sábado, 25 de agosto de 2018

nº 1783 Artigo-"Santidade na simplicidade”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2085. Projeto irrepetível.
            Lendo a instrução do Papa Francisco sobre a santidade e espiritualidade, sabemos que Deus nos chama, cada um por seu caminho e em suas condições pessoais. Isso parece tão claro e óbvio. Mas não era assim. Vemos que os primeiros santos brasileiros só aparecem há poucos anos. Dizia-se: “Brasileiro não vira santo”. Os modelos pareciam não ser humanos e eram impecáveis, o que impedia os “pobres pecadores” de chegarem à santidade. Cada um é santo de um jeito e nas suas condições. E diz o Papa: “Isto deveria entusiasmar e animar cada um a dar o melhor de si mesmo para crescer rumo àquele projeto, único e irrepetível, que Deus quis, desde toda a eternidade” (GE 13). Não se trata de relaxar a verdade. Mas todos podem viver o mandamento do amor. Cada um apresenta um aspecto de santidade. A santidade não é reservada a poucos. Mas todos recebem o chamado desde o seio materno como foi com Jeremias (Jr 1,5). Não há uma categoria reservada. Os que vivem as ocupações de cada dia também podem e devem ser santos. A santidade se faz no normal da vida, sem mistérios, dando testemunho nas ocupações em que vive. S. Francisco de Sales e S. Afonso ensinam isso como elemento importante na vida da Igreja. Os padres, os bispos, os religiosos e o povo também devem ser santos. E nem sempre somos.  S. João Paulo II, quando criticavam que ele fazia muitos santos, respondeu que tinha feito santos muitos leigos, jovens e crianças. Lembramos os pastorinhos de Fátima. Sabemos que há muita gente fora da Igreja que vive a santidade da justiça e do amor.
2086. Graça do Batismo
           Pelo Batismo todos nós recebemos esse chamado. É nele que se fundamenta a santidade, pois nos dá a graça santificante e nos põe no caminho da prática do Evangelho. “Deixa que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida" (Gl 5,22-23). Veja como o Papa é humano no caminho da santidade. Isso é experiência pessoal: “Quando sentires a tentação de te atrapalhar na tua fragilidade, levanta os olhos para o Crucificado e diz-Lhe: ‘Senhor, sou um miserável! Mas Vós podeis realizar o milagre de me tornar um pouco melhor’. Na Igreja, santa, formada por pecadores, encontrarás tudo o que precisas para crescer rumo à santidade. O Senhor cumulou-a de dons com a Palavra, os Sacramentos, os santuários, a vida das comunidades, o testemunho dos santos e uma beleza multiforme que deriva do amor do Senhor” (GE 15). A santidade não depende só de nossos esforços pessoais. Temos o apoio de tantos meios na vida da Igreja a começar pela graça do Batismo que nos faz filhos de Deus.
2087. Pequenos gestos
            “Esta santidade a que o Senhor te chama, irá crescendo com pequenos gestos” (GE 16). Há um segredo na santidade sem grandes gestos e acontecimentos. Um beato redentorista, Gaspar Stanggassinger, em seu processo e beatificação houve a observação de um examinador: “Ele não fez nada de extraordinário”. A resposta foi simples: “Ele viveu de modo extraordinário, as coisas ordinárias da vida”. Podem aparecer grandes desafios, como no caso dos mártires. Mas o Senhor não abandona. O Papa conclui: “Deste modo, sob o impulso da graça Divina, com muitos gestos, vamos construindo aquela figura de santidade que Deus quis para nós: não como seres auto-suficientes, mas ‘como bons administradores das várias graças de Deus”’(1Pd 4,10) (GE18). Participamos de sua Ressurreição.
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domingo, 19 de agosto de 2018

nº 1782 Homilia do 21º Domingo Comum (26.08.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Provai e vede”

