam grandes quantias. Veio uma pobre viúva e colocou duas moedas sem valor. Chama os discípulos e lhes diz que ela deu mais do que todos. Nesse dia passará fome, pois deu tudo. O ensinamento é claro: “Todos deram o que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu aquilo que possuía para viver” (Mc 12,42-44). Podemos recolher o ensinamento: Deus nos quer por inteiro. Nada pode sobrar. A entrega deve ser total e sem retorno. Diferentemente dos outros que deram o resto a Deus, ela deu tudo. É o testemunho da mulher da primeira leitura. Elias pede ajuda a uma pobre. Ela divide com ele o que era para viver e tem como resposta que daí para frente quem cuida é Deus. “A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias” (1 Rs 17,16). Deus não quer resto. A entrega a Deus deve ser total. É comum se ouvir de pessoas de classe alta que são católicos, mas não aceitam tudo.
Uma vez por todas
           A Carta aos Hebreus, refletindo sobre Cristo, Sumo Sacerdote, abre-nos um leque de reflexão também sobre a realidade de cada pessoa que se une a Cristo em seu sacerdócio. Não se trata aqui de padres e bispos, mas de cada fiel que participa desse sacerdócio. O sacrifício de Cristo, diferentemente dos sacrifícios reparadores do Antigo Testamento, foi único e uma vez por todas. Assim também a ação de entrega total de si, como vimos nas pobres viúvas dos textos desse domingo, realizam sua união a Cristo uma vez por todas. Cristo aceita nossa entrega, não pela quantidade, mas pela totalidade. Somente vivendo em totalidade que podemos entender o Mistério de Cristo.
Leituras 1Reis 17,10-16. Salmo 145; Hebreus 9,24-28;Marcos 12,38-44.

Ficha nº 1804 - Homilia do 32º Domingo Comum (11.11.18)

   1. Jesus recusa a religião exterior que esconde a maldade.
2. O exemplo da viúva pobre ensina que a entrega a Deus deve ser total.
3. Cristo nos salvou uma vez por todas. O que fazemos nos une a essa doação total.
  
Viúva sabia administrar a vida.

           Dizem ser difícil misturar as coisas do Céu com as da terra. Mas a velhinha muito pobre soube fazer um negócio das Arábias: comprar o Céu com duas moedinhas que não valiam nada. O que se exigia de fato era o valor do negócio: Dou minha vida inteira e recebo tudo o que Deus tem para me oferecer. Maravilhoso negócio: Ter tudo por nada, porque deu tudo. O que vale é o tudo e não o valor das moedas. Estas valiam pelo que significavam: a vida.
           É uma chamada: ou damos tudo ou não pegamos nada. Deus não quer o que “sobra” como faziam os ricos. Parece que Deus não está nada interessado em ser saco de lixo: se não tem mais valor, vai para Ele.
           Na força desse ensinamento podemos compreender o que significa seguir Jesus. Ele também se entregou por inteiro dando a vida. Tinha em troca a certeza que Deus o acolhia.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

