segunda-feira, 28 de maio de 2018

nº 1757 Artigo - Óh Sagrado Banquete!


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2047. Memorial da Paixão
               Em 1263, um padre alemão celebrava a missa em Bolsena (Itália), na Igreja de Santa Cristina (mártir da cidade). Tinha dúvida sobre a transubstanciação eucarística (mudança do pão e vinho em Corpo e Sangue de Cristo). Depois da consagração, a Hóstia começou a sangrar, manchando as toalhas do altar e a pedra d’ara. Essas relíquias estão lá conservadas. O padre levou as toalhas (corporal) para o Papa Urbano IV que estava em Orvieto, cidade vizinha. Em 11 de agosto de 1264 este mandou que se fizesse a procissão do Santíssimo Sacramento. E pediu a Santo Tomás de Aquino que compusesse os textos para as orações que se fazem nesse dia. Uma delas cantamos sempre nas bênçãos do Santíssimo: “Tão sublime Sacramento”. O amor à Eucaristia é uma das belezas de nossa fé. Ela produz os maiores frutos. Cremos que Jesus nos deixou esse sacramento para alimentar a fé e o amor.  Santo Tomás nos escreve também: “Oh Sagrado Banquete, em que Cristo é consumido. Faz-se memória de sua Paixão, a mente se enche de graças e nos é dado o penhor da eterna glória”. Bela síntese que nos ensina que a Eucaristia é a memória, a presença da Paixão e da Ressurreição de Cristo. Ao recebermos e adorarmos essa presença, nós estamos proclamando que Cristo morreu e ressuscitou por nós. E essa salvação chega a nós através dos Sacramentos da Igreja. Paulo nos ensina as palavras de Jesus: “Fazei isso em memória de mim”. E diz também: “Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,24-25).  Adorar é reconhecer.
2048. A mente se enche de graças
              Não podemos separar a adoração e festa a Cristo Eucaristia de sua obra redentora sem perder a dimensão de salvação que nos deu a Graça que é o próprio Jesus. Com Ele nos vieram todas as coisas (Rm 8,32). Com a Eucaristia recebemos tudo o que necessitamos para nossa vida espiritual e humana. Ser uma alma eucarística não é ficar adorando o Santíssimo dia e noite, mas haurir desse Sacramento todos os bens e ensinamentos que nos traz.  O ensinamento fundamental é a comunhão que não se trata só de receber a Santa Hóstia, mas de entrar em comunhão com Cristo e seus ensinamentos. Com ela entramos também em comunhão com todos. Recebamos a Comunhão com a máxima devoção, mas não com devocionismo, devoção vazia, sem fundamento na vida de Cristo e ação em nossa vida. Vi um caso de uma senhora muito religiosa que, com a Santa Hóstia na boca, criticou a que vinha atrás dela. A Eucaristia que recebemos e adoramos deve mudar nossa vida, unindo-nos a Cristo e a sua obra redentora. Viver o Evangelho do amor. Comer a Carne de Cristo é alimentar nossa vida e orientá-la segundo o Evangelho. Ela modifica o mundo.
2049. E nos é dado o penhor do Céu
              Não vemos as riquezas do Céu que recebemos em cada Comunhão que fazemos. Mais que visitar o Santíssimo na Igreja, devemos descobrir sua presença em nós. Somos sacrários vivos da Eucaristia. Vivemos em constante contato com Ele. Imaginemos o quanto nossa vida será diferente quando reconhecermos que o Pai, o Filho e o Espírito habitam em nós. Quanto seria diferente nosso relacionamento com os outros. Com essa presença temos o penhor da Glória futura, o Céu. Vemos umas senhorinhas que há tantos anos participam da Eucaristia diária. Celebrando esse momento com o Santíssimo Sacramento, não percamos sua dimensão de eternidade. Nascemos para o Céu e construímos o Céu em nossa terra. Temos nele o penhor da glória eterna. Garante-nos o Céu. O Paraíso começa aqui. A Eucaristia é o Céu entre nós e em nós.

domingo, 27 de maio de 2018

nº 1756 - Homilia da Santíssima Trindade ( 27.05.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Santíssima Trindade”