Uma proposta de vida
            O Espírito é que dá vida, a carne de não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida” (Jo 6,63). Ao completar seu discurso sobre o Pão da Vida que culmina na frase que escandalizou todos, pois se tratava de comer sua carne e beber seu sangue para ter união com Ele. Mesmo os discípulos estavam desconcertados. Jesus não diminui a força de seu ensinamento e diz aos poucos que sobraram com Ele: “Vós também não quereis ir embora?” Jesus não diminui seu ensinamento para agradar. O mesmo fizera Josué propondo ao povo uma escolha: ou voltar aos deuses dos antigos pais da Mesopotâmia ou da população do país, ou ao Senhor? Não obriga, mesmo dizendo que ele e sua família serviriam o Senhor (Js 24,15-17). É uma questão de vida. Seguir o Senhor é optar pelo que Ele propõe. Não se trata de mudança de doutrina para agradar. Deus oferece a vida e não escravidão, como é a proposta possível de voltar ao Egito. A tentação de voltar atrás é permanente em nossa vida. A proposta de Jesus ao dizer que crer Nele é ter a vida eterna. Comer sua carne e beber seu sangue é ter a vida eterna. Alimentar-se de sua Palavra e alimentar-se de sua Carne é a mesma coisa. A fé que dá a Vida se sustenta com o alimento que dá a vida. Eucaristia, que é a finalidade das palavras de João, não é somente receber um pão como símbolo, é unir-se a uma Pessoa que dá sua Vida. É uma opção e deve penetrar todos os seguimentos da vida, como o fez Jesus
Para onde iremos?
            Os discípulos de Jesus disseram: “Esta palavra é dura, quem pode suportar?” (Jo 6,60).
Os apóstolos igualmente ficaram desapontados. E Jesus não entrega sua doutrina pelo aplauso. A proposta é definitiva. Como Josué toma uma posição, Pedro faz mais uma profissão de fé na pessoa de Jesus: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus” (Jo 6,69). A palavra de Jesus quer conduzir os discípulos a uma decisão definitiva por Ele, mesmo correndo os riscos de, como Ele, serem recusados na comunidade. A Eucaristia, no ensinamento de João é um ato definitivo. Ou creio ou me retiro. Não podemos, diante dela, ficar amorfos, sem vida e sem opção. É o que vemos nas missas dominicais. A Missa não os modifica. Pior que negar é não tomar conhecimento da verdade ali presente. A presença de Jesus como pão e vinho não nos impressiona. Na verdade, não sabemos o que estamos fazendo. Somente depois que fazemos a escolha por Jesus, podemos entender melhor o Sacramento que nos é oferecido. Ele modifica nossa vida. Não podemos nos deixar levar pelo minimalismo religioso de estar na igreja e não sermos Igreja dos que creem em Jesus. Por isso tanto abuso. A Eucaristia não são só ritos. É Vida Eterna.
Um projeto de amor
            O texto de Paulo aos Efésios não foi escrito como explicação do texto do Evangelho, mas podemos refletir que a família, o matrimônio cristão, é a célula que traz em si a opção por Jesus e a recusa de seguir outros deuses, pois amor de dedicação e entrega só se encontra no Deus de Jesus, na Trindade, simbolizada também na terra prometida. Mesmo que o texto tenha uma conotação diferente da nossa, podemos entender que Paulo insiste que cada um viva para o outro, usando os termos: “ser solícito” um para com o outro. Usa a comparação Cristo e Igreja. O amor de Cristo por sua Igreja é uma opção total a ponto de dar a vida. A Igreja é solicita por Cristo dando-lhe tudo de si.
Leituras: Josué 24,1-2ª.15-17.18b;Salmo 33;Efésios 5,21-32; João 6,60-69.
Ficha nº 1782 - Homilia do 21º Domingo Comum (26.08.18)
           
1.  Jesus como também, Josué pede uma resposta de opção vital.
2.  A escolha de Jesus nos direciona também na opção sacramental.
3.  O matrimônio realiza e exemplifica a opção por Cristo.

Jesus, corda curta

Esse texto do evangelho no qual Jesus não aceita que se creia pela metade. Não em doutrina de compromisso. Não aceita a frase que muitos dizem: Sou católico, mas não aceito tudo. Negar uma verdade é negar Aquele que a ensinou. Trata-se de doutrina, não de coisas exteriores.
Diante da posição de alguns que se afastaram por não aceitarem a proposta de comer sua carne e beber seu sangue, o que era totalmente novo para eles. Jesus não recua.  Isso era vital. Crer Nele é ter a vida eterna. Comer sua carne e beber seu sangue é ter a vida. Ele não precisa e nem quer quem negue essa verdade. Prefere ficar sozinho. Mas não arreda pé de sua verdade.
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sábado, 18 de agosto de 2018