nº 1803 Artigo - “Felizes os mansos”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2115. Porque possuirão a terra
            Felizes os mansos, porque possuirão a terra(Mt 5,4). Com essas palavras das bem-aventuranças, o Papa Francisco, em sua exortação apostólica Gaudete et Exultate, apresenta mais um traço da personalidade de Jesus. Revela um aspecto de seu ser. Ele é Deus, mas tem que lidar com os homens. Como homem tem seu caminho muito claro: a mansidão. No momento de sua prisão, no Jardim das Oliveiras, diz a Pedro que, se pedisse, o Pai lhe mandava dez legiões de Anjos para defendê-Lo. Seriam 60.000 soldados (Mt 26,53). A única reação foi reclamar de Judas: “É com um beijo que trais o Filho do Homem?” (Lc 22,48). O Papa lembra que o mundo é o reino da agressividade nas mais diversas formas.  A violência domina o mundo desde o assassinato de Abel. O próprio Jesus foi vítima da violência. “Embora pareça impossível, Jesus propõe outro estilo: a mansidão”. Em sua entrada em Jerusalém, retoma a profecia de Zacarias 9,9 que anuncia: “Aí vem o teu Rei, ao teu encontro, manso e montado num jumentinho» (Mt 21,5;Zc 9,9). O futuro Messias vem a seu templo na mansidão. E ensinava aos discípulos: “Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito” (Mt 11,29). O sinal claro de sua mansidão era a proximidade do povo. Ele mesmo diz de Si: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e; encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).
2116. A mansidão faz bem
            “Se vivermos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. Mas, quando olhamos os seus limites e defeitos com ternura e mansidão, sem nos sentirmos superiores, podemos dar-lhes uma mão e evitamos gastar energias em lamentações inúteis. Para Santa Teresinha, ‘a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, e não se escandalizar com as suas fraquezas”’(GE 72). Paulo e Pedro, em suas cartas, ensinam a necessidade e a força da mansidão. Isso deve se demonstrar nas atitudes cotidianas, como na correção dos irmãos, na defesa da fé, no confronto com os adversários. É impressionante o número de pessoas que deixaram a Igreja ou se desiludiram por causa do modo como foram tratados. O confessionário é ainda um terror, pois as pessoas tinham medo de serem maltratadas. Sto. Afonso dizia que o pregador deve ser um leão no púlpito e um cordeiro no confessionário. Corrigir o pecado não é tratar mal a pessoa.  Até os animais respondem melhor diante da mansidão. Jesus se declara servidor e manso cordeiro que vai ao encontro da morte rezando por seus perseguidores (Mt 5,44).
2117. Donos do mundo
            Como o mundo depende de quem manda, quem é manso tem um trânsito muito maior no mundo do que quem, na violência, quer tomar o poder. A mansidão realiza um tipo de poder que não interfere no poder, mas tem poder de mudar sem ferir, pressionar, forçar e ofender. “Porque os mansos, independentemente do que possam sugerir as circunstâncias, esperam no Senhor, e aqueles que esperam no Senhor possuirão a terra e gozarão de imensa paz (Sl 37/36,9.11). Ao mesmo tempo, o Senhor confia neles: “é nos humildes de coração contrito que os meus olhos se fixam, pois escutam a minha palavra com respeito” (Is 66,2) (GE74). O acolhimento dos mansos por parte dos pobres, tira-os do desencanto e do desânimo que a vida pode trazer. Formam o corpo do povo reunido. O Papa Francisco conclui: “Reagir com humilde mansidão: isto é santidade”.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

