sexta-feira, 28 de setembro de 2018

nº 1793 Artigo - “O que vale o esforço humano?”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2100. Não basta só querer
            Continuamos a refletir, orientados por Papa Francisco, sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate (GE). Ele nos instrui sobre a santidade. Vimos nos outros artigos a questão do gnosticismo. Resumindo, diz que a heresia do gnosticismo que ainda está presente em muitos setores da vida da Igreja, leva a santidade para o lado do conhecimento intelectual. Com isso se descarta quem é ignorante, fraco e sofredor. Até Jesus acaba sendo deixado de lado em seu aspecto humano. Ao contrário dessa heresia aparece outra, não melhor, colocando a santidade unicamente no esforço pessoal humano. Esse não pode faltar, mas não é tudo. “Esquecia-se que isto não depende daquele que quer nem daquele que se esforça por alcançá-lo, mas de Deus que é misericordioso” (Rm 9, 16) e que Ele «nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19) – Já não era a inteligência que ocupava o lugar do mistério e da graça, mas a vontade (GE 48). Às vezes é complicado mostrar diretamente, mas está em plena ação entre nós. O Papa assim explica: “Quem se conforma a esta mentalidade (pelagiana ou semipelagiana), embora fale da graça de Deus com discursos bonitos, “no fundo, só confia nas suas próprias forças e sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico” (GE 49). Os que são fracos e não conseguem tudo que esses “tais bons” conseguem, sentem-se inferiorizados porque não conseguem fazer nem saem da dificuldade. E eles dizem que basta querer. Sem Jesus e sua graça, não se vai longe.
2101. Nada sem a Graça
            É comum as pessoas viverem certas dificuldades e não conseguirem sair delas. Então, quem se diz estar bem, acaba por dizer que a pessoa não quer, isto é, não tem vontade de sair dessa vida. Ele ou ela, que tem um nível espiritual se coloca como o santo que conseguiu chegar naquele ponto. E se dá o direito de julgar os outros. Nega-se nessa atitude que a graça de Deus não falha, mas os tempos de Deus são outros que os nossos. As fragilidades humanas não são curadas, completamente, e de uma vez por todas pela graça. O Papa Francisco cita então: “Em todo o caso, como ensinava Santo Agostinho, Deus convida-te a fazer o que podes e ‘a pedir o que não podes’ (GE 50). Alguns que se dizem bons de reza, quando veem alguém que não consegue, têm ousadia de dizer que esse não reza bem. Por isso não consegue. Rezar não é para ganhar coisas, mas para ganhar Deus e sua graça. A graça supõe a natureza, por isso não nos faz vitoriosos em tudo e a todo momento. Não somos super heróis. Fuja deles, pois no fundo é fachada. Os que vivem dando leis e cobrando dos outros são os novos hereges que repetem os antigos. Muitos vivem preocupados com o exterior, com os ritos, com as formas. O bom é reconhecer que somos fracos, necessitados e lutar pelo que buscamos.  Por isso, se recusarmos esta modalidade histórica e progressiva, de fato podemos chegar a negá-la e bloqueá-la, embora a exaltemos com as nossas palavras.
2102 . Nele nos movemos
            Corremos o risco de viver a mentalidade de lucro e de estoque dos bens espirituais. Isso nos dá o mérito e podemos cobrar de Deus as graças, luzes e milagres, pois somos bons. Deus pede a Abraão que ande na sua presença e seja perfeito (Gn 17,1). “Para poder sermos perfeitos, como é do seu agrado, precisamos de viver humildemente na presença d’Ele, envolvidos pela sua glória. Há que perder o medo desta presença que só nos pode fazer bem. É o Pai que nos deu vida e nos ama tanto” (GE 51).
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domingo, 23 de setembro de 2018

nº 1792 - Homilia do 26º Domingo Comum (30.09.15)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

