segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

nº 1729 Artigo - “Silêncio do coração”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
2005. Quaresma para ver o coração
                        A Quaresma é um tempo importante para ouvir o que o Senhor quer nos falar. Por isso o salmo 94 insiste: “Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!”. Somente fazendo silêncio podemos ouvir o Deus que se comunica. É necessário estar de ouvidos e corações abertos. Samuel só ouviu as palavras de Deus quando deu atenção: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sam 3,10). Esse tempo é propício para ouvir. A liturgia traz uma riqueza de símbolos e palavras. Normalmente ficamos preocupados só com as penitências. São também necessárias, mas não é o mais importante. Esse tempo é bem estruturado para dar oportunidade para nos prepararmos para celebrar o Mistério Pascal de Cristo, atualizado para nós no Batismo. Celebramos a Redenção não como uma ideia, mas como ação de Deus em nós através de seu Filho. A chamada ao silêncio é para dar espaço para um exame da vida e para o acolhimento da ação do Espírito que nos conduz como conduziu Jesus no deserto (Mc 1,12). O silêncio sofre com os ruídos atuais. É um permanente carnaval. Temos medo do silêncio. Os preciosos meios de comunicação nos envolvem de tal modo que não paramos. As próprias celebrações estão sufocadas com os excessivos barulhos. Uma celebração deve ser animada pelo Espírito e não pelos ruídos que fazemos. Temos medo do silêncio porque ele nos leva ao encontro conosco e com Deus que nos oferece sua graça. É hora de cuidar do coração e das atitudes.
2006. Silêncio de Jesus
            A Quaresma quer repetir em nós a atitude de Jesus que se retirou para o deserto para ser tentado pelo diabo (Mt 4,1). Faz parte de sua vida, e da nossa, o confronto com o mal, com o pecado e com o tentador. Foi para nos libertar desse mal que Jesus se encarnou, anunciou o Evangelho da Salvação, sofreu, morreu e ressuscitou. O mal foi vencido. Para chegar a esse momento, passou por todas as tentações. As três que são citadas resumem todas as demais até chegar à última que foi o desespero do abandono de Deus. É o máximo da vida de uma pessoa sentir-se totalmente abandonada por Deus. Esse é o momento em que podemos provar nossa fidelidade, como Jesus: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46). Jesus não chegaria a essa coragem se não a tivesse “treinado”. Assim compreendemos os longos silêncios nos quais Jesus se retirava para rezar, passava a noite em oração, rezava e estava sempre aberto. Nazaré foi para Ele um laboratório onde cultivou a vontade do Pai. Com Ele, devemos cultivar a vontade de Deus onde quer que estejamos. Na hora do desespero da agonia no horto, soube dizer: “Meu Pai, se não é possível que isto passe sem que eu o beba, seja feita a tua vontade” (Mt 26,42). Foi no silêncio que cultivou o diálogo com o Pai. O silêncio, ajudará a viver a Páscoa da Ressurreição.
2007. Silêncio no barulho
            Sabemos que o mundo atual não vai abaixar o volume de seus rumores, sobretudo dos rumores internos. Não é de uma hora para outra que a gente para e fica em silêncio. A correria do mundo continua dentro de nós. Resta-nos descobrir como fazer para estar em silêncio no meio da multidão. É um exercício que podemos fazer. Pensamos, falamos, observamos tantas coisas e engolimos o que é sendo jogado sobre nós. Podemos pensar e nos concentrar no diálogo com Deus e na oração interior onde estivermos. Dentro de casa podemos diminuir o barulho e conversar sobre o que nos leva ao coração. O silêncio é um presente de Deus. Não se trata de não falar, mas de não deixar o barulho entrar em nós.

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