sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

nº 1939 Artigo - “Cinzas do Perdão”

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Deixai-vos reconciliar 
Paulo, em sua segunda epístola aos Coríntios, toma o lugar de Deus, falando em seu Nome,chamando à Reconciliação: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: Deixai-vos reconciliar com Deus” (2C6,20). Por que essa insistência? Porque Cristo é a reconciliação. Veio ao mundo para salvar, isto é, reconciliar todos com o Pai. Por isso, o tempo da Quaresma é o “momento favorável, é o dia da salvação” (id 6,1). É sempre o agora de Deus. Ele nos busca como o pastor procura a ovelha perdida. Não descansa enquanto não nos vê repousando em Cristo. Na Páscoa celebramos essa salvação. Para que esse momento fosse de fato marcante e eficiente, a Igreja organizou os tempos litúrgicos que realizam essa verdade. Infelizmente perdemos esse ritmo. Não é um rito só exterior. Mas realizado em nosso coração como lemos no evangelho: “entra no teu quarto”, isto é, assume conscientemente, não dependendo de estímulos externos. É o coração que tem que comandar. Tudo deve nos levar a caminhar com o mesmo amor com que Cristo caminhou para nos salvar (1Jo 2,6). As cinzas nos lembram a fragilidade, mas também a ressurreição do pó. Somos fracos. Por isso pedimos perdão: “Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia. Eu reconheço toda minha iniquidade e meu pecado está sempre à minha frente... Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido... dai-me de novo a alegria de ser salvo”(Sl 50). É tempo do perdão e do caminho novo. A temática é batismal. É pelo batismo que realizamos essa passagem e a conservamos sempre renovada. 
O Pai que vê o oculto 
É certo que devemos dar testemunho de nossas boas obras, mas Jesus diz que a prática da justiça, da santidade, não é para desfilar, mas para que o Pai veja e saiba que tudo tem fundamento em nosso coração. Não é algo simplesmente humano, mas se refere a Deus que, através de nós, faz o bem. Não fazemos para aparecer. Nada do que fazemos em nossa vida é oculto a Deus. Por isso, Jesus recomenda que entremos em nosso quarto, isto é, em nosso interior. Se realizarmos nossa oração, nossa esmola e nosso jejum para que os outros vejam, já temos nossa recompensa. Se os realizarmos de modo sincero e discreto, Deus verá e dará a recompensa, pois realizamos para Ele. Na Quaresma somos chamados a realizar nossos compromissos com Deus na comunidade de modo silencioso e discreto, não desfilando. A recompensa será, que essas ações sejam feitas em Deus. E assim terão seu pleno resultado. Estaremos realizando o Mistério Pascal de Cristo em nosso cotidiano. Esse mistério não está distante de nós, mas se realiza nas pequenas coisas. Ele também é silencioso, e se manifesta aos que o acolhem com simplicidade. Cada pequeno ato de amor é uma realização da redenção em sua totalidade. 
Perdoa, Senhor! 
O profeta Joel dá uma tônica muito forte de busca do perdão pelos pecados cometidos. Não podemos perder a dimensão de pedido de perdão que o tempo da Quaresma nos estimula a fazer. Se Jesus oferece sempre a graça, é porque temos sempre necessidade de conversão e busca do perdão. O próprio salmo 50 nos leva a esse pedido. O pecado não é inerente ao homem. Ele é o resultado da falta de busca de Deus e de uma vida coerente com os irmãos. Certo que pecamos sempre. Sempre saibamos reconhecer nossas culpas e pedir que o Senhor nos perdoe. É tempo de estimular o sacramento da penitência. Não como um alívio de pecados, mas de busca da graça santificadora. Tudo, desde o início da Quaresma, nos dá uma direção segura: a Páscoa da Ressurreição.

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