sábado, 20 de outubro de 2018

nº 1801 Artigo - “Morte onde está tua vitória?”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2112. Muitas pedras no caminho
           Relembrando algumas passagens da Escritura sobre a pedra, vamos encontrá-la em diversos momentos. Jacó pega uma para travesseiro. Depois faz dela um altar; Moisés escreve os mandamentos em uma prancha de pedra, tira água da pedra, faz um altar de pedras. Josué faz um monumento de pedra para marcar o compromisso do povo. Jesus diz que Deus pode fazer das pedras filhos de Abraão. Os judeus pegaram em pedras para atirar em Jesus. Lembramos uma pedra importante: aquela que fechou o túmulo de Jesus significando o encerramento de tudo o que era vida humana naquela pessoa. Ali Ele era um morto. O que é a morte? Impossível saber, pois, ninguém voltou para dizer o que é. A morte encerra o que era a vida humana. Mas Jesus ressuscitou. Foi além da morte para a Vida. Ela é a conclusão. É o momento da somatória de tudo o que somos. E como tudo se destrói, pode causar em nós aquela desilusão: Por que tudo o que fazemos termina tão como colocado definitivamente sob uma pedra? Dá uma sensação de vazio. Que valeu a vida para tudo terminar no nada? Vemos o próprio Jesus chegar ao fim de tanta promessa e ir para um túmulo e Lhe ser colocado na entrada uma grande pedra. Essa desilusão come a alma da gente. À medida que a vida vai passando, as coisas secundárias vão perdendo o sentido. A gente quer se agarrar em alguma coisa, mas tudo escapa. Por outro lado, celebramos Finados é dia de lembrar os mortos. Para nós eles continuam vivos.
2113. Onde está tua vitória?(1Cor 15,54)
           Finados é a lembrança de todos os mortos. Por que ir ao cemitério se ali sobram somente os restos? Certamente temos a certeza que ali não está a pessoa. Há tantos mortos que não foram sepultados ali. Dá a entender que há uma vitória sobre a morte na vida que continua. Paulo diz: “Quando este ser corruptível tiver revestido da incorruptibilidade e este ser mortal tiver revestido a imortalidade, então cumprir-se-á a palavra da Escritura: Ó morte, onde está a tua vitória?” (1Cor 15,54-55).  Quando celebrarmos, lembramos e mantemos a memória de nossos mortos é porque temos consciência que estão vivos. Sentimos sua  presença. Rezar pelos mortos é o maior testemunho que estão vivos. Como estão no processo de purificação (não sabemos como é, pois não é uma purificação humana), estamos unidos a eles no Corpo Místico de Cristo, como lemos em Romanos 12,5 e 1 Coríntios 12,12. Todos nós fazemos parte de Cristo. Partilhamos de sua purificação através da solidariedade gerada em nós pelo Espírito Santo que nos une como membros do Corpo de Cristo no qual estão unidos os dos céus, os da terra e do purgatório.
2114. Viver sempre
              Na celebração litúrgica da memória de todos os mortos, vemos a força da Ressurreição dando vida à vida. Lemos as palavras imortalidade, luz, banquete, vida eterna, ressurreição, filhos de Deus e seremos semelhantes a Ele. Assentar-se em uma tampa de um túmulo de um conhecido é esperar a realização da certeza da vida que continua. Na casa do Pai haverá a vida por completo. Não é tanto a memória, o bem querer e a lembrança que nos unem aos mortos, e sim, o mistério de Cristo celebrado na Eucaristia. Ali nos fazemos um único corpo com todos os que se foram. Por isso, Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, dizia ao final da vida; “Só peço que vos lembreis de mim no altar do Senhor”. É um ensinamento muito antigo, pois ela faleceu em 387. A Igreja não inventou a oração pelos mortos, mas a recolheu da tradição mais antiga. Continuemos a rezar pelos mortos. Um dia rezarão por nós.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

