segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

nº 1723 Artigo - “O mal não é tudo”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
1996. Não existe só o mal
Temos refletido sobre a maravilha que é o Reino de Deus. Ele cresce misteriosamente, está aberto a todos e tem uma energia irreversível. Na linguagem de Paulo, conduz todas as coisas a Cristo: “Deus deu-nos a conhecer o mistério de sua vontade... a de em Cristo recapitular todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra” (Ef 1,9-10). O crescimento do Universo é inexorável e culmina em Cristo. O Reino de Deus age no mundo. O mundo não é domínio do Mal. No evangelho de Marcos vemos como o mal reconhece Jesus que cala sua boca. Vemos tantas coisas más no mundo. Coisas inacreditáveis que saem do coração que opta pelo mal. Mas existe também o bem, o bom, o justo, o amável e o feliz. Por mais que haja trevas, uma réstia de luz é maior. Temos a tendência de ver somente o lado negativo e triste das coisas. Não sabemos apreciar o que há de bom e de bonito. O que os noticiários apresentam? As desgraças estão em alta. Não se apresentam as coisas boas e bonitas porque as pessoas querem desgraças. O mal é notícia. O bem é maior. É uma doença que temos de ver só o negativo. Uma terapia para um mundo melhor é salientar o bem e promovê-lo. As coisas boas não são notícia. Paulo ensina: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12,21). Temos o hábito de só ver os erros, os pecados, os males e não nos fixamos no que é bom e dá bons frutos. Nossos males e maldades não podem ser o critério do mundo.
1997. O mal não é o fim
Quando estamos doentes ou passamos alguma dificuldade, enfrentamos problemas, sempre estamos pensando que é o fim, que não vamos aguentar, e só falamos daquilo. Quando nós (de certa idade) conversamos, sempre doença e remédios são temas comuns. Claro que precisamos de vida. Mas... As pessoas têm solução. As situações não são o fim. O mal não pode ser a filosofia de nossa vida. “Se teu olho estiver são, todo seu corpo será iluminado” (Mt 6,22). Não somos capazes de ver o lado bom e a força de viver, sabendo que podemos vencer os males pessoais e do mundo. “Não maldiga o mal, acenda uma luz”. Esses provérbios são sínteses de uma vida bem vivida. Percebemos também em nós a tendência à maledicência onde vemos os defeitos dos outros e nos esquecemos que eles estão em nós, por isso os encontramos nas outras pessoas. O mal não é o fim. Todas as pessoas e situações podem ter seu bom encaminhamento. O que não tem solução, já está solucionado e tem que ser assumido. A serenidade diante dos acontecimentos pode ser muito boa para nossa saúde mental e espiritual.
1998. Tirar o bem do que é mau
Há um provérbio que resume essa verdade: “Se Deus te dá um limão, faça dele uma limonada”. É um princípio filosófico: “Do bem só se tira o bem, do mal se pode tirar o mal e o bem”. É um convite a uma maior serenidade nas vivências difíceis e complicadas e que temos como mal. É preciso o conhecimento de si mesmo para não projetar sobre os outros as nossas doenças espirituais. É muito triste quando vemos os outros somente pelo lado mau. Todos têm coisas boas e podem contribuir. O mundo passa por situações difíceis que podemos solucionar. Deus deu à humanidade um Reino que pode restabelecer todas suas dificuldades e doenças. Jesus nos dá o mandamento do amor que pode facilitar os relacionamentos e nossa posição clara no mundo. Estamos para servir e dar a vida, sobretudo aos mais abandonados da sociedade. Vendo o mundo por seu lado bom, podemos viver melhor e dar mais vida ao mundo e ao homem.

domingo, 28 de janeiro de 2018

nº 1722 - Homilia do 4º Domingo Comum (28.01.18)


 Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Ensinamento com autoridade”

