quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Nº 1992 - Homilia do 22º Domingo Comum (30.08.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
"Sede de Deus” 
Ganhar o mundo inteiro 
Os evangelhos, na liturgia dos domingos, nos têm levado a uma reflexão sempre mais profunda do mistério de Cristo em nós. A primeira leitura nos orienta para o tema. Jesus diz claramente como seguí-Lo: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). O que vai faz levar uma pessoa a deixar tudo para seguir Jesus? É a vontade decidida de segui-Lo. Ele não impõe nada aos que o seguem. Mas indica o caminho. Sem isso não haverá a participação em sua paixão, nem em sua ressurreição. Sem essa passagem do cristão para o seguimento não haverá a identificação com Cristo. A fé fica sem sentido. Crer não é uma palavra ou um pensamento vazio. Crer é a aceitação de Jesus, a aceitação de seu Evangelho e a disposição de segui-Lo assumindo a cruz, porque dizer amém,eu aceito, supõe compromisso. Com essa atitude existe uma perda da vida e um ganho dessa vida em sua dimensão completa. Nada podemos dar em troca de nossa vida, mesmo ganhando o mundo inteiro. Contemplamos o vazio da riqueza, do poder e do prazer que Jesus venceu pela Palavra, pela humildade e pela adoração do Pai. Pedro, não entendendo o anúncio de Jesus sobre sua paixão em Jerusalém, começou a admoestá-Lo, tentando bloquear seu caminho. Jesus usa de uma palavra dura: “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens” (Mt 16,23). Quem não pensa como Jesus é um Satanás, aquele que divide. Quando não O seguimos servimos o reino de Satanás. Esse reino tem muito vigor. 
Fogo nos ossos 
O profeta Jeremias, estava desanimado de sua missão de só anunciar desgraças. Queria largar tudo. Passamos por isso. Mas ele já tinha sido seduzido totalmente para o lado de Deus no cumprimento de longa missão de profeta. Confessa: “Senti, então, dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo; desfaleci sem forças para suportar”. Quando Deus nos conquista, não damos conta de abandonar a carreira. Jesus passou por essa tentação, mas venceu deixando que a vontade do Pai O dominasse. É o que rezamos no salmo 62: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso eu vos busco”! A minha alma tem sede de vós e minha carne também vos deseja como terra sedenta e sem água” (Sl 62). A comparação da terra sedenta e sem água precisa nos leva a olhar os rios secos em que o lodo se racha, como que clamando por água. Infelizmente preferimos uma vida cristã sem Deus. Ficamos fechados a todo atrativo que possa ter sobre nós. Temos muita vida religiosa, de muita agitação, mas sem Deus como Senhor de nossas vidas. E pior quando levamos vida dupla. Pobre do povo que recebe um alimento estragado. 
Sacrifício agradável 
O cristão segue Cristo em seu sacrifício. Mas seu sacrifício é espiritual. Tem os mesmos sentimentos de Jesus ao seguir o caminho para a morte, fazendo a vontade do Pai, como fez. Paulo diz aos Romanos: “Eu vos exorto a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1). Essa abertura para Deus é o sacrifício espiritual que realiza a transformação em nossa vida, não nos conformando ao mundo, mudando nosso modo de pensar e julgar. Assim podemos discernir a vontade de Deus. É preciso perder a vida para tê-la em nossas mãos. Jesus não quer nem resto, nem meias medidas. Nosso ministério cristão perde seu vigor porque não tomamos decisão por Cristo. É uma caminhada que dura toda a vida. Nada que fazemos por Ele está perdido. 
Leituras:Jeremias 2,20,7-9; Salmo 62;
Romanos 12,1-2;Mateus 16,21-27 
Ficha nº 1992 
Homilia do 22º Domingo Comum (30.08.20) 
1. Crer é a aceitação de uma pessoa concreta, Jesus. 
2. Quando Deus nos conquista, não damos conta de abandonar a carreira. 
3. É preciso perder a vida para tê-la. Jesus não quer nem resto, nem meias medidas. 
