segunda-feira, 5 de março de 2018

nº 1733 Artigo - “Em Memória de Mim”


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
Isso será um memorial
            Na cultura religiosa judaica nós temos esse conceito de memorial. Os cristãos católicos e orientais também têm esse conceito em sua fé e nas celebrações. O termo memória (anámnesis) não se refere à memória que é uma de nossas qualidades humanas. Nela está armazenado tudo o que aconteceu conosco e em nossa volta. Essa memória é um termo hebraico (zikaron). O termo memória tem um sentimento de presença atuante do fato lembrado e celebrado com ritos. A celebração torna presente e atuante o fato de que se faz memória. No livro do Êxodo, lemos a lei sobre a Páscoa: “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações” (Gn 12,14). E Acrescenta: “Quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que significa esse rito’ (A Páscoa), respondereis: “É o Sacrifício da Páscoa do Senhor, quando ele passou adiante das casas dos Filhos de Israel no Egito, ferindo os egípcios e livrando as nossas casas” (Ex 12,26-27). Cada judeu se sente libertado pessoalmente do Egito. Sempre há um sentido de presença pessoal ao fato do qual se faz memória. Segue-se também que a ação de Deus se torna presente, como no acontecimento histórico em que ocorreu o fato libertador de Deus. É uma liberdade para sempre. Não celebramos fatos passados, mas o Deus que se faz presente com o mesmo vigor libertador. Há outros fatos com a colocação de um marco memorial, como na passagem do Jordão, quando Josué fez um altar de pedras, para ser um memorial dessa passagem (Js 5,20-24). Assim podemos compreender o sentido de memória.
Memória sacramental
             Jesus, com seus discípulos, celebra a Ceia Pascal como um Memorial, como o fazem os judeus todos os anos, desde a origem dessa tradição judaica. Essa ceia, em seus diversos ritos, torna presente à libertação do Egito. Jesus faz o mesmo. Mas no momento de fazer a memória dessa libertação, muda-lhe o sentido. Não destrói a aliança antiga, mas a leva à sua maior realização que é a nova e eterna aliança. Diz: “E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles dizendo “Isto é o meu corpo que é dado por vós. “Fazei isto em minha memória”. “Depois, tomando o cálice: ‘Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue que é derramado por vós’” (Lc 22,19-20). Faz o mesmo rito, mas muda o sentido. Paulo, já conheceu uma tradição estabelecida da Ceia do Senhor. Diz como Lucas e acrescenta: “Pois todas as vezes que comeis deste pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26), utilizando o mesmo termo: “Isto é meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Na missa, dizemos o mesmo: “Celebrando a memória da Paixão de vosso Filho, sua Ressurreição dentre os mortos e sua gloriosa Ascensão aos Céus...” (Prece nº 1), realizamos o mesmo mistério. Todo sacramento, presença de Cristo, nos faz participantes de seu Mistério Pascal (SC, 7).
Memórias de Cristo
            A memória tem também um sentido pessoal. Nós também podemos ser memórias vivas de Jesus Cristo na sua Redenção. Continuamos seu mistério de salvação. Quanto mais vivo o Evangelho e me uno a Jesus Cristo, mais posso ser uma viva memória de sua vida e de seu mistério de Redenção. Nós o realizamos, sobretudo quando vivemos intensamente seu mandamento de amor mútuo. Por que o amor? Porque toda obra da Redenção se fez no amor do Pai que entrega o Filho, que responde ao Pai no amor e nos salva por amor. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo do amor” (Jo 13,1). O amor de entrega de Cristo está presente em todos os sacramentos.

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