nº 1781 Artigo - “A bela face da Igreja”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2082. A beleza da santidade
            Papa Francisco, em sua reflexão sobre a santidade, leva-nos ter uma visão otimista sobre ela. Houve um tempo em que se ensinava que tornar-se santo era impossível. Ainda mais sendo brasileiro. Temos que dizer que não ficar santo é muito mais difícil. Ele nos diz que podemos e devemos “nos estimular pelos sinais de santidade que o Senhor nos mostra através dos membros mais humildes do povo”... “Esses homens e essas mulheres do povo não fazem a história e não estão nos livros de história. Mas são eles quem constroem o mundo” (GE 8). “A santidade é o rosto mais belo da Igreja. Mas, mesmo fora da Igreja Católica, o Espírito suscita sinais de sua presença, que ajudam os próprios discípulos de Cristo.  São João Paulo II lembrou-nos que o “testemunho, dado por Cristo até ao derramamento do sangue, tornou-se patrimônio comum de católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes”. Na sugestiva comemoração ecumênica, que ele quis celebrar no Coliseu durante o Jubileu do ano 2000, defendeu que os mártires são “uma herança que fala com uma voz mais alta do que os fatores de divisão entre os cristãos” (GE 9). Há santos fora da Igreja católica e mesmo fora do cristianismo. Deus é quem faz o santo. A Igreja proclama.
           2083. O Senhor chama
            Insiste ainda que em tudo isso é importante reconhecer a chamada que Deus dirige a cada um: “Sede santos, porque Eu sou santo” (Lv 11,45;1Pd 1,16). O Concílio Vaticano II salientou vigorosamente: “Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho (GE 10). Essa é a grande verdade que tira aquele exclusivismo de pensar que poucos são santos e destes somente padres e freiras. Por isso acentua: “‘Cada um por seu caminho’”, diz o Concílio. Não há só um modelo de santidade. Não temos que copiar ninguém. Temos que seguir sua paixão por Jesus e pelo amor aos irmãos. Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, como Deus colocou nele de modo muito pessoal (1Cor 12,7), e não se esgote procurando imitar algo que não foi pensado para ele. Todos somos chamados a ser testemunhas, mas há muitas formas diferentes de testemunho. Pois a vida divina comunica-se “a uns de uma maneira e a outros de outra(GE 11). Cada um mostra um lado da santidade de Deus. Só Ele é santo. Mas nos leva a participar de sua santidade, cada um de seu jeito. A vida da Igreja, a vida religiosa e sacerdotal queria igualdade para todos no mesmo estilo. Curiosamente vemos que Deus nos fez totalmente diferentes uns dos outros. Cada um é uma face de Deus. Se colocarmos todos com a mesma feição, ocultamos uma face de Deus.
2084. Santo gênio feminino
            Continua mostrando as diferenças. Agora lembra uma diferença muito grande: “A propósito de tais formas distintas, quero acentuar que também o «gênio feminino» se manifesta em estilos femininos de santidade, indispensáveis para refletir a santidade de Deus neste mundo”. E precisamente em períodos nos quais as mulheres estiveram mais discriminadas, o Espírito Santo suscitou santas, cujo fascínio provocou novos dinamismos espirituais e reformas importantes na Igreja. Podemos citar Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; E continua uma maravilhosa lista de santas mulheres (GE 12). O modelo de santidade deve ser masculino e feminino. São muito diferentes. Infelizmente não foi assim. Cada um é diferente do outro. Justamente aí percebemos a infinidade de caminhos para Deus.
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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

nº 1780 Homilia da Assunção de Maria (19.08.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Assunção de Maria”

