quarta-feira, 10 de março de 2021

nº 2047 Artigo - “Tempo favorável”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Cristo Modelo 
A liturgia da Quarta-feira de Cinzas, na carta de Paulo aos Coríntios, nos exorta: “No momento favorável, Eu te ouvi e, no dia da salvação Eu te socorri. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2). Deus nos dá muitas oportunidades. A Igreja se organizou para que houvesse condições de viver cada Páscoa sempre com maior preparação. Cristo nos mostra com sua vida, como viver com intensidade esse Mistério. Ele é sempre o modelo. O Mistério Pascal de Cristo não é somente o momento de sua Paixão e Ressurreição, mas é toda sua existência entre nós. Falando de Quaresma, parece que nos satisfazemos com o pouco que temos que fazer, sem procurar aprofundar o conhecimento de Cristo. Jesus é modelo a tomar. É certo que a Quaresma quer seguir Jesus em seus 40 dias de deserto. “Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1). É também o Espírito que nos conduz no caminho de Cristo na Quaresma. É o tempo em que o Espírito nos abre à escuta da Palavra e ao esvaziamento. “Por quarenta dias esteve jejuando. Depois teve fome” (2). O jejum é descrito nas tentações. Não jejuamos de alimento, mas nos esvaziamos. A solidão e o silêncio são características de Jesus: Mesmo no meio da multidão Ele tinha seu interior voltado para o essencial que era seu Pai. O esvaziamento é um seguimento de Jesus. 
O único necessário 
Nesses quarenta dias Jesus jejuou. E sentiu fome. Agora que Jesus deve assumir o anúncio do Reino e chegar à sua total entrega ao Pai pelos irmãos, Ele jejuou. Estava no deserto que não oferecia nada. A solidão e a fome nos tocam profundamente. Estar só nos faz vítimas de tantos “demônios”. As três tentações que o inimigo lhe faz atingem sua Pessoa toda e em todas as circunstâncias. É o desejo do ter, do prazer e do orgulho. Temos fome de tudo. Queremos todos os prazeres. Fazemo-nos donos de tudo, no orgulho e na vaidade. É o eu profundamente egoísta. Despojar-se de todas as coisas é o que nos enriquece, nos completa e nos faz plenos. O exercício de desapego, jejum total, nos torna abertos para Deus, pois Ele assume seu lugar em nós. Ele é o sustento, o gozo e o amor. Jesus sai tão despojado e tão pleno de Deus que todos vão dizer: “Ninguém jamais falou como esse homem” (Jo 7,46). Jesus dirá ao jovem: “uma só coisa te basta: “Vai vende tudo o que tens, dá aos pobres... vem e segue-me”(Mt 19,21). Normalmente damos coisas a Deus e não nos damos. O Pai não aceita concorrentes e cobra sempre de seu Filho a obediência: “Tudo o que O Pai fez, o Filho o faz igualmente” (Jo 5,19). 
Os Anjos O serviram 
Jesus sentiu fome. Não foi só de comida, mas de desejo de realizar sua missão. Aquele Jesus que todos conheciam como o carpinteiro, o Filho de José, sai totalmente outro, homem-missão. Suas palavras e atividades, seus milagres espantam quem o conhecia. Do Homem de Nazaré surge o Homem Filho de Deus que veio a este mundo para dar a vida em resgate de todos. Podemos também entender que Jesus é acolhido pela comunidade dos que creem. Ele disse aos discípulos que lhe ofereciam alimento: “Tenho para comer um alimento que vós não conheceis... o meu alimento é fazer a vontade Daquele que me enviou e realizar sua obra” (Jo 4,31-34). Viver a Quaresma é entrar na obra de Jesus. Assim podemos valorizar nossa Quaresma não como quarenta dias de calendário, mas tempo de viver nossa união ao Cristo que se entrega ao Pai pelo mundo.

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