Deus é livre 
                                                Liberdade do Espírito           
           Nossos esquemas espirituais nos dão a sensação de termos toda a verdade e que nosso modo de agir é o único e o melhor.  Contudo, não somos donos do Espírito Santo. É o que lemos no 24º Domingo Comum tanto no livro dos números como no evangelho de Marcos. Nos dois casos havia gente agindo pelo Espírito Santo e não fazia parte do grupo.   Aparecem logo os que querem por ordem e proibir. Tanto Moisés como Jesus colocam a questão no seu justo lugar: “Ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim” (Mc 9,38-39). Na história tivemos tempos de fechamento em nós mesmos, em nosso mundo e em nossa Igreja. Não se trata somente de assuntos religiosos. Até hoje podemos ver como a sociedade do primeiro mundo desconhece a humanidade que possuem povos pobres. A Igreja ainda tem essa tentação e desconhece a riqueza desses povos que não conhecíamos. Não é algo oficial, mas muito forte. Basta ver como o primeiro mundo recusa o Papa , bem como nossas estruturas. Nenhuma religião se pode considerar-se dona de Deus e controladora de suas ações. Deus é livre e não precisa pedir licença para manifestar sua graça. Devemos ter segurança em nossa fé. Ela contém tudo para a salvação. Mas podemos aprender muito dos outros para viver melhor nossa fé. A capacidade de perceber as riquezas espirituais dos povos recupera da Igreja.
O Reino em pequenos passos
          Jesus faz uma chamada sobre o escândalo. O Reino de Deus exige que se respeitem os pequeninos. Se um copo d’água dado a outrem não fica sem recompensa, um escândalo não fica sem sua paga. E diz que quem escandaliza merece que lhe seja amarrada uma pesada pedra ao pescoço e ser jogado ao mar. Temos visto que os meios de comunicação exigem a liberdade de se fazer o que quiser. Não se tem a preocupação com mal que vai fazer a alguém, sobretudo aos pequeninos. Meu direito vai até onde começa o direito do outro. E faz uma bela comparação: Se teu olho ou tua mão ou teus pés o levam a pecar, corta-os. É melhor entrar no Reino dos Céus sem uma mão ou olho ou os pé, do que com tudo isso ser jogado no inferno. O que significa? Olho, significa o conhecimento; mão, o trabalho; os pé, a direção da vida. Se minhas atividades distanciam do Reino de Deus; se meus conhecimentos e ensinamento prejudicam as pessoas, se minha atuação leva a pecar, devo passar por um processo de conversão. Por isso não tenho direito de levar os outros ao erro e ao pecado (Mc 9,42-49). A lei do Senhor é perfeita, alegria ao coração (Sl 18). Faz parte da missão da Igreja libertar as pessoas de todas as prisões.
Quem mata o Reino?
           Tiago cita a condição dos que são ricos à custa de sofrimento dos outros. É uma situação de pecado. O que ofende o povo humilde ofende a Deus. É dura a frase de Tiago: “O salário dos trabalhadores que ceifaram vossos campos, que deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo poderoso” (Tg 5,4). O mundo não mudou nada nesses últimos milênios. Não se condena o bem estar e até o luxo, mas que não seja à custa do sofrimento e da exploração dos outros. A riqueza provinda do pecado não tem futuro e multiplicam os males. Um pecado puxa o outro. Por isso vemos a grande onda de males que há no mundo, na natureza e nas instituições. Tanta coisa feita a partir do mau uso da liberdade e do pecado. A Eucaristia, celebrada com coerência pode orientar nossa vida no caminho do bem.
Leituras: Números 11,25-29;Salmo 18; Tiago 5,1-6; Marcos 9,38-43.45.47-48
Ficha nº 1792 - Homilia do 26º Domingo Comum (30.09.15)

              1. O Espírito Santo não se reduz às nossas estruturas.
           2. Se meu modo de vida é escândalo, tenho que passar pela conversão.
           3. A exploração dos ricos sobre os pobres é uma ofensa a Deus.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

nº 1791 Artigo - “A simplicidade da santidade”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

2097. Tudo é simples
            Em sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate (GE), o Papa Francisco não desaprova o conhecimento intelectual como bom instrumento para o crescimento na santidade. É preciso pensar, mas ainda não é tudo. A espiritualidade é uma doutrina sem mistério. Deus é simples. Correndo as etapas da história da espiritualidade encontramos muitos místicos que têm uma doutrina tão profunda que acaba não sendo acessível ao povo. Jesus não era assim. A doutrina que estamos tentando entender, o gnosticismo, vive só no intelectual, provocando uma espiritualidade desencarnada. E Jesus se encarnou. Na realidade, o que acontece é que o que se quer é ser dono do mistério de Deus, da graça e da vida dos outros (GE40). Pensam que Deus deve ser e agir do jeito que pensam. Não percebemos esses ensinamentos. Mas acabamos seguindo como ensinam. Perdendo a dimensão da encarnação de Jesus, não somos capazes de nos preocupar com o Corpo de Cristo que está presente no mundo, sobretudo nos pobres sofredores. Estamos cientes de que não poderemos nunca saber tudo sobre Deus. Mesmo servindo-nos da Palavra e da experiência pessoal podemos compreender muito. Mas ainda estamos somente começando. Há um risco de fazer a religião do jeito da gente. Nesse sentido essa doutrina quer dominar Deus e dizer onde Ele não está. Ele está presente também nas vidas arrebentadas e destruídas (GE 42). “Isto faz parte do mistério que as mentalidades gnósticas acabam por rejeitar, porque não o podem controlar. Não se deixam guiar pelo Espírito.
 2098. Inteligência que ajuda
            Somos limitados no conhecimento da verdade. “Só de forma muito pobre, chegamos a compreender a verdade que recebemos do Senhor. E, ainda com maior dificuldade, conseguimos expressá-la” (GE 43). A variedade que temos na Igreja nos ajuda a compreender melhor outros aspectos da mesma verdade. É um tesouro. A compreensão varia não em seu conteúdo, mas no modo de apresentá-lo e vivê-lo. A riqueza da manifestação de Deus entre nós é tão grande que não podemos absorver tudo de uma vez. Há sempre aprofundamentos que nos ajudam a enriquecer sempre mais essa revelação em nossa história. Por ser na história, assume as condições humanas na pessoa de Jesus que entrou em nossa história. Assim há sempre um processo de compreensão de acordo com os tempos. O critério de orientação deve ser sempre o Evangelho e não uma filosofia. Diz o Papa na mesma exortação: “Nossa compreensão da doutrina não é um sistema fechado, privado de dinâmicas próprias capazes de gerar perguntas, dúvidas e questões” (GE 44).
2099. Misericórdia é sabedoria
            Quando falamos de misericórdia, estamos acostumados a pensar em situações de graves necessidades. Misericórdia é uma atitude do coração que se transforma em atos de ajuda. Podemos entender também na atenção, o respeito e o acolhimento do outro como fonte de sabedoria. Na África, quando morre um idoso, dizem que se queimou uma biblioteca. Eles acumularam a sabedoria da vida. Temos uma situação de paróquias onde dizem que perdemos tempo com “as velhas” da Igreja. Ali há uma sabedoria vivida. Podem ser analfabetos, mas sua santidade não os deixa menores. Ninguém é superior. Saber muito é a possibilidade de ajudar a fazer o intercâmbio e a troca entre a vida e a ciência. Gastar tempo com os humildes para aprender deles é a maior escola e o tempo bem utilizado. S. Francisco escreve a Sto. Antônio pedindo que ensine aos frades, mas sem perder a devoção (GE 46). A ciência das coisas de Deus sem o amor não é prova de santidade.
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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