Bendita és tu entre as mulheres
            Celebramos na Assunção que é mais um privilégio magnífico da Virgem Maria, Mãe de Deus, Imaculada em sua concepção. Por esses preciosos dons que Deus lhe deu, temos quase como por consequência, sua Assunção ao Céu em corpo e alma. Aquela mulher, unida intimamente pela natureza e pela graça à pessoa de Jesus, “terminado o curso de sua vida terrena, foi levada em corpo e alma ao Céu”. Não sabemos como foi seu fim na terra, mas como é sua glória no Céu. A Igreja demorou um tempo para iniciar a celebração desse mistério de Maria que é como uma consequência de todos seus privilégios. Esse lhe foi concedido pela Ressurreição de Jesus. “Se em Adão todos morremos, em Cristo todos somos vivificados” (1Cor 15,22). O fundamento do dogma da Assunção de Maria encontra-se na permanente união de Maria com Cristo através de sua maternidade. O filho é sempre uma continuação do corpo da mãe e em razão de sua Imaculada Conceição. Como não poderia o corpo de Cristo conhecer a corrupção. Assim também o Corpo da Mãe, que não participara do pecado, não poderia se corromper. Se é destino de todo ser humano a morte, devido ao pecado. Maria, não tendo o pecado original, tinha a participação total da graça. A glória de Maria é acolher a Glória de Deus em sua contínua manifestação aos filhos queridos. Ela participa da glória de Deus, para manifestar também a certeza da glorificação dos filhos.
O Senhor fez maravilhas
             Temos o costume de ver os mistérios de Cristo como um momento e ali se encerra. Contudo, seus mistérios de salvação e vivificação permanecem como vida do povo de Deus. Nós vivemos o mistério da permanente assunção de todos para Deus. É a Ressurreição que toma nossa vida cristã. Estamos sempre a caminho do Céu, pois Deus nos atrai a Si.  O livro do Apocalipse narra que “Abriu-se o templo de Deus que está no céu e apareceu no Templo a Arca da Aliança (Ap 11,19ª). A Arca era a presença de Deus no meio do povo. Em Maria tornou realidade o que era símbolo. Ela tinha em si o maná, Pão da Vida; a Palavra Viva que eram os mandamentos; e o sacerdócio, que era a vara de Aarão (esses objetos estavam dentro da arca no deserto). Agora nós os encontramos em Maria. Ela é a realização do que diz o Apocalipse: “Apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Maria, imagem da Igreja, é para todos a certeza da presença de Deus.  Ela louva a Deus por sua grandiosa generosidade. Ela não a tem para si, mas para todos os filhos. A grandiosidade de Maria a leva à maior humildade: “O Senhor olhou a humildade de sua serva”. Mas reconhece que essa ação de Deus é para o bem de toda a Igreja: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada. Honrar Maria é elevar a Igreja.
O dragão perseguiu a mulher.
            Simeão disse que uma espada de dor atravessaria a alma de Maria (Lc 2,35). O dragão continua perseguindo para devorar os filhos da Igreja. Vemos tantos que não compreendem o mistério de Maria. Por que?  A dor do Filho fere o coração da Mãe. O dragão quer Filho que é Homem e Deus? Por isso persegue os filhos. O Mal está fazendo o mal. O amor a Maria e sua presença na vida da Igreja são uma característica da vida de Cristo em nós. Quanto mais amamos Cristo em seu mistério de Redenção, mais encontramos sua Mãe. A festa da Assunção de Maria nos eleva a ver nossa condição de filhos que buscam a Mãe na casa do Pai. O mal do mundo será minorado na medida em que formos de Deus em Maria.
Leituras:Apocalipse 11,19ª;12,1.3-6ª;Salmo 44; 1 Coríntios 15,20-27ª;Lucas 1,39-56
Ficha nº 1780 - Homilia da Assunção de Maria (19.08.18)
                                         
1.    O fundamento do dogma da Assunção de Maria encontra-se na permanente união de Maria com Cristo através de sua maternidade.
2.      A Arca era a presença de Deus no meio do povo. Em Maria tornou realidade o que era símbolo.
3.      O amor a Maria e sua presença na vida da Igreja são uma característica da vida de Cristo em nós.

            Escadinha do Céu

            Jacó sonhou com uma escada que subia da terra ao céu (Gn 28,10-19). É um símbolo de Maria. Em Aparecida havia um lugar onde distribuíam ajuda aos pobres. Era chamado de “Escadinha do Céu”. Crer na Assunção de Maria é crer no mandamento de Jesus de amar o próximo. Assim fazemos nossa assunção, buscando com o coração e sendo levados pelo amor de Deus. Nada de milagres. O grande milagre e o grande dom de Deus é o amor.
            Viver atentos às coisas do alto para participar de sua glória. É incomensurável a alegria de quem ama. É maravilhosa a alegria de quem ama Maria e a tem como sua alegria.          
            Maria, com seu canto “Minha alma engrandece o Senhor”, nos dá a lição fundamental da ação de Deus em nós: Reconhecer sua grandeza, nossa pequenez e a glória de poder servir os necessitados.
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sexta-feira, 10 de agosto de 2018

