sexta-feira, 20 de julho de 2018

nº 1768 - Homilia do 14º Domingo Comum (08.07.18)


Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista
“Filho do carpinteiro”

Abertura à Palavra de Deus
             Na história do povo de Israel há uma constante que atravessa todos os tempos: o fechamento à Palavra de Deus. O povo somente ouvia Deus quando era pressionado por profundos sofrimentos, a história nos conta pois como cobrava a obediência e recebia as recusas. É o que pudemos ver na sinagoga de Nazaré quando Jesus, que era um conterrâneo, começa a realizar sua missão. Ele era conhecido como o Filho do carpinteiro José e tem sua família ali com eles. Não acolhem o que vem de Deus só porque não corresponde a seus critérios pequenos. Esse texto é uma amostra do que aconteceu na história. É também um retrato nosso quando não acolhemos a Palavra porque não corresponde às nossas exigências e esquemas. A recusa bloqueia até a ação de Deus: “Jesus lhes dizia: ‘Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares. E, ali, não pode fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos” (Mc 6,4-6). Há muitos tipos de fechamento no momento atual, usando inclusive questões religiosas para ocultar as exigências de uma verdadeira conversão. É mais fácil dar mais importância às idéias políticas, sociais, tradicionalismo ou liberalismo que à mensagem de Jesus. É mais fácil uma religião que usa certos atos de piedade que assumir o evangelho como fonte de vida. É o cuidado que devemos ter com religião que encobre a verdade com roupas, ritos, fumaça etc... e não aquela ensinada por Jesus vivo e sofredor.
Levanto os olhos para vós  
           A abertura à visita de Deus através da Palavra, como o fez Jesus na sinagoga de Nazaré, é um momento de relacionamento com Deus na obediência que o próprio Jesus apresentou em sua vida. O que Jesus pregava era o que Ele vivia. Por isso vai dizer: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Jesus era mais palavra viva que palavra anunciada. Ele é o Evangelho e a Redenção. Ao contrário da recusa, requer-se a abertura de buscar e estar com os olhos fitos no Senhor (Sl 122) . “Nossos olhos estão fitos no Senhor...Como os olhos dos escravos estão fitos nas mãos de seu Senhor” (Sl 122). Por isso, Nele, os profetas devem tirar força para não se abaterem quando suas palavras não são ouvidas. Não se pode perder o ânimo de continuar anunciando “quer escutem, quer não – pois são um bando de rebeldes – ficarão sabendo que houve entre eles um profeta” (Ez 22,5). Na situação em que se encontra o mundo e a situação da Igreja, tem-se vontade de deixar de lado, como muitos fazem, mas é preciso ficar de pé como sentinela sobre o povo. Haverá seu momento de graça. O mal é sempre passageiro; o bem, contudo, é eterno. O profeta é a trombeta, mas a voz é de Deus.
Basta-te minha graça
           O sofrimento dos profetas e anunciadores da Vontade de Deus é sentir que não são ouvidos. É a experiência de Paulo em seu ministério. Sofreu muita perseguição justamente por sua pregação aos pagãos, não se deixando levar pelos judaizantes. Estes queriam que os convertidos do paganismo vivessem como judeus. Isso era um espinho em sua carne. Eles lhe moviam constante perseguição. Era como um anjo de Satanás que o esbofeteasse. Nem a oração suplicante tira esse espinho. A resposta está nas palavras de Jesus a Paulo: “Basta-te minha graça, pois é na fraqueza que a força se manifesta” (2Cor 12,9). Na fraqueza, o grito de socorro será sempre ouvido, não como queremos, mas como Deus quer. Ele é sempre maior que nosso coração, e por isso compreende o que mais necessitamos. A missão do profeta é a mesma de Jesus e vai levá-lo pelos mesmos caminhos. Sentimos que nada vai em frente. Mas é Ele quem dá o querer e o agir.
Leituras: Ezequiel 2,2-5; Salmo 122; 2Cor,12,7-10; Marcos 6,1-6
Fichanº1768 - Homilia do 14º Domingo Comum (08.07.18)

      1. Na história do povo de Deus e da humanidade encontramos a recusa da Palavra
      2. Em lugar da recusa, somos chamados termos os olhos fixos no Senhor para saber sua vontade.
      3. O profeta que sente a recusa, deve perceber que sua força está na graça

Cabeça dura

           Conhecemos quanto são duros os ossos da cabeça. Mas dura mesmo é a cabeça de quem não quer ouvir a Palavra de Deus e pô-la em prática. Não adianta cortar a machado e por dentro as palavras. Já no Antigo Testamento encontramos as palavras de Deus: “A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou te enviar” (Ez 2,4). É a experiência que Jesus fez durante seu ministério entre seus conterrâneos e sua família (Mc 6,1-6). Essa recusa o segue durante todo seu ministério.
           Paulo passa pelo mesmo sofrimento da recusa a ponto de chamar isso de espinho na carne e demônio a esbofeteá-lo (2Cor 12,7). Para vencer esse sofrimento, Jesus lhe garante: “Basta-te minha graça, pois é na fraqueza que a força se manifesta” (2Cor 12,9).
           Na sociedade de hoje há uma profunda recusa de tudo o que vem de Deus pela Igreja. Há também na Igreja um ateísmo religioso: procura-se o religioso, a devoção, mas sem compromisso com a Palavra de Deus. Ritualismo ainda não é fé.

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