Trindade, uma família!
            Celebramos a festa da Santíssima Trindade. A festa está fora do Tempo Pascal, mas é celebrada logo a seguir. O motivo: Não celebramos um fato da História da Salvação como Memória, mas celebramos o Pai que envia seu Filho para a Salvação e o Espírito Santo que santifica os corações, isto é, leva-os a viver a graça da salvação trazida por Cristo e deixada para nós como Vida. O mistério de salvação que envolve todos os tempos, quer mostrar quem é o Deus que nos escolheu e nos amou em Cristo. É o Deus que Se manifestou e chamou-nos a participar de sua vida. Sabemos que Deus criou o homem para manifestar nele a sua bondade. O pecado do homem foi também um momento de manifestar sua misericórdia. Comunhão não só no futuro, mas agora na comunidade. Deus é comunhão. Temos o costume de dizer família para a Santíssima Trindade, mas é um termo frágil. Melhor é usar o termo comunhão de vida das três Pessoas Divinas. A vida íntima da Trindade orienta nossas famílias no modo de viver. É uma abertura permanente das Pessoas Divinas, uma à outra. É igualmente acolhimento de tudo o que uma Pessoa Divina tem em Si. É a humildade de saber amar, acolher e oferecer amor. A festa de hoje convida à adoração das Três Pessoas Divinas.  É um mistério que jamais poderemos alcançar com totalidade, pois somos humanos. É um mistério aberto à nossa pequenez que sempre convida a um maior conhecimento e comunhão.
Grava no teu coração
            Como viver em nossa fragilidade a comunhão com o Deus amor? Recordando os benefícios que fez conosco. O livro do Deuteronômio nos traz essa bela expressão: “Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra”. Não é um Deus distante. É um Deus presente com a criação, a libertação do Egito e a presença permanente entre nós. Nosso coração deve estar sempre atento ao bem que recebemos. Acima de tudo que possa haver na terra, Ele é o Deus que Se comunicou. Não é um deus feito pelo homem, mas o homem que é feito por Deus, à sua imagem e semelhança, como lemos em Gênesis 1,26-27. Saímos das mãos de Deus, e caminhamos amparados por elas. No livro do Êxodo temos a imagem do carinho de Deus para com seu povo: “De dia era uma coluna de nuvens e de noite uma nuvem de fogo” (Ex 13,21). Era como sentiam essa presença tão preciosa do Deus que desceu para ver o seu sofrimento no Egito e libertá-lo (Ex 3,8). Essa linguagem é o que acontece conosco. Assim Deus cuida de nós. Assim nós O percebemos em outra linguagem. Por isso é preciso contemplar sua obra em nosso favor e gravá-la em nosso coração.
Abbáh Pai
            Vivemos a condição de filhos. Essa é a maior libertação que recebemos de Deus em nosso caminhar humano: “Somos chamados de filhos e de fato o somos” (1Jo 3,1). Ser filho em total participação da natureza e condições de herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo. Os israelitas foram libertados e conduzidos a uma terra. Nós somos libertados e conduzidos ao coração do Pai. Podemos chamá-Lo carinhosamente com o nome Abbah que significa Paizinho. Participamos do mistério redentor de Cristo: “Se realmente sofremos com Ele, é para sermos também glorificados com Ele” (Rm 8,15.17). Celebrar a Trindade não é somente reverenciar um Mistério, mas fazer-se participante. Fazendo o Sinal da Cruz, nós o abraçamos e colocamos em nossa vida.
Leituras: Deuteronômio 4,32-34.39-40; Salmo 32; Romanos 8,14-17;Mateus 28,16-20.
Ficha nº 1756 - Homilia da Santíssima Trindade ( 27.05.18)
                                         
1.  Celebramos a Trindade que é comunhão de vida que se comunica.
2.  É um Deus presente, desde a criação, libertação e vida atual.
3.      Celebrar a Trindade é reverenciar um Mistério e fazer-se participante dele.