Xô, Satanás! 
De vez em quando, penso, Jesus tem vontade de se virar para nós e repetir a dose de S. Pedro e nos colocar em nosso lugar. A gente apronta demais com Ele. Tanta coisa boa nos fez, faz e fará e nós vamos sempre atravessando sua estrada com nossa mentalidade pouco cristã. Sinto em mim mesmo como atravanco o progresso do Reino de Deus. Para nós valem muito mais quinquilharias religiosas às quais damos muito valor e não o Evangelho de Jesus, não o que nós inventamos. Precisamos levar umas boas de quando em quando para centrarmos a vida em Jesus. O bom mesmo é a disposição de vida que temos para poder dizer como o profeta Jeremias: Ele está dentro de mim como um fogo que me consome meus ossos. Faz falta essa maneira tão grande de viver.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

nº 1855 Artigo - “Santo Afonso de Liguori”

“Santo Afonso de Liguori”
Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista. 
2197. Nasceu em Nápoles 
Santo Afonso de Ligório nasceu em Marianella - Nápoles, a 27 de setembro de 1696. Era o primogênito de uma família bastante numerosa, pertencente à nobreza napolitana. Seus pais José de Liguori e Ana Catarina. Ser nobre não significa que fosse muito rico. Seu pai era comandante de galera. Viviam uma boa vida cristã. A mãe fora educada num convento. Afonso recebeu uma esmerada educação em ciências humanas, línguas clássicas e modernas, pintura e música. O jovem Afonso recebeu a formação completa para ser um nobre. Era um jovem normal da sociedade napolitana. Sua formação humana e espiritual foi esmerada. Sua mãe e seu pai ensinaram-lhe um profundo amor a Jesus Cristo visto como o Menino de Belém, o Crucificado, o Jesus da Eucaristia e Maria. Seus primeiros estudos foram feitos com um professor particular. Aos doze anos inicia os estudos de advocacia na qual se forma aos dezesseis anos e meio. Afonso aprendeu a buscar a perfeição humana e espiritual. Procurava viver na graça de Deus e não pecar. O pai sempre no mar, coube à mãe muito da educação. Recebe a orientação espiritual de um sábio sacerdote, Pe. Pagano, que era também diretor espiritual de sua mãe. Ele o acompanha até sua decisão de fundar uma congregação religiosa. Desde pequeno participa da vida de comunidade, pertencendo a diversos grupos pastorais para convivência, crescimento espiritual e comprometimento com os necessitados. Eram as confrarias. 
2198. Formação para vida 
Pode preparar-se muito bem em sua formação humana. Ele seria o herdeiro. Em seu conhecimento musical comporá músicas que até hoje são cantadas na Itália. Entre elas o Dueto da Paixão, como também o cântico de Natal mais popular da Itália, “Tu Scendi dalle Stelle” (Eis que lá das Estrelas) e numerosos outros hinos. O pai foi exigente em estudos. Aos 12 anos entra para a faculdade de direito onde se forma com 16 anos. Terminou os estudos universitários alcançando o doutorado nos direitos civil e canônico e começou a exercer a profissão de advogado aos 19 anos e se tornou um grande advogado do Reino.