nº 1802 - Homilia da S. de Todos os Santos (04.11.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
Todos os Santos
 Bem-aventurados
           Celebramos a festa da família de Deus: Todos reunidos em torno do Pai comum. Essa festa lembra todos os que O acolheram em sua vida e agora vivem em sua casa. Há uma medida muito clara para saber quem é bom ou quem é mau: O coração do Pai. Como Deus é pai estimula e acolhe os filhos todos. Os mais fracos e doentes são os preferidos. O sentido dessa festa não é lembrar um santo canonizado, conhecido e comemorado, mas recordar todos os cidadãos do Céu. Todos os filhos têm direito à casa do Pai. Mas o Pai não é privilégio exclusivo, pois ali estava gente com a marca do Deus vivo. João diz:“Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro. Trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão” (Ap 7,9). O Céu é aberto a todos. Todos que lá entram lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro Jesus. Jesus é o Salvador de todos e não de um grupinho. No salmo rezamos: “Quem subirá até o monte do Senhor? ‘Quem tem mãos puras e inocente o coração, quem não dirige sua mente para o crime”’ (Sl 23). É preciso superar idéia de achar que somos os únicos herdeiros do Reino. É uma visão mesquinha para quem diz conhecer Jesus Cristo. Celebrar todos os santos é reconhecer que o caminho de santidade é para todos. a missão da Igreja é levar todos a conhecer Jesus e viver seu Evangelho de justiça, amor e paz.  Esse caminho Jesus apresenta em seu ensinamento sobre as bem-aventuranças. É o caminho fácil.
E somos filhos
A santidade a que somos chamados não provém de nossos ritos, pois tudo o que fizermos será um dom de Deus que nos dá a participação de sua vida. Somos filhos porque nos fizemos irmãos de Jesus pela fé em nosso batismo. Somos santos por dom. Para crescermos nessa opção de santidade, devemos assumir a condição de filhos de Deus e viver a participação da Vida Divina correspondendo aos dons que recebemos. Assumir o Evangelho como modo de vida implica viver como irmãos na comunidade, alimentados pela Eucaristia e ser assíduos aos ensinamentos e à fraternidade, como aprendemos da comunidade primitiva (At 2,42). A certeza que a Vida Divina cresce em nós é o desejo  e empenho de anúncio do Evangelho. Ter fé é anunciar. Há imensas possibilidades, mas é preciso que Jesus seja conhecido e amado. Ele tem a resposta a todas as questões do mundo, pois o amor de Deus pode tudo penetrar. A santidade do fiel estará em viver o evangelho e evitar aquilo que tem sabor de santidade, mas não passa de ideologia. Tudo de espiritual que buscarmos tem que corresponder ao Evangelho das bem-aventuranças.
Marcados pelo Espírito
           São João, no Apocalipse, diz o Anjo: “Não façais mal à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos de nosso Deus. Ouvi o número dos que tinham sido marcados: eram cento e quarenta e quatro mil,de todas as tribos dos filhos de Israel” (Ap 7,3-4). A marca é o sinal da escolha de Deus, a partir do batismo. Mas depois diz que havia uma multidão, como vimos. O batismo é o caminho normal da vida cristã, aberta a todos num sentido de escolhidos como testemunhas. Mas a santidade pode se encontrar em todos os que querem a prática do bem. Essa é a marca de todos. Celebrando todos os santos estamos unidos como família que celebra o Pai. Conosco está o Filho primogênito, Jesus e o Espírito que santifica e nos abre o caminho das bem-aventuranças.
Leituras: Apocalipse 7,2-4.9-14; Salmo 23; 1 João 3,1-3; Mateus 5,1-12ª
Ficha:  nº 1802 - Homilia da S. de Todos os Santos (04.11.18)

1.      O sentido dessa festa é lembrar todos os cidadãos do céu.
2.      Para crescermos na opção de santidade, devemos assumir a condição de filhos.
3.      A santidade pode se encontrar em todos os que querem a prática do bem.

Santo sem carteirinha

           Há muita história sobre o Céu. Uns colocam S. Pedro de porteiro, por isso tem chaves na mão. Afinal o sentido era outro. Mas tem chave. Outros colocam Nossa Senhora numa janela para entrar os que não podem entrar pela porta normal. Isso sem falar de algumas novelas que descrevem o Céu sem imaginação. Não dá para encarar. Não sabemos como é. Tem gente que quer organizar o Céu, mas não dá conta de organizar sua dispensa. Ou pior, sua vida.
            Na festa de Todos Santos lembramos os santos que não estão nos altares da terra.  São todos os que vivem na alegria da casa do Pai. Alegria muito grande. Entre esses estão nossos familiares. Quem não teve uma mãe santa? Eu tive também minha avó santa. Estão entre eles as pessoas que viveram no mundo desde sua criação. Quanto tempo? Milhões de anos? Quem sabe? São santos como os outros que estão no altar. Nesse assunto não dá para ter medida. Deus é o grande. Todos os demais estão nele.
           Quem está no Inferno? Como é? Quem for para lá nos conte depois.  
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