            Lar doce lar

            Clamamos nos salmos o desejo de morar sempre na casa do Senhor (Sl 27,4). Era o sonho de todos que amavam a Deus. Um dia na casa do Senhor vale mais que mil fora dela (Sl 84, 10). Se essa presença era o grande atrativo para ir a Jerusalém... Cantavam: “Que alegria quando me disseram: vamos à casa do Senhor” (Sl 121,1). E nós... que temos essa presença em todas nossas Igrejas? Muito bom, mas estamos em melhor condição.
            Estar na casa de Deus é permanecer com Ele, pois está em nós. Não precisamos sair de casa para tê-Lo, encontrá-Lo, gozar de sua presença. Ele é o mais íntimo no meu íntimo.
Por isso, o grande empenho que temos que fazer, é buscá-Lo em nós mesmos.
            Somos sacrários vivos da Eucaristia. Somos casa de Deus, pois Jesus disse: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará e a Ele viremos e Nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23).
            O caminho espiritual deve partir dessa presença amorosa e permanente de Deus em nós. Fora disso, é só vazio.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

nº 1755 Artigo - “O dom de ser dom”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2044. Deus ensina amar
              Jesus define que Deus é Amor. A manifestação de Deus ao mundo se dá num ato de amor: “Nisto se manifestou o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho unigênito ao mundo para que vivamos por Ele. “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou primeiro e envio-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). O amor de Deus em nós é manifestado pelo Espírito que é o amor. O Espírito é o amor de Deus vivente em nós. É fonte que gera o amor. Esse amor se manifestou em Cristo como dom: “Nisto conhecemos o Amor: Que Ele deu a vida por nós. E nós também devemos dar nossas vidas pelos nossos irmãos” (1Jo 3,16). O que vemos é que o amor como dom, tornou-se somente um dado da vida cristã e não o núcleo, pois nele está Deus, o Pai que ama dando o Filho e com isso ensina a viver como Deus vive. Amor é sentimento, mas antes disso é vida e ação, é doação, é entrega e busca do outro. Somente assim podemos nos realizar na grandeza da vida cristã. Sem isso, a fé e a prática religiosa perdem o sentido e o conteúdo. Somos muito preocupados com a verdade, que seja certa e não contenha desvios. A fé é fundamental, mas, sem o amor, ela se torna uma crença vazia. Não há fé sem amor, nem amor sem fé. Por isso temos a esperança que mantém vigilante a fé e praticante a caridade. Amar é entrar em ritmo de doação e de entrega. O dom de Deus presente em nós é para que sejamos dom que conduz ao Dom. Essa é a missão do Espírito: manter viva a chama do dom da entrega pessoal.
2045. Um Espírito para todos
              Como a chuva, o Espírito vem para todos e em cada um desenvolve seu dom pessoal. O mesmo Espírito está em todos e em cada um manifesta um modo diferente de agir. Deste modo supre todo o corpo de Cristo, que é a Igreja, de todas as riquezas para que em nada Cristo seja esquecido ou ocultado. A riqueza do dom compromete a intensidade da resposta na corresponsabilidade para com todo o Corpo de Cristo. Nada falte em Cristo, no que depende de nós. A espiritualidade, tanto popular como oficial, exige igualdade. Anula-se a pessoa e se oculta o dom do Espírito. Deve haver a conjunção das forças espirituais e dos dons para o comum, mas não se justifica a anulação. O próprio Espírito Santo conduz para a formação do corpo, como nos diz S. Paulo. Vemos os membros do corpo: São todos diferentes e nenhum pode faltar. A igualdade será cada um conservar suas particularidades. Paulo diz: “O corpo não se compõe de um só membro, mas de muitos... Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo sua vontade. Se o conjunto fosse um só membro, onde estaria o corpo?” (1Cor 11,1-21). Não se refere somente à pessoa, mas também ao dom que o Espírito dá. Os dons espirituais compõem o Corpo de Cristo,
2046. Como o vento
              Ninguém é dono do Espírito Santo e nem de seus dons. “O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8). Vento e Espírito são a mesma palavra em grego (Pneuma). Como o Espírito é incontrolável, assim também é quem vive do Espírito. Com o Espírito se torna continuação viva de Jesus que vivia o movimento do Espírito. Por isso é preciso ser aberto e não querer enquadrar o Espírito em nossos esquemas. O Espírito é, sobretudo, Livre. Está a nosso favor, mas não é nosso empregado só para dar-nos dons. Ele dá muito serviço, pois nos torna iguais a Jesus que era puro dom do Pai e doou sua Vida.

