terça-feira, 30 de novembro de 2021

nº 2126 - Homilia do 1º Domingo do Advento (28.11.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
“Haverá sinais” 
 Sinais de vida 
Iniciamos o tempo do Advento. Na reforma litúrgica houve uma mudança no tempo do Advento. Antes, esse tempo precioso, estava voltado para o nascimento de Cristo, como preparação para o Natal. Agora se recuperou o ensinamento sobre vinda de Cristo no fim dos tempos. Depois se celebra sua vinda na carne, no dia de Natal. No Natal celebramos o mistério da vinda de Cristo entre nós. Nesse tempo inicial de advento, até o dia 16.12, celebramos e preparamos sua vinda gloriosa quando nos virá tomar com Ele para tomarmos posse do Reino que nos está preparado desde o começo do mundo, como diz Jesus no julgamento final (Mt 25,34). Há os que veem os sinais como ameaçadores. Deus é bondoso. Nós é que somos maus e desejamos que Deus faça os outros pagarem. A maldade está em nós. E não em Deus. Dizemos que, quem tem conta no cartório, tem que se assustar. Para nós que sabemos que somos amados e amamos, a vinda de Cristo ressoa como um grande dom: “Quando essas coisas acontecerem, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 25,28). Deus, em para nos levar consigo para seu Reino de glória. Todas essas coisas terríveis nos convidam a nos alegrar. São sinais da vida. Quem viveu Jesus em sua vida, não terá o que temer em sua vinda gloriosa. Jesus nos ensina a ler os sinais dos tempos, e deles, tirar a força para viver alegremente o Reino da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz” (Prefácio de Cristo Rei). A profecia de Jeremias anuncia que a semente da justiça vai brotar. 
Corações insensíveis 
Como viver esse tempo de expectativa? Que não seja aterrorizante, mas seja produtivo. Jesus recomenda que vivamos livres de todo o pecado e cheios dos dons de Deus. Esperar o fim é viver intensamente o bem. Diz Jesus: “Orai a todo momento a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem”. A oração deve ser acompanhada de atitudes que nos libertem das fontes do pecado: “Tomais cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida e esse dia não caia de repente sobre vós” (Lc 21,34-35). São tentações que tiram o homem de sua realidade e o deixa ao sabor dos instintos. Como são vícios de difícil superação, despreparam totalmente o homem de pensar que a vida deve ser uma permanente espera do Senhor a qualquer momento. Não se trata de pegar de improviso, mas que a vida, assumida em Cristo, é a melhor maneira de esperar. Não se trata de uma vida inútil, mas frutuosa na caridade. Nosso amor vai ao encontro do amor de Cristo. Rezamos: “Verdade e amor são os caminhos do Senhor” (Sl 24). Paulo é modelo: “Aprendestes de nós como deveis viver para agradar o Senhor” (1Ts 4,1). 
Mostrai vossos caminhos 
O salmo nos leva a rezar com intensidade: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, e fazei-me conhecer vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza” (Sl 24). “o(O) Senhor Se torna íntimo aos que o temem e lhes dá a conhecer sua aliança” (Id). Paulo mostra que esse caminho é o amor: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós... numa santidade sem defeito” (1Ts 3,12). Esse é o modo como esperar o Senhor e como manter nossos corações em dia, sem insensibilidade. Assim poderemos orar a todo o momento. Tudo o que pensamos sobre a vida cristã, termina sempre no amor.
Leituras: Jeremias 33,14-16; Salmo 24; 
1Tessalonicenses3,12-4,2;Lucas 21,25-28.34-36. 
 Ficha nº 2126
Homilia do 1º Domingo do Advento (28.11.21)
1. A nós que sabemos que somos amados, a vinda de Cristo ressoa como grande dom. 
2. São tentações que tiram o homem de sua realidade e o deixam ao sabor dos instintos. 
3. Tudo o que pensamos sobre a vida cristã, termina sempre no amor. 
Sai debaixo 
Quando vemos algum voo rasante, temos a sensação de ter que abaixar a cabeça. Ouvindo as palavras dos Evangelhos sobre o fim, temos a sensação que vai ser um pandemônio. Vai voar tudo pelos ares. Não é essa a mentalidade de Jesus. Era uma linguagem do tempo para assustar. Por isso, ter medo da vinda de Jesus é condenar tudo o que fez, pois vem para retribuir, mais ainda, manifestar seu amor maior que quer todos com Ele. Não precisa abaixar, pois vem para nos elevar.....