nº 1800 - Homilia do 30º Domingo Comum (28.10.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Mestre, que eu veja!”
Um Deus que transforma   
           A liturgia deste 3º Domingo Comum é uma explosão de alegria não diante de um milagre, que já é maravilhoso, mas diante do Deus que opera maravilhas incontáveis. A cura do cego é um exemplo. A profecia de transformação sobre a volta dos exilados se realiza também nos muitos gestos de Jesus.  Vivemos continuamente dos milagres que Deus faz por nós. Isso nos leva a tomar uma atitude de um jubiloso agradecimento. Não temos essa sensibilidade espiritual de perceber que em “Deus nos movemos e existimos” (At 17,28). Creio que nos falta sofrimento para saber o quanto Deus nos salva e liberta. O povo no cativeiro foi capaz de perceber que ele era culpado. Estavam pagando pelo pecado de ter abandonado a Deus e não vivido a sua lei. Ali, como nos narra o salmo 137, souberam chorar de saudades da cidade santa e de suas alegrias. Nesse arrependimento, Deus se adianta na libertação, como nos profetiza Jeremias (31,7-9). Deus reúne seu povo disperso e o conduz com carinho, como um pai. O povo exulta, como no salmo 125. A mudança de sofrimento para a vida é como a mudança como das torrentes no deserto. Sentem como numa colheita. A semeadura pode ser dolorosa, a colheita festiva: “Chorando de tristeza sairão. Espalhando suas sementes; cantando de alegria voltarão, carregando seus feixes”(Sl 125). Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria! A Eucaristia quer ser esse momento de ação de graças por tudo. Ela se transformou em um momento de peso, de sono, de missa que lembra mortos, de pressa, de críticas e mal estar. Ela é alegria.
Ele seguia Jesus
O cego, da escuridão de si mesmo levanta seu clamor: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim” (Mc 10,47). Ainda mandavam que se calasse. Não tem nem o direito de reclamar. Mas sua fé em Jesus supera os obstáculos. Jesus dialoga com ele: “Que queres que eu te faça?” Responde: “Mestre, que eu veja”. O pedido que vem da profundeza do ser nasce da fé profunda. Jesus responde com carinho reconhecendo nele a fé de todo o discípulo: “Vai, a tua a fé te curou!”. Vemos o resultado do milagre: “No mesmo instante ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho”. Há um dado interessante: Quando Jesus o chama, os mesmos que mandavam que calasse, dizem: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama”. O estímulo na fé faz parte da saúde do corpo de Cristo e motiva os que o redeiam. O milagre não é a solução de um problema pessoal, mas uma proposta de seguir Jesus pelo caminho como discípulo que agora vê Jesus como caminho. Chamá-lo de Mestre é professar sua ressurreição. Jesus é sempre o Vivo. Ele vê a luz e segue a luz. A Eucaristia é momento de ver a luz e seguir no caminho da Luz que é Jesus. Só pensam em cumprir uma lei. Precisamos de uma missa que nasce do milagre dos olhos abertos.
Sacerdócio que transforma
A carta aos Hebreus nos traz uma reflexão sobre o Sumo Sacerdócio de Cristo. Tirado do meio dos homens e, colocado em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus para oferecer dons e sacrifícios pelo pecado. O sacerdócio de Cristo tem essa dimensão antropológica: feito para o bem das pessoas que sofrem o pecado e suas consequências. Marcado pela fragilidade sabe ter compaixão. Vemos aqui que a fragilidade tem uma consequência no carinho e atenção para com as pessoas que necessitam. Geralmente acontece que muitos sacerdotes são duros com o povo porque não vem ou escondem suas fragilidades. São cheios de pecado, por isso, oferecer por si e  pelo povo.
Leituras: Jeremias 31,7-9; Salmo 125; Hebreus 5,1-6; Marcos 10,46-52.
Ficha nº 1800 - Homilia do 30º Domingo Comum (28.10.18) 
1. Deus faz maravilhas em nossa vida. Das trevas faz luz.
2. O milagre é uma proposta de seguir Jesus.
3. O sacerdote, marcado pela fragilidade sabe ter compaixão. 
O pulo do cego 