Ser profeta em tempos maus
            A pregação de Jesus provocava grande admiração no povo. Ele via Nele um profeta e um mestre diferente do modelo ao qual já estavam habituados a ver nas sinagogas. O poder que Jesus demonstrava não estar apenas em seus milagres e no choque com os demônios, como nos diz Marcos. O que impressionava era o modo como ensinava. Jesus continua a vida da sinagoga num ritmo novo, buscando na Palavra de Deus sustento para a vida do povo. Não ficava repetindo frases feitas e tradições inúteis, aquelas que muito O irritavam. Ele é profeta. Havia um ensinamento que vinha do Deuteronômio (18,15), sobre um profeta como Moisés. Esse seria o Profeta e não simplesmente um profeta a mais. Vimos nos textos sobre João Batista que lhe perguntaram se ele não seria o Profeta. “Ele disse: Não!” (Jo 1,20). Ensinar com autoridade não era uma questão de poder, mas de densidade de pregação que nascia de seu interior no contato com a Palavra e com o Autor dessa Palavra. Jesus, homem que buscava o Pai, tinha na sua oração a capacidade de acolher as palavras do coração do Pai. Os tempos são maus em todos os tempos, pois o mal faz seus discípulos e impõe ao mundo suas maldades. A força profética de Jesus é descartar esse poder, que diziam ser possessão do demônio. Marcos mostra a vitória de Jesus contra o mal. O demônio o chama de Santo de Deus. Diante do Bem, o mal confessa sua inutilidade. Iniciando o novo tempo litúrgico somos convocados a seguir o Profeta Jesus.
Não fecheis o vosso coração
            Pela abertura do coração à Palavra de Deus podemos tirar o mal, o demônio, do caminho da fé. A tentação está presente na vida do homem e da mulher desde o início da humanidade. Deus não nos fez bonecos que Ele molda sem nossa participação. Deus quer que O escolhamos, que abramos nosso coração a sua presença e a sua graça salvadora. O mal nos faz escravos; a graça nos torna livres. Deus não se impõe, propõe. Diante do anúncio dado pelo profeta Jesus, somos convidados a abrir o coração: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: ‘Não fecheis os corações como em Meriba’” (Sl 94). Jesus não vai tirar nossos “demônios” com gritos, mas com nossa colaboração de fé. Não busquemos milagres em nossa vida cristã. O grande milagre é ouvir a Palavra e converter nosso coração mudando nossas vidas a partir da Palavra de Jesus. Seu ensinamento movia os corações. Quem procura ser profeta de Jesus, anunciador de sua Palavra e Vida, tem que ser coerente. É triste ver os cristãos com vida dupla. Uma coisa na Igreja e outra na rua.
Equilíbrio, fé e vida
            A vida de fé exige sempre uma vida coerente. Paulo, na carta aos Coríntios (2Cor 7,32-35) coloca uma questão difícil. Os cristãos esperavam a volta de Cristo ainda naquela geração. Jesus deixara algumas questões que levavam a esse pensamento. Então, por que se casar e não aproveitar para preparar a vinda do Senhor? O casamento exige muita preocupação e ocupação para viver bem casado. Nem por isso é contra o casamento e a vida afetiva. Queria que fossem como ele dedicados ao Senhor. Podemos entender o ensinamento de Paulo na sua totalidade: em qualquer circunstância da vida que escolhamos, vivamos para o Senhor na caridade como nos vai indicar em outros textos. A caridade será sempre a raiz de todos os bens. Podemos também lembrar que toda vocação pode realizar plenamente o Evangelho em nossa vida.
Leituras: Deuteronômio 18,15-20; Salmo 94; 1Coríntios 7,32-35; Marcos 1,21-28.
Ficha nº 1722 - Homilia do 4º Domingo Comum (28.01.18)           
1.      Jesus é um profeta a ser ouvido não pelos seus milagres, mas por sua palavra.
2.      É preciso ter um coração aberto para acolher.
3.      A vida humana, vivida cristamente, é um caminho completo para a salvação.

Xô Satanás.

            Jesus aprontava umas boas e bonitas. Havia na sinagoga um homem com um espírito mau que começa a provocar Jesus. Com duas palavras Ele manda o espírito embora. Isso tem que ser entendido como um homem mau que provocava Jesus. A pregação de Jesus foi suficiente para transformar o homem.
            O povo se deliciava com as palavras de Jesus, pois tinham conteúdo humano e Divino. Isso faz dele o Profeta prometido. Jesus não está concorrendo com o mal. Ele é o Senhor da vida e dos corações.
            Paulo, que era solteiro, acha que sua atitude é o melhor modo de esperar a vinda de Cristo que estava próxima. Mas ele mesmo reconhece que, vivendo bem em qualquer estado de vida, estamos na espera do Senhor.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

