sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Nº2141 Artigo - Culto, Dimensão de Totalidade

Pe. Luiz Carlos de Oliveira 
Redentorista 
O ser humano é espiritual 
É próprio do homem, rezar. Ouvi, há tempos, que quiseram provar que o ser humano não é naturalmente religioso. É algo imposto. Então isolaram uma criança que não ouvisse falar nada de religião, Deus... etc... para provar essa inverdade. Um dia encontraram a criança ajoelhada em direção ao sol nascente que é uma bela imagem de Deus. O ser humano é incompleto sem a dimensão religiosa. Se ele fosse só matéria, seria diferente. Não sabemos a relação dos seres não humanos com Deus. Em sua pureza, tem seu modo de reagir. Como não é só matéria, tem o relacionamento com o Ser Superior. Deus fez o grande caminho para levar o homem e a mulher a encontrarem a riqueza do ser espiritual no culto, de modo particular no culto judaico, que praticou Jesus, e o culto em Cristo. Os tempos de Deus não são os nossos. Esse culto foi cristalizado na Igreja que realiza essa dimensão em plenitude, com tudo o que é necessário, enriquecido pela sabedoria dos povos. Há sempre a necessidade de abrir a todos essa riqueza. Mais ainda, o que falta muito é reconhecer a diferença e a complementaridade do feminino e do masculino. É um dos aspectos mais esquecidos da dimensão espiritual e sua concretização nas religiões e na fé cristã, por excelência. Deixando os outros de lado, a estrutura da fé cristã é masculinizada. Vemos Jesus e a samaritana. Os discípulos admiraram-se que estivesse conversando com uma mulher. 
Ser de comunhão espiritual 
Quanto mais o ser humano se desenvolve, mais percebe que está junto com outros. O ser humano é social por natureza. É dimensão fundamental. Essa dimensão se estabelece também no aspecto religioso. O ser humano não é amontoado de peças úteis à vida. Ele é um todo em que as partes e dimensões estão interligadas. Por isso, a vida espiritual é realizada em comunhão. O slogan “salva tua alma”, é correto, mas incompleto. “Sois corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua parte (1Cor 12,27). Somos Corpo e a imagem é clara, no ver de São Paulo, para mostrar a unidade e a diversidade. Todos unidos entre si e com Cristo. Todos necessários uns aos outros. Essa comunhão espiritual acontece também no culto. Não há individualismo no culto, na liturgia cristã. Temos a tendência de ver os outros como unidades desligadas. Estamos em profunda comunhão de vida e vida espiritual. Paulo até cobra a solicitude uns pelos outros. Não haja divisão, “mas os membros tenham igual solicitude uns pelos outros” (id 25). Solicitude até mais espiritual pois, como humanos, temos essa separação natural do ser. Como espiritual, a unidade é natural. Com Cristo fazemos parte uns dos outros. A celebração não é individual, celebramos como corpo e Corpo de Cristo. Cristo realiza a união com Ele. Cristo é tudo em todos. 
Rezar com a Igreja 
A Igreja é Corpo de Cristo e realiza visivelmente o culto que o Filho, no Espírito, presta ao Pai. Esse culto no-lo deu quando Se uniu à nossa humanidade. A parte visível do culto é a dimensão humana unida à dimensão espiritual, divina de Cristo. Por isso temos o culto perfeito e único, aquele que Cristo presta ao Pai. Na realidade não há diversidade de cultos, mas um único culto. São completos na medida em que se aproximam de Cristo. A liturgia da Igreja quer tornar visível esse culto espiritual através de seus ritos. Quanto mais traduzem a verdade do culto, mais perfeito é. Por isso, a liturgia deve corresponder também ao ser humano e não ser um depósito de ritos vazios.

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