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

nº 2125 Artigo - Reino de Justiça

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Reino de serviço 
Republicanos que somos, há uns tempos, engolimos mal, certos termos da tradição recente da Igreja que viveu a monarquia. Há uma festa grandiosa chamada “Cristo Rei”. É preciso superar esta linguagem que está encarnada no termo de “princesinha”, porque bonita e bem vestida; príncipe... prêmios de princesa e coroas. Quem não assistiu o casamento do príncipe inglês? No fundo a gente gosta. Ainda temos essa linguagem na Igreja. Isso, sem falar de outros títulos... Jesus disse: “Eu sou rei. Vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, escuta minha voz” (Jo 18, 37). Jesus muda a conversa de Pilatos e indica que todo aquele que é da Verdade, escuta sua voz. A verdade é o testemunho de sua vida e de sua palavra. Caminhemos para a terminologia própria de Jesus: “O maior é aquele que está à mesa. Eu estou entre vós como aquele que serve” (Lc 22-27). Dizemos enfaticamente: “meu nome é serviço”. Jesus pode dizer meu ser é serviço vivido. Tudo o que fez, inclusive sua morte e ressurreição, foi um serviço. Deu a vida como serviço. É curioso como não conseguimos colocar nossa vida no caminho de Jesus. Por isso vemos que a Igreja perde seu sentido e continua mantendo certos costumes pouco cristão e alimentando “almas” que recebem Jesus, mas não assumem amor/serviço, núcleo do Evangelho. 
Terra do acolhimento 
Sempre falamos que devemos servir. Colocamos o serviço como sentido da vida. Mas nos esquecemos que devemos acolher. Amar e ser amado. Falamos que devemos amar. Desenvolvemos a teologia do amor, mas não a teologia do acolhimento do amor. Deixar-se amar. E temos uma explicação formidável. Jesus explica quando lava os pés dos discípulos numa atitude de serviço. No momento em que Jesus chega a Pedro, este diz: “Jamais me lavarás os pés”! Jesus responde: “O que faço não compreendes agora, mas compreenderás mais tarde” (Jo 13,8). Pedro então diz que quer que lave tudo. Jesus diz que ele já está todo puro. Na pureza da salvação, há a necessidade de lavar os pés uns dos outros e, o que não falamos, aceitar o amor que é oferecido, dado. É difícil aceitar ser servido. É quase humilhante para nosso orgulho. Aceitar ser amado exige dose alta de amor. Aceitar ser servido (não para quem usa os outros) é o desenvolvimento do amor. Cria-se, assim, o ambiente fraterno, como queria Jesus. E vemos ao final que Jesus diz que não precisa lavar tudo, pois já estão todos puros. A vivência do amor recíproco acolhe o serviço como dom e desenvolvimento do amor. Por isso, diz: “Deveis lavar-vos os pés uns dos outros” (id 14). 
Prazer da aventura 
Temos prazer nas aventuras da vida. Maior é o prazer nas aventuras do amor que Cristo nos ensinou como “seu mandamento”. O amor que nasce da doação da vida nos une a Cristo e, em certo sentido, nos iguala a Ele. Quando eu amo, é Cristo que ama. Quando sou amado recebo igualmente o amor como Cristo o recebe. O amor leva ao despojamento. Ele nos despe das inutilidades e nos leva ao núcleo do amor: amar como Cristo ama. Sua morte de Cruz, como entrega por amor, foi continuação de sua vida. Por isso disse a Pedro: Compreenderás mais tarde. A Paixão e Morte são a escola do amor maior. Jesus disse que “estais todos puros (limpos)”. É fruto da Paixão. O amor que Jesus teve em sua morte purifica. Acolhendo esse amor e levando-o à vida, continuamos sua Paixão redentora e gloriosa Ressurreição. Onde há amor, há passagem da morte para a vida.