nº 1721 Artigo - “Um Reino que cresce”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
1993. Força silenciosa
            O Reino de Deus é misterioso. Não que seja impossível ser conhecido, mas que sempre podemos compreendê-lo mais porque, como ação de Deus, é misterioso. Ser misterioso provoca a uma maior compreensão. Jesus diz que o Reino de Deus está entre nós (Lc 17,21). Por fim Jesus se identifica com o Reino. Aceitar Jesus é aceitar o Reino, como está unido ao Pai: “Aquele que receber uma destas crianças por causa do meu nome, a Mim recebe; e aquele que Me recebe, não é a Mim que recebe, mas sim Àquele que Me enviou” (Mc 9,37). O Reino é a força silenciosa de Deus que penetra todas as realidades. Nada de bom existe que não seja fruto do Bem Divino que gera vida. É o princípio filosófico: Do bem só tiramos o bem; do mal podemos tirar o bem ou o mal. Do mal podemos tirar muitas coisas boas. É próprio do bem difundir-se. O amor atrai sempre. Tudo que há de bom no mundo não é fruto somente de pessoas inteligentes e dedicadas, ou do acaso, mas do Reino que age. Deus está em toda parte e penetra todas as coisas, sem ser panteísmo. Todos somos instrumentos de sua bondade. Não há necessidade de um rótulo de uma Igreja, mas do carimbo de Deus que é a marca de sua misericordiosa benevolência que ama todo universo. “Nenhum passarinho cai na terra sem o consentimento do Pai” (Mt 10,29). Mesmo que não creiamos em Deus, o que fazemos de bem é obra de suas mãos. Somos criaturas e Ele é o Criador. Para Deus todos são iguais. O Reino está sempre em ação no mundo.
1994.Males que precisam de cura
            Um mundo tão bonito, gente tão bonita e boa, oportunidades maravilhosas e resultados magníficos não podem ser oprimidos nem reprimidos. Nossa missão, como amantes do Reino, é curar todos os males que prejudicam sua missão. Só há um caminho para por tudo nos trilhos. E Jesus viu e declarou: “Este é o meu mandamento: ‘Como Eu vos amei, amai-vos uns aos outros’” (Jo 13,34). Somente o amor é capaz de construir o Reino em sua total intensidade. Só que não acreditamos e preferimos outros caminhos. O amor tem uma ressonância universal que atinge pessoas, céus e terras. Não é poesia. É vigor e vitalidade. Quem acreditou no amor construiu para eternidade. Quando o ser humano se volta para si e só pensa em si, destrói a si mesmo. Fechar-se é não florescer nem dar frutos. Vemos o exemplo de S. Francisco: Amou todos e tudo. Por isso está vivo na memória da humanidade. O único mal que tem que ser vencido é o egoísmo. Fora disso, nossos males caem quando nos dedicamos aos outros. Por exemplo: depressão é doença. Um dos remédios é sair de si e ir ao encontro dos outros, do mundo, da natureza. Até com as plantas podemos dialogar e respondem com amor.
1995.Forças em ação
            Deus, para dar espaço ao crescimento do Reino, criou o homem e o pôs em diálogo com o mundo, com o outro e com Ele, Deus criador. Vendo os primeiros capítulos da bíblia. Não interessa que creia, mas que veja o que diz: pôs o homem no jardim do Paraíso para cultivá-lo. Ele deu o nome aos animais. De sua costela foi feita a mulher – quer dizer – para sua intimidade, complementaridade e diálogo. O homem não existe sozinho. A única coisa que tem que fazer é amar em tudo. É a única coisa que depende só dele. Aqui entra a missão da Igreja cristã que é dar ao mundo o testemunho de um amor atuante. Sem isso não é cristã, nem Igreja. Ser Igreja é ser proclamadora e testemunha desse Reino que se instaura no amor mútuo. Quanto perdemos com nossas inutilidades!

domingo, 21 de janeiro de 2018

nº 1720 - Homilia do 3º Domingo Comum (21.01.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Pregação do Evangelho”