             O homem era cego, não era surdo nem estropiado. Pode pular, jogar o manto e ir até Jesus. Não são as condições humanas que nos impedem de ir a Jesus com força e certeza. Já estava com o discurso pronto: “Que queres que eu te faça?” “Que eu veja, Senhor!”. “Vai, a tua fé te curou”. Coragem, disposição e, ir atrás do que se quer. Nossa opção por Jesus exige disposição, senão não é fé. Não bastam pequenas mudanças. É preciso ser radical, isto é, mudar de raiz. O que sustenta agora é Jesus.
             Daí para frente o caminho é outro. Ele seguiu Jesus. Quem sabe seja o que nos falta.
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nº 1799 Artigo - “Coração de pobre”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
                                                  2109. As bem-aventuranças
           O Papa Francisco em seu ensinamento sobre a santidade, Gaudete et exultate, nos oferece a definição que dá o Evangelho. E diz em um texto sintético: “Sobre a essência da santidade, há muitas teorias, abundantes explicações e distinções. Uma reflexão sobre essas ideias poderia ser útil, mas não há nada de mais esclarecedor do que voltar às palavras de Jesus e recolher o seu modo de transmitir a verdade. Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; Ele o fez quando nos deixou as bem-aventuranças (Mt 5,3-12; Lc 6,20-23). Estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre ‘como fazer para chegar a ser um bom cristão’, a resposta é simples: ‘é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças’. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida” (GE 63). Maravilhosa apresentação. Vemos pela história da espiritualidade que se fez de tudo para viver a santidade. Mas só ficou santo quem viveu a experiência das bem-aventuranças que foi o caminho que fez Jesus. Examinemos bem o que há por aí de doutrina sobre santidade. No evangelho é claro. Isso não é poesia. É o caminho da cruz, não da dor, mas da entrega total de si a Deus e aos irmãos. Se na Igreja se vive de um modo tão distante ao evangelho, o que dizer do mundo oposto ao Reino. Quem caminha pelas bem-aventuranças está contracorrente. Foi assim que viveu Jesus. Seus valores são completamente diversos dos valores do mundo. Jesus nos desafia.
2110. O Reino pertence ao pobres.
            Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu(Mt 5,3). Essas palavras têm gerado muitas interpretações, mas pobre que é pobre, é pobre. Não há pobreza sem ser pobre. Assim escreve Papa Francisco: “O Evangelho convida-nos a reconhecer a verdade de nossa vida, para ver onde colocamos a segurança do nosso coração. Normalmente, o rico sente-se seguro com as suas riquezas e, quando estas estão em risco, pensa que se desmorona todo o sentido da sua vida na terra” (GE 67). A pobreza não está nos bolsos, mas no coração. O Papa continua: “As riquezas não te dão segurança alguma. Mais ainda: quando o coração se sente rico, fica tão satisfeito de si mesmo que não tem espaço para a Palavra de Deus, para amar os irmãos, nem para gozar das coisas mais importantes da vida. Deste modo priva-se dos bens maiores. Por isso, Jesus chama felizes os pobres em espírito, que têm o coração pobre, onde pode entrar o Senhor com a sua incessante novidade” (GE 68). Pobreza de coração tem sua riqueza no Senhor. Os bens materiais enchem os cofres, os bens espirituais enchem o coração vazio de bens materiais.
2111. Ser pobre no coração: isto é santidade.
            A pobreza de espírito nos esvazia de tudo, não só de bens materiais. “Esta pobreza de espírito está ligada à “santa indiferença” proposta por Santo Inácio de Loyola, na qual alcançamos uma estupenda liberdade interior(GE 69). Lucas não fala de pobreza “em espírito”, mas simplesmente de ser “pobre” (Lc 6, 20), convidando-nos assim a uma vida também austera e essencial. Desta forma, chama-nos a compartilhar a vida dos mais necessitados, a vida que levaram os Apóstolos e, em última análise, a configurar-nos a Jesus, que, “sendo rico, Se fez pobre” (2 Cor 8,9) (GE 70). Sem a pobreza material não poderemos, com facilidade, nos libertar dos bens materiais. O desapego deve ser total e deve atingir todas as dimensões de nossa vida. É a indiferença, porque temos tudo em Cristo. O pouco nos basta e nos faz felizes.
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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