nº 2124 - Homilia da Sol. de Cristo Rei (21.11.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Jesus Cristo Rei do Universo 
 Testemunha fiel 
A festa de Cristo Rei surgiu para responder às necessidades da Igreja que perdia seu espaço diante das novas ideologias comunistas e outras: “A Primeira Guerra Mundial, em meio ao crescimento do comunismo na Rússia, por ocasião dos 1600 anos do Concílio de Nicéia (325), o Papa Pio XI instituiu a festa em 1925 através da encíclica Quas Primas. Sua primeira celebração aconteceu em 1926”. A festa toma novo sentido ao ser colocada no final do ano litúrgico. Perdeu o caráter político e se abriu à visão do universo que busca Cristo e por Ele é atraído com sua força divina: “Dando-nos a conhecer o mistério de sua vontade, conforme decisão que lhe aprouve tomar para levar o tempo à sua plenitude: a de, em Cristo, recapitular todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra” (Efésios 1,9-10). Para realizar essa missão de recapitular todo o universo. Isto é: levar todas as coisas para sua cabeça, seu princípio. A missão de Jesus não foi fundar uma religião nova. É a manifestação do Mistério de Deus para conduzi-lo a seu destino final que é o Criador. Os textos da liturgia, em Daniel e no Apocalipse, mostram essa figura magnífica do Filho do Homem. O Apocalipse O chama de testemunha fiel. Jesus não nega de ser rei, mas não desse mundo (Jo 18,36). “Ele é soberano dos reis da terra”. A Ele louvamos: “A Jesus, que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos pecados e que fez de nós um reino, sacerdotes a seu Deus e Pai, a Ele a glória e o poder, em eternidade amém” (Ap 1,5-6) . 
Seu reino não dissolverá 
Na “guerra das religiões” esquecemos que o fundamental é a busca de Deus colocada no coração de cada um e sistematizada por grupos diferentes. A Igreja tem a missão de anunciar Jesus e sua Verdade. Podemos dizer que Deus e manifesta no coração humano onde Ele tem seu sacrário. Quando Jesus diz a Pilatos “Meu reino não é desse mundo...” está declarando sua verdade. E diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). A vontade de Deus faz seu caminho e vai a sua última realização que é recapitular tudo em Si. Nós corremos o risco de querer implantar uma vida cristã a nosso modelo e não ao modelo de Cristo. Essa foi a tentação dos séculos. O Evangelho, nem sempre é o guia da vida cristã. É muito fácil buscar vida cristã segundo nosso modelo. Isso não nos compromete. Jesus tem seu jeito: Ele é vida doada. É triste ver as comunidades em total inércia. Só buscam uma missinha para se verem livres. Os santos foram os que se comprometeram com Jesus e com sua missão. Esse Reino de Jesus implantado não se dissolverá por conta de nossas fragilidades. Ele irá em frente no mundo, colocando em todos os corações a semente da fraternidade. Onde há amor, doação ao irmão, aí há o Reino de Deus. 
Testemunha da verdade 
Que é de Deus entende a missão de Jesus e a faz. Por isso responde a Pilatos: “Eu nasci e vim ao mundo para isso: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). Pilatos perguntou: “O que é a verdade?” Mas não esperou a resposta. Ou reconheceu que Ele era a Verdade, pois disse aos judeus: “Não encontro Nele, crime nenhum” (Jo 18, 38). A vida cristã só é verdadeira se vive a Verdade de Jesus que é sua Pessoa e seu Evangelho. “Seus mandamentos não são pesados, pois todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é nossa vitória, a nossa fé” (1Jo 5,3-4). Pela fé, vivida na caridade (Gl 5,6). Assim somos testemunhas fiéis como Jesus. 
Leituras: Daniel 7,13-14; Salmo 92; 
Apocalipse 1,5-8;João 18,33b-37. 
Ficha nº 2124 
Homilia da Sol. de Cristo Rei (21.11.21) 
1. A religião é manifestação do Mistério de Deus para conduzi-lo a seu destino, o Criador. 
2. É muito fácil buscar vida cristã ao nosso modelo. Isso não nos compromete. 
3. A vida cristã é verdadeira se vive a Verdade de Jesus que é sua Pessoa e seu Evangelho. 
Rei do Jogo
No mundo há poucos reis, e penso que muitos inúteis e caros. Temos os quatro do baralho que causam muito barulho. Jesus declarando-Se Rei o faz de um modo em que o jogo se torna uma verdade que permanece. No jogo da vida buscamos o que nos garanta. Então é hora de buscar o rei do jogo, aquele que dá as cartas da vida. Nele, por Ele e com Ele podemos realizar o jogo da Verdade da qual Pilatos foge. Deu uma de filósofos, mas não entrou no jogo de Jesus.