2199. Decisão vocacional 
Teve grande sucesso no exercício de sua profissão de advogado. Vivia intensa vida cristã com sua família e nos grupos espirituais que participava. Mas faltava, como ele próprio diz, a conversão. Esta ocorreu na Semana Santa de 1722. Em 1723, depois de um longo processo de discernimento, abandonou a carreira jurídica, definiu-se pelo Evangelho. Não obstante a forte oposição do pai, começou os estudos eclesiásticos para ser sacerdote. Foi o primeiro passo de sua caminhada. Foi ordenado sacerdote a 21 de dezembro de 1726, aos 30 anos. Seu sacerdócio foi o segundo passo para a definição de sua vida. Chamamos de êxodos. Seu sacerdócio é para o serviço da pregação e do atendimento as pessoas na confissão e orientação dos fiéis. Viveu seus primeiros anos de sacerdócio procurando atender os marginalizados de Nápoles. Criou as "Capelas do entardecer". Eram grupos dirigidos pelos próprios leigos para a oração, proclamação da Palavra de Deus, atividades sociais, educação e vida comunitária. Na época da sua morte, havia 72 dessas capelas com mais de 10 mil participantes ativos que sobreviverão por longo tempo. Este foi o terceiro passo de sua caminhada espiritual. Começou a dedicar sua vida em favor dos pobres da cidade. Aos 19 anos começa a exercer e chega a ser um grande advogado. A ele foi confiada uma causa muito grande, internacional.
Segue...

nº 1857 Artigo - “S. Afonso fundador”

“Santo Afonso de Liguori”
Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
2200. Fundação da Congregação Redentorista. 
Em 1729 Afonso deixou a família e passou a residir no Colégio dos Chineses em Nápoles. Era um centro de formação de chineses para a China. Foi aí que começou a sua experiência missionária no interior do Reino onde ele encontrou gente muito mais pobre e mais abandonada que qualquer rua de Nápoles. Ele fazia parte de uma associação de missionários da cidade de Nápoles. Era o grande pregador. Numa das missões conheceu o pobre do campo. Cansado e doente foi repousar em um lugarejo, perto de Scala, tomou contato com a situação de abandono humano e espiritual dos pobres do interior. Nessas férias conheceu uma irmã do mosteiro de Scala que estava trabalhando na fundação de uma nova congregação de irmãs contemplativas. Ela se chamava Maria Celeste Crostarosa. Estabeleceu-se uma grande amizade que vai durar a vida inteira, tanto é que guardou suas cartas por toda a vida. Ajudou-a na fundação da Ordem do Santíssimo Redentor que se deu no dia 13.05.1731. No mesmo ano ela mesma lhe diz que o “Senhor queria que ele deixasse Nápoles e viesse para Scala para fundar a congregação dos homens para a evangelização”. Afonso, diante da experiência com os pobres e esta chamada de Deus, depois de muita reflexão deixa Nápoles e vai para Scala “para viver entre os casebres e os currais dos pastores”, como escreve seu primeiro biógrafo. Foi o 4º passo em seu êxodo em direção aos mais abandonados. 
2201. Santíssimo Redentor 
No dia 9 de novembro de 1732, Afonso fundou a Congregação do Santíssimo Redentor, popularmente conhecida como Redentorista, para seguir o exemplo de Jesus Cristo anunciando a Boa Nova aos pobres mais abandonados. Daí em diante, dedicou-se inteiramente a essa nova missão. Não estava sozinho. Houve problemas: Os primeiros companheiros, animados, não chegaram a um acordo e o deixaram só. Depois, lentamente, vieram outros com grande força apostólica e muita santidade. Entre eles, temos o Beato Sarnelli, S. Geraldo e outros padres jovens animados pelo mesmo ideal de dar a vida pela Copiosa Redenção. Hoje já são quase 5.000 depois de tantas perdas depois após o Concílio. A Congregação diminui seu pessoal nos países do primeiro mundo e cresce no terceiro mundo como África e Ásia. Nos países do Oriente, como Tailândia tem uma bela obra de socorro aos pobres. Se cumprirmos nossa missão teremos vocação. No Santuário temos o belo trabalho do atendimento a uma população simples. É nosso povo. 