Operários do Reino
Jesus, desde a Encarnação, já é Missão. Não ficou silencioso, pois todos sabiam que era o filho de José. Era um testemunho vivo que Se mostrará com o testemunho da palavra. A Ele se aplica a parábola da semente: "O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra... a semente germina e cresce sem que o semeador saiba como (Mc 4,26). Assim Jesus crescia até se manifestar a Israel. Não foi um tempo perdido, mas tempo de crescer.  Jesus começa a percorrer as cidades pregando: “O tempo já se completou: o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Iniciando seu ministério público com o anúncio do Reino, Jesus não o faz sozinho, mas começa a reunir discípulos que assumam com Ele a missão. O anúncio do Reino é obra de todos. Como Jesus é o fundamento do Reino, reúne em torno de si discípulos. O convite de Jesus é para que “ficassem com Ele para enviá-los a pregar”(Mc 3,14). Primeiro estão com Ele para aprender a viver e depois anunciar. Jesus constitui neles a primeira base do Reino com Ele. Não procura ajudantes, mas cria a comunidade que vai multiplicar sua palavra. O profeta Jonas é também um exemplo de um chamado por Deus para ir a Nínive e pregar a conversão da cidade (Jn 3,1ss). O tempo já se completou, mas ainda é atual, pois é o kairós, o tempo presente de Deus. É um passado que continua presente.
Mostrai-nos vossos caminhos
            Vivemos um mundo grande. Impressiona o vigor do anúncio de Jesus, seguido depois por seus discípulos. Iniciam em Israel, mas logo estão no centro do mundo, para de lá, irradiar. O centro é onde há necessidade de uma maior conversão, pois os bens materiais afogam qualquer conversão. Hoje tememos a cidade grande e ficamos na periferia, fora do risco e do perigo. Como evangelizar? Jesus deu preferência aos pequenos, mas estava sempre ensinando no templo que era o coração do povo de Israel. O eixo da pregação do evangelho é o chamado à conversão. O Evangelho deve penetrar as estruturas e mudar os corações. Fazemos a opção pelos humildes, porque são maioria, mas são eles que irão modificar as estruturas. Não esperamos leis e autoridades que as modifiquem, pois as leis das instituições favorecem os “donos” do poder. Estar com Jesus e ser enviado a evangelizar é o verdadeiro poder. Por isso rezamos com humildade, com constância, que o Senhor nos indique os caminhos e que sua verdade nos conduza (Sl 24). Não devemos temer a grandiosidade da cidade grande, pois o Reino de Deus tem a força.
A figura do mundo passa
            Paulo, diante da proximidade da vinda do Senhor, exorta o povo a viver o desapego das realidades humanas, sem as negar. Visa uma vida mais intensa no Reino na espera do Senhor que está para vir. Desligar-se dos bens do mundo, não é desprezá-las, pois não podemos viver sem eles. É o justo valor a eles que interessa. Esses bens não são “deuses”, mas estão a serviço. Desviá-los de suas funções em servir-nos equilibradamente, sem tentações, é empobrecer sua riqueza e sua finalidade de dar ao homem e à mulher, mais humanidade e maior geração de vida. A conversão ao Evangelho nos faz buscar nas bem-aventuranças o sentido de uma vida cada vez mais plena. É o testemunho que nos deu Jesus. Viveu em tudo a condição humana, menos o pecado” (Hb 4,15). Pecar é simplesmente usar mal e sem amor, o que foi feito para o bem e para maior amor.
Leituras: Jonas 3,1-5.10;Salmo 24; 1 Coríntios, 7,29-931;Marcos 1,14-20.
Ficha nº 1720 - Homilia do 3º Domingo Comum (21.01.18)
           
1.      O anúncio do Reino é obra de todos. Poucos, mas convertidos.
2.      Não ter medo da cidade grande, pois o Reino é forte.
3.      Os bens materiais sejam colocados a serviço da pessoa. Essa é sua finalidade.

            Acabou o desemprego
                       
Quando vemos Jesus iniciar sua missão queremos saber como cresceu tanto sem ter uma base humana consistente. Esses homens acreditaram na força do Reino. Embora fosse Filho de Deus passou por duras perseguições e até a morte. E venceu. Onde estava o segredo: estar com Ele e depois sair para anunciar a conversão.
Jesus nos deixou a certeza de que, se o seguimos, venceremos também.
A missão na cidade imensa como Nínive só se explica com o poder da conversão. Como fazer para enfrentar as grandes máquinas do mundo? Um parafuso que se modifica, pode desestruturar toda máquina.
Vivemos todos os bens do mundo. E com prazer. Mas colocando a serviço de todos. Aí podemos esperar o Senhor que vem. Não podemos fazer como se faz na sociedade sem Deus, explorando os necessitados, não se pondo a serviço dos marginalizados.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