nº 2123 Artigo - Santo é gente

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
O humano e santidade 
Temos a mentalidade de que um santo é tão diferente que concluímos não ser para nós. Santidade é para poucos heróis. Faz-se tanta fantasia sobre a santidade que ela se torna impossível para os “pobres pecadores”. Os santos têm pecados, têm defeitos, têm manias, têm dificuldades e são “piores” que nós. Só depois que vemos sua santidade. Estamos tropeçando em pessoas santas. O santo tem luta como qualquer um. Em vida, só percebemos sua santidade, se tivermos capacidade de perceber sua batalha. O povo de Deus é santo e pecador. Certamente temos pessoas luminares, especiais etc... Mas quanto mais humano, mais pronto está para viver grande santidade. Por isso a santidade pertence ao povo. O modelo é sempre Jesus que era extremamente humano. Leonardo Boff disse há tempo: “Jesus era tão humano que os discípulos entenderam que só podia ser divino”. Ser humano, com todas as riquezas e fragilidades é condição necessária para a santidade. Deus nos fez assim. Quanto se condenou nossa humanidade como empecilho para viver a graça de Deus. O que consideramos frágil, também foi feito por Deus e é caminho de santidade. Temos muita reflexão espiritual, grupos de espiritualidade que anulam o ser humano. Não é santidade. É de se duvidar que exista santidade em certas maneiras de viver a vida cristã.
Condição humana 
A Escritura nos diz que Deus fez o homem de barro, como um oleiro que faz um objeto, remodela, trabalha com suas mãos. Somos o barro nas mãos de Deus. O barro não é desprezível, sua condição sem firmeza é necessária para se formar o objeto. De uma pedra, pouco se pode mudar. Deus é nosso oleiro e nos molda. Somente estaremos firmes quando cozidos pelo fogo do Espírito e apresentados ao Pai. Assim foi Jesus. Cresceu como homem. É até melhor pensá-lo pouco humano, pois facilita a buscarmos fora de nós o caminho para Deus. Onde não está. Ser humano compromete nossa vida com a vida dos irmãos, pois fomos feitos para a fraternidade. É justamente o fato de estarmos juntos que fortalece e nos ensina a sair de nosso eu para o nós, onde somos irmãos comprometidos. A humildade de nossa carne e de nossa condição de sempre crescer é o melhor caminho. Jesus não impõe nada aos discípulos. Ele propõe seu caminho através de parábolas, breves ensinamentos, simplicidade de vida e de relacionamentos. Santidade é um dom para o povo de Deus e não um caminho especial para alguns escolhidos. Todos são santos por dom de Deus e pelo esforço pessoal. Todos podem. Há pouco santo gente do povo. Só bispo, padre e freira. E os casais? O casamento é o caminho normal de santidade feito por Deus. 
Seguir o modo de Jesus 
É muito simples viver a santidade: basta viver como Jesus viveu, fazendo a vontade do Pai. Esta vontade está clara: “O Pai não quer que Eu perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia” (Jo 6,36). A santidade de Jesus era sua permanente união ao Pai que estava oculta pelo véu da Encarnação. Essa se manifestava através de uma vida dedicada totalmente, até o extremo, àqueles que o Pai lhe confiou, que somos todos nós. Não há homem que esteja fora do amor de Jesus. A santidade está aqui. Preferimos outras que não nos comprometem. Jesus é claro na sua opção; “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Santidade que vemos nos grandes santos realmente se deu em sair de si para viver para os outros, em tudo. Cada um de seu jeito e em suas condições. É um caminho aberto a todos. Fora desse, não há outro. Vida doada, santidade completa.

nº 2122 - Homilia do 33º Domingo Comum (14.11.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Aprendei da figueira”!