nº 1798 Homilia do 29º Domingo Comum (21.10.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
  Redentorista
“Entre vós não será assim”

Desvios da fé
           A palavra fé e fidelidade na escrita cuneiforme, em uso na Babilônia, desde os sumérios, não é um conceito, mas a construção de uma fortaleza. Lembramos que eles escreviam em tabuletas de argila que depois eram cozidas como tijolo.  O desenho das letras era feito com símbolos de “cunhas” que formavam a palavra. A fé não é crer numa doutrina, mas acolher uma Pessoa, Jesus. Assim cada pessoa se torna uma fortaleza. Sua muralha não se dissolve com pretensões contrárias. É o que podemos ver em nossa vida de cristãos, sobretudo no momento em que estão em jogo nossas pretensões. Vemos essa tentação nos primeiros discípulos que, iniciando a “campanha” para o futuro governo que Jesus estabeleceria o Reino de Israel. Quem é que vai mandar? Os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, adiantam e pedem a Jesus o lugar de comando: “Deixa-nos sentar à direita e à esquerda quando estiveres na tua glória” (Mc 10,37). Essa mentalidade não saiu ainda da Igreja cristã. O poder, os bens e o prazer fascinam e têm força de lei. É impressionante como em todas as esferas da Igreja há luta pelo poder que depois se torna vício do prazer. É o que vemos. Tudo pode ser feito, menos tocar na autoridade. Isso mostra que o paganismo ainda é reinante com todos os traços de falsa santidade e de verdade. A fé que modifica a vida pelo Evangelho não conta. Mas Jesus os leva a perceber que estarão a seu lado no serviço da cruz. Essa fortaleza de fé modela a vida. Por isso ela se torna critério.
O servo que justifica
           O salmo descreve o Servo de Deus como um retrato de Jesus, que passou pelo sofrimento e, sustentado por sua fé, transformou a ignomínia e a dor em expiação. Entrou no lugar do animal oferecido em sacrifício para pagar pelo pecado do povo. Todo seu sofrimento teve luz duradoura e ciência perfeita. Se assim é um servo, quanto mais o Filho de Deus que assume essa condição. Seu sofrimento fará justos inúmeros homens. Mais que sofrer, ainda assume a culpa de todos (Is 53,10-11). Jesus chama a Si essa figura e aponta o batismo que deve receber. Batismo de sangue. Esse é o grande serviço que presta ao mundo e penetra toda a vida do discípulo nos muitos serviços que destroem os ídolos do poder, da ganância e do prazer que se transformam em tirania.  Jesus afirma: “Quem quiser ser grande, seja vosso servo e, quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos”. Essa é a fortaleza inexpugnável que repele esses males e faz do discípulo um servo redentor. Assim fez Jesus: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate de muitos” (Id 45). Essa é a base da fé cristã. Sem isso nossa fé não passa de teoria, bons modos, piedade vazia, ministério inócuo e Igreja em decadência.
Aproximemo-nos com confiança
           A Carta aos Hebreus descreve o Sumo Sacerdote Jesus Cristo como modelo e fundamento de todo o sacerdócio dos fiéis e do ministério ordenado. Só existe um Sacerdote, Cristo. Todo sacerdócio que há na Igreja está unido a seu sacerdócio e deve ter suas características: É abertura de Deus para seu povo, pois o conhece por ter vivido nossas fraquezas, menos o pecado. Podemos nos aproximar com confiança. O exercício do sacerdócio é o do servo no poder de Jesus Cristo de servir. Como seria bom se todos o sacerdócio transmitisse esse Jesus que entrega sua vida e acolhe com amor. Somente com a fortaleza da fé poderemos exercer fielmente o serviço de Cristo.
Leituras Isaias 53,53,10-11; Salmo 32;Hebreus 4,14-16;Marcos10,35-45
Ficha: nº 1798 - Homilia do 29º Domingo Comum (21.10.18)

1. A fé é uma fortaleza que resiste a todos os males que invadem as pessoas e a Igreja
2. Jesus coloca o serviço como base de todo seu ministério de redenção.
3. O povo de Deus e padres participam do sacerdócio de Cristo no serviço.

                 Dando com a cara no muro

Os discípulos Tiago e João queriam um lugar privilegiado no futuro reino do Messias. Mas deram com a cara no muro porque Jesus tem outra mentalidade de reino: é lugar de serviço mútuo e dedicado. Eles aceitaram o “batismo de sangue de Jesus”. Quando assumiram a condição de servidores. E foram grandes nisso. Começaram mal e acabaram bem.
Essa mentalidade de serviço que Jesus proclama do Evangelho, contra toda mania de poder, de riqueza e de prazer, está longe de ser a mente dos fiéis e dos servidores da Igreja, padres, bispos e leigos. Não é pelo poder que a Igreja vai conquistar o mundo. Já não deu certo e pior ainda, foi uma fonte de pecados e desastres espirituais. Está na hora de assumir o Evangelho como uma grande fortaleza.
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domingo, 7 de outubro de 2018