nº 1719 Artigo - “O Reino é de todos”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
1990. Onde está o Reino
Falamos muito sobre o Reino de Deus, mas acabamos por não explicá-lo. Os evangelistas trazem diversas parábolas para explicá-lo. Não há uma definição. Quer dizer que não dá para explicar em poucas palavras.  Não temos conceitos que resumam essa maravilha de Deus entre nós. Apresentam diversos aspectos. Por isso mesmo Jesus dizia: “Desejareis ver apenas um dos dias do Filho do Homem, mas não o vereis. E vos dirão: ‘Ei-lo aqui! Ei-lo ali!’ Não saiais; não sigais” (Lc 17,22-23). Para facilitar as pessoas acabaram por identificar Reino com Igreja. Todas as igrejas afirmam: “Minha Igreja é o Reino de Deus” ou “aqui temos tudo para a salvação”. Tem e não tem, pois o Reino é sempre maior que a Igreja e que as igrejas. Podemos dizer que o Reino são as energias divinas que se implantam no mundo sem que o homem saiba, como o crescimento da semente. Não sabemos como (Mc 4,26-29). Onde está o Reino? Está presente como ação de Deus permanente no mundo. Sempre pronto a ser acolhido. Tem uma força transformadora que não depende de nós, nem de nossas leis. Por isso é muito bom a Igreja não querer por freios a Deus. Mas ser a primeira a se abrir à imensa grandeza da bondade salvadora de Deus que quer que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). A força transformadora do Reino conduz todos ao amor ensinado por Jesus. Esse amor ultrapassa os limites humanos e se estende ao infinito. O amor nunca acabará, diz Paulo (1Cor 13,8). É a dimensão infinita do Reino que sai do coração do Pai e vai ao último pequenino.
1991. Quem pertence ao Reino
            Jesus diz ao fariseu que o interrogara sobre qual era o maior mandamento: “Respondeste bem”, quando aponta que é o amor. E completa: “Não estás longe do Reino de Deus (Mc 12,34). Sendo o Reino o dinamismo Divino que penetra todas as realidades, podemos encontrá-lo por toda parte onde se vive o amor. Jesus nos deixou a comunidade da Igreja, fundada sobre os doze apóstolos. Temos esse semente Divina que se desenvolveu muito e penetrou os ensinamentos de Jesus e O anunciou por toda parte. Em dois mil anos a Igreja passou por muitas épocas. Nenhuma pode ser vista nem entendida com um único juízo. Cada época deu sua contribuição e deixou seus defeitos. Compete a nós não fixarmos a Igreja num tempo, mas ver o que Deus quer no momento para o desenvolvimento do Reino no mundo em cada região. Cada povo tem a riqueza que Deus lhe deu para ser um aspecto novo do Reino. Todo aquele que faz o bem no amor e na justiça é já habitante do Reino. Como povo de Deus podemos oferecer sempre mais as riquezas do evangelho para as culturas. Esse é o ensinamento do Vaticano II: “A Igreja deve encarnar-se nas novas culturas como foi a encarnação” (Ad Gentes, 22).
1992. Força do Reino
            Muitas vezes vemos a sociedade do ponto de vista do medo e da crítica felina: “No meu tempo era melhor”. O livro do Eclesiastes já critica essa posição: “Não digas: Por que razão foram os dias passados melhores do que estes; porque não provém da sabedoria esta pergunta” (Ecl 7,10). Se olharmos com sabedoria, veremos que há dificuldades, porque muitas vezes pregamos mal o Evangelho. Mas há grandes riquezas no mundo, nas comunidades que são resultados da ação do Reino. Há muitas atividades e riquezas na sociedade pouco cristã que nasceram dentro da Igreja. Podemos ver as universidades, as obras sociais, o cuidado com o mundo e tantas coisas mais.  O dinamismo do Reino está sempre presente.

domingo, 14 de janeiro de 2018

nº 1718 - Homilia do 2º Domingo Comum (14.01.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Eis o Cordeiro de Deus”