Minhas palavras não passarão 
Chegando ao fim do Ano Litúrgico e início do Advento, entramos na temática do fim dos tempos. A segunda vinda de Cristo era uma expectativa forte na comunidade primitiva e se desenvolveu através da história. Atualmente, perdeu-se muito a noção de sua segunda vinda, para um termo mais vago, como Ele está vindo... sempre. O livro do Apocalipse e o Evangelho desenvolvem essa reflexão usando uma linguagem “apocalíptica”. Apocalipse significa revelação, isto é, descobrir o que está encoberto. Temos de distinguir a linguagem da realidade e da Palavra de Deus. O valor das palavras está no simbolismo que elas encerram. Temos que entrar no conhecimento dos símbolos para captar a mensagem. É por isso que Jesus diz: “O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão” (Mc 13,30). Aos que vivem temendo ou anunciando a hora, temos as palavras de Jesus que nos acalmam: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Id 32). Jesus quer ensinar que não é preciso esperar a hora, mas viver o momento presente olhando os sinais dos tempos para entender a ação de Deus. Deus não vem para destruir, mas para dar o prêmio e nos levar consigo (1Ts 4,17). Os textos querem nos afirmar a importância de nossa fé em Jesus. Trata-se de uma fé que modela a vida de acordo com o Reino de Deus que não é um futuro, mas um presente coerente com a Palavra de Jesus. Não é possível uma fé sem Jesus e sua palavra. 
Em Deus me refugio (Sl 15) 
Nossa vida cristã nos traz segurança. A fé é tudo. Mas, na verdade, vivemos sem um apoio e ficamos procurando coisas que nos garantam. Por isso elevamos nossa oração fervorosa: “Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, meu destino está seguro em vossas mãos. Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, pois se O tenho a meu lado não vacilo” (Sl15). A fé nos leva a um exercício permanente de buscar Deus em nossa vida. Para isso fazemos tantas coisas como que para nos garantir. Há gente que faz até “benzimento” de fechar o corpo. Alguns usam o texto de Paulo sobre a armadura do cristão: “Revesti-vos da armadura de Deus”. Lêem como se tivesse garantindo o corpo: “Cingi vossos rins com a verdade e revesti-vos da couraça da justiça. Calçai vossos pés com a preparação do evangelho da paz, empunhando o escudo da fé, ... tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito que é a Palavra de Deus” (Fl 6,14-17). Não fecha o corpo, mas nos dá condições de lutar contra o mal com a verdade, a justiça, a salvação e a Palavra de Deus. Em toda batalha temos o refúgio em Deus: “Vós me ensinais o caminho da vida; junto a vós, felicidades sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado”.
Tornou perfeitos 
A Carta aos Hebreus nos oferece uma garantia em nossa fé. Será que seremos salvos? Onde se fundam nossas certezas e incertezas? Paulo usa a comparação do Cristo Sumo Sacerdote e o sacerdócio do Antigo Testamento. Este oferecia sacrifícios muitas vezes, incapazes de salvar. Cristo ofereceu um sacrifício único para o perdão dos pecados. Já estamos todos perdoados, pois “com esta única oferenda, levou à perfeição definitiva os que santifica. Ora, onde existe o perdão, já não se faz oferenda pelo pecado” (Hb 10,14). Já temos garantido o perdão. Vivemos a perfeição de Cristo, pois fomos redimidos em sua morte e ressurreição. Temos que acolher a graça com alegria. Vivemos pedindo um perdão que já recebemos. Basta aproveitar e viver a graça da vida nova conquistada por Cristo.
Leituras: Daniel 12,1-3; Salmo 15; 
Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32 
Ficha nº 2122 
 Homilia do 33º Domingo Comum(14.11.21) 
1. Deus não vem para destruir, mas para dar o prêmio e nos levar consigo (1Ts 4,17). 
2. A fé nos leva a um exercício permanente de buscar Deus em nossa vida 
3. Vivemos a perfeição de Cristo, pois fomos redimidos em sua morte e ressurreição. 
4. A verdade, a justiça, o desejo de salvação e a Palavra de Deus, é o que nos capacita para lutar contra o mal.
No tempo em que as plantas falavam 
Temos em nossa mente aquela frase: “no tempo em que os bichos falavam”. Jesus nos alerta: “Aprendei, pois, da figueira esta parábola!” (Mc 13,28). Notamos que tudo fala, pois nossos ouvidos estão aprendendo lições permanentes do mundo, nas plantas, nas flores, nas estrela, na terra, nos rios, nas cascatas... Tanta coisa! Sempre aprendendo. Temos olhos para ver, ouvidos para ouvir, tato para tocar e coração para amar. O que a natureza nos fala? Há uma comunicação muito grande da própria natureza. Para nós são sons, são movimentos, são transmissões misteriosas dos seres. Por que não ouvimos o que dizem de Deus? O Evangelho das plantas foi notado pelo próprio Jesus: Olhai os lírios do campo! Olhai a figueira! Contemplai os campos maduros para a ceifa. Sabemos que podemos nos comunicar entre nós com a força e encanto da natureza. Ela mesma sofre por conta do nosso pecado (Rm 8,20ss). Sua redenção está próxima. Ele virá. E conosco todo universo caminhará para o Pai (Ef 1,10).