nº 1790 - Homilia 25º Domingo Comum (23.09.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“A sabedoria vem do alto”

Morte como serviço
           A sabedoria de Deus ilumina a vida humana. Assim foi em Cristo. Mesmo o seu sofrimento tomou sentido, além da dor, para se tornar salvação. Jesus, continuando seu caminho iniciado no batismo, chega ao momento crucial de assumir a consequência de sua missão. As forças do mal, usando os homens perversos, conduzem o “manso cordeiro ao matadouro” (Jr 11,19). Seu sofrimento é descrito no texto da primeira leitura que nos relata a perseguição ao justo. A partir de uma atitude dos discípulos, explica a sabedoria de Deus presente em sua morte: Eles discutiam qual deles seria o maior. Vemos aí a compreensão humana que tinham de sua participação na missão de Jesus. Como amoroso mestre, sentou, chamou-os e explicou: “Se alguém quiser ser o primeiro, deve ser o último de todos. E aquele que serve a todos” (Mc 9,35). O serviço é a sabedoria presente na vida do seguidor de Jesus. Aqui podemos ver como estamos longe, como Igreja, dessa sabedoria. A vida dos cristãos na comunidade, a partir de suas autoridades, ainda não compreendeu essas palavras. O que vemos é a busca do poder e da glória. A sabedoria presente nesse momento de dor da vida de Jesus é a escola de todo poder e vida comum dos discípulos. O salmo nos ensina a responder ao sofrimento: “É o Senhor quem sustenta minha vida”. Cristo, no momento de sua terrível paixão, alimentado pela Sabedoria Divina, faz o sacrifício máximo: “Pai, em vossas mãos entrego meu espírito”. Ali é capaz de nos passar o Espírito através do último suspiro: “Expirou” – entregou o Espírito.
Vivendo com sabedoria
           Tiago nos relata a vida inútil da comunidade cristã que ignorava a sabedoria. Relata como está má a vida daqueles que escolheram a fé: “Onde há rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más”. E continua dizendo que as paixões são a causa dos males: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm justamente das paixões que estão em conflito dentre vós?” (Tg 3,16). O apóstolo tem conhecimento da condição humana: “Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir”. A razão de tudo é a falta da oração: “Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal”. O que se pede é para esbanjar com os prazeres (Tg 4.1-3). A sabedoria leva a uma vida serena, de bons frutos. O fruto da justiça é semeado na paz para aos que promovem a paz (Tg 3,17ss). Com a sabedoria que nos coloca a serviço, não na ganância, podemos construir uma comunidade que é o Reino de Deus.
Acolher os pequeninos
           A oração pós-comunhão nos indicam que o alimento que nos dão os sacramentos nos levam a colher os frutos da redenção na celebração da liturgia e na vida. A vida da comunidade é um espaço onde podemos viver o mandamento do amor que se sintetiza no serviço mútuo. Como a fé sem obras é morta, o amor sem atos concretos de serviço fraterno não resolve e nos levam ao que Tiago comenta com sabedoria. A sabedoria é a vida da comunidade. Para exemplificar, Jesus toma uma criança e a coloca no meio deles, abraçando-a, explica como deve viver uma comunidade: acolhendo os pequeninos, tanto crianças e os mais frágeis. Perguntamos: Onde estão as crianças em nossas comunidades, como estão vivendo os mais frágeis? Qual é o acolhimento que damos aos pobres, aos doentes, aos sofredores? As crianças nos ensinam a acolher e agir com normalidade.
              Leituras: Sabedoria 2,12.17-20; Salmo 53.Tiago 2,1-5;Marcos 7,31-37.
Ficha nº 1790 - Homilia 25º Domingo Comum (23.09.18)

              1. O serviço é a sabedoria presente na vida do seguidor de Jesus.
           2. Com sabedoria podemos superar as dificuldades na comunidade.
           3. Jesus coloca a criança como modelo de acolhimento.
          