2202 – Dons para evangelização 
Afonso era um amante da beleza: músico, pintor, poeta e escritor. Colocou toda a sua criatividade artística e literária a serviço da missão e o mesmo ele pediu aos que ingressavam na sua Congregação. Escreveu sobre espiritualidade e teologia tendo 128 obras que tiveram 21.500 edições e foram traduzidas em 72 línguas, o que comprova que ele é um dos autores mais lidos. Entre suas obras mais conhecidas estão: O Grande Meio da Oração, A Prática de Amar a Jesus Cristo, As Glórias de Maria e Visitas ao Santíssimo Sacramento. No estudo científico da Moral ele deu uma contribuição que ainda está viva na Igreja. A oração, o amor, a comunhão com Cristo e sua experiência imediata das necessidades espirituais dos fiéis fizeram de Afonso um dos grandes mestres da vida interior. Os livros de espiritualidade eram lidos pelo povo, o que ajudou na formação e na piedade não somente dos letrados, como também dos humildes. Santo Afonso vale muito. Segue.....

nº 1859 Artigo - “Santo Afonso Evangelizador”

“Santo Afonso de Liguori”
Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
2203 – Uma vida dedicada à evangelização 
A maior contribuição de Afonso para a Igreja foi na área da reflexão teológica moral, com a sua Teologia Moral. Esta obra nasceu da experiência pastoral de Afonso, de sua habilidade em responder às questões práticas apresentadas pelos fiéis e de seu contato com os problemas do dia-a-dia. Combateu o estéril legalismo que estava sufocando a teologia e rejeitou o rigorismo estrito do seu tempo, produto da elite poderosa. Conforme Afonso, esses eram caminhos fechados ao Evangelho porque "tal rigor jamais foi ensinado nem praticado pela Igreja". Ele sabia como colocar a reflexão teológica a serviço da grandeza e da dignidade da pessoa humana, da consciência moral e da misericórdia evangélica. Sua Congregação, evangelizando através das missões, dos retiros e vivendo entre os mais abandonados, contribuiu muito com a Igreja na renovação espiritual das populações. Seu modo simples de viver e de pregar eram de grande agrado para o povo. Afonso foi ordenado bispo de Santa Ágata dos Gôdos em 1762, aos 66 anos. Tentou recusar a nomeação porque se sentia demasiado idoso e doente para cuidar adequadamente da diocese. Foi um bispo diferente: pobre, muito dedicado à renovação dos seus padres, do seminário, das paróquias e do povo. Cuidava dos pobres, chegando a dar salário mensal às mocinhas, para não caírem na prostituição por pobreza. Ele não gastava com luxos na diocese, pois dizia que o dinheiro da diocese é dos pobres, o bispo é o administrador. Em uma crise de falta de alimentos, empenhou a diocese para comprar alimentos para a população. 
2204 – Santo para a Igreja 
Em 1775, foi-lhe permitido deixar o cargo. Voltou para casa e foi morar na comunidade redentorista de Pagani, onde morreu no dia 1º de agosto de 1787. Foi canonizado em 1839, proclamado Doutor da Igreja em 1871 e Patrono dos Confessores e Moralistas em 1950. É um santo a ser mais conhecido, pois tem muito a ensinar para a Igreja de hoje. Sobretudo ele convida aos seus seguidores, sacerdotes, irmãos consagrados e leigos a que façam o caminho que ele fez. Sem isso é impossível seguí-lo bem. 
2205. Herança espiritual. 
O que leva Santo Afonso a ser um grande homem, foi seu intenso amor a Jesus Cristo, pois O coloca como centro de todo O caminho de santidade. Este amor a Jesus Cristo se transforma em amor ao necessitado, de modo particular de ajuda espiritual. Tudo o que faz é para que o pobre se sinta amado por Deus e que sua misericórdia está ao seu alcance. Abre os tesouros de Deus aos mais simples. Afirma que todos podem ser santos, cada um na sua condição. Compreendendo este grande amor de Deus, faz-se cargo de levá-lo a todos através de todos os meios possíveis para uma completa evangelização. Por isso coloca as casas da Congregação em lugares de fácil acesso ao povo abandonado. Seus padres poderiam também ir facilmente ao encontro destas populações. O conhecimento do povo força-o a aprofundar os ensinamentos do evangelho e dá-los ao povo de maneira simples, mas profunda. Além do mais, modifica os modos de ensinar, colocando como base o respeito à consciência de cada um. De sua herança espiritual colhemos um grande amor aos mistérios nos quais Jesus manifesta seu amor: Presépio, Cruz e Eucaristia. Maria é aquela que viveu esse amor e pode com sua intercessão nos trazer a misericórdia de Deus. O amor a Jesus Cristo faz dele um continuador seu. Recebemos dele a missão de continuar Jesus Cristo anunciando aos pobres a redenção abundante. https://padreluizcarlos.wordpress.com/

nº 1990 - Homilia do 21º Domingo Comum (23.08.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista
“Tu és o Messias” 
Quem dizeis que Eu sou?