domingo, 20 de maio de 2018

nº 1754 - Homilia de Pentecostes (20.05.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
 “Recebei o Espírito Santo”

Santificais a Igreja inteira
            “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que habita em nós” (Antífona). Celebramos em grande ação de graças o dom do Espírito. Terminado o tempo de sua vida terrestre, com sua Ascensão, Jesus nos enviou o Espírito Santo. Dissera: “O Paráclito, o Espírito que o Pai enviará em meu nome é que vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26). Há dois elementos: ensinar e recordar. Ensinar significa dar aos discípulos o conhecimento do ensinamento de Jesus. Não vai ficar recordando palavras de Jesus, mas tirar da vivência com Jesus Mestre o ensinamento para a vida. Até o momento da Ascensão ainda não tinham compreendido a missão de Jesus. Perguntam: “Senhor, é agora que haveis de restaurar a realeza de Israel?” (At 1,6). Após Pentecostes tudo se torna claro. É a pessoa de Jesus que necessitam conhecer. Dele se aprende. A missão de recordar tem como finalidade despertar do coração o que foi aprendido. Mas também os apóstolos têm a missão de recordar não somente num sentido de lembrança, mas de realização da presença. O termo está ligado ao conceito de “memória” tanto judaico como católico: tornar presente, como Eucaristia. Jesus dissera: “fazei isso em memória de mim” (Lc 22,19). Sempre pensamos na Eucaristia, mas Cristo está sempre presente em tudo o que os apóstolos fazem: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20,23). A missão de Cristo continua atual nos apóstolos e na Igreja. Por isso o Espírito, na celebração de hoje, é santificar a Igreja inteira. Santificar é estar sempre sob o Espírito que ensina e recorda.
Dons para serem doados
            Colocamos a vida espiritual nas maravilhas que Deus nos trouxe com sua Ressurreição e na riqueza de seus dons. Os dons que o Espírito dá seguem a mesma dinâmica da vida de Jesus no meio de nós: dons são para serem usados para o bem de todos. Temos a tentação de querer uma Igreja igualzinha em todos os detalhes. Paulo nos explica que há diversidade de dons. Os dons são diferentes, e vividos num único Espírito. Cada um tem responsabilidade para com todo o corpo. Todo corpo deve aceitar todos membros, diferentes uns dos outros. É uma grandiosa escola de vida cristã: doar e acolher o dom. A prepotência tem a tendência de nivelar a partir de si mesmo. Só vai dar certo se nos colocarmos como servidores, como Jesus nos ensinou na última ceia: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,15). Exemplo vai além do simples fazer como Jesus fez, mas continuar a ação de Jesus, num sentido de testamento a ser executado. Esse serviço será a consequência da missão de perdoar. Jesus quer criar um mundo reconciliado que se concretiza no mútuo serviço. Dons são serviço e não poder.                                         
Liturgia do Espírito
            A liturgia é o momento em que o Rio da Vida inunda a comunidade e nos põe em relação com as ações redentoras de Cristo que se fazem presentes em cada sacramento e nas ações da Igreja. Cristo está presente e continua dando o Espírito. Em cada sacramento temos a imposição das mãos. Cada sacramento é momento do Espírito que age na matéria e na comunidade, transformando-a. É chocante como não nos damos conta que cada Eucaristia é Pentecostes. O Espírito que gerou Jesus no seio de Maria, gera-O na comunidade formando o corpo de Cristo. A mesma força divina que faz do pão e do vinho, corpo e sangue de Cristo, faz da comunidade, Corpo de Cristo. Não percamos.
Leituras: Atos dos Apóstolos 2,1-1; Salmo 103; 1Coríntios 12,3b-7.12-13;João 20,19-23
Ficha nº 1754 - Homilia de Pentecostes (20.05.18)
                                         
1.  A missão do Espírito é ensinar e recordar.
2.  É uma grandiosa escola de vida cristã: doar e acolher o dom do Espírito.
3.  Cristo, presente na liturgia, continua dando o Espírito Santo.

            Fogo nele!