nº 1797 Artigo - “Santidade é dom”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2106. A graça nos santifica
            Nosso Papa Francisco continua sua reflexão sobre a santidade. Ele quer nos ensinar em sua exortação apostólica “Gaudete et exultate” (GE), sobre a santidade. Como somos filhos de Deus, recebemos graça sobre graça. Esse Pai é generoso em nos dar a participação de sua santidade. Podemos compreender o desenvolvimento do tema com uma situação: Pedi a Deus um milagre e fiz uma promessa. Paguei a promessa, e estou acertado. Ou também: “Fiz tantas coisas para Deus. Rezei, ajudei etc... agora Deus tem obrigações para comigo. Ele me deve”. Isso está muito entranhado na mentalidade das pessoas. Poderíamos entender que nosso relacionamento com Deus é sempre de agradecer tudo, mesmo o que fazemos, pois tudo é sua graça. Nós acolhemos os dons que são maiores que nosso esforço. Nossas obras e esforços são respostas ao que faz por nós. Deus sempre toma a iniciativa (GE 52). Nenhum ser humano pode exigir, merecer ou comprar o dom da graça Divina, e que toda a cooperação com ela é dom prévio da mesma graça: “até o desejo de ser puro se realiza em nós por infusão do Espírito Santo e com sua ação sobre nós” (GE 53). O que fazemos de bom vem da graça como os frutos que nascem da planta. A graça supera tudo o que somos (Id 54). A nós cabe agradecer e corresponder.
2107. Erros que se repetem
            O Papa afirma: “Ainda há cristãos que insistem em seguir outro caminho: o da justificação pelas suas próprias forças, o da adoração da vontade humana e da própria capacidade, que se traduz numa autocomplacência egocêntrica e elitista, desprovida do verdadeiro amor”. Como se realiza? “Manifesta-se em muitas atitudes aparentemente diferentes entre si de exibir conquistas sociais e políticas, a ostentação no cuidado da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, a vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, a atração pelas dinâmicas de autoajuda” (GE 57). Não há compromisso com o evangelho nem com os necessitados.  É uma procura de si mesmo, não de Cristo. É um cristianismo feito a partir de si. Pior quando impõem aos outros suas teorias e costumes. O pobre povo, admirando acaba acolhendo o que não está coerente com o Evangelho. A graça de Deus não depende de nossas estruturas. O povo tem boa vontade e é enganado. Não são as idéias que fazem a graça, mas é o impulso do Espírito que dá vida à Igreja para que não se transforme num museu. Atualmente nos deixamos levar por políticas interesseiras com cara de donos do evangelho, seja de esquerda seja de direita. Não podemos sobrecarregar a vida dos fiéis com normas e leis e modelos que não são evangelho. Viram escravidão (id 59).
            Orientados por S. Paulo entendemos que “a fé atua pelo amor” (Gl 5,6). As virtudes , que são dons de Deus (fé, esperança e caridade), animam as demais virtudes e a prática cristã. Sem isso, é ideologia. O centro é a caridade, como nos diz Paulo: “Quem ama o próximo cumpre plenamente a lei (1Cor 13,8.10). Há necessidade de ter em mente dois rostos: o do Pai e do irmão. O rosto do Pai reflete no rosto do irmão. Pois, “o que é que resta? O que tem valor na vida? Quais são as riquezas que não desaparecem? Seguramente duas: o Senhor e o próximo. Estas duas riquezas não desaparecem” GE 61). Para chegarmos a isso, temos que pertencer a Deus. O grande problema de nosso crescimento espiritual é deixarmos Deus de lado e seguirmos idéias de pessoas que não refletem a busca de Deus.

nº 1796 - Homilia do 28º Domingo Comum (14.10.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“A força da Palavra  da Sabedoria”