Esse texto não é uma curiosidade que Jesus manifesta aos discípulos, mas uma situação até constrangedora para Ele. Estando já a meio caminho de seu ministério, é ainda desconhecido. Ele é identificado com pessoas que já morreram. Depois de milagres e tanta pregação, não foi ainda compreendido. Então quer saber a opinião dos discípulos. E Pedro responde em nome de todos: “Tu és o Messias (Cristo), Filho de Deus Vivo” (Mt 16.16). Por que em Cesareia de Filipe? Um sacerdote, pároco atua naquela região, comentou que ali havia um templo dedicado a um filho de um deus. Na fé dos discípulos, Jesus é o Filho do Deus Vivo. Jesus coloca nessa profissão de fé de Pedro o fundamento da obra apostólica. É uma revelação de Deus. A fé vem de Deus. Mas é proclamada pelo homem e serve de base para a construção da Igreja. Esse grupo de discípulos são as primeiras pedras do edifício. Somente nessa fé podemos ter o verdadeiro encontro com Deus. Pedro recebe as “chaves do Reino dos Céus” (Mt 16,19). Jesus, com todo poder, dá a Pedro todo o poder que será ratificado nos Céus. A Igreja é continuação da missão de Jesus. É no processo da Encarnação que se fundamenta sua ação. Cristo se manifestou na condição humana. A Igreja continua na condição humana tendo poder de realizar as coisas celestes. Os doze e os seus sucessores recebem o dom de realizar plenamente o projeto de Deus. Jesus manda que se espere sua hora que é a Paixão e a Ressurreição e o dom do Espírito. 
Estaca firme 
A profissão de fé de Pedro, revelada pelo Pai, é a pedra fundamental do edifício da Igreja. O homem participa da obra da redenção. No livro de Isaias há uma palavra como profecia na pessoa de Eliacim. Dentro da crise em que vivia as autoridades do tempo, o profeta o apresenta como um escolhido que terá a autoridade de governo. Ele “leva aos ombros a chave da casa de Davi”. Diz “que ele abrirá e ninguém poderá fechar; ele fechará, e ninguém poderá abrir” (Is 2,19-23). É o mesmo texto que Jesus usa referindo-se ao poder deu a Pedro. Sabemos que o poder de Jesus não se refere a um comando autoritário, mas de serviço (Jo 13,14). A autoridade é de Cristo, partilhada pelos apóstolos e seus sucessores. Também sucessores no serviço. O profeta diz que fixará Eliacim como uma estaca em um lugar seguro. A estabilidade do escolhido é o “trono de glória na casa de seu Pai” (Is. 2,23). O poder-serviço de Pedro no Colégio Apostólico é estável e garantido da parte de Deus. Nas condições humanas sofre da instabilidade. No poder de Cristo não. Rezamos no Salmo: “Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos” (Sl 137). 