nº 1779 Artigo - Os santos estão conosco

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
1779. Nuvem de testemunha
           Iniciamos, no artigo 1777, uma reflexão sobre a espiritualidade e santidade a partir do ensinamento do Papa Francisco chamado “Alegrai-vos e exultai” (Gaudete et exsultate). É um documento muito claro, simples e instrutivo. Vamos ler juntos essa maravilha. No primeiro capítulo fala-nos sobre a chamada à santidade. E reconhece que a santidade existe. Podemos dizer que “estamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus”.  Como somos um corpo que tem como os membros que já estão no Paraíso, os que estão na terra e os que estão no Purgatório. Esse é o Corpo cuja cabeça é Cristo. Por isso estamos em permanente união com os santos. Da parte de Deus somos todos santos, pois estamos unidos a Cristo, o “Santo de Deus”. Essa união com os santos é uma realidade necessária, uma vez que estamos unidos a eles. E diz o Papa, citando Papa Bento XVI: “Não devo carregar sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me” (GE 3). Os que já chegaram à presença de Deus, os santos, mantêm conosco laços de amor e comunhão (GE 4). Essa comunhão é a garantia que temos que a santidade existe e que participamos dela em qualquer condição que estejamos. Posso ser pecador, mas não excluído da força desse mistério de Deus do qual participa todo Corpo de Cristo. Os santos estão conosco em nossas dificuldades, também espirituais. Quando um corpo tem algo doente, todo o organismo se volta para recuperá-lo. Assim também é no corpo espiritual. Ninguém sofre sozinho. Todos estão unidos a ele. A santidade do Corpo de Cristo cura nossas feridas.
1780. Vida doada
           Papa Francisco deu-nos mais um critério de santidade. Reconhece o que nos ensina a prática da Igreja sobre o grau de virtudes necessárias para ser reconhecido como santo, seja na prática das virtudes seja o martírio. Mas coloca mais um aspecto que não era levado em conta: A doação da vida no dia a dia: Nos processos de beatificação e canonização, tomam-se em consideração os sinais de heroicidade na prática das virtudes, o sacrifício da vida no martírio e também os casos em que se verificaram o oferecimento da própria vida pelos outros, mantido até à morte. Esta doação manifesta uma imitação exemplar de Cristo, e é digna da admiração dos fiéis (GE 5). A dedicação a uma causa ou a pessoas, como no caso de pessoas doentes ou necessitadas, ou um trabalho social, é um critério muito válido para os processos de beatificação ou canonização. Na verdade é a caridade extrema de uma vida que se doa. Aqui encontramos até dentro de nossas famílias aquele ou aquela que tudo deixou para estar com os pais ou outras pessoas. A causa, mesmo sendo humana, é Divina, pois o amor é sempre Divino.
1781. Ninguém se salva sozinho.
            Temos a impressão que santidade é um problema pessoal. Diz o Papa: “O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus, porque ‘aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente’. O Senhor, na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem que pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar na dinâmica dum povo"(GE 6).  A vida da comunidade é o seio no qual cresce a santidade. Não podemos ter a santidade como algo totalmente pessoal. Vemos nos santos sua participação na vida do povo. Temos que fazer o caminho juntos.
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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

nº 1778 - Homilia do 19º Domingo Comum (12.08.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Provai e vede”