                       Procurando emprego

           Há grande luta de emprego. São quase quinze milhões desempregados no Brasil. Difícil é procurar serviço. Os discípulos de Jesus estavam preocupados em garantir um posto bom no reino de Jesus. Já viam a glória de suas vidas. Não deu certo, pois o projeto de Jesus era diferente. Era o contrário. Não ser grande, mas fazer-se pequeno e servidor.
           Explicita que sua vida e morte serão um serviço generoso para a salvação. O serviço é de acolhimento e aceitação da diferença do outro, como faz uma criança.
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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

nº 1789 Artigo - “A Santidade tem inimigos”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2094. Dois inimigos da santidade
         O Papa Francisco continua em sua Exortação Apostólica “Gaudete et Exultate”, ensinando-nos a ser santos. Seu ensinamento é biográfico. Ele chama a atenção a dois perigos na espiritualidade. Perigos e inimigos que destroem tanta boa vontade: O gnosticismo e o pelagianismo. São nomes difíceis e desconhecidos. “São duas heresias que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo, mas continuam a ser de alarmante atualidade. Ainda hoje os corações de muitos cristãos, talvez inconscientemente, deixam-se seduzir por estas propostas enganadoras” (GE 35). São dois modos de agir diferentes que pensam só humanamente, disfarçando a verdade católica. Os resultados mostram a raiz do mal. “Estas duas formas de segurança doutrinária ou disciplinar, que dão origem a um elitismo narcisista e autoritário, no qual, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar esta graça. Em ambos os casos, nem Jesus Cristo, nem os outros interessam verdadeiramente” (GE 35). Meio complicado, mas vemos que, mesmo na espiritualidade, na devoção, nas rezas pode haver procedimentos errados que as pessoas fazem como sendo muito bons. E não se aceita correção. Vemos quase dois mil anos de caminhos espirituais que não produziram muito fruto.
2095. O gnosticismo atual
            O Papa explica como funciona esse erro: “O gnosticismo supõe uma fé fechada no subjetivismo, no qual apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada em si mesma, em sua própria razão ou em seus sentimentos” (GE 36). E chama isso de Uma mente sem Deus e sem carne”. Por que? Santidade não é o quanto conheço, mas o quanto amo. Mede-se o grau de amor e caridade. É necessário conhecer muito, mas a santidade não está no que se conhece, como a dizer: ‘Quem não tem conhecimento, não tem santidade’. Vai mais além ainda na compreensão de Jesus Cristo. Não há interesse pela encarnação e sofrimento de Cristo, sobretudo quando temos que vê-lo nos outros. O Papa usa uma expressão até cômica: “Ao desencarnar o mistério, em última análise preferem “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo” (GE 37). Não está falando dos que vivem fora da Igreja. Há muitos estudiosos cristãos que vivem essa teoria. Evangelho não é teoria. Não basta saber muito para ter já santidade. Por isso encontramos tantos estudiosos que não têm fé. Se não for uma santidade do ser humano como um todo não corresponde ao evangelho. Não podemos ter medo da reflexão sobre a fé, sobre a Palavra de Deus, sobre a Igreja. A nós foi dado aprofundar sempre mais o conhecimento das riquezas que recebemos de Deus para aprofundar as riquezas da vida cristã e ensiná-la com verdade.
            Não é preciso ter medo da santidade. Ela não diminui o ser humano, não tira a alegria nem as forças de viver. Ela pode ser vivida em qualquer situação do ser humano. Ela pode levar a pessoa à plena realização e maturidade, libertando-a do que a faz menos humano, mesmo quando os outros não nos tratam como ser humano. O Papa cita o caso de S. Bakhita que foi feita escrava aos sete anos e sofreu muito (GE 32). A santidade não é um empecilho à natureza humana, mas a torna mais útil e fecunda ao mundo. “A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça” (GE 34).
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terça-feira, 11 de setembro de 2018

nº 1788 - Homilia do 24º Domingo Comum (16.09.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