Fixemos o coração 
O texto de Paulo na carta aos Romanos nos traz uma bela doxologia na qual se abisma no mistério da ciência de Deus. Somente poderemos entender corretamente a profecia de Eliacim, retomada por Jesus em relação a Pedro, se nos mergulharmos na sabedoria de Deus. Ela é o lugar seguro onde a estaca de nossa vida de fé se firma e onde podemos tomar as decisões de modo seguro. Nela estamos ligados às coisas do Céu. Por ela reconhecemos em nós o Deus que age e nos impulsiona. Por ela a Igreja se garante, mesmo sendo pecadora. A fragilidade de Pedro, reconhecida claramente nos evangelhos, não o desautoriza em seu poder, pois age em nome de Cristo e em sua pessoa. Nossa profissão de fé é frágil, mas é segura, sustenta nossa vida e nos liga ao Céu. 
Leituras: Isaías 22,19-23;Salmo 137;
Romanos 11,33-36; Mateus 16,13-20. 
Ficha nº 1990
Homilia do 21º Domingo Comum (23.08.20) 
1. Somente nessa fé, proclamada por Pedro, podemos ter o verdadeiro encontro com Deus. 
2. A profissão de fé de Pedro, revelada pelo Pai, é a pedra fundamental da Igreja. 
3. Nossa profissão de fé, frágil, mas segura, sustenta nossa vida e nos liga ao Céu. 
Prego na Areia 
Dizemos: “Está firme, como prego na areia”. É uma bobeira, mas, no contexto do texto de hoje podemos pensar que reflete uma inconstância muito grande na vivência da fé. Pedro, com sua profissão de fé, dá a resposta completa a Jesus: “Tu és o Messias, o Filho de Deus Vivo”. Essa é a firmeza da fé. Lembramos que o profeta Isaias falava de um grande homem que iria salvar a situação do povo, que ele enterra como uma estaca num lugar seguro. A nós compete ter firmeza de fé e definir a vida por princípios que sejam duráveis e seguros como um prego num lugar firme.

nº 1988 - Homilia da Assunção de Maria (16.08.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Assunção de Maria” 
 O Senhor fez maravilhas 
A Assunção de Maria coroa os dogmas da Mãe de Jesus. Por ela, podemos conhecer o que Deus quis para a Mãe de seu Filho. E ainda, o que Deus quer para cada um de nós. O que realizou em Maria é projeto para todos os cristãos. Ela é a primeira depois de Cristo a atingir o que Deus, por bondade, quer para todos. Os dogmas são verdades em que se devem crer sem erro. Fazem parte do Mistério de Cristo. Deus quis Maria assim. Esse dogma da Assunção não foi inventado. Ele está descrito no começo da Igreja, em sua tradição. Dá a impressão que é o primeiro que a comunidade declarou como verdade de fé. Ali, rodeada dos apóstolos, passa à vida do Céu. Como a Jesus, “não convinha que seu corpo conhecesse a corrupção” (At 2,31). O evangelho apócrifo de Tiago lembra o fato de Tomé que, ausente na morte, ainda quis ver o corpo de Maria, na sepultura. Constatam o fato de sua elevação ao Céu. Essa foi a fé dos primeiros cristãos. O dogma foi declarado em 1950 por Pio XII, como reconhecimento daquilo que já era conhecido. A Assunção decorre das maravilhas feitas por Deus nessa Mulher: Concebida sem pecado, Virgem, Mãe de Deus. Sua união com Deus a fez privilegiada. Ela diz: “O Todo Poderoso fez em mim grandes coisas” (Lc 1,49). Ser cheia da graça de Deus (Lc 1,28) a torna distribuidora dessas graças a todo o povo de Deus, sobretudo, aos mais abandonados. Por ela entendemos que devemos fazer uma renovação do mundo a partir do Evangelho. 
