quinta-feira, 10 de março de 2022

nº 2155 Artigo - Origens da Quaresma

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Uma história a contar 
Pode-se conhecer a reforma da Quaresma decidida pelo Vaticano II, se conhecemos a história desse tempo litúrgico. Do contrário se pode continuar a desviar seu sentido litúrgico e espiritual. De acordo com os autores a celebração da Páscoa nos três primeiros séculos da vida da Igreja não tinha um período de preparação. Só havia o jejum nos dois dias precedentes. É bom notar que a organização da vida da Igreja e sua liturgia foram muito lentas. Não se tratava de renovar a graça do Batismo, pois viviam o tempo do testemunho pelo martírio. Era mais um prolongamento da alegria pascal por 50 dias. Depois do edito de Constantino em 313, começaram a sentir a necessidade de chamar os fiéis a uma maior coerência com o Batismo. Nascem as primeiras prescrições referentes à preparação para a Páscoa. No Oriente, encontramos acenos nos princípios do sec. IV, nas cartas pascais de S. Atanásio. Vale lembrar que Alexandria tinha a competência de estudar e comunicar às Igrejas a data da Páscoa. Ele escrevia às Igrejas dizendo que o simples fato de anunciar a data da Páscoa, já provocava uma grande alegria (330-347). Tempos bons! S. Cirilo de Jerusalém, em suas Catequeses mistagógicas, já se refere a esse período. Eusébio de Cesaréia escreve “a solenidade da Páscoa”. No Ocidente temos, no fim do século IV, o testemunho Etéria, na Espanha, em seu Itinerárium (ano 385), Santo Agostinho, para a África e Santo Ambrósio para Milão. Não se sabe como se formou em Roma. 
Formou-se progressivamente 
Em Roma há uma tradição bonita das “estações”. No século VI e VII, Papa Gregório Magno deu à Quaresma uma grande importância. Celebravam-se as estações. São dias de jejum e celebrações nas principais igrejas romanas. Perdeu-se o uso com o tempo. João XXIII deu impulso e atualmente se realizam as celebrações. O Papa abre a Quaresma na Igreja de Santa Sabina, muito antiga, que era a primeira estação. É curioso que o atual esquema de leituras segue, em parte, a tradição das leituras desse período. Os textos escolhidos tinham uma ligação com a igreja local. Por exemplo: Numa Igreja de S. João, que tinha um poço na entrada, usou o texto da samaritana. É muito interessante como se procurou conservar a tradição litúrgica. Os missais pré-conciliares trazem a indicação da “estação”. Agora se retomou essa tradição. É um modelo muito bom para as paróquias grandes e dioceses. A Quaresma pode se tornar uma grande missão. Pensando na descristianização, pode ajudar. É bom uma boa teologia da Quaresma para fugir de termas que são estranhos a seu conteúdo. Mesmo agora se trabalha mal sua finalidade. 
Temas a recuperar 
 A orientação fundamental para o tempo da Quaresma está na definição litúrgica que recupera o sentido original: “O tempo da Quaresma visa a preparação da Páscoa”. Precisamos purificar inclusive nossas boas idéias. A Campanha da Fraternidade, as penitências quaresmais, as tradições lindas, as devoções devem trazer essa mentalidade, do contrario não ajudam. Perdendo o sentido pascal, acaba por perder o valor desse tempo. As tradições sem essa direção perderam a razão por essa causa. As adaptações devem convergir para a compreensão da Ressurreição. A Paixão toca mais nossos sentimentos. Mas, sem a Ressurreição são vãos nosso sentimento, nossa pregação e nossa fé (1Cor 15,14-19).

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