sexta-feira, 28 de setembro de 2018

nº 1793 Artigo - “O que vale o esforço humano?”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2100. Não basta só querer
            Continuamos a refletir, orientados por Papa Francisco, sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate (GE). Ele nos instrui sobre a santidade. Vimos nos outros artigos a questão do gnosticismo. Resumindo, diz que a heresia do gnosticismo que ainda está presente em muitos setores da vida da Igreja, leva a santidade para o lado do conhecimento intelectual. Com isso se descarta quem é ignorante, fraco e sofredor. Até Jesus acaba sendo deixado de lado em seu aspecto humano. Ao contrário dessa heresia aparece outra, não melhor, colocando a santidade unicamente no esforço pessoal humano. Esse não pode faltar, mas não é tudo. “Esquecia-se que isto não depende daquele que quer nem daquele que se esforça por alcançá-lo, mas de Deus que é misericordioso” (Rm 9, 16) e que Ele «nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19) – Já não era a inteligência que ocupava o lugar do mistério e da graça, mas a vontade (GE 48). Às vezes é complicado mostrar diretamente, mas está em plena ação entre nós. O Papa assim explica: “Quem se conforma a esta mentalidade (pelagiana ou semipelagiana), embora fale da graça de Deus com discursos bonitos, “no fundo, só confia nas suas próprias forças e sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico” (GE 49). Os que são fracos e não conseguem tudo que esses “tais bons” conseguem, sentem-se inferiorizados porque não conseguem fazer nem saem da dificuldade. E eles dizem que basta querer. Sem Jesus e sua graça, não se vai longe.
2101. Nada sem a Graça
            É comum as pessoas viverem certas dificuldades e não conseguirem sair delas. Então, quem se diz estar bem, acaba por dizer que a pessoa não quer, isto é, não tem vontade de sair dessa vida. Ele ou ela, que tem um nível espiritual se coloca como o santo que conseguiu chegar naquele ponto. E se dá o direito de julgar os outros. Nega-se nessa atitude que a graça de Deus não falha, mas os tempos de Deus são outros que os nossos. As fragilidades humanas não são curadas, completamente, e de uma vez por todas pela graça. O Papa Francisco cita então: “Em todo o caso, como ensinava Santo Agostinho, Deus convida-te a fazer o que podes e ‘a pedir o que não podes’ (GE 50). Alguns que se dizem bons de reza, quando veem alguém que não consegue, têm ousadia de dizer que esse não reza bem. Por isso não consegue. Rezar não é para ganhar coisas, mas para ganhar Deus e sua graça. A graça supõe a natureza, por isso não nos faz vitoriosos em tudo e a todo momento. Não somos super heróis. Fuja deles, pois no fundo é fachada. Os que vivem dando leis e cobrando dos outros são os novos hereges que repetem os antigos. Muitos vivem preocupados com o exterior, com os ritos, com as formas. O bom é reconhecer que somos fracos, necessitados e lutar pelo que buscamos.  Por isso, se recusarmos esta modalidade histórica e progressiva, de fato podemos chegar a negá-la e bloqueá-la, embora a exaltemos com as nossas palavras.
2102 . Nele nos movemos
            Corremos o risco de viver a mentalidade de lucro e de estoque dos bens espirituais. Isso nos dá o mérito e podemos cobrar de Deus as graças, luzes e milagres, pois somos bons. Deus pede a Abraão que ande na sua presença e seja perfeito (Gn 17,1). “Para poder sermos perfeitos, como é do seu agrado, precisamos de viver humildemente na presença d’Ele, envolvidos pela sua glória. Há que perder o medo desta presença que só nos pode fazer bem. É o Pai que nos deu vida e nos ama tanto” (GE 51).
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário