segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

nº 2147 Artigo - Tempos da liturgia

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
Um calendário a viver 
Quando falamos de calendário, podemos pensar que não passa de uma folhinha. Aprofundando, descobrimos que é o retrato vivo de nosso caminho espiritual de Igreja. Fazemos tantas fotos da vida. No calendário estão as fotos e as datas das celebrações. O calendário é o caminho espiritual a ser percorrido durante o círculo de um ano. Passamos pelas diversas etapas do Ano Litúrgico, não tanto para ter conhecimento do que acontece, mas para assumir caminhos que nos levarão a viver o mistério em sua integridade. Mudança de um ano não é uma repetição, mas um caminho novo. Serão realizadas as mesmas festas, as mesmas cerimônias e vividas as mesmas inspirações. Mas é tudo novo na vivência do mesmo mistério. Todo o dia somos novos, em uma nova vida. Uma missa nunca é a mesma. Um evangelho proclamado não é o mesmo. O que dá vida sempre nova é o Deus que fala por meio dele. Se nos abrirmos à novidade, Deus sempre fala de modo sempre novo. A celebração é um encontro sempre novo. É justamente aqui que perdemos a riqueza das celebrações. Somos sempre novos porque nos abrimos ao Deus que nos fala sempre de modo novo. Assim o calendário é um retrato estático, mas um caminho animado pelo Espírito Santo é quem faz nosso culto, nossa celebração ir a Deus. Como rezamos em Cristo e por Cristo, estamos sempre na unidade do Espírito Santo. Toda celebração é a escada de Jacó “pela qual os anjos descem e sobem” (Gn 28,11-19). 
As cores da oração 
Quando preparamos uma celebração, fazemos bem tudo o que é preciso. E usamos diversos elementos. Tudo em nós celebra. Cada elemento nos atinge em um sentido diferente: os olhos, pela beleza; os ouvidos, pela música; o tato, pelos movimentos; odor, pela respiração. Nossa celebração transformou-se um estático ouvir. Conhecendo as danças litúrgicas dos povos africanos, percebemos como o corpo reza. É a escada do louvor: pela palavra se reza a oração, canta-se a oração e pelo movimento, dança-se a oração. É todo corpo que reza, não só a mente. As cores da liturgia atingem nossos olhos e nos dão o humor espiritual a viver naquela celebração: alegria pelo branco, esperança pelo verde, reflexão pelo roxo, amor e sangue oferecido pelo vermelho e pelo Espírito Santo. Ternura mariana pelo azul. Alegria festiva pelo dourado. Cada oração tem seu humor espiritual. O preto era usado para a morte, mas foi substituído pelo roxo. Os sentidos participam da celebração. Toda a ornamentação e o perfume das flores e do incenso coroam a integridade da oração. Deus responde através também dos sentidos. A oração envolve o ser humano que se comunica e recebe a resposta de Deus na totalidade do ser. Cantar ou ouvir o canto é penetrar o coração que fala na beleza da música e da voz. 
Corpo que celebra 
A celebração não é um fato intelectual somente, mas assume a pessoa no seu todo. Os gestos completam a extensão da oração. Sentar-se para ouvir, ajoelhar-se para mostrar a contrição, movimentar-se em direção ao altar que é a busca permanente das águas vivas. Prostrar-se (raro) revela a intensidade da entrega e do acolhimento. Abraçar-se realiza a fraternidade. Aplaudir expressa a alegria do amém. Os sentimentos nos levam a interiorizar tudo o que Deus nos fala. Tanto os sentimentos que trazemos como os que recebemos do Pai, no gozo espiritual, completam a mística do encontro em Cristo, entre os irmãos, na força do Espírito que sustenta nosso corpo frágil e aberto a Deus.

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