O Pai atrai ao Filho
            A liturgia apresenta nesse mês o discurso de Jesus sobre o Pão da Vida, do evangelho de São João evangelista. Esse texto é muito propício para podermos compreender a instituição da Eucaristia. João não relata a instituição da Eucaristia naquele momento da Ceia de Jesus, mas com esse ensinamento dá o sentido do gesto de Jesus e sua finalidade no Reino de Deus. Ouvimos a narrativa do milagre da multiplicação que nos faz compreender o momento da ceia quando Jesus tomou o pão e repartiu. E disse “Tomai e comei todos vós, pois isso é o meu Corpo, isso é o meu Sangue”. O texto lido hoje (Jo 6,41-61), nos apresenta Jesus como o Pão da Vida. Ele é muito mais que o maná que é seu símbolo. Os judeus começaram a murmurar sobre a declaração que Jesus faz sobre si mesmo de ter vindo do Céu. Mas eles O conhecem e conhecem seu pai e sua mãe. Passa então a outro nível de conhecimento: Jesus declara sua unidade com o Pai em sua Divindade. Para crer Nele, o Pai que o atrai. A fé é sempre um dom. Só crê quem o Pai atrai. Muda-se assim a noção de conhecimento que não é mais um saber, mas um conhecer a partir da comunicação do Pai. Comer a carne de Jesus no pão é receber a vida eterna e ter a garantia de ressurreição. Por causa de sua condição Divina, quem O recebe, recebe a vida éter, porque Ele é eterno. Quem dá vida é Deus. Está, pois, unido a Deus como Vida. Precisamos compreender que ter fé e comer a carne do Filho tem o mesmo sentido e finalidade. Estamos assim, recebendo a Vida. É Vida com Ele, pois o pão material dá vida terrena, unido à fé dá a Vida eterna.
Viverá eternamente
            A Vida eterna nos foi conferida por Jesus que entregou sua vida ao Pai pelo mundo. Nisso abriu para nós a possibilidade de viver a eternidade. Esta não é continuação da vida atual, mas é a condição nova em que poderemos viver. O Pai nos dá o dom da fé. Quando nos abrimos à sua proposta em aceitar o Filho. Aceitar Jesus não é um ato somente intelectual, mas vital. É vida. Quando somos capazes, em um momento, de viver como Jesus vivia, mesmo sem saber quem Ele era, estamos recebendo o chamado do Pai que nos coloca em comunhão com seu Filho. Jesus é o alimento. A fome de Deus é provocada pelo próprio Deus que nos estimula a buscá-Lo.  Buscar Deus é se deixar buscar por Ele. A afirmação de Jesus que vai dar a Vida eterna quem crer e se alimenta Dele sintetiza todo o Mistério Pascal que dá a vida. Por isso diz: “Quem crer possui a Vida eterna ... Quem comer do Pão nunca morrerá... Eu sou o Pão descido do Céu. Quem comer desse pão viverá eternamente” (Jo 6 41-51). Por que vive eternamente? Porque se alimentou pela fé e pela carne de Jesus dada para a vida do mundo. Entrar em contato pela fé recebe a vida.
Na força do alimento
            Se é vida gera energia e força na caminhada da vida. É o que nos apresenta a história de Elias que, vítima da perseguição da rainha Jezabel, foge para o deserto e vai para o Monte Horeb (Monte Sinai) para o encontro com Deus. Cansado e desiludido pelos sofrimentos, pede a morte. Vemos que até os bons podem se cansar. Deus dá a resposta para a força da caminhada: “Levanta-te e come” (1Rs 19,5). “Na força do alimento caminhou quarenta dias e quarenta noites até o monte de Deus” (8). É uma profecia sobre a força de vida que nos dá o Pão Vivo, Jesus. Crer e comer sua carne e beber seu sangue dá a Vida Eterna. É garantia de Ressurreição. Por isso: “Provai e vede quão suave é o Senhor” (Sl 33).
Leituras: 1Reis 19,4-8; Efésios 4,30-5,2; João 6,41-52
Ficha nº 1778 - Homilia do 19º Domingo Comum (12.08.18)

1.  O Pai nos atrai para crermos em Jesus que dá a vida através do Pão, seu corpo e, da fé.
2.  Quem crê em Jesus e se alimentar de sua carne terá a Vida Eterna.
3.  A força do alimento da Eucaristia sustenta longa caminhada.

            Questão de Cardápio

            Interessante! As coisas de Deus estão tão próximas de nós que as encontramos em nosso dia a dia. A fé muda tudo, mas parece que ficou do mesmo jeito. Pão é Cristo, mas tem jeito de pão. Vinho é sangue, mas tem jeito de vinho. Por que muda tanto? Deus é tão grande que nos deu Jesus de nosso jeito, mas era do jeito Dele. O pão tão bonito e sadio, parece que é só pão, mas com Jesus é Pão, alimento de Vida Eterna.
           
            Alimento de Vida Eterna é fazer a gente viver além da vida e penetrar nossa vida com a Vida. É tão gostoso brincar com Deus com nossas coisas e Ele entra na brincadeira e faz de nossa vida eternidade. Quer dizer que já vivemos o que vamos sempre viver. Vivemos do jeito de Deus.

nº 1777 Artigo - A que serve um santo?