            Celebrar a festa de Pentecostes é chamar fogo do céu, não para destruir, mas construir. Estamos abrindo a vida para que o Espírito Santo possa continuar sua missão de levar adiante o projeto do Pai de salvar todos em Cristo. Salvar é conduzir à comunhão de vida da Trindade Santa.
            Depois que Jesus foi para o Céu, o Espírito Santo tem a missão de santificar: unir todos a Deus através de sua conversão a Cristo e vida do Evangelho. Ele nos faz unidos como um só corpo. Gerou Jesus e agora nos gera continuamente como de Cristo.
            Pentecostes nos une de tal modo que não formamos um ajuntamento, mas um corpo unido no qual corre a seiva Divina que nos une.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

nº 1753 Artigo - Onde está Jesus?


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2041. Estarei sempre convosco
              Para termos vida espiritual consistente não bastam as Escrituras, não bastam os sacramentos, não bastam as obras de caridade, não bastam os exercícios de piedade. Tudo é necessário, mas o que mais conta na vida cristã é a presença de Jesus em nosso meio. Ele é a fonte da vida cristã.  Disse: “Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Buscamos Jesus longe, quando está muito perto de nós, em nós. A certeza dessa presença alimenta nosso dia a dia. Depois da Ascensão, não vemos no grupo dos discípulos um vazio saudoso deixado pela ausência Jesus. O texto da festa, que narra esse momento, diz que “Jesus foi elevado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanharam” (Mc 16,19-20). Sabiam de sua presença. Ele dissera: “Eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Paulo diz: “O Senhor esteve sempre a meu lado” (2Tm 4,17). A certeza de sua presença é sempre a garantia de sua ação e também da nossa. O mesmo Senhor que animou os apóstolos anima todo o povo de Deus. Impossível viver a fé sem sua presença constante. Às vezes queremos segurança em Deus, mas não acreditamos que já está ao nosso lado. Buscamos longe, quando está tão perto. Ele se deixa tocar pela nossa fé. Não queiramos visões. É preciso ter a visão que nos leva a vê-Lo nos muitos modos em que se manifesta. Há uma visão de espiritualidade que quer tocar, ver e sentir. Inútil, desnecessário e prejudicial. Jesus insiste com Tomé para crer (Jo 20,24-28).
2042. Virei a vós
              Celebrando a Ascensão temos a ideia de uma ida definitiva que não tem retorno, e que encerrou um capítulo da história de nossa fé. Agora toca a nós levar adiante a vida, com nossas forças, na presença do Espírito, como nos garantiu Jesus, que poderíamos fazer coisas maiores que Ele. Sabemos que os que têm fé, agem com muita força e sem medo. “Mas aqueles que esperam no Senhor renovam suas forças. Voam alto como águias; correm e não se fatigam, caminham e não se cansam” (Is 40,31). Ele está continuamente vindo ao nosso encontro. Quanto mais temos consciência de sua presença querida junto a nós, mais aprofunda nosso relacionamento com Ele. É muito bom ter familiaridade com Ele. Com Ele nos entendemos bem. Deus é fácil de ser entendido em suas contínuas intervenções em nossa vida. Vale a pena perceber sua presença que não incomoda, mas nos cerca de cuidado e de carinho como rezamos nos salmos. Quanto mais correspondemos, mais se torna claro.
2043. Onde dois ou três estão reunidos
              Jesus se encarnou tomando nossa carne. Por ela tivemos o contato com o Deus que Ele é. Em uma única pessoa, o Divino e o Humano. É a forma sacramental. Pelo visível, chegamos ao invisível. Em tudo na fé passamos por esse caminho. É a realidade simbólica sacramental. Cristo é o Sacramento do Pai. João disse: “O que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam da Palavra da Vida” (1Jo 1,1). A comunidade tem a dupla dimensão da presença visível das pessoas e a presença invisível de Cristo que a une e a constitui como corpo do Senhor. É o que rezamos na prece eucarística: “pelo Espírito sejamos reunidos em um só corpo”, Corpo de Cristo. A comunidade torna visível o Corpo de Cristo, pois Ele está entre nós e em nós. Não há Igreja sem a presença de Cristo. Onde dois ou três estão reunidos, aí está Cristo.

domingo, 13 de maio de 2018

nº 1752 - Homilia da Ascensão do Senhor (13.05.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Ascensão do Senhor”