Todos em Cristo revivem 
A Assunção de Maria não é só uma questão pessoal de privilégio, mas a realização de todo o projeto de Redenção realizado por Jesus. São Paulo nos confirma essa realidade quando nos diz: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião de sua vinda” (1Cor 15,22-23). Nessa ordem de Ressurreição, Maria, por um privilégio, recebe o dom total da redenção realizando nela também a ressurreição final. Ela faz o caminho de todas as criaturas. Jesus, nela, realiza a vitória sobre a morte. Nela vence o inimigo e garante a vitória para todos. Se uma já realizou todo o caminho, abre para todos a certeza da vitória final. A base da Assunção é a Ressurreição de Jesus. Nela, Deus estende sua misericórdia a todos. Nela realiza salmo: “Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: Esquecei vosso povo e a casa paterna! Que o Rei se encante com vossa beleza! Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor” (Sl. 44). Por isso o Anjo a chama de “cheia de graça” (Lc 11,28). Isabel lhe diz: “Bem-Aventurada Aquela que acreditou porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45). 
Dragão quer devorar 
O dragão, figura do mal no Apocalipse, está sempre presente junto da Mulher. Eva foi enganada pela serpente primitiva, o mesmo dragão que ronda no final dos tempos. No paraíso está a mulher para gerar para o mundo. No fim dos tempos, a Mulher, Mãe, está para dar à luz uma nova humanidade. A Mulher está para gerar o Filho que vai reger o mundo. O dragão quer devorá-Lo. A história sempre esteve cheia de dragões prontos a devorar o Filho e os filhos da Mulher – Igreja e da Mulher da Redenção. Será que a ojeriza de determinadas seitas contra Maria, não será a presença do dragão que quer devorar a Mãe e o Filho? Deus a leva para o refúgio que é o coração dos filhos. O coração dos filhos acolhe a Mãe. Ela, elevada aos Céus, leva no seu seio os filhos redimidos. 
Leituras: Apocalipse 11,19ª;121,3-6ª.10ab;Salmo 44;1ª
Coríntios 15,20-27ª; Lucas 1,39-56. 
Ficha nº 1988 
Homilia da Assunção de Maria (16.08.20) 
1. O que realizou em Maria é projeto para todos os cristãos. 
2. A base e o sentido do dogma da Assunção de Maria é a Ressurreição de Jesus. 
3. Maria, elevada aos Céus, leva no seu seio os filhos redimidos. 
Festa da Mãe 
O que a gente não faz para participar das festas de nossas mães? Toda festa nos introduz no mistério da alegria de Maria no Céu. Uma festa na terra repica no Céu. Essa integração de Céu e terra numa celebração é um mistério muito compreensível. Deus é nossa alegria. Nas festas de Maria podemos saborear a alegria do Céu. Para uma festa de mãe trazemos muito carinho. É o que sentimos por Maria. Sua subida ao Céu é uma garantia de nossa futura caminhada final para iniciar a vida que dura parda sempre. Maria está sempre presente em nossas vidas. Entender de Jesus é bom, mas difícil. Entender de Maria, basta ter coração. Não precisa explicação. Comida de mãe já tem o tempero que agrada. O que é de Maria sempre nos agrada e convida a voltar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

nº 1986 Homilia do 19º Domingo Comum (09.08.20)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
“Tu és o Filho de Deus” 
 Deus na tempestade 
Na temática desse domingo, o Evangelho e o Livro dos Reis se completam. No meio da tempestade os discípulos acham que Jesus é um fantasma. Elias entra em diálogo com Deus somente quando se faz uma “leve brisa”. São situações e visões diferentes. Aqui se coloca para nós a impressão de desencontro: Deus está na tempestade ou na serenidade? Sempre ouvimos que temos que nos retirar para rezar, pensar e definir a vida no sossego. Os discípulos viram Jesus no meio do temporal. Elias na serenidade. Jesus estava tranquilo, andando sobre as águas. Ele fizera o grande milagre da multiplicação. Havia entre o povo o alvoroço de querer fazê-Lo Rei. Não fez milagre com esse fim. Jesus se retira ao monte para orar a sós. Parece que quer anestesiar a perturbação interior que lhe causara o povo. Os discípulos estavam, pelas dez da noite, lutando para controlar o barco agitado pelas ondas provocadas pelos ventos contrários. Diz-se que as tempestades de um lago fechado podem ser mais perigosas que no mar. O Mar da Galiléia ainda hoje tem esse perigo. Elias pega situações difíceis de vento, terremoto e fogo quando se prepara para ao encontro com Deus que se manifesta “no murmúrio da brisa leve” (1Rs 19,11-12). Os discípulos se apavoram vendo Jesus caminhando sobre as ondas. Os ventos fortes apavoram Pedro que teme e pede socorro. Jesus, ao subir no barco, tudo serenou. Deus está acima do dilúvio. Percebemos que nossos encontros com Deus sempre se fazem em meio a temporais. Mas no olho do furacão há um lugar de brisa leve. É o segredo da experiência de Deus. Quanto nos falta! 
