quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Nr.2011 Artigo - Plenitude da Alegria

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
Fiéis no amor 
O culto aos mortos faz parte das religiões. Quanto mais primitivas, mais profundo ele é. Por quê? Tenho por mim que é a crença que a vida continua. Faz parte das religiões primitivas. Nas aldeias do interior de um país, cujo nome não me lembro onde, eles crêem que os mortos vivem nas cumeeiras das casas. Essa crença levou a criar os ritos fúnebres. Nós também, ocidentais desenvolvidos e cultos, não temos problemas de levar flores aos defuntos, fazer belos jazigos, erigir estátuas, conservar seus nomes nos logradouros, cidades etc... Os romanos tinham muito respeito pelos túmulos e faziam os “refrigérios” – refeição junto ao túmulo, como se o morto participasse. A Igreja não admitia para os cristãos, mas Santa Mônica tinha hábito de participar. Nós cremos que a vida continua e é a mesma pessoa que existe na dimensão espiritual. Desfeita essa carne, nos é dado um corpo espiritual. S. Mônica pediu que não se preocupassem quanto onde sepultá-la, mas que se lembrassem dela no altar da celebração: “Só peço que vos lembreis de mim, no altar de Deus onde estiverdes” (Confissões, Lib 9,10-11). Continuamos a força do amor que supera a própria morte. Rezamos: “A vida não é tirada, mas transformada. Desfeita nossa habitação terrena, nos é dada nos céus, uma eterna mansão” (Prefácio). O amor aos que se foram permanece com a certeza da comunicação espiritual em Cristo. Não pensamos o mundo futuro com nossas categorias, como se fosse a vida da terra. Não organizamos a vida dos que se foram. A Igreja tem a doutrina do Evangelho sobre a vida eterna. 
Do fundo do poço 
Cremos na Ressurreição dos Mortos. Mas não temos acesso ao modo como acontece. Vivemos a vida presente na condição de mortalidade com tudo que essa realidade encerra. A vida humana é muito frágil, apesar de toda a riqueza que possui. A sensação de finitude está sempre presente. Fragilidade não quer dizer inutilidade ou falta de condições. Ser frágil é um caminho aberto ao crescimento e fortalecimento. As consequências do pecado nos assustam. Os salmos retratam a condição humana e as possibilidades que Deus nos oferece: “De fundos abismos clamo a Vós, Senhor! Senhor, ouvi minha oração!”. Mas permanece a confiança: “Ponho em vós minha esperança” (Sl 129). Essa morte que vivemos em nossas dificuldades não é nosso fim. Do fundo do poço podemos laçar os olhos para o alto e ali está Aquele que é nossa luz, proteção, amor de Pai e bondade (Sl 26). Ele é o Pai e somos filhos de fato (1Jo 3,1-2). No fundo desse poço podemos lembrar a meta fundamental da missão de Jesus: “Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que Me enviou: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele Me deu, mas os ressuscite no último dia (Jo 6,38-39). Toda angústia que temos diante da morte deve ser curada com as promessas de Jesus. Isso nos tira do fundo do poço. 
Vida que permanece 
Na celebração dos mortos não podemos parar em um túmulo frio com ossos secos. A Vida permanece. Deixamos a casca e vamos ao miolo que é a vida que permanece. Dessa vida, passamos à vida eterna, perpétua, sem retorno. Vencendo todo pecado poderemos criar já o novo céu e a nova terra. A graça de Deus é permanente e não se dissolve com nossos pecados, pois ela é de Deus. Cabe a nós continuar acreditando e fazendo a vida cristã. Passado o momento doloroso da separação, continuemos unidos aos que nos precederam marcados com o sinal da fé. Ela, mais que prêmio, é missão.

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