segunda-feira, 11 de junho de 2018

nº 1761 Artigo - A fé que o povo celebra


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista 
2053. Festejos Juninos
              Com muita bandeirinha, pipoca, quentão, quadrilha e fantasia de caipira, celebramos as festas juninas. Saíram de seu mundo e foram para o folclore. Escolas, bairros, associações festejam o que era uma celebração popular. Em lugares mais tradicionais as festas ainda têm o nome dos santos padroeiros: Sto. Antonio, S. João Batista e S. Pedro e S. Paulo. Estas festas exerceram ou podem exercer uma boa missão de evangelização do povo na linguagem cultural. Se olharmos superficialmente a história da fé no Brasil, veremos a carência de sacerdote e de estrutura da Igreja em grande parte do território. A população, seguindo tradições dos colonizadores, manteve sua fé. Soube unir a fé à cultura local. Infelizmente, com o êxodo rural, se modificou a configuração das comunidades do interior. Em volta de cada um dos santos havia um conjunto de ensinamentos que versavam sobre o conhecimento de Jesus, a vida em comunidade e o processo de conversão. Junto desses santos há sempre a necessidade de um milagre. A V Conferência Geral do Episcopado Latino e do Caribe, em documento (Documento de Aparecida), seguindo o ensinamento dos Papas, reconheceu o valor e a força da piedade popular porque se encontra unida à cultura. É uma fusão perfeita de fé, cultura e evangelização. S. João Paulo II nos diz: “A fé só é adequadamente professada, entendida e vivida, quando penetra profundamente no substrato cultural do povo.” (Doc. Aparecida, nº 477). “Ajuda os cristãos a viverem sua fé com alegria e coerência”
2054. Transmissão da fé
              Essas festividades juninas perderam seu aspecto religioso, permanecendo só a parte folclórica. Mas elas constituem um modo de se fazer uma evangelização conveniente do povo. Temos tantos modelos, mas nos esquecemos de perguntar como o povo entende. Nós precisamos aprender do povo como ele aprende. É preciso “saber a cartilha que ele usa”. É um diálogo de vidas. Evangelizar não é levar conteúdos, mas vida em Cristo. Por isso essas comunidades tornam-se modelo de evangelização. Nós vemos como Jesus era prático ao falar ao povo: usava parábolas, tirava ensinamento de seus milagres, usava frases curtas que constituem grandes ensinamentos. Somente depois de 30 anos de experiência com seu povo que se sentiu apto a lhe dirigir uma palavra nova. Ele não era um desconhecido que chegou com uma doutrina nova. Primeiro aprendeu sua linguagem e depois a usou para ensiná-lo. Nós vamos com discursos prontos que passam sobre suas cabeças. Temos muito que aprender de nossas festas populares. Elas têm uma linguagem própria que é acessível a todos. O mundo mudou muito nesses últimos tempos, mas o povo é mais lento em suas mudanças. Podemos dizer que os tempos não mudam o coração.
2055. Recuperar os valores
              Os valores que nossos antepassados nos transmitiram se tornam para nós uma obrigação. Esses valores têm fundamento na tradição. Em todas essas festas juninas temos como suporte primeiro o valor da comunidade. Todos em volta de uma mesma alegria. É o sentido de todos que fazem a festa para todos. A alegria compreende também os santos que são nossos irmãos. Por isso os padroeiros. Recuperam-se os valores da terra em seus produtos simples transformados por mãos simples do povo e delícias que fazem bem ao coração. O valor da abertura a todos. É bom ser gente. Há um anseio de voltar à vida simples de nosso povo, valorizando assim o homem e a mulher do povo como geradores de vida.

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