“Qual Messias?
Quem dizeis que eu sou?
Jesus, nos dados evangélicos, parece trabalhar com o insucesso. Depois de um tempo percorrido de sua missão, tem diante de si um quadro desanimador.  Pergunta: “Quem dizem os homens que eu sou?” Diversas respostas mostram esse desconhecimento (Mc 8,27-28). Jesus parte então para o pessoal: “‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ Pedro Respondeu: ‘Tu és o Messias’”. A Palavra Messias (aramaico) que é Cristo (em grego) significa, na resposta de Pedro, o rei messiânico, o Descendente de Davi, nele se esperava o Dom Divino, o Reino de Deus, o Shalom de Deus. É bom podermos analisar que Cristo queremos. Ou que entendemos por Jesus Cristo. Quase tudo reduz no que vai servir para mim. Parece que temos uma fé cristã sem Cristo. Cristo não é o Santo de Deus, mas um santo a mais no meio de tantos outros. A atitude de Pedro nos mostra seu discernimento. Relegar Cristo a essa atitude utilitarista é fazer como Pedro fez ao querer impedir que Jesus fizesse seu caminho de levar até o fim sua missão. Quando temos essa atitude podemos ser tidos como Satanás, fazendo suas obras como vemos nas tentações pelas quais Jesus passou. Ali o Inimigo, o Tentador, o Acusador que quer que Jesus chegue à glória antecipando os prodígios messiânicos sem que complete sua missão na cruz. Isso é pensar como os homens e não como Deus. Ao repreender Pedro, Jesus olha para os discípulos. Pelos pequeninos e frágeis, Jesus não entrega sua missão.
 Renuncia a si mesmo
           O sofrimento e a morte não são fim para Jesus. Sabe em quem confiou. A primeira leitura, descrevendo os sofrimentos do Servo de Deus, comenta que ele resiste porque “sabe que o Senhor é seu Auxiliador” (Is 50,7). O salmo descreve a situação do sofredor e a força que encontra em seus sofrimentos: “É o Senhor quem defende os humildes. Eu estava oprimido e salvou-me! (Sl 114). Onde encontrou Cristo sofredor seu conforto? “O Senhor Deus é meu Auxiliador; quem é que vai me condenar?”(Is 50,9ª). E ainda: “Eu amo o Senhor, porque ouviu o grito da minha oração” (Sl 114). A seguir Jesus mostra quem são seus discípulos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). Essa é a consciência que deve ter o discípulo de sua missão, como Jesus dissera aos apóstolos: “O Filho do Homem vai sofrer muito e ser rejeitado, ser morto e ressuscitar” (Mc 8,31). Para viver essa situação dolorosa, é necessário renunciar a si mesmo, tomar a cruz e seguir” (Id,35). A renúncia não danifica a natureza humana. Mas liberta-a para algo superior ao que nos apegamos, que pode ser até a própria vida. “Quem perder sua vida por causa do Evangelho, isto é, Jesus, vai salvá-la” (Id). Aqui está o caminho espiritual de Jesus e nosso.
A fé com obras
           A vida entregue não significa perdê-la, mas colocá-la como obra da fé. Não basta só a fé para se salvar. E não basta uma vida espiritual intimista deixando de lado as obras da caridade, e desprezando o mandamento de Jesus que é o amor. Por isso diz: “Tome a sua cruz e siga-me” (id). Há uma oração da Igreja que diz: “Caminhar com alegria na mesma caridade que levou vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo” (5º Dom ano B). Assim podemos responder quem é o discípulo de Jesus. Há necessidade de levarmos a Eucaristia para a vida. Tiago diz: “Mostra-me tua fé sem as obras, que eu te mostrarei a minha fé pelas obras” (Tg 2,18). A Igreja não pode ser um cemitério de almas sem vida.
Leituras: Isaías 50,1-9ª; Salmo 114; Tiago, 2,14-18; Marcos 8,27-35
Ficha nº 1788 - Homilia do 24º Domingo Comum (16.09.18)

1. A pergunta de Jesus revela a dificuldade de seu ministério e a força da fé.
2. O discípulo segue o mesmo caminho de Jesus, renunciando a si e tomando sua cruz.
3. A fé sem obras nega o mandamento de Jesus e a razão de sua morte e ressurreição. 
A chave da salvação

              Como todo discípulo é o mestre outra vez, Jesus afirma aos seus que, se quiserem ser discípulos Dele, devem passar pelo que Ele passou. Aqui está o nó da vida cristã: ser seguidor de Jesus como Ele foi, não é criar um Jesus que se molde a nós.  Sentimos que a fé está enfraquecendo. Enfraquece a fé, ou o jeito que nós damos a ela?
           Jesus primeiro Se apresenta e depois apresenta que Ele é o modelo. Andar e viver como Ele andou e viveu. Tal como foi o mestre, deve ser o discípulo. Por isso diz: “Quem quiser ser meu discípulo renuncie a si mesmo”. Assim fez quando assumiu nossa humanidade. “Tome sua cruz e siga-me”. Só seguindo é que saberemos como se caminha. 
           Faz a proposição do perde ganha: “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; Quem perder sua vida por causa de Mim e do Evangelho, vai salvá-la”. Perder significa dar valor maior a Jesus que aos nossos pequenos desejos. Quando o fazemos através de Jesus ganhamos nossa vida, pois Ele é Vida plena.
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segunda-feira, 10 de setembro de 2018

nº 1787 Artigo - “A atividade que santifica”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