Se quiseres ser perfeito
           O próprio Jesus se surpreende com a cena de alguém que vem correndo a seu encontro, ajoelha-se e pergunta: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” Diz Jesus: “Por que me chama de bom. Só Deus é bom” (Mc 10,17). Há nesse momento o intercâmbio entre o homem que procura e o Deus que responde. Jesus é Bom. Então lhe apresenta que os mandamentos da segunda tábua são o caminho de todas as pessoas que querem o bem. É estranho que, para ser bom, bastam os mandamentos. Mas para arrojar-se seguindo Jesus é preciso mais: “Só te falta uma coisa: Vai, vende tudo o que tens e, e dá aos pobres e, terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-Me”. Há uma identificação do seguidor de Jesus e a proposta de ser perfeito. Ser perfeito é um ideal para todos. Mas seguir Jesus, como Ele vivia, é uma sabedoria que não é pedida a todos. Os bens podem impedir, pois impedem a totalidade da entrega a Deus. Por isso, a primeira leitura traz como tema a busca da sabedoria que é o maior valor. Ela sacia totalmente o desejo humano: “Saciai-nos de manhã com vosso amor e exultaremos de alegria todo o dia” (Sl 89). O apego aos bens pode impedir essa entrega total ao convite de Jesus. Jesus reconhece: “Como é difícil para os ricos entrarem no Reino de Deus” (id 23). Diante do espanto dos discípulos quanto à impossibilidade de salvarem-se tendo bens, responde que “para os homens é impossível, mas não para Deus.” (id 24-27). É possível quando somos capazes de escolher Deus através da sabedoria. Ela é a maior riqueza, o resto é lama (Sb 7,7-11). A sabedoria em Cristo se tem pela Palavra de Deus. O seguimento de Cristo só pode ser total.
A Palavra é eficaz
           A proposta de Jesus para o homem que veio procurá-lo é simples: os mandamentos. Eles envolvem a pessoa inteira em todas as suas dimensões humanas. Eles são nomes do amor. Curiosamente Jesus não fala dos primeiros mandamentos referentes a Deus: Esses mandamentos são os que dão o significado a todos os outros sete. Só vai cumpri-los se for por uma razão maior que é o amor de Deus na opção por Cristo que se entrega ao Pai no despojamento total. Seguir Jesus implica a verdadeira sabedoria de deixar tudo. Podemos até examinar que a Igreja tem dificuldades de se firmar por que não se desapega de tudo. Falta espaço para a sabedoria. A Palavra de Deus ouvida, vivida e proclamada é a garantia da sabedoria. Ela é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes... Penetra até dividir a alma, espírito, articulações e medula. Ela discerne tudo que há na pessoa. Sem a Palavra de Deus não podemos fazer a opção radical por Cristo.
Deixamos tudo
           Pedro, depois de reconhecer que já vive esse desapego, diz que deixaram tudo para seguir Jesus. Por aí podemos ver que não é um absurdo arriscar e deixar todas as coisas, pois aqueles homens simples o tinham feito. Então Jesus responde que quem fez isso terá cem vezes mais. A riqueza do encontro com Deus é muito maior, pois atinge o homem todo, não somente seus bens. Cem vezes mais significa que nada estará fora do alcance da vida. Mas com perseguições, como aconteceu com Jesus. Já possui cem vezes mais, e no futuro a vida completa na eternidade. A sabedoria nos abre o caminho de saber deixar tudo na ousadia de ter tudo. Poder-se-ia dizer que a diferença entre ter tudo depois de deixar é encontrar o Tudo em tudo o que somos. O empenho de toda pessoa deve ser a ousadia de querer a sabedoria e com ela todos seus frutos que dão a vida eterna.
Leituras: Sabedoria 7,7-11;Salmo 89; Hebreus 4,12-13;Marcos 10,17-30
Ficha: nº 1796 - Homilia do 28º Domingo Comum (14.10.18)

1. Há uma identificação do seguidor de Jesus com a proposta de ser perfeito.
2. Seguir Jesus implica a sabedoria de deixar tudo para ter tudo.
3. Seguir Jesus é a sabedoria que tudo nos dá, com perseguições, como foi com Ele.

                       Varinha de condão

           As fadas transformavam abóboras em carruagens. Jesus, com o toque do convite Divino, transforma o pobre de muitas coisas e em rico de nada. A princesa voltava a ser borralheira. O seguidor de Jesus, não volta depois de ter deixado tudo, mas vai adiante em algo maior. A vara de condão é a disposição de seguir Jesus com totalidade. Os pobres discípulos já o fizeram e por isso recebem essa promessa da totalidade da vida.
           O mundo das fadas, das riquezas e do bem-estar que buscam com toda a loucura, pode encontrar sossego quando de pequenos que somos, fazemos o grande gesto de acolher com totalidade a pessoa de Jesus. Ele é a Palavra que discerne e a sabedoria que alimenta.  
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nº 1795 Artigo - “A Mãe educadora”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