Vinde e vede
Encerrado o período natalino com a celebração do Batismo de Jesus, temos ainda sua Manifestação aos discípulos.  O segundo domingo do Tempo Comum nos traz os textos do evangelho das bodas de Caná e da apresentação que João Batista faz de Jesus aos discípulos. João O indica como o Cordeiro de Deus. Esse domingo une a Infância do Senhor com seu ministério. É notável o modo como acontece esse momento: Parte de uma experiência de Jesus. Em Caná “Jesus manifestou sua glória, e os discípulos creram Nele” (Jo 2,11). João mostrou Jesus a seus discípulos dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36). A expressão “Cordeiro de Deus” já era familiar no Antigo Testamento. O ‘Servo de Javé’ se identifica com o cordeiro levado à matança (Jr 11,19). A libertação do povo do Egito é celebrada com um cordeiro imolado e comido na Páscoa como sinal da libertação (Ex 12,5). O sangue do cordeiro poupou os primogênitos hebreus. O Novo Testamento vê em Jesus esse cordeiro cujo sangue, liberta (Ap 12.11). Quando Paulo diz “Cristo nossa Páscoa foi imolado” (1Cor 5,7), sintetiza todos esses ensinamentos. Jesus não inaugura seu ministério com um ensinamento, mas com um contato pessoal. À pergunta dos dois discípulos “onde moras?” Jesus responde: “vinde e vede”. E passam com Ele aquele dia. Significa que já era o início do dia seguinte. Vemos que a experiência de diálogo foi longa. Após essa experiência contam a Pedro e o levam a Jesus que o acolhe e lhe dá uma missão ao mudar seu nome: “Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, (que quer dizer pedra).
Eis que venho
            Samuel também fora chamado e deu a resposta positiva: “Fala que teu servo escuta”. O Salmo 39 nos faz compreender o sentido da resposta de Samuel, dos discípulos e do próprio Cristo. O sacrifício de Cristo não consistiu em vítimas sacrificadas, mas o sacrifício da vontade. A entrega da vida pelo acolhimento do chamado constitui a base da missão e da morte do Cristo. Diz Ele no horto: “Afasta de mim esse cálice; porém não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres” (Mc 36,14,36). A carta aos Hebreus confirma: “E graças a essa vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas”  (Hb 10,10). O Cordeiro apresentado por João será o Cordeiro sacrificado na sua entrega e na cruz. Tudo começou tão simples. Temos que sair da idéia de um Reino de Deus grandioso que abafa o universo. Jesus já disse que é como a semente... Tudo simples e pequeno com a força de Deus que é forte e não abafa. O Reino de Deus é para os violentos, os que sabem dominar-se para dominar. Para nós é preciso estar à escuta como Samuel. E fazer a vontade, isto é, acolher o chamado.
Santuário do Espírito Santo
            Seguir Jesus de corpo e alma é a prova de que O aceitamos. Colocamos nosso corpo como templo do Espírito, pois é Ele que age em nós. Cheios de Deus estamos sempre abertos para ir ao encontro de todos, como fizeram os dois discípulos que foram estar com Jesus. Como não pertencemos a nós mesmos, mas fomos “comprados pelo sangue de Cristo, somos seus membros e seremos ressuscitados. É com todo nosso corpo que acolhemos o convite de Cristo. É com todo o corpo que vivemos a fé e seremos enviados por Ele para levar outros a acolhê-Lo do mesmo modo. Aceitar Jesus é modificar a vida para que tudo seja de Cristo.
Leituras: 1 Samuel 3,3b-10.19; Salmo 39;2Cor 6,13c-15ª.17-20;João 1,35-42
Ficha nº 1718 - Homilia do 2º Domingo Comum (14.01.18)
           
1.    Continuamos na dinâmica da Manifestação. Deus apresenta seu Filho aos discípulos. Ele é o Cordeiro.
2.      A atitude de Samuel em querer ouvir, conduz ao cumprimento da vontade do Pai.
3.      Como templos do Espírito Santo, colocamos todo nosso corpo no acolhimento.