No esplendor da Glória
A Ascensão de Jesus é um mistério Divino bastante desconhecido no conjunto de nossa fé. Nem por isso não é importante. Dizemos na profissão de fé (Creio): “Ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso”. É um momento de nossa salvação que une a Ressurreição e a Glorificação de Cristo. Se não tivesse subido ao Pai, como ficaria a necessária Glorificação para resplandecer em sua humanidade ressuscitada, a Divindade? Não teria aberto o Paraíso para levar consigo a Humanidade que conquistara com sua Encarnação. Jesus “subiu aos Céus, não para se afastar de nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à gloria da imortalidade” (Prefácio). Nós fomos levados com Ele, pois levou consigo toda a Humanidade. Rezamos: “Membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar do esplendor de sua glória. Não só cremos que Jesus está no Céu, mas cremos que estamos garantidos com Ele. Os Anjos que apareceram depois que Jesus sumiu nas nuvens disseram: “Esse Jesus que vos foi levado para o Céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o Céu” (At 1,11). Não podemos ver somente a vinda no fim dos tempos, mas a vinda permanente mostrando que Ele está conosco. Cristo, Filho de Deus, junto do Pai está a interceder por nós. Por isso nossa oração tem conteúdo, pois está unida à oração de Jesus junto do Pai. Rezamos: “Fazei que nossos corações se voltem para o alto, onde está junto de Vós a nossa humanidade” (Pós-Comunhão). Convivemos com as realidades do Céu.
Uma presença que dura
            A vida cristã está sempre recebendo a presença de Cristo. Dissera: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Essa promessa é fruto de seu permanente retorno ao nosso meio. Há muitos modos de estar presente: no amor, na Palavra, na Eucaristia e no anúncio do Evangelho. Sua presença revela o que somos, como nos revela a carta de Paulo aos Efésios (1,17-32): A esperança a que somos chamados, a riqueza da glória que é nossa herança e o imenso poder que exerce em nosso favor. Tudo está sob seu poder. Sua presença está toda a nosso favor. Por isso nos deixou os sacramentos, de modo particular a Eucaristia, onde O encontramos sempre. A Ascensão é um mistério que está sempre presente porque a celebração torna permanente a união com a liturgia do Céu e a liturgia da terra que são uma só. Assim se torna muito rico para nós, ter a consciência dessa presença de Cristo atuante e glorioso no seu mistério eucarístico.
Missão que continua
            Quando Jesus se despede dos discípulos diz: “Ide por tudo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura... o Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,15.20). O fato de enviar os discípulos não está criando uma atividade para eles, mas dando a autoridade de continuarem sua missão, como lemos em Mateus: “Toda autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue” (Mt 28,18). Dar autoridade significa que os discípulos evangelizam continuando a missão de Jesus. Passa aos discípulos o que o Pai Lhe deu: “‘Como o Pai me enviou, Eu vos envio”. Soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’”(Jo 20,21). Dá-lhe o mesmo Espírito que o Pai Lhe deu ao início de sua missão (Jo 3,21-22). Temos a mesma missão que o Pai lhe confiou e a realizamos no mesmo Espírito. Cada Eucaristia nos torna presente a Ascensão de Jesus e realiza também nossa glorificação junto do Pai, em Jesus.
Leituras: Atos 1,1-11;Salmo 46; Efésios 1,17-23;Marcos 16,15-23
Ficha nº 1752 - Homilia da Ascensão do Senhor (13.05.18)
                                         
1.       Membros de seu corpo, somos chamados a participar do esplendor de sua glória.
2.       A vida cristã está sempre recebendo a presença de Cristo.
3.       Temos a mesma missão que o Pai confiou ao Filho Jesus. E a realizamos no mesmo Espírito.