sábado, 6 de novembro de 2021

nº 2121 Artigo - Pensando santidade

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Santidade, coisa de humanos 
A temática da santidade é muito vasta e diversificada. O grande risco é não chegarmos a uma espiritualidade com veias humanas. Espiritualidade é a manifestação da santidade de Deus em nós, nas condições humanas. Os santos, depois de colocados no altar, são magníficos. Não eram assim no cotidiano. Eram humanos. E em condições humanas. Se não é humano, não é santo. Se formos ver os santos que estão em nossos altares, sabemos que foram pessoas extraordinárias. Mas nos esquecemos de seu ser humano. Eram pessoas normais. Tinham defeitos, até mais que nós. O provérbio sobre os santos é interessante: “Viver com um santo no Céu é uma glória. Viver com um santo na terra é outra história”. Todos nós somos humanos. O que têm de especial? Buscam viver a vida cristã, trabalhando para vencer o que é mau, dedicando-se a Deus numa condição concreta. Eles têm pecados, mas tem a conversão e a busca constante de Deus. Com o tempo, depois de suas mortes, esses defeitos vão desaparecendo e fica só a ação de Deus em suas vidas. Esses santos dos quais falamos maravilhas não foram seres fora da realidade. Cada um tem sua maneira de ser. Têm até defeitos e jeitos que atrapalham. Por isso temos que correr de certas espiritualidades que anulam o ser humano. Quanto mais humanos, mais aptos para viver a graça de Deus, que foi feita para humanos. Por isso temos que ter olhos espirituais para ver Deus agindo nessas pessoas. 
O espiritual à altura do coração 
Não é fácil ser santo. Por outro lado, é muito fácil ser santo. Quem é santo? Você! Ela! Ele! Nós! Isso porque vivemos a graça de Deus em nossa condição. Viver a graça é ter a capacidade de amar que provém de Deus. Amar é nosso querer bem. A primeira exigência é ser humano, pois os nossos santos vivem no meio de nós. Gente de nossa gente. Quem é o santo? Olhemos para o povo que vive essa situação dolorosa da vida com simplicidade, lutas e empenho. Imaginemos uma mãe de família na batalha pelo pão de cada dia. Normalmente o marido já sumiu. Ou pai que vê, com o coração apertado, a situação exigente. Sobre o pobre não dá para fazer poesia, é rosário de dores. Mas há no coração uma alegria. Pior é pensar que o santo é o que está protegido num convento, que vive em orações, palavras e vestes bonitas. Certo que também eles. Mas vamos buscar o homem e a mulher que são como Jesus. Jesus não foi aceito porque era humano demais. Temos belas imagens de Jesus. Mas o homem de Nazaré era humano. Por isso, a espiritualidade tem que estar à altura do coração, isto é, coisa de gente. Na história temos santo para todo gosto. O que Jesus apresenta é a espiritualidade que vivia: as bem-aventuranças. Aqueles que parecem extravagantes foram feitos assim pela fantasia popular. 
Espiritualidade das mãos. 
O santo nos compromete a viver o que ele viveu buscando Jesus e os irmãos. Não encontramos santos que tenham sido distantes do povo. Mesmo que fossem de classe alta, eles sabiam buscar os pobres. Sem pobre ninguém fica santo. Santidade buscada com as mãos estendidas aos irmãos. Devemos ter o cuidado com os pobres, mas também ter um coração pobre, aberto às necessidades de todos. Jesus sintetiza essa verdade nas palavras da última Ceia: “Estou entre vós, como aquele que serve” (Lc 22,27). Mais que dar coisas, dar-se como serviço aos que necessitam. Esse serviço envolve toda a vida da sociedade. Se fizer bem às pessoas, é vida espiritual. Não há carimbo nem etiqueta.