2091. Identificação com Cristo
              Papa Francisco, em sua exortação Gaudete et Exultate (Alegrai-vos e Exultai), que estamos refletindo, continua nos ensinando o caminho da santidade. E nos diz que não se pode separar Jesus de seu Reino. Do mesmo modo, em nós, não se pode separar a identificação com Cristo e seu Reino: “A tua identificação com Cristo e os seus desígnios requerem o compromisso de construíres, com Ele, este Reino de amor, justiça e paz para todos” (GE 25). Como em Cristo há unidade de vida e missão, é próprio de cada cristão ter essa unidade. Cristo em nós é o que fortifica essa unidade. O próprio Cristo quer vivê-Lo contigo em todos os esforços ou renúncias que isso implique e também nas alegrias e na fecundidade que te proporcione. Vivemos preocupados com nossas atividades e nossas capacidades. Nossa atividade está intimamente unida à vida e missão de Cristo. Decorre daí que não pode haver vida sem missão. A vida gera uma missão e a missão alimenta a vida. Por isso, a espiritualidade é fundamental. Os santos foram grandes apóstolos porque viviam a unidade com Cristo. “Por isso, não te santificarás sem te entregares de corpo e alma, dando o melhor de ti neste compromisso” (GE 25). O resultado da santidade não é aumentar o grau de santidade, mas aumentar a intensidade de sua entrega para que Cristo seja conhecido e assim cresça o Reino de Deus. Quem conhece Jesus, tudo faz para que ele seja conhecido. Os que vivem no silêncio estão ocupados com o conhecimento de Jesus. “Somos chamados a viver a contemplação mesmo no meio da ação, e santificamo-nos no exercício responsável e generoso da nossa missão” (GE 26).
2092. Dedicação pastoral
            A vida espiritual está intimamente ligada à missão. Pode parecer muito lógico, mas, vejamos os diversos tipos de movimentos, grupos, irmandades e espiritualidades. Há muita gente dedicada, de vida correta, mas não participa da vida pastoral da Igreja, de sua comunidade. Isso é espiritualismo. A vida da Igreja está cheia de defeitos. O pior é não fazer nada. A pastoral tem que nascer da espiritualidade, e a espiritualidade se fortalecer na pastoral. É belo ver o povo simples que luta pela vida e tem tanto tempo para a Igreja. Há tanta gente que exige tanto da Igreja, da comunidade e não faz nada para que o Reino de Deus cresça. O Papa afirma: “Não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão. O desafio é viver de tal forma a própria doação, que os esforços tenham um sentido evangélico e nos identifiquem cada vez mais com Jesus Cristo. Por isso falamos de uma espiritualidade do catequista, de uma espiritualidade do clero diocesano, de uma espiritualidade do trabalho. Pela mesma razão, na  Laudato si  termino com uma espiritualidade ecológica, e em Amoris laetitia,  com uma espiritualidade da vida familiar”. (GE 27-28). A espiritualidade se identifica com nossa vida. Nossa vida é espiritualidade.
2093. Solidão que faz bem
            Isto não implica menosprezar os momentos de quietude, solidão e silêncio diante de Deus” (GE 29). Viver encarnado no mundo e ter uma vida espiritual ativa, exige de nós também a capacidade do silêncio interior para viver na agitação do mundo. Sempre se cobra a necessidade do jejum. Por que não fazer um jejum de TV, de uso do celular, de passa-tempo vazio.  Em consequência disso, ressente-se a própria missão, o compromisso esmorece, o serviço generoso e disponível começa a retrair-se. Isto desnatura a experiência espiritual. Poderá ser saudável um fervor espiritual que convive com a apatia preguiçosa na ação evangelizadora ou no serviço dos outros? (GE 30). O Papa conhece a realidade.
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domingo, 9 de setembro de 2018

nº 1786 - Homilia do 23º Domingo Comum (09.09.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
Abre-te! Efata! 
Ele fez bem todas as coisas
           O profeta Isaias, diante do sofrimento e desalento do povo, anuncia que haverá uma grande transformação nas pessoas e na própria natureza. A redenção é um projeto total do universo e da pessoa. O gesto e as palavras de Jesus significam a realização dessa profecia. A condição de surdo-mudo é uma situação muito difícil para a pessoa na qual lhe dificulta muito a comunicação. Curiosamente Jesus faz uma cena diferente para esse milagre. Leva o homem para fora do movimento, toca seus ouvidos e sua língua e, põe sua saliva. Não foi um ato estranho para o tempo, mas a comunicação da vida da que há na palavra. Comunica-se o que tem de bom dentro de si. Desperta para a comunicação. Relacionando com o ritual do batismo se diz tocando os ouvidos e a boca da criança: “O Senhor que fez os surdos ouvirem e os mudos falarem, te conceda ouvir a sua palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus Pai”. O gesto de Jesus reintegra o homem na sociedade também na comunidade de culto. O milagre tem uma força catequética. O profeta anima o povo sofrido a buscar o Senhor porque Ele vai fazer uma mudança total. Por isso o povo vê como Jesus faz bem todas as coisas. Rezando o salmo, reconhecemos a fidelidade de Deus que se manifesta em suas muitas ações de socorro ao povo necessitado. Essa palavra se realiza em nós quando repetimos as ações libertadoras e salvadoras de Deus. É uma nova criação.
Os pobres ricos na fé
           Quando se toca no tema sobre os “pobres”, logo se pensa em questões sócio-político-partidárias. O modo de compreender das Escrituras é diferente. Aquela frase de Jesus “Pobres sempre tereis entre vós” (Jo 12,8) é provocadora. A preocupação de Judas não eram os pobres, mas o que cairia na bolsa comum. Jesus parece indicar que se deve sempre ter os olhos voltados para os necessitados, que sempre existirão, mesmo num mundo muito rico. Por que o rico tem facilidade em se afastar de Deus e da religião? Porque é questionado e estimulado a partilhar. Os pobres são preferidos, pois têm sua última esperança em Deus. Ainda mais que Deus os assume para seus cuidados. São mais abertos à fé. Como conhecem as coisas de Deus, podem ser juízes, como nos diz Tiago (Tg 2,5): “Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam”. Julgar é mostrar a dependência de Deus. O problema não é ser rico. É discriminar o pobre. É bonito ver na Igreja a preocupação com os pobres, com a partilha, a solução dos problemas onde os pobres são os que pagam. Tiago é pratico.
Bendize, minha alma, ao Senhor!
           Diante do milagre o povo se maravilhou. E com o salmo bendizemos a Deus. O culto que celebramos ao Deus bondoso deve ser também um reconhecimento de suas maravilhas. Participamos dessas maravilhas quando damos esperança aos necessitados, como o fez Isaias. A ação libertadora de Deus no mundo não se faz com milagres estupendos, mas com o serviço fraterno, a vida doada em favor dos que sofrem, como também o cuidado com a terra (brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d’água” (Is 35,7,6-7ª). O cuidado com o ser humano e a terra são condições necessárias para realizar o milagre de curar surdos mudos e cegos. A Eucaristia só tem sentido se ela retorna a sua fonte humana que é o homem e a mulher que cuidam do paraíso terrestre (Gn 2,18).
Leituras: Isaias 35,4-7; Salmo 145;Tiago 2,1-5;Marcos 7,31-37
Ficha: nº 1786 - Homilia do 23º Domingo Comum (09.09.18)