Deus do silêncio 
Tenho medo do falso silêncio e repouso, fora da realidade do mundo. É nele que vamos encontrar Deus. No meio do caos é preciso o coração. Deus não se contrapõe ao barulho, à balbúrdia. Está acima. Como vemos, Jesus está sempre no meio do povo. É ali que exerce sua compaixão. São Lucas testemunha os contínuos momentos de oração de Jesus. Sabemos que sempre se retirava a sós, passava a noite em oração, levantava-se cedo para orar. Dá uma lição bonita, pois, como Deus – Homem sentia necessidade de estar com o Pai. É por isso que consegue ter o silêncio interior que o anima em seu ministério. A história de Elias que fugira de Jesabel e vivera escondido no deserto, é chamado para o encontro com Deus no Sinai (Horeb), como acontecera com Moisés. É um tempo longo de experiência que passa por momentos de vento, fogo e terremoto. Tudo poderia impedir esse encontro com Deus. Ele está lá, como que rezando o salmo 84: “Quero ouvir o que o Senhor irá falar: é a paz que Ele vai anunciar. Está perto a salvação dos que o temem, e a glória habitará nossa terra” (Sl. 84). O que faz Elias encontrar a brisa suave é sua permanente abertura para Deus. A criação se amaina. Temos aí a soberania de Deus sobre a natureza em favor dos homens. O profeta zela por Deus. 
Quero ouvir 
Os discípulos, diante de mais um milagre fazem uma profunda profissão de fé. prostraram-se diante de Jesus dizendo: “Verdadeiramente Tu é o Filho de Deus” (Mt 14,23). Essa profissão de fé é o resultado da experiência da tempestade e da calma milagrosa. A fé e a experiência de Deus em Jesus levaram ao reconhecimento de Jesus como Filho de Deus. Daí para frente se formam cada vez mais para assumirem sua parte na missão. No meio da tempestade das perseguições eles podem testemunhar com vigor. Quem sabe falte a experiência. Vivendo no meio das tempestades, formando o coração, nós conseguiremos. 
Leituras :1Reis 19,9ª.11-13;Salmo 84; 
Romanos 9,1-5; Mateus 14,22-33. 
Ficha nº 1986 - 
Homilia do 19ºDomingo Comum(09.08.20) 
1. Nossos encontros com Deus sempre se fazem em meio a temporais. 
2. Jesus, como Deus – Homem sentia necessidade de estar com o Pai.
3. A profissão de fé é o resultado da experiência da tempestade e da calma milagrosa.
Deus do barulho 
Pensamos a vida de Jesus como uma brisa serena e um tempo de paz. Mas foi tudo uma bela confusão... aliás, ainda temos muito disso. O ser humano não é um lago sereno. É um contínuo furacão. Não é problema. Vemos os santos: viveram sempre em meio a tantas coisas. O santo não fica à toa. Quando não tem o que fazer, inventa. São como Jesus: era capaz de viver para os outros porque vivia para o Pai. É uma escola. Deus nos põe no barulho porque sabe que o sossego está Nele. Ali é a água que sai silenciosa da terra. Tenho medo de um barulho que parece não ter conserto: aquele que está dentro de mim.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/