sexta-feira, 12 de março de 2021

nº 2041 Artigo - Das cinzas à Ressurreição

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
A caminho da Páscoa 
Cada ano a comunidade se reúne para dar início à caminhada para a Páscoa. Não nos cansamos de buscar o Senhor onde Ele se deixa encontrar. É em seu mistério pascal que podemos realizar nosso caminho de salvação. A celebração da Quaresma era muito discreta nos 300 primeiros anos da Igreja. Havia somente um jejum para a comunidade. Depois a Igreja começou a sentir a necessidade de um tempo maior. Pelos fins do século IV temos a instituição dos quarenta dias de jejum. Como não se jejua no domingo, a Quaresma se inicia na Quarta-feira de Cinzas. Note-se que são mais de 40 dias. Temos também a exigência do catecumenato a ser feito nesse tempo, com ritos próprios. Com o desconhecimento da liturgia, perdeu-se muito de seu sentido e se tornou devocional. A riqueza da Quaresma tira sua força e beleza em sua finalidade que é a celebração da Páscoa, na Vigília Pascal. Nela celebramos a Ressurreição no Batismo e na celebração da Eucaristia. A teologia, isto é, seus ensinamentos, devem ser encontrados nos textos das leituras e das orações do período. Temos a Campanha da Fraternidade que escolhe uma temática que tem um aspecto pascal. São orações e a dimensão da fraternidade está bem presente nas três dimensões do evangelho: oração, esmola e jejum. Esses três elementos atingem o ser humano em sua dimensão pessoal, espiritual e comunitária. O homem se prepara para que o Homem Novo, Jesus Cristo, possa renovar todo homem. 
Começando a Quaresma 
Ao iniciar a Quaresma podemos acolher o ensinamento da Igreja referente a esse momento: Diz a liturgia da Igreja: “O tempo da Quaresma visa preparar a celebração da Páscoa; a liturgia quaresmal, com efeito, dispõe para a celebração do mistério pascal tanto os catecúmenos, pelos diversos graus de iniciação cristã, como os fiéis pela comemoração do batismo e pela penitência” (Missal Romano e SC 109). São três finalidades: a preparação dos catecúmenos, a comemoração do próprio batismo e a dimensão penitencial. É tempo de uma conversão maior à vida cristã, e à vida da comunidade eclesial. O rito das cinzas, que tomou um aspecto devocional e, até supersticioso, desviou o sentido da celebração quaresmal. Podemos retomar o sentido oracional: tempo de mais oração, sobretudo na leitura da Palavra de Deus referente a esse tempo. É um tempo rico de leitura da Palavra escolhida para as celebrações. É tempo de jejum. Não somente deixar de comer, mas despojar-se de si mesmo para a abertura ao próximo. O jejum deve se estender às outras dimensões do ser humano. É bom retirar aquilo que impede o Mistério de Cristo penetrar nossa vida. A esmola é o fruto da oração e do jejum: com esse se pode conhecer a necessidade do homem e assumir como missão a redenção em todas as suas dimensões. 
O grito do homem 
É necessário profundo conhecimento do ser humano redimido por Cristo para poder compreender o mistério da Redenção. Cristo o redime em sua carência de Deus devido ao pecado, quer dizer, a separação de Deus. Cristo vem reatar esses laços e nos dar a possibilidade de nos unir com Deus em comunhão de vida com os irmãos. Foi para isso que realizou o Mistério Pascal. Podemos participar desse dom a partir de nossa conversão e mantê-la em contínuo crescimento. Por isso podemos dizer que Deus ouviu o grito do homem na sua miséria e continua a ouvi-lo em seus contínuos desvarios. Até o universo geme em dores de parto, na esperança de entrar na liberdade dos filhos de Deus (Rm 8,22.21).

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