nº 2120 - Homilia da Sol. de Todos os Santos (07.11.21)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Todos são santos”
 Santos no Pai 
Temos a alegria de “celebrar numa só festa méritos de todos os Santos” (Oração). É uma festa quase como repescagem. Não podemos nos fixar no termo: Como não temos esse santo no calendário, damos essa oportunidade de ninguém ficar fora. A festa vai além de calendário e entra no senso próprio da Igreja Santa. Mais que nos lembrar dos santos, lembra a nós nossa condição de processo de santificação. Lemos no prefácio: “Festejamos, hoje, a cidade do Céu, a Jerusalém do alto, nossa Mãe, onde nossos irmãos, os santos, vos cercam e cantam eternamente o vosso louvor”. Santidade consiste em ser no Pai. Fazemos coisas, mas para sermos no Pai. A Igreja sempre privilegiou os santos. Primeiro os mártires que deram a vida, depois os monges que entregaram a vida na oração e trabalho. São Bento dizia: “Ora et Labora”: reza e trabalha. Depois passamos pelos santos e santas que dedicaram suas vidas a Deus em uma atividade concreta. A grande atividade dos fiéis cristãos é a vida na comunidade Igreja a favor do mundo dos necessitados. Todo santo foi caridoso e se envolveu com a libertação de todos os sofrimentos. Mesmo envolvidos em tantas atividades, tinham seu tempo para Deus. Aqui lembramos as profissões e de modo particular a vida de família. Esses compõem o cortejo que canta em torno do Cordeiro. E cada um foi desenhado o coração do Pai. Não há necessidade do conhecimento intelectual, mas a vivência do amor. Assim Deus marca sua imagem em nós. Não há necessidade de uma vida de Igreja, mas Igreja que é vida.
Mãos puras e inocente o coração 
Ninguém tem direito a fechar o Céu a ninguém. João viu 144 mil assinalados... e uma imensa multidão vinda de todas as nações, tribos, povos e língua, e que ninguém podia contar’ (Ap 7,9). Admira-me que nós e outros, temos a mania de criar critérios de quem vai para o Céu. “Todos lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). E os pecados? Deus já os perdoou em Cristo em sua morte. Não podemos fazer uma religião do Inferno, do Pecado, da Desgraça. Lemos em Romanos: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20). Paulo é claro: O dom da graça supera infinitamente o pecado. Vivemos séculos sob o tacão do pecado. Não é assim que a Palavra ensina. Deus não tem mais nada para fazer por nós, pois já nos deu tudo em Jesus Cristo. Que falta nos dar? Paulo insiste: “Onde abundou o pecado, superabundou a Graça (Rm 5,20)”. Notamos que, na vida espiritual, damos mais valor ao pecado que à graça. Somos preocupados em vencer certos pecados e não em deixar crescer em nós a graça. Tiramos as folhas secas, mas não fortalecemos a árvore em suas raízes e em seu tronco. 
Por sua intercessão 
Pedimos na Eucaristia que a graça de Deus nos santifique para que, da mesa de peregrinos, passemos ao banquete do Reino (Pós-comunhão). Rezamos aos santos porque estão junto do Pai. Que podem por nós? Participam do poder de Deus e o que se refere a eles se refere a Deus. Nessa comunhão estamos em união a todos do Corpo de Cristo, os dos Céus, os da terra e os do Purgatório, isto é, o processo de purificação. Nesse ponto temos dificuldades de explicação, pois conhecemos pouco do Mistério do Corpo Místico de Cristo. Todos estamos Nele e nos acolhemos uns aos outros e nos fortificamos. Mais que celebrar os santos desconhecidos e esquecidos, celebramos uma Igreja Santa e frágil. 
Leituras: Apocalipse 7,2-4.9-14; Salmo 23; 
1 João 3,1-3; Mateus 5,1-12ª) 
Ficha nº 2120 
Homilia da Sol. de Todos os Santos (07.11.21) 
1. Todo santo foi caridoso e se envolveu com a libertação de todos os sofrimentos.
2. Deus não tem mais nada para fazer por nós, pois já nos deu tudo em Jesus Cristo. 
3. Mais que celebrar os santos esquecidos, celebramos uma Igreja santa e frágil.
Meu santo sumiu! 
Eu tinha um santinho que estava sempre comigo. Eu não saia de casa sem El(Ele). Era minha segurança. Já estava com sinais de uso. Era meu santo. Sumiu. Onde foi parar? Não há mais santo? Para que serve o santo se não está aí para me garantir? É uma questão importante em nosso relacionamento com os santos. Eles não são imagens, amuleto, garantia de nossos apertos. Eles são nossos irmãos que estão junto de Deus e rezam por nós. Por que rezam? Para que estejamos unidos a Deus.