            Pescados no seco
           
Jesus procurou seus discípulos na beira do lago. Muito simbólico. Na Palavra de hoje, a pescaria é no enxuto, dentro da casa, num diálogo enriquecedor. João indica Jesus e os discípulos que fizeram a experiência que levam ao mesmo diálogo.
Toda vida de Jesus e sua missão está centrada em sua missão de ser o Cordeiro que faz a vontade do Pai. Entrega-se e é consumido por essa vontade.
João manifesta a seus discípulos o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Esse cordeiro supõe que os que o seguem passem pelo mesmo caminho, acolhendo a vontade do Pai e se entregando à missão de levá-lo aos outros.
Como Samuel, cabe a nós discernir os muitos chamados que Deus nos faz. E possamos responder como ele: “Fala que teu servo escuta”

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

nº 1717 Artigo - “Sal da terra e luz do mundo”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
1987. Homens para Deus
No dia 26 de novembro, festa de Cristo Rei, abriu-se o Ano do Laicato. É um tempo para refletir e tomar posições sobre o leigo na Igreja. Tem como lema a bela frase do Evangelho: “Vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14).  Com toda certeza serão feitos muitos estudos, reflexões, produções de músicas e outras definições. Esperamos que não seja mais um ano que passa e tudo fica do mesmo jeito. Há uma questão que domina o clero e os leigos em geral que é o clericalismo. O clero: padres, bispos e diáconos se põem em  uma atitude de donos da Igreja. Com isso, tudo depende deles. O Concílio já colocou o leigo em destaque. Ele não é um apêndice da Igreja. Se partirmos do Concílio e das muitas orientações dos Papas e estudos, podemos lembrar do protagonismo dos leigos. A Igreja é formada pelo povo de Deus. Cada um com seu carisma e dom. Não se trata de ver quem manda, mas onde e de que maneira todos podem servir. Precisaremos estudar muito e tomar atitudes que levem as comunidades a assumirem mais profundamente sua identidade de cristãos. Aquela atitude dos leigos de dizerem que o padre é quem sabe, tem que tomar novos rumos. E o clero saiba que o seu lugar é muito precioso e necessário. Quanto mais o leigo assume, mais ele necessita dos ministros da Igreja em sua missão e ministério. Não vai mudar a estrutura, mas as mentalidades. Se por um lado existe uma dependência excessiva, há também uma ojeriza incompreensível de padre.   A partir dos documentos da Igreja do Brasil poderemos contribuir muito com as comunidades na reflexão sobre esse tema.
1988. Homens e mulheres para Deus
            Vamos olhar os personagens da história da salvação. No judaísmo, a tribo de Levi tinha funções no templo. A famílias de Aarão, foi escolhida para o sacerdócio que era concedido por via de nascimento. Mais ninguém exercia esse ministério no templo. Então, José e Maria não eram de família sacerdotal, mas descentes de Davi, família real. Jesus era necessariamente leigo, pois era da tribo de Judá. É Sumo-Sacerdote a partir de sua Morte, Ressurreição e Glorificação. Zacarias e Isabel eram da tribo de Levi, da família de Aarão (Mt 1,5). João Batista era de família sacerdotal. Vemos ainda: os Magos eram leigos. Não sabemos nada sobre eles. Na Igreja, os homens podem ser sacerdotes por serem batizados e homens. Quanto à mulher, é um assunto ainda em discussão. Não será para breve. Já se fala do diaconato para mulheres. Também está em estudo. Não se pode resolver o problema da falta de sacerdotes somente com a ordenação de casados ou diaconisas, mas fazer uma Igreja mais ministerial,, menos hierárquica. O sacerdote acumulou muitos ofícios e serviços da comunidade. Um músico não pode tocar ao mesmo tempo todos os instrumentos. Quanto mais somos de Deus, mas nos dedicamos.
1989. Limpando estradas
            O conhecimento da missão e vocação do leigo vai exigir muita conversão, pois não se trata só de uma dinâmica ou organização pastoral, mas de um processo de fé na missão de Jesus que continuamos. Dizia um teólogo redentorista, Durwell, que, nos tempos difíceis, devemos estar mais ligados ao Espírito Santo. Não estamos diante de um problema só de pastoral, mas é um processo de santidade. Só esse pode nos dar energias para mudar. Celebrando o Natal vemos que Jesus assumiu nossa humanidade. Todos estão unidos a Cristo em sua vida e missão. A humanidade de Cristo une todos a si.

domingo, 7 de janeiro de 2018

nº 1716 Homilia da Epifania do Senhor (07.01.18)


 Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Os Magos vieram do Oriente”