            Esquecendo bagagem

            Não podemos ver a Ascensão de Jesus como uma viagem sem retorno e uma despedida. Parece que esqueceu a bagagem e não sabe onde. Nós escondemos e estamos sempre esperando sua volta. Mas Ele volta sempre, todo dia e toda hora, pois prometeu estar sempre conosco.
            Bem que o Anjo disse: “Ele virá do mesmo modo como o vistes partir para o Céu”.
Subiu de uma maneira tão simples, serena. Assim volta sempre: de modo simples e sereno, como sempre foi.
            Ele vem sempre através de tantos modos, sobretudo no amor, na Palavra e na Eucaristia. Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles. Entra sem avisar, como nas aparições.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

nº 1751 Artigo - Nossa transfiguração em Jesus


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2038. Em Cristo
              O Mistério Pascal de Cristo não é um fato que ficou na história e lembramos com devoção. Ele está vivo e para sempre, pois acontece na pessoa de Jesus que vive para sempre. Esse mistério é uma ação de Deus aberta à participação de todos. Vimos no começo da Quaresma a cena da Transfiguração. Jesus sobe à montanha e Se transfigura. Essa cena foi colocada, no tempo quaresmal, após a reflexão sobre a tentação, para nos animar a ver que o mal do pecado não é o fim, nem tem poder dominador. Cristo vence pela Ressurreição, com Ele somos vencedores. E também com Ele, somos transfigurados. Nele fomos transformados em novas criaturas. Não estamos fazendo discursos vazios quando falamos de nossa transfiguração como Cristo Jesus. Essa é a meta para a qual somos atraídos. Unidos a Cristo pelo Batismo e, pelas opções de cada dia, vivemos sua vida e temos a força que nos transforma e nos faz à sua imagem. A força do Espírito, que deu vida a Jesus na Ressurreição, continua agindo em nós e levando-nos a essa lenta transformação. Essa transfiguração não se faz nas vestes, mas no interior como lemos em Paulo: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo” (Gl 3: 26-27). Por Ele assim somos feitos. Essa transfiguração se manifesta através da união com as obras de Cristo. Ainda não vemos com clareza, como Paulo nos explica: “Porque agora vemos como por espelho, confusamente, mas então veremos face a face” (1Cor13:12-13).
2039. Com Cristo
Sabemos que esse momento da transfiguração de Jesus aconteceu para explicar sua passagem pela Paixão. Mas é também a meta do caminho espiritual: A transfiguração de todo homem e toda mulher. Não haverá um sinal de glorificação exterior, mas sim no interior onde se manifestará a glória do Pai. Para isso o Espírito forma Cristo em nós para termos seus sentimentos e sua mentalidade. Esse momento espiritual pode ser visto, como lemos na parábola da videira e dos ramos: Eles possuem a mesma vida. A formação de Cristo em nós vem do interior e se manifesta em cada um de modo diferente. Cada um passa a ser uma imagem viva de Cristo. Unidos a Cristo, com Ele, mudamos nossa vida. Essa mudança pode se manifestar exteriormente num sentido da face que Ele assume em cada um. Nem sempre brilhante. Pode ser uma manifestação de sua face sofredora de padecente na cruz. São Geraldo dizia que estava crucificado com Cristo, no seu estado padecente. Mas o Deus que se manifesta em nós não consegue se ocultar, pois quem é de Deus, vê as manifestações de Deus.
                                                            2040. Por Cristo
O Pai apresenta o caminho para chegar a essa glória interior: “E da nuvem veio uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutai-O!”(Mt 17,6). É ouvindo e pondo-se a caminho como Abraão que poderemos chegar à transfiguração. Ela acontecerá no seguimento de Jesus em sua dedicação aos abandonados. Temos ideias pouco saudáveis o sobre o processo de santificação. Ficamos mais em atitudes exteriores e práticas que não nos comprometem com o Reino de Deus em sua ação libertadora dos sofredores. Transfigurados, somos também deificados, na linguagem dos Orientais. É nossa participação com a Divindade. A espiritualidade se refletirá em nossas atitudes de piedade, mas deve ser em primeiro lugar, um fruto do Espírito que formam Cristo em nós.

domingo, 6 de maio de 2018

nº 1750 Homilia do 6º Domingo da Páscoa (06.05.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“O único mandamento”

