quinta-feira, 20 de setembro de 2018

nº 1791 Artigo - “A simplicidade da santidade”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

2097. Tudo é simples
            Em sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate (GE), o Papa Francisco não desaprova o conhecimento intelectual como bom instrumento para o crescimento na santidade. É preciso pensar, mas ainda não é tudo. A espiritualidade é uma doutrina sem mistério. Deus é simples. Correndo as etapas da história da espiritualidade encontramos muitos místicos que têm uma doutrina tão profunda que acaba não sendo acessível ao povo. Jesus não era assim. A doutrina que estamos tentando entender, o gnosticismo, vive só no intelectual, provocando uma espiritualidade desencarnada. E Jesus se encarnou. Na realidade, o que acontece é que o que se quer é ser dono do mistério de Deus, da graça e da vida dos outros (GE40). Pensam que Deus deve ser e agir do jeito que pensam. Não percebemos esses ensinamentos. Mas acabamos seguindo como ensinam. Perdendo a dimensão da encarnação de Jesus, não somos capazes de nos preocupar com o Corpo de Cristo que está presente no mundo, sobretudo nos pobres sofredores. Estamos cientes de que não poderemos nunca saber tudo sobre Deus. Mesmo servindo-nos da Palavra e da experiência pessoal podemos compreender muito. Mas ainda estamos somente começando. Há um risco de fazer a religião do jeito da gente. Nesse sentido essa doutrina quer dominar Deus e dizer onde Ele não está. Ele está presente também nas vidas arrebentadas e destruídas (GE 42). “Isto faz parte do mistério que as mentalidades gnósticas acabam por rejeitar, porque não o podem controlar. Não se deixam guiar pelo Espírito.
 2098. Inteligência que ajuda
            Somos limitados no conhecimento da verdade. “Só de forma muito pobre, chegamos a compreender a verdade que recebemos do Senhor. E, ainda com maior dificuldade, conseguimos expressá-la” (GE 43). A variedade que temos na Igreja nos ajuda a compreender melhor outros aspectos da mesma verdade. É um tesouro. A compreensão varia não em seu conteúdo, mas no modo de apresentá-lo e vivê-lo. A riqueza da manifestação de Deus entre nós é tão grande que não podemos absorver tudo de uma vez. Há sempre aprofundamentos que nos ajudam a enriquecer sempre mais essa revelação em nossa história. Por ser na história, assume as condições humanas na pessoa de Jesus que entrou em nossa história. Assim há sempre um processo de compreensão de acordo com os tempos. O critério de orientação deve ser sempre o Evangelho e não uma filosofia. Diz o Papa na mesma exortação: “Nossa compreensão da doutrina não é um sistema fechado, privado de dinâmicas próprias capazes de gerar perguntas, dúvidas e questões” (GE 44).
2099. Misericórdia é sabedoria
            Quando falamos de misericórdia, estamos acostumados a pensar em situações de graves necessidades. Misericórdia é uma atitude do coração que se transforma em atos de ajuda. Podemos entender também na atenção, o respeito e o acolhimento do outro como fonte de sabedoria. Na África, quando morre um idoso, dizem que se queimou uma biblioteca. Eles acumularam a sabedoria da vida. Temos uma situação de paróquias onde dizem que perdemos tempo com “as velhas” da Igreja. Ali há uma sabedoria vivida. Podem ser analfabetos, mas sua santidade não os deixa menores. Ninguém é superior. Saber muito é a possibilidade de ajudar a fazer o intercâmbio e a troca entre a vida e a ciência. Gastar tempo com os humildes para aprender deles é a maior escola e o tempo bem utilizado. S. Francisco escreve a Sto. Antônio pedindo que ensine aos frades, mas sem perder a devoção (GE 46). A ciência das coisas de Deus sem o amor não é prova de santidade.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/

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