2103. Estar na casa da Mãe.
           Celebramos a festa de Nossa Senhora Aparecida. Isso nos leva a buscar compreender a missão desse Santuário da Mãe de Deus. Estando ali, é belo ver os romeiros no Santuário de Aparecida. Sentem-se em casa e dizem: “É a casa da Mãezinha. Todos os anos venho aqui, até mais vezes”. O romeiro é um mestre que interpreta a realidade que vive. Estar na casa da Mãe é sempre voltar a ser criança para ser amado como filhinho e aprender como aluninho de primeiras letras. É um lar. É uma escola. Todos se preocupam em levar alguma lembrança de Aparecida. É uma recordação que está querendo sintetizar tudo o que viveu aos pés da Mãe. Aqui foi um momento feliz que deve perdurar. Além das lembranças e das bênçãos que suplicou ou agradeceu, há sempre um aprendizado. A casa é casa de irmãos. O Santuário ensina a sermos todos irmãos. Como Nossa Senhora tem a todos como filhos, aprendemos a ser mais irmãos. Numa Igreja repleta de filhos, todos são irmãos. São tantos filhos de Deus que conhecemos. Todos cantam: “Dai-nos a bênção, ó Mãe querida!” Os filhos se unem para louvá-la (Pr 31,28). Filhos de todas as condições, de tantos lugares. A todos acolhe e ama. Esse sentimento de amor total por todos, passa a ser também uma lição de amor total por todos os irmãos. Não há distinção. O amor, só é amor se é total e para todos. Somos um só corpo. A primeira lição do Santuário é a irmandade. Acolhendo a maternidade de Maria, acolhemos o direito de sermos irmãos. Isso deve voltar conosco para nossas casas. Com Maria aprendemos a ser irmão.
2104. Acolhimento como missão.
           Nossa Senhora Aparecida é também uma parábola que ensina sempre coisas novas e velhas como disse Jesus (Mt 13,52). Além da irmandade temos o aspecto do acolhimento que é tema fundamental do Evangelho. É uma casa de portas abertas em todos os sentidos. Não só a estrutura física. No santuário, tudo é para o acolhimento. Sejam os colaboradores e funcionários, a organização tanto do culto como do bem estar de todos. Todos para servir. Todos podem usufruir dos bens que o Santuário oferece. É uma escola onde aprendemos a acolher. Percebemos que a força de trabalho de todos é para acolher. Na casa da Mãe todos são bem servidos por todos. Assim se aprende a acolher para servir. Os bens espirituais são abundantes em todos os espaços. A Mãe ensina a acolher. Ser Padroeira não a faz uma ideia, mas uma realidade. Acolher bem é um dom que nasce do amor.
Cumprir uma missão
           A Mãe ensina a lição da justiça. Como não se faz distinção de pessoas, a todos enriquece com sua graça, com respeito a cada romeiro. Assim também se pode aprender a tratar as pessoas com o mesmo respeito, dar oportunidade para o crescimento e a busca de uma vida melhor para todos. Aí são todos iguais. Essa é a vocação de nosso povo: vivendo na paz e na justiça construir uma pátria para todos. Com o coração lavado e cheio das graças de Deus, pela intercessão de Maria, podem ser para sua cidade e lugar onde habita, instrumentos de uma vida nova. A presença de tantos romeiros é um estímulo também à cidade e estrutura da Igreja, a cuidarem sempre melhor dos filhos de tal Mãe. Todos são seus braços estendidos a todos que por aí passam. Desde os que estão no altar ao último que trabalha para viver oferecendo seus produtos. De tantas bênçãos que recebemos, podemos ser uma bênção por onde passamos. O salmo reza “passando pelo vale do pranto transforma-o em uma bênção” (Sl 84,7). As bênçãos recebidas se mudam em bênção doada.
Dai-nos a bênção, ó Mãe querida. Seus filhos a aclamam: Bendita.
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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

nº 1794 - Homilia do 27º Domingo Comum (07.10.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
 “Feliz quem teme o Senhor”