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2076. Um dom para a Igreja
             Celebramos S. Afonso (01.08). Nós redentoristas não valorizamos o tesouro que temos em nosso fundador e em outros heróis da Congregação. O apreço acontece quando somos capazes de levar adiante o dom que receberam para o bem da Igreja. Não adianta jogar muito incenso, se não fizermos nossa parte no Reino de Deus. O santo pertence à Igreja, ao mundo e não a um grupo. Cada pessoa tem um carisma que é uma missão. Cada congregação também tem um carisma que foi um dom dado à Igreja. Tanto é que as normas de vida são aprovadas pela Igreja para justamente salvar a integridade do dom a ela concedido. Ele é uma leitura do Evangelho numa situação concreta. Essa leitura se desenvolve de acordo com as mudanças que ocorrem na realidade inicial. É importante essa análise, pois o carisma é dinâmico. Ser fiel ao fundador e às práticas históricas não é repetir o que fizeram, mas ter sua capacidade de responder com o mesmo ardor diante das necessidades que serão sempre novas. O carisma não é um museu. É um dinamismo o Espírito Santo para o bem da Igreja. Voltar às fontes, como nos convocou o Concílio Vaticano II, não é repetir, mas assumir o mesmo carisma em situações diferentes. Repetir por repetir, pode ser até fazer o contrário. S. Afonso entendeu que a aplicação prática seria diferente de acordo com os lugares. Podemos fazer pergunta: “O que faria hoje S. Afonso diante das novas situações e dos novos meios que possuímos”?Podemos fazer muito mais.
2077. Um modelo que estimula
            Na veneração dos santos queremos mais aproveitar de sua missão de intercessores que modelo que estimula. Ninguém nasce santo nem fica de uma hora para outra isento de todos os problemas e pecados. Eram frágeis como nós, mas tiveram a mesma batalha para vencer os males e fazer o bem. Afonso tinha uma preocupação muito grande que era fazer semprea vontade de Deus. Quando teve a inspiração de fundar a Congregação, não pensou se devia ou não, mas se essa era a vontade de Deus. Por isso consultou pessoas de grande competência. Depois, como diz o biógrafo, “acertado da vontade de Deus, deixou definitivamente Nápoles, foi para Scala para viver entre os casebres e os currais”. É preciso muito empenho para saber qual é a vontade de Deus. Tendo definido sua opção primeira que foi por Cristo e seu Evangelho, definiu o campo de trabalho, a opção pelos abandonados, o que caracterizou sua atividade. Para isso dirige toda sua vida, suas opções pastorais e intelectuais. E transforma essa opção em um modo de vida. Sua Congregação deverá estar voltada para os mais abandonados como lugar de vida, atividades e modo de ação. Se deixarmos esse caminho e não sermos continuadores dos dons de nossos santos, perdemos nosso sentido na Igreja e de Congregação.
2078. Uma proposta nova
             O carisma deve ser vivido pela Igreja. Por isso não olhamos para o futuro pensando que a realidade é a mesma do passado. O dinamismo é que deve ser o mesmo. Os modos como fazer são os que melhor possam atender ao momento.  Onde S. Afonso encontraria os cabreiros de hoje? Naquele tempo era no campo. E agora? Ele usou o método que já usava anteriormente: as missões. Qual é o meio que usaremos hoje? Missão, sim. Mas como? Como usar a mídia? O maior instrumento que ele usou foi seu amor a Deus e sua preocupação com a salvação de todos. Hoje pensamos na salvação integral de todos, envolvendo todas as forças possíveis para a missão? Só assim seremos fiéis à Igreja. Todos nós somos convocados à missão.
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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

nº 1776 - Homilia do 18º Domingo Comum (05.08.18)