Um Reino aberto a todos
            A primeira leitura da liturgia deste 6º Domingo da Páscoa é forte como a retirada da pedra que fechava o túmulo de Jesus. Essa foi movimentada por mãos de anjos. A pedra que impedia os pagãos de chegarem ao Evangelho foi retirada pelo Espírito Santo. O texto é mais amplo e conta a visão de Pedro, na qual Deus declarando que todos os alimentos são puros, ensina que também os pagãos são destinados à salvação. Pedro e os fiéis, de origem judaica, viram a ação do Espírito Santo nos pagãos, antes do batismo. Com sabedoria reconhecem que não se pode negar o Batismo a quem Deus não negou o Espírito Santo antes do Batismo. Esse acontecimento confirma a salvação para todos os povos. O Senhor fez conhecer a salvação e revelou sua justiça às nações. Ser Reino aberto a todos não significa somente que todos podem participar do Reino, mas também que o Reino está aberto às culturas de todos os povos. Não precisava ser judeu para acolher o Evangelho. Nós somos descendentes desses povos novos pagãos que acolheram o alegre anúncio. A bem dizer que, desde o início vemos crescer o número dos pagãos que acolhem o Evangelho e o anunciam com vigor. Que não falte agora a capacidade de acolher as “riquezas dos povos”, como nos ensina o Concílio Vaticano II sobre a atividade missionária da Igreja no documento Ad Gentes, nº 10 e 22. É o maravilhoso intercâmbio. A imposição de uma cultura sobre o Evangelho é negar a ação do Espírito Santo.
Espírito fonte do amor
            Jesus é movido pelo Espírito Santo. Agora o Espírito abre os corações ao Reino de Deus como abriu o de Jesus, para construir o mundo, ter nas mãos o projeto de Deus. Deus é para todos. Não para um grupo especifico. A Ressurreição de Jesus não é um acontecimento de sacristia. Em campo aberto tira todos os empecilhos para que a notícia chegue aos confins do Universo. É a força do Espírito que impele a levar adiante a energia Divina do amor. Por isso Jesus insiste: “Permanecei no meu amor” (Jo 15,10). O amor que recebemos de Jesus é o mesmo que recebe do Pai. É um amor doação: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando”. O que o Pai manda? “Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros” (Jo 15,13-17). Nesse amor temos o conhecimento de Deus e como Ele ama. O amor do Pai é o mesmo do Filho: amor de doação: “Foi assim que se manifestou o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio Dele”. O amor que possuímos é o próprio amor de Deus e seu modo de amar que estão em nós: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10).
O Amor, vida do Reino
Rezamos na oração: “Nossa vida corresponda aos mistérios que celebramos. E mais ainda, é fruto do sacramento pascal que nos dá sua força salutar (Pós comunhão). Toda a celebração tem a dimensão da fé e da ação no dia a dia, se não é morta. A vida se fará pelo conhecimento de Deus através do amor: “O amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus... pois Deus é amor” (1Jo 4,7-8). Guardar os mandamentos é a garantia do amor. O amor produz frutos: “Eu vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes frutos e o vosso fruto permaneça. Então o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vos concederá” (Jo 15,16). Produzir frutos é amar.
Leituras: Atos 10,25-26.35.44-48; Salmo 97; 1João 4,7-10João 15,9-17;
 Ficha nº - nº 1750 Homilia do 6º Domingo da Páscoa 06.05.18
                                         
1.  O Reino de Deus é oferecido a todos, pois quem age é o Espírito.
2.  O amor que recebemos de Jesus é o mesmo que o Pai lhe tem.
3.  Guardar os mandamentos é garantia do amor do Pai.

O amor tem nome e sobrenome

            Conjugando o verbo amar, atingimos sua capacidade infinita, pois se identifica com o próprio Deus que é amor: Amei, amarei, amando, amo etc. Que beleza e que riqueza! Amar só tem um jeito: todos os jeitos. Não há onde o amor não caiba.
            Amamos com palavras, com o silêncio, com os olhos, com o corpo ou na dedicação. Amor não tem idade. O amor não tem dor. O amor não tem nada nem precisa de nada, pois tem tudo.
            Temos medo de amar e sermos amados. Somos uma raça de gente fria, sem sentimento. Quem não ama não conheceu a Deus porque Deus é amor. A Igreja, quando morrer em algum lugar, podemos ter certeza que foi porque deixou de amar.
Ademais, precisamos deixar nossas hipocrisias, por exemplo, quando expressamos nosso amor a Deus, e não amamos nossos irmãos. É um contraditório expressar amor a Deus que não vemos, e não amar nossos irmãos que convivem conosco no trabalho, na igreja, em nossa comunidade, em nossa família.