           1. A cura do surdo-mudo é um milagre que abre à comunicação.
           2. Os pobres são preferidos, pois têm sua última esperança em Deus.
           3. O cuidado com o ser humano e a terra são condições para realizar o milagre de                 curar surdos, mudos e cegos

                              Pobre dá dor de cabeça             
           Parece que deste o tempo de Jesus os pobres são uma questão que sempre chama a atenção, pois sempre existem. Tem um propósito muito grande de nos questionar em nossa dimensão de caridade cristã. É fácil fugir do problema, lavar as mãos e dizer que não tem solução. Jesus, dizendo que sempre os teríamos, está a recordar que a missão do amor não termina. É o amor que sempre vamos ter em nós, crescendo.
           A dor de cabeça que o pobre nos faz sofrer é o questionamento se estamos ricos demais a ponto de não precisar de Deus e prepotentes o suficiente para pensarmos que somos donos da Igreja, a ponto de S. Tiago dar uma bela aula de civilidade cristã: dar honra devida aos mais humildes.
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sábado, 8 de setembro de 2018

nº 1785 Artigo - “Santidade é missão”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

2088. A tua missão em Cristo
            Continuamos refletindo o ensinamento de Papa Francisco sobre a santidade. Sabemos que o assunto não cola muito no momento em que vivemos, mas é o único que tem a cola que garante para sempre. Francisco, nosso Papa, dá uma visão ampla que vai além do intimismo. A santidade é a união a Cristo e sua missão, passando pelo que Ele passou.  A missão é um caminho de santidade. Diz Paulo: “Esta é, na verdade, a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3). O Papa diz: “Cada santo é uma missão. É um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho” (GE 19). Santidade e missão se completam. “Esta missão tem o seu sentido pleno
em Cristo e só se compreende a partir d’Ele. A santidade é viver em união com Ele os mistérios da sua vida; consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com Ele”(GE 20). Vivemos a realidade do Mistério Pascal na proporção da bondade de Deus. Como cada um tem uma missão, tem também uma participação em algum aspecto da vida de Cristo: A vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor. Assim nós O encarnamos. Somos uma continuada encarnação de Cristo em nossas atitudes. “Tudo o que Cristo viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver n’Ele e Ele vivê-lo em nós” (GE 23).
2089. A Caridade plenamente vivida
           Normalmente temos a santidade como uma conquista pessoal, sofrida e constante. Santidade é o Cristo em nós. De nossa parte cabe a correspondência. O Papa afirma: “O desígnio do Pai é Cristo, e nós n’Ele. Em última análise, é Cristo que ama em nós, porque a santidade “mais não é do que a caridade plenamente vivida” (GE 21). Papa Bento XVI comenta: “Por conseguinte, ‘a medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a Sua’”  (GE 21). A beleza da santidade é a formação de Cristo em nós. Cada vez mais tornamos visível Cristo. Na perspectiva da presença de Cristo agindo em nós, somos sua imagem viva. Por isso acrescenta o Papa: “Assim, cada santo é uma mensagem que do Espírito Santo. Tira da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo”. Vemos como há na santidade o movimento do Espírito que nos une a Cristo, configura-nos com Ele, e a seguir extrai de nós essa mensagem do Espírito. Somos parte de um corpo e O manifestamos aos outros. Ser santo não significa não ter defeito e ter tudo muito certinho na vida. É um constante caminhar. No caminho da santidade nos deparamos com erros e falhas. Exigimos de uma pessoa santa a perfeição total e nos esquecemos dos nossos defeitos, como não pudéssemos ser santos. É justamente a permanente luta que vai demonstrar a grande santidade.
2090. Deixa-te transformar
            Tudo parece bonito, mas muito distante de nosso cotidiano. Mas a chamada está ai. Insistente. Não é preciso ser santo, é preciso procurar a santidade na medida em que a Palavra, o Espírito e a Igreja nos estimulam e chamam. Quando damos passos, os passos se repetem e Deus faz a transformação. Nós não vemos, mas o Senhor sabe o que faz em nós. A vida de um santo é muito humana. Dizem que, quando S. Terezinha morreu, uma co-irmã disse: “o que vamos dizer dela? Ela não fez nada de especial!” Especial é o amor que vivemos. Precisamos conceber a totalidade da vida como uma missão. Quanto mais transformados, mais atuamos na missão, pois Cristo age em nós.
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sábado, 1 de setembro de 2018