O Senhor se manifestou
             Celebramos a Manifestação do Senhor, a Epifania. A Manifestação do Senhor não se reduz ao dia do nascimento de Jesus, mas compreende outras celebrações que têm a mesma finalidade com aspectos diferentes. Temos o Nascimento no qual Jesus é manifestado aos pastores; temos a Visita dos Magos. Jesus é apresentado a todos os povos. No Batismo é manifestado aos judeus; e no início da pregação, Jesus é apresentado aos discípulos. Hoje, celebrando a Epifania temos a Palavra de Deus como profecia e realização. O profeta vê os povos vindos a Jerusalém em busca de Deus. O Evangelho narra essa cena tão diferente de uma caravana de homens importantes, estudiosos. Não eram reis, nem eram três. Nem sabemos de onde vieram. Misterioso. Querem ver o rei que acaba de nascer, pois viram a estrela. Temos a história do encontro com Herodes que promete ir adorar o Menino. Temos o encontro com Maria, José e o Menino. E voltam. Quem eram esses homens? São o Evangelho vivo do anúncio da salvação destinados a todos os povos. Foram embora por outro caminho. Temos em Colônia, na Alemanha, um magnífico relicário com os ossos de três pessoas, um jovem, um adulto, e um mais idoso. As narrativas dizem que voltaram a seus países e quando morrem são reunidos no mesmo lugar na Índia. Sta. Helena teria trazido suas relíquias a Constantinopla. Depois vão a Milão. Daí vão a Colônia como um presente do imperador a um bispo. A história é bonita, mas quanto à sua verdade, fica sempre o desejo de maior prova.
Luz para todos os povos
            O profeta Isaias (60,1-6) transmite sua profecia sobre o futuro de Jerusalém através da imagem da luz. As trevas são vencidas pela luz. “Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora” (Is 60 3). O retorno dos exilados é motivo de grande alegria. Virão em grandes caravanas trazendo como presentes ouro, incenso e mirra, como nós veremos nos dons oferecidos pelos Magos ao Menino Jesus. Mais que um fato é um ensinamento profundo sobre a redenção. Jesus veio para todos. Não somente para um povo ou uma raça. Todos de agora em diante são da raça de Jesus, filhos do mesmo Pai. É a revelação de um mistério oculto que agora é revelado pelo Espírito: “Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Is 60,5-6). Isso desperta a Igreja a não criar em torno de si uma casta de gente escolhida e privilegiar certas culturas em detrimento de outras.
Voltaram por outro caminho
            A visita dos Magos ao Menino de Belém não foi sem tensões. Como todos cientistas, são simples e crêem na bondade dos outros. Mas são expertos. Eles seguiram a estrela. Agora tomam outro caminho, guiados pela estrela verdadeira, aquela que ilumina todo homem que vem a esse mundo (Jo 1,9). Tomar outro caminho não é só não fazer o jogo de Herodes, mas o do Menino. Quando chegaram procuraram o rei para se informar. Depois que encontram o Menino, são guiados pela luz de sua simplicidade e humildade. Abrem-se caminhos novos. Não sabemos quem eram, mas são um testemunho claro de que crer em Jesus não diminui o homem, como costumamos ver em nossos intelectuais. Pelo contrário, enriquece muito mais, pois o torna senhor de um campo de mais vida e de conhecimentos.
Leituras: Isaias 60,1-6; Salmo 71; Efésios 3,2-3ª.5-6;Mateus 2,1-12
Ficha nº 1716 - Homilia da Epifania do Senhor (07.01.18)
                                         
1.  A Epifania é a Manifestação do Senhor. Os Magos representam todos os povos.
2.  Jesus é luz para todos os povos. A Igreja deve abrir-se a todas as culturas.
3.  Voltar por outro caminho é ser guiado pela Luz de Jesus.

Velhos, mas não bobos

            A história dos Reis Magos, que celebramos na liturgia e na cultura popular nos dá uma noção muito clara da força que tem quem crê em Jesus. Sua fé nas Escrituras os fez estudar os astros à luz da Palavra. Ali encontraram o caminho de Belém. Encontraram a Palavra Viva, o Menino, e puderam orientar-se por um caminho novo. Agora era o Menino que guiava a estrela.
            Não sabemos quem eram eles. Sabemos que eles continuam vivos em todos os que buscam Deus de coração sincero e sabem fazer longos caminhos de reflexão e de busca para da Verdade para que o mundo seja melhor.