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Eu sou o pão da Vida”
 Maná, pão do Céu
            A pregação de Jesus partia sempre de uma realidade muito conhecida do povo. Bastava lembrar um fato para criar um ambiente para sua mensagem. O fato narrado é como uma profecia que se realiza em Jesus. Profecias não são somente as palavras, mas os fatos e os gestos de Deus com seu povo. Lembramos o fato do Êxodo (16,2-15): O povo reclamou porque não tinha comida. E pior, sentia saudades da comida que tinha no tempo de escravos. Deus então envia o maná, alimento misterioso que aparecia ao redor do acampamento. À pergunta: ‘o que é isso?”Moisés responde: ‘Isto é o pão que o Senhor vos deu como alimento’(Ex 16,15). Este alimento acompanhará o povo até à entrada na terra prometida. Ele tinha todo sabor que se desejasse e servia para o que precisasse (Sb 16,20). O exemplo que Jesus toma para iniciar o discurso sobre o pão da vida está presente na alma do povo. Como o maná foi a resposta à fome do povo, o pão que Jesus dará será maior que o maná. Quem come do pão que Ele der, nunca mais terá fome: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”(Jo 6,35). Moisés deu o pão vindo do céu. O Pai é quem dá o verdadeiro pão. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (32-33). Comer o pão e crer em Jesus está na mesma linha de acolher o que o Pai nos dá. Esse pão dá vida ao mundo. O maná que sustentou o povo no deserto durante quarenta anos é símbolo do Pão da Vida, dado pelo Pai. Depois que entraram na terra prometida, o maná não mais caiu (Js 5,12). Não era eterno.
Alimento que não se perde
             O povo, satisfeito pelo que comeu na multiplicação dos pães, procura Jesus. Sua resposta é clara: “Vós estais me procurando, não porque vistes sinais”. Não entenderam o significado do pão multiplicado. E continua: “mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. Os milagres de Jesus vão além da satisfação humana. Completa: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois esse é quem o Pai marcou com seu selo” (Jo 6, 26-27). Essa palavra é dirigida também a nós para compreendermos que Jesus não faz milagres como espetáculo, mas para levar à fé. O sinal que Jesus dá aos judeus que pedem uma prova é para crer Nele. Moisés deu um pão que não veio do Céu. É o Pai quem dá o verdadeiro pão do Céu. Não se trata de entender aqui o que foi o maná. O verdadeiro pão do Céu é dado pelo Pai. Ele dá vida ao mundo. Jesus vai mais longe e diz que esse pão é Ele. Diz: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede (Jo 6,35). Em primeiro lugar, crer é buscar Jesus (Pão do Céu). A fé é o primeiro alimento que sustenta. Buscar Jesus é receber sua vida que sustenta e dá a eternidade. Por isso é pão. Não só sacia a fome, mas também a sede, isto é, o desejo.
Despojar-se do velho homem
            S. Paulo diz como se realiza essa palavra de Jesus: “Renunciando a existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras”. Vemos a diferença do maná do deserto e o maná dado pelo Pai que é seu Filho. A mudança se dá: “Revesti-vos do o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade!” (Ef 4, 22-24). O Pão descido do Céu é Jesus Cristo que modifica nossa vida e não sacia uma fome material, mas a fome espiritual. Cantamos na antífona ao evangelho: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”.
Leituras: Êxodo 16,2-4.12-15;Salmo 77; Efésios 4,17,20-24; João 6,24-35
Ficha nº 1776 - Homilia do 18º Domingo Comum (05.08.18)                                       
1.      O maná que sustentou o povo no deserto é símbolo do Pão da Vida, dado pelo Pai.
2.      O pão vindo do Céu, não termina, mas sustenta para a vida eterna.
3.      A comparação do homem novo e o homem velho sintetizam o pensamento de Jesus.

            O que não faz um pão?

            O pão é um alimento que é encontrado em antiguíssimas civilizações. Quase todos os povos o têm como um alimento importante. Jesus mesmo não achou outro melhor para ser o seu Corpo. Tudo isso que o pão representa é um símbolo que Jesus toma para explicar sua Pessoa como alimento da Vida Divina.
            O pão alimenta, o pão reúne, o pão sustenta, o pão abençoa e o pão da vida. Até para rezar precisamos do pão: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”.
            O pão é um alimento social. Quando falta o pão chega a morte. Quando é o amor que amassa o pão, ressurge a vida. Quem come o Pão do Céu, tem que reparti-lo no pão que mata a fome dos sofredores. Não come o Pão de Deus, quem não o reparte.
            O pão nasce no silêncio da noite. Ali é amassado, assado e distribuído quentinho.
            O pão não tem tamanho, pois um pequenino pedaço de pão feito hóstia, contém o Criador, o Redentor e o Santificador.
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