nº 1784 - Homilia do 22º Domingo Comum (02.09.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Para que vivais” 
Honrar com o coração
           Voltamos a ler o evangelho de Marcos, depois de termos refletido sobre o ensinamento sobre o Pão da Vida (Jo 6). Hoje ouvimos as palavras de Jesus sobre o puro e o impuro. Esse texto, explicado pelas outras leituras, mostra que a observância da lei mantinha a unidade e a esperança do povo na realização das promessas de Deus que é o sentido da real obediência. Jesus ensina que não se pode deixar de lado a lei de Deus para se fixar em observâncias inventadas pelos homens e mantidas em tradição mais forte que a Palavra.  A rigidez na interpretação da lei criou observâncias que estavam fora do espírito da lei. Era isso que Jesus condenava com toda sua força. Ele era a Lei, como ouvimos em seu batismo e em sua transfiguração: “Este é meu Filho amado, ouvi o que Ele diz” (Mt 17,5). Temos atualmente a tendência de aumentar as observâncias no campo litúrgico e moral e outros. Na verdade é uma desculpa para não cumprirmos o essencial do Evangelho ensinado por Jesus. Jesus não veio abolir a lei, veio levar à sua maturidade através que é a expressão do amor do Pai na realização da lei do amor que redime. Jesus disse: “Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens” (Mc 7,8). Este é o resultado de uma volta a doutrinas de um passado rigorista que foi condenado como heresia e volta com toda a força de verdade. Há pessoas que não aceitam nem o Papa porque cobra simplicidade e autenticidade.  O modelo é sempre Jesus em sua simplicidade, pobreza e dedicação aos sofredores e humilhados.
Lei de ser irmão
           Rezamos no salmo 14 a verdade sobre a vida perfeita. Quem vive com Deus e vai para o Céu? “Quem não prejudica o irmão, não insulta o vizinho, não dá valor ao homem ímpio, não empresta seu dinheiro com usura, nem se deixa subornar contra o inocente”. A observância fundamental está no mandamento do amor que se expressa de muitas maneiras no relacionamento. Tiago vê no cuidado com os irmãos, o cumprimento de toda lei. Isso vai fazer de nós, como nos ensina o livro do Deuteronômio, um grande povo, isto é, uma Igreja autêntica no amor ao próximo, sobretudo aos humildes. Diz o livro dos Provérbios “Quem zomba de um pobre insulta seu Criador” (Pr 17,5). (Os pobres são os parentes de Deus). Aqui é o momento de revisarmos nossa espiritualidade. Meu movimento, minha associação, minha congregação, meu sacerdócio, meu episcopado e coisas, mais são para quê? Onde se localizam? No meu coração, ou na minha roupa, em nossa euforia espiritual? Há demônio que precisa de muita oração e jejum para ser tirado de dentro de nós. 
Palavra que salva
           Jesus denuncia os fariseus e doutores da lei de ensinarem tradições criadas e abandonar a lei de Deus. Tiago nos diz: “Recebei com humildade a Palavra que foi em vós implantada, e que é capaz de salvar as vossas almas... A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,21.27). Viver autenticamente é caminhar na salvação. Obedecer a Lei de Deus e não esconder-se numa falsa religião de exterioridades. Vemos em muitos grupos muita espiritualidade que se torna vazia porque não se cumpre a Palavra de Deus no mandamento do amor. A fé católica nos leva a pensar nos necessitados. Ela é a instituição do mundo que mais faz obra social e caridade no mundo, dizem as pesquisas.
Leituras: Deuteronômio 4,1-2.6-8;Salmo 14; Tiago 1,17-18.21b-22.27;Marcos 7,1-8.14-15.21-23
Ficha: nº 1784 - Homilia do 22º Domingo Comum (02.09.18)
             
              1. Jesus condena a observância das exterioridades que matam o homem.
           2. A autenticidade da fé se mede na caridade autêntica que nos compromete.
           3. A verdadeira religião exige autenticidade na caridade.

                       Vestindo a vida

           Quando vamos escolher uma roupa, procuramos a que nos agrada, mas também que seja de nosso tamanho. Não é possível viver a fé sem que nos vistamos dela para que correspondamos a suas exigências.       
           A fé católica não é só a crença em alguns princípios, mas uma vida e um modo de vida de acordo com Jesus e seu Evangelho. Jesus é muito claro: “Se alguém quer ser meu discípulo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Não é possível salvar-se a não ser em Jesus. Ideologias não salvam. É no coração que residem nossas opções.
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