sábado, 3 de julho de 2021

nº 2083 Artigo - Devoções Populares

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Caminho do povo 
Vivemos um momento de descristianização da sociedade. Não se quer uma sociedade dominada por uma religião. Isso é muito bom. Mas a fé vivida pelas comunidades contribuiu para o bem do povo. Vamos tentar aprofundar a fé popular que traduz os dogmas em palavras simples. Os cristãos cultos sempre tiveram certa recusa a esse modo de viver a fé. Grupos religiosos, de veia evangélica, recusam essa manifestação popular. Só a bíblia. E se esquecem que a Bíblia nasceu da experiência do povo. O cristianismo não é uma religião só da mente, mas ela chega ao povo e deixa que ele se expresse. Um dos motivos foi o fato de a religião ter se tornado propriedade do clero. O povo, não entendendo aquele “latinório”, criou seu modo de viver a fé. Depois do Concílio Vaticano II, muitas expressões populares caíram em desuso, a título de renovação. Como não foram capazes de dar formação suficiente ao povo houve perda maior. Há muitas razões para a religião popular. O povo, com tradições já portuguesas ou nativas, se sustentou. Devemos dizer que a religião oficial não chega ao povo e é bloqueada toda expressão popular. Vive-se de regras. Não é esse o estilo de Jesus que vivia no meio do povo e o compreendia. Muitas Igrejas se esvaziam e isso não é problema. É necessário conhecer a alma do povo para poder dar o alimento que ela necessita. 
Benefícios dessa tradição 
O Documento de Aparecida, capítulo IV, nº 258-265, ensina “a piedade popular como lugar de encontro com Jesus Cristo”. É um desenvolvimento de documentos anteriores, mais reticentes. Papa Bento XVI destacou “a rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos”. Ela “reflete a sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer” (EN 48). É o catolicismo inculturado. É o que vemos nos santuários. São tantas as manifestações. O que mais caracteriza é o fato de não ser uma religião só intelectual, mas é vivida como um todo: inteligência, sentimento, corpo, na totalidade do ser humano. Pude ver isso na experiência dos africanos na Angola. É outro tipo, mas o corpo reza. Religiosidade popular é viver o cotidiano com Deus e também criar modos comunitários de viver a fé. O povo tem muitos jeitos de falar com Deus e com muito jeito. A sabedoria do momento é sabermos acolher a liturgia em sua alma e deixá-la se expressar também na alma do povo. Sem isso, o culto é vazio. A piedade popular não é suplência do que falta no rito. É uma escola onde podemos aprender a dar vida aos ritos. Mas, esse tempo ainda não chegou. O estímulo dado à inculturação, perdeu todo seu impulso nos pontificados recentes. É o caminho.
Discernimento 
As muitas manifestações de fé têm muita sabedoria. A missão da Igreja, além de dar o incremento, será sempre fornecer o cuidado para que não se ensine o que é contrário ao Evangelho, por exemplo, orações para fazer mal aos outros. Ou ritos de culto aos santos de modo que se desvie da veneração ou de coisas que possam ser contrárias à doutrina. Deve-se ter o cuidado de separar o que é supersticioso, que seria dar forças espirituais a elementos materiais. Isso podemos ver até no culto às imagens, fixando-se não no que ela lembra, mas nela própria como sendo algo vivo. O culto popular dos santos deve ser sempre animado com uma boa catequese e uma sadia narrativa histórica.

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