Deus os fez homem e mulher
           Em sua caminhada para realizar a missão Lhe fora que dada pelo Pai, Jesus entrava em choque com os que não aceitavam sua palavra. É também um momento de formação que faz a seus discípulos. A temática do evangelho de hoje é a grave questão do divórcio. O divórcio é o problema, mas a questão é o ser humano na sua integralidade. Não podemos ver as realidades a partir dos problemas. Jesus já responde aos fariseus que perguntam se era permitido ao homem divorciar-se. Jesus responde que Moisés permitiu por causa da dureza do coração. “Mas, afirma Jesus, no começo não era assim”. E apresenta o projeto Divino sobre o matrimônio. O homem quando se casa, deixa a casa, quer dizer que continua sua família em outra condição, sendo ele casal. “Deixará a casa de seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e serão os dois uma só carne”... Uma só carne significa uma única realidade visível e completa. É uma nova família com um processo de união na totalidade do ser humano. E acrescenta: “Não separe o homem, o que Deus fez uma coisa só” (Mc 10,5-9). A primeira leitura diz que Adão deu nome a todos os animais, mas não encontrou para si uma auxiliar semelhante a ele. Auxiliar indica a incapacidade de o homem ser só. Só o completa uma semelhante. Solidão é ser incompleto. Ser uma só carne e viver a total identidade de vida na liberdade de poder oferecer vida. É o segredo de Deus. O homem não viu como Deus fez a mulher. Significa um total complemento para uma total união. É entrega e acolhimento. No primeiro capítulo diz que Deus fez o ser humano e os fez homem e mulher. O ser humano é composto de masculino e feminino e formam um.
Se nos amarmos
           A antífona de aclamação ao Evangelho explica e fundamenta a realidade sacramental do matrimônio e dá o sentido do amor humano que se torna Divino. É Divino porque carrega em si os sentimentos de Cristo em seu Mistério Pascal de entrega e em seu acolhimento. O ser humano na sua totalidade de pessoa tem no amor Divino seu sentido. É preciso distinguir, casar-se como humanos, e receber o matrimônio. Esse é a opção por Cristo como casal. É preciso superar a dureza de coração, como disse Jesus a respeito da permissão do divórcio que Moisés estabeleceu na lei. Toda união humana tem em si o fogo Divino. Mas o Sacramento eleva o casamento à condição de amor de santificação por se realizar no Mistério Pascal de Cristo. A união se faz pela entrega que Cristo faz de Si, como está na carta aos Hebreus dizendo que não se envergonha de nos chamar de irmãos. Estará assim Se unindo a nós também em nossas condições humanas. O adultério não é só uma falha humana, mas ofensa Aquele que os uniu no amor.
Deixai vir a mim os pequeninos
           Esse texto colocado junto ao tema do matrimônio nos abre à condição fundamental para acolhermos o Reino de Deus na realidade humana. O amor Divino em nós está unido ao amor humano com sua natureza. Deus é amor (1Jo 4,8). Deus assume nosso amor e o torna Divino. Nós assumimos o amor de Deus e o fazemos humano. Jesus manda acolher o Reino como uma criança: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10,15). A união matrimonial tem no amor sua primeira finalidade, pois os filhos não são fruto do acaso, mas do amor. E quem ama gera filhos. A criança tem direito ao Reino de Deus: “Deixai vir a mim as crianças porque o Reino de Deus é dos que são como elas” (id 14). Por isso, há uma necessidade de levar as crianças a Jesus. Para o mal tem quem leve.
Leituras: Gênesis 2,18-24; Salmo 127; Hebreus 2,9-11; Marcos 10,2-16
Ficha: nº 1794 - Homilia do 27º Domingo Comum (07.10.18)

1. Uma só carne significa uma única realidade visível e completa.
2. O Sacramento eleva o casamento à condição de amor de santificação por se realizar no   Mistério Pascal de Cristo.
3. Por isso, há uma necessidade de levar as crianças a Jesus. Elas ensinam o amor.

    Jesus não se casou. Por quê?
         Jesus assumiu tudo da condição humana, mas não se casou. Por quê? O sofrimento de sua vida seria insuportável? Não cumpriu a lei de Deus: Crescei e multiplicai-vos? Foi assim incompleto em sua missão. É natural se casar. Acho que vamos ter que falar com ele pessoalmente.
         Jesus vai responder assim: Mas Eu sou casado. Com quem? Com você, responderia.
            Aí atrapalhou de vez.
         Expliquemos: Jesus escolheu a noiva mais bonita preparada pelo Pai.  Por isso sempre chamamos Jesus de esposo. O casamento foi bonito. Quando o Espírito Santo desce sobre o seio de Maria e coloca em seu útero o Filho de Deus, a humanidade se uniu a sua Divindade. É esse o matrimônio que não teve divórcio e permanece em Cristo glorificado. Ele esposou a humanidade no seio de Maria. Todos nós estamos unidos